quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE - Capítulo 17

2.17 Caetera desiderantur
Faltam outras coisas. Deseja-se o restante. 


            Natalia como de costume, despertara com a luz do sol entrando pela janela do quarto. Recostada no peito de Diana, a morena foi tomada pela sensação dúbia de felicidade e de remorso. Remorso por ter traído Eduarda, e a culpa ainda maior por estar feliz com aquela traição.

            A visão de Diana ali, plácida em seu sono, reportou Natalia a todos os momentos bons que tiveram juntas no passado, sua maior referência de felicidade estava ali, a morena sentia seu peito encher-se de um sentimento tão forte que chegou a sentir o ar sumir.

            A constatação acerca do que Natalia passou todo aquele tempo negando se instalou com a solidez de uma verdade absoluta: amava Diana. Exatamente da mesma forma que amou no passado ou ainda mais, uma vez que o tempo só aumentou a força daquele sentimento.

            Em meio ao seu estado contemplativo, em uma daquelas terríveis ironias do acaso, justamente naquele momento, a operadora do seu celular que ficou fora do ar durante toda a noite deu sinal e seu telefone tocou. No display o motivo do peso da sua consciência chamava: Eduarda.

- Oi Duda. – Natalia cochichou entrando no banheiro.

- Meu amor onde você está?! Liguei milhões de vezes, preocupada com você, recebi o recado da Carla, mas, não entendi muita coisa.

- Fiquei presa aqui por causa da chuva, mas já estou voltando para São Paulo.

- Aqui aonde?

- Amor eu não posso falar por telefone, conversamos quando eu chegar à cidade.

            Encarando o espelho Natalia pode sentir a dimensão da sua culpa que a fazia se envergonhar diante de sua própria imagem. Antecipadamente se condenava pelo que faria a seguir: mentir para Eduarda. Justamente o artifício que a promotora tanto desprezava seria sua saída para esconder sua traição.

            As certezas sobre seu amor por Diana depois da noite mágica que tivera com ela não foram suficientes para fazer a promotora esquecer-se do passado e se lançar de novo nos braços de Diana. Outra vez as inúmeras dificuldades e circunstâncias as separavam a tal ponto de fazer Natalia duvidar se valia a pena arriscar o que construíra todos esses anos longe do amor da sua vida.

            Natalia aprendeu com o tempo a submeter seus rompantes emocionais à razão, a exceção nesse retrospecto foi àquela noite de amor com Diana, tal demonstração a assustou ainda mais. A loirinha representava seu lado mais espontâneo e naquele contexto o mais inconsequente também. Por isso, Natalia fugiu.

Fugiu do ímpeto de acordar Diana com um beijo e amá-la outra vez, e de novo, de novo, incansavelmente.

Fugiu do desejo imperativo de se entregar ao seu amor sem reservas.

Fugiu da luta que se levantava que fatalmente envolveria seu trabalho, sua reputação e o caso mais importante de sua carreira até então.

As implicações de retomar uma relação com Diana estavam além das outras pessoas emaranhadas naquele quadrilátero amoroso. Não se tratava só de magoar Eduarda e Rosana. O envolvimento com Diana comprometeria sua atuação no processo contra Acrisio, se fosse descoberta ela seria retirada do caso, e se escondesse abriria um enorme alvo para chantagens por parte do acusado e de seus compassas.

Dessa forma Natalia não viu alternativa mais sensata do que fugir. Recolheu suas roupas ainda úmidas e enlameadas, com o coração condoído beijou a face de Diana e partiu dali como uma fugitiva, uma criminosa deixando a cena do crime, depois de acordar Lucas abruptamente.

**********

            Acordar sozinha na cama e não encontrar Natalia no quarto não trouxe bons pressentimentos a Diana. Restava a ela o consolo do perfume de Natalia no seu corpo e nos lençóis. Aquele aroma moreno de óleo de pitanga que exalava da pele da promotora era uma das melhores lembranças que Diana guardava da sua amada.

            Restava-lhe ainda a esperança daquela noite ter sido apenas o começo do recomeço. Mesmo com todas as indagações sobre como as circunstâncias deviam ser conduzidas para que pudessem recomeçar a relação com Natalia, a fotógrafa manteve o otimismo provocado pela explosão de paixão que vivera naquela cama com a morena.

            A apreensão de Diana importunou sua esperança ao não encontrar pelo quarto um vestígio de continuidade, ou seja, Natalia não se despediu, não deixou uma mensagem, um número de telefone, nada que indicasse um novo encontro em breve.

            Diana não tinha dúvidas da reciprocidade do seu sentimento. Aquela noite deixou tudo muito claro, era verdadeiro aquele amor que resistiu ao tempo e aos desencontros do destino. Saber que Natalia foi ao aeroporto disposta a partir para Nova Iorque com ela anos atrás dissipou a densidade da mágoa, da decepção que se misturou a saudade de sua amada por todo aquele tempo de exílio.

            Ao mesmo tempo, se culpava por não ter cedido, por não ter insistido em mais um passo em direção a Natalia. Culpou-se por todas as vezes que apagou as mensagens que escrevera para a morena, culpou-se pelas inúmeras desistências dos telefonemas não realizados para ela, culpou-se pelo seu orgulho cego e covardia. Toda culpa se transformou em motivação. O destino se encarregou mais uma vez de uni-las, e agora Diana estava obstinada a não perder essa chance, lutaria por Natalia contra tudo e contra todos que se erguessem contra esse amor.

            Mesmo convencida de que seu objetivo era legítimo, Diana não pode evitar a dor que sentiu ao antever o sofrimento de Rosana com o término do namoro. Seu amor pela cantora era inquestionável, como amor não se mede a fotógrafa não ousou traçar parâmetros, no entanto, sabia que a força do seu sentimento por Natalia não dava espaço para outros amores. Todavia, pelo respeito que tinha a Rosana não achou justo enganá-la, nem tampouco definir aquela situação por telefone.

            Assim, imediatamente após esclarecer sua condição com Natalia, e declarar seu amor e sua proposta de retomar a história delas, Diana planejou ir à Nova Iorque e ser honesta com Rosana.

            Com seus passos organizados mentalmente, Diana deu início ao seu plano. Paralelamente continuava a ajudar Danilo na sua missão de fazer justiça contra Douglas e seu pai.

            De acordo com as orientações de Lucas, Danilo oficializou seu depoimento, e contratou um advogado de confiança, indicado por Carla.

            Impossibilitada de entrar em contato com Natalia, Diana era toda ansiedade. Vendo-se sem alternativas para encontrar a promotora, e apreensiva pelo fato de não ter sido procurada por ela nos dias que sucederam aquela noite de amor e reencontro, Diana apelou para Lucas.

            Reticente em revelar sua real intenção para conseguir do delegado o telefone de Natalia, Diana disfarçou pedindo o contato de Carla acreditando que a amiga seria mais confiável para intermediar um novo encontro.

- Carlinha sou eu, você pode falar agora?

- Diana?

- Sim. Preciso falar com a Natalia, você pode me dar o número do telefone dela?

- Di, eu até posso dar, mas, é melhor que você não ligue agora, ela acabou de sair daqui para almoçar com a Eduarda. Aniversário de namoro delas hoje.

- Ah...

            Diana suspirou decepcionada e tomada de ciúme.

- É algo urgente?

- Mais ou menos Cacá...

            Supondo o motivo da urgência e ansiedade da fotógrafa, julgando pelo estado semelhante da chefe nos últimos dias, Carla arriscou:

- Vou te passar o telefone dela então. Ela não está longe daqui do trabalho, então não deve demorar a voltar, se quiser te aviso quando ela retornar do almoço.

- Quero sim. Você disse que o restaurante era perto, é Le Maison?

- Hurrum. Envio o número por mensagem de texto ok?

- Obrigada Cacá.

            Carla sentiu um enorme peso na consciência depois de enviar a mensagem, e mais ainda por ter revelado onde a promotora almoçava com a namorada. Pensou em alerta Natalia, mas algo a impediu: o medo da ira da amiga, uma vez que concluíra que agiu inconsequentemente, talvez por acreditar no amor das amigas desde o passado.

            Diana tentou se controlar, tentou frear o ímpeto de arrancar a amada dos braços de Eduarda e fazê-la sua de uma vez por todas. Clamou por toda sua sensatez e respeito a Natalia para espantar esse pensamento. Andou de um lado para outro naquele apartamento cheio de lembranças do seu amor com Natalia e não resistiu: partiu para o restaurante onde a promotora almoçava com Eduarda.
           
            Com sua habilidade nata para fotografia, Diana aprendeu a desenvolver o talento de se disfarçar e esconder ao máximo sua presença, considerando que tal recurso muitas vezes a ajudou a captar uma imagem perfeita, uma fotografia sensacional, um quadro espontâneo uma arte inesperada. Usando essa habilidade, Diana entrou e permaneceu despercebida pelo tempo suficiente para ser tomada pelo ciúme e insegurança ao testemunhar o carinho entre sua amada e a empresária.

            Aqueles sentimentos sufocaram a loirinha a tal ponto de fazê-la derramar lágrimas de angústia. Como se os céus ouvissem sua prece para cessar aquela tortura, Diana viu Natalia levantar-se e caminhar até o banheiro. A fotógrafa não hesitou a seguiu imediatamente.

            Esperou Natalia abrir a porta da cabine para surpreendê-la, empurrando-a para dentro da cabine mais uma vez.

- Diana?! – Natalia cochichou sobressaltada. – O que faz aqui?

- Precisava te ver!

            Diana respondeu segurando o rosto de Natalia, beijando seus lábios em seguida.

- Para Diana...
           
            Natalia pedia quase sem forças para suprimir seu desejo.

- Eu estava enlouquecendo sem notícias suas...  – Diana sussurrava ao ouvido de Natalia, roçando seu nariz pela face da morena.

- Diana para, por favor.

            A voz débil da promotora denunciava a desestruturação que o contato com o corpo de Diana provocava no seu. Desmontava qualquer regra do seu bom senso apurado e dos seus princípios de lealdade, se existia um calcanhar de Aquiles na conduta moral e sentimental de Natalia, este era Diana.

- Não posso. Você sabe que eu não posso parar.

            Diana insistia ao sentir crescendo a excitação demonstrada no eriçar da pele e na vibração do seu sexo.

- A Eduarda está lá fora...

            Com tal fala, Natalia arremessara a ducha de água fria sobre a volúpia presente naquele momento.

- É eu vi.

            Diana se afastou jogando seu corpo contra a porta da cabine.

- O que deu em você para vir me procurar aqui? Aliás, como você soube que eu estava aqui?

- Isso não importa, estou aqui porque precisava falar com você. Depois daquela noite você desapareceu, como ficamos agora?

- Diana... Não é lugar, nem momento para falarmos nisso... Eu não sei se temos mesmo algo a falar...

- O que?! Como assim Natalia? Você está louca? Não temos o que falar? Eu não vou aceitar isso Natalia, não depois do que vivemos naquela chácara. Vai negar que você ficou tão balançada quanto eu? Vai negar que depois daquela noite você perdeu a paz me desejando?

            Diana atiçou Natalia indagando enquanto a pressionava mais uma vez contra a parede, encaixando sua coxa entre as pernas da morena.

- Negue agora Natalia. Negue que tudo que você mais quer nesse momento é que te toque como só eu sei...

            Dominando o corpo de Natalia como ela sabia tão bem, Diana instigou o desejo da promotora que já sentia a umidade se apresentar na sua cavidade pulsante.

- Não posso negar Di...

            Natalia praticamente gemeu a confissão, e foi tomada pela boca de Diana com o vigor e a intensidade emanadas do seu sentimento.

            Aquele beijo facilmente evoluiria para o inevitável. No entanto, foi interrompido pela voz de Eduarda:

- Natalia? Meu amor você está aí?

            Com os olhos arregalados Natalia se recompôs com dificuldades, ordenou com um gesto autoritário e ao mesmo tempo desesperado para Diana se esconder na cabine e se esgueirando por um pequeno espaço da porta saiu da cabine:

- Oi Duda, estou aqui.

- Que demora meu amor! Está tudo bem?

- Mais ou menos, só minha menstruação que veio antes do dia esse mês...

- Não acredito! Que porcaria! Justo hoje?

- Pois é... – Natalia respondeu tensa.

            Eduarda se aproximou envolvendo a cintura da namorada dizendo:

- Vou ficar na saudade mesmo? Essa viagem vai ser mais torturante ainda!

            Natalia se desvencilhou sem graça do abraço de Eduarda temendo também que ela sentisse o perfume diferente em seu corpo:

- Duda, aqui não...

- Tudo bem doutora. Vamos voltar para mesa, a sobremesa já chegou.

           
            O simples diálogo entre as duas despertava em Diana uma revolta só comparável a quem tem um tesouro afanado sob sua vista. Foi obrigada a engolir aquele sentimento indigesto e a frustração de não conseguir seu objetivo com aquele encontro clandestino.

            Restava-lhe a alternativa de tentar contato com Natalia em outro momento, no qual ela não estivesse com a namorada e pra isso contou com a ajuda de Carla:

- “Di, a Nat acabou de chegar aqui no gabinete. Promessa é dívida. Beijos, Cacá”.

            A mensagem de texto da amiga foi a deixa para a loirinha insistir, e assim ligou para Natalia.

- Natalia Ferronato falando, pois não?

- Preciso de uma audiência com a representante mais deliciosa do Ministério Público, é com você que devo falar?

            O rosto de Natalia corou, e um sorriso se fez nos seus lábios ao ouvir a voz de Diana.

- Pode ser comigo, apesar dos boatos que afirmar que a doutora Fernanda Costa tem os peitos mais bonitos que os meus...

- Você tem o telefone dela? – Diana brincou.

- Diana para de ser safada! – Natalia exortou.

- Não consigo.

            Natalia não conteve o riso.

- Mas eu duvido muito que existam peitos mais bonitos do que os seus doutora, com todo respeito.

            Natalia sentiu suas bochechas corarem mais uma vez.

- Diana... Para...

- Tudo bem, não quero que a digníssima representante do Ministério Público perca o decoro no exercício de sua função. Liguei só para avisar que estou te esperando hoje no nosso apartamento.

- Nosso?

- É Nat... Aquele apartamento depois que foi habitado por você nunca mais foi só meu. Você está em todo lugar daquele lugar que tem grande parte de nossa história, você está em tudo dali: no cheiro, no jeito de dispor os móveis, até a forma como você fazia as duas dobras nos lençóis da cama exigi que a faxineira copiasse. Acho que está mais do que na hora de você fazer a reintegração de posse.

            Mordendo os lábios numa exprimindo a satisfação em ouvir tal declaração. Entretanto aquele sorriso rapidamente se desfez quando a morena recobrou o que julgava ser sensatez, o que na verdade era sua culpa por trair Eduarda que falou mais alto e ainda o medo de se envolver mais uma vez com Diana.

- Diana eu não posso ir. A Eduarda vai viajar e...

- Natalia eu não quero ouvir o nome dessa mulher, nem muito menos saber nada da relação de vocês.

- Mas Diana...

- Não Natalia! Isso é entre mim e você! O que nós temos não está só no passado, você sabe disso! O destino está nos dando uma chance de consertarmos um equivoco do passado e não vou desperdiçar essa chance.

- Diana as coisas não são tão simples assim. Existem mais pessoas envolvidas em nossa vida hoje.

- Não vou ter essa conversa assim pelo telefone. Eu vou te esperar hoje a noite, no nosso apartamento, para definirmos nossa situação. Mais uma vez Natalia eu vou te esperar, e se você não aparecer de novo eu vou entender que outra vez você me diz não, não a um recomeço, não a esse amor que está tão vivo como há sete anos.

- Você e seus ultimatos Diana Toledo...

            Natalia retrucou.

- Já perdemos muito tempo Natalia, não sou mais uma menina, nem você. Sei o que quero, e o que quero é pra hoje, não se constrói um futuro sem a certeza do presente, preciso da sua certeza.

            Diana desligou o telefone convicta de que estava fazendo a coisa certa pressionando Natalia. Não queria prorrogar aquela agonia que sentia enganando Rosana e enciumada por saber que Natalia estava com Eduarda.

            Natalia por sua vez, sentindo a pressão do ultimato da fotógrafa, não conseguiu se concentrar nos seus afazeres, percebendo a distração da amiga, Carla sondou:

- A Diana te ligou?

- Sim, ela me ligou e...
           
            A promotora apertou os olhos e inquiriu:

- Foi você então? Foi você que deu meu telefone a ela e disse onde eu estava com a Duda?! O que você tem na cabeça Carla?

- Ai Nat me desculpe, mas eu intui que esse era o certo. Desde que você passou a noite naquela chácara você está aí distraída, em outra dimensão, outra hora está nervosa, não quis falar nada sobre seu encontro com Diana... Eu te conheço minha amiga... Algo mexeu muito com você, quando a Diana me ligou, achei que estava fazendo um bem a você.

- Ah não acredito Carla! Acho bom você ajustar esse canal aí sua intuitiva de araque! Como ia me fazer um bem dizendo a minha ex-namorada onde eu estava com a minha atual? Você sabe o que a Diana provoca em mim!

- Natalia... Por que você está tão nervosa? Aconteceu algo no almoço?

- Aconteceu que a Diana foi lá! Aconteceu que ela está fazendo comigo o que sempre fez: enlouquecer-me! É isso que ela faz comigo, me tira do rumo, me tira a paz, o fôlego...

- E te faz feliz também não é?

 A interrogação de Carla era praticamente uma afirmativa a qual Natalia não teve coragem de negar. A promotora jogou a cabeça no encosto da poltrona e deixou as lágrimas verterem, revelando a angústia que lhe consumia.

- Nat, o que aconteceu naquela noite quando vocês se encontraram?

- Aquilo não foi um encontro Carlinha, foi uma colisão. Foi uma rasteira na minha autossuficiência, um desarme das minhas defesas que construí contra essa paixão por sete anos!

            Carla segurou a mão da amiga encorajando-a a continuar o desabafo. Escutando com algum constrangimento o relato, Carla questionou ao final:

- O que você está esperando pra voltar pra ela Nat?

- Oi?

- Natalia de que mais provas você precisa pra ter certeza que é a Diana a mulher que você ama? Não sei direito como isso funciona entre mulheres, mas eu não consigo outra palavra para definir o que você sente por ela.

- Carla você está esquecendo alguns detalhes importantes nessa visão romântica sabia? Esquece-se de quem a Diana é filha? Esquece-se do que nos separou e a minha condição atual de “inimiga pública” do pai dela? Não posso me envolver com a filha de um acusado! Além do fato de eu estar comprometida com a Eduarda!

- O que te compromete com a Eduarda é mais forte do que você sente pela Diana?

- Carla! Eu respeito a Eduarda, ela é doce, companheira, linda, confiável, livre! Tem tudo para fazer uma mulher feliz. Acha que isso não me faz gostar dela e me sentir comprometida com ela?


- Isso é suficiente para você? E o resto?

- Que resto Carla?

- Tudo que você tem no amor pela da Diana. Aquele brilho no olhar, aquela felicidade que a gente sentia só de estar perto de você. A docilidade que era tão peculiar em você, seu humor que contagiava todos à sua volta. E tudo mais que você descreveu agora pouco: a paixão, a espontaneidade, a disposição de mudar o mundo, a entrega... Você quer viver sem isso?

- Carla você é uma filha da mãe!

            Carla não escondeu a satisfação em ter deixado a promotora sem argumentação.

- Eu sou testemunha do que vocês tinham Nat assim como vi de perto seu estado quando vocês terminaram, e sua decisão de partir com ela, jogando tudo pro alto. Eu via nos olhos da Diana o encanto que ela tinha por você desde que ela te fotograva escondida nos treinos de vôlei, o mesmo encanto que vi quando ela me perguntou um ano atrás sobre você. A Eduarda pode ter tudo pra fazer qualquer mulher feliz, mas não você. A felicidade da gente está, onde está o nosso coração, e o seu sempre esteve com a Diana.

            As palavras de Carla eram o eco do que a alma de Natalia gritava. Por mais que tentasse fugir dessa verdade refugiando-se nos seus conceitos de lealdade, segurança e, sobretudo de bom senso, a morena conhecia suas limitações em lutar contra o sentimento avassalador, único e vital que nutria por Diana.

*******************

                        Diana se preparou para o encontro com Natalia com a ansiedade própria da adolescência, procurou a melhor roupa, espalhando suas opções pela cama, tentando adivinhar qual agradaria mais a promotora. Nos cabelos improvisou uma trança simples, o que deixou seu rosto ainda mais delicado e feminino. Não abriu mão de uma maquiagem sóbria, que concluiu seu visual para a noite.

            Antes disso, a loirinha organizou o jantar para receber sua amada. Os anos não mudaram sua habilidade culinária, assim, encomendou os pratos se certificando de acertar o gosto de Natalia. Dispôs o apartamento com esmero, atentando para os detalhes da luz em penumbra, adicionando velas na mesa e nos cantos da sala, compondo uma atmosfera romântica.

            A inquietação promovida pela espera beirava à comicidade ao passo em que Diana ensaiava as falas, as caras, os gestos que usaria quando Natalia chegasse, a fim de envolvê-la naquele clima e tornasse aquela noite inesquecível e crucial para a reconciliação das duas. Não encontrava uma posição confortável naquele sofá naquela expectativa que a fazia olhar a cada dois minutos o relógio ou o celular, aflita pelo passar das horas e ausência de notícias de Natalia.

            O desassossego foi tomando forma de tortura no avançar da noite.

- Ela não vem... Ou será que está perdida? Será que ela lembra o endereço daqui? Devia ter me certificado disso... Droga! Devo mandar uma mensagem? Não... Melhor não, se fosse o caso ela teria me ligado. Droga Natalia cadê você?! Meu Deus... Não permita que ela me diga não mais uma vez...

            Diana pensava alto, mais que uma reflexão, suas palavras tinham tom de súplica. Sete anos depois, Diana se via na mesma aflição à espera de Natalia, à espera de um passo dela para definir suas vidas juntas. O medo de ser rejeitada de novo pelo amor da sua vida transformou cada segundo em uma eternidade, tentou se distrair, mas foi em vão, nada minimizava a apreensão daquele momento.
**************

            Apesar de ter poucas esperanças de se despedir da namorada antes de viajar, Eduarda ligou para Natalia a caminho do aeroporto, propositalmente, a promotora deixara a chamada cair na caixa postal, não queria ser obrigada a mentir para a Duda, isso a deixava completamente contrariada.

            O expediente já estava encerrado, com a desculpa de agilizar alguns processos, a promotora protelou sua saída do gabinete, todavia o que na verdade a prendia ali era o impasse entre a segurança e o companheirismo que tinha na relação com Eduarda e os riscos do seu amor com Diana.

            Parada dentro do seu carro, Natalia se detinha no seu dilema: sensatez ou paixão? Era tão mais fácil estar com Eduarda, tudo era tão simples, descomplicado, calmo. Nos braços da empresária ela tinha segurança, carinho, respeito, lealdade, não era uma relação fria, muito pelo contrário, especialmente por que Eduarda era uma mulher deslumbrante e um furacão na cama. Mas, era um relacionamento previsível por sua transparência.
           
            Carla tinha razão. Foi o que Natalia pensou. Eduarda oferecia tudo que Natalia acreditava que era necessário em uma relação, entretanto, faltavam outras coisas, e esse restante Natalia sabia que só encontraria em Diana. Não se tratava de um resto como o significado da palavra pode sugerir, mas, sim de uma força vital que impulsionava Natalia a ir além, desejar mais.

            Desejar mais da vida, desejar mais dela mesma, desejar mais do amor.

            O que existia entre ela e Diana era o mais que dava brilho aos olhos da morena, desvendava sua naturalidade e resgatava o encantamento que Natalia trazia quando chegou do interior naquela cidade. A afinidade com Diana se revelava nos mínimos detalhes, na leitura que ela fazia tão bem da alma da loirinha quando instintos não estavam nublados pela mágoa. Essa afinidade se traduzia na intimidade intacta provada naquela colisão de corpos ocorrida nos últimos encontros das duas. No encaixe transcendente dos corpos naquela entrega singular.

            À frente da garagem do prédio do Ministério Público, Natalia viu sua encruzilhada se conformar na simples decisão de optar em seguir na mão direita da avenida no sentido do aeroporto, onde tentaria alcançar Eduarda e se despedir dela, ou dobrar à esquerda em direção ao apartamento de Diana, onde ela a aguardava mais uma vez por uma decisão crucial em suas vidas.

            O acaso fez inconscientemente por força do hábito, Natalia ligar o som do carro. Na FM o hit trazendo uma voz forte, pareceu ser atirado contra o coração da promotora de maneira veemente, aquela música parecia ser a tapa na cara para despertar a promotora para o que Diana revelou em cada toque, no seu olhar, na sua atitude. De uma forma sobrenatural, Natalia compreendeu que o amor tinha encontrado seu jeito de mandar um sinal pelo destino do quão forte e inevitável era sua força e seu alcance. Rendida ao amor e ao destino com suas leis inexplicáveis sentiu o pensamento de Diana em cada estrofe daquela canção:


One And Only – A verdadeira e única


You've been on my mind,
I grow fonder every day,
Lose myself in time,
Just thinking of your face,
God only knows why it's taken me so long to let my doubts go,
You're the only one that I want,

Você tem estado em minha cabeça,
A cada dia me sinto mais afeiçoada,
Me perco no tempo,
Só pensando em seu rosto,
Só Deus sabe porque levei tanto tempo a acabar com as minhas dúvidas,
Você é a única que quero,

I don't know why I'm scared,
I've been here before,
Every feeling, every word,
I've imagined it all,
You'll never know if you never try,
To forgive your past and simply be mine,

Eu não sei porque eu estou assustada,
Já senti isso antes,
Cada sentimento, cada palavra,
Já imaginava tudo,
Você nunca vai saber se não tentar,
Perdoar seu passado e simplesmente ser minha,


I dare you to let me be your, your one and only,
Promise I'm worth it,
To hold in your arms,
So come on and give me a chance,
To prove I am the one who can walk that mile,
Until the end starts,

Te desafio deixar-me ser sua, a verdadeira e única
Prometo que sou merecedora
De ficar em teus braços.
Por isso me dê uma chance!,
Para provar que eu sou a única que pode fazer essa caminhada,
Até o fim começar.

If I've been on your mind,
You hang on every word I say,
Lose yourself in time,
At the mention of my name,
Will I ever know how it feels to hold you close,
And have you tell me whichever road I choose, you'll go?

Se eu estou em seu pensamento,
Voce lembra das palavras que digo,
Se perde no tempo,
Ao ouvir meu nome,
Será que vou saber como é ter você por perto,
E ouvir-te dizer que vais comigo para o caminho que eu escolher?

I don't know why I'm scared,
'Cause I've been here before,
Every feeling, every word,
I've imagined it all,
You'll never know if you never try,
To forgive your past and simply be mine

Eu não sei porque eu estou com medo,
Já senti isso antes,
Cada sentimento, cada palavra,
Já imaginava tudo,
Você nunca vai saber se não tentar,
Perdoar o passado e simplesmente ser minha,

I dare you to let me be your, your one and only,
I promise I'm worth it, mmm,
To hold in your arms,
So come on and give me a chance,
To prove I am the one who can walk that mile,
Until the end starts,

Te desafio deixar-me ser sua, a verdadeira e única
Prometo que sou merecedora
De ficar em teus braços.
Por isso me dê uma chance!,
Para provar que eu sou a única que pode fazer essa caminhada,
Até o fim começar.

I know it ain't easy giving up your heart,
I know it ain't easy giving up your heart,
Nobody's pefect,
(I know it ain't easy giving up your heart),
Trust me I've learned it,
Nobody's pefect,
(I know it ain't easy giving up your heart),
Trust me I've learned it,
Nobody's pefect,
(I know it ain't easy giving up your heart),
Trust me I've learned it,
Nobody's pefect,
(I know it ain't easy giving up your heart),
Trust me I've learned it,

Eu sei que não é fácil desistir do seu coração,
Eu sei que não é fácil desistir do seu coração,
Ninguém é perfeito,
(Eu sei que não é fácil abrir mão de seu coração),
Confie em mim eu aprendi,
Ninguém é perfeito,
(Eu sei que não é fácil abrir mão de seu coração),
Confie em mim eu aprendi,
Ninguém é perfeito,
(Eu sei que não é fácil abrir mão de seu coração),
Confie em mim eu aprendi,
Ninguém é perfeito,
(Eu sei que não é fácil abrir mão de seu coração),
Confie em mim eu aprendi,

So I dare you to let me be your, your one and only,
I promise I'm worth it,
To hold in your arms,
So come on and give me a chance,
To prove I am the one who can walk that mile,
Until the end starts,

Te desafio deixar-me ser sua, a verdadeira e única
Prometo que sou merecedora do teu abraço.
Por isso me dê uma chance!,
Para provar que eu sou a única que pode fazer
Essa caminhada,
Até o fim começar.

Come on and give me a chance,
To prove I am the one who can walk that mile,
Until the end starts.

Vá lá, me dê uma chance!,
Para provar que eu sou a única que pode fazer
Essa caminhada, até o fim começar.
(Adele)