sexta-feira, 9 de março de 2012

Desculpem o atraso II

Olá meninas!

Atrasei o capítulo  e nem me justifiquei com vocês não é?
Desculpem-me, mas sabe o que é a dor de uma cirurgia de dente? Então, pois é, estava sofrendo de uma ontem, kkkkkkkkkk, não consegui terminar o capítulo ontem, por isso, só hoje mesmo.

Essa semana tive a grata surpresa de um comentário muito fofo da Sara Lecter, isso mesmo a Sara do Triângulo, quase caio pra trás kkkkkkkk quando vi o rebu lá no face dela. Todos os comentários de vocês são muito valiosos para mim, mas me deu um gás a mais receber elogios e ser tão bem compreendida nos rumos do conto por alguém que admiro como escritora. Sara, sou sua fã! E do fã clube da Rebeca Bezerra também rs.


O que falar das fofuras de leitoras que estou conhecendo pelo face? Obrigada as que me seguiram do orkut para cá e continuam no face: Adriana, Carol, Nick, Suuh, Dolly, Nanda, Mayah, Lidy, e tantas outras que comentam sempre. Preciso disso, sou escritora carente mesmo rs.


Querendo me adicionar estou lá pelo face também: Melissa Monteiro.

Beijos a todas e bom final de semana.

Ah! Pra quem me pediu para terminar de postar os outros contos aqui, farei isso depois que terminar esse ok?

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE

2.28 In re
Na coisa, em realidade, efetivamente, positivamente: Não é fantasia, mas tem fundamento in re. 


         O resultado do teste de DNA no corpo encontrado possibilitou a intimação de Acrisio Toledo para depor acerca de tal crime em suas terras e precedeu ainda a descoberta de outros dois corpos que exigiram procedimento semelhante.


            Acrisio compareceu acompanhado do mesmo advogado de Danilo, e manteve a alegação de que desconhecia os crimes ocorridos na fazenda de sua propriedade, apesar de assumir a preferência para contratação de trabalhadores considerados inapropriados para o mercado de trabalho convencional, assim eles aceitariam as condições impostas inclusive a confissão de dívida pelos gastos com moradia e transporte além de abrirem mão de direitos trabalhistas básicos.


            No depoimento, o fazendeiro ainda negou o envolvimento de seu filho mais velho Douglas, apesar de Lucas confrontar aquela negação com o depoimento do outro filho do ex-senador, Danilo.

           
            As investigações continuaram a todo vapor, agora com as primeiras vítimas identificadas, o depoimento dos familiares destas começaram a relacionar diretamente as denúncias de trabalho escravo, violência e assassinato com a fazenda Verdes Canaviais. À contramão dos eventos que se somavam naquele inquérito, a prisão de Nilton Silva foi revogada o que se configurava em um grande risco de fuga, uma vez que ele era apontado como o bode expiatório dos crimes cometidos na propriedade de Acrisio Toledo.


            Douglas seguia os passos do pai para subornar e influenciar o judiciário para seus objetivos, um desses era libertar Nilton a fim de assegurar a estratégia de atribuir a ele toda autoria dos crimes praticados na Verdes Canaviais. Com o objetivo alcançado o deputado visitou o pai para comunicar o que ele considerava um grande feito.


-- Douglas o que você faz aqui? Hoje é feriado em Brasília?

           
-- Vim tranquilizar o senhor. Nilton está em liberdade e já acertei tudo com ele, não se preocupe, o senhor não vai ser responsabilizado em nada, é uma forma de me redimir pela trapalhada que fiz.


-- Mas o que você fez Douglas?


-- Um acordo com Nilton. Ele vai assumir toda culpa no próximo depoimento dele, isentar o senhor e eu de qualquer culpa nos métodos dele para manter a ordem aqui na fazenda.


-- Meu filho, eu não quero que você se envolva nesse assunto. Está tudo sob controle, por favor, volte para Brasília, cumpra seu mandato e me prometa que não vai abandonar o tratamento com o Dr. Carraro.


-- Pai! Como está tudo sob controle? O senhor foi intimado para depor! Aquele delegadinho e aquela sapatão dos infernos querem colocar o senhor atrás das grades, e seus outros filhos estão ajudando nisso! E agora o senhor me manda ficar de fora? O único filho que se preocupa com o senhor e que quer lhe proteger?


-- Meu filho eu agradeço sua preocupação, mas não há motivos para preocupação.

-- Pai o que está acontecendo com o senhor? O que Danilo e Diana estão fazendo com o senhor?


-- Seus irmãos estão fazendo a coisa certa, Douglas faça o mesmo, estou lhe dando a chance de mudar de vida, aproveite isso.


-- Mudar de vida? Pai o que tem de errado na minha vida? Estive ao seu lado todos esses anos, fazendo o que o senhor me pedia, aceitando seus planos para mim.


-- É por isso que estou te mostrando esse novo plano. Eu te fiz muito mal durante toda sua vida, encobri seus erros para lhe proteger e não vi o quanto estava piorando essa sua tendência violenta, intempestiva. Quando você precisava de ajuda, de um médico, sua mãe tinha razão, sempre teve.


-- O senhor está fora de si.  A morte da mamãe tirou a sanidade do senhor e agora me acusa de não tê-la.


-- Douglas, você se lembra do primeiro homem que você matou? Você ainda era um adolescente... Eu me enganei, e ainda convenci sua mãe de que aquilo tinha sido apenas um acidente, mas eu me lembro do seu estado com as mãos ensanguentadas olhando satisfeito pro corpo daquele homem.


-- Ele estava roubando nossa casa, e ainda estava espionando a mamãe trocar de roupas, era escória e tinha que morrer!


-- Eu encobri aquilo, lhe protegi, colocamos você em terapia e vimos você mais calmo, eu e sua mãe acreditamos que você estava curado. Mas aquilo foi só o começo, por causa da morte daquele homem eu encomendei outro assassinato, um funcionário que testemunhou tudo começou a nos chantagear, e atordoado ordenei essa solução definitiva, justamente nesse dia, sua irmã ainda uma criança ouviu minha ordem, e a partir daí o pai dela virou um monstro.


-- O senhor depois de velho está ficando sentimental. Esses homens mereciam morrer. E eu não preciso de tratamento coisa nenhuma, sempre fui precoce, tomei atitude de homem forte como o senhor me ensinou a ser.


-- Isso não é força meu filho, isso é doença, agora vejo com clareza o mal que fiz, e o quanto sou culpado por esse rastro de mortes que nosso poder deixou. Alice convivia com essa cruz mesmo sem saber metade das atrocidades que você cometia e eu ordenava outra para proteger você.


-- A mamãe era uma fraca! Uma princesinha que não soube nem lutar contra um filho-da-mãe que se aproveitou dela. Danilo e Diana saíram bem a ela, eu do contrário mesmo sem seu sangue herdei sua força, sua grandeza pai.


            O olhar de Acrisio expressava mais do que piedade daquele discurso do filho, que indicava os sinais de uma realidade deturpada que Douglas vivia. Acrisio sentia uma grande culpa por todos os anos que preferiu uma venda aos olhos a enxergar os traços da personalidade psicopata de Douglas que Alice tanto se esforçava para mostrar.  Até mesmo da mulher que amava, Acrisio escondia algumas atitudes do filho para evitar dar razão a ela e consequentemente intervir de maneira drástica para tratar Douglas de sua doença.

-- Sua mãe foi a mulher mais forte que conheci. Fraco fui eu de não reconhecer a razão dela e fazer por você o que era necessário. Não fiz no tempo certo, mas, estou tentando fazer agora. Por isso, pela última vez estou te pedindo: volte para Brasília, não se envolva mais nesse assunto e continue seu tratamento, talvez seja preciso você se afastar do trabalho, o Dr. Carraro adiantou isso, quem sabe fora do Brasil na melhor clínica do mundo! Mas faça o que seu pai está pedindo, por mim e por sua família.


            Douglas saiu enfurecido do escritório do pai, nutrindo o ódio pelas pessoas que ele julgava culpadas por essa insanidade do pai: seus irmãos e Natalia, antes dela, nenhum membro do Ministério Público conseguira levar à frente os inquéritos ou processos abertos contra Acrisio. Antes de entrar em sua caminhonete, foi abordado por um de seus antigos seguranças, compassa de suas atrocidades naquela fazenda.


-- Doutor! Estava mesmo precisando falar com o senhor!


-- Agora não Sebastião, eu não tenho cabeça para conversar nada! – Retrucou irritado.


-- Mas é importante doutor e urgente!


            Tomado de uma fúria animalesca, Douglas segurou a gola da camisa do segurança com as duas mãos e o jogou contra a caminhonete, bradando:


-- Escuta aqui seu merda! Quando eu falar não é não! Não admito que ordem minha seja contestada principalmente por um bosta miserável como você! Não me interesse sua urgência, estou cagando para o que é importante pra você seu filho-da-mãe! Agora saia do meu caminho antes que eu passe por cima de um nada como você!


            O antigo capanga de Douglas se equilibrou com dificuldade quando foi empurrado pelo deputado e o observou arrancar naquela caminhonete deixando o rastro de poeira cobrir sua vista. A recusa humilhante do ex-chefe despertou a revolta em Sebastião, revolta suficiente para motivá-lo a por um fim na lealdade que dedicava a Douglas Toledo. O antes fiel comparsa do deputado, tomou a decisão que colocaria Douglas como principal responsável pelo massacre na Verdes Canaviais.

           
            A decisão impulsiva de Sebastião foi compartilhada com seu companheiro de trabalho na antiga função de segurança de Douglas:


-- Você está louco? Vai se ferrar meu irmão! Já viu gente rica e poderosa na cadeia? O cara é deputado federal! Se o cara te deixar vivo, você vai é ser preso pelo resto da vida enquanto ele se livra bonitinho!


-- O cara é doido sim, mas eu sou mais! Ele está pensando que pode me tratar assim? Conheço os podres dele, ele tá na minha mão! O que foi ele nos prometeu heim? Lembra?


-- Que a gente podia contar com ele pra qualquer coisa.


-- Pois é! Minha mãe está doente cara! Preciso de uma grana alta para pagar a cirurgia dela e uma pessoa para cuidar dela e quando eu preciso o doutor me vira as costas? Ele vai ver o eu vou fazer...

-- Mas tu é burro mesmo! Do que vai adiantar você entregar o doutor? Isso vai pagar o tratamento da sua mãe?


-- Mas eu me vingo dele! Vou agora mesmo procurar aquele delegado, vou jogar a merda no ventilador!


-- Desculpa amigo, mas eu não vou permitir que você faça isso.

            Sebastião deu as costas em direção a saída quando foi golpeado na cabeça por Moacir, que deixou seu companheiro desacordado no chão, e o trancou na sala seguindo para a sede da fazenda para relatar o acontecido a Acrisio.


-- Posso entrar senhor?  - Moacir perguntou formalmente.

-- Entre Moacir, mas estou com um pouco de pressa, o assunto pode esperar?

-- Não senhor, é urgente.

-- Entre, seja rápido.


            Moacir relatou para o patrão o que acontecera, deixando Acrisio transtornado.

-- Diga que me procure, eu pago o tratamento da mãe dele, não precisa ele cometer uma sandice dessas!


-- Se o senhor pode comprar o silêncio do Sebastião, pode ser generoso comigo também, e eu ainda mereço um agrado a mais, por que vim dizer ao senhor a intenção dele, fui leal ao senhor como sou a seu filho.


-- Mas é muita safadeza sua! Você está me chantageando homem?


-- Só acho justo ser recompensado. E se o senhor for esperto, vai me querer como seu homem de confiança. Confiança tem um preço, e mais cara ainda é a liberdade do seu filho...


            Acrisio apertou os olhos, e mastigando a indignação por tal afronta deixou sua prepotência falar mais alto:


-- Você acha que está falando com algum borra botas? Acha que sou um frouxo qualquer? Não vou admitir ser explorado assim nem por você nem por ninguém por motivo nenhum! Acha que pode denunciar a mim ou ao meu filho, pois vá! Vocês estarão se entregando também, tenho os advogados mais caros do país ao meu serviço e pra vocês só restará um advogado de porta de cadeia ou um defensor público que não está nem aí pra culpa de um zé ninguém como você! Ponha-se daqui para fora, e leve seu par junto!


-- O senhor foi avisado doutor!


            O impulso de Acrisio foi de ordenar a típica solução definitiva tão comum nas suas práticas para encobrir os crimes do filho e seus podres. No entanto, a mudança de consciência provocada por sua culpa no agravamento da doença do filho motivou outra postura do antes inescrupuloso fazendeiro. Convencido de que só havia uma atitude a ser tomada naquelas circunstâncias, Acrisio partiu para São Paulo depois contatar Lucas por telefone.

-- Quero mudar meu depoimento doutor, o senhor pode me atender ainda hoje?

-- Claro que sim senhor Acrisio, eu aguardo o senhor.

************
           

            A condição de clandestinidade do namoro entre Diana e Natalia passou a limitar os encontros diários do casal, tal fato isoladamente seria transposto de forma tranquila não fosse a distância que se instalava sorrateiramente entre as duas desde as últimas discussões envolvendo Acrisio Toledo.


            Não existia um mal estar declarado. O que se desenvolvia era um acordo tácito de não retomar aquela discussão, no entanto aquele ponto de tensão estava ali, latente, à espreita, podendo eclodir no momento oportuno para desencadear uma sucessão de questionamentos que colocariam à prova o futuro de Diana e Natália juntas.


            Mesmo a contragosto, Diana precisava por força das suas obrigações com seu trabalho, se manter exposta à imprensa, comparecendo a eventos badalados. Tal fato foi para a fotógrafa fator de estresse pessoal e com Natalia. Por um lado, a mídia não estava interessada exclusivamente na expectativa da exposição fotográfica de Diana Toledo, mas também, nas declarações da filha do ex-senador acusado de formação de quadrilha e assassinatos. Por outro lado, não menos estressante para Diana, estava sua namorada, que incapacitada de acompanha-la em tais eventos, viu-se tomada de ciúmes ao supor o assédio que Diana sofria, a promotora reviveu a insegurança juvenil experimentada quando a loirinha passou a circular o meio da moda.


            Se na época da faculdade, Natalia se angustiava e enciumava-se por deduções e hipóteses da sua fértil imaginação, no presente sua insegurança ganhou uma aliada nada sutil: as redes sociais.


-- Natalia você já terminou com aquelas pastas? Preciso anexar uns documentos... Ah, você está ocupada né? Acompanhando algum processo?


            Carla perguntou se aproximando da promotora que olhava concentrada para a tela do notebook.


-- Ah não Natalia! Facebook? Sério?


-- Ai não enche Carlinha!


-- Você está xeretando a página da Diana por que mesmo?

-- Com a data da exposição dela se aproximando, ela agora tem dezenas de festas, entrevistas, vernissages e não sei mais o que... Olha só essas biscates nessa foto!  Estão praticamente arrancando o pedaço da minha namorada! Olha esses comentários! Deviam estar presas pelo assassinato do português! Atentado violento ao bom gosto!


            Carla olhava para Natalia bestificada.


-- Eu não acredito no que estou vendo... – Carla comentou acomodando-se na cadeira.


-- Né? Um absurdo! – Natalia concordou veementemente.


-- O absurdo Natalia é você no meio do expediente fuçar o “face” da sua namorada quando você tem uma pilha de processos para acompanhar! Sabe acho que esse é mais um motivo da morosidade do serviço público!


-- Carlinha! Eu não posso estar com a Diana nesses eventos, nesses lugares, e agora para essas vadias ela é a “solteira mais cobiçada do brejo”, dezesseis curtiram esse comentário!


-- Natalia pelo amor de Deus! Você está parecendo uma adolescente! Se você quer saber alguma coisa sobre as festas que a Diana tem ido sem você, não é mais fácil perguntar a ela?


-- Ela vai enrolar, sendo vaga na resposta como semana passada quando ela disse: foi legal.

            Natalia bufou revirando os olhos depois fez bico, despertando o riso da amiga.

-- Nat... Por que isso agora? Você acha mesmo depois de tudo que vocês duas enfrentaram, esse tipo de festa e mulheres dessas fotos são uma ameaça ao amor de vocês?

-- Não estou falando de ameaça Carlinha, mas sei lá... Qualquer mulher dessas ou até outras mais interessantes, estão livres para fazer pela Diana o que não posso...


-- O que? Acompanhá-la numa festa? Natalia a Diana te ama! O amor de vocês sobreviveu por sei lá dez anos! Vocês enfrentaram tantas coisas e agora você está insegura por que não pode ir com ela à uma festinha? Será que tudo que vocês enfrentaram não te dá a segurança de que a Diana não vai te trair na primeira oportunidade?


            Natalia jogou a cabeça contra a poltrona e fechou os olhos como se a retórica de Carla perturbasse suas aflições ocultas.


-- Natalia?


-- Carlinha o problema é que eu sinto que esse teatro do pai dela mexeu com a Diana e agora ela se magoa comigo por eu não acreditar nele, sinto que isso criou uma barreira entre nós, Isso me preocupa Carlinha por que é como se a Diana não confiasse em mim e toda essa história do inquérito do pai, só está acentuando isso.


-- A Diana não confia em você? De onde você tirou isso? Ela te entregou elementos que ajudaram no inquérito, enfrentou o pai por sua causa, como ela não confia em você Nat?


-- Carla, a Diana não se sente à vontade comigo para compartilhar tudo como ela ficava com a Rosana, eu estou com muito medo, sinto que perdemos um pouco da cumplicidade que tínhamos.


-- Nat por mais que vocês se amem, oito anos é muito tempo. Vocês não ficaram congeladas, vocês viveram, conheceram outras pessoas, aprenderam, erraram se magoaram. O amor, a paixão está intacta, mas, outros elementos que constroem uma relação precisam ser recuperados gradualmente, no convívio de vocês. A reconciliação de vocês está conturbada, envolveu outras pessoas, passo a passo vocês recuperarão essa cumplicidade.


-- Você acha?


-- Claro que sim. Mas você tem que esquecer essa insegurança infantil, e aproveitar seu tempo com a Diana, não perca tempo com esse ciuminho, essas rusgas... E Nat... Não se esqueça de uma coisa: em casa, com sua namorada, você é Nat, a mulher que ama a Diana, não a promotora que está à frente das denúncias contra Acrisio Toledo.

*************

       Uma inquietação passou a predominar as emoções de Diana ao pensar no pai. Desde a última conversa com Acrisio, a qual desencadeou uma avalanche de emoções e dúvidas acerca do seu passado e presente da relação com o pai, a fotógrafa experimentava um apelo interior constante de procurar Acrisio mais uma vez e concluir aquela conversa a qual para ela agora claramente estava inacabada.


-- Alô, pai?

-- Diana?!

            Silêncio no telefone. Segundos, mas, para ambos uma vida toda rebobinada misturando as lembranças de risadas, lágrimas, agressões, abraços passou diante deles. Naqueles segundos, Diana relutou em responder ao pai, contudo, o tal apelo interior foi mais forte.


-- O senhor está ocupado, ou pode falar?


-- Claro que posso falar com você minha filha. Aconteceu alguma coisa?


-- Olha vou ser rápida. Próxima semana vou expor minhas fotografias na embaixada dos Estados Unidos aqui em São Paulo, já que o senhor nunca viu meu trabalho... Bem se o senhor não tiver nada melhor pra fazer, se quiser, pode ir lá...


            Diana se atrapalhava com as palavras sentindo suas mãos suarem abundantemente.


-- Minha filha eu vou.


-- Vai?


-- Vou sim. Não entendo muito desse negócio de foto, mas eu sei que vou achar bonito.


            Diana se flagrou sorrindo com o lado de homem simples de Acrisio se manifestando, o lado que era tão limpo quando ela era uma criança e se encantava com o conhecimento sobre o campo que seu pai demonstrava nas estórias que narrava.


-- Eu vou mandar os convites pelo Danilo.


-- Tudo bem minha filha.


            Acrisio desligou o telefone, parado diante da delegacia, se restava alguma dúvida sobre o que deveria fazer ali, a ligação da sua caçula foi o sinal que precisava para assegurar que fazia a coisa certa.

********


            Natalia saiu do trabalho no meio da tarde, aturdida com a conversa que teve com Carla ecoando em sua mente. Reconhecia o quão sensato eram os conselhos da amiga, precisava enfrentar sua insegurança e seus medos, transpor qualquer barreira invisível que se levantasse contra elas, e para tanto não era necessário atos heroicos, e sim demonstrando seu amor nos gestos mais simples reafirmando no dia-a-dia delas a dimensão do que sentia.

            Lembrou-se das surpresas românticas que Diana já lhe fizera, e impulsivamente decidiu fazer algo à altura. Em sua casa colocou algumas roupas em uma bolsa, e ligou para Carla:

-- Amiga eu preciso de um grande favor seu.

-- Manda chefinha!

-- Você ainda tem contato com a Ana Cláudia?

-- A Cacau? Claro! Ontem mesmo almoçamos juntas. Por quê?

-- Ok, então eu preciso muito da sua ajuda.


            Natalia detalhou seu plano e empolgada Carla aceitou colaborar com ele. Natalia se apressou para comprar o que precisava para dar a Diana uma noite inesquecível.

            A promotora chegou ao apartamento de Diana, mas não a encontrou em casa. Aproveitou para fazer arrumar algumas roupas da namorada em uma mochila e ansiosa esperou Diana chegar.


-- Meu amor o que faz aqui essa hora? – Diana se surpreendeu com Natalia na sala.


-- Não aguentei de saudades da minha namorada...


-- Nossa que delicia!


-- Vim te fazer um convite também.
           

-- Convite?


-- É, topa?


-- Mas assim? Sem me dizer do que se trata?


-- Conheci você menos medrosa Diana Toledo. Sim ou não?


-- Olha só que ousada, me provocando? Vamos pra onde?


-- Pergunta errada! Um convite meu se aceita e pronto! Não importa o lugar.


            Natalia brincou, pegando as bolsas. Diana apertou os olhos e retrucou:


-- Usando as minhas palavras contra mim doutora? Não tem vergonha disso?


-- Não mesmo. Teria vergonha de me transformar numa medrosa, que foge de uma aventurazinha com seu amor...


-- Ah meu amor, disso não posso ser acusada! Cada aventura que já me meti por sua causa...


-- E agora perdeu a coragem? Vamos Diana Toledo, sim ou não?


-- Vamos... Mas vou logo avisando, que se alguma coisa acontecer comigo eu tenho uma carta incriminando você por tudo!


            Foi a vez de Natalia apertar os olhos. Diana não se conteve e deixou escapar um sorriso:


-- Ahá peguei você sua medrosa!


-- Vamos logo antes que anoiteça.


            Natalia puxou Diana pela mão e dentro do carro, revirou sua bolsa e alcançou um lenço de seda, habilmente o dobrou transformando-o em uma venda, puxou o rosto de Diana que a olhava com uma grande interrogação em seu rosto.


-- Natalia Ferronato o que você está aprontando?


            Natalia sorriu misteriosa, distraindo a namorada com um beijo delicado em seus lábios. Rendida ao sabor dos lábios da morena que deslizava por sua face, Diana mal percebeu quando Natalia amarrou a venda nos seus olhos.


-- Agora você me faça o favor de só retirar essa venda quando eu mandar.


-- Você acha mesmo que vai mandar em mim?


-- Deixe-me colocar o cinto de segurança em você...


            Natalia não poupou malícia, deixando seu corpo pesar sobre o de Diana para posicionar o cinto, e finalmente quando Diana já estava de novo indefesa com aquele contato quente dos seus corpos, Natalia uniu as duas mãos da loirinha sobre as pernas dela, e tudo que Diana ouviu foi um “crac”.


-- Nat? O que é isso? Você me prendeu? Isso são algemas?


-- Já que não mando em você... É o jeito de fazer você me obedecer.


-- Natalia meu amor... Será que o que a Eduarda tinha era contagioso? Amor você está bem?


            Natalia gargalhou dando partida no carro. Dirigiu por pouco mais de uma hora ao som dos resmungos de Diana que de tão absurdos eram cômicos.


-- Isso é sequestro! Vou te processar por cárcere privado doutora!


-- Di o cárcere no caso é meu carro? – Natalia retrucou rindo.


-- Não importa. É lesão corporal também... Vou apelar pra Lei Maria da Penha!



-- Estamos quase chegando meu amor, para de reclamar, depois você me processa.


            Natalia estacionou o carro ao chegar ao sítio, a casa estava diferente, mas a paisagem era a mesma, e ao pôr do sol estava ainda mais linda. Não tirou a venda dos olhos de Diana, mas a loirinha concluíra que não estavam mais na zona urbana da cidade.


-- A partir daqui, vamos a pé meu amor.


-- Vai me mostrar o novo cativeiro?


-- Sim... E lá vou manter essas algemas em você, o que acha?


            Natalia roçou os lábios no ouvido de Diana fazendo a loirinha arrepiar.


-- Acho que estou me apaixonando por minha sequestradora.


             Natalia sorriu e puxou Diana, conduzindo-a pela trilha, apressando-se com a noite se instalando. Diante da velha cabana, a mesma que as abrigou da chuva e foi cenário para a primeira noite de amor delas há quase dez anos, Natalia se emocionou.


-- Amor, espere só um pouco aqui, volto em dez minutos.


-- Você vai me deixar sozinha aqui? E se eu fugir?


-- Duvido que você queira fugir de mim...


            Natalia beijou Diana demoradamente e correu para dentro da cabana. Com os itens que trouxe na sua bolsa, limpou superficialmente o espaço, espalhou velas pelo chão, estendeu o edredom e foi ao encontro da namorada que esperava impaciente do lado de fora.


-- Pronto meu amor...


            Natalia se aproximou, retirou as algemas que prendiam Diana e em seguida a venda. Diana olhou em volta e imediatamente seus olhos marejaram.


-- Nat... Não acredito...


-- Achei que estávamos precisando de um pouco de magia. Que lugar mais mágico para nós do que aqui onde tudo começou?


-- Não acredito que você fez tudo isso... Organizou tudo... Como você lembrou o caminho pra cá?


-- Tive ajuda da Carla, e da Cacau também. E o caminho pra cá... Bem, vim outras vezes aqui na faculdade com as meninas do vôlei, e acabava voltando aqui nessa cabana e quase morria de saudade de você...


-- Meu amor...


            Diana estava sem palavras, emocionada. Notando tal reação da namorada e igualmente comovida, Natalia envolveu os braços no pescoço da loirinha e beijou ternamente e a conduziu para dentro da cabana, onde mais uma vez, Diana ficou extasiada com o ambiente que Natalia preparara.


-- Foi aqui que eu soube dez anos atrás que eu seria sua pra sempre Diana, vem, me faça sua de novo meu amor.


            Natalia disse enquanto desabotoava lentamente sua camisa de cetim, deixou cair ao chão a saia justa, exibindo seu corpo ainda mais exuberante à luz daquelas velas, coberto por uma minúscula lingerie rendada.


            Sentindo seu corpo ser invadido por um desejo pleno que se uniu a emoção daquele momento e seu amor que só cresceu nos anos que se passaram desde que amou Natalia ali pela primeira vez, Diana tomou a boca de Natalia em um beijo sôfrego.


            As bocas se uniram naquela troca de calor presente na pele, nas línguas, nas mãos, nas almas. O prazer daquele momento tomou uma dimensão incalculável, inédita para ambas, o qual promoveu o êxtase nas duas só naquele beijo que parecia antecipar o que os corpos teriam.

            As mãos percorreram o caminho que já sabiam de cor, arrancando os sons dos gemidos ofegantes que faziam crescer a excitação transformada e derramada entre os sexos que ansiavam ser preenchidos, explorados, acariciados.

            Os corpos tinham fome, tinham sede um pelo outro. A velocidade das carícias que antes era ditada pela atmosfera romântica preparada, agora se acelerava no compasso dos corações e respirações precipitadas. Diana caiu sobre o corpo nu de Natalia que se encarregou de arrancar as roupas que restavam em sua namorada, precisavam sentirem-se inteiras e livres uma para outra.

            As peles, as mãos, as línguas se deram sem reservas. Exploraram as curvas, os sabores, o calor, a umidade até ser inevitável o encontro da boca com sua gêmea. O desejo se tornara imperativo, e assim não relutaram em comandar a língua naquele movimento entre pequenos e grandes lábios, deslizando, lambendo, chupando por toda extensão deliciosa daquela cavidade, impondo força e ritmo no clitóris protuso culminando o ápice outra vez.

            Estava ali a magia entre elas, e nenhuma ousou macular aquele momento com o peso das circunstâncias que as cercavam. Natalia ainda reservou mais mimos para Diana naquela noite. Delicadamente, montou ali mesmo no edredom a mesa do jantar, espalhando seus conhecidos recipientes plásticos com torradas, patê, queijos, despertando o sorriso bobo da loirinha.

-- Eu te amo sabia? Você é minha vida Nat.


-- Assim como você é a minha. Amo você, pra sempre Di.


            Os planos de Natalia passar a noite ali com Diana foram interrompidos por um telefonema de Lucas. A principio, a promotora recusou as chamadas insistentes, mas se preocupou com a persistência do delegado.


-- Lucas não é uma boa hora, não posso falar agora.


-- Natalia não ligaria assim se não fosse importante.


-- O que houve?


-- O inquérito está encerrado, Acrisio confessou os crimes. Conseguimos pegar o safado.