sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Leis do destino - Capítulo 4

CAPÍTULO 4: INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO - Error in judicando

*Erro no julgamento, quando o juiz valora juridicamente um fato de forma errônea ou aplica de maneira equivocada o direito, tal erro contamina a sentença comprometendo sua eficácia e validade.

Por Têmis

Natália voltou à sala, dessa vez acompanhada de Diana, que arrancou a foto das mãos de um aluno sentado próximo a porta. Olhou a foto por alguns segundos, enquanto Natália se acomodava agora, na última cadeira. Diana rasgou a foto, jogou no lixo e saiu entre as filas recolhendo as demais cópias. Alguns alunos ofereceram resistência a entregar as fotos, mas Diana com sua atitude firme, franzia a testa, intimidando os calouros, recolheu todas as cópias que circulavam.

Um dos estudantes mais prepotentes indagou:

-- O que você vai fazer com as outras fotos espalhadas pelo campus, loirinha? Por que essas fotos estão em todos os andares, sem falar que são apenas cópias.

-- Eu não farei nada... Mas quem está espalhando as fotos, e quem fez as cópias terá que fazer algo, se não quiser ser processado por uso indevido de imagem, e banido da Álibi, nem o centro acadêmico, nem os meninos da república apóiam esse tipo de prática, quem for pego distribuindo, olhando, comentando essas fotos, nunca mais participará das festas que eu produzo, ou seja, as melhores.

-- Você é o que? Policial? Detetive? Como vai descobrir quem fez as fotos?

-- Quem fez as fotos não sei se consigo descobrir, mas quem revelou o filme, com certeza descubro.

Sarcástico o garoto abusado perguntou:

-- Posso saber como? Você é vidente por acaso?

-- Não Manézão, está vendo esse selinho no canto da foto? É a marca da loja que fez a revelação, fica a poucas quadras daqui, de foto eu entendo, e sou a principal cliente dessa loja, descubro fácil quem foi lá revelar esse filme.

O prepotente rapaz empalideceu. Ficou desconcertado, sentou-se mudo. De repente o silêncio tomou de conta da sala de aula, só Diana permanecia de pé, com o maço de fotos na mão.

O silêncio não aconteceu a toa, se fez com a entrada da doutora Dorothea Gonçalves, juíza aposentada, uma das catedráticas do curso de direito da USP. Professora titular da disciplina de Introdução ao Estudo do Direito. A obesidade da professora, e as bochechas avantajadas excessivamente rosadas, e seu cabelo preso em um coque, justificavam o apelido dado por Diana. Natália, mesmo tensa pelas circunstâncias, não conteve o riso ao se lembrar disso.

Dorothea se aproximou de Diana que já se preparava para o primeiro embate do semestre com a professora, quando esta, tomou de suas mãos uma das fotos. A professora acenou a cabeça reprovando o que via, olhou em volta, identificando a modelo da fotografia no canto da sala.

-- Por que não me surpreende reencontrar você no centro de mais uma confusão Diana Toledo Campos? Ouvi pelos corredores sobre uma caloura eleita o “cristo” do semestre, e olha quem eu encontro como crucificadora!

-- Talvez não se surpreenda meritíssima, pelo fato da senhora estar habituada a me condenar sumariamente, o que é completamente absurdo considerando seu histórico de comprometimento com a justiça já que a prática de condenação sumária vai de encontro aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório sequer existe!

-- Olha só quem finalmente aprendeu algum conteúdo do curso de direito! Afinal de contas, cursar minha disciplina cinco vezes deve ter valido alguma coisa.

-- Valeu sim, para mudar meus conceitos sobre ética e docência.

As bochechas rosadas da experiente professora se arroxearam.

-- Eu não admito que você me ofenda na minha sala de aula Diana!

-- Ora meritíssima, em que momento a ofendi?

Diana tinha o poder de provocar sem esforço a ira de Dorothea, que normalmente era uma referência de auto-controle e sensatez. A professora respirou fundo, desviou seu olhar para Natália, que assistia o prometido embate entre Dorothea e Diana de olhos esbugalhados.

-- E você menina? Não vai fazer nada para defender sua imagem? Você sabe que pode fazer uma queixa oficial na chefia de departamento do curso? A responsável por isso pode ser punida.

Natália empalideceu, com a voz trêmula, titubeou para falar, mas quando o fez, foi categórica:

-- Não posso condenar alguém sem provas professora, não sei quem foi responsável por isso.

Natália não percebeu que sua declaração a colocava precocemente na linha de fogo entre Dorothea e Diana, e pior para uma caloura, naquele contexto, acabara de tomar partido a favor da loirinha veterana.

Diana esperou o final da aula para entregar as fotos a Natália:

-- Elas te pertencem, seja esperta e vê se ganha algum dinheiro com elas...

Natalia estreitou os olhos, furiosa. Diana sorriu da reação da novata.

-- Relaxa caipira! Estou te zuando!

Natalia guardou o calhamaço de fotos e agradeceu:

-- Obrigada pelo que fez, eu não estava sabendo lidar com a situação... E quase se prejudicou com a professora por causa disso...

-- Você se acha mesmo importante né caipira? Estou prejudicada com a Madimbú há pelos menos três vidas, não foi por sua causa não o piti dela. Ela me culpa pelo buraco na camada de ozônio,pela fome da África, pelo desentendimento de judeus e palestinos...

Natália sorriu.

-- Mesmo assim, obrigada, por recolher as fotos...

-- Ah isso também não foi por sua causa caipira! Foi para defender a fotografia. Fotografia é minha paixão, e não admito que ela seja usada para fins como esses.

Natália balançou a cabeça negativamente.

-- Você é uma figura...

-- Sou mesmo! E ah, só uma coisa.

Tirou uma cópia da foto de Natália de dentro da mochila.

-- Essa eu vou guardar pra mim, quem sabe possa ser usada contra você no tribunal!

Piscou o olho, e saiu pelos corredores em cima do seu skate, deixando Natália sem ação e sem uma opinião formada sobre aquela loirinha intrigante e surpreendente.

Aconteceu você

CAPÍTULO 3: PÉ NA ESTRADA



Nem me dei conta da decisão que acabara de tomar, mas nem todas as decisões que tomei na vida com toda cautela resultaram em sucesso para mim, não tinha nada a perder mesmo, então era hora de colocar o pé na estrada, rumo à Nova Esperança, o nome da cidade afinal podia representar um sinal para mim, era disso que eu precisava.

Apesar dos protestos infindos de minhas super amigas, arrumei minhas coisas o mais rápido que pude e em uma semana estava com minhas malas no carro, partindo para o interior e para uma vida nova também em Nova Esperança.

Depois de dirigir por cerca de cinco horas, cheguei enfim a meu novo endereço. Como eu esperava, pouca coisa havia mudado desde minha última visita. Nova Esperança era uma cidade pacata, pela forte presença de imigrantes europeus, as casas tinham uma arquitetura clássica, que lembrava o estilo holandês, com casas estreitas e com dois andares no mínimo, dando um charme especial naquela atmosfera de clima ameno e povo tranqüilo caminhando pelas ruas, caracterizando o cenário bucólico de minha infância.

Como orientada pelo Daniel, segui para o prédio da secretaria de cultura, onde ele trabalhava. Na verdade não era um prédio, era uma casa antiga, com um grande jardim à sua frente, varanda espaçosa, localizada no fim da rua central da cidade. Logicamente a chegada de alguém “estrangeiro” à cidade chamou a atenção dos funcionários da secretaria de cultura, ao me dirigir à senhora alva de olhos verdes, sentada atrás de uma mesa, já senti o que me esperava ali:

-- Bom dia, eu gostaria de falar com o Senhor Secretário, Daniel Rosembaur.

-- Bom dia, quem é você?

Meio surpresa com a “sutil” curiosidade da mulher que eu julgava ser a secretária do Daniel, fiquei sem graça, mas, respondi:

-- Alexandra Castro, uma amiga.

-- Então é você!

A senhora levantou-se imediatamente da cadeira, abraçando-me como se recebesse uma velha conhecida, em seguida berrou:

-- Dandan meu filho, a Alex chegou! Desculpe Alexandra, mas você está com fome, deve estar cansada da viagem, perdoe-me devia ter adivinhado que era você, mas só esperávamos sua chegada para a segunda-feira.

Constrangida com a repentina intimidade demonstrada pela mulher, eu apenas sorri enquanto reconhecia o Daniel saindo de uma sala com um sorriso largo e os braços abertos em minha direção:

-- Sardenta!

Daniel estava bem diferente do que eu me lembrava, desde nosso reencontro há cinco anos. O jovem franzino e alto, deu lugar a um homem de músculos mais definidos, e o óculos elegante deu-lhe um ar intelectual, a pele clara, os olhos azuis e os cabelos com poucos fios brancos, transformou-o num homem bonito e atraente, bem parecido com um galã de cinema europeu. Abraçou-me com a saudade sincera de um amigo verdadeiro, aquele acolhimento para mim gerou em mim o sentimento que tinha tomado a decisão certa em aceitar o convite.

-- Fez boa viagem Alex?

-- Sim amigo, fiz, obrigada.

-- Berta vou levar Alex para se acomodar, está tudo pronto lá?

-- Está sim Dandan, tudo como você pediu. Espero que você goste Alex.

-- Obrigada. -- respondi ainda tímida.

Daniel me conduziu até a casa que preparara para me instalar. Um agradável sobrado a algumas ruas dali. Os tijolos vermelhos, e as janelas brancas já conquistaram minha simpatia, esbocei um sorriso quando meu amigo apresentou-me a minha nova residência:

-- Espero que você goste Alex da sua nova casa.

-- Tenho certeza que vou gostar Dandan.

Daniel foi me ajudando com as malas e entramos no sobrado. Decoração caprichada, e uma sala de visitas após um rol de entrada equipado com sofás quadriculados, e uma poltrona aconchegante perto de uma lareira. Ao lado um pequeno corredor que dava acesso a uma sala de jantar conjugada com a cozinha, na lateral uma porta que dava acesso a um lavabo. Depois da cozinha outra porta separando do que seria uma área de serviço que era praticamente o tamanho do meu apartamento inteiro na cidade. O quintal ainda abrigava uma mesa e bancos de madeira debaixo de uma mangueira frondosa. No primeiro andar, meu quarto, espaçoso, com um banheiro enorme, provido com uma banheira com formato clássico, antigo, as cortininhas do box davam o charme. No sótão, Daniel montou um pequeno escritório, o que achei um gesto a mais de carinho, a vista do sótão era linda, minha mesa ele posicionou diante da janela que me mostrava à paisagem de um dos lagos da cidade, cercado por árvores altas e vistosas.

-- Dandan está tudo mais que perfeito!

-- Ah sardenta! Que bom que você gostou! Berta fez algumas compras para você, mas como não conhecíamos seu gosto não compramos muita coisa, mas ao menos café eu lembrava que você gosta, que tal tomarmos um agora para colocarmos o papo em dia? Eu mesmo faço enquanto você toma um banho, deve estar cansada depois de dirigir por tanto tempo.

-- ”tima sugestão Dandan.

Meu banho foi demorado, ao descer encontrei uma mesa posta, além do café, Daniel preparou panquecas, e as recheou com geléia:

-- Que homem prendado meu Deus! Quer casar comigo?

Daniel sorriu e puxou a cadeira para eu me sentar como um perfeito cavalheiro. Depois de escutar o que acontecera comigo, ele tratou de me animar, explanando quais seus planos para o jornal:

-- Alex, minha pretensão é realizar algo diferenciado. Não é só uma publicação interiorana falando das notícias da cidade e da região, quero fazer desse jornal um espaço de cultura e arte, por isso quero que integre a participação das escolas, e da nossa universidade.

-- Acho uma proposta inovadora e desafiadora amigo, e estou animada para começar. Quero me reunir com a equipe o quanto antes, e começarmos com todo gás para publicar o primeiro número rapidamente.

-- ”timo! Preciso de uma edição piloto para o final da próxima semana, para articular patrocinador.

-- O quê! Próxima semana? Está louco?

-- Seu primeiro desafio amiga... Vou reunir a sua equipe e hoje no final da tarde você já os conhecerá.

O café delicioso e as panquecas preparadas desceram amargos, tamanha foi minha preocupação com o prazo que meu novo chefe acabara de me dar. Como combinado no final da tarde, cheguei à secretaria de cultura para conhecer minha equipe. Berta já foi me avisando:

-- Estão na sala do Dandan querida, pode entrar, esperam só por você.

Ao entrar na sala, deparei-me com quatro pessoas e o Daniel, cordialmente cumprimentei a todos depois que meu amigo me apresentou, sentei-me em volta da mesa ali disposta e perguntei:

-- Então, os outros demoram a chegar para iniciarmos a reunião?

-- Outros? Que outros Alex? – Indagou Daniel.

-- O resto da equipe Daniel.

Daniel sorriu, fez uma careta e respondeu:

-- Querida, esta é toda sua equipe.

Arregalei os olhos e pelo susto acabei derramando o copo d’água em cima dos papéis sobre a mesa.

-- Essa é Fernanda, vai trabalhar como repórter. Artur nosso fotógrafo. Luiza, diagramadora e revisora e o Marcos que vai te ajudar na edição, pesquisa, e em tudo mais que for preciso, é nosso estagiário.

-- Mas Daniel, só um repórter?

-- Não se preocupe Alexandra, nessa cidade não acontece muita coisa, eu dou conta. -- Disse Fernanda sorrindo para mim.

Todos da minha grande equipe pareciam animados, e nem um pouco assustados, isso de certa forma me motivou. Definimos uma pauta para nossa edição piloto, já que a cidade se preparava para comemorar a semana do município, nossa edição especial ia retratar toda história, além de enfatizar seu desenvolvimento e prospecções. De acordo com a pretensão do meu chefe e amigo, sugeri que fosse feito na semana um concurso de redações no ensino fundamental e médio nas escolas públicas sobre a cidade, poesias talvez, para publicarmos.

Já à noite concluímos nossa primeira reunião. Daniel me esperava na porta da secretaria com um convite:

-- Alex, hoje é sexta-feira, ninguém merece passar uma noite de sexta em casa...

-- Qual a programação?

-- Aqui não tem muitas opções, então, vou te apresentar a melhor de hoje, vamos?

-- Sim vamos!

Sociedade Secreta Lesbos: Capítulo 34

Capítulo 34



Antes de o sol nascer, Esther chegou à mansão Gama-Tau. Ao abrir a porta se deparou com Amy dormindo no sofá da sala, com telefone celular na mão. Comoveu-se profundamente ao ver aquilo, e se aproximou da loirinha com todo carinho e beijou-lhe a face, despertando-a do sono:

-- Esther! Onde você estava? Liguei pra você a noite toda, não me atendeu, não me deu uma notícia eu estava preocupada! Não ouvi sua moto...

-- Calma, Amy, está tudo bem...

Amy levantou-se e viu pela janela o Mercedes estacionado, e mais acordada com o sol já surgindo, viu os hematomas no pescoço de Esther, os seus lábios com marcas de mordidas. Retrucou tomada de ciúme:

-- De quem é esse carro, Esther Gonzalez? E essas marcas? Quem era a vadia que você passou a noite?

Os olhos doces de Amy transformaram-se em poços de raiva, faiscavam olhando para Esther, que já estava exausta pela noite de humilhação e tortura física e psicológica que tivera. Não teve energia para discutir com Amy, o que ela desejava era o colo da loirinha, mas naquela situação isso era totalmente impossível, e o pior de tudo: não poderia dizer nada para se defender, afinal, não tinha defesa para aquilo. Respirou fundo e disse:

-- Amy... Estou cansada, melhor conversarmos depois, vou subir.

-- Como assim, Esther? Você chega nesse estado, essa hora, depois de me tratar com grosseria quando ofereci ajuda, não me dá nenhuma explicação depois de passar a noite sem atender meus telefonemas e diz simplesmente isso?

Nessa altura o tom de voz da loirinha já era exaltado, desgastando ainda mais Esther e acordando as meninas do primeiro andar da casa. Lindsay, uma das novatas, teve a sensatez de chamar Rachel ao perceber o rumo da discussão do casal.

-- Esther, você me deve explicações!

-- Amy... Por favor... Não quero ser grossa com você, me deixa subir, descansar, depois conversamos...

-- Não! Quero ouvir, agora!

-- Você quer saber? Então, ótimo, você pediu... Eu dei... Dei meu corpo em troca da liberdade de meu avô, estou sim toda machucada, porque enquanto você tem dinheiro, influência e ganha carro de presente, eu só tenho esse corpo pra conseguir o que quero... Então, menininha mimada, me poupe desse ataquezinho de ciúme...

Nesse momento, Amy ficou estática, não sabia sequer o que perguntar primeiro, ou se ao menos queria perguntar algo, temia as respostas. Providencialmente Rachel chegou e levou Esther para seu quarto. Ellen já estava descendo as escadas e ouviu a declaração da presidente da fraternidade, foi em direção a Amy e disse baixinho:

-- Venha, Amy, você precisa descansar; vou te acompanhar até seu quarto.

Amy foi levada por Ellen sem questionar, parecia anestesiada, não esboçou nenhuma reação, mas as lágrimas correram fáceis. No seu quarto, Ellen aproveitou-se da vulnerabilidade da loirinha, e o fato de estar a sós com ela, e deitou-a no seu colo, permaneceu ali acariciando seus cabelos, sem nada dizer por algum tempo até enfim comentar:

-- Não ligue para esses chiliques da Esther, ela é assim mesmo, Amy... Sempre teve umas saídas misteriosas, não se apega a ninguém. Não crie expectativas com ela, Esther usa e depois descarta, sempre foi assim. Aqui mesmo na fraternidade, você acha que foi a única que se encantou com ela? Que foi a única que foi pra cama com ela?

Amy levantou a cabeça e olhou indignada para Ellen:

-- Você não conhece a Esther... Obrigada pela atenção, mas me deixa sozinha, por favor, Ellen.

-- Mas Amy...
-- Ellen, por favor...

A veterana então saiu do quarto de Amy insatisfeita por a loirinha não ter se rendido ao veneno dela contra Esther. Ao abrir a porta deu de cara com Laurel ainda de pijama à procura de Amy. A discussão do casal virou fofoca pela mansão, a ruiva logo se preocupou com a amiga.

-- Amy? Posso entrar?

-- Sim, Laurel.

-- Posso ajudar? Ouvi alguns boatos pela casa, quer conversar?

-- Laurel, nem sei o que dizer... Estou tão perdida... Magoada...

A loirinha caiu no pranto, Laurel impulsivamente correu para abraçá-la e tentar acalmá-la. Ouviu a versão inteira dos fatos por Amy, e foi bem mais compassiva com Esther. Apesar de não conhecer o teor de sua relação com a suposta mulher misteriosa, sabia que tinha algo de muito estranho nisso.

-- Amy, me escute... Entendo sua mágoa, e o porquê você exigir explicações de Esther... Mas acredite, ela nunca se permitiu um relacionamento como está tendo com você, sempre foi conhecida por ficar com muitas meninas. Mas desde que você entrou aqui, isso mudou... Esther de fato é muito misteriosa, para toda a fraternidade, mas acredito no sentimento dela por você.

-- Laurel, como posso acreditar nesse sentimento, se eu não sei de nada da vida dela? Você não viu o estado que ela estava, cheia de chupões, mordidas... Eu amo aquele corpo... Me dói imaginar alguém usando-o em troca de favores... Ainda mais quando eu ofereci ajuda sem nada em troca, ela não precisava se submeter a isso!

Laurel segurou a mão de Amy e disse mansamente:

-- Amy... Se você a ama de fato, terá que descobrir uma forma da Esther confiar em você. Não será tarefa fácil... E um conselho que te dou mais uma vez, cuidado com a Ellen... Ela sim, não merece nenhuma confiança.

No quarto de Esther, Rachel preparou a banheira e ajudou a amiga no banho. Separou algumas ervas e unguentos que o avô da morena preparava para machucados. Doeu ver a amiga naquele estado. As pernas sempre tão vistosas estavam marcadas pelas chicoteadas. As marcas das algemas nos pulsos de Esther estavam arroxeadas, mas o que mais doía, era ver nos olhos claros da morena, a escuridão. Esther chorava em silêncio, enquanto Rachel ia derramando os preparados pelo seu corpo submerso na banheira.

Já na sua cama, envolta apenas numa camiseta leve, Rachel indagou:

-- Esther, você quer me dizer algo?

-- Rachel... Meu avô foi preso pela imigração, tive que... Apelar pra Michelle... Certamente foi ela a responsável pela prisão dele... Me usou de todas as formas, ela e três amigas... Rachel...ela é tão cruel... Saí fugida de lá, ela escondeu as chaves da moto... E quando chego aqui encontro Amy tão linda me esperando... Foi um bálsamo, sabe? Aí ela me cobra explicações, tem uma crise de ciúmes... Não aguentei.

-- Esther... Amy nem podia sonhar o que aconteceu com você, ela passou a noite toda esperando, te ligando, preocupada com você, com seu avô... Desci várias vezes a noite e ela estava lá andando de um lado pro outro, eu mesma te liguei deduzindo que você estava com Michelle, enfim... Ela está apaixonada, Esther, você conseguiu o que queria... Então, crise de ciúmes e preocupação com quem a gente ama é perfeitamente normal... Você deve entendê-la.

Esther calou-se e ficou pensativa acerca das coisas que acabara de ouvir da amiga. Deitou-se e deixou o esgotamento dar lugar ao sono, e a ele se entregou. O mesmo aconteceu a Amy.