terça-feira, 31 de janeiro de 2012

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE - Capítulo 18

2.18 Res integra
No Direito: A coisa inteira. 
           
            Natalia sorriu meneou a cabeça e falou sozinha.

- Destino filho da mãe! Valeu por mais essa piada!

            Assim, enxugou as lágrimas e seguiu à direita em direção ao aeroporto, a fim de chegar a tempo de falar com Eduarda.

            Não suportava mentiras, e para estar livre para amar Diana com todo sentimento guardado por anos, não acumularia a esse amor a sombra de traições e mentiras. A história dela com Diana já trazia marcas de tais males, não cabia mais essa carga de infelicidade de outrem. Por tal motivo, Natalia não queria esperar Eduarda retornar de viagem para definir aquela situação.

            No saguão do aeroporto, o mesmo em que ela correra desesperada para alcançar Diana, a promotora se apressou nos seus passos limitados por seu salto quinze para alcançar Eduarda, mas dessa vez o final dos seus passos a conduziria de volta ao seu grande amor.

- Duda!

            Eduarda se surpreendeu com a voz de Natalia chamando seu nome no meio daquela pequena multidão e correu ao seu encontro, e a abraçou romanticamente.

- Meu amor que surpresa! Nem esperava te ver antes de viajar! Se não estivéssemos no meio de tanta gente juro que te beijaria agora mesmo!

            Constrangida como sempre ficava em manifestações de carinho em público, Natalia se viu ainda mais acuada com o seu objetivo naquela surpresa que para Eduarda teve a conotação de gesto de amor.

- Eu precisava falar com você antes da sua partida...

- Eu adorei a surpresa meu amor!

- Duda, eu sei que não é o momento, nem local ideal para isso, mas não sei quanto tempo você ficará fora e...

- Nat... Nós já combinamos não foi? Se eu precisar passar mais de uma semana você vai me encontrar em Miami.

- Duda não é isso... Eu estou aqui pra te dizer que você é muito especial pra mim, uma das mulheres mais incríveis que já conheci e não quero nunca magoar você. Por isso eu...

- Nat espera! Eu sei de tudo isso, você me faz a mulher mais feliz do mundo. Ai... Eu ia fazer isso só na volta, mas, você aqui... Toda fofa...Fez esse sacrifício todo só pra vir me ver... Não vou aguentar esperar!

            Desconhecendo o teor daqueles pressupostos da empresária, Natalia franziu o cenho observando Eduarda abrir sua bolsa e retirar dela uma caixa minúscula de veludo preto.

            Antevendo o que aconteceria, Natalia pensou alto, pasma:

- Ai meu Deus!

            Confundindo a reação de desespero da morena com emoção, Eduarda não deu tempo nem espaço para Natalia se recompor e disparou:

- Natalia, quer se casar comigo?

            Atarantada com o gesto apaixonado de Eduarda, Natalia balbuciou sílabas desconexas, sentindo a voz presa pelo choque da proposta justamente quando ela estava pronta para terminar sua relação com a empresária.

            Eduarda visivelmente nervosa, emocionada pelo momento, não discerniu o sentimento implícito naquela reação de Natalia, talvez por que não concebia em seu amor e nos seus planos com ela outra resposta que não fosse sim. Imbuída de tal certeza, não esperou a resposta de Natalia, segurou a mão direita da namorada e colocou nela o anel cravejado de brilhantes oficializando ao menos para ela a mudança de status daquele namoro.

- Duda... Não...

            Tentando recobrar sua respiração a fim de verbalizar o motivo de sua ida desesperada até aquele aeroporto. Mas o acaso insistia em jogar com os sentimentos de Natalia, no exato momento em que a promotora iria desafazer tal equívoco, a última chamada para o voo de Eduarda foi anunciado, apressando o embarque da empresária, que correu depois de beijar o rosto da morena.

- Prometo um noivado à nossa altura na volta meu amor.

            Com tal bomba encaixada no seu dedo, Natalia injuriou mentalmente mais um chiste do destino. Seria mais um sinal de que seu amor com Diana não estava predestinado a se concretizar?

            A questão não calava. E outra vez Natalia se viu irresoluta sobre seu caminho ao sair daquele aeroporto, perplexa com a contrariedade absoluta dos seus planos. Se aquela anedota do acaso a separava de Diana segundo seus desmandos atrapalhados e de mau gosto era óbvio que também a aproximava. No seu trajeto, com a noite já avançada, convicta que Diana já não a aguardava àquela hora, Natalia percebeu a vista da janela do seu carro: o Parque do Ibirapuera.

            A avalanche de lembranças atordoou Natalia. O rosto de Diana, seu sorriso, seu olhar através daquelas lentes se multiplicou na sua mente como um comando hipnótico. Desejo irrefutável, vontade exigente, decisão indubitável: retornar. Retornar no primeiro desvio daquele viaduto, retornar à sua decisão controversa de anos atrás e remediar seu erro, retornar para os braços do seu amor.

            E assim Natalia seguiu para o apartamento de Diana, antes disso, abriu sua bolsa e num compartimento escondido, retirou uma pequena caixa de acrílico, nela uma pequena joia de importância sublime na sua história com Diana: a argola de brilhante que a loirinha lhe deu para usar no segundo furo da orelha como sinal de compromisso entre elas quando Diana a convidou para morar com ela. Com um sorriso apaixonado, Natalia a colocou, anunciando a sua decisão de reconstruir sua vida com Diana remediando a relutância de anos atrás.
           
***************
           
            Diana não tinha mais esperanças de que Natalia comparecesse ao seu chamado. Já caminhava pela sala, apagando as velas que cuidadosamente disponibilizou quando ouviu o som da campainha.

            Com o coração aos galopes, torcendo por um milagre acontecer, Diana abriu a porta, e seus olhos encontraram a visão mais perfeita, saída de seus sonhos, das suas melhores memórias e da sua prece mais fervorosa: Natalia.

- Oi. O check-in já está encerrado?

            Emocionada, Diana deixou uma lágrima verter apertando seus olhos e dizendo em um suspiro aliviado:

- Ah Deus! Muito obrigada!

            Envolveu seus braços na cintura de Natalia abraçando-a com força, como se quisesse prendê-la para sempre naquele abraço.

- Di... Você está me sufocando...

            Natalia disse e Diana a soltou imediatamente:

- Desculpe-me, sinto muito minha linda...

            A loirinha tentava reparar seu gesto forte esfregando os braços de Natalia que a tranquilizou:

- Ei... Calma... Você está tremendo. Não me machucou meu amor.

            A voz plácida de Natalia chamando-lhe de amor foi para Diana um afago no seu coração há minutos tão aflito, por isso a loirinha sorriu emocionada.
           
            Natalia deu dois passos dentro do apartamento, tomada pelas lembranças e envolvida naquela atmosfera tão bem arquitetada por Diana e experimentou a sensação de estar voltando de um lugar do qual nunca devia ter saído: os braços de Diana.

- Você demorou... Eu já estava quase certa de que você não viria.

- Eu precisei resolver algumas coisas antes de vir e sobre isso nós temos que conversar...

- Espera... Teremos tempo para falar sobre tudo... Mas agora me deixa te olhar...

            Diana contemplou Natalia ali na sua frente, no meio de sua sala, e a julgar pelo fascínio que seus olhos revelavam, aquele momento parecia um sonho do qual a fotógrafa não queria despertar.
 - Nunca me esqueci da sua beleza Nat, mas diante de você me pergunto como foi possível você ficar ainda mais linda do que minhas recordações guardavam.

- Di você está me deixando sem graça...

            Diana se aproximou de Natalia e com delicadeza deslizou o dorso de sua mão pela face e pescoço da promotora, que extasiada pela carícia fechou os olhos se entregando à doçura do gesto carregado de saudade e esperanças.

            O caminho da mão de Diana foi seguido por sua boca. A suavidade e calor dos lábios da loirinha despertou uma onda de excitação que gradualmente foi se apossando dos sentidos da morena.

- Esse teu cheiro me enlouquece Nat...

            Diana sussurrou ao ouvido de Natalia que sorria satisfeita e envolvida pelo tom de voz da loirinha.

- O que você faz comigo hein?

- Exatamente o mesmo que você faz comigo Di, me desestrutura...

- Ai! Calma! Não foi assim que programei nossa noite!

            Diana se afastou ofegante. Natalia franziu o cenho estranhando o afastamento da loirinha.

- O que houve Diana?

- É que... Eu queria que essa noite fosse perfeita, especial... Preparei um jantar com tudo que você gosta...

- Como é que é? Você preparou o jantar?

            Diana virou os olhos.

- Tá... Eu mandei preparar. Mas o apartamento eu arrumei sozinha!

            Diana se vangloriou. Natalia apertou os olhos e se aproximou da fotógrafa.

- Todo esse aparato pra conversar comigo Diana Toledo? Qual sua intenção escondida em tudo isso?

- Convencer você a nunca mais sair de perto de mim? Que sou o amor de sua vida? E te convencer por fim que eu te amo e que quero ficar com você o resto da minha vida?

- Intenções ambiciosas as suas...

- Acha que tenho chances de alcançar essas ambições doutora?

- Boas chances.

            Natalia envolveu seus braços no pescoço de Diana, encarou a loirinha e disse:

- Eu diria que suas chances são tão certas quanto a minha de te amar a noite toda hoje.

- Isso é bom... Quem diria que umas velinhas e uma comida boa conseguissem tanta coisa né?

- Boba...  – Natalia sorriu.

- Vamos jantar então? Acho que preciso esquentar os pratos...

- Estou mais interessada em esquentar você...

- Doutora Ferronato!

            Natalia aproximou seus lábios da boca de Diana roçando-os despertando os arrepios na pele alva da fotógrafa.

- Essa noite já é especial por ela mesma... Perfeita só pelo fato de estarmos juntas meu amor... Quero te amar agora Natalia.

            Diana sussurrou, apertou firme a cintura da morena e se deixou invadir pela língua de Natalia, quente, nervosa, sedenta.

            Outra vez o desejo conduziu cada gesto, cada gemido naquela explosão de sensações e sentimentos. Diana não teve pressa para se desfazer de cada peça da roupa formal da promotora. Desabotoou com cuidado e malícia o terno justo de Natalia, deixando à mostra seu colo que de tão sensual se configurava em um convite à degustação.

            Aceito o convite, Diana inclinou seus lábios até o decote, depositando beijos cálidos que se intercalaram com o caminhar dos dentes na pele morena eriçada. Natalia forçou o contato mais intrínseco enlaçando suas mãos nos cabelos loiros de Diana que correspondeu ao gesto pungente impondo mais voracidade ao ritmo da sua boca que se deliciava em cada segmento desnudo do corpo da promotora.

            As mãos de Natalia antes posicionadas entre os cabelos de Diana, agora exploravam a cintura da loirinha, arrancando-lhe as roupas que impediam seu acesso completo ao corpo fumegante de paixão de sua amada.

            E como se os corpos se desgovernassem a ponto de furtar o equilíbrio que as mantinha de pé, deixaram-se cair no sofá e ali fundiram corações e movimentos no compasso definido pelo prazer crescente a cada beijo mais demorado e a cada novo território de pele alcançado, até Diana preencher Natalia com suas digitais com toda legitimidade de quem conhecia aquele espaço.

            Natalia acomodou Diana no seu corpo permitindo que ela tomasse posse do que nunca deveria estar em outras mãos que não fossem as da loirinha. Entregue naquele ato de doação, a morena estremeceu naquele deleite rematado no exato momento em que Diana atingira o clímax com as unhas de Natalia cravadas em sua pele alva atestando a intensidade do prazer derramado entre suas coxas.

            Plenas de um sentimento íntegro e sagrado, Natalia e Diana deixaram seus corpos repousarem um sobre o outro, prolongando o auge alcançado simultaneamente. Inclinada sobre Natalia, Diana não resistiu ao impulso de contemplar o rosto da morena que expressava todo prazer que compartilharam há segundos atrás, e deixou escapar um sorriso emocionado.

- Com você é sempre como se fosse a primeira vez, é sempre único...

            Natalia disse afagando o rosto de Diana. A resposta da loirinha foi um beijo delicado pelos lábios da morena.

- É porque é isso que é Nat... É único cada momento com você, o amor nunca se repete.

- Eu já tinha esquecido sua veia de poetiza depois de um orgasmo...

            Natalia brincou arrancando um sorriso largo da loirinha.

- Você já foi mais romântica sabia? – Diana fingiu implicância.

- Deve ser porque é mais fácil ser romântica de estômago cheio, você me deixou morrendo de fome com esse papinho de querer me amar agora, nem me serviu o jantar! Propaganda enganosa dona Diana! Vim aqui jantar e só você jantou né?

- Natalia Ferronato que horror! Olha os modos garota!

            As duas gargalharam.

- Venha, vamos jantar então, vou te servir.

- Ah não... Você me deixou totalmente sem forças! Traga para cá...
           
            Natalia fez manha.

- Gente... O que os anos fizeram com você? Eu nem comecei direito com você ainda essa noite e você já está sem forças?

- Ahan. – Natalia simulou exaustão.

            Diana levantou-se e retornou em minutos equilibrando uma bandeja com um prato, talheres e taças.

- Oba! Piquenique! – Natalia bateu palmas empolgada.

- Venha comer sua velha molenga! Nem chegou aos trinta e já está acabada assim!

- Ao contrário de você não é trintona?

            Natalia provocou Diana. A loirinha acomodou a bandeja no centro de frente para o sofá e caiu sobre o corpo da outra, procurando os lugares mais sensíveis de Natalia às cócegas tirando uma sequência de risos incontrolados da promotora.

- Para Di! Para, por favor, para amor!

            Diana se rendeu aos apelos da amada e cessou as cócegas prendendo Natalia em suas pernas.

- Eu não vou deixar você sair de perto de mim nunca mais Nat. Eu te amo muito mais do que eu calculava, está tudo tão claro para mim agora.

             Natalia entendeu a profundidade impressa naquela declaração e mesmo apreensiva quanto aos obstáculos que se levantariam contra elas para viverem aquele amor, a promotora deu sua resposta na forma de um beijo apaixonado e sussurrou ao afastar sua boca:

- Eu também te amo e quero ser sua pra sempre assim como te sinto minha agora.

            Aquela noite não podia ser maculada pelo peso imposto pelas circunstâncias que as separavam. Por isso, Natalia optou por não revelar naquele momento seu noivado equivocado e acidental com Eduarda. Adiaram o acerto dos detalhes práticos daquele recomeço de namoro, dando vazão ao desejo e a saudade de anos de distância. Amaram-se até o esgotar de suas energias e aninhadas no corpo uma da outra adormeceram.

            O despertar de Natalia pouco teve a ver com suas preocupações e sim com a necessidade de se certificar que aquela noite não fora um sonho. Acordar e sentir Diana lhe envolvendo com seus braços e a perna dela encaixada entre as suas não dissipou suas dúvidas, pensava consigo mesma: - “É muito bom pra ser verdade!” – Sentiu o perfume de Diana, beijou suas mãos e sorriu absorta naquele clima de encanto.

            A tentativa de se desvencilhar de Diana foi reprimida pela loirinha que disse com a sua voz grave de sono:

- Nem sob decreto você sai daqui doutora.

- “Não é sonho. É a voz do meu amor.” – Natalia pensou.

- Eu te disse que nunca mais ia deixar você sair de perto de mim.

            Diana concluiu sua recusa em liberar Natalia do seu aconchego.

- Meu amor, preciso ir ao banheiro... - Natalia disse segurando o riso.

- Espera eu acordar e vou com você. – Diana respondeu sem abrir os olhos.

- Mas é urgente...

- Coisa de gente idosa... Não consegue segurar né?

            O insulto jocoso de Diana despertou a revolta de Natalia que num movimento hábil girou seu corpo deixando a fotógrafa sob ela.

- Idosa é?

            Natalia provocou mordendo os lábios, roçando sua perna no sexo de Diana.

- Hum... Que velhinha saliente!

            Diana insistiu provocando.

- Eu vou te mostrar quem é a velhinha aqui!

            Atiçada pelo contato com o corpo de Diana, Natalia requebrou os quadris sobre a loirinha, sentindo em segundos a umidade ficar evidente entre os grandes lábios dela. A expressão de satisfação da morena se desenhou acendendo ainda mais a excitação de Diana que impôs mais força ao movimento da outra segurando sua cintura e remexendo-se no mesmo ritmo o que culminou com o orgasmo primeiro em Diana depois em Natalia.

- Que jeito maravilhoso de ser acordada meu amor...

            Diana disse acariciando os cabelos de Natalia recostada em seu peito.

- Podíamos fazer isso todos os dias né? – Natalia indagou.

- Você vai aguentar? Mesmo com incontinência urinária minha velhinha caipira?

            Diana brincou mais uma vez provocando Natalia que olhou indignada, apertando os olhos furiosa.

- Besta! Você é mais velha que eu!

- Mas não sou eu a que se cansa na primeira e que tem a bexiga baixa! – Diana se divertia provocando.

- Mas que droga! Quem disse que não consigo segurar? – Natalia se defendia.

- Consegue mesmo? Consegue?

- Claro!

            Habilmente Diana jogou seu corpo sobre o de Natalia e apelou: alcançou outra vez sua sensibilidade às cócegas para o desespero da outra:

- Di! Não! Isso é covardia! Ai Diana!

            Natalia berrava em meio a risadas.

- Di para! Não vou segurar! Para! Eu me rendo não consigo!

            O desespero de Natalia provocou o ataque de risos de Diana que desistiu do ataque mais por não conseguir parar de rir do que pra atender aos pedidos da morena que correu para o banheiro diante do vacilo da fotógrafa.

- Você me paga por essa viu?!

            Natalia disse ao retornar do banheiro.

- Tenho que providenciar uma corda...

            Diana disse abrindo espaço para Natalia abraça-la na cama.

- Corda? – Natalia questionou.

- É. Para amarrar você a mim. Assim você não pode se afastar muito, só por uma distância segura pra eu te puxar de volta imediatamente...

- Boba... Não precisa de corda pra me manter presa a você.

- Não?

- Não... Nem a distância de milhões de quilômetros foi suficiente para destruir o que me prende a você.

- É verdade... Tenho que voltar à Bahia, para renovar o trabalho que encomendei à mãe de santo... Pra te manter presa por mais alguns anos a mim...

- Trabalho? Sei...

- É, mandei amarrar seu nome na boca de uma sapa albina.

- Sapa albina? Na Bahia?

- Hurrum.

            Diana disse acenando em acordo.

- A sapa albina, teoricamente seria você então? – Natalia fingiu interesse.

- É, já que não tinha nenhuma loira...

- Entendi... Você pretende renovar esse “trabalho” por mais quantos anos? Só assim pra eu saber...

- Não muitos anos mais... Você já está com sinais de deterioração com essa senilidade precoce: fraqueza, incontinência...

            A expressão de ira de Natalia foi cômica, Diana não se conteve e caiu na gargalhada enquanto a morena embirrada cruzou os braços.

- Você fica ainda mais linda com esse bico sabia?

            Diana disse tentando desfazer a carranca de Natalia.

- Sabe o que eu acho doutora? Cara feia pra mim é fome! É esse seu problema?

            Natalia deu de ombros fingindo ignorar Diana.

- Tudo bem então... Vou preparar algo para o café, você não quer né?

- Espera... Eu ouvi você dizendo que vai preparar o café?

- Ouviu sim. Você quer ou não?

- Não sei...

- Prefere que eu te prepare um mingau de aveia minha velhinha?

            A expressão de Natalia anunciou uma reação violenta da garota, o que fez Diana saltar da cama, mas a pontaria da morena a alcançou com o travesseiro arremessado nas costas da loirinha.

- Ai!

            Diana apanhou o travesseiro e arremessou de volta, mas não acertou seu alvo, fato que fez Natalia gargalhar e lançar outro em seguida, dessa vez acertando em cheio o rosto da loirinha.

- Natalia! Isso machucou!

            Diana cobriu o rosto com as mãos preocupando Natalia que se encheu de culpa e correu para desculpar-se da loirinha cobrindo seu rosto de beijos e carinhos.

- Meu amor desculpe-me... Ai que desastrada que eu sou. Di me perdoe...

            Diana deixou-se ser paparicada por Natalia até nota-la desarmada para alcançar mais uma vez sua cintura atacando-a provocando cócegas mais uma vez. Caíram no chão naquela brincadeira infantil, até os olhos se encontrarem. Enxergaram a pureza que acreditavam ter sido perdida pelo tempo. Reconheceram a doçura que sobreviveu à amargura dos desencontros. Vislumbraram o que os caminhos tortuosos do destino tentaram ocultar: elas se pertenciam. Não se tratava de um título de propriedade, e sim uma afinidade que as conectava de tal forma que nem tempo e a distância e todas as ciladas armadas pela vida foi capaz de romper.

- Promete que nunca vai perder esse teu jeito de moleca? Promete não escondê-lo nunca mais de mim?

            Natalia inquiriu com voz mansa olhando Diana de maneira fascinada.

- Vai estar sempre aqui pra você, junto com seu jeitinho de caipira inocente.

- Acho que dessa caipira sobrou muito pouco Di.

- Engano seu. Ela está aí, a mesma menina do interior por qual me apaixonei. Eu vou te enxergar sempre assim. Mesmo que você um dia seja uma poderosa Ministra do Supremo Tribunal Federal implacável no cumprimento do seu dever, quem estará nos meus braços no final do dia, será a Natália, a minha caipira marrenta.

- Eu te amo Diana.
           
- Também te amo Nat.

            Trocaram um beijo calmo.
O som dos movimentos peristálticos de Diana despertou o riso de Natalia.

- Jura que tudo isso é fome?

- Ai Nat, eu não estou uma coroa acabada como você, mas também preciso repor minhas energias viu?

- Besta! Para com isso sua chata!

- Parei...

- Tudo bem sua bobona, vamos manter nossa divisão de tarefas: você na cama e eu na mesa... Vou preparar algo para nós.

            Natalia se deteve na procura por ingredientes para um café reforçado, sorrindo ao perceber que Diana mantivera o método de organização que a morena instituiu quando moravam juntas. Os potes separados por tamanho com seu conteúdo descrito em um rótulo etiquetado, prendedores protegendo embalagens abertas, sobras de pratos guardados em recipientes plásticos, tudo como uma mulher organizada fazia em sua cozinha, concluiu em pensamento: -“Ela nunca me deixou sair desse apartamento.”- Com um sorriso bobo a morena caprichou na refeição com uma satisfação plena de estar de novo em casa.

            Diana voltou para o conforto da sua cama, se deliciando com o perfume de Natalia nos lençóis e igualmente sorriu abobada, custando a crer que tudo aquilo não era mais uma fantasia ou delírio seu.  Lembrou-se de que no criado mudo ao lado da cama, guardava um porta-retratos com uma foto das duas da época da faculdade e com cuidado o posicionou em seu lugar de origem e ficou ali divagando em memórias e planos futuros com o coração repleto de expectativas felizes.

            O alarme da chegada de uma mensagem de texto no celular de Natalia sobre o móvel, ao lado da foto roubou a atenção da loirinha ao ver quase acidentalmente o remetente: Eduarda.
           
            Diana não resistiu à tentação, numa atitude furtiva sacou o aparelho e abriu a mensagem com uma foto anexa. Na imagem, Eduarda exibia uma aliança e no texto escreveu:
-“Pensou que eu não usaria também o símbolo do nosso compromisso? Está aí a prova! Quando eu retornar te prometo um noivado à nossa altura. Chegando agora a Miami, mais tarde te ligo beijos, te amo noiva.”.

            Diana ficou estarrecida com aquela informação. Por um momento acreditou que seu sonho se transformara em pesadelo, que sua fantasia era tão frágil como um castelo de areia que no primeiro sopro desabou sobre sua vulnerável felicidade.

            Ao ouvir a voz de Natalia se aproximando Diana guardou o celular sob os lençóis e abriu espaço para a morena sentar-se e acomodar a bandeja delicadamente enfeitada e repleta de itens.

- Não acreditei quando vi tanta coisa na sua despensa e geladeira e comida de gente de verdade! - Natalia brincou.

- Fiz uma lista e pedi a faxineira que comprasse tudo. – Diana comentou apática.

- Iogurte com granola primeiro? Acertei?

- Hurrum.

            Diana ficou atenta à mão direita de Natalia quando esta a serviu e para seu desgosto e decepção incalculável atestou suas suspeitas. O anel exatamente igual ao da foto de Eduarda estava devidamente encaixado no anelar da promotora.

            Diante de tal confirmação Diana sequer teve disposição para receber o pote que Natalia lhe oferecia. Baixou os olhos marejados, alcançou o celular por baixo dos lençóis e o colocou em cima da bandeja com a foto enviada por Eduarda estampada no display e disse antes de se levantar:

- Bonito anel doutora Ferronato. Parabéns pelo noivado.

8 comentários:

  1. E agora??? como será resolvido esse impasse?
    Claro q depois dessa noite maravilhosa viria a bomba né colega Mel..,rsrs.
    Mas novamente é lindo ver como vc conseguiu criar uma dupla de protagonistas com tamanha química...cumplicidade,as vezes dá a impressão q estamos ali dentro da cena,o q ao invés disso estamos assistindo um filme de tão real que parece.
    Bem,ansiosa pra ver como a Nat vai explicar isso para a Di...e ver como a Di vai reagir essa explicação...na verdade já não começou be,mas...
    Aguardar até quinta vai ser um sofrimento,mas q está valendo a cada cap.

    Bjos Mel!
    Val!!!!

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    1. Ai Valzinha muito obrigada por suas palavras de carinho e incentivo. Sobre seu coment anterior, Adele e eu combinamos tudo...kkkkkkkkkkkkk mando algumas letras pra ela musicar kkkkkkkkkkk #meldelira#
      Minha intenção em encher de detalhes é justamente levar vocês à cena (sem conotação pornográfica ok?kkkkkkk), mas aí tem que ter uma imaginação boa como a de vocês pra que isso aconteça! Viva a nós!rsrs
      Bjos

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  2. Eita,e agora mãinha?Acho que Di tava certo sobre renovar o trabalho com os orixás..vai ter q fazer uma oferenda das brabas dps q td se resolva!!
    Quase sofri um ataque qndo Nat foi ao aeroporto conversar com Duda,primeiro: Tadinha de Duda,traída de novo.. segundo:Nat n conseguiu falar e nem dava pra falar assim né..tenso,complicado e mt triste..
    Mas vamos falar da parte boa..que isso Mel,como vc consegue descrever uma cena assim..nossa,coisa mais linda e gostosa de se ler.Nao tem como n se encantar com o amor delas,a energia q flui entre elas e q faz a gente sentir tb..em cada olhar,cada gesto.Vc se supera a cada día,a cada cap,cada estória,conto,etc..
    Bom,vou deixar de xoriçada e dizer q to louca pra q chegue quinta pra saber o q vai passar entre a dupla mais incrível!!
    Bjos

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  3. Mel pensei que vc fosse me matar qdo a Nat foi p o aeroporto,pensei q mais uma vez ela iria dxar a Di a ver navios,rsrsrs...ainda bem q nao. mas e agora o que sera q Nat vai dizer?!meu Deus, qdo a gnt acha q elas vao se acertar mais uma vez vem o destino "ah destino", rs..nao é uma situação facil de se resolver mas a Nat tem q contar td a verdade p Di e ela tem q entender p poder decidir juntas o destino delas, ai mel seja boazinha deixa q elas fiquem juntas,rsrsrs...Mel cada cap. eu te admiro mais e mais, nao tenho palavras p descrever o qto vc escreve , vc tem uma sensibilidade fora do comum p descrever cada cena, olhar, toque, sentimentos esses q une essas protagonistas maravilhosas e lindas, q cada dia aprencemos a gostar e a torcer por elas, é td com uma naturalidade q so vc msm tem e sabe, e como disse a valdineide: a impressao d q estamos la presenciando a cena, de tao real q é o momento. espero q seja td esclarecido entre elas e q mais uma vez o amor q as une supere mais uma do destino. Ate quinta por mais um cap. Bjao e até lá.

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  4. Ainn Melzinha... Depois dessa noite perfeita tinha q acontecer algo neah pra essas duas "brigarem"? Aff... maais conntinuua.

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  5. Que maldade com as duas...Tomara que Natália explique tudo pra Diana....Mel parabéns!!!

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  6. É tão fofinho Di e Nat juntas, com certeza elas irão conversar, deixando tudo claro entre elas.

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  7. Só espero que a Diana espere pela explicação da Nat.....

    Mel tá show!!!!!!!!

    bjs

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