LEIS DO DESTINO: 2ª FASE

2.1 Sequitum vitam cursus 
*Seguir o curso da vida

Nova Iorque verão de 2010.
           
            O clima quente da cidade anunciava que a primavera chegara ao seu fim. O colorido dos parques da cidade dava espaço às cores que o sol iluminava nas paisagens e nos rostos das pessoas, em especial, dos estudantes que comemoravam o início das férias.

            Abrigada em Manhattan, a cerca de dois anos, quando conquistara sucesso em sua primeira exposição em uma das maiores de galerias de arte da cidade, Diana se preparava para um dos maiores desafios de sua carreira. Depois dos sucessivos reconhecimentos do seu talento nas exposições que realizara por outros estados do país, a fotógrafa fora enquadrada pela crítica especializada como uma das protagonistas da vanguarda da fotografia social. Os temas fotografados por ela fugiam do comum, e principalmente, sua sensibilidade conferia um novo olhar do cotidiano das pessoas que faziam de suas rotinas etapas de um sonho a ser concretizado.

            Por tal característica do seu trabalho, Diana fora convidada pela prefeitura da cidade a fotografar o dia-a-dia das famílias das vítimas do ataque de 11 de setembro de 2001. As fotografias fariam parte das homenagens às vítimas em um evento que se realizaria quando o ataque completava dez anos em 2011.

            Seus anos em Nova Iorque lhe renderam além de uma rica experiência profissional e rápida ascensão, a oportunidade de fazer uma pós-graduação em uma das poucas áreas que lhe agradava no seu bacharelado, especialmente porque tal especialização lhe ajudava no seu trabalho. A sua tese de mestrado em Direitos Humanos utilizou a fotografia como um dos instrumentos para descrever os processos de conformação que excluíam os imigrantes nos Estados Unidos de direitos humanos básicos.

            Manhattan não era só a ilha dos negócios de Nova Iorque, era também o centro cultural da cidade, entretanto, o Queens, o bairro mais populoso, também abrigava galerias e museus de renome e concentrava um dos redutos de diversão que a fotógrafa mais gostava de frequentar. A tradição dos clubes de jazz, e das dezenas de bares alternativos, revelaram muitos promissores talentos da música americana e latina, uma vez que, o Queens também era o bairro mais multiétnico do estado.

            Pelo fato dos amigos que fez em Nova Iorque seguirem essa tendência multiétnica, a vida social de Diana estava sempre ligada ao Queens, tal hábito trouxe à fotógrafa uma grata surpresa, na primeira sexta-feira de verão de Nova Iorque no tradicional clube do Harlem, o Light Rock Cafe.

            Com a turma de sempre, Diana chegou ao clube no final da noite de sexta: Marco, um pintor italiano, que se gabava por ser um típico sedutor, se transformou em um dos melhores amigos da brasileira, além de um grande parceiro artístico, frequentemente discutiam pelo fato do pintor se recusar a perder uma conquista para a fotógrafa que se divertia provocando o ego do amigo heterossexual metido a Don Juan. Gerard era o mais velho do grupo, um belga bem humorado e doce, fora professor de Diana em um dos cursos de fotografia, residia em Nova Iorque desde que assumiu a homossexualidade depois de um casamento com uma mulher no qual gerou dois filhos. Elizabeth era a nova iorquina da turma gostava de ser chamada de Liza, a eterna apaixonada por Marco, era diretora de uma galeria de arte naquele mesmo bairro, uma das principais incentivadoras de Diana, apostou no seu talento e a lançou no circuito cultural e no mercado do gênero, desde então, se tornaram grandes amigas o que obrigava a fotógrafa a sempre protege-la da sedução de Marco. Daniela uma espanhola, mas, filha de um americano, tinha a personalidade encantadora que mesclava o calor do sangue latino em suas relações, e o ar cosmopolita de uma jovem de mente aberta de Manhattan, lésbica como Diana, a bela morena adorava ser o centro das atenções, sua simpatia contribuía para isso, era a companhia mais assídua de Diana nas baladas da ilha, entretanto, firmaram um pacto de nunca ultrapassar o campo da amizade reconhecendo que o contrário seria um total desastre.

            Daniela tinha o emprego ideal para sua personalidade peculiar, era jornalista por formação, no entanto, enveredou pela área de relações públicas o que possibilitou se tornar uma colunista reconhecida do New York Times onde sempre apresentava as tendências culturais do roteiro nova iorquino, incluindo artes e entretenimento em geral. E foi exatamente por culpa de Daniela, que a turma foi mais uma vez para o Light Rock naquela noite. Divulgara entre os amigos a nova voz que a conquistara em um barzinho no Queens, seu antigo cargo de relações públicas lhe rendeu bons contatos que lhe abriram muitas portas, uma dessas se abriu para a estreia da cantora de voz macia no clube.

-- Diana, eu te disse que ela é brasileira? – Daniela perguntou.

-- Não. Você disse que ela é linda, com um corpo escultural sublinhando o traseiro delicioso, e que tinha o beijo mais caliente da América, não mencionou nada sobre a nacionalidade dela. Ah! Falou também que teve um orgasmo ouvindo-a cantar.

            Todos riram da detalhada descrição que Diana relatou, enquanto Daniela segurava a gargalhada.

-- Odeio sua memória! Não deveria ser uma memória apenas fotográfica? Por que você tem que se lembrar de tudo que eu te falo?!

-- Dani, pelo tanto de mulher que você leva pra cama, eu já tenho um arquivo feminino extenso em minha memória com metade da população de Nova Iorque, isso facilita minhas escolhas...

-- Que safada você é!

            Daniela jogou a azeitona do Martini no decote de Diana.

-- Que pontaria heim? Eu não faria melhor!

            Marco fez graça, observando com olhar malicioso Diana retirar a azeitona do meio dos seios.

-- Sabe Marco, é exatamente por essas atitudes cafajestes que você perde mulher pra mim...
           
            O pintor bufou, procurando argumentar em vão.

- Silêncio agora pessoal, a minha sereia vai subir ao palco!

            Daniela bateu a palma da mão na mesa para chamar atenção, enquanto o gerente do clube anunciava a nova atração.

-- Seguindo a tradição de dar o espaço a promissores talentos da música o Light Rock Cafe apresenta essa noite o novo som das noites do Queens, sua voz suave dá aos nossos ouvidos a sensação de serem acariciados por pétalas de flores, diretamente dos trópicos brasileiros, com vocês: Miss Flower!

            Diana franziu a testa, pensando consigo mesma: “Que brega! Deve ser alguma cantora de axé baiana, quem mais usaria o nome de um personagem de Jorge Amado que não fosse uma baiana? Sei... Miss Flower, Dona Flor! Será que ela vem com os dois maridos?”. A fotógrafa lamentava não ter nenhum brasileiro para compartilhar suas conclusões jocosas ao ouvir o nome artístico da cantora. No entanto, ao acender das luzes, no centro do palco, à frente da banda, o rosto familiar paralisou Diana. Com um violão elétrico pendurado no pescoço, diante do pedestal, uma mulher linda de cabelos longos com mechas californianas, surgiu no palco com seu sorriso arrebatador que tanto confortou Diana em épocas passadas. Diante da fotógrafa, anos depois estava a amiga e psicóloga: Rosana.

***************

São Paulo, maio de 2010.

            A jovem promotora a Doutora Natália Ferronato, tomava posse do seu cargo no Ministério Público após homologação do concurso no qual passou em primeiro lugar. Carregava consigo seus ideais e principalmente, seu senso de justiça bem definido. Durante quase três anos após a graduação, advogou na mesma empresa na qual foi estagiária, entretanto, a prática jurídica naqueles moldes não lhe satisfez. Em nada lhe agradava manipular as leis a favor de quem as descumpre por pressão de seus chefes, que se vangloriavam por livrar figurões e seus protegidos do meio político e empresarial de processos e condenações.

            Assim, abdicou de sua vida social para mergulhar nos estudos nas poucas horas vagas que lhe restavam do trabalho árduo de advogado em início de carreira, a estes sempre sobrava o “grosso” da função, como os mesmos definiam: faziam o trabalho de peão, apenas um pouco diferente do que realizava enquanto estagiária. Sobre abdicação de vida social, Natalia entendia bem. Tal atitude era comum desde sua adolescência, e se repetiu nas vezes em que precisou se refugiar de suas decepções e infortúnios. Durante os anos de faculdade, após a separação com Diana, limitou-se a poucas saídas com as suas companheiras do time de vôlei e da república, tais eventos eram raros, contudo era o que seu compromisso com os estudos e pesquisa e sua disposição interior permitiam. Enfim, tanto empenho mais uma vez lhe coroou com uma vitória.

            Depois de passar no exame da ordem, saiu da república onde morava, uma vez que fora contratada pela renomada empresa de advocacia que estagiara, assim, podia dividir um apartamento com uma colega do escritório. Miriam era uma recatada e tímida moça que como Natalia veio do interior, mas, nem todo tempo na capital deixou o interior sair dela. Mantinha o sotaque carregado, e ar de bicho do mato, se assustava facilmente com as coisas da cidade grande: os barulhos, as notícias, a velocidade. No entanto, era uma advogada capacitada, especialmente em Direito de família. Talvez pelo fato de ser extremamente generosa e solícita Miriam conquistou fácil a confiança e amizade de Natalia, e dessa forma, as duas tinham um excelente convívio no pequeno apartamento no bairro da Moca.

            Seu primeiro dia no Ministério Público deixou a jovem promotora atordoada, com o montante de processos acumulados, a demanda reprimida do serviço público e a organização falha não era novidade para ela, uma vez que conhecia aquela realidade desde que realizou estagio extracurricular com seu orientador de pesquisa. Todavia, sua função agora era outra, a responsabilidade era maior, sentia que podia fazer a diferença, e motivada por tal sentimento, arregaçou as mangas do seu terno literalmente e se acomodou na sua mesa bagunçada no seu gabinete apertado. Passou a vista em algumas pastas, e uma delas em particular lhe prendeu a atenção ao ler o nome do indiciado: Acrisio Toledo Campos.




Nota de capítulo: De acordo com as normas que vigoram desde 2004, Natalia precisaria de mais um ano de prática jurídica para assumir um cargo no ministério público.





2.2. Praeterita mattis nunc


 O passado encontra o presente


            O queixo de Diana quase foi ao chão ao constatar a identidade da cantora. Miss Flower, ou Dona Flor, estava ainda mais linda do que Diana podia se lembrar. Mas, sua voz... Esta melhorara consideravelmente, evidenciando a maturidade musical que era exigida de uma grande cantora. Algo também parecia mais apurado: o carisma de Rosana. A primeira canção entoada pela cantora, um clássico com arranjos ousados conquistou de cara a plateia.




All You Need Is Love
Love, love, love
Love, love, love
Love, love, love

Tudo o que você precisa é de Amor
Amor, amor, amor
Amor, amor, amor
Amor, amor, amor


There's nothing you can do that can't be done
Nothing you can sing that can't be sung
Nothing you can say, but you can learn how the play the game
It's easy

There's nothing you can make that can't be made
No one you can save that can't be saved
Nothing you can do, but you can learn how to be you in time
It's easy

Não há nada que você possa fazer que não possa ser feito
Nada que você possa cantar que não possa ser cantado
Nada que você possa dizer, mas você pode aprender como jogar o jogo
É fácil

Nada que você possa fazer que não se possa fazer
Ninguém a quem você possa salvar que não possa ser salvo
Nada que você pode fazer, mas você pode aprender como ser com o tempo
É fácil


All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need
Love, love, love
Love, love, love
Love, love, love

All you need is love
All you need is love
All you need is love, love
Love is all you need

Tudo o que você precisa é de amor
Tudo o que você precisa é de amor
Tudo o que você precisa é de amor, amor
Amor é tudo o que você precisa
Amor, amor, amor
Amor, amor, amor
Amor, amor, amor

Tudo o que você precisa é de amor
Tudo o que você precisa é de amor
Tudo o que você precisa é de amor, amor
Amor é tudo o que você precisa


There's nothing you can know that isn't known
Nothing you can see that isn't shown
Nowhere you can be that isn't where you're meant to be
It's easy

Não há nada que você possa saber que não possa ser conhecido
Nada que você possa ver que não possa ser visto
Nenhum lugar onde você possa estar que não seja onde você quer estar
É fácil
(The Beatles)

            Daniela levantou empolgada com a resposta do público, aplaudindo sua revelação. O gesto da colunista contagiou outros da plateia que aos poucos se aproximaram do palco, envolvidos com o ritmo que Rosana impunha a apresentação. Diana preferiu a mesa. Talvez ainda sob efeito da surpresa, não conseguiu interagir à altura da energia daquele show. Ficou ali estagnada, revivendo em sua mente o seu passado com Rosana, sua amizade, seus conselhos, sua companhia. Tais memórias culminaram com a lembrança dolorosa dos eventos que a aproximara da psicóloga: sua história com Natalia.

            Outra vez, como se sincronizada com os pensamentos de Diana, Rosana diminuiu o ritmo embalando um hit mais lento, reportando a fotógrafa a um passado imperfeito que insistia em ressurgir no seu “presente quase perfeito”.






Who Knew – Quem diria

You took my hand, You showed me how
You promised me you'd be around,
Uh huh...That's right

I took your words and I believed
In everything, You said to me,
Yeah huh...That's right

Você pegou na minha mão, você me mostrou como
Você me prometeu que ficaria por perto,
Aham... Tá certo

Eu absorvi suas palavras e eu acreditei
Em tudo, que você me disse,
É, aham... Tá certo


If someone said three years from now
You'd be long gone
I'd stand up and punch them out
Cause they're all wrong
I know better, Cause you said forever
And ever, Who knew

Se alguém dissesse há três anos
que você iria embora
Eu me ergueria e socaria todos eles
porque eles estariam errados
Eu sei melhor que eles, porque você disse "para sempre"
"E sempre", quem diria...

Remember when we were such fools
And so convinced and just too cool,
Oh no...No no
I wish I could touch you again
I wish I could still call you friend
I'd give anything

Lembra-se quando nós éramos tão bobos
E tão convencidos e tão legais,
Oh não... Não não
Eu queria poder te tocar de novo
Eu queria poder ainda te chamar de amigo
Eu daria qualquer coisa

When someone said count your blessings now,
'fore they're long gone
I guess I just didn't know how,
I was all wrong
They knew better, Still you said forever
And ever, Who knew

Yeah yeah

Quando alguém disse "seja agradecido agora,
antes que eles estejam muito longe"
Eu acho que eu não sabia,
eu estava totalmente errada
Eles sabiam melhor que eu, ainda sim você disse "para sempre"
"E sempre", quem diria

Yeah yeah

I'll keep you locked in my head
Until we meet again,
Until we...
Until we meet again
And I won't forget you my friend
What happened?

Eu te manterei trancado em minha mente
Até nós nos encontrarmos novamente
Até nós...
Até nós nos encontrarmos novamente
E eu não te esquecerei, meu amigo
O que aconteceu?

If someone said three years from now,
You'd be long gone
I'd stand up and punch them out,
Cause they're all wrong and

Se alguém dissesse há três anos a partir de agora,
você estaria muito longe
Eu me ergueria e socaria todos eles
porque eles estariam errados

That last kiss, I'll cherish,
Until we meet again
And time makes, It harder,
I wish I could remember
But I keep, Your memory,
You visit me in my sleep

Aquele último beijo, eu vou valorizar
até nós nos encontrarmos novamente
E o tempo torna tudo mais difícil
Eu queria poder me lembrar
Mas eu mantenho sua memória
Você me visita enquanto durmo

My darling, Who knew
My darling, My darling
Who knew, My darling
I miss you, My darling
Who knew, Who knew

Meu querido, Quem diria
Meu querido, Meu querido
Quem diria, Meu querido
Sinto sua falta, Meu querido
Quem diria, Quem diria
(Pink)


            “Que artimanha do acaso”. Foi o que Diana concluiu ao final da incrível estreia da antiga amiga. Estatelada na cadeira, com um olhar distante, a fotógrafa demorou a voltar para presença dos amigos que tentavam lhe despertar da sua regressão.


- Diana. Dianaaaaaaaaaaaaa!


            Elizabeth berrou ao ouvido da amiga, estralando os dedos.


- Ai Liza! Para de berrar! O show já acabou!


- Ah, você se deu conta disso? Tivemos a impressão de que você nem estava aqui!


- Só estava distraída, não estava fora do meu corpo.


            Diana falou razinza. Quando as rodadas de bebida se reiniciaram na mesa, Daniela se aproximou acompanhada do seu novo affaire, a estrela da noite: Miss Flower.


            Prontamente, Gerard puxou as cadeiras para ambas se acomodarem. Daniela começou então as apresentações formais entre a cantora e seus amigos, até chegar a Diana, até então, Rosana não detera seu olhar na loira do canto, por estar fora do seu campo de visão.


            Quando a cantora encarou Diana, arregalou os olhos e abriu um sorriso largo, balançando a cabeça negativamente indicando a incredulidade daquele reencontro inesperado.


- Dona Flor? Sério?


            Diana disse fazendo careta de desaprovação, despertando a gargalhada de Rosana.


- Em tempos de Lady Gaga, por que não?


            As duas sorriram enquanto todos na mesa observavam sem nada compreender, até mesmo porque, as duas conversavam em português.


- Ok, alguém pode explicar o que está acontecendo?


            Daniela perguntou intrigada.


- Daqui a pouco Dani, agora eu vou dar um abraço na minha amiga fujona!


            Com cara de interrogação todos assistiram o abraço cheio de intimidade entre Diana e Rosana, Gerard brincou:



- Pessoal será que todas as lésbicas brasileiras se conhecem?


            Dadas as explicações, Rosana sentou-se ao lado de Diana, emendando a conversa com mais de cinco anos de assunto acumulado, regado às taças e taças de martinis que se multiplicavam vazias pela mesa.


- Como assim Miss Flower? Doutora eu esperava mais de você! E as anfíbias? Acabou?


- Isso foi sugestão de um produtor daqui, achava que meu nome era muito “aflorado”: Rosana, Campos... Era isso ou Miss Garden, então achei mais divertido o Miss Flower até mesmo pela tradução que você citou. E as anfíbias, sim, acabaram. Há uns três anos, eu entrei em uma espécie de “reality show” musical latino, isso abriu algumas possibilidades para mim. O grupo não resistiu a isso.


- Você ganhou um reality show?!


- Não, quem me dera! Mas, me deu alguma visibilidade, ganhei uma bolsa para estudar em um conservatório em Los Angeles, e junto com isso, algumas propostas de trabalho, alguns “back in vocal” em discos de algumas estrelas como: a Mariah, Pink, ah! Do John Legend e Leny Kravitz também. Então pedi uma licença do hospital e me joguei nessa aventura, era a última chance que eu daria para a música.


- Uau!


- É, foi um grande aprendizado. Mas, não era esse meu plano de viver da música, então, aceitei a proposta desse produtor de fazer shows aqui pelo Queens, conheci uma galera legal, montamos essa banda, e estamos a quase um ano nessa estrada.


- Nunca imaginaria você numa aventura dessa doutora! Você é louca!


- Você simplesmente me envia uma mensagem de texto avisando que estava se mudando para Nova Iorque e some por mais de cinco anos! Que tipo de louca faz isso?


- Eu ia lá me despedir de você, explicar tudo, mas, você não estava em São Paulo, o que eu podia fazer?


- Pow Diana, tantos meios de comunicação, redes sociais e você some? Juro que pensei de cara em você quando me mudei para cá, mas... Quando conferi sua ascensão na carreira, imaginei que você nem lembraria mais de mim.


- Acho que eu tive medo de retomar qualquer relação com aquilo que queria me esquecer. Mas o importante é que nos reencontramos!


            A rápida mudança de assunto depois do desabafo que Diana deixou escapar mostrou para Rosana que a chaga que as aproximou ainda estava aberta, ou a menos aquela cicatriz ainda incomodava muito.

- Conseguiu se esquecer?


            Diana desviou o olhar, sorveu mais uma dose da bebida e foi irreverente:


- Tinha me esquecido do seu talento e hábito de se intrometer, e agora você não é mais paga pra isso não é?


            Entendendo o que estava subentendido na saída pela tangente de Diana, Rosana desconversou, depois de quase meia hora se deu conta da tromba que sua acompanhante colocara, especialmente porque aquela altura estava sozinha na mesa com elas, os demais circulavam pelo clube cumprimentando os conhecidos.


- Vocês costumam fazer isso? Excluir uma pessoa assim de uma conversa? Precisam mesmo conversar em português?


            Daniela não escondeu sua chateação. Notando a tamanha garfe que cometeram, Diana tentou se desculpar, enquanto Rosana se sentava ao lado do seu affaire, arriscando um afago na sua mão.


- Desculpe-me minha querida...


            Rosana beijou suavemente os lábios de Daniela, arrancando um sorriso da colunista. Diana inexplicavelmente tímida e incomodada com a cena usou da sua irreverência mais uma vez para quebrar o clima entre as amigas:


- Pronto Dani, seu draminha já teve o reconhecimento, agora desfaça essa tromba e vamos beber!


            Daniela arremessou outra azeitona em Diana, mas dessa vez acertou em cheio a testa da fotógrafa.

- Auuu.


            Diana esfregou a testa.


- Ok, quem falou em beber?


            Aos poucos, um a um da turma deixou o bar, restando apenas Diana e o casal: Daniela e Rosana. No entanto, as tentativas da colunista intensificar as carícias e precipitar a ida delas para seu apartamento foram inúteis, uma vez que Rosana a freou de todas as formas, animada com o reencontro com a amiga. A bebida mostrou seu efeito quando Rosana e Diana se levantaram, uma caiu por cima da outra, despertando as gargalhadas de ambas estateladas no chão, cena que irritou profundamente Daniela.


- Patéticas!


- Acho que estamos mais pra bebéticas! – Diana disse com a fala enrolada.


- Esses anos aqui acabaram com seu humor inteligente Diana! – Rosana se esforçou para dizer.


            As duas gargalharam, enquanto Daniela recolheu seu casaco e se afastou em direção a saída do clube.


- Ei! Aonde você vai sem nós? – Diana berrou.


- Vou para minha casa, coisa que devia ter feito a duas horas atrás!


            Daniela respondeu sem parar seu trajeto, de costas para as duas bêbadas ainda no chão. Rosana e Diana se encararam e mais uma vez gargalharam.


- É Dona Flor, um de seus maridos acabou de te abandonar, e agora? – Diana brincou.


- Agora me restou apenas um o que você vai fazer?


            O que parecia óbvio para os outros naquela noite, de repente ficou claro para as duas: a atração escondida foi revelada pela exagerada quantidade de álcool em suas veias, e rendidas a tal ímpeto conduziram seus lábios para uma fusão cálida.

*************

            O simples fato de ler aquele nome reportou Natalia à sua maior dor até então. O ex-senador Acrisio Toledo era um dos culpados pelo fim do seu namoro com Diana, pela condenação a um oco no seu coração sem aquele amor.

            O inquérito enviado pela 23ª DP denunciava o ex-senador por praticar em suas terras, no interior de São Paulo as quais abrigava os maiores canaviais do país, trabalho escravo.

            A jovem promotora leu com atenção cada item daquele inquérito, não tendo dúvidas em oferecer denúncia contra o ex-senador. Sua leitura foi interrompida bruscamente por uma senhora gorda, nitidamente mal humorada.

- Quem diabos é você? O que faz aqui?

- Natalia Ferronato. Estou trabalhando, e a senhora quem é?

- Ai meu Deus! Perdoe-me doutora! Não esperava a senhora tão cedo. Mas você não passa de uma menina! Não podia imaginar que era a nova promotora substituta!

- Calma senhora. Imagino que seja minha secretária, estou certa?

- Sim, sim. Joana Silva desculpa o mau jeito doutora. Fui nomeada para ser sua secretária com a aposentadoria do Dr. Taveira.

- Vamos esquecer isso.  Vou precisar muito de sua ajuda Dona Joana.

- O que eu puder fazer...

- Bem, imagino que a senhora organizava os arquivos do seu antigo chefe, e tem que concordar comigo que esse gabinete está precisando de uma boa dose de organização, impossível trabalhar numa bagunça dessas.

- Como disse, não esperava a senhora tão cedo, e fui designada há uma semana para esse cargo, não tive tempo de arrumar o gabinete antes da sua chegada.

- Ok, tudo bem. Suponho que a senhora conheça tudo por aqui, as rotinas e tudo mais...

- Supõe isso porque me acha velha? Está me chamando de velha porque disse que você é só uma menina?

- Não senhora, supus por que acabou de dizer que foi transferida depois da aposentadoria de um colega...

- Isso só deixa claro que meu antigo chefe estava velho, por isso se aposentou, se eu fosse velha, estaria aposentada também não é?

            Atordoada e sem graça pela indignação da senhora por suas deduções, Natalia engoliu suas explicações abrindo e fechando a boca sem conseguir emitir uma palavra.

- O que a senhora quer que eu faça primeiro?

- Ah, preciso de mais informações sobre esse inquérito especificamente.

- Qual é o número dele?

            A senhora colocou os óculos antes pendurados no pescoço por uma corrente prateada e abriu seu bloquinho de anotações. Natalia mostrou-lhe a pasta, e com a mesma expressão mal humorada da chegada, a secretária saiu da sala. Quase uma hora depois, Joana voltou com um calhamaço de papéis, e uma notícia:

- Chegou esse ofício para a senhora, avisando que seu assessor só comparecerá próxima semana, precisaram chamar outro classificado e atrasou a contratação.

- Você já leu o ofício endereçado a mim?

- Não dizia nada sobre ser conteúdo sigiloso, li sim. O Dr. Taveira sempre pedia que eu lesse pra ver se era mesmo importante, se tinha necessidade de incomodá-lo, essa gente adora escrever ofício!

            Natalia não respondeu se sentia despreparada para enfrentar a senhora rabugenta naquele momento. Com uma motivação pessoal mesclada ao seu entusiasmo pelo cargo que assumia Natalia não viu o tempo passar lendo os inquéritos arquivados nos quais Acrisio fora indiciado.   

            Ao final do dia, indignada com o montante de supostas provas colhido pelas investigações da policia que foram ignoradas pelos juízes que não aceitaram as denúncias, não teve dúvidas: ofereceu denúncia ao  juiz mais uma vez contra Acrisio Toledo.

            Esse nome de volta à sua vida em um momento no qual ela conquistara um passo importante na sua carreira pareceu para Natalia uma grande armadilha do destino para fazê-la encarar seus fantasmas e suas dores. Aquele inquérito não só se apresentava como um desafio no seu presente foi também a prova que o seu passado estava mais vivo do que nunca em seu interior.




2.3. Cum re presente deliberare


Deliberar com a coisa presente. De acordo com as circunstâncias. 


            As roupas lançadas ao chão, em meio a tropeços que dificultaram a chegada de Rosana e Diana ao quarto, anunciavam a intensidade da atração revelada naquele reencontro de amigas.

            Os corpos se buscaram numa avidez insana, como se todo aquele desejo estivesse contido há anos. Diana se deliciou em cada pedaço de pele desnudo de Rosana, enquanto esta sentia seus músculos estremecerem, rendida ao prazer que os lábios de Diana provocavam sob a luz do nascer do sol que entrava pela janela do quarto. A volúpia crescente se manifestou em gemidos e sussurros, que precederam a fusão dos fluidos abundantes que no roçar dos sexos precipitaram o gozo simultâneo nas duas. O prazer derramado entre as pernas de ambas inspiraram mais, impulsionadas pelo tesão evidente nos espasmos e na respiração ofegante, se procuraram ainda famintas, as línguas estavam sedentas e ao mesmo tempo, sorveram aquilo que os pequenos lábios ofereciam, e ali se detiveram com intimidade, e assim exploram com os lábios e com a língua os pontos mais sensíveis, deslizaram por toda extensão dos sexos encharcados, massagearam o clitóris e atingiram mais uma vez o ápice incontestável.

            A satisfação dos corpos, a exaustão da noite não dormida, e o álcool ainda corrente no sangue, nocautearam Diana e Rosana.

            Ignorando completamente aquele cenário, Rosana abriu os olhos com dificuldade, sentindo os efeitos próprios de uma grande ressaca. Tentou resgatar em sua memória falha algo que lhe indicasse onde estava e como chegara ali, mas nada fazia sentido, especialmente aquela cama que parecia girar sem parar. Remexendo-se para afastar os lençóis ficou ainda mais tonta se deparando com sua nudez e pior, a nudez de sua amiga Diana ao seu lado.

            A visão pareceu um start para recobrar as lembranças confusas da noite anterior. A cantora apertou os olhos fazendo careta, levando as mãos à cabeça condenando-se mentalmente:

-“Que merda que você fez Rosana!”.

            Como se pudesse apagar o que acontecera ainda incerta sobre as consequências daquela noite, Rosana se esquivou das pernas de Diana encaixadas nas suas para se levantar da cama, com o intuito de escapar do flagrante constrangedor que a sobriedade promoveria entre as duas.

            Diana não acordou, procurou um travesseiro e mudou de posição ainda mergulhada em um profundo sono. Mantendo o silêncio de uma ladra cometendo seu crime, Rosana recolheu o que achou das suas roupas, caminhou pelo apartamento que agora ela sabia que era de Diana, com seus pensamentos fervilhando culpa, medo, mas, sobretudo uma sensação indescritível de satisfação, por isso, se rendeu à vontade que teve ao contemplar a loirinha dormindo e beijou sua face. Deixou o apartamento sem notar que Diana despertara com seu beijo.

********

            Acostumando-se à sua nova rotina, Natalia ainda se sentia um tanto perdida nos corredores do prédio do Ministério Público, e principalmente, se irritava com as demoras burocráticas para atividades tão simples. Sua secretária não ajudava em nada no quesito: apressar as coisas. Dona Joana não era só rabugenta. A antiga funcionária era moldada ao arcabouço do serviço público oneroso e ineficiente, amarrada a protocolos e vícios que justificavam em parte a lentidão da justiça e do serviço público como um todo.

            A primeira denúncia oferecida pela jovem promotora fez do seu final de semana uma tortura. A lembrança tão bem escondida do rosto de Diana lhe perseguiu de todas as formas. Até mesmo a música antiga da desfeita dupla Sandy e Junior tocou em um desses programas de sucessos de outra época, colocando Natalia de novo no momento em que encontrou aquele CD no apartamento da loirinha. Foi capaz de relembrar cada palavra daquele diálogo, o jeito despachado de Diana justificar a trilha piegas na sua estante e assim, sorriu. Seu sorriso se configurou em traição:

-“Não! Não quero pensar nela!”.

             Natalia sentenciou e assim mudou a estação de rádio no som do seu carro. Talvez para desviar seus pensamentos de Diana naquele dia, aceitou o convite de Silvana para conhecer uma nova boate no centro da cidade. Sua ex-colega de república depois de muita insistência se tornou sua namorada alguns meses depois da partida de Diana e sua subsequente falta de notícias. Apesar de o namoro ter acabado acerca de dois anos, as duas ainda mantinham contato e alguma amizade, o que alimentava as esperanças de Silvana retomar a relação delas a qualquer momento.

- Já estou aqui em baixo, não demorem!

            Natalia anunciou no interfone.

- Silvana, sua amada doutora poderosa está naquele humor de sempre, não demore!

- Como você pode encrencar tanto com uma pessoa doce como a Natalia? Nando larga mão de ser chato sua bicha chata!

- Eu sou o chato? A Natalia faz de todas nossas conversas um julgamento, com direito a apelar para o STF quando ela fica sem argumentos numa discussão!

- Bicha dramática e exagerada você. Para de enrolar, eu já estou pronta, e você?

- Calma, falta ajeitar meu penteado...

- Nando!

- Que foi?

- Você é careca!

- Ah, mas vou enrolar um pouquinho, só pra dar motivo pra estressar a chatinha.

- Então quem é mesmo o chato da história?

            Fernando fez uma careta para amiga e os dois desceram ao encontro de Natalia que aguardava impaciente.

- Pedir para vocês não demorarem é o mesmo que dizer: não se apressem pessoal!

- Meus cabelos estavam assanhados oras! – Fernando provocou.

            Natalia apertou os olhos notando a intenção do rapaz.

- Fernando, se você não tivesse nossos convites VIPS, eu te atiraria no Tietê agora mesmo sabia? Garanto que seus cabelos voltariam a crescer depois disso!

- Ah eu adoraria processar a doutora promotora! Ficaria milionário!

- Fernando meu caro, eu assumi um cargo no serviço público, não ganhei o Big Brother nem muito menos acertei a mega sena!

- Com certeza é mais do que ganho como balconista!

- Ow, vocês dois, dá pra parar? Se eu não tivesse tanta certeza do que vocês gostam, diria que isso é paixão encubada! – Silvana tentou calar os amigos.

- Creeeeeeeeeeeedo cruz! Deus me livre dessa má hora!Ave Maria três vezes! – Fernando falou com jeito afetado.

            Silvana gargalhou. A troca de farpas entre Nando e Natalia continuou até a chegada à boate. O frisson de centenas de pessoas sem convite tentando entrar e das dezenas de câmeras que cobriam o evento animou Fernando e Silvana.

- Gente! Quem imaginaria isso? Uma badalação dessas na inauguração da uma boate gay? – Silvana comentou.

- É, há um boato que o dono é um ator famosérrimo, mas tudo é especulação. O fato é que o promoter é fechação! Conseguiu fechar com um batalhão de celebridades, por isso esse bafão aí na porta. – Fernando explicou.

- E nós estaremos entre os VIPS! Uhul!

            A animação de Silvana não contagiou Natalia. Apreensiva a promotora relutou em atravessar aquele corredor cercado de jornalistas das revistas de fofoca.

- O que foi Natalia? Vamos logo! – Silvana apressou.

- Eu não vou gente.

- Você o que?- Fernando berrou.

- Não vou, essa imprensa toda, até o pessoal do Pânico ali, não posso correr o risco de aparecer na TV entrando nessa boate.

- Era só o que me faltava! Uma sapa no armário...

            Fernando falou cruzando os braços revirando os olhos.

- Para com isso Nat! Isso é ridículo a essa altura em sua vida! – Silvana argumentou.

- Silvana não me julgue por querer proteger meus pais. Eles não sabem sobre minha homossexualidade, e não quero que descubram me vendo pela TV na inauguração de uma boate gay!

- Vou te contar uma novidade que pode te chocar um pouco minha querida: eles não estão aqui por sua causa!

            Fernando foi sarcástico, irritando Natalia.

- Eu não esperava que você pudesse compreender isso Fernando. Silvana, eu não vou estragar o programa de vocês, vou voltar para casa.

- Ei! Não mesmo! A gente vai entrar, faça como um daqueles bandidos famosos que você vai ajudar a prender, e esconda o rosto! Mas você vai entrar sim!

            Silvana arrastou Natalia, e para evitar um escândalo, a promotora não refutou, apenas se escondeu das lentes como sugerido pela amiga.

- Ali está o Emerson! Vamos!

            Emerson era o namorado de Fernando, o casal era a representação típica da máxima: “os opostos de se atraem”. Era administrador de empresas, a nova boate estava no rol dos empreendimentos que sua empresa de consultoria atendia.

- Vocês demoraram! Nossa mesa é bem ali.

            Acomodaram-se na mesa separada por Emerson. A presença de celebridades, a qualidade da música, as atrações na pista de dança e nos palcos, fascinou todos.

- Você não vai beber Nat?

- Estou dirigindo Sil, não posso.

- Ai aguentar você sóbria não dá! Toma, bebe! O Emerson leva sua lata velha pra casa, ele não bebe.

            Fernando serviu Natalia com uma “ice”, que sem retrucar aceitou a oferta, reconhecendo que precisava daquilo para relaxar e se distrair. O efeito não demorou. Logo os quatro amigos estavam na pista de dança, completamente envolvidos com o clima incrível da noite, cercado de gente bonita e cheia de estilo.

            O intuito de Natalia para a noite parecia contemplado até o momento de ver ali mesmo na pista alguém que lhe despertou a lembrança que ela queria deixar esquecida. Uma loira magra de cabelos curtos, com calças justas, movimentava a cintura fazendo charme com seu chapéu “panamar”. Natalia não podia dali ver o rosto da loira, mas a imagem surgiu como uma miragem, ou projeção dos seus desejos íntimos, reportando a primeira visão que ela teve de Diana na república.

            A partir dali, sua paz chegou ao fim. Tomada pelos sentimentos que aquela visão lhe trouxe, e impulsionada pela esperança de finalmente reencontrar ali seu amor do passado, Natalia caminhou em direção à loira que se afastava em direção ao bar.

            Os segundos que antecederam o movimento de Natalia puxando o braço da loira para encarar seu rosto foram de pura expectativa por um presente do destino, mas tal expectativa foi frustrada ao se deparar com o rosto desconhecido.

- Oi?

            A loirinha virou-se intrigada com o solavanco que sofrera. Natalia precisou de alguns segundos para se refazer da decepção e responder:

- Desculpe-me... Pensei que era outra pessoa.

            Natalia visivelmente sem graça se afastou quando a loira disse:

- Ei! Espera um pouco, você está bem? Parece meio pálida...

- Ah, estou, obrigada por perguntar.

- Quer beber alguma coisa? Água? Cerveja? Veneno?

            Natalia arregalou os olhos o que despertou o riso da loira.

- Estou brincando. Mas a oferta sobre a bebida continua de pé, aceita?

            O jeito despachado da loira falar só contribuía para aumentar a semelhança com Diana, fato que obviamente se tornou atrativo para Natalia.

- Eu acho que vou aceitar água.

            Natalia respondeu menos tensa.

- Ok, vou te acompanhar.

            A água precedeu muitas outras doses de bebida que as duas ingeriram encostadas no balcão do bar. O clima de flerte estava declarado, o bom humor da loirinha despertou o lado amável de Natalia quase sempre mantido oculto pela promotora como instinto de defesa.

- Você veio sozinha...? Nossa como é mesmo seu nome?

            A loirinha perguntou sem graça.

- Natalia.

- Desculpe-me, acho que tenho Alzheimer precoce, sou péssima com nomes.

- Não se preocupe, porque eu também me esqueci do seu. - Natalia sorriu.

- Ocorreu-me que não nos esquecemos... Acho que não nos apresentamos na verdade!

            Tocadas pelo álcool as duas gargalharam.

- Natalia Ferronato. – Disse estendendo a mão.

- Eduarda Lancester.

            A loirinha puxou a mão de Natalia para a tradicional troca de beijinhos informal. Como não estava preparada para o gesto, Natalia se atrapalhou provocando o roçar dos lábios das duas. O toque acidental inocente acendeu a atração das duas, que se mantiveram próximas, intensificando o desejo.

- Ah! Achei você!

            Silvana surpreendeu Natalia. Tímida, a promotora se afastou de Eduarda, e formalmente apresentou as duas.

- Vamos voltar para a mesa? O buffet está ótimo!

            Silvana convidou visivelmente incomodada pelos olhares trocados entre a ex e a loira estilosa.

- Acho uma boa pedida.

            Eduarda se antecipou em aceitar o convite.

- Sinto muito, mas é só para área VIP querida.

            Silvana disse com descaso para Eduarda, exibindo sua pulseira de identificação.

- Silvana deixa de ser grossa!

            Natalia falou trincando os dentes.

- Não se incomode Natalia. Ah minha querida, não preciso dessa pulseira para provar que sou VIP, vamos?

            Sem nada entender, as duas seguiram Eduarda que passou pelos seguranças da área VIP tranquilamente. Diante da mesa na qual Emerson e Fernando estavam ela parou cumprimentando o administrador.

- Eduarda? Nem sabia que você vinha!

            Emerson pôs-se de pé, cumprimentando a loira.

- Vocês se conhecem? - Silvana perguntou surpresa.

- Eduarda é a dona da boate Silvana.

            Boquiaberta Silvana engoliu seco. Enquanto Fernando deixava escapar a indagação:

- Mas não falaram que essa boate é daquele ator o...

- Especulação de nosso marketing, a Eduarda é a proprietária.

- Resolvi dar uma passada para conferir as coisas Emerson, está tudo perfeito, parabéns. Natalia, vamos ao buffet? Escolhi pessoalmente o cardápio, modéstia à parte, disso entendo.

            Eduarda cumprimentou a todos, antes de conduzir Natalia até a gigantesca mesa de petiscos e iguarias. O flerte entre as duas não cessou. Desfrutaram de uma afinidade incomum, a semelhança com Diana confundiu Natalia que por vezes enxergou no belo rosto de Eduarda, a face do seu antigo amor.

- Natalia? Você está pálida de novo, está se sentindo bem?

- Estou um pouco tonta, só isso.

- Vem comigo então.

            Eduarda levou Natalia por um corredor no mesmo andar da área VIP, e abriu a porta de uma das salas.

- Sente-se aqui. Acho que vai te fazer bem um pouco de sossego. – Eduarda ajudou Natalia a se acomodar no sofá espaçoso e macio.

- Que lugar é esse?

- Uma das salas da administração. Meu escritório.

- Bem parecido com meu gabinete. – Natalia ironizou.

            Eduarda sorriu, sentando-se ao lado da promotora, servindo-lhe água.

- Aquela sua amiga...

- Silvana?

- Sim. Ela é apaixonada por você não é?

- Uau, você é direta heim?

- Sempre. Sou muito objetiva sobre o que quero saber, não gosto de jogos, subterfúgios... Sou clara em tudo que pretendo.

- Sempre? Em tudo?

            O tom de voz de Natalia insinuava o teor das entrelinhas da sua indagação.

- Em tudo. – Eduarda falou aproximando seu rosto de Natalia.

- O que você pretende comigo agora Eduarda? – Natalia sussurrou.

- Pretendo beijar você.

- Estou esperando sua objetividade...

            A provocação de Natalia teve seu efeito esperado. Eduarda mergulhou seus lábios na boca sedenta da promotora, fazendo explodir uma onda de calor pelo corpo das duas, o que fez aquele beijo se prolongar o suficiente para as mãos seguirem o ritmo da excitação retirando o desnecessário para aquele momento e assim as roupas foram jogadas para qualquer lugar, enquanto Eduarda atirou seu corpo sobre o de Natalia, lambendo cada trecho daquela pele quente e eriçada.

            A entrega de Natalia fora intensificada com a projeção de seus desejos que a todo tempo traziam a tona o rosto de Diana na sua sósia. Seu inconsciente a traiu se fazendo no nome pronunciado em meio a gemidos enquanto Eduarda alcançava com os dedos o seu sexo encharcado:

- Vai Diana, entra em mim...

            Eduarda não ousaria interromper aquele momento por conta desse deslize de Natalia, estava totalmente rendida ao prazer, pouco importava com quem Natalia estava no pensamento, bastava saber que ela mesma estava absorta no desejo pela promotora.





2.4 Quid inde?

E então? Qual a consequência disso? Parte inferior do formulário

            Miriam bateu à porta da colega por volta de meio-dia, preocupada com a demora de Natalia em acordar, já que ambas tinham o mesmo hábito de acordar cedo, mesmo aos domingos.

- Natália? Você está aí? Está tudo bem? Natália?

            A intensidade das batidas e do tom de voz de Miriam foram crescendo gradativamente até beirar o desespero, quando finalmente a outra despertou abrindo a porta bruscamente.

- O que foi Miriam?

- Ai que susto! O que aconteceu com você?

- Nada Miriam, só estava dormindo.

- Mas já é meio-dia!

- Miriam hoje é domingo! Cheguei tarde da balada.

- Tive a impressão de ter te visto levantar cedinho, por isso me preocupei.

- Aquela foi a hora que cheguei Miriam.

            Natalia voltou à sua cama indisposta. Amargando a ressaca, recusou as ofertas da roomate para almoçar, mas, não voltou a dormir, as lembranças da sua noite de amor com Eduarda preencheram seus pensamentos e acenderam seu corpo, e mesmo com a dor de cabeça lhe torturando, abriu um sorriso ao relembrar a loirinha.

            Era a primeira vez que se comportara daquela forma, ou seja, entregar seu corpo ao desejo de maneira descompromissada. Por muitas vezes chegou a condenar quem o fazia, visto que ela, só esteve na cama com alguém que fosse sua namorada, ou ao menos já conhecesse há algum tempo. Mas, com Eduarda foi diferente. Talvez pela semelhança com Diana, Natalia não a enxergava como uma desconhecida, e ela não se comportou com tal, considerando o domínio que ela demonstrou sobre Natalia, sobre seus pontos mais sensíveis, tornando aquela noite memorável.

            Arrependeu-se de não ter pedido o telefone da moça, também pudera... Pelo alarde que Silvana fez ao encontra-las juntas, tudo que Natalia desejou foi evitar uma cena de ciúme descabida da ex, acabou por deixar a boate sem se despedir adequadamente de Eduarda.

            Foi impossível não traçar comparações com Diana, seu pensamento voou ao passado, rememorando as sensações que desfrutara ao lado do seu antigo amor, e concluiu: não é igual, mas, eu também viveria bem com isso. Indagou-se a si mesma sobre a intensidade que experimentara, e assustou-se por considerar pela primeira vez depois de Diana, apaixonar-se de novo.

******

            O som insistente da campainha acordou Diana. Olhou para o celular e conferiu as dezenas de ligações de Dani. Revirou os olhos, escondeu a cabeça no travesseiro, mas não adiantou os sons não a deixaram em paz, levantou-se amaldiçoando até décima geração sua amiga persistente, pegou o interfone e disse mal humorada:

- Fala Dani! Imagino que um desespero desses tenha uma boa justificativa!

- Abra essa porta Diana!

            Incerta sobre os motivos para Dani estar ali, e insegura em ser honesta com a amiga acerca da noite passada com Rosana, Diana relutou em abrir a porta, mas, Dani a venceu pelo cansaço.

- Ok Dani, o que foi? Outro ataque terrorista? Estamos em risco?

- Não estou com humor para piadinhas Diana. Você me deve explicações! Que merda foi aquela que você fez ontem?

            Diana empalideceu. – “Como ela poderia saber o que houve? Só se Rosana lhe contou!”- a fotógrafa pensou.

- Calma Dani, tudo tem uma explicação. Não é tão ruim quanto parece.

- Estou esperando a explicação para eu ter começado minha noite de sexta com uma cantora linda e ter acabado sozinha em casa dormindo enquanto você e o meu encontro se espatifavam bêbadas pelo chão!

            Diana respirou aliviada e deixou escapar:

- Ah! É isso?

- Você acha isso pouco? Diana você estragou minha noite, alugou minha garota descaradamente!

- Não seja dramática Dani.

- Dramática? Ow! Diana!

- Ok, me desculpe. Fiquei empolgada, não via Rosana há anos, sinto muito.

- Espero que isso não se repita.

- Pode deixar. Mas, espere, você vai sair com ela de novo?

- Claro! Ontem não valeu! Chamei-a para me acompanhar na exposição da sua amiga na Galaxy’s essa semana.

- A exposição da Julia já é essa semana?

- Sim, a Liza mandou os convites da Vernissage, não recebeu?

- Ah pensei que fosse de outro artista, nem abri o envelope. Droga!

- O que foi?

- Esqueci-me completamente do almoço com a Julia!

- Apresse-se, quem sabe ela te perdoe com um jantar.

***** 

            Diana chegou ao hotel onde Julia estava hospedada com expressão de culpa, apelando para a generosidade de a artista plástica perdoar seu furo.

- Um pouco tarde para o almoço não acha?

- Julia perdoe-me! Perdi a hora, bebi demais ontem...

- Pra variar não é?

- Ai que injustiça... Há tempos não bebia como bebi ontem.

- Qual o motivo então para o porre?

- Um reencontro inesperado. Lembra-se da Rosana? Uma psicóloga que te falei que era também vocalista de uma banda, tocava naquele bar que te levei uma vez...

- Lembro sim, o que tem ela?

- Então, ela estava ontem no Light Rock, está morando aqui, e montou uma banda, está tocando no Queens.

- Em homenagem a isso você enfiou o pé na jaca ontem pra me dar bolo hoje? Bonito heim...

- Nem me fale em enfiar o pé na jaca... Porque dessa vez eu me superei.

- Ok, você já tem minha atenção, só pelo fato de assumir que exagerou isso me cheira a uma história das boas! Mas, você me conta enquanto comemos algo, estou faminta!

            Preferiram jantar ali mesmo no restaurante do hotel, constrangida, Diana narrou sua aventura com Rosana na noite passada, enquanto ruminava sua culpa por ter sido desleal com Daniela.

- Sabe Diana, quando finalmente eu acho que você atingiu sua maturidade emocional, depois da novela que você protagonizou até sua vinda para cá e suas aventuras vazias nas noitadas dessa cidade, você me dá uma prova de sua inconsequência sentimental.

- Ótimo! Tudo que eu precisava: uma lição de moral.

- O que foi Diana? Acha que não é merecedora disso?

- Tudo bem Julia, sei que vacilei, já estou me martirizando o suficiente. Mas agora o que faço com essa confusão? Como vou agir com Rosana? E se a Daniela descobrir?

- A história entre elas é mesmo séria?

- Não sei dizer, a Dani está empolgada com a Rosana, arquitetou essa estreia dela no Light, mas, você sabe como ela é: se apaixona toda semana.

- E para a Rosana?

- Pior! Isso é que não sei mesmo.

- Espera um pouco... Vocês transaram e não conversaram nada depois? Nem hoje? Ela acordou, se vestiu e foi embora e você deixou?

- Dá um tempo Julia! O que eu falaria? Além da ressaca eu não tinha, ou melhor, não tenho a menor ideia do que dizer a ela, não sei o que significou para ela, talvez tenha sido só uma noite de sexo casual, consequência das dezenas de martinis, margaritas e tudo mais que bebemos ontem.

- Pra você foi só isso?

            Diana emudeceu, sorveu um gole de água enquanto buscava em sua mente a resposta para aquela pergunta capciosa.

- Não sei.

- Não sabe?

- Foi diferente Julia. Não foi só pela bebida, ontem foi como se uma venda caísse dos meus olhos e eu pude enxergar a mulher incrível que a Rosana é.

- Provavelmente você sempre achou, mas, naquela época não havia espaço para outro sentimento ou outra mulher em sua vida que não fosse a Natalia não é?

            Diana se calou mais uma vez. Julia às vezes fazia o papel de sua consciência. Justamente por conhecer tão bem a loirinha, a escultora sabia descrever aquilo que Diana deixava impresso nas entrelinhas.

            Naquela noite não bastasse o caos que se instalara na mente da fotógrafa em meio a culpas e inseguranças acerca dos seus próximos passos no indesejável triângulo amoroso que se envolvera, a conversa com Julia trouxe à tona as lembranças que nunca foram reclusas o suficiente para se manter adormecidas. O pensamento em Natalia assim como foi durante todos os anos daquela separação se comparava a um vírus latente, inativado, que aguarda a vulnerabilidade do corpo para se manifestar novamente. A situação com Rosana abriu a brecha no campo da imunidade emocional da loirinha se deparar mais uma vez com a cicatriz que ainda latejava, como se pronta para rasgar sua alma de novo, expondo o vazio que sentia sem Natalia em sua vida.

*****
           
            Dona Joana bateu à porta do gabinete para comunicar que o assessor de Natalia desejava se apresentar.

- Faça-o entrar, por favor.

- Não é ele, é ela...

            A secretária abriu a porta dando espaço para a nova assessora entrar, Natalia não pode acreditar quando constatou de quem se tratava:

- Cacá?

- Oi Nat.

- Carlinha como assim? O que faz aqui?

- Sou sua nova assessora oras!

- Mas... Você tem capacidade para ser minha colega nesse cargo! Não minha assessora!

- Alguns anos sem notícias minhas Nat te deram essa certeza...

            Carla fez uma expressão triste, enquanto se acomodava para o que seria uma longa conversa quando Joana se retirou do gabinete.

- Sua carinha me preocupou... Explique-me por que esse cargo Cacá?

- Depois que concluí a faculdade, só consegui passar no exame da ordem um ano depois. Na mesma época me casei com o Ricardo, ele estava advogando para a empresa do pai dele que abriu uma filial na Bahia, nos mudamos para lá após o casamento, e aí, me acomodei à condição de esposa, não precisava trabalhar e estava sempre envolvida em acompanha-lo nos eventos, enfim...

- Justo você Cacá?

- Não me julgue Nat... Não fiz isso por submissão. Estava feliz ao lado dele, feliz vendo-o crescer, e eu me julgava também responsável por isso, dando suporte, uma estrutura familiar para ele.

- Entendo... Vocês tem filhos?

- Tentamos, mas, perdi o bebê no início da gravidez, depois disso, entrei em uma depressão horrorosa, isso me afastou do Ricardo, que foi um fraco, não suportou e me traiu com a primeira oferecida que surgiu na vida dele.

- Fraco nada! Ele foi um filho da mãe!

- Enfim... Cansei da humilhação porque com um tempo, ele nem me escondia mais o caso com a funcionária da empresa do pai. Pedi o divórcio, e voltei para casa de meus pais, e desde então venho reconstruindo minha vida, não podia fazer concurso para seu cargo porque não tinha prática jurídica comprovada, nem muito menos estava preparada para passar.

- Poxa Carlinha...

- Nat não precisa se compadecer! Estou bem amiga! Estou trabalhando porque quero! Nem preciso na verdade.

            Carla deixou um sorriso escapar.

- Como assim?

- Você acha que eu ia deixar o Ricardo sair ileso? Contratei um excelente advogado, consegui metade dos bens dele, e ainda recebi uma gorda pensão até o mês passado, fiz um bom pé-de-meia.

- Essa sim é a Carla que conheço!

- Vamos deixar a conversa de lado e vamos trabalhar! Tenho certeza que tenho a aprender muito com você.

- Tudo bem então, temos muito trabalho pela frente.

            Depois do expediente, Natalia deixou o prédio do Ministério Público com Carla, emendada em um papo animado com a amiga tratou de atualizar e ser atualizada sobre as fofocas dos ex-colegas de curso, a conversa foi interrompida pela ligação de um numero estranho no celular da promotora.

- Pois não?

- Doutora Natalia Ferronato?

- Sim é ela. Quem fala?

- Nossa... Pensei que minha voz ainda estivesse na sua memória. Não reconhece mesmo?

            Natalia mudou a expressão imediatamente ao se dar conta de quem se tratava. Ruborizou, abriu um sorriso discreto e respondeu:

- Oi Eduarda.

- Ah! Que alívio. Você não me deu seu telefone, mas dei um jeito de conseguir...

- Você não me pediu, por isso não dei.

- Não deu tempo. Você saiu tão apressada naquela noite...

- Meus amigos... Desculpe-me.

- Desculpo com uma condição.

            Natalia sorriu e disse:

- Diga seus termos.

- Janta comigo?

- Hoje?

- Seria ótimo, mas estou saindo de São Paulo agora, na verdade estou no aeroporto. Poderia ser na sexta, quando eu retornar?

- Claro. – Natalia confirmou decepcionada.

- Então, está combinado, na sexta nos encontramos. Preciso ir, última chamada pro meu embarque.

- Ok, boa viagem.

            Natalia desligou o telefone atônita consigo mesma, pela frustração que sofria por adiar seu reencontro com Eduarda. Não haviam razões para tal sentimento, mas sua peculiar sensatez parecia fugir diante da iminência do nascer de uma nova paixão em sua vida.





2.5. Ex positis

Das coisas estabelecidas, assentado


            A Galaxy’s era uma galeria bem conceituada entre os críticos e artistas. Por conta disso, Liza conquistara um prestígio considerável no meio, o que lhe concedeu crédito para atrair nas exposições um bom público e cobertura da mídia, tal mérito também podia ser atribuído a Daniela, que sempre ressaltava a qualidade dos eventos realizados ali.

            Julia realizava sua segunda exposição nessa galeria. Este trabalho estava sendo aguardado com ansiedade pelos admiradores do seu talento, tão bem reconhecido no exterior.

            O vernissage foi muito bem articulado para o sucesso tradicional dos eventos organizados pela galeria por Liza, assim, a Galaxy’s recebeu naquela noite um seleto grupo de convidados: imprensa especializada, críticos de arte, admiradores e compradores de artes plásticas, e obviamente os amigos mais próximos da artista, entre eles sua ex-namorada Diana.

- Julia você superou minhas expectativas, seu trabalho está fantástico! A Liza me disse que grande parte já está reservada por compradores, parabéns!

- Obrigada Diana, me entristece que no meu país não valorizem tanto minhas esculturas.

- Você está conquistando seu espaço, hoje você já é conhecida lá, tenho certeza que logo você terá o sucesso reconhecido lá também.

            Julia sorriu e olhando em volta perguntou:

- E então, já conversou com a Rosana?

- Não, não tive coragem. Ela também não me procurou, sinal que não quer conversar.

- Não se viram desde então?

- Não, e espero que isso não aconteça tão cedo.

- Notícia ruim pra você minha querida, porque elas estão vindo para cá agora.

            Diana não teve tempo de se refazer do susto do aviso de Julia, Daniela e Rosana se aproximaram cumprimentando a escultora pela exposição, ao mesmo tempo em que saudaram a fotógrafa ainda pálida.

- Olá Diana.

            Rosana foi discreta no cumprimento, recebendo resposta à altura.

- Como vai Rosana?

- Bem e você?

- Estou bem também.

            Os olhares desencontrados deixaram evidente o desconforto entre as amigas, para a sorte das duas, Daniela nada percebeu.

- Vocês duas, façam-me o favor de não excederem no vinho, me poupem de outro episódio lamentável como o da sexta passada.

            Rosana e Diana sorriram sem graça, e assim permaneceram pelo resto da noite. A fotógrafa tratou de ficar afastada ao máximo da cantora, mas, a presença de sua tradicional turma de amigos não deixou seu intuito se concretizar. Gerard, o mais sensível do grupo, percebeu a intenção de Diana e foi discreto cochichando enquanto admiravam uma das esculturas:


- Você pode me falar agora o que está acontecendo entre você e sua amiga brasileira de infância?

- Han? - Diana fingiu não entender.

- Diana eu te conheço, você é uma das pessoas mais transparentes que conheço. Não precisa ser um gênio para perceber o mal estar entre você e a nova estrela da música segundo os olhos da Dani.

- Você está ficando maluco Gerard. Não há nenhum mal estar. Só estou tentando consertar a garfe que cometi na sexta, estraguei o encontro das duas.

- Sei...

- Gerard não faz essa cara de biba psicanalista!

- Só quando você parar de fazer cara de sapa dissimulada!

            Os dois seguraram a gargalhada com um olhar cúmplice.

- Não tem nada acontecendo, nada com que se preocupar meu amigo. Mas... Preciso de você pra me manter longe delas sem ficar tão óbvia minha fuga.

- Tudo bem, por hoje você tem meu apoio, mas, seja o que for que você esteja tentando encobrir, precisará de mais empenho nessa tarefa. A Dani só não notou porque está encantada demais pela Miss Flower, cuidado.

            O conselho de Gerard deixou Diana ainda mais apreensiva. Era hora de fazer uma retirada estratégica, decidiu não demorar mais tempo ali, logo após o discurso de Julia, iria embora discretamente. A fim de se refazer da tensão que sofria em meio aos amigos que insistiam em permanecer juntos na mesma roda, Diana se refugiou no banheiro, encarando o espelho como se buscasse uma solução politica e moralmente correta para aquela saia justa.

- Acho que não podemos fugir a vida toda uma da outra não é?

            Rosana surpreendeu a loirinha, entrando no banheiro. Diana permaneceu diante do espelho, mas, dessa vez encarava Rosana através dele. A apreensão deu espaço a um misto de nervosismo e atração, despertado pelas memórias tão vivas do último encontro das duas. Objetivando escapar do embate daquela confusão sentimental e de desejos, Diana usou sua irreverência para se esquivar:

- Consegui por seis anos, acho que consigo despistar você de novo.

            Rosana acenou em acordo.

- Você é boa mesmo em fugir. – Rosana disse se aproximando.

- Você também tem talento pra isso doutora, afinal o fez isso muito bem quando a ressaca moral te abateu não é?

            Diana disse desviando o olhar, lavando as mãos.

- Acha mesmo que pode me julgar ou me cobrar alguma atitude?

            Rosana encostou-se à pia vizinha a fotógrafa, cruzando os braços.


- Não estou fazendo isso Rosana, só estou tentando dizer que estamos agindo em acordo, um acordo não decretado, mas, implicitamente firmado.

- Um acordo sobre esquecer o que aconteceu naquela noite?

- Sobre atribuir o que aconteceu ao excesso de margaritas, e não deixar que isso interfira na nossa amizade.

            Diana baixou os olhos, mas Rosana não se conformou. Buscou os olhos verdes da loirinha e manteve os seus fixos naquelas esmeraldas e perguntou:

- Excesso de margaritas? Tem certeza que isso resume o que aconteceu?

- Sim. Foi um equívoco. Tenho certeza que ainda vamos dar risada disso um dia. Mas, por enquanto, vamos nos esquecer, tem mais gente envolvida que não entenderia dessa forma.

            Diana fez menção de se afastar, mas, Rosana segurou sua mão, despertando a onda de reações do corpo, próprias de uma situação de estresse para fuga ou luta: mãos suadas e frias, coração disparado e o arrepio da pele tomou conta do corpo das duas.

- Rosana... Não faz isso.

- Não estou fazendo nada Diana... Só quero deixar tudo esclarecido entre nós.

- Não está claro o suficiente? Foi um erro Rosana, a gente não pode deixar que isso mude nossa relação.

- Diana, já mudou. Mudou tudo. Nosso corpo tem memórias. Não há como negar. As memórias estão aqui, fervilhando nosso sangue, acendendo nosso desejo, me empurrando pra perto de você...

- Rosana... Para com isso...

            A fala entrecortada de Diana e a respiração acelerada atestaram a veracidade das afirmações de Rosana.

- Não posso Di. Não consigo.

- Você acha que está sendo fácil? Mas, não podemos! A Dani nunca me perdoaria, além do mais... Não quero estragar nossa amizade... Não quero que as coisas mudem.

- As coisas já mudaram você pode sentir isso?

            Rosana conduziu a mão de Diana pelos seus braços, pelo tato a loirinha pode perceber os poros eriçados. Alcançou o rosto ruborizado da loirinha sentindo o calor que emanava dele. Diana não refutou mais, fechou os olhos e deixou seu corpo e as memórias dele ditar os movimentos seguintes.

            Como atraídas por um imã invisível deixaram os corpos se colarem. E com as bocas quase fundidas, respiraram o hálito uma da outra, travando inutilmente a última luta entre sensatez e desejo. Diana foi a primeira a entregar os pontos: segurou a nuca de Rosana, enlaçou seus dedos nos cabelos da cantora e a empurrou contra a porta, invadiu a boca de Rosana com sua língua sedenta e sorveu a saliva quente, mordiscou os lábios ardentes da psicóloga, emendando um beijo cálido, dessa vez, absolutamente consciente, tornando-o ainda mais irresistível.

            O beijo fez explodir o turbilhão de sensações vividas no apartamento de Diana no ultimo encontro das duas, tornando previsível o que aconteceria se a atração prevalecesse mais uma vez sobre a razão. A previsibilidade do instante freou Diana.

- Não Rosana, nós não podemos. Chega.

            A loirinha afastou Rosana com dificuldade. A psicóloga segurou as madeixas caídas sobre seu rosto vermelho marcado pela intensidade daquele momento, tentando se refazer.

- Eu acho que você tem razão. Não podemos.

            Rosana buscava se recompor, recobrando a razão.

- Rosana, eu não posso negar que o que aconteceu mexeu muito comigo, você também tem razão quando fala que tudo mudou, mas, eu não posso fazer isso com a Dani...

- Diana... Não tenho a menor condição de prosseguir com algum relacionamento com a Dani. Depois do que houve entre mim e você, não consigo pensar em mais nada, estaria sendo desonesta com a Dani, enganando-a. Mas, não quero que ela me julgue uma aproveitadora, que a usou para conseguir uma oportunidade no Light Rock, depois da sexta, nossa banda foi contratada para fazer uma temporada lá, temo que a Dani interprete mal se eu terminar tudo agora.

            Diana jogou a cabeça contra a porta, confirmando mentalmente as consequências daquela atração irresistível descoberta.

- Eu vou me afastar de vocês. Quem sabe vocês tenham chance de se entender. Não quero se a culpada de minar a relação de vocês duas.

- Diana não há relação, só saímos algumas vezes...

- A Dani está envolvida... Se for passageiro eu não sei, mas é suficiente para eu não querer ficar no meio disso.

- Então é por causa dela?  - Rosana encarou Diana indagando.

- Também por ela. Não quero também estragar nossa amizade, eu acabo magoando todo mundo que gosto quando o relacionamento deixa o campo da amizade...

- Então... Vamos deixar as coisas assim, como se nada tivesse acontecido.

- Sim... E acho que ficaremos mais seis anos sem nos encontrarmos.

            Rosana sorriu discretamente disfarçando sua tristeza. O acordo que antes fora firmado pela inexistência da verbalização deste, agora estava decretado. No entanto, isso não resolveu o caos interior instalado em ambas, uma coisa era certa: estava tudo diferente, tão diferente a ponto de não tolerarem a repercussão daquela mudança.

***********

            A morosidade da justiça incomodava profundamente Natalia e sua assessora. Carla compartilhava da ansiedade da chefe em ter a resposta à denúncia oferecida contra Acrisio Toledo. Mas, enfim, à custa de uma marcação implacável de Carla, que pessoalmente cobrou a decisão do juiz 6ª vara criminal, no final da semana, Natalia obteve mais uma vez a resposta negativa do juiz que não recebeu a denúncia da promotora, ordenando mais uma vez o arquivamento do inquérito.

-- Não é possível! Essa decisão rejeitar a denúncia por falta de justa causa para exercício de ação penal é absurdo! Do que mais ele precisava para justificar essa ação?

            Carla bradou sua indignação no gabinete de Natalia que ainda decepcionada não escondia que no fundo já esperava por isso.

- Esse maldito deve ter comprado a maioria dos juízes do estado, só isso justifica essa resistência toda. O grande problema é que os testemunhos são mesmo fracos. Tudo gira em torno de suspeitas. A polícia ainda não conseguiu entrar nas terras de Acrisio para vasculhar de verdade, por que igualmente não conseguem uma autorização judicial, Acrisio declara que nunca escondeu nada, que sempre autorizou as fiscalizações do Ministério do Trabalho, e que seus empregados tem ordem para permitir que a polícia investigue as denúncias, mas, o inquérito revela que as diligências eram limitadas. Nenhum mandado de busca e apreensão foi expedido!

- Tem que haver um jeito Natalia! Uma hora um empregado desses consegue fugir, ou alguma prova consistente cairá na nossa mão.

- Até lá, eu vou tratar de importunar todos os juízes de São Paulo, e acho que está na hora de deixar escapar algo pra mídia...

- Do que você está falando chefinha?

- Não percebeu que ninguém fala dessas investigações contra ele? Você sabia disso antes de trabalhar aqui?

- Claro que não! Eu sabia que ele era um escroque, desde aquela história que ele se meteu no seu relacionamento com Diana, eu tive certeza que ele era capaz de tudo...

            Carla calou-se ao notar a mudança na expressão de Natalia, como se estivesse remexendo em uma ferida sangrenta.

- Desculpa Natalia eu não devia ter falado sobre isso...

- Tudo bem Carla, mas vamos nos deter nos fatos de agora, por favor.

- Claro. Continue falando sobre isso aí da mídia...

- Bom, Acrisio Toledo, apesar de não estar ocupando um cargo público, ainda é uma pessoa pública. Precisamos usar isso contra ele. De repente, isso pode ter algum efeito nessa sucessiva recusa dos juízes.

- Nat, mas, você não pode convocar a imprensa para denunciar isso.

- Não posso oficialmente... Mas, acho que podemos encontrar um jeito de fazer isso vazar...

- Natalia! Justo você tão certinha! Isso não está certo eticamente, ou está?

- Ai ai... Moral, ética... Isso me lembra Dorothea! Carla, você não percebe o perigo? Ele ganhou na convenção e vai disputar o cargo de governador de Mato Grosso do Sul de novo, já que não ganhou da última vez. Se esse homem conseguir se eleger, aí sim, nunca mais conseguiremos processá-lo, nem tampouco condená-lo. Ficará impossível pegá-lo.

- A campanha eleitoral já começou! Precisamos nos apressar.

- Então, por um bem maior, não acha que podemos dar um jeito nisso?

- Claro que podemos chefinha, e acho que sei quem pode nos ajudar.



            Natalia conseguiu na antiga amiga, uma aliada importante na missão que abraçara na justiça. Carla tinha conceitos morais parecidos, e isso ajudou muito na parceria das duas no ministério público.

            A semana chegara ao fim com a frustrante decisão do juiz da 6ª vara acerca da sua primeira denúncia. Tal notícia até fez a promotora esquecer-se do compromisso marcado no início da semana com Eduarda, assim, não se lembrou de retornar a ligação desta para confirmar o encontro.

            Perto do seu prédio, retornando para casa na sexta-feira, para coroar seu dia imperfeito, Natalia se irritou ao perceber seu carro morrer naquele trânsito tumultuado.

- Era só o que me faltava!

            A promotora murmurou furiosa, encostando seu automóvel. Mesmo sem entender absolutamente nada de mecânica, ela fez o que a maioria faz: abriu o capô para olhar o motor.

- Ok, gênio da mecânica, o que você vai fazer além de colocar água no radiador e apertar os cabos da bateria?

            Natalia falou sozinha acerca dos dois únicos procedimentos que ela era capaz de realizar no motor do carro. Enquanto procurava no seu celular o número de uma oficina mecânica, passou sua mão pelo rosto enxugando o suor e ouviu uma risada. Irritada perguntou:

- Posso saber qual a graça?

            A promotora virou-se em direção ao som da risada ao indagar rispidamente, quando se surpreendeu com Eduarda encostada em uma moto com um sorriso arrebatador no rosto.

- Eduarda?!

            Sem graça pelo tom grosseiro que usara, Natalia ruborizou.

- A graça é você que está ainda mais linda com essa carinha suja de graxa.

            Mesmo tímida Natalia não pode deixar de sorrir com o elogio. E ali, olhando para Eduarda perto daquela motocicleta, não pode deixar de associá-la mais uma vez às suas memórias de Diana.

            Eduarda se aproximou e delicadamente tentou limpar o rosto sujo de Natalia, mas ao invés disso, só espalhou mais a graxa.

- Ops... Acho que piorei tudo. – Eduarda comentou.

            As duas sorriram, desfazendo de vez o clima estressante imposto pela situação.

- O que você faz aqui? – Natalia perguntou.

- Bom, minha intenção era te pegar em casa para nosso jantar, mas... Vi uma linda mulher tentando dar uma de mecânica em no meio do trânsito caótico de São Paulo, não resisti e parei pra ver.

            Natalia ficou tímida mais uma vez, mas disfarçou.

- Ah, você costuma fazer isso? Só para pra ver? Não ajuda?

- Você está precisando de ajuda? Nem parecia!

            Eduarda brincou.

- Ah muito engraçadinha você. Claro que estou precisando!

- Deixe-me ver, como posso ajudar.

            Eduarda olhou para o motor atentamente, e disse:

- É o que pensei mesmo. Já sei o que fazer.

- Nossa! Jura que você entende tanto assim?

- Entendo.

- E então?

            Natalia perguntou curiosa. Eduarda sacou o celular do bolso, discou e logo falou:

- Ah oi, é do teleguicho?

            Natalia revirou os olhos depois de sorrir.

- Ah então é assim que você ajuda?

- Ué isso não ajuda?

- Você disse que já sabia o que era, e que sabia o que fazer. Pensei que você entendesse!

- Eu entendo que: não faço a menor ideia do que tem o seu motor velhinho, e sei muito bem o que fazer: chamar um guincho para levar seu carro para uma oficina ué!

            Natalia sorriu, não disfarçando o encantamento por Eduarda. Depois de levar a promotora até a oficina seguindo o guincho, Eduarda disse:

- Pronto, agora a senhorita pode vir jantar comigo.

- Jantar?

- Não era esse nosso compromisso pra hoje?

            Natalia bateu com a mão na testa.

- Com o dia que tive hoje, esqueci-me completamente desculpe-me Eduarda.

- Só vou te desculpar se você me prometer que não vai mais passar sua mão suja de graxa no seu rosto de novo! No começo estava fofo, mas agora está mais pra caminhoneira e não sou fã do estilo, sinto muito.

            Natalia gargalhou.

- Vamos?

- Ah você quer levar a caminhoneira suja para jantar em algum posto de gasolina na estrada?

- Não. Quero levar uma promotora linda para lavar esse rosto e depois jantar em minha casa.

                       Com o rosto corado, Natalia disse:

- Acho um convite irresistível.

            Assim, Natalia mais uma vez se dividiu entre as lembranças de Diana que Eduarda despertava por suas semelhanças com a primeira namorada, montou na garupa da motocicleta, totalmente envolvida pela presença inebriante de Eduarda.

            Chegaram ao prédio de luxo na zona sul da cidade. Um espaço tão estiloso quanto à dona, outra semelhança com Diana, no entanto, com mais ostentação. O duplex abrigava moveis modernos, e uma vista maravilhosa das luzes da noite paulistana, numa vista panorâmica pela vidraça da sala.

            Natalia refez sua maquiagem rapidamente depois de retirar a graxa do rosto e surgiu na sala, onde Eduarda lhe aguardava com uma taça de vinho.

- Eu não sabia que o convite era para jantar aqui em sua casa.

- Eu te disse que sou direta, objetiva no que quero. Como cozinhar é um dos meus talentos, vou usar isso pra te conquistar.

            Natalia apertou os olhos, observando Eduarda sorver um gole de vinho.

- Não sei se consigo acreditar em você. – Natalia respondeu.

- Por quê? Não acredita que quero te conquistar?

- Não é sobre isso. Não acredito que você saiba cozinhar tão bem.

            Eduarda franziu a testa e se aproximou de Natalia.

- Quando você provar o jantar que preparei, será tarde demais para fugir de mim, você vai ficar caidinha por mim.

            Natalia sorriu e respondeu:

- Então ainda tenho alguns minutos antes de ser laçada por sua conquista?

- Fuja enquanto pode...

            Eduarda roçou os lábios no canto da boca de Natalia atiçando a promotora.

- Está com fome? – Eduarda sussurrou.

- Ahan... Morrendo de fome.

            Natalia insinuou duplo sentido na resposta, mordendo os lábios olhando para a boca de Eduarda.

- Vou pedir para servir o jantar então.

            Para a insatisfação de Natalia, Eduarda se afastou bruscamente com um sorriso malicioso uma vez que viu na reação da promotora seu desejo. Minutos depois, a loira surgiu na sala:

- Vamos? O jantar está na mesa, se incomoda de jantarmos ali no deck?

- Claro que não, nem está tão frio hoje.

            A vista da noite paulistana trouxe um ar ainda mais romântico a mesa posta com toda delicadeza por Eduarda.

- Você tem alergia a alguma comida? Camarão por exemplo?

- Não.

- Ótimo, preparei para a entrada uma saladinha de camarão ao vinagrete. E salmão defumado com risoto de pera, o que acha?

            Natalia olhou impressionada para o visual do prato.

- Uau! Estou mesmo perdida não é?

- Eu te avisei...

            Eduarda provou que não mentira sobre seus dotes culinários, impressionando Natalia.

- Foi mesmo você que preparou o jantar?

- Claro que sim. Na próxima vez, chamo você para me assistir preparar.

            Natalia abriu um sorriso largo.

- O que foi? O convite te pareceu tão bom assim?

- O que me pareceu muito bom foi o começo da sentença: “na próxima vez”.

            Eduarda sorriu quase que timidamente para a satisfação de Natalia que a olhou visivelmente encantada.

- Não me olhe assim Natalia, por que aí eu estarei perdida também...

            Eduarda se aproximou de Natalia e delicadamente com o fino guardanapo, limpou o canto da boca da promotora, sujo com o chocolate da sobremesa.

- Parece que meu rosto sujo está atraindo suas mãos hoje não é? – Natalia brincou.

- Não é só seu rosto que atrai minhas mãos Natalia.

            Sem mais demoras, Eduarda demonstrou o teor da veracidade de sua afirmação envolvendo Natalia pela cintura com suas duas mãos, sufocando lhe com um beijo urgente, anunciando o que a noite ainda reservava: a nascente paixão óbvia na entrega de seus corpos ansiosos por se darem inteiros mais uma vez. 



2.6 fervet opus

Ferve o trabalho. 

            Os planos de Natalia de minar a imagem do candidato ao governo do estado de Mato Grosso do Sul, Acrisio Toledo, parecia alcançar seus primeiros objetivos. Carla conseguiu contatos importantes na imprensa, e depois de pequenas notas em blogs especializados, obteve a atenção do público que precisava para atingir meios de comunicação mais populares.

            A resposta de Acrisio foi imediata, ou pelo menos da sua equipe de marketing, que se precipitou em preparar a defesa do candidato, mas, a oposição tratou de continuar a campanha que secretamente Natalia e Carla começaram.

            A partir desse fato, as redes sociais, a TV e a imprensa escrita bombardearam o candidato divulgando os crimes dos quais ele era suspeito, a repercussão não poderia ter sido melhor para os planos da jovem promotora, que foi informada acerca dos mandatos de busca e apreensão autorizados pela justiça de maneira inédita contra Acrisio Toledo.

            Paralelamente a essa questão a qual Natalia tinha motivação pessoal para se dedicar, a promotora emendara uma maratona de audiências nas quais seu brilhantismo já era alvo de comentários nos corredores dos tribunais.

            Natalia experimentava além dos bons frutos do seu trabalho, a certeza de sentir seu coração se abrir outra vez para uma nova paixão. Seu relacionamento com Eduarda gradualmente se concretizava como algo perene, leve, natural, propiciando a Natalia uma nova expectativa quanto aos seus sentimentos revendo sua capacidade de se apaixonar mais uma vez.

            Eduarda em muitos aspectos lembrava Diana. Talvez, esse fosse o único fator que se revelava barreira à entrega de Natalia naquela relação. No entanto, a jovem promotora se deixava levar pelo charme e encanto da empresária, que não cansava de surpreendê-la com demonstrações de afeto inesperadas.

            Obviamente o novo relacionamento de Natalia em nada agradou Silvana, que repetidas vezes implicou com Eduarda promovendo mal estar entre a turma de amigos que passou a frequentar assiduamente a Lances.

             Em uma das noites na qual Eduarda marcara para encontrar-se com Natalia em sua boate, a promotora foi mais uma vez surpreendida pela loira, que justamente naquele dia resolvera estrear como DJ, dedicando no SMS enviado à Natalia sua atuação:

- “Porque há dois meses você inspira o melhor de mim, essa música é para você”.



            Jai Ho (You Are My Destiny) – Aleluia (Você é meu destino)


Jai Ho! Jai Ho!

I got (I got) shivers (shivers),
When you touch that way,
I'll make you hot,
Get what you got,
I'll make you wanna say (Jai Ho, Jai Ho)

Aleluia Aleluia!

Fico (fico) arrepiada (arrepiada)
quando você me toca assim,
Vou te esquentar,
e ver o que você sabe
Vou te fazer dizer (Aleluia, Aleluia)

I got (I got) fever (fever),
Running like a fire,
For you I will go all the way,
I wanna take you higher (Jai Ho)

Estou (estou) fervendo (fervendo)
Fervendo como fogo
Por você vou até o final
Vou te levar às alturas (Aleluia!)

I keep it steady, uh, steady,
That's how I do it. (Jai Ho)
This beat is heavy, so heavy,
You gonna feel it. (Jai Ho)

Vou manter desse jeito
É assim que se faz ( Aleluia )
A batida é muito, muito forte
Você vai sentir (Aleluia)

You are the reason that I breathe, (Jai Ho)
You are the reason that I still believe, (Jai Ho)
You are my destiny,
Jai Oh! Oh-oh-oh-oh! (Jai Ho)

Você é o motivo pelo qual eu respiro (Aleluia)
Você é o motivo pelo qual eu ainda acredito (Aleluia)
Você é Meu Destino
Ale Oh! ohohohoho (Aleluia)

No there is nothing that can stop us, (Jai Ho)
Nothing can ever come between us, (Jai Ho)
So come and dance with me,
Jai Ho! (oohh)

Não, nada pode nos parar (Aleluia)
Nada vai nos atrapalhar (Aleluia)
Então venha e dance comigo
Aleluia ( oohh)

Catch me, catch me, catch me, c'mon, catch me,
I want you now,
I know you can save me, you can save me,
I need you now.

Me pegue, me pegue, me pegue, venha e me pegue
Quero você agora
Sei que você pode me salvar, você pode me salvar
Preciso de você agora

I am yours forever, yes, forever,
I will follow,
Anywhere in anyway,
Never gonna let go.

Jai Ho! Jai Ho!


Sou sua para todo o sempre
Vou com você pra qualquer lugar,
de qualquer maneira
Nunca vou te deixar
Aleluia!Aleluia!

Escape (escape) away (away),
I'll take you to a place,
This fantasy of you and me,
I'll never lose my chance. (Jai Ho)

Yeaahhhh (Jai Ho)

Vamos (vamos) fugir (fugir)
Vou te levar para um lugar
É uma fantasia de nós dois
Nunca perderei esta chance (Aleluia)

Yeahhh (Aleluia)

I can (I can) feel you (feel you),
Rushing through my veins,
There's an ocean in my heart,
I will never be the same. (Jai Ho)

Posso (posso) te sentir (te sentir)
correndo pelas minhas veias
Meu coração é um oceano
Nunca mais serei a mesma (Aleluia)


Just keep it burnin', yeah baby,
Just keep it comin', (Jai Ho)
You're gonna find out baby,
I'm one in a million. (Jai Ho)

Deixe tudo esquentar, é, baby
Deixe rolar (Aleluia)
Você vai descobrir, baby
que sou uma em um milhão. (Aleluia)

(The Pussycat dolls and AR Rahman)

            Natalia ficou perplexa na mesa cativa da área VIP reservada para elas. Viu-se dividida pelo encantamento que Eduarda lhe despertava por esses gestos e a semelhança com Diana que insistia em se configurar como um fantasma que cercava seu presente lhe fazendo reconhecer que aquele sentimento pela ex-namorada ainda pulsava em seu interior.

            Como que transportada para um universo paralelo, Natalia viu o rosto de Diana na face de Eduarda comandando aquela pick-up, assim como ela se lembrava da loirinha na primeira vez que a viu na festa do trote na Alibi.

- Natalia? Natalia?

            Fernando tentava chamar a atenção da amiga completamente ausente naquele momento.

- Natalia? Você está me ouvindo?

            O rapaz chacoalhou Natalia conseguindo sua atenção.

- Oi, desculpa Nando. O que você disse?

- Nada... E aí? Nossa nova DJ foi aprovada?

- Claro que sim. Ela é boa não é?

- Mesmo que não fosse não é? Além de ser sua namorada, é a chefe, a dona do lugar!

            Nando brincou, mas Natalia não viu graça na piada.

- Ela não está usando isso para tocar, deixa de ser injusto. Ela deixou esse espaço nesse horário justamente 
para DJs amadores.

- Eu sei, nossa eu só estava brincando Nat, calma...

            Natalia abriu um largo sorriso ao notar Eduarda se aproximando.

- Acho que te devo uma dança não é?

            Natalia disse envolvendo o pescoço de Eduarda.

- Isso e outras coisas mais se você gostou da música...

- Adorei a música Duda...

            Natalia beijou o rosto de Eduarda demoradamente.

- Pelo menos a dança eu posso ter agora?

            Natalia acenou em acordo e Eduarda conduziu-a pela mão até a pista de dança. Em clima de puro romance as duas dançaram, trocando carícias discretas e sorrisos, entretanto, a lembrança viva que Natalia trazia consigo da ex-namorada pareceu se personificar em cada olhar e sorriso que Eduarda lhe dava, perturbando-a.

- Nat está tudo bem?

- Estou com sede.

            Natalia disfarçou, mas as imagens com o rosto de Diana em sua cabeça não paravam de se multiplicar, trazendo à tona o que ela lutava para esquecer.

- Duda, você se incomoda se formos embora?

- Claro que não minha querida, mas, você está sentindo alguma coisa?

- Estou cansada, é só.

- Vamos então lá pra casa, vou cuidar de você.

            Com Eduarda, Natalia experimentava a agradável sensação de ser cuidada, há anos não se permitia isso, desde que enfrentou a traumática situação com Sandro, se obrigou a não depender de mais ninguém para se proteger tal atitude lhe dava um frágil sentimento de onipotência interior, mas, exteriormente manteve sua imagem de autossuficiente. Naquela noite, o carinho da empresária foi crucial para a paz de Natalia que adormeceu nos braços da loira, entretanto, seu inconsciente a traiu.

            A promotora viu sua ex-namorada diante dela, linda como ela se lembrava anunciando:

- “Estou voltando para você meu amor”.

            Natalia estupefata com a visão observou Diana se afastar e gritou:

- Diana, Diana... Diana!

            Foi nesse exato momento que ela despertou daquele sonho. Atordoada demorou alguns segundos para se dar conta de onde estava, encontrando Eduarda ao seu lado, lhe encarando séria.

- Acho que tive um pesadelo.

            Eduarda se levantou da cama muda. O silêncio da empresária incomodou Natalia.

- Duda?

- Quem é Diana?

            Natalia empalideceu. Os olhos de Eduarda pela primeira vez não transpareciam o encanto que esta manifestava quando lhe olhava.

- Porque você está me perguntando isso?

- Eu te fiz uma pergunta Natalia. Você pode me responder ao invés de me fazer outra pergunta?

- Mas... Duda, eu não entendo essa pergunta...

- Chega Natalia! Você chamou esse nome na primeira vez que ficamos. Já chamou esse nome outras vezes dormindo, eu aguentei calada por que não achava que tivesse o direito de te cobrar nada, mas puxa vida! Estamos namorando, e você chamou de novo esse nome enquanto estava abraçada comigo! Quero saber agora! Quem é Diana?

**************

            Os planos de Diana de se afastar dos amigos, especialmente de Daniela e Rosana, teve a justificativa perfeita. Durante o resto verão, a loira se ocupou com o seu trabalho, esquecendo-se de vida social, mergulhou em seu projeto mais ambicioso, terminando as fotografias na metade do tempo programado.

            No entanto, o acaso lhe sugou para a realidade mais uma vez. Os seus anseios confusos desde que sua relação com Rosana tomou outra conotação estavam devidamente contidos até o momento em que ouviu a voz de Rosana, quando passava em frente ao Light Rock. Não resistiu, entrou no clube que não estava aberto ao público. Rosana ensaiava com sua banda, e ao ver Diana, parada no fundo do salão, sua voz sumiu.

- Rosana? Parou por quê?

            O guitarrista indagou surpreso com a parada repentina da cantora.

- Quero repassar esse trecho... Mas, vamos fazer uma pausa.

            A cantora desceu do palco e se apressou para alcançar Diana que se retirou dali quando percebeu que não estava incógnita.

- Diana! Espera.

            Na saída do clube Rosana alcançou Diana.

- Você ia embora sem falar comigo?

- Só estava de passagem por aqui. Não queria atrapalhar seu ensaio.

- Não está fugindo de mim?

- Rosana...

- Já faz tanto tempo que não nos falamos... Todos estão reclamando sua ausência...

- Todos? Está falando da Daniela?

- Dela e dos seus outros amigos.

- Parece que você mudou de opinião sobre levar á frente sua relação com ela não é?

- Impressão minha ou você está me censurando?

- Não mesmo, quem sou eu para censurar alguém?

- Só para sua informação, não mudei de opinião. Eu e a Dani somos apenas amigas, ela está até saindo com outra pessoa.

            Diana não mudou a expressão, fingindo indiferença.

- Bom, eu preciso ir, tenho muito trabalho.

- Diana espera!

- Estou apressada Rosana. Volte para seu ensaio, não que você precise, por que está incrível, parabéns...

            Diana continuou seus passos rápidos ignorando o chamado de Rosana. A fotógrafa voltou para seu apartamento perturbada com aquele encontro. As folhas secas espalhadas pelas calçadas, anunciando o início do outono na cidade, não empolgavam o instinto e talento da loirinha que adorava registrar esses momentos nessa época do ano.

            A noite caiu, e todo esforço de Diana para desviar os pensamentos de Rosana começou a render boas horas de trabalho. Mal percebeu a madrugada chegar entretida no seu estúdio, até ouvir a campainha tocar.

            Deduziu que fosse algum dos seus amigos, para uma visita àquela hora só podia se tratar do Marco bêbado ou a Liza com dor de cotovelo. Quando abriu a porta seu coração saltou à boca, com Rosana parada, deslumbrante em um microvestido.

- Aqui você não tem como fugir de mim.

            Rosana não deu tempo para Diana sequer formular uma argumentação. A cantora tomou a boca da loirinha em um beijo faminto, no que foi correspondida com a mesma volúpia.





2.7 Desideratum

O que se deseja

            O desejo prevaleceu contra qualquer defesa que Diana pudesse erguer contra à sua entrega. Com seu corpo ardendo pela ânsia de estar inteira se dando a Rosana mais uma vez, a loirinha não demorou em investir no passeio de suas mãos pelas pernas da cantora expostas naquele microvestido. O toque de Diana elevou a excitação de Rosana para um nível avassalador, assim, a cantora empurrou a loirinha contra o balcão da cozinha, erguendo o corpo franzino de Diana sobre o móvel em seguida jogou seu próprio corpo sobre o corpo da fotógrafa deslizando sua língua pelos seios túrgidos de Diana que Rosana se precipitou em deixa-los à mostra e ao alcance de sua boca.

            As mãos habilidosas de Diana rapidamente se desfizeram da calcinha de Rosana por baixo do vestido, e toda aquela excitação era evidente também pela umidade que brotava do seu sexo. Os movimentos voluptuosos alternados com beijos, arranhões, carícias e mordidas atiçaram ainda mais as duas que deixaram escapar gemidos ofegantes até a súplica de Rosana:

- Te quero tanto Diana, me faz gozar vai...

            Como se aquela súplica fosse uma ordem Diana provocou, massageando o clitóris de Rosana até senti-lo edemaciado entre as pontas dos seus dedos. Friccionou aquele lugar inchado e encharcado, se deliciando com a expressão de prazer no rosto de Rosana que despiu Diana totalmente depois de ter seu vestido arrancado pela loirinha.

- Roça em mim Rosana... Vem...

            Rosana atendeu ao pedido de Diana, e roçou seu sexo encharcado no sexo da fotógrafa. O contato entre as duas foi ganhando ritmo e intensidade, e culminou com o ápice simultâneo, derramado por entre as coxas das duas.

            Ainda sentindo espasmos pelo corpo, Rosana se aconchegou nos seios de Diana ofegante.

- Está tudo bem Rosana?

- Está tudo ótimo, maravilhoso.

            Diana sorriu, acariciando os cabelos de Rosana.

- Eu sei que a pergunta está fora da ordem dos fatos, mas, o que você veio fazer aqui a essa hora?

- Orgasmo delivery, você não pediu?

            Diana gargalhou.

- Manhatan reserva mesmo serviços imprescindíveis não é? – Rosana disse encarando Diana

- Com uma qualidade indiscutível também.

            Selaram com um beijo o que estava subentendido, antes de Diana insistir:

- Você que é a profissional em decifrar sentimentos emoções da alma humana, especialista da “psique” pode me explicar o que está acontecendo conosco?

            Diana perguntou afagando o rosto de Rosana.

- Nossa! Acha mesmo que psicologia é tudo isso? Pensei que você só me julgasse uma intrometida por profissão.

- Isso também! Bem lembrado.

- Você vai aguentar essa intrometida na sua vida?

- Depende das vantagens que terei... Esse delivery, por exemplo, terei direito?

- Esse recurso é ilimitado.

            Rosana respondeu com um sorriso malicioso.

- Então, acho que dá pra te aturar sim.

- Aturar é? Esperava mais de você!

            Diana ficou séria e continuou acariciando o rosto de Rosana e disse:

- Você é tão importante pra mim, tão especial... Tenho medo de te magoar, estragar tudo entre nós. Mas, o que estou sentindo é tão forte, tão inesperado... Não consigo administrar isso.

- Diana, eu não uma menina frágil inocente. Todos nós corremos riscos quando nos envolvemos com alguém. Nós somos adultas o suficiente pra administrar isso não acha?

- Não sei Rosana. Nunca fui muito boa em administrar relacionamentos, sentimentos.

- Você não namorou ninguém depois da Natalia não é?

            Com um gesto Diana confirmou.

- Não acha que está na hora de se abrir para outra pessoa Diana?

            Diana desviou o olhar a fim de fugir da indagação incômoda de Rosana.

- Ei... Olha pra mim. – Rosana segurou o rosto de Diana. – Eu sei que essa ferida ainda está aí aberta em seu peito. Eu não posso te dar garantias que posso curá-la, mas eu quero muito ficar ao seu lado tentando sanar essa dor com todo sentimento que tenho por você. Respeito você e a história que você teve com a Natalia, mas, você já fugiu demais desses fantasmas, é hora de encarar o presente, e eu estou nele.

- Isso é uma proposta doutora? Melhor dizendo, Dona Flor?

            Rosana sorriu e respondeu:

- Depende da resposta...

- Se você me garantir que será só um marido, eu topo Dona Flor!


            Diana se rendeu ao charme de Rosana, e ao desejo mútuo de investirem naquele novo relacionamento que contava com elementos que somente meses de namoro dariam: amizade, cumplicidade e companheirismo.

************

            Natalia engoliu seco. Precisou usar de seu talento de argumentação para escolher as melhores palavras para não despertar uma crise no seu namoro.

- Duda, sente aqui perto de mim, vem cá meu bem.

            Eduarda hesitou, mas atendeu ao pedido da namorada. Natalia segurou as mãos da empresária e começou a explicar:

- Primeiro, eu não sabia que tinha pronunciado esse nome, nem agora nem outras vezes. Diana foi minha primeira namorada, nos conhecemos na faculdade logo que cheguei do interior, foi muito intenso e muito complicado também.

            Procurando a melhor forma de falar da sua ex-namorada, Natalia narrou os fatos que a aproximou e a afastou de Diana.

- Uma novela praticamente, ou seria um romance?

            Eduarda disse com os olhos baixos desvencilhando suas mãos das mãos da namorada.

- Duda tudo isso faz parte do meu passado. Há anos não tenho nenhuma noticia dela, nenhum contato.

- Mas ela ainda está na sua vida, acompanhando seus pensamentos, seus desejos, seus sonhos.

            A empresária disse ressentida.

- Duda não faz assim. Eu não falei o nome dela intencionalmente, talvez as circunstâncias tenham feito eu me lembrar dela, mas isso é tudo.

- Circunstâncias?

            Natalia ponderou o que revelaria a Eduarda, considerando que toda a verdade sobre sua perseguição contra Acrisio, e as semelhanças dela com Diana complicaria ainda mais aquela situação desconfortável.

- É minha querida. Eu me envolvendo de novo com alguém especial que está fazendo eu me apaixonar a cada dia que passa.

            A declaração de Natalia pareceu desarmar Eduarda.

- Natalia não brinca comigo. Eu demorei muito a me envolver com alguém de novo, eu fui enganada, traída, tudo que não preciso é estar com alguém que ainda cultiva um amor antigo. Eu gosto muito de você, mas te quero inteira nessa relação, se você não puder estar a altura do que quero em um namoro, é melhor que não protelemos esse relacionamento para evitar mágoas maiores.

            Natalia não fugiu do olhar intimidador de Eduarda, segurou o rosto da namorada com as duas mãos e disse:

- Não brincaria com você Duda. A cada dia que passa eu estou mais envolvida, é impossível não se apaixonar por você, e quero muito estar inteira nesse namoro por que não me importa mais o passado, meu presente é você.

            O beijo sincero de Natalia abrandou a insegurança de Eduarda, além de enchê-la de esperanças acerca do seu futuro com a promotora.

*********

            Surpreendentemente para Diana seu relacionamento com Rosana evoluiu naturalmente para um namoro maduro e muito divertido. Na intimidade que as duas começaram a desfrutar as manias de cada uma se transformaram em mais um ponto de afinidade e humor convergindo para uma rotina nada cansativa, aproximando-as de uma maneira incontestável.

            O acaso contribuiu para que Daniela não tomasse conhecimento do novo teor da relação das duas amigas, a colunista viajara para a Europa a trabalho adiando assim tal esclarecimento por parte de Diana e Rosana.

            Diana acompanhava praticamente todas as apresentações de Rosana, rendendo-se eufórica ao talento e ao crescimento da carreira da namorada. Como admiradora que era do seu talento, a fotógrafa repaginou o blog de Miss Flower com fotos que beiravam uma obra de arte com uma visão peculiar dos shows da cantora. Graças à opinião da namorada, Rosana investiu nas redes sociais para divulgar suas apresentações e em poucas semanas seus vídeos estavam no ranking dos mais acessados, o que além de aumentar seu público no Light Rock, fez brotar dezenas de convites para outras cidades dos Estados Unidos.

-- Conferindo seu sucesso virtual honey?

            Diana perguntou envolvendo a cintura de Rosana, repousando seu queixo no ombro da namorada que se concentrava no notebook sobre o balcão da cozinha.

- Tenho fãs e seguidoras que não querem só me admirar virtualmente, se liga em dona Diana!

- Como é que é? – Diana franziu o cenho aproximando sua visão da máquina.

- Olha só o que @madalaineblair deixou aqui na minha página: “ouvir você cantando me deixa arrepiada imagine se ouvir você sussurrando no meu ouvido”

- Ah eu vou é deixa-la sem ouvido, vamos ver o que vai arrepiar nela!

            Rosana gargalhou.

- Não acredito que você está com ciúmes de mim minha loira!

- Só estou cuidando da sua carreira, o que essa sapa, ou melhor, essa bruxa de Blair ou Madalena lésbica está querendo heim? Você é uma cantora séria!

- Ai que coisa mais fofa! Vou te apertar sabia? Vem cá minha namorada ciumenta!

            Rosana envolveu seus braços no pescoço de Diana e lhe roubou um beijo delicado e demorado.

- Você me beija assim, só de toalha... Está mal intencionada minha estrela?

            Diana perguntou roçando seu nariz pelo pescoço de Rosana.

- Não mesmo! Tenho ensaio, preciso ir agora!

            Rosana se desvencilhou de Diana que indignada retrucou:

- Vai vestida assim?

- Claro que não! Vou tirar a tolha.

- Han?

- Não te disse? Estamos ensaiando um número nu, hoje é a estreia!

- Engraçadinha...

- Não acha que eu faria sucesso minha querida?

            Rosana provocou. Em um movimento rápido Diana puxou a tolha que envolvia a namorada e abraçou com vigor.

- Esse sucesso eu já reservei só para mim, eu curti, mas não quero compartilhar.

            Diana disse empurrando Rosana nua, contra a parede.

- Minha querida, eu estou atrasada, não faz isso comigo...


            Rosana já sentia suas pernas bambas, sendo tomada pela excitação despertada pelo corpo da namorada junto ao seu. Captando o desejo ardente da cantora, Diana prosseguiu com suas carícias e beijos até a campainha do seu celular interrompê-la, exatamente a campainha selecionada para a chamada do número de sua mãe e só por causa disso, a loirinha cessou aquele momento para atender ao telefone:

-- Mãe?

-- Oi meu docinho, está tudo bem?

-- Está sim, mas, não estou gostando dessa voz da senhora. Está tudo bem?

-- Estou um pouco cansada, acho que estou ficando resfriada também. Está tudo bem com a Rosana?

-- Sim mãezinha, ela está aqui comigo.

-- Só liguei mesmo para ouvir sua voz minha filha, bateu saudades.

-- Dona Alice! A senhora não está me escondendo nada não é?

-- Claro que não minha filha, vou desligar. Beijo, e eu te amo muito.

-- Também te amo mãezinha.

            Apreensiva Diana desligou o telefone.

-- O que houve baby? – Rosana perguntou se enrolando na toalha novamente.

-- Nada... Mas, tive uma sensação ruim falando com a minha mãe.

-- Que sensação?

-- Que ela não está bem, ela está me escondendo algo.

-- Por que você acha isso meu bem?

-- Não sei, eu conheço o tom de voz de minha mãe, ela disse que está cansada, resfriada, que ligou por que sentiu saudades, mas sei que há algo mais.

-- Você tem motivos para se preocupar?

-- Honey, minha mãe é casada com um dos maiores crápulas da face da terra, tenho motivo para me preocupar sempre com ela.

-- Mas você me disse que ele nunca a maltratou...

-- Rosana ele a trata como um bibelô de porcelana, mas minha mãe não é cega e surda, ela conhece o marido que tem, e muitas vezes finge não ver as coisas para não bater de frente com ele, prefere se submeter. As únicas vezes que ela o enfrentou foi por minha causa.

-- Entendo... Vai ver ela só sentiu saudades mesmo minha querida. Há quanto tempo vocês não se veem?

-- Ela passou quase dois meses comigo aqui no começo do ano. Acho que virá após as eleições no Brasil, minha mãe adora o outono aqui.

-- E você não vai ao Brasil?

-- Não tenho nada além da minha mãe para ver no Brasil Rosana.

-- E o resto de sua família? E seus amigos?

-- E ficar sob a vigilância do meu pai? Ele controlando para que eu me comporte como uma boa moça recatada e heterossexual? Não, dispenso essa visita ao Brasil. Longe do meu pai posso ser eu mesma.

-- Não combina com você se submeter assim a ditadura do seu pai que te mandou pra esse exílio.

-- Faço isso por minha mãe Rosana. Ela tem problemas cardíacos, não quero coloca-la na linha fogo entre eu e meu pai.

            A explicação de Diana convenceu Rosana, todavia, a loirinha permaneceu apreensiva, angustiada com o telefonema da mãe. Tentou acreditar nas suas próprias hipóteses, certamente Alice falara a verdade sobre seu cansaço, considerando a proximidade das eleições e os resultados das pesquisas de intenção de voto, que revelavam mais uma derrota de Acrisio.

            No entanto, aquela incômoda sensação a perseguira nas semanas seguintes, por diversas vezes Diana acordou assustada depois de pesadelos acerca da saúde de sua mãe, sendo acalmada por Rosana, que cientificamente tentava explicar a namorada a razão daqueles sonhos ruins.

            A sequência de tentativas frustradas de voltar a falar por telefone com a mãe deixou a loirinha nervosa e nem mesmo a namorada conseguiu diminuir sua preocupação e a própria Rosana trouxe para aquele contexto um dado novo que só aumentou a angústia de Diana.

-- Meu bem, sua mãe comentou com você sobre as investigações que estão fazendo do seu pai em São Paulo?

-- Não minha querida, minha mãe evita falar dessas coisas comigo.

-- Nossa, se essas denúncias forem verdadeiras, seu pai tem mesmo que perder essa eleição!

-- Seja lá do que ele estiver sendo acusado, ele se safa. A falta de escrúpulos dele e da corja de corruptos que ele tem na mão na polícia, política e no judiciário em todos os escalões darão um jeito de livrá-lo de novo, infelizmente.

-- Di, eu acho que agora as coisas são diferentes, e são acusações muito sérias.

-- Bom, se essas investigações forem a causa do meu pai perder as eleições, já é uma grande vitória.

-- Você acha que seu pai seria capaz de tudo isso: trabalho escravo em suas terras, cárcere privado, formação de quadrilha, assassinato?!

-- Honey... Não me faça responder essa pergunta...

            Diana fechou o notebook da namorada e beijou sua bochecha na tentativa de encerrar aquele assunto, mas interiormente a loirinha se assustou com o teor daquela notícia e a repercussão na saúde de dona Alice.

-- Di, será que essas investigações são o motivo da sua mãe estar tão abatida?

-- Certamente meu bem. Esses negócios escusos de meu pai sempre fizeram minha mãe sofrer muito, especialmente por que ele envolve meus irmãos nessa sujeira.

            A preocupação de Diana e seus pressentimentos tiveram sua confirmação quando a loirinha recebeu um telefonema de sua tia Alda.

-- Diana?

-- Tia Alda?! O que houve com minha mãe?

            O telefonema da irmã de dona Alice só poderia ter uma motivação muito séria e Diana sentiu seu peito apertar diante do tom angustiado da tia.

-- Minha querida eu não liguei antes porque só agora consegui seu número.

-- Tia o que aconteceu?

-- Sua mãe não está bem minha querida, venha para o Brasil o mais rápido que você puder.

            A voz de Alda expressava a gravidade da situação da irmã. Diana não prolongou a conversa. Imediatamente após desligar o telefone jogou uma muda de roupas na mala e pegou o passaporte com as mãos trêmulas e o rosto já banhado em lágrimas, quando Rosana entrou quarto.

-- Di o que houve?

-- Tenho que pegar o primeiro voo para o Brasil, minha mãe está doente.

-- Eu vou com você.

-- Não Rosana, você tem seus compromissos profissionais aqui, não é preciso.

-- Eu não vou te deixar sozinha nessa! Estamos juntas pra tudo, já disse, vou com você.

            Diana encarou o sentimento honesto de companheirismo de Rosana e se rendeu, revelando sua vulnerabilidade naquele momento e se deixou abraçar pela namorada que a acalentou.

-- Não vou sair do seu lado minha querida. Tentei se acalmar, vou ligar para o aeroporto e saber os horários dos voos, e farei nossas malas rapidinho, depois aviso aos meninos da banda, eles vão dá um jeito de arranjar uma substituta por uns dias.





2.8 Aequo pulsat pede
Bate com pé igual. Expressão de Horácio, referindo-se à morte, que esmaga tanto os habitantes dos palácios como os das choupanas. 

            Rosana e Diana desembarcaram no Brasil no dia seguinte ao telefonema de Alda, só conseguindo chegar a Campo Grande no fim do dia, exatamente quando era divulgado o resultado oficial da eleição para o governo do estado, atestando a derrota de Acrisio Toledo mais uma vez.

            Em Campo Grande Diana não protelou sua ida ao hospital. Acompanhada de Rosana, a fotógrafa subiu até a unidade de terapia intensiva do hospital onde sua mãe estava internada e lá enfrentou o pior pesadelo de sua vida.


            As cenas que se seguiram se desenharam diante dos olhos de Diana em câmera lenta, sem som, preditas pela expressão de desespero no rosto do irmão, de seus primos e de sua tia Alda, que olhando a sobrinha com um gesto apenas balançou a cabeça negativamente anunciando o que Diana não poderia supor.

            Incrédula, Diana invadiu o quarto privativo da UTI, onde a equipe de enfermagem retirava os conectores e sensores espalhados pelo corpo de dona Alice que já descansava sem vida.

            O silêncio de dor que cercava aquela atmosfera foi quebrado por um grito não menos desesperado de Diana, configurado em súplica:

-- Não! Mãe não faz isso comigo! Não me deixa sozinha! Mãe fique comigo! Não me deixa mãezinha!

            Diana abraçou-se ao corpo da mãe. Inconsolável permaneceu ali por minutos, Rosana não permitiu que ninguém a retirasse de lá, manteve-se ali perto, mas não interrompeu o momento da namorada que acariciava o rosto da mãe nutrindo no seu coração uma dor indescritível.

            Alda se aproximou da sobrinha e disse:

-- Vamos minha querida, eles precisam leva-la agora.

            Rosana envolveu o braço nos ombros da namorada, oferecendo seu apoio, Diana se abrigou naquele abraço sem reservas e seguiu com Rosana a tia até uma antessala naquele mesmo andar.

-- Há quantos dias ela estava aqui tia?


-- Cerca de uma semana, ela sofreu outro ataque cardíaco, e não havia muito a ser feito, o coração de sua mãe já estava muito frágil Diana.

-- Uma semana? Isso foi quando falei com ela! Por que ninguém me avisou?

            Alda desconversou, nitidamente escondendo algo.

-- Tia Alda, a senhora é pior mentirosa que conheço. Vamos, me diga, por que não me avisaram antes?

            Diana aumentou o tom de voz, intimidando a sua tia.

-- Minha querida não é hora para pensar nisso. Não havia nada que você pudesse fazer por ela. Além do mais, ela estava inconsciente...

-- Tia Alda! Eu deveria estar aqui! Ao lado dela! Não importa por quanto tempo, não importa o que eu pudesse fazer, não importa se ela estava consciente ou não! Eu tinha que estar aqui, tinha o direito de me despedir dela!

-- Mas seu pai não achava isso!

            Alda desabafou indignada. Diana franziu o cenho com os olhos marejados indagou:

-- O que ele tem com isso?

-- Seu pai não deixou que lhe avisasse. Eu não tinha seu número, nem seus primos, seus irmãos não ousariam desobedecer a seu pai. Eu ainda tentei procurar no celular de sua mãe, mas Acrisio o confiscou.

-- Mas por que ele fez isso?

            Foi a vez de Rosana perguntar.

-- Ele disse que já tinha problemas demais, que você chegando aqui ao Brasil tão perto das eleições poderia anular o resto das chances que ele tinha de chegar ao segundo turno...

-- Ele não tinha esse direito! – Diana bradou revoltada.

-- Você conhece seu pai, ele controla tudo minha querida. Quando sua mãe piorou ontem, o Danilo me deu seu número escondido para que eu te ligasse infelizmente sua mãe não resistiu.

-- Mas que tipo de homem é esse? - Rosana pensou alto.

-- É seu sogro minha querida. – Diana respondeu sarcástica.

-- Sua mãe vinha muito doente já, essa campanha do seu pai foi muito desgastante. Essas acusações que surgiram e agora envolveram seu irmão também, isso a abalou muito.

-- Ou seja: ele é o culpado de tudo!

            Diana saiu abruptamente da antessala e encontrou chegando pelo corredor, seu pai.

            Acrisio com o rosto coberto por lágrimas abriu os braços para a filha, mas esta, não deu um passo em direção ao pai. Seus olhos cintilavam um ódio que nascera naquele dia com uma violência que assustava a própria Diana. Diante dela sua figura paterna tomou a forma de uma vida de decepções e mágoas que ela acumulara por Acrisio e por fim, estava ali também segundo seu julgamento, o culpado da morte de sua mãe.

            A intenção do homem que sofria a dor da perda do amor de sua vida era tão somente acolher a filha que exalava dor semelhante a sua, entretanto, Diana não conseguia enxergar o mínimo de sentimento sincero em Acrisio, enxergava tão somente a condenação que ele ditara: culpado pelas dores de sua vida.

            A tentativa de Acrisio em abraçar sua filha foi vigorosamente repudiada pela própria que o empurrou com todo ódio que crescera a cada segundo.

-- Diana?! Minha filha...

-- Eu não sou mais sua filha!

-- Como você pode falar isso em um momento desses?

-- Momento que só existe por sua culpa!

            Acrisio arregalou os olhos, visivelmente atônito com a acusação da filha.

-- Você não tinha esse direito de impedir que eu me despedisse de minha mãe!

-- Eu não podia imaginar minha filha...

-- Não sou mais sua filha! Hoje fiquei órfã de mãe, de pai acho que sempre fui.

-- Não fale bobagens minha filha, precisamos ficar juntos nesse momento...

-- Agora você me quer junto? Quando minha mãe ainda estava viva aqui você não permitiu que eu estivesse com ela! Que tipo de monstro é você?

-- Eu entendo o que você está sentindo e não vou considerar suas palavras...

-- Pois devia considerar! Por que não vou sossegar enquanto não te fizer pagar pelo que você fez a minha mãe! Você a matou com essa sujeira que é sua vida de crimes e politica.

            Danilo interveio puxando a irmã para longe do pai.

-- Solte-me você também! Covarde! Poderia ter me ligado me avisado! Mas está sempre sendo o capacho dele!

            Diana destilava sua revolta contra aqueles que ela culpava por ter ficado ausente nos últimos dias da sua mãe. Com dificuldade, Rosana e Alda conseguiram afastá-la, e como se não suportasse a dimensão dos sentimentos que a invadiu, a loirinha desfaleceu nos braços da namorada.

************

            Carla abriu a porta do gabinete empolgada naquela manhã, encontrando Natalia com um grande sorriso:

- Então, agora temos um motivo para comemorar chefe?

- Primeiro round vencido parceira! Tiramos a eleição daquele criminoso!

            Natalia abraçou Carla comemorando.

- Foi uma vitória e tanto para nós. Quando vamos comemorar?

- Vamos comemorar no dia que ele for preso Carlinha. Acrisio continua sendo tão perigoso e astuto quanto antes, agora mais, por que vai atribuir com razão sua derrota nas urnas ao trabalho do Ministério Público, ele vai procurar um jeito de atrapalhar as investigações e driblar as próximas denúncias.

- Estou surpresa por ele não mandar investigar a promotora responsável pelas denúncias.

- Você acha que ele não mandou? Claro que sim Cacá! Mas agir contra mim agora o deixaria ainda mais visado, mesmo assim, temos que agir com cautela daqui pra frente.

- É verdade. Ele é muito poderoso, e sabe quem é você e sua família, desde a época do seu namoro com Diana não é? Até fez aquelas ameaças...

- Isso foi o que a Diana disse né Carlinha? Ainda não sei o quanto de verdade tinha nessa história, não sei se foi só um disfarce pra Diana justificar a traição com a psicóloga. Um homem como Acrisio perder o tempo investigando minha família?

- Sério que você acha isso? Depois de todos esses podres que temos encontrado nesses inquéritos, você duvida mesmo que ele fosse capaz de fazer isso? Não acha que ele cumpriria as ameaças?

- Não sei Carlinha.

- Ah chefinha, perdoe-me, mas, a Diana podia ser qualquer coisa, menos mentirosa. Ela conhecia o pai que tem, ela quis te proteger de Acrisio, tenho certeza. Não sei se ela te traiu com a Rosana, mas que ela sofreu chantagem do pai, eu não duvido.

- Se ela tinha que me proteger, devia ter me falado na época.

- Ah isso é... Mas tinhosa como você era, duvido que você se conformasse com farsas depois de tantas que vocês enfrentaram no começo do namoro. Quem sabe ela não quisesse mesmo arriscar sua segurança e se sacrificou.

- Isso não importa mais não é? Diana seguiu a vida dela, e eu a minha. Isso tudo é passado e o que nós temos hoje é muito trabalho!

            Carla assentiu com um gesto e se retirou do gabinete, deixando Natalia pensativa. Em sua mente reconstruiu a separação com Diana e pela primeira vez admitiu que foi injusta com a ex-namorada que se tornara refém dos desmandos do pai para proteger ela e sua família.

            Enquanto divagava nas formulações de hipóteses associando passado e presente, Carla retornou ao gabinete com novas informações para a chefe.

- Acabo de receber a notícia que o delegado da 21ª DP foi transferido, e o novo já assumiu.

- Como assim? Isso aconteceu assim de repente?

- Certamente o dedo podre de Acrisio nessa transferência não é?

- Mas que droga! O homem estava fazendo um ótimo trabalho! Quem assumiu? Sabe algo dele?

- Sei quase nada... Só que é tal de Lucas Almeida!

- Lucas Almeida? O Lucas? Sério?

            As duas gargalharam.

- Isso é bom? – Carla perguntou fazendo careta.

- Não faço a menor ideia. Desde que assumi meu namoro com Diana naquela época, ele não fala comigo. Nem sabia que ele havia se tornado delegado.

- Vamos ter que esperar para saber, mas ele já começou adiando o cumprimento do mandado de busca e apreensão da fazenda Verde Canavial.

- Como é que é? Justamente quando pegaríamos todos de surpresa no dia da derrota do Acrisio nas eleições? Ah não! O Lucas está com peninha do crápula?

- Deve estar sim penalizado Nat.

- Mas isso é um absurdo! Vou ligar agora para a delegacia.


- Espera Nat. A atitude do Lucas não deve ser por causa das eleições. Acrisio Toledo não perdeu só o governo do estado, perdeu também sua mulher. Ela faleceu ontem à noite.

            Natalia sentou-se chocada com a notícia. Seu primeiro pensamento foi Diana, sobre o quanto ela estaria sofrendo naquele momento.

- Está pensando na Diana não é? – Carla perguntou.

- A Diana é completamente alucinada pela mãe dela. Nem posso imaginar como ela está se sentindo agora.

- Ela só chegou ontem ao Brasil.

- Como você sabe?

- Nos sites de notícias de Mato Grosso do Sul, tem uma nota sobre a morte de Alice Toledo.

            Natalia buscou em seu notebook imediatamente a notícia, não encontrou somente vários sites que noticiaram a morte da mulher de Acrisio, como também uma foto do velório da mesma na qual identificou próximo ao caixão, sua ex-namorada: Diana.

            Seu coração acelerou, e se não fosse pelo fato de Carla estar ao seu lado, teria afagado a tela da máquina como se quisesse tocar a loirinha.

- Essa é a Diana? – Carla apontou para a foto.

- Acho que sim.

            Natalia disfarçou sua emoção.

- Nossa, e esses cabelos enormes? Nem parece aquele molequinho skatista da USP. – Carla comentou.

- Ela está com um olhar tão desesperado, deve estar sofrendo horrores... E mesmo assim está tão linda...

            Natalia desabafou deixando escapar seu tom apaixonado.

- Nat... Acho melhor você conter essa emoção toda...

            Percebendo o conteúdo das entrelinhas do conselho da amiga, Natalia desviou o assunto.

- Vamos respeitar a trégua que Lucas deu a Acrisio em respeito a Diana e a dona Alice, que era uma mulher fantástica.

- De acordo.

            Bastou que Carla deixasse a sala para Natalia voltar sua atenção á tela do seu notebook, contemplando a imagem de Diana. Salvou aquela foto e como se pudesse se aproximar dela, foi ampliando o zoom a fim guardar aquela imagem em detalhes. Aquela foto, junto com as notícias recentes e o sonho que a promotora tivera semanas atrás com Diana roubou a paz de Natalia o resto do dia.

- Carla você acha que seria inapropriado eu ir a Campo Grande para o sepultamento de dona Alice? Dar uma força à Diana sei lá, ela não se dá bem com a família...

- Natalia você está me perguntando por que sabe o quão inapropriado isso é. Por todos os motivos éticos que há por conta do seu cargo nesse momento, por seu passado com Diana e pelo seu presente com a Duda.

            Natalia não escondeu a tristeza por reconhecer a razão da amiga.

- Além do mais minha amiga, eu não sei se você notou nessa foto que você passou a tarde decorando... Ou se ficou só enfeitiçada pelo pedaço da foto no qual Diana está. Mas, você viu que nas outras duas fotos do site, tem uma bela mulher ao lado da Diana abraçando-a intimamente?

            Natalia ergueu a sobrancelha surpresa.

- Olha aqui. - Carla apontou para a tela.

- Mas essa... É a Rosana!

- Tem certeza?

- Claro! Ela está mais magra, os cabelos diferentes, mas, é ela!

- Bom, acho que você tem mais um motivo para não ir para Campo Grande não é?

- E tenho também a resposta para minha dúvida sobre Diana ter me traído ou não com a Rosana.

- Mais uma suposição sua. A Rosana pode estar lá como amiga, apoiando Diana.

- Não, esse abraço não é de amiga, definitivamente não é.

- Especulação ou não, o fato é que ela pode estar aí, você não.

            A constatação de Carla despertou a frustação e um sentimento de impotência confuso em Natalia fazendo-a concluir que seu passado não parecia querer deixa-la em paz e que voltava ao seu presente mais uma vez.

81 comentários:

  1. Primeiro comentário?? : O

    Esse "ar" promotora é tao sexy! ahahahahahaha
    ai ai...
    acompanhando...

    COntinuaaa...

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  2. Mel, adorei o começo da segunda parte. Acredito que virá muita estória e emoção pela frente... rs

    Aguardarei ansiosa pelos próxs capítulos.

    Bjs Alê

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  3. Simplesmente adoro deliciar-me com a leitura de seus contos.
    Parabéns Melzinha!!
    E vamo que vamo =*

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  4. Essa segunda fase promete!!!

    Continuaa Mel..

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  5. adorei ocomeço da segunda fase....

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  6. Acompanhando e amando. adorando o começo da segunda fase.. acredito que tem muito por vir..

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  7. Adooorando, nem dá pra acreditar que elas passaram tantos anos separadas. Estou ansiosa pelo reencontro dessas duas cabeças duras...

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  8. Melissa,adorei o primeiro capítulo da segunda parte,linda leitura!!Parabéns!:)
    Esperando o próximo capítulo..
    Bjos

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  9. Vixe tantos anos separadas...ansiosa como sempre para ver como se dará o reencontro delas!!!
    Esse Acrisio por acaso não seria o pai da Di???

    Abraços Mel!

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  10. Essa história me prende de uma tal maneira e mesmo passando por um momento delicado nesse instante consegui sorrir com a continuação da web. Parabéns Mel

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  11. romance mais que maravilhoso.. pra variar. aguardando ansiosa pelos acontecimentos da 2 temporada!!!
    parabéns, Mel.. estória belíssima

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  12. perfeito como sempre,mel vc ira postar em quais dias a continuação aqui no seu blog,assim não fico me corroendo de ansiedade rsss

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  13. Tá perfeeitaa!Continuua Mell!

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  14. Não vejo a hora dessas duas se encontrarem.

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  15. Muito booom, ansiosa para o reencontro ^^
    Continue assim que puder.

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  16. Adorei Mel, boa sorte na segunda fase!

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  17. Aeeee segunda fase ja chegou chegando!!!!!!

    UPPPPPPPPPPPPPPPPPPPPP!

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  18. Olha eu aqui!!!! Muito bom, Mel!!! Tb não vejo a hora desse reencontro!!! Bjoss

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  19. Parabéns Mel!
    Como sempre mandando mto bem.
    Aguardando os próximos capítulos.

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  20. PARABÉNS MEL COMO SEMPRE PERFEITO...

    ESTAREMOS SEMPRE ACOMPANHANDO VC SEJA ONDE FOR E PRA NÃO PERDER O COSTUME CONTINUA!!!

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  21. Simplesmente adoro cada vez mais!!!
    Anciosa para o desenrolar dessa 2ª fase!!
    E vamo que vamo!

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  22. 2 capitulo perfeito como sempre,eu que sou baiana amei a citação de dona flor parabéns Mel ai hj ainda é quinta contando os dias agora p o prox post rsss

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  23. Nossa,perfeitinhoo o 2 capítulo!!Amando horrores a 2 fase!!
    Mais uma vez botando pra quebrar!!:)
    Esperando o próx cap..
    Tenha uma ótima quinta-feira!!
    Bjos

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  24. Maravilhoso Melzinha! Como sempre ...

    Continua :D

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  25. Diana pisou feio na bola!! grrrrr... Nao falo pela Nat e sim pela Dani! ai ai ai....

    Ainda estou com uma dó da Nati... Queria por no colo! rs...

    Mais mel!!

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  26. Concordo plenamente com a Hagata, a Diana pisou na bola com a Dani.

    Estou ansiosíssima pelo reencontro da Nat e Diana; Não gostei que a Diana tenha beijado a Rosana mais fazer oque né, nem tudo é como a gente quer.

    A Nat é mais sensível dá vontade de protege-lá o tempo todo rsrs

    Continua Mel...

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  27. Estou a adorar esta 2ª parte.

    Continua Mel

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  28. E circulo da Vida Gira e pelas Leis do Destino estão todos voltando.Acho que sei quem é o novo acessor da Nat rss. De alguma forma as duas vão se reencontrar e a Di pelo jeito vai estar com a Rosana, isso para Nat será uma prova de que elas realmente tiveram um lance e no passado e presente......Tinua...

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  29. Estou adorando essas duas mais maduras, mas to sentindo confusão no ar com a Natalia se envolvendo com o pai da Diana.

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  30. Coontinuua Melzinha.. Simplesmente adorando!

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  31. Adorandoooo ! isso ae Mel , a cada dia ficando melhor (y)

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  32. Na minha opiniao,o lance com Rosana é só uma atracao reprimida,acho que nao vai rolar nada dps disso..será?
    Agora,eu to preocupada com a Nat..se envolvendo com o pai de Di,isso vai ser tenso!
    Muito bom,continua assim!!:D
    Bjos

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  33. ixi a natalia vai arrumar
    encrenca...

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  34. NOssa, fiquei triste com todo esse tempo passado, mas enfim, o conto continua a todo vapor!!
    POsta maaaaaaaais meel =(
    ANSIOSAAAAA!!

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  35. : O

    jesuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuus!! aaaa quero logo o encontro delas!! hunf hunf...
    #carentedemais

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  36. Nossa,incrível o cap de hoje!!Curiosaa horroress para saber a bomba e explocao q será o encontro entre elas..Uhuu!!
    Linda semana para todas(os)!!:)
    Bjus

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  37. Nooooooooooooo vai diana entra em mim logo nessa hora foi tenso.

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  38. Amando o conto...chega logo quinta - feira kkkk

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  39. Muito bom como sempre dei gargalhadas com a Silvana quebrando a cara. kkkkk
    Ah termenei de ler ontem Sociedade Secreta Lesbos.. Muito boa a história apaixonante... gosto desse lance enigmático estas de parabéns como sempre.

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  40. ain a quinta feira passou sem post's...
    ansiosa aqui...

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  41. Ain eu até gostei dessa tal de Eduarda com a Nat, a Nat merece mais do que só a vida profissional em um ótimo rumo, mais ainda assim quero muito o reencontro dela com a Di, o amor das duas é tão lindo, espero que um amor assim não morra e que apesar de tudo elas sejão felizes juntas e que mais ninguém sai dessa história sofrendo...

    continua, perfeita como sempre...

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  42. Mel,amei o capítulo de hoje!!Muito bom mesmoo!!
    Bem,aproveito para desejar a todos um Feliz Natal e maravilhoso ano novo,cheio de luz,pz,amor,alegria,que os seres de luz iluminem cada uma de vcs!!Como viajarei só poderei acompanhar a estória qndo voltar...
    Sei que ng me conhece aqui pq eu nunca comentava,comecei qndo Mel resolveu postar a 2 parte desse conto aqui no blog,mas desejo de coracao sucesso nos próx cap e tb desejo coisinhas mts lindas nas festas de fim de ano!!
    Beijaooo

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  43. Capítulo Perfeeito Mell!

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  44. Sempre achei q dra tinha uma queda pela Di, esperar pra ver o que vai acontecer. Agora to peninha da Eduarda rss ela é xerox da Di por isso que a Nat ta toda saliente. Ansiosa pelo reencontro. Parabéns Mel, cada dia melhor.

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  45. Uepaaaaaaaa!!! Olha eu aqui estreando nos comentários, a primeira vez a gente nunca esquece não é?! rsrsrsr. Aii Aii, a 2° fase começou a todo vapor, nada contra um jaleco, mas um terninho justo nas curvas da Natália ficou uma loucura. Mel, a história como sempre está maravilhosa, sua escrita nos instiga a voltar para saber o desenrolar dos fatos. Dona Diana caiu nas graças do divã da Rosana, não poooooode, ela tem é que voltar para o Brasil e reencontrar a nossa linda e ministerial Nati. É maldade fazer personagens como a Eduarda, pocha, a gente fica com o coração dividido, quase como um caso extra conjugal, acho que quando a Nati era bebê faltou talco e a mãe dela passou açúcar, só isso explica. Não tem como não pedir mais neam?! Ps: Acho que me apaixonei a primeira leitura pela Eduarda, comofas?

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  46. ai mel q cap bom de mais esse,mas faz a troca de casais ai mel devolve a di p naty e já q a rosana ta gamada pela di da a duda xerox da di de presente de natal p rosana hehehhe e mel por falar em natal presentei suas adoradas fans e seguidoras fieis com uns 2 ou mais cap da segunda fase na quinta como presente de natal por favor

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  47. Mel, suas historias sao maravilhosas!! virei 2 dias e 2 noites inteiras, lendo suas webs... sem conseguir parar!! com isso gostaria de te parabenizar, pela escrita que envolve, emociona e nos transforma!
    aguardando ansiosamente sua nova postagem, um grande beijo

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  48. Ain mel que post mara! Continuua sempre!

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  49. Acho que justamente por ter tido aquela noite com a Rosana a Di vai voltar pro Brasil pra fugir disso e reencontrar a Nat se envolvendo com os assuntos do pai...

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  50. Ain será que hoje vai ter ou não post do novo capítulo... ansiosa por mais aqui...

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  51. Primeira vez comentando aqui
    to perdidamente apaixonada pela Eduarda to
    adorando ela com a natalia

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  52. Hoje é quinta....e não teve post...
    Mel vc cria umas personagens tão legais q fica dificíl neh...Adoro a Rosana e agora a Duda...Vejo nelas um lindo CASAL. A Di e a Nat podem ser as madrinhas kkkkkkkkkk.
    Mel cadê vc aki nos comentes...heim

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  53. Ain q pena não teve post ontem.
    Verdade Mel cadê vc aqui nos comentes... Sentimos sua falta por aqui...

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  54. Mel, sinceras melhoras pra vc colega...
    Agora,sinceramente me dá uma dor no peito em não ver a Nat e a Di juntas,não vejo a hora do reencontro,enquanto isso vou tentando controlar a minha tristeza e a minha já conhecida ansiedade!Gosto da Rosana e da Eduarda,então vc poderia fazer o seguinte: junta as duas!!!

    Feliz Natal minha linda!
    Val!!!

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  55. Concordo com a Valdeneide, eu gosto da Rosana e da Eduarda, junta as duas e faz o reencontro da Nat e da Di acontecer, ai todas saem felizes...
    To meio tristinha pq a Nat tá com a Duda mais pensa constantemente da Di que é o seu amor de verdade, já a Di tá lá toda pensando na Rosana, parece que nem lembra mais da Nat, quero tanto ver as duas juntas, um amor como o delas não deve acabar assim...
    Ansiosa por mais...

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  56. mel feliz natal p vc e melhoras ai na saúde fala da sua doutora cuidar bem de vc pra vc estar 100% rss aguardando o prox post bjs

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  57. Caracaaaaaaaaa ate que enfim eu consegui ler a segunda temporada :D Tava ficando maluca sem voces rs, Desculpa minha ausencia povo epoca de trabalho dobrado rs
    Porem Agora estou de volta, beijos a todas e melhoras melsinha se recupere logo pra poder postar pra gente...
    haaa FELIZ NATAL pra todas !

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  58. Olá meninas, sei que estou ausente aqui nos comentários, sinto falta de responder a todas vocês sabia?
    Quero agradecer a lealdade de vocês, muito obrigada a Hagata, Nanda, Rafaela, Isley, Valdeneide,Rose, Suh, Ci,Bette, Laila e todas que vem me seguindo anonimamente.Saiam da moita aqui também!Bjos

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  59. Ai ai ai...meus ansiolitícos por favor...rs.
    Será que nessa vinda para o Brasil a Di vai reencontrar a Nat?...nervos a flor da pele!
    E realmente concordo com a colega Rosi,a Di parece que nem lembra mais da Nat,mesmo assim quero acreditar que esse amor dela pela Rosana é só companheirismo e conveniência...Quero ver as duas frente a frente,nem que sejam brigando...rs.
    Abraços Mel!!!

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  60. Aee, será que elas vão se encontrar? Tomara que sim rs, esperando o próximo post ><

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  61. Poxaaa eu gosto muito da personagem da Rosana... A Diana com a Rosana esta muito legal ea Nathy com a Duda tbm... sendo quem tem muita historia pra rolar i eu estou confusa rs... nao sei oque vai vim porair. Mais tenho certeza que a briga sera grande em relação a seu Acrisio e Dr. Nathalia !

    Beijooos Galeraaa

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  62. Ixiii o bixo vai pegar, ai quero só ver, imagina só Nat e Duda dando de cara com Di e Rosana vai ser demais shauhsaushua, to louca pra ver...
    Ansiosíssima pelos próximos post's...

    Beijos...

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  63. Espero que a mãe da Di fique boa e não morra, senão vai sobrar chumbo gross pra Nat.
    A Rosana e a Duda fazer um par perfeito, só falta uma ser ex da outra kkkkkkkkkkkkkkk

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  64. ai mel mais um cap p deixar meu estomago em bolhas de ansiedade q pena q a di perdeu a mãe dela mais tudo tem um significado ao menos agora o reencontro da di com a naty esta mais prox.
    querida MEL vim aqui hj ler mais um post seu e compartilhar com vc algo q de certa forma teve sua influencia já sou formada em enfermagem e trabalho como enfermeira em um hospital aqui em salvador mais enfim meu sonho como dizem desde criança foi ser médica,mas na época ñ deu p fazer medicina e optei por algo mais prox da área e hj aos 26 anos estava acomodada com minha profissão de enfermeira e tinha esquecido guardado bem la no fundo minha vontade de ter sido médica então a mais de um ano quando comecei a acompanhar sua história Porque eu sei que é amor esse desejo de ser médica voltou ai vc escreveu,Aconteceu você e logo depois,2ª Temporada : Porque sei que é amor - Ainda sei,é amor. foi acompanhando suas história que me decidir de vez em dar um tempo na enfermagem e tentar novamente medicina e hj saiu meu resultado conseguir minha vaga irei cursar a partir de março medicina na ufba então to hj aqui compartilhando com vc esta alegria pq vc com suas história tem uma grande parcela nesta nova vitoria,obrigada por ter o dom de escrever e de compartilhar com nós suas leitoras te desejo um feliz ano novo e q este novo ano sua mente se abra mais e mais para a criatividade mil bjs Isley Lima

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  65. Deus Pai... espero que a mae da Di nao venha a falecer,se isso acontecer,tadinha da Nat,conhecerei um outro sentimento da Di para com a Nat... O ODIOOO!!!! Nao quero isso nao...aahahaha...
    Hj tem mais ne? esperando entao!! : D

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  66. meu deus :( , isso nao vai ser legal ! to com medo

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  67. Mel,meus ansiolíticos estão acabando!...rs.
    Não vejo a hora dessas duas se encontrarem de novo,fico arrepiada só de pensar,só espero que a Di não atribua a Nat uma parcela de culpa pela morte da sua mãe,pelo fato da mesma estar investigando seu pai...mas td é possivel!
    Gosto mais da Eduarda do que da Rosana,mas continua a dica,faz um casal das duas!kkkkkk
    Abraços,Val e feliz 2012!

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  68. Ain tadinha da Di, mais tomara que ela não fique com raiva da Nat por ela estar investigando o pai, e atribua a ela uma parcela de culpa pela morte da mãe.
    Espero que elas se entendam logo, não gosto nem um pouquinhu da Di com a Rosana, da Duda eu até gosto com a Nat, mais eu quero mesmo e Nat com a Di, ai quem sabe até ficaria legal a Duda com a Rosana, ansiosa pelos próximos capítulos aqui \o...
    Beijos, Feliz 2012...

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  69. Mel... estou sem palavras, cada dia fica mais melhor esse conto. Parabéns pelo conto, por ter inspirada mais uma Médica rss e parabéns tbm a você Isley Lima por sua conquista.
    Sei que não serei atendida... mais não custa tentar né...Mel posta mais um cap. ainda esse ANO de 2011????

    Abçs

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  70. Aiiiiiiiiiin!! esperando....

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  71. adoro a estoria lia a primeira parte na comunidade essa estoria e demais minha predileta

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  72. Mel, adoro todas as suas historias vc escreve incrivelmente bem. Meus parabens

    Continua to viciada nessa historia

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