terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE - Capítulo 26

2.26 Est modus in rebus
Há um limite nas coisas. Frase com que Horácio aconselha a moderação em tudo. 


            Diana se despediu de Daniela ainda no aeroporto, agradecendo a amiga pelo apoio e ajuda sem preço naquela situação:

-- Dani eu não tenho palavras para te agradecer pelo que fez hoje por mim...

-- Ah tudo bem, foi até divertido.

-- E quanto à lição de moral que você veio me dar... Sinta-se à vontade, eu sei que mereço.

-- Ah sim, você merece sim! Mas...

--Mas?

-- Vai ficar para outra oportunidade. Foi divertida nossa aventura como dupla dinâmica, mas estou exausta e você deve estar também. E além do mais... Tem gente que precisa mais de você nessa noite do que eu.


            Daniela apontou com os olhos Natalia sentada em um banco. A promotora parecia distante, apática à movimentação intensa no final da noite em Nova Iorque.


-- Quando vejo esse hematoma no rosto lindo da Natalia, me sobe um ódio daquela loira azeda! - Diana cerrou os punhos no ar trincando os dentes.


-- A Eduarda estava surtada Diana... Um perigo a bonitinha aí correu viu?


-- Nem me fale... Sinto uma angústia no peito só de imaginar algo de ruim acontecendo a Natalia.


            Diana falou disfarçando a voz embargada, comovendo a amiga.


-- Diana, eu ainda não me conformo pelo que você fez à Rosana, mas, eu entendo e acredito que você ame a Natalia de verdade.


-- Amo Dani. Sempre amei. Desde que ela entrou na minha vida eu sabia que a amaria pra sempre, nunca a esqueci, no fundo sempre guardei a esperança de tê-la de novo, não podia deixa-la sair da minha vida quando a reencontrei Dani.


-- Se é assim... Só posso torcer pra que agora nada mais separe vocês. Especialmente porque, é uma concorrente de peso a menos para mim, com você amarrada assim!


            Diana sorriu e abraçou a amiga em seguida.

-- Bom, já que você está por aqui, vai amanhã para a festa na galeria?


-- Festa?

-- A Liza está promovendo uma festinha de divulgação da galeria, você está entre os artistas que serão como vou dizer: homenageados, mas, como ela não teve tempo de te falar com a confusão que foi o final do show da Rosana...


-- Não estava sabendo de nada. Mas, acho que a Liza vai entender se eu não comparecer não é? Preciso voltar ao Brasil o mais rápido possível, além do mais a Rosana pode estar lá...


-- Diana a Rosana está em Los Angeles, tem show amanhã lá. Além do mais, sua fofinha aí sofreu um abalo grande não é? Por que não aproveitar o fim de semana aqui com ela, além do mais, é uma oportunidade de apresenta-la aos seus amigos, e todo mundo está com saudades de você.


-- Depende de como a Nat estiver, tudo bem?


            Daniela acenou em acordo, se despediu de Natalia educadamente e tomou o primeiro táxi da fila.


-- Meu amor? Vamos?


            Diana estendeu a mão para Natalia, que visivelmente abalada encarou a loirinha com seu olhar sincero representando a janela para sua alma naquele momento machucada, assim como seu corpo.

            Conhecendo Natalia como poucas pessoas, Diana sabia que os olhos da sua amada clamavam por cuidado, e isso, a fotógrafa estava disposta a dar da forma mais delicada e amorosa possível. Assim, Diana acenou com a mão chamando Natalia para mais perto dela e abraçou com ternura, beijando seus cabelos, sua testa e disse:


-- Se eu pudesse estaria sofrendo no seu lugar agora meu amor... Como não posso arrancar esse trauma que está te ferindo, eu quero que você saiba que eu vou passar minha vida dando tudo de mim pra te proteger, te mimar, te amar.


            Natalia sorriu com a dimensão permitida naquela circunstância, recostando sua cabeça no peito de Diana, acolhendo o carinho que a loirinha transmitia naquele gesto e naquelas palavras.


-- Vamos pra casa?


            Natalia acenou em acordo e Diana esclareceu:


-- Fechei nossa conta no hotel, vamos para meu apartamento. Tudo bem?


-- Mas e a Rosana?


-- Ela saiu do apartamento no mesmo dia em que conversamos. Nem está aqui em Nova Iorque. Dani acabou de me dizer que ela está em Los Angeles.


-- Então tudo bem.


            Naquela noite, Diana não poupou esforço para cercar Natalia de mimos e atenção. Frágil como estava, a promotora se rendeu facilmente ao zelo que a fotógrafa imprimiu em cada movimento direcionado a Natalia. Diana não permitiu que a morena se esforçasse nem mesmo para despir-se, sem qualquer menção libidinosa, retirou cada peça de roupa da namorada com delicadeza, preparou seu banho com o capricho entendido por Natalia como mais uma manifestação tenra, até mesmo as fragrâncias escolhidas por Diana propiciaram na morena a sensação de conforto para suas dores e os resquícios das memórias recentes.


           
            A pouca luz na sala espaçosa do apartamento de Diana com vista para o Central Park abrigava também um sofá aconchegante, no qual, a loirinha acomodou Natalia em seu colo depois de servir uma refeição leve.


-- Como você está sentindo meu amor? – Diana perguntou afagando os cabelos ainda úmidos de Natalia.


-- Um pouco perplexa ainda com a pessoa que me agrediu naquele quarto.


-- Eu também fiquei surpresa com a reação dela, sabia que ela não era grande coisa, mas não uma psicótica.


-- Aquela não era a Eduarda que conheci Di.


-- Tudo bem, vamos dar um desconto, ela perdeu o pai, a mulher que ama... Perder você não é mesmo fácil de enfrentar. Não a culpo por ter enlouquecido, eu quase enlouqueci sem você também.


-- Eu tive medo, tanto medo Di... Tanto que não conseguia me mover, foi como se minhas forças faltassem... Eu não sou assim tão frágil... Depois daquele pesadelo que vivi com o Sandro, decidi assumir outra postura, fiz aula de defesa pessoal, artes marciais, tudo para não me sentir tão impotente e indefesa, mas hoje eu fui surpreendida por essa vulnerabilidade... Se você não tivesse aparecido...


            Natalia pausou quando aquela hipótese fez ressurgir seu pânico.


-- Nat, não se condene por isso, não tenho nenhuma dúvida da coragem e da força que você tem.


            Diana se curvou para beijar o rosto da morena, que se rendeu ao carinho da sua amada, deixando que um sorriso pacificasse sua angústia. E foi naquele carinho que Natalia se aninhou para se entregar ao sono. Diana por sua vez, ainda sobressaltada com os fatos ocorridos naquele dia, não conseguiu dormir, preocupou-se apenas em velar o sono da promotora, que mais de uma vez parecia ter pesadelos com movimentos bruscos, assustados, os quais foram amavelmente acalmados por Diana.


            No dia seguinte a missão de Diana era fazer Natalia relaxar como uma turista em uma das maiores metrópoles do mundo. Para tanto, a loirinha usou de todo seu humor para mostrar a sua namorada alguns atrativos turísticos mais próximos ao seu apartamento, não dispensou o tradicional passeio de charrete e as guloseimas dos ambulantes.

            Natalia já estava visivelmente mais tranquila, se derretendo com os mimos de Diana, e pela primeira vez, se permitindo andar de mãos dadas com uma mulher com a naturalidade que ela nunca supunha desfrutar. Depois de almoçarem Diana levou Natalia até o memorial inaugurado em homenagens às vítimas do ataque de 11 de setembro, exibiu seu trabalho o qual emocionou a promotora. Antes de seguirem com seu passeio turístico, Diana parou para atender uma ligação depois explicou:


-- Meu amor era a Liza no telefone, querendo confirmar minha presença em uma recepção que ela está promovendo essa noite na galeria dela. Sou uma das principais expositoras lá, então ela faz questão da minha presença, já que estou na cidade.


-- Se você precisa mesmo ir, tudo bem meu amor.


-- Eu não preciso ir, só seria de bom tom que eu fosse. A Galaxy’s foi a galeria que mais apoiou meu trabalho, a Liza apostou no meu talento, e é uma grande amiga. E eu gostaria de ir sim, mas desde que você fosse comigo. Seria uma oportunidade de você conhecer meus melhores amigos aqui, conhecer um pouco do meu universo, das minhas fotos... Enfim, mas se você não estiver bem, nem se sentir à vontade com isso ficamos em casa namorando e depois de amanhã partimos pro Brasil e esse encontro fica para outra vez.


            Natalia ficou pensativa e tímida comentou:


-- Não gostaria de aparecer para seus amigos e para essas pessoas importantes do seu meio pela primeira vez assim com esse olho roxo...


-- Se o problema for esse meu amor, não se preocupe, tenho um maquiador sensacional que mora no mesmo prédio que eu. Trabalha nos filmes de Hollywood, disfarçar isso aí vai ser fichinha pra ele.


-- Seus amigos são amigos da Rosana também não é? Devem me odiar...


-- Nat... A Daniela me ajudou a te tirar daquela casa ontem. Eles são meus amigos, querem minha felicidade e vão ver o quanto estou feliz ao seu lado, assim como a Dani viu, ela mesma sugeriu que eu fosse com você hoje.


-- Então vamos.


            Com a devida produção para a ocasião, o casal chegou à galeria repleta de artistas e convidados naquela noite. Liza foi imediatamente recepcionar a amiga:


-- Diana que bom que você pode vir! Essa galeria se orgulha muito de ter você na nossa história. Essa deve ser a Natalia, como vai querida?


-- Muito bem agora, obrigada. Muito prazer em conhecê-la.


-- Elizabeth Kramer, mas pode me chamar de Liza.


            Natalia arranhava no seu inglês com alguma dificuldade, mas Liza foi educada como a sua função exigia, além da sua amizade por Diana.


            Primeiramente Diana cumprimentou os amigos de sempre: Dani, Marco e Gerard, que acolheram Natalia com simpatia, desarmando a moça do medo de ser hostilizada.


            Apesar da discrição exigida pela situação delas, Diana não se afastou de Natalia em nenhum momento, compreendendo que aquele universo era completamente estranho à promotora.


            A Galaxy’s além de ser muito bem conceituada por seu retrospecto vitorioso de grandes exposições e de lançar vários artistas, também tinha a tradição de privilegiar temas e artistas polêmicos. Assim, alguns convidados daquela festa eram figuras excêntricas não só na sua arte, mas também no jeito de vestir e comportar-se, isso dava à recepção um toque a mais no cenário atípico para Natalia.


            Tal fato ficava ainda mais evidente quando as tais personalidades sinônimo de excentricidade cumprimentavam Diana. Natalia pouco entendia do diálogo deles, ficando um pouco deslocada nas rodas nas quais todos gargalhavam. Alheia aos assuntos nas conversas entre Diana e os seus amigos, pouco se esforçou para compreender palavras pouco convencionais da língua, algumas vezes Diana sutilmente se certificava de que ela entendia o que falavam e fingindo afirmava que sim. A promotora desconfortável naquele ambiente, entre aquelas pessoas, tentava contornar seu constrangimento aumentando o número de taças vazias sobre as bandejas que passavam.

           
            A tensão se instalou quando uma escultora amiga de Julia, a qual Diana já se aventurou em sua cama por mais de uma vez, se aproximou de Diana de maneira acintosa despertando os ciúmes de Natalia:

-- Os deuses sorriram para mim finalmente... As boas línguas divulgaram que seu jardim já não tem mais uma senhorita ocupando.


            Diana quase engasgava com o suco que tomava ao sentir o apertão no traseiro que recebeu da artista plástica.

-- Caroline! Há quanto tempo!


            Diana disfarçou com simpatia a susto cumprimentando aquela mulher de traços delicados contrastados por sua maquiagem carregada de tons pesados e escuros.


-- De fato não nos vemos há muito tempo Diana. Você parou de frequentar a parte divertida da cidade...


-- Nova Iorque oferece muitas opções de diversão Caroline.


-- Tem razão, você é uma das melhores.

           
            Caroline se aproximou de Diana se insinuando. Profundamente constrangida, a fotógrafa se esquivou segurando a mão de Natalia que faiscava de ciúmes a ponto de suas veias do pescoço ficarem sobressaltadas.


            A atitude de Diana não passou despercebida pela artista, que observou insatisfeita com o rabo do olho.


-- Eu deveria supor que uma iguaria como você não ficaria muito tempo à deriva...


            Caroline se retirou sem sequer cumprimentar Natalia depois que Diana se esquivou dela, evitando beijo provocativo no rosto.

            Depois de um rápido discurso informal no meio da noite, Liza fez um sucinto relato das principais exposições que levaram a Galaxy’s ao topo das melhores galerias de Nova Iorque, e convidou ao pequeno palco alguns nomes consagrados no meio artístico ali, entre eles Diana Toledo.


            Foi o único momento no qual Diana se afastou de Natalia o qual acabou sendo demorado, em virtude das obrigações com a imprensa, concedendo fotos e entrevistas.

            Fora do seu ambiente, Natalia parecia apagada do seu brilho tão incomum que sempre a fez uma mulher percebida em qualquer lugar. Incomodada com a ausência de Diana, se afastou para pegar mais bebida, se deparando com uma parte da galeria dedicada aos fumantes, onde escutou um diálogo com seu nome envolvido:

-- Mas a Natália é só uma menina?! A Diana está louca?! Trocar a Rosana por uma menina?! – Gerard cochichou.


-- Não exagera Gerard, ela só é mais nova que a Diana uns dois a três anos no máximo. Além do mais a Diana não trocou nada, a Diana sempre foi apaixonada por ela, e ela é linda! – Daniela defendeu.

-- Linda, mas, parece que tem medo de gente! Coitada mal fala! A Rosana sabia falar sobre qualquer assunto, era divertida, espontânea...


-- Gerard eu sei que você é um fã da Rosana, mas não precisa ficar traçando essas comparações, isso magoaria muito a Diana sabia? Dá uma chance a garota, ela é muito especial para nossa amiga, tenho certeza que tem todos os encantos que a Rosana tinha, só está em um momento difícil. Eu te contei o que houve ontem não contei? Até acho que ela está se esforçando muito para acompanhar Diana hoje.


            Daniela defendia Natalia, que diante do que ouviu ficou ainda mais reticente em voltar para festa. Tudo que queria era ir embora dali, exceto por Dani, Natalia viu crescer uma antipatia por aquelas pessoas, aquele mundo torto à sua visão. Um tanto tocada pelo álcool, Natalia decidiu que já ficara tempo demais naquele lugar, e se irritou quando a namorada se recusou a ir embora.


-- Mas que droga Diana! O que mais você precisa fazer aqui? Esperar mais alguma vadia se jogar nos seus braços?


-- Meu amor você está falando bobagem...


            Diana retrucou pacientemente se aproximando de Natalia.


-- Eu já passei mais tempo aqui do que suporto! Eu vou embora agora nem que seja sozinha!


-- Acalme-se Nat, nós vamos embora, pronto, não precisa ficar nervosa.


            A fotógrafa claramente constrangida com o estado da namorada, não protelou o retorno para seu apartamento, desculpando-se com os amigos pela pressa, atribuindo a um mal estar de Natalia tal atitude.


            No trajeto até seu apartamento, as tentativas de diálogo que a loirinha estabeleceu foram frustradas com as respostas monossilábicas da promotora.


            Natalia se autocensurava por seu comportamento uma vez que sua personalidade forte e determinada nada tinha com aquela mulher insegura e acuada que ela tinha se mostrado naquela noite diante dos amigos de Diana. Em outra circunstância talvez se portasse de outra forma, mesmo as dificuldades no idioma não esconderiam seu encanto e inteligência incomuns, todavia, ainda que negasse o que havia escutado na família Lancester e depois por Gerard abalou sua desenvoltura em um meio que não era familiar para ela. Tal fato unido ao trauma recém-adquirido retraíram a morena, assim ela preferiu o isolamento, preferiu esconder o que sentia de Diana, concluindo que assim não precisaria decepcionar a namorada.


            No apartamento finalmente, foi Diana que inquiriu:


-- Nat, você está bem? Aconteceu alguma coisa?


-- Estou cansada Diana, só isso. Está tudo certo nas nossas passagens para domingo? -Respondeu tentando mudar de assunto.


-- Sim meu amor.


-- Ótimo, não vejo a hora de deixar essa cidade maldita! – Cuspiu se jogando no sofá.


            Diana estranhou aquele resmungo. Receosa a fotógrafa comentou:


-- Meu amor, por hora nós vamos deixar Nova Iorque, mas você sabe que mesmo que eu me mude de vez para o Brasil, vou ter que dividir meu tempo passando temporadas aqui e eventualmente você precisará vir comigo.


-- Por quê? Para afastar o bando de vadias do seu currículo de diversões? – Natalia respondeu levantando-se, andando impaciente pelo apartamento.



-- Não meu amor isso eu posso fazer sozinha. Você precisará vir porque será minha mulher, e quero que você participe da minha vida, e não quero passar muito tempo longe de você por que já fiquei tempo demais distante e não consigo mais nem pensar em viver isso novamente.


-- E sua vida não pode mudar? Tem que estar metida com esse tipo de gente? Um bando de esnobes, intelectuais de nariz empinado, mulheres se oferecendo à sua cama, gente esquisita nojenta que adora chamar atenção chocando as pessoas, por que sua carreira tem que estar vinculada a essas pessoas?



            Diana franziu o cenho e chegou a ficar tonta com aquele julgamento preconceituoso feito pela namorada. Silenciou por alguns segundos observando a morena mexer nos armários da cozinha, na geladeira e pelo resto da cozinha como se estivesse procurando algo.

-- Mas que droga, não tem nada com álcool para beber nessa porcaria?


            Natalia resmungou batendo forte a mão contra o balcão.


-- Natalia essa gente que você acabou de julgar, são as pessoas que conviveram comigo por todos esses anos. Alguns deles são grandes amigos, e pelo que vi e sei, todos te trataram muito bem hoje, não mereciam seu desprezo.


-- Com certeza devem ter rido muito nas minhas costas, falando da caipira aqui ou questionando o que você viu em mim para deixar a Rosana por minha causa...


-- Você está sendo infantil Natalia e injusta também.


-- Diana eu ouvi aquele viadinho fresco falando de mim...


-- Ouviu o quê?


-- Que eu era só uma menina, um bicho-do-mato que você fez besteira trocar a Rosana por mim!


-- Você entendeu errado... Você bebeu demais meu amor...


-- Não! Não entendi errado, e ainda vou beber mais! Algum problema?


            Natalia disse exibindo uma garrafa de vinho, irritada. Diana balançou a cabeça negativamente, suspirou e respondeu:


-- Eu sinto muito sobre o comentário infeliz do Gerard, ele não teve tempo de te conhecer direito Nat, só isso. Mas acha mesmo que mereço que você desconte em mim isso? Não estou contra você meu amor, estou do seu lado.


            Natalia notou o quão agressiva estava sendo com Diana, gratuitamente.


-- Você tem razão meu amor. Desculpe-me, você não tem culpa mesmo... Estou sendo uma idiota.


            Natalia serviu o vinho em duas taças e disse:


-- Desculpe-me. Vamos encerrar essa discussão boba. Tome...


            Estendeu a taça oferecendo a Diana que recusou educadamente.


-- Obrigada meu amor. Mas não quero.


-- Por que não amor?


-- Por que a gente não esquece esse vinho e faz coisa melhor?

           
-- Você não quer beber comigo porque não sou divertida como esse pessoal de Nova Iorque não é?


-- Meu amor para com essa bobagem...



-- No fundo você ainda me acha uma caipira não é? Não tenho a presença, a sofisticação das mulheres que você conheceu aqui não é?


-- Meu amor por que você está se inferiorizando assim? Natalia você é a mulher mais linda do mundo para mim, além de ser a mais inteligente íntegra e sensata.


-- E chata... Insossa...


-- Deixe-me ver...


            Diana passou o indicador no braço de Natalia e lambeu o dedo em seguida.


-- Na verdade você está saborosa...


            Natalia sorriu tímida.


-- Vem, me dá essa taça, vamos fazer um brinde.

            Natalia entregou a taça a Diana, e trocando beijos e carícias, logo esvaziaram aquela garrafa, o que evoluía para uma noite de amor se transformou em aflição para Natalia.
           
           
            Diana simplesmente apagou. As mãos frias, e a total falta de resposta a qualquer estímulo apavoraram Natalia:


-- Diana fala comigo! Diana! Ai meu Deus! Diana meu amor fala comigo!


            Diana não se movia, não respondia, seu corpo desvanecido afligiu Natalia de sobremaneira atordoando-a:

-- Meu Deus! O que eu vou fazer agora?


            O desespero de Natalia lhe roubou o senso acerca das atitudes a tomar naquela situação. Não sabia para quem ligar, para onde levar Diana, não conhecia os trâmites do sistema de saúde americano, sentiu-se impotente, provinciana, completamente despreparada.


            Finalmente recobrando o bom senso, decidiu ligar para Daniela do celular de Diana, ao menos a colunista lhe parecia mais amigável do que os demais amigos da namorada. Enquanto discava, ouviu o barulho da porta se abrindo e se surpreendeu com Rosana:

-- Rosana? Graças a Deus você está aqui!

           
            Tão surpresa por encontrar Natalia ali, Rosana se assustou ainda mais pela recepção no mínimo calorosa da promotora.


-- Oi? – Rosana indagou franzindo a testa.


-- A Diana está desmaiada, e eu não sabia para onde leva-la, como leva-la...


            Rosana se apressou e caminhou até o sofá conferindo o pulso de Diana. Mais tranquila olhou em volta e observou as duas taças sobre o centro com uma garrafa de vinho ao lado.


-- A Diana bebeu?!


-- Sim, tomamos um vinho que achei na despensa...


-- Você achou o vinho e bebeu com a Diana? Mas o que você tem na cabeça Natália?


-- Mas qual é o problema?!


            Rosana sorriu ironicamente, sacando o seu celular da bolsa.


-- Alo Dr. Foster? Rosana Campos, como vai? Desculpe-me o incômodo a essa hora da madrugada, mas como o senhor é o médico da Diana Toledo e nos disse que poderia ligar a qualquer hora...


-- Pois não senhorita Campos. No que posso ajudar? Aconteceu algo com a Diana? – O médico respondeu com a voz rouca.


-- O senhor nos advertiu dos efeitos da interação das medicações que prescreveu para Diana com o uso de álcool, mas, acho que ela se esqueceu disso, e a encontrei agora aparentemente desmaiada, o que devo fazer?


-- Quanto ela tomou e o que exatamente? Cerca de 400ml de vinho.


-- Ok você sabe checar pulso senhorita?


-- Sim, está 70 batimentos por minuto.


-- Está normal. Ela está há quanto tempo assim?


-- Acho de uns 30 minutos. – Rosana disse olhando para Natalia que confirmou com um gesto.


-- Tudo bem senhorita, não se aflija. Diana está dormindo. A dosagem da medicação que ela está tomando não está mais tão alta, e a quantidade de álcool que ela ingeriu também não desencadearia uma reação mais grave, mas potencializou a ação da droga, por isso ela está dormindo tão profundamente. O mais grave que ela vai sentir é uma grande indisposição amanhã, uma ressaca fenomenal, cuide para que ela se hidrate bem e não repita essa bobagem, pode fragilizar o tratamento, ela se intoxica mais facilmente e então isso seria um retrocesso na recuperação dela.


-- Eu sei doutor, muito obrigada, boa noite.


            Rosana desligou o telefone e ansiosa Natalia perguntou:


-- E então?


-- Diana está dormindo, vai acordar com uma baita ressaca, vomitando tudo, vê se cuida dela direito para que ela não desidrate. Esqueci essa porcaria de vinho na despensa, mas Diana nunca vai a despensa, aliás, ela me garantiu que não viria aqui no apartamento, por isso vim aqui.


-- Você veio procura-la?


-- Não Natalia. Vim pegar meu passaporte que me esqueci. Acabei de chegar de Los Angeles e parto cedo para o Canadá. Mas ainda bem que vim não é? Qual seria seu próximo convite para Diana? Puxar um? Cheira uma carreirinha?

-- Han?


-- O que você tem na cabeça Natalia? Não sabe que álcool para qualquer pessoa em tratamento de dependência é um pé para uma recaída? A Diana está tomando drogas para controlar o vício ainda, e você acha um vinho e decide fazer um brinde a isso?


-- A Diana o que? Como assim? Que tratamento? Que vício?


            Rosana apertou os olhos percebendo que Natalia ignorava essa parte da vida da fotógrafa.


-- Se você não sabe sobre isso, se a Diana não contou, não sou eu que vou contar.


-- Espera Rosana contar o que? Do que você está falando?


-- Pergunte a Diana quando ela acordar. Estou exausta, vou pegar meu passaporte e me mandar daqui.


-- Rosana, eu sinto muito pelo que aconteceu na outra noite...


-- Não, pare agora! Não preciso da sua piedade, compaixão, consideração, ou seja, lá o que você sinta por mim. Estou aqui por acidente, não tenho a menor intenção de manter qualquer contato com a Diana e muito menos com você, que isso fique muito claro.


-- Eu te entendo, mas mesmo assim, quero te agradecer...


-- Entende coisa nenhuma! Para de agir assim como a politicamente correta, não estou nenhum pouco disposta a ouvir seus agradecimentos. Só vou te dizer mais uma coisa: trate de ser uma mulher melhor para Diana do que eu fui, ame-a como ela merece, se você não fizer isso, vou me certificar voltar a estar por perto para consola-la e tê-la de volta.