terça-feira, 17 de maio de 2011

1º Beijo lésbico da TV brasileira!

Passeando pelo youtube,rs, olha o que encontrei, uma semana depois da legalização da união civil gay (uhuul \0/), o SBT exibe o primeiro beijo lésbico da TV brasileira. ooooooooooooooh
E dessa vez, não é uma brincadeirinha de reality show, são duas atrizes lindas em um beijaço rs
Vale a pena conferir

domingo, 15 de maio de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - VIGÉSIMO QUINTO CAPÍTULO

Capítulo 25



As irmãs Gama-Tau trataram de acionar antigas irmãs para assegurar as doações ao orfanato. Usando da influência delas na sociedade e no meio empresarial junto aos nomes da referida lista, obtiveram algumas boas respostas. Durante a semana, Michelle Roberts não procurou Esther. Tal fato deveria representar um alívio para a morena, entretanto, conhecendo a personalidade e do que Michelle era capaz, essa ausência só aumentava a apreensão de Esther diante da ameaça feita no último encontro. Tentava esquecer esse temor passando todas as horas possível ao lado de Amy, que cada vez mais, se mostrava apaixonada, gerando uma dubiedade de sensações em Esther: céu e inferno no seu interior conturbado.

Aproximava-se o aniversário de Amy, as meninas da fraternidade eram muito atentas quanto a tais eventos. Ao pedido de Esther, Laurel encabeçou os preparativos de uma festinha surpresa para sua loirinha.

As Gama-Tau guardavam a tradição de comemorar os aniversários de seus membros apenas entre irmãs, assim, a comemoração seria exclusiva. Amy aos poucos se tornava cada vez mais popular entre as irmãs, além de sua simpatia, estava sempre à disposição para ajudar as demais nas tarefas da casa, em trabalhos acadêmicos, sua felicidade parecia atrair as pessoas para mais perto dela.

Ellen fazia questão de estar sempre por perto, especialmente na ausência de Esther, esta, sempre ao notar uma malícia na aproximação da irmã tratava de sutilmente, ou não, trazer sua escolhida para seu colo.

Tudo pronto enfim para a festa de Amy, a manhã do seu aniversário começou mais que perfeita para a loirinha. Esther a surpreendeu com uma cesta repleta de guloseimas, e uma intimação carinhosa:

-- Hoje, a senhorita vai matar aula...

-- Piquenique?

-- Isso... Parabéns, linda!

A morena beijou aqueles lábios que pareciam clamar por serem possuídos pela boca de Esther. Trocaram um beijo apaixonado, o qual fez Amy desejar não sair do seu quarto. Em vez de receber o presente, quis dar-se com toda paixão, naquele mesmo momento. Puxou Esther pela jaqueta de couro enquanto sugava a língua da morena, até perto da cama, quando foi surpreendida por um empurrão sutil:

--E iii... Calma, linda... A gente vai ter tempo pra isso... Hoje o dia todo é só seu. Quero te mostrar um lugar especial, vamos.

Esther finalizou o convite com uma série de pequenos beijos nos lábios de Amy, que só sorriu timidamente, consentindo os planos de sua “irmã-guia”.

Após alguns minutos, chegaram a um cenário conhecido, a Sunshine Beach, a praia a qual os universitários costumavam se reunir para luais, a mesma que há semanas atrás foi ponto de encontro daquele casal. Esther parou a moto, ambas tiraram os capacetes, e Amy falou com a voz emocionada:

-- Piquenique na praia?

-- Mais ou menos... Lembra daquilo ali?

Esther apontou para o farol em cima da colina. De dia, parecia mais próximo da praia.

Amy sorriu e respondeu:

-- Como esquecer? Ouvir você narrar uma história de amor foi no mínimo estranho pra mim naquele dia...

-- Ué, por quê? Acha que sou incapaz de amar? Ou que não acredito no amor?

Olhando por cima dos ombros, Esther indagou com um tom decepcionado, até ouvir a resposta de Amy:

-- Incapaz, não, mas acho que você precisa acreditar mais no poder que esse sentimento tem...

A resposta de Amy bateu fundo no coração de Esther, que sabia perfeitamente a verdade daquelas palavras em sua vida. Alguns segundos de silêncio, até que a morena saiu de seu suposto transe, e fez menção de colocar o capacete de volta e dar partida na moto, quando parou, e mais uma vez, virou-se em direção a aniversariante, e disse:

-- Você parece me conhecer, loirinha... Mas você vai se surpreender comigo...

A frase despertou várias hipóteses na mente de Amy, e mais uma vez, o ar misterioso de Esther dominou aqueles enigmáticos olhos castanhos...

Seguiram então para o alto da colina. Desceram da moto, Esther rapidamente tirou a cesta de piquenique do bagageiro, com a outra mão conduziu Amy até o interior do farol, que estava surpreendentemente limpo, fazendo Amy acreditar que não estava abandonado, e assim, a tal história narrada por Esther poderia ser real.

Subiram por escadas estreitas até o topo do farol e lá arrumaram no chão o conteúdo daquela cesta. Esther não esqueceu nada, nem mesmo a toalha quadriculada: frutas, pães doces, torradas, suco, biscoitos, tudo bem separado. Amy estava encantada com a atenção de Esther, que sem dúvida estava mesmo surpreendendo-a.

As duas se serviram do pequeno banquete, em um clima descontraído, Esther lambuzava as bochechas de Amy com mel, e depois as beijava carinhosamente, despertando a princípio cócegas, entretanto as carícias evoluíam, na medida em que Esther descia com seus lábios pelo pescoço da loirinha, que se entregava desejando que Esther a possuísse com urgência... Seu corpo quente parecia gritar isso, até que enfim a morena entendeu, e foi impondo seu peso sobre Amy, e com suas mãos iniciou a exploração do corpo da loirinha... Desnudando cada espaço dele entre beijos, mordiscadas, e o com o calor de sua língua, fez Amy tremer rapidamente.

Amy ousava despir algumas peças de Esther, mas a morena claramente queria dominar aquele momento. Segurou então os dois braços da loirinha acima de sua cabeça, e continuou sugando a língua de Amy, movimentando seus quadris num ritmo envolvente, despertando uma explosão de prazer na loirinha externada em gemidos roucos.

Sutilmente, Esther soltou os braços de Amy, buscou o pote de mel e o derramou no na loirinha, e logo seus lábios e língua passearam naquele corpo completamente eriçado...

A última peça da roupa de Amy, sua calcinha, foi retirada pelos dentes da morena, que estrategicamente colocou-se entre suas pernas. Acariciou o sexo encharcado da loirinha, encheu-se de volúpia, e mergulhou nele com voracidade, sugando cada gota daquele líquido quente, alterando com movimentos circulares entre os pequenos lábios e movimentos mais fortes na altura do clitóris, levando Amy a um gozo pleno evidenciado com a sequência de gemidos e o arqueamento de seu tronco no auge daquele orgasmo.

-- Acabou comigo, hein, minha presidente!

-- Tudo pra aniversariante...

As duas sorriram abraçadas, e ficaram ali por algum tempo, apenas curtindo o calor dos corpos. O momento sereno foi quebrado com uma observação de Esther:

-- Olha só... Está tudo muito bem... Mas tenho que dizer uma coisa...

-- Ai... Vai me deixar aqui? Mandar procurar um táxi? Por favor, Esther, justo hoje?

-- Eiii... Calma, menina! Só ia dizer que você está grudando...

-- Ah...

Não contiveram a gargalhada, depois de muitos risos, Amy interferiu:

-- Culpa sua, né? Não tirou o mel todo...

-- O problema é que você é doce demais...

-- Ah... Então é esse o problema? E agora como a gente resolve isso?

-- Você está vendo aquele marzão todo ali embaixo? Convidativo, não acha?

Amy sorriu, vestiu-se rapidamente enquanto Esther se apressava em guardar tudo que sobrou na cesta. Desceram as escadas do farol, e em minutos, estavam na praia, naquele ponto, deserta, por isso, não tardaram em correr para o mar trajando apenas as peças íntimas. Brincaram, trocaram carinhos, beijos ardentes, aquele momento era sem dúvida o melhor presente que Amy já havia recebido em todos os seus aniversários.

Na areia da praia, Amy recostou sua cabeça no ombro de Esther, inspirando seu perfume, sentindo sua pele quente e macia, e deixou seu coração falar mais alto para se declarar para a morena:

-- Esther, nunca pensei que uma mulher me despertasse tantas sensações, sentimentos tão intensos... Acho que... Estou completamente apaixonada por você... Quero te agradecer pelo dia de hoje, está perfeito... Mas, mais que isso, quero agradecer por você estar comigo como esteve nos últimos dias...

A morena tentou falar algo, mas não dizia uma sequência lógica de palavras, balbuciou um enfático:

-- Nooossaaa...

-- O que foi? Deixei a presidente da Gama-Tau nervosa? -- Amy disse com ar jocoso.

-- Deixou-me sem palavras, na verdade... Mas, quero te dizer que... O dia ainda não acabou... Ainda falta te dar meu presente, vamos?

-- Presente? Nossa, pensei que esse piquenique fosse meu presente!

-- Deixa de ser boba! Claro que isso aqui não foi seu presente! Agora vamos, que está me dando agonia esse monte de areia grudando em mim...

Sorriram e caminharam de mãos dadas até a motocicleta de Esther. Amy exibia um sorriso largo, com um ar de criança sapeca pediu à morena:

-- Já que é meu dia e você está tão boazinha... Posso te pedir uma coisa?

-- Xi... Já vai se aproveitar, é? Pede aí...

-- Será que você pode me ensinar a pilotar moto?

-- Hoje?

-- É... Tenho medo de outro dia você não estar de tão bom humor assim... -- sorriu.

-- Vamos lá então, aniversariante! Que exploradora você é! Vamos lá, monte aí...

Amy apoderou-se da moto enquanto Esther explicava as funções, os pedais, e ensinou a loirinha enfim a dar partida. Amy parecia criança diante de um brinquedo novo, acelerando para ouvir o ronco do motor. Esther sorria encantada com suas reações, orientou então que a loirinha colocasse o capacete e montou na garupa, abraçando-a por trás, ajudando-a a conduzir a moto praticamente desfilando, sem impor velocidade. Aos poucos, Esther indicava que Amy acelerasse moderadamente. Ficaram assim até não encontrarem movimento de outros veículos nas ruas, só aí Esther assumiu o comando e seguiram de volta à mansão Gama-Tau.

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 26

CAPÍTULO 26: DECISÕES


Para minha surpresa, Suzana estava cedo no hospital, não esperou que eu fosse buscá-la, não perguntei, levei-a ao meu consultório enquanto Camila avaliaria alguns pacientes operados no dia anterior. Estava fria comigo, eu fingia não perceber.

- Como se sente, Suzana?

- Decepcionada.

Fiquei desconcertada com a resposta de Suzana, mas fingi ignorar, continuando a consulta.

- Tem sentido tontura?

- Não.

- Dor de cabeça?

- Não.

- Algum tipo de perda dos sentidos? Memória?

- Não.

- A fisioterapia está indo bem, vi com meus próprios olhos. Acho que teremos boas notícias para você hoje.

- Teremos? Vocês vão me dizer que romperam o namoro?

- Não, Suzana. Não falamos de nossa vida pessoal com pacientes.

- Não posso acreditar que sou apenas uma paciente para você Isabela.

- Não você não é e sabe muito bem disso, e você tem que concordar comigo que não te tratei só como paciente, mas...

- Mas?

- Mas não vai acontecer mais nada entre nós Suzana, vou me casar com Camila.

- Casar? Mas... Vocês já estão morando juntas...

- Mas queremos uma cerimônia simbólica... Enfim...

- Mas Isabela... Existe algo entre nós, eu sinto quando te toco... Quando nos beijamos que existe algo...

- Seja o que for Suzana... Não vai acontecer... Eu amo Camila... Desculpe-me se te dei a entender outra coisa.

Nesse instante, Camila entra no consultório interrompendo nossa conversa.

- Olá Suzana, vamos fazer uns exames?

- Oi Dra. Camila, pois não.

Suzana não parava de me encarar, mesmo que eu desviasse o olhar, nem lembro quais perguntas Camila lhe fizera, e isso minha noiva percebeu, mas elegantemente manteve sua postura profissional.

- Bom, vamos fazer uma ressonância hoje Suzana, dependendo dos resultados podemos te liberar pra voltar pra casa e continuar seu tratamento de reabilitação –
- Rio?

- Não é lá sua casa?

- Sim é...

- Então vamos para a radiologia?


Fiz menção de acompanhar Suzana para o exame, como era de praxe, mas Camila interveio.


- Eu a levarei Isabela.


Não disse nada, apenas balancei a cabeça positivamente, enquanto Camila ajudava Suzana a sentar-se na cadeira de rodas, conduzindo-a até a radiologia. Cerca de uma hora depois, Camila me procurou com um ar preocupado.


- Isa, acompanhei com o radiologista o exame de Suzana, e temo não ter boas notícias.

- O que houve?

- Um novo aneurisma, e dessa vez numa localização rara.

- Não pode ser Camila, você clipou cinco aneurismas, isso já é raro demais, e a formação de outro dois meses depois?

- Esse está na bifurcação da artéria basilar, os vasos próximos estão dilatados, extremamente sensíveis, Isa, ela não resiste a outra cirurgia agora.

- Você já disse isso a ela?

- Ainda não, pedi outros exames, uma outra cintilografia agora para ver melhor os vasos, para talvez tentar um tratamento intra-arterial com uma embolização, mas ainda sim Isa, é muito arriscado.

Mais uma vez senti o chão abrir-se debaixo dos meus pés, isso não poderia ser real, Suzana estava praticamente recuperada e enfrentar outro processo como esse seria demais para ela, e minha consciência? Tinha acabado de tirar suas esperanças a nosso respeito, ela estava decepcionada comigo, como dizer isso pra ela? Camila se aproximou de mim com aquele olhar compreensivo que me encantava.

- Isa, eu prometo que farei de tudo para salvar a vida de Suzana, mas a gente tem que se preparar para uma outra perspectiva...

- Como assim? – perguntei angustiada.

- Se os exames confirmarem a possibilidade da inserção do cateter fazendo um procedimento menos invasivo, mas isso pode causar hemorragia em outras artérias, e aí temo que as seqüelas sejam mais graves do que essas que ela está enfrentando.

- Camila e se for alguma doença de colágeno? Tratando podemos evitar a formação de outros aneurismas não?

- Tem razão Isa, vou pedir exames para lúpus, artrite reumatóide e esclerose sistêmica, podemos ter deixado escapar algum sintoma ou sinal anteriormente.

Descemos ao encontro de Suzana, para comunicá-la a triste notícia. Antes Camila tratou de analisar os exames e solicitar outros. Não tive coragem de ser eu a falar, Camila percebeu e se apressou em detalhar a nova situação clínica de Suzana.

Ela escutou tudo atentamente, não esboçou reação, isso me assustou. Camila repetia que ia fazer tudo de mais avançado em técnicas para assegurar um procedimento mais seguro, e se antecipou em anunciar que estava investigando a causa da sensibilidade das artérias, e dos sucessivos surgimentos de aneurismas. Suzana interrompeu as explicações de Camila.

- Dra. Camila, não se preocupe, não haverá mais procedimentos.

- Desculpe-me, Suzana... Eu não entendi.

- Não vou me submeter a outra cirurgia, não quero mais fazer nenhum exame ou qualquer experimento, preciso que você me dê alta pra que eu volte pra casa.

Não me contive e retruquei com um tom alto de voz:

- Você enlouqueceu?

- Calma Isabela, Suzana está confusa, isso é normal...

- Não estou confusa, não quero passar por todo processo de novo de entrar em um cirurgia sem saber se sobreviverei, se sairei inteira, ou quando passarei por isso de novo.

- Suzana é sua vida! Como você pode ser tão irresponsável assim? E as pessoas que gostam de você? Você vai simplesmente desistir de viver? – vociferei emocionada.

- Isabela, calma por favor – Camila me olhava com cara de poucos amigos.

- Como posso me acalmar diante de uma estupidez dessas?

Camila me fuzilava com o olhar, me dei conta do circo que eu estava armando. Suzana mantinha-se de cabeça baixa, apática. Eu queria falar a sós com ela, o que acabou acontecendo, Camila foi chamada para atender uma urgência, antes de sair cochichou:

- Dê um tempo a ela, e lembre-se: a decisão é dela!

Notei que a preocupação de Camila era prioritariamente profissional, e que eu não estava me comportando de acordo. Respirei fundo, sentei-me perto de Suzana e continuei o assunto:

- Será que você pode me explicar de onde saiu tanta estupidez assim?

- Isabela, por que estupidez? Olha pra minha vida... Eu não tenho ninguém! Nem meu trabalho eu terei paz pra realizar, ficarei refém de qualquer que seja a doença que vocês descubram, ou inutilizada, meu pai já me considera morta, o Vitor é maravilhoso, mas nos vemos duas, três vezes por ano, não posso ser um estorvo pra ele...

- E eu Suzana? E eu?

Não me contive, as lágrimas rolaram, e com todo esforço, Suzana caminho até mim abraçando-me, ela precisava de consolo e no entanto, foi ela a me confortar, me deixei ser abraçada, recostando minha cabeça no seu ombro. Foi quando ouvi da boca dela o que não esperava:

- Seja meu motivo pra viver Isa.

Eu gelei dos pés a cabeça, afastei-me assustada com o pedido, a voz de Suzana tinha uma emoção que me invadia, eu estava comovida, mas com um peso de responsabilidade indescritível, se eu respondesse não poderia implicar na decisão de Suzana recusar o tratamento e isso ser fatal para ela, se eu respondesse sim, teria que deixar Camila, a mulher a quem eu disse sim ao pedido de casamento na noite anterior, e mais que isso, a mulher que eu amava, mas por outro lado, Suzana foi meu primeiro amor, não podia deixá-la morrer sem lutar por sua vida.

- Eu sei que isso é insano, Isa, mas preciso de você para acreditar que vale a pena continuar com minha vida, que está sem sentido desde que você me deixou.

- Suzana você não pode fazer isso comigo... Isso é tão injusto, você colocar em minhas mãos a decisão por sua vida... Você não pode fazer isso por mim, tem que fazer isso por você!

- Isa... Isso pode ser um ato de desespero, não por minha saúde, mas por minha vida que passou a ser você...

- Não Suzana não! Não sou sua vida, não sou responsável por ela, como você diz que me ama e me coloca nessa situação?

- Fica comigo, me ajuda a passar por isso, possivelmente eu nem tenha tanto tempo de vida assim...

- Você está fazendo comigo o que Bárbara fez com você Suzana, você acha isso justo?

Suzana calou-se, olhou-me com uma tristeza que parecia perfurar minha alma, tinha consciência de tudo que falei para ela, mas não estava convencida de me eximir da responsabilidade que ela me designou. Camila voltou a sala notando a tensão entre nós.

- Suzana, não posso te pedir pra me dar uma decisão agora sobre o tratamento, entendo que você esteja abalada, mas como sua médica, tenho que lhe dizer que a intervenção deve ser urgente.

- Doutora, eu gostaria de ir para casa – foi seca no seu pedido.

- Liberarei quando eu puder lhe dar o diagnóstico do motivo desses aneurismas sucessivos. Amanhã teremos os resultados dos exames.

Suzana retirou-se lentamente da sala enquanto eu continuava tensa, sem conseguir lhe dirigir o olhar, mas mesmo assim ousei lhe falar:

- Espera, vou te deixar em casa.

- Não há necessidade, pego um táxi, obrigada pela gentileza.

Saiu sem olhar para trás, Camila se aproximou de mim com a compreensão que lhe era tão peculiar, segurou meu rosto entre suas mãos e me perguntou:

- Como você está meu amor?

- Atordoada meu bem... Eu não sei o que fazer para fazer Suzana aceitar o tratamento...

- Você não tem que fazer nada Isa, nem como médica, nem como amiga, a decisão é dela, ninguém pode ser responsável pela vida do outro assim.

Camila parecia adivinhar o que se passava, não lhe contei nada, apenas a abracei, ela me colocou no seu colo, acariciando meus cabelos, me cobrindo de carinho como ela sempre fez.

- Vamos pra casa meu amor? – Camila falou ao meu ouvido.

Concordei, meus pensamentos giravam em torno do pedido de Suzana, por mais que eu tentasse não conseguia tirar da minha cabeça a voz dela me pedindo “Seja meu motivo para viver Isa”.

Camila falava sobre nossos planos para a mudança para Boston, perguntava-me sobre a nossa cerimônia, e eu só pensava na morte de Suzana. Naquela noite tive pesadelos terríveis, acordei chamando o nome de Suzana, o que causou uma discussão na manhã seguinte com Camila.

- Isabela, você tem certeza quer seguir com nossos planos?

- Claro meu amor, por que a pergunta?

- Por que nos nossos planos não cabem Suzana, acho bom que você saiba disso.

- Lógico que sei, por que você está falando isso?


-Porque ela está entre nós, invadindo seus sonhos, seus pensamentos, eu não vou agüentar isso mais tempo.

Fiquei sem argumentos, Camila sentia o que se passava e já tinha me perdoado tanto por minhas omissões, ausências, mentiras desde a chegada de Suzana, não era mesmo justo fazê-la passar por isso. Mantive-me calada, só cheguei perto buscando abraçá-la, mas ela afastou-se, apressando-me para sairmos para o hospital.

Ainda no estacionamento, Bernardo nos abordou:

- Isa, desculpe-me você vai querer me matar, mas trouxe Suzana hoje cedo pro hospital depois que consegui sedá-la, Dona Marta encontrou-a desmaiada no quarto de madrugada, mas quando voltou a consciência se recusava a vir pro hospital...

Nem esperei Bernardo terminar as explicações, saí correndo em direção a urgência, deduzindo que ela estivesse lá, Camila saiu logo atrás com Bernardo. Ela estava consciente, mas um pouco desorientada, olhou-me fixamente, enquanto eu tratava de fazer uma avaliação neurológica, meu corpo tremia, temendo ver Suzana se entregar.

- Su você está me ouvindo?

- Isa... Minha Bela...

Suzana não concluiu o pensamento desorientado, começou a convulsionar, no momento que Camila e Bernardo entravam no ambulatório, tomando as rédeas da situação, administrando drogas para cessar a convulsão, Camila pediu que preparassem o centro cirúrgico, na expectativa de convencer Suzana a se submeter a cirurgia quando retomasse a consciência. Eu perdi a noção do que fazer diante do quadro de Suzana, esqueci que era médica, fiquei tomada de pavor. Aos poucos a situação ia sendo controlada, enquanto eu me perdia vendo aquela cena, as vozes se confundiam à lembrança do pedido de Suzana no dia anterior.

- Suzana você está me ouvindo? – Camila indagou.

Ela balbuciava algo incompreensível. Camila pediu que uma enfermeira se encarregasse de levar os exames laboratoriais de Suzana até seu consultório, ela queria analisar uma melhor técnica para o procedimento cirúrgico e assegurar o diagnóstico da causa dos aneurismas. Fiquei ao lado de Suzana tentando entender o que ela falava, quando Camila se retirou do ambulatório, olhou-me com ar de preocupação:

- Isabela estarei na minha sala, você vem?

- Sim, vou em seguida.

Olhei para Suzana, segurei sua mão, acariciando seus cabelos, pedi-lhe:

- Su, não desiste... Luta... Faça essa cirurgia... Por favor, não desiste... Se você concordar com a cirurgia pisca pra mim uma vez que vou entender.

Demorou um pouco, com os olhos marejados, piscou, sorri e beijei sua testa, corri para o consultório de Camila para apressar a cirurgia. A essa altura Camila já tinha uma decisão sobre como fazer a microcirurgia através de embolização, e possivelmente Suzana era portadora de Lupús, isso significaria um tratamento pelo resto da vida se ela sobrevivesse.

Liguei para Vitor, para Lourdes e Letícia, todos prometeram chegar a Campinas o mais rápido possível. Camila preparava a equipe enquanto eu permanecia ao lado de Suzana que mesmo sem dizer nada me olhava com esperanças. A cirurgia foi longa, tratava-se da inserção de um cateter na artéria femoral na perna subindo pelos vasos sanguíneos do pescoço até o vaso afetado, acompanhado de um raio-X em tempo real.

Camila como sempre foi perfeita no procedimento, quase nove horas depois, comemorava o êxito da embolização, nos restava aguardar a evolução do quadro de Suzana.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - VIGÉSIMO QUARTO CAPÍTULO

Capítulo 24



Na mansão Gama-Tau, Amy se remexia na cama buscando alguma tranquilidade para dormir, mas era impossível, com a enxurrada de pensamentos acerca do destino de Esther naquela noite. Ficou de pé diante da janela de seu quarto, na ânsia de escutar o ronco da motocicleta de Esther enfim chegando à mansão. A espera deu lugar ao acelerar do coração quando a morena estacionou sua moto e entrou apressada na sede da fraternidade.

Amy seguiu na ansiedade, andando de um lado pro outro no quarto, na esperança que Esther a procurasse em seu quarto. Entretanto, a morena tentava “lavar a alma” no seu banho demorado. A água morna do chuveiro se misturava ao sal de suas lágrimas abundantes, sentia seu corpo doer, sua pele ardia dos arranhões nas costas, braços. No entanto, a dor maior era no seu amor próprio, na sua auto-estima, no seu interior. Sentia-se imunda, ferida de morte, e pra sanar tal sujeira, pra minimizar tal martírio, não bastava apenas uma sessão de exorcismo naquela água...

Não suportando a ansiedade Amy subiu até o andar do quarto de Esther, bateu na porta, não obteve resposta, entrou mesmo assim, não resistiu ao notar a porta aberta do banheiro, e aquela cena fez Amy sentir uma imensa vontade de colocar a forte e destemida presidente da Gama-Tau no colo como criança: Esther estava com os braços cruzados encolhida no canto do box, olhando fixamente para a água que caía, um olhar vazio, as lágrimas que caíam eram silenciosas. Sem pensar, Amy invadiu o box, com uma toalha na mão, desligou o chuveiro e agachou-se agasalhando Esther com a toalha, apertando-a num abraço confortador, cheio de cuidado, carinho, proteção.

Esther se deixou ser abraçada, a carícia de Amy enxugando as lágrimas do seu rosto e recostando sua cabeça no seu peito, foi como um bálsamo praquele momento de profunda tristeza, que era tanta, que sequer conseguia exteriorizar. Aos poucos, Amy conseguiu levantá-la, vestiu-a em um roupão, e a sentou na cama. Com delicadeza, secou o resto do seu corpo, cabelos. Tinha muitas perguntas a fazer, mas sua preocupação era somente estar do lado daquela mulher que lhe despertava tantos sentimentos diversos, tão diversos quanto as faces que Esther demonstrava, mantendo o mistério sobre sua real personalidade.

-- Quer comer alguma coisa, Esther?

A morena apenas sacudiu a cabeça negativamente, e deitou-se no colo de Amy, que não demorou a afagar seus cabelos ainda úmidos. Notou o ferimento no seu braço, e as interrogações só aumentaram em sua cabeça. Entretanto, sabia que não era momento de indagações, Esther estava frágil, e pela primeira vez, expondo tal fragilidade para ela.

Num tom tímido, Esther finalmente falou:

-- Você poderia dormir aqui, comigo hoje?

--Claro que sim...

Amy deitou-se então ao lado da morena, que se aninhou em seus braços, sob os afagos e carícias, Esther adormeceu, enquanto Amy permaneceu acordada presa ao mistério que ela estava disposta a desvendar por amor.

Acordar nos braços de Amy deu a Esther uma sensação inédita de bem estar. O cheiro da loirinha, a maciez de sua pele e seu semblante delicado, tranquilo, transmitia paz para Esther, sentimento que ela desconhecia. Por alguns instantes, ignorou que em breve perderia a candura de Amy, quando enfim desse continuidade ao seu plano de vingança. Uma coisa era certa, Amy estava apaixonada por ela, exatamente como ela queria a princípio, para que assim ficasse mais fácil executar seus planos... Entretanto, ela não esperava também se apaixonar. Tal fato transformou o momento o qual ela se preparara toda vida numa adaga afiada, que ia lhe ferir profundamente a alma.

A contemplação de Esther parecia ter despertado o sono de Amy, que acordou com um sorriso sincero nos lábios para a morena:

-- Bom dia, minha linda...

Aproximou-se da boca de Esther, depositando um beijo suave, o qual a morena retribuiu tímida.

-- Bom dia... Temos que nos apressar, temos aula daqui a pouco.

-- Você está bem? Ontem estava um tanto quanto... Abalada...

-- Sim, estou... Não se preocupe, já passou. Obrigada por me fazer companhia.

--Não precisa agradecer... Bem, vou me arrumar. Te encontro lá em baixo pra tomarmos café?

Esther sorriu e balançou a cabeça positivamente, e acompanhou com o olhar Amy saindo de sua cama, exibindo seu baby-doll minúsculo rosa, delicado como ela. Quando estava quase à porta para sair, a loirinha correu de volta para onde Esther estava, e deu-lhe mais um beijo, dessa vez carregado de carinho:

-- Quase me esqueci... -- sorriu. -- Até daqui a pouco, linda.

O dia reservava momentos de tensão para a presidente da Gama-Tau. A reunião do conselho da universidade aguardava os resultados das atividades realizadas pela fraternidade, dessa forma, o encontro com Michelle Roberts seria inevitável.

Rachel, como tesoureira da fraternidade, acompanhou a amiga, que estava visivelmente incomodada pelo fato de encontrar tão cedo Michelle, que lhe fizera ameaça óbvia na noite anterior. Todos os representantes de fraternidade já estavam no gabinete da reitoria sentados em volta de uma grande mesa de reuniões, aguardando apenas a chegada de alguns membros do conselho, dentre eles, a Sra. Roberts.

Como de costume, a Sra. Roberts fez sua entrada triunfal, não retirou o óculos de sol por nenhum momento. Sentou-se à cabeceira da mesa, e apenas fez sinal para que o vice-reitor desse início a reunião.

Todos os representantes apresentaram seus balancetes, relatórios, sem atrair muita atenção da poderosa Michelle. Quando enfim Esther fez uso da palavra, a Sra. Roberts retirou seus óculos de sol e encarou fixamente a morena enquanto esta tentava não demonstrar o quanto estava intimidada com a postura de Michelle, que roçava na boca a perna dos óculos sem se distrair do seu foco: Esther.

Ao final da exposição de Esther, que não ousou olhar uma vez sequer para Michele, a empáfia personificada tomou a palavra do vice-reitor, que se detinha a elogiar os trabalhos das fraternidades.

-- A Gama-Tau teve um desempenho tímido, entretanto, considerando os inúmeros doadores em potencial naquele baile. Penso que não souberam se organizar para atingir o objetivo principal. Alguma coisa a justificar esse fiasco, Esther Gonzalez?

Esther engoliu seco, mexeu nos papéis que continham os balancetes, mas nada muito concatenado surgia, até Rachel interferir:

-- Tenho certeza que conseguimos parceiros importantes para o orfanato, Sra.Roberts.

Com isso, Rachel empurrou para o lado de Esther uma lista de grandes nomes do empresariado que compareceram a festa e assinaram um livro de autógrafos, manifestando a intenção de se tornarem doadores assíduos do orfanato adotado pela Gama-Tau. E assim, Esther prosseguiu a defesa do trabalho da fraternidade:

--Michael Connor, Jacob Fines, Victor Madsen, Mattew Carter... São apenas alguns dos nomes que tenho aqui nessa lista, que estiveram no baile de máscaras da Gama-Tau. Todos possíveis doadores honorários. Acho que esse ganho já justifica o sucesso de nosso baile, não acha, Sra. Roberts?

Michelle, sentindo-se pela primeira vez desafiada por Esther, ficou sem palavras por alguns segundos, até retomar sua postura de superioridade, e respondeu:

-- Espero de fato que essa lista que você mencionou tenha mesmo validade e salve a Gama-Tau de arruinar sua reputação de promotora de festas... Porque senão, é hora de outras fraternidades mostrarem que sabem promover festas melhores que as de vocês...

Dizendo isso, Michelle foi se levantando, recolocando os óculos e deixando o gabinete da reitoria, cumprimentando a todos com um seco:

-- Bom dia a todos. Senhor vice-reitor -- fez apenas um sinal com a cabeça e se retirou da sala.

Os demais participantes da reunião foram recolhendo os papéis da mesa e se retirando em seguida, mas o comentário era um só: a insatisfação da Sra. Roberts com o baile da Gama-Tau. Outros presidentes de fraternidades já ambicionavam tirar o reinado de festas da Gama-Tau, título que a fazia a fraternidade mais popular e respeitada da Universidade. Esther e Rachel se entreolhavam com apreensão.

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 25

CAPÍTULO 25: EU SEI QUE E’ PRA SEMPRE ENQUANTO DURAR...


Suzana demonstrava dia-a-dia progressos na fisioterapia, já falava sem dificuldades, quase não se percebia a paralisia facial, exceto quando ela sorria. Certa vez quando almoçamos juntas no meu até então apartamento, surpreendeu-me roubando pedaços de palmito do meu prato com a mão direita. O gesto me transportou para nossos momentos juntas, ela sempre fazia isso para me provocar, nem me dei conta que ela o fez sem dificuldades com a mão direita.

- Espera aí... Faz de novo Su. – falei ansiosa.
Ela repetiu com um sorriso largo nos lábios.

- Suzana! Seus movimentos estão ótimos... Por que você não me disse isso?
Não me contive, como um reflexo pulei no seu pescoço abraçando-a em comemoração ao seu progresso. Quando me dei conta do meu gesto, fui me afastando do seu corpo, sentindo a resistência dela em se afastar dos meus braços. Senti nossos rostos se encostarem no movimento da separação, Suzana já respirava acelerado e eu me controlava para não invadir sua boca tão próxima de mim. Senti uma vibração no meu corpo, não era excitação, era meu celular dentro do bolso da frente de minha calça, abruptamente me desvencilhei e atendi: Camila.

- Oi amor, onde você está?

- Oi meu bem, eu estou... No shopping... Vim comprar umas coisinhas...

Não gostava de mentir para Camila, mas desde que Suzana se tratava em Campinas, fiz isso repetidas vezes tentando evitar novas discussões com Camila.

- Vai demorar por aí ainda?

- Não, já estou indo pra casa, quer jantar o que hoje?

- Ah, qualquer coisa meu amor, mas te liguei para te contar uma novidade, amanhã temos compromisso, a universidade vai realizar uma homenagem póstuma pro papai pela pesquisa dele em botânica, e vou receber o prêmio no lugar dele em uma cerimônia.

- Ai que coisa maravilhosa minha linda... Estarei na primeira fila aplaudindo seu discurso.

Suzana observava minha conversa com Camila, com um olhar triste, depois que desliguei o telefone, indagou-me:

- Porque você mentiu pra sua noiva?

- Não sei, nem eu mesma sei... Talvez pra evitar provocar os ciúmes dela.

- Não estamos fazendo nada demais.

- Eu sei, eu sei, mas preciso ir, agora tenho comprar algo no shopping pra ela não desconfiar, talvez algo pra vestir na cerimônia de amanhã.

- Cerimônia?

-E’, Camila vai representar o pai em uma homenagem póstuma da universidade.

Saí às pressas em direção ao shopping, não comprei um vestido só pra mim, comprei também para Camila, me sentia como aqueles maridos cafajestes que para desencargo de consciência presenteava a esposa depois de uma traição. Ela nem desconfiou, cobriu-me de carinho em retribuição.

- Amor, e sua tese do mestrado? Está escrevendo?

- Ai Cami... Travei viu, você bem que podia me ajudar né?

- Claro que sim...

Camila participava de tudo em minha vida, sentou-se ao meu lado em frente ao computador, fazendo sugestões de melhor redação, sugeria bibliografias, questionava minha metodologia, e assim ia me inspirando.

- Mas me diga, além do presente que você me trouxe, o que preparou para o jantar? – Camila me olhava como se me desafiasse, sabia que eu não tinha o menor jeito na cozinha.

- Espaghetti ao molho de camarão, e de sobremesa, mousse de chocolate!

- Meu Deus com tanto talento assim você está pronta pra casar! Tenho que apressar em amarrar essa mulher... Fez tudo sozinha meu amor?

- Sim, sozinha, fui sozinha no balcão do restaurante, escolhi sozinha, paguei sozinha, e trouxe sozinha pra casa...

Gargalhamos juntas do meu feito.
- Mas... Por causa disso vai desistir de se casar comigo? Ou preciso fazer um curso de culinária antes?

- Comeria todo dia pão com mortadela na padaria da esquina, mas nunca desistiria de casar com você meu amor...

- E então? Quando casamos, sou moça de família do interior, você acha que é só me levar pra casa e pronto?

Camila sorriu, mas logo ficou séria.

- Isa, eu nunca quis tanto alguma coisa na vida como quero casar com você, mas ainda não é o momento, mas me aguarde, estou esperando algumas definições e tão logo as terei e aí você não me escapa!

Beijou-me longamente, percebi certo mistério nessa colocação, mas logo me entreguei aos seus beijos, deixando aquele corpo perfeito possuir o meu incansavelmente.

No dia seguinte, Camila estava de folga, ansiosa, preparava o discurso que ela faria a noite, fui trabalhar, prometendo chegar cedo para irmos juntas ao salão de atos da universidade. No meio da tarde, saí do hospital, no estacionamento recebi um telefonema de Rosa, a técnica de enfermagem que cuidava de Suzana:

- Dra. Isabela, a senhora disse que eu podia ligar se houvesse algum problema, e...

- O que houve com Suzana, Rosa? – interrompi com a voz angustiada.

- Nada, com ela nada doutora, meu filho é que adoeceu, está no hospital, eu queria pedir a senhora pra levar Dra. Suzana pra fisioterapia, pra eu ir ver meu filho.

- Ah... Que susto Rosa, pode ir, estou passando aí pra levá-la então.

Fiquei preocupada com o horário mas a fisioterapia não demorava, no máximo em duas horas eu estaria livre, então dava tempo me arrumar e ir com Camila para a cerimônia.

Ajudei Suzana a entrar no carro, sua perna direita ainda não respondia bem, na clínica, ela parecia inspirada por minha presença, as vezes sentia que ela se esforçava para exibir-se para mim, estava orgulhosa por sua força de vontade, a fisioterapeuta, uma jovem morena de olhos verdes de cabelos curtos cacheados , todo tempo estimulava Suzana com elogios a sua disposição.

A sessão durou cerca de 50 minutos, mas a fisioterapeuta, Luiza, pediu que Suzana passasse ainda por uma massagem estimulante, mesmo preocupada com o horário cedi aos apelos de Luiza, gastando mais meia hora ali. Saímos da clínica por volta das 18h, Suzana percebeu minha pressa:

- Isa, eu pego um táxi, vai se arrumar... Que horas é a cerimônia?

- Não, tudo bem, te deixo em casa, a cerimônia será apenas as 19:30h, D. Marta está em casa ainda né?

- Ficará comigo hoje.

Murphy estava com tudo... Peguei todos os semáforos fechados, horário de pico, ainda contei com alguns congestionamentos, gastando mais de 40minutos no trajeto. No meu celular várias chamadas de Camila, nem atendi para não me atrasar mais. Cheguei em casa as 19h, jogando tudo pra cima, chamando por Camila. No balcão do bar, um bilhete de Camila: “não sei onde você está, nem que horas chegará, não posso te esperar.” Até pela escrita e pelas palavras senti a chateação justa de Camila.

Com todo esforço para chegar a tempo na cerimônia, com o trânsito e depois de eu errar o prédio do salão de atos, só consegui chegar a tempo de ouvir o “muito obrigada” de Camila, seguido de aplausos da platéia. Como me doeu isso... Camila percebeu minha presença na porta do auditório, me olhou com frieza, não retribuiu meu sorriso. Esperei a conclusão da cerimônia nas fileiras de trás para não chamar atenção. Um coquetel foi servido em seguida, cumprimentei Carmem, as irmãs de Camila e o Vô Elias que cochichou ao meu ouvido:

- Ela procurou seu rosto o tempo todo na platéia minha querida... Espero que você tenha um motivo justo para esse atraso.

Camila fez questão de não chegar perto de mim, e eu até temia me aproximar, vi raiva, mágoa nos olhos dela, e o pior, ela tinha razão em sentir isso. Cerca de meia hora depois do início do coquetel, tomei coragem e me aproximei:

- Cami... Eu...

- Isabela, em casa conversamos.

Ela me fuzilava com o olhar, e o pior, a situação pioraria quando ela soubesse o motivo. Meu coração apertava imaginando que brigaríamos, corria o risco de perder Camila. Ela era compreensiva, mas eu já estava abusando dessa compreensão, sem mencionar minha confusão de sentimentos com a proximidade de Suzana em nossas vidas.

Não demorou muito, estava tensa e triste pelo tratamento de Camila, avisei-a que estava indo pra casa ela respondeu que iria em seguida, chegou em casa vinte minutos depois que eu, eu a aguardava na sentada na cama.

- Cami, eu te devo desculpas...

- Pára Isabela, você me deve bem mais do que desculpas... Eu estava evitando essa conversa para não ser injusta, nem ser acusada de egoísmo, mas hoje foi a gota d’água. Primeiro, não minta pra mim. Onde você estava e porque não atendeu minhas ligações?

- Eu... Fui levar Suzana a fisioterapia porque o filho da Rosa estava no hospital... Acabei me atrasando com o trânsito... Não atendi pra não me atrasar mais, eu estava dirigindo quando você ligou.

- Isabela, eu não posso acreditar que o motivo de você ter me decepcionado hoje foi Suzana. Você sabia da importância disso pra mim, relembrar meu pai, sua morte, você me disse que estaria lá na primeira fila, eu precisava olhar seu rosto na platéia e você arriscou isso pra estar com sua ex- namorada?

- Cami, eu não podia imaginar que ia me atrasar tanto...

- Isabela só pra começar, você nem devia ter ido levá-la, existem pessoas que usam cadeiras de rodas e ainda assim são independentes. Suzana já está andando com auxílio de muletas ela podia perfeitamente ir de táxi...

- Mas Camila, ela não tem ninguém...

- Isabela acorda! Isso já está indo longe demais! Você está mentindo pra mim, escondendo coisas, você pensa que eu não sei que você a visita todos os dias quando estou operando?

- Camila, não é bem assim, eu não conto porque não tem importância...

- Não me subestime Isabela, isso não é justo comigo... Você está mudada, nem na sua tese você fala mais, como posso fazer planos pra gente?

- Camila, eu te amo, quero casar com você, ficar com você pra sempre meu amor...

- Quer mesmo Isabela? Certeza? O que está acontecendo entre você e Suzana, então?

- Nada, estou sensibilizada com a situação dela, me sinto responsável não sei por quê.

- Isabela eu acho bom você prestar atenção na nossa relação, porque eu estou me cansando de entender tudo e fechar os olhos pra sua sensibilização toda com Suzana.

Camila saiu para o banheiro batendo a porta, visivelmente irritada, não me dirigiu a palavra no resto da noite. Eu não dormi, já estava acostumada a dormir com ela me envolvendo em seus braços, há mais de um ano não dormimos brigadas uma com a outra, senti um receio de estar estragando tudo entre nós. Camila estava cheia de razão no que me disse, mas eu não conseguia ignorar Suzana.

Era madrugada enquanto eu andava pela casa, não sei se por consciência pesada, dúvida, ou falta dos braços de Camila em volta do meu corpo, provavelmente por todos esses motivos.

Sentei-me em uma poltrona ao lado da cama, observando-a dormir, eu adorava contemplar seu semblante adormecido, dessa vez ainda fui tomada de uma angústia por tê-la magoado. Como se percebesse que alguém velava seu sono, Camila despertou, já se notava os olhos verdes inchados, provavelmente chorou em silêncio antes de cair no sono. Que culpa me corroia!

- Ainda acordada? – com voz sonolenta Camila indagou.

- Não consigo dormir brigada com você... – baixei os olhos, enxugando a face por onde uma lágrima descia.

- Vem cá, vem... Deita aqui.

Camila levantou o lençol, abriu seus braços, abrindo espaço pra que eu me acomodasse entre eles, abraçou-me recostando seu queixo entre meu pescoço, e falou-me ao ouvido:

- Não resisto a esse jeitinho de criança dengosa que você faz quando sabe que errou.

- Não quero te perder Cami... – apertei seus braços que me envolviam.

Adormeci, agora era possível. Como não fazíamos há um tempo, passamos o sábado na chácara da família de Camila, Carmem sua mãe, chamou Bernardo também. Antes do almoço, fomos até a estufa, cenário do nosso primeiro beijo, Camila estava carinhosa, e eu ainda mais, minha consciência continuava pesada por nossa briga na noite anterior.

- Cami, vou me afastar de Suzana.

- Não te pedi isso Isa, só te pedi pra prestar mais atenção na gente...

- Mas será melhor assim, acho que essa reabilitação dela já pode ser feita no Rio né? Lá ela tem mais amigos, o Vitor está mais perto...

- Mas e o neurochip?

- A gente pode agendar uma avaliação para dois meses, o que acha?

- E’ mais ou menos o tempo que eu pensava, mas antes tenho que repetir os exames dela, vamos fazer isso na segunda-feira, ok?

Balancei a cabeça positivamente, enquanto Camila me entregava uma tulipa, selando minha decisão com um beijo longo e molhado.

Namoramos no quarto dela, depois do almoço. Camila despiu- me lentamente, explorando cada centímetro da minha pele, eu arqueava minhas costas rendida ao calor de sua língua roçando meu corpo tomado de tesão. Em cada toque em meu corpo, eu tinha certeza que era com Camila meu futuro, eu a amava, não podia perdê-la.

Voltamos para nossa casa, em um clima romântico, nossos olhares demonstravam nossa disposição em fazer dar certo nosso futuro e presente juntas. No domingo sequer saímos de casa, passamos o dia inteiro grudadas, nos amamos em todos os cômodos da casa, no chão, na mesa da cozinha, no sofá, na cama, no banheiro...

Nem lembrei de ligar pra Suzana para saber como ela estava, estava absorta na felicidade com Camila.

Na segunda pedi a Eliza que contatasse Suzana para uma consulta no dia seguinte. Foi um dia corrido, mal nos encontramos no almoço, Camila operou o dia todo, entretanto não deixava de se manter presente, deixou na minha mesa um envelope vermelho junto com uma rosa, da mesma espécie que se abriu no dia de nosso primeiro beijo, no envelope um bilhete: “Jantar as 20H, não se atrase. A.V.”. Uma abreviação de amo você no final do bilhete.

Apesar de morarmos juntas, embarquei no clima romântico de encontro, saí do hospital direto pro shopping, comprei um vestido vermelho, frente única, decotado, uma lingerie sensual, passei em um salão para arrumar os cabelos, passando em uma joalheria, vi um colar lindo, com um pingente em forma de rosa provavelmente de zircônio, não resisti, comprei- o para Camila. A caminho do estacionamento, recebi uma ligação de Suzana.

- Ei onde está minha médica? Esqueceu de mim?

- Oi Suzana, desculpa, estava resolvendo uns assuntos pessoais.

- Não vai vir me ver? Estou com saudades...

- Amanhã você tem consulta, nos vemos lá.

- O que houve Isa? Estou no seu apartamento, me peguei dormindo com uma aquela camiseta velha que você adorava dormir e eu odiava... Penso em você o dia todo aqui e você quer me ver só no hospital?

- Suzana não é mais meu apartamento, e de qualquer forma... Nossa relação deve ser mesmo só profissional, melhor não confundirmos as coisas...

- E’ isso mesmo que você quer?

- Suzana, por favor...

Não ouvi mais respostas, só o “tu tu tu”, senti-me mal com a conversa, e como tratei-a, mas era necessário. Segui para casa, procurando fixar meus pensamentos em Camila.

Nossa casa estava linda, Camila me recebeu bem vestida, os cabelos presos num coque, deixando alguns cachos caindo sobre o rosto, um vestido tão curto quanto o meu, com um decote que evidenciava seus seios deliciosamente fartos, segurava dois cálices de vinho.

- Pontual meu amor, muito bem – entregou- me um cálice e beijou minha bochecha roçando a sua face na minha.

- Uau... Mas que mulher é essa? – desci meus olhos pelo seu corpo.

- Ela já tem dona, não adianta se empolgar.

Avancei em direção a ela, largando o cálice de vinho numa mesinha disposta ao lado da porta, empurrei-a contra a porta que ela fechava, beijando-lhe ardentemente, descendo minhas mãos por suas pernas macias.

- Ei... Ah... Isa... PA... PA... Pára, a gente...

Não conseguiu completar, deixou a taça junto com a minha, ao sentir que minhas mãos já estavam por baixo do seu vestido, apertando seu sexo molhado, excitada pelo tremor do seu corpo junto ao meu, sentia um frio subindo pela minha espinha até meu sexo pulsar sentindo a umidade das entranhas de Camila em meus dedos que buscavam espaço puxando a sua calcinha lateralmente. Gozou na minha mão ali mesmo, mas meu desejo não estava satisfeito. Camila tirou forças não sei de onde, pois suas pernas pareciam bambas, empurrou- me ofegante...

- Não foi assim que planejei nossa noite romântica, pelo menos não nessa sequência...

Sorri mordendo meu lábio inferior.

- E’ que você me deixa louca... E vestida assim... Nossa... é pra me matar!

Camila me observou atentamente, não tinha lhe dado tempo para apreciar meu look:

- Uau... Mas que mulher é essa? - repetiu minha exclamação.

- Ela está disponível para você... - exibi meu decote nas costas com ar sedutor.

- Ai amor, deixa eu seguir meu plano... Por favor...

Puxou- me pela mão até a mesa perfeitamente posta, um arranjo com rosas semelhantes ao que me deixou sobre a minha mesa mais cedo, afastou a cadeira me convidando a sentar.

- Espera, antes que te dar algo.

Peguei minha bolsa que estava no chão, e entreguei-lhe o embrulho. Camila abriu com os olhos brilhando. Ao se deparar com o colar, abriu um largo sorriso, e beijou minha boca avidamente, mas sem pressa.

- E’ lindo meu amor! Lindo, obrigada!

- Deixa eu ver como fica em você.

Coloquei o colar em volta de seu pescoço e depois beijei sua nuca para avisar que já tinha terminado.

- Deixa eu olhar.

Correu para a sala onde havia um espelho, voltou me beijando insistindo em agradecer.

- Amei minha loirinha, amei!

- Vou querer recompensa depois, apesar de que seu sorriso já é quase suficiente...

- Vamos jantar, estou faminta e ansiosa pra te... Comer todinha...

Meu coração acelerou, nem fazia mais questão de jantar... Queria ser o prato principal dos desejos de Camila.

- Preparei seu prato predileto...

- Ai duvido, o meu prato principal é...

Camila veio da cozinha anunciando:

- Frango ao creme de milho.

- Mas como você...

- Pedi a receita ao seu padrinho quando fomos à formatura de Lívia, estava reservando para uma ocasião especial.

- Ai Camila, te amo! Casa comigo?

- E’ exatamente o que eu queria ouvir.

Fiz a pergunta quase num tom de brincadeira, como fazia sempre, quando ela fazia algo que me agradasse, mas Camila respondeu séria.

- Recebi hoje a resposta do pós-doutorado em Haward, próximo ano começo, e quero que você venha comigo, como minha mulher.

Fiz menção de falar algo, mas as palavras não saíam, e Camila continuava.

- A seleção pro mestrado está aberta, falei com meu antigo orientador, e ele quer ler seu projeto da tese, assim, você faria lá também, com minha recomendação e sua experiência na minha pesquisa, uma pode ajudar a outra e...

- E’ claro que eu quero meu amor!


Foi um impulso, mas não me arrependi, eu queria estar com Camila, não gostaria de interromper a carreira dela, nem muito menos a minha, unir nosso casamento ao nosso desenvolvimento profissional era mais que perfeito.