EPISÓDIO 2 – SEXO, CRIME E VIDEO
TAPE.
Acomodadas na sala de vídeo no primeiro andar da casa,
Fernanda, Letícia e Gisele aguardavam Dulce plugar sua câmera na TV de plasma
gigantesca.
-- Não acredito que vocês
vão me ver transando em 3D. Anos sem nos vermos, por que não um encontro
casual, normal, uma festa de reencontro de turma, uma pizza, um café?! Mas não,
tenho que reencontrar vocês em um episódio de CSI! - Gisele lamentava
incrédula.
-- A câmera descarregou, essa
TV tem leitor de cartão não tem Gi? – Dulce interrogou.
-- Deve ter. – Gisele respondeu sem segurança.
-- Eu espero que essa câmera
tenha descarregado só depois de ter filmado o assassino... - Fernanda pensou
alto.
-- Pronto! - Dulce anunciou.
– E ação!
Dulce se acomodou na poltrona e tão atenta quanto as
demais fixou os olhos na TV. As primeiras cenas exibiram Gisele e a vítima em
momentos quentes de beijos e carícias picantes enquanto se desfaziam das peças
de roupa.
Letícia franzia o cenho, arregalava os olhos e ruborizava
diante dos sons de gemidos e frases voluptuosas que Gisele e sua acompanhante
deixavam escapar.
-- Você é deliciosa! Dá
gostoso pra mim dá? – Gisele dizia entre gemidos.
-- Dou tudo! Já estou toda
molhada, sente...
A jovem posicionou a mão de Gisele entre suas pernas.
-- Delícia! Quero entrar aí,
lamber tudinho...
A sensualidade das imagens não deixou só Letícia
acanhada. Gisele cobria o rosto envergonhada, Dulce apertava os olhos e mordia
os lábios empolgada enquanto Fernanda parecia inquieta.
A cama de Gisele estava a três degraus do resto do piso
do quarto, tal detalhe diminuiu o campo de visão das imagens da câmera, e a
partir do momento no qual o casal deitou-se ali, a visualização das cenas ficou
mais difícil quando elas estavam deitadas. No entanto, as posições diversas que
Gisele e a parceira fizeram durante o sexo permitiram em alguns momentos um
excelente e constrangedor ângulo para a escritora.
-- Meu Deus como consegui
fazer isso?! – Gisele deixou escapar.
-- Está em forma em amiga...
Essa perna fica onde mesmo?!
Dulce quis saber. Gisele baixava a cabeça
sacudindo-a ao mesmo tempo. Fernanda e Letícia giravam o pescoço a fim de
conseguir melhor campo de visão. A sequência de imagens durou cerca de uma hora,
depois de muita insistência, Dulce adiantou alguns trechos das cenas tórridas
para alívio de Gisele que agora parecia uma bisnaga gigante de cat-chup de tão
corado que seu rosto estava.
Para
a decepção das telespectadoras, depois de duas horas de vídeo, tudo que as
imagens registraram do assassino foram suas costas quando este se aproximava na
cama com uma seringa na mão e um lenço em outra.
-- O que aconteceu? Dulce?
Adianta aí! – Fernanda pediu ansiosa.
-- Sinto muito gente, acho
que a câmera descarregou aí nesse momento. Não tem mais nada.
-- O quê?! – Fernanda
retrucou decepcionada.
-- É, a bateria dessa câmera
não dura mais que três horas, eu devia ter imaginado... – Dulce lamentou.
-- Então não temos imagem do
assassino, só um pornô estrelado por mim!
Gisele se levantou com as mãos na cintura.
-- Calma Gisele. O vídeo já
ajuda em alguma coisa. – Fernanda ponderou.
-- Ajuda em que Nanda? A
aumentar meu fã clube na penitenciária? Ou a conquistar uma líder de pavilhão
lá para ela me proteger? – Gisele dramatizou.
-- Agora temos uma prova de
que realmente outra pessoa entrou na sua casa, temos uma terceira, ou melhor,
uma quarta pessoa na cena do crime.
Fernanda disse encarando Dulce.
-- Além do mais com alguns
recursos tecnológicos, podemos buscar mais algum elemento nessas imagens,
alguma marca, roupas, tudo ajuda. Além de sabermos a que horas o suposto
assassino abordou a vítima, e a confirmação por dedução que ele de fato dopou a
vítima.
Letícia argumentou, acalmando Gisele.
-- A doutora tem razão Gi.
Vamos levar essas imagens para o laboratório da perícia e tentar extrair o
máximo que pudermos. Não se preocupe, eu acompanharei tudo, vamos editar essa
fita tirando essas cenas quentes ok?
-- Ei! O cartão é meu!
–Dulce contestou.
-- Ah jura? Que tal eu levar
presa agora por invasão de domicílio? Gisele que tal um processo por invasão de
privacidade também? Nas próximas três encarnações a Dulcinha termina de te
pagar a indenização por danos morais também.
Fernanda retrucou. Dulce bateu o pé feito criança
emburrada.
-- Ai como eu sou sem sorte!
-- Sem sorte é a moça
desconhecida que foi assassinada depois de gozar na cama de Catherine Morgan.
Fernanda comentou deixando Gisele outra vez ruborizada.
Nesse momento duas batidas na porta anunciaram Cida, a mulher do caseiro e
empregada da casa.
-- Dona Gisele, o jantar
está pronto. Posso servir?
-- Já estamos descendo Cida,
obrigada. Vocês querem tomar um banho antes de jantarmos?
Todas recusaram a oferta, e assim, desceram para jantar
juntas.
-- Dulce e seus planos de
ser modelo, atriz, apresentadora de TV? Não era bem isso que entendi em ser
famosa. – Fernanda satirizou.
-- Pelo meu tamanho você
pode imaginar que minha carreira de modelo de passarela só durou até meus dez
anos de idade né? Depois na adolescência o bombardeio que sofri de espinhas no
meu rosto as chances de fotografar foram para o vinagre... Não tenho bunda
suficiente para virar mulher fruta, e nunca fui aceita no BBB, o jeito foi
estudar, o mais perto que podia chegar das mídias era como jornalista.
-- Sei, você queria mesmo
era ser a nova Fátima Bernardes não é? – Fernanda continuou a sátira.
-- É, mas está mais para
Sônia Abraão! – Gisele deixou escapar.
-- Olha só, quando se
termina a faculdade de jornalismo não existe um corredor secreto para Rede
Globo sabia? O máximo que aparece é um cobertura do estadual série D! – Dulce
comentou.
-- E você Nanda? Disse que
se tornaria a melhor policial de todas, conseguiu não é? – Gisele indagou.
-- Devo ser...
Fernanda sorriu divertida.
-- Vocês se conheceram no
jardim de infância? – Letícia perguntou.
-- Sim. Estudamos juntas no
primeiro grau, quer dizer, ensino fundamental... – Dulce se corrigiu. Éramos as melhores amigas, mas mudamos de escola
no ensino médio, perdemos contato. Gi, você ainda tem aquele probleminha de
incontinência urinária quando fica nervosa?
Dulce e Fernanda gargalharam. Gisele jogou uma torrada na
direção das amigas.
-- Incontinência urinária?
Nossa, isso é incomum em pacientes jovens! Qual é seu problema? Deficiência de
estrógeno? Infecção? – Letícia indagou preocupada.
-- Não doutora, ela tinha a
bexiga solta mesmo! – Dulce gargalhou.
-- Por isso o apelido dela:
Gisele calça molhada. Ela não conseguia controlar esse reflexo quando ficava
nervosa. Por causa disso, a mãe dela sempre me pedia para guardar uma calça
reserva na minha mochila! Era certo ela precisar em dias de arguição oral da
tabuada, - Fernanda completou.
-- Pior era antes das
apresentações de balé, era meia, collant, sapatilha tudo “xixado”.
Dulce gargalhou mais uma vez com Fernanda, enquanto
Gisele fazia cara emburrada.
-- Quantos anos vocês
ficaram sem se ver? – Letícia insistiu.
-- Ow não precisamos desses
detalhes não é? – Fernanda interpelou. – Pare com esse interrogatório doutora.
Leticia tentou falar mais alguma coisa, mas, foi
novamente interrompida.
-- Estou pregada! Vamos
dormir? – Fernanda disse bocejando.
-- Mandei preparar os
quartos. Nanda você pode ficar no quarto vizinho ao meu. – Gisele disse.
-- Valeu Gi. Vou subindo
então. Boa noite pra vocês.
*************
Fernanda estava pronta para dormir. Jogou o casaco, a
calça e a blusa manga ¾ na poltrona, ficando confortável em sua calcinha box,
facilmente confundida com cuecas como seu chefe sugerira, e um top.
Saindo do banheiro da suíte a policial foi surpreendida
por Leticia.
-- Doutora Letícia! Não sabe
bater em portas antes de entrar? Não te ensinaram que entrar sem bater é falta
de educação?
-- Eu bati, acho que você não
escutou agente Garcia.
Letícia
falou constrangida evitando a visão que tinha do corpo monumental e bronzeado
da policial.
-- Então?!
Fernanda disse com as mãos na cintura balançando a
cabeça. Letícia sacudiu a cabeça ruborizada e deixou escapar:
-- Você malha muito não é?
-- Corro e jogo vôlei de
praia. Mas você veio aqui pra admirar minha forma física?
-- Não... É que... Ouvi uns
barulhos estranhos e pensei: e se o assassino ainda estiver aqui na casa?
Fernanda franziu o cenho e disparou:
-- Doutora, você está com
medo de dormir sozinha?
-- Eu? Medo? Não!
Nesse momento um trovão ecoou e um relâmpago iluminou o
quarto. Leticia fechou os olhos imediatamente como um reflexo de medo. Fernanda
conteve o riso.
-- Claro que não... –
Fernanda disse baixo. – Tem duas camas mesmo, fica por aí doutora cagona.
-- Mas... Mas...
Leticia tentou se defender, mas faltaram palavras. A
médica se acomodou na cama vizinha a cama na qual Fernanda já ocupava, sem
pressa retirou seu scarpan, abriu os primeiros botões da camisa de cetim, e
quando se preparava para se desfazer da saia, olhou para o lado se deparando
com os olhos de Fernanda.
Pela pouca luz no quarto, a legista não tinha certeza
sobre os olhos da policial estarem abertos ou fechados. Quanto a Fernanda, que
observava Letícia despir-se delicadamente, fechou os olhos com força para fugir
do flagrante da ruiva.
Letícia voltou do banheiro envolta em uma toalha, no seu
corpo apenas sua lingerie fina. Retirou a peça e agora na cama se envolveu com
o cobertor. Fernanda acompanhou os movimentos da médica, agora era obrigada a
concordar com sua amiga Carol: a legista era uma mulher linda.
Mesmo com o cansaço e o clima tenso de todo o dia, nem
Letícia, nem tampouco Fernanda encontraram o sono facilmente. Estavam
perturbadas com a presença uma da outra. Hora as lembranças dos corpos quase
despidos se propagavam em suas mentes, hora lutavam contra a ideia da razão
verdadeira de tamanha perturbação.
*******
Fernanda praticamente paralisou quando abriu os olhos e
viu na cama vizinha, Leticia descoberta exibindo seu corpo vestido apenas com
uma lingerie de renda delicada. Teve tempo de observar a pele clara e macia à
luz do sol fraca que entrava no quarto, os seios ainda mais fartos pelo formato
do sutiã meia-taça, os cabelos ruivos desalinhados cobrindo seu rosto de traços
primorosos.
O momento de admiração foi subitamente interrompido pela
campainha do celular de Fernanda que acabou por despertar também Letícia do seu
sono.
-- Bom dia chefinho! Acordou
com as galinhas hoje?
-- Fernanda, eu posso saber
que diabos está acontecendo? Acordei com uma ligação do secretário de segurança
do estado, me dizendo que você interrogou a sobrinha dele que ainda estava em
estado de choque e ainda recomendou que ela procurasse um advogado. E pior! Os
jornais da manhã noticiaram o assassinato da namorada de Catherine Morgan em
Itatiaia. O que diabos você entende quando falo SIGILO?! Você por acaso acusou
a sobrinha dele de algo?
-- Han? Eu o quê?
-- O empresário, ou sei lá o
que da escritora se queixou para o secretário de segurança do estado sobre uma
policial intransigente que importunou a sobrinha dele, dona da casa a qual eu
te enviei para investigar em sigilo um assassinato. Ao invés de cumprir minhas
ordens você me deixa em maus lençóis com a maior autoridade em segurança do
estado e ainda compromete as investigações deixando vazar essa notícia?
Wellington berrava ao telefone.
-- Espera ai delegado, eu
não saí daqui do local do assassinato ainda, não dei declaração nenhuma, não
sei como isso vazou para a imprensa...
Fernanda se cortou, e pensou alto tapando o microfone do
celular.
-- Dulce! Eu vou matar
aquela nanica!
Wellington ainda berrava no telefone quando Fernanda o
interrompeu.
-- Chefe eu não acusei
ninguém de nada, o almofadinha inventou isso. Preciso desligar, conversamos aí
na delegacia.
Fernanda desligou aumentando a fúria de Welington.
-- Algum problema?
Leticia perguntou puxando o cobertor, com voz de sono.
-- Nada demais, só que essa
casa terá outro corpo de mulher daqui a pouco, porque eu vou matar a Dulce!
Fernanda pegou um par de algemas, saiu do quarto do jeito
que estava, de roupas íntimas, em direção ao quarto em frente, onde Dulce
dormira, foi seguida por Letícia que se envolveu no lençol evitando a
exposição.
-- Dulce abre essa porta já!
A policial batia forte berrando.
-- Dulce abre agora!
O estardalhaço acordou Gisele, que chegou ao corredor se
deparando com a amiga naqueles trajes deixou escapar:
-- Nossa! Amiga você malha?
-- Ela corre e joga vôlei na
praia. – Foi Letícia a responder.
-- E você doutora dormiu no
quarto da Nanda?!
Gisele mediu a médica de cima a baixo, maliciando os “trajes”
da ruiva.
-- Ah eu não gosto de
trovões... – Leticia disse sem graça.
-- Sei... – Gisele disse
torcendo os lábios.
Fernanda ignorou as outras com um gesto.
-- Dulce! Abre essa porta!
-- Ai que gritaria! Que
diabos você quer essa hora Nanda?! Ui, tá malhando heim Nanda?
Fernanda não respondeu, mas Gisele:
-- Ela corre e joga vôlei de
praia.
-- Vamos para com esse
papinho! Dulce você está presa!
-- O que? Como assim? Surtou
Fernanda? – Dulce contestou.
-- Vou te levar presa por
invasão de domicílio e suspeita de assassinato, quem sabe assim você aprende a
não atrapalhar uma investigação policial!
-- O que?! Eu estou
ajudando, não atrapalhando! Que brincadeira é essa? Nanda eu acho bom que essas
algemas sejam usadas sexualmente e não para... – Fernanda fechou as algemas nos
pulsos da jornalista – Ei! Nanda!
-- Nanda o que houve? –
Gisele perguntou preocupada.
-- Nossa amigona aqui, fala
pra ela o que você fez dona repórter oportunista! – Fernanda bradou indignada.
– E você por que não me disse que era sobrinha do Francisco Mota?!
-- Eu me esqueci de
mencionar isso Nanda... Mas que história é essa de repórter oportunista? Do que
ela está falando Dulce? – Gisele insistiu.
-- Não faço a menor ideia! –
Dulce retrucou.
-- Ah não faz? Vou refrescar
sua memória: Dulce Gallardo deu o furo jornalístico para ascender na sua
carreira! Traidora! Como você teve coragem?!
Dulce ficou pálida.
-- A Dulce fez o que?! –
Gisele indagou com os olhos arregalados.
-- Vendeu a notícia:
“Namorada de Catherine Morgan é encontrada morta em Itatiaia”. – Fernanda
dividiu sua dedução.
-- Não! Eu não fiz isso! –
Dulce tentou se defender.
-- Ah não? Então como isso
vazou para a imprensa? Quem mais além de nós sabia desses detalhes? – Fernanda
interrogou.
-- As coisas não foram bem
assim. Olha só Gi, eu não sabia que era você a Catherine Morgan. Meu editor
sabia dessa minha tentativa de te fotografar, então quando eu estava presa no
seu closet eu liguei pra ele e disse que logo teríamos imagens da escritora de
romances policiais mais lida desde Sidney Sheldon e Agatha Cristhie.
Dulce apelou, massageando o ego de Gisele.
-- Dulce não vem com
enrolação! Como então a imprensa soube do assassinato? – Fernanda retrucou.
-- Eu posso ter mencionado o
endereço de onde eu estava... – Dulce falou desconfiada. – Eu não sabia como ia
sair dali gente! Precisava que alguém me tirasse dali...
-- Mas é mesmo um ímã de
confusão! – Gisele desabafou.
Como se precisasse, mais um elemento para apimentar
aquela confusão, Erich apareceu de repente surpreendendo as meninas.
-- Mas que diabos está
acontecendo aqui?! Sexo grupal lésbico? Gisele!
-- Erich calma! Não é nada
disso que você está pensando! – Gisele disse puxando Erich.
-- Mas que diabos Gisele, te
deixo por uma noite e o caos se instala? A imprensa do mundo todo está
especulando a seu respeito e a respeito dessa morte aqui, tem um batalhão de
jornalistas na frente da casa, e você aqui em um bacanal!
-- Erich Rezende pondere
suas palavras! – Gisele disse firme. – Não aconteceu nada demais aqui, quer
dizer, nada sexual.
Gisele saiu puxando Erich que antes de descer as escadas
conferiu o corpo de Fernanda que o encarou com fúria, fazendo com que o agente
apressasse os passos.
-- Espero que a estrada
tenha sido liberada, temos muito trabalho na delegacia doutora.
Fernanda disse e Letícia acenou em acordo.
-- Ow Nandaaa... Não está se
esquecendo de nada?
Dulce disse levantando os punhos algemados.
-- Até que fica bem em você
Dulcinha... - Fernanda brincou. – Você merece ser presa sabia?
-- Nanda juro que não fui
eu, se eu soubesse que era a Gisele e desse assassinato, juro que não teria
dito nada...
-- Não sei se acredito em
você, mas, vou te dar uma chance, por que vou precisar de você nessa
investigação.
-- Jura?!
-- Vou me arrepender disso,
tenho certeza... Mas, sim, vou precisar de você.
Fernanda tirou as algemas de Dulce.
-- Alguma chance de você me
emprestar essas algemas um dia desses? -
Dulce perguntou.
-- Não abusa Dulce!
*******
-- O melhor que você faz é
sair daqui Gi. As pessoas não te conhecem ainda, mas, se ficar aqui, existe
outros repórteres mais loucos do que essa daqui... – Fernanda apontou com os
olhos para Dulce. – E a segurança dessa casa é uma porcaria! Até a Dulcinha
conseguiu burlar né?
Dulce bufou engolindo as palavras.
-- Mas, eles seguirão
qualquer carro que sair daqui, todos querem saber quem é Catherine Morgan! –
Erich retrucou.
-- Seguirão os carrões
importados que saírem daqui, se a Gisele sair escondida no banco de trás em um
modesto carro de uma policial, eles perderão tempo seguindo você apenas!
Fernanda explanou sua estratégia apoiada por Letícia e
Gisele. O plano deu certo. Os repórteres seguiram o carro com Erich e Dulce.
No Rio, depois de deixar Gisele em um apartamento em
Copacabana, Fernanda provocou Leticia:
-- Vai ficar pela vizinhança
também doutora?
-- Claro que não! Vou para a
delegacia, tem um corpo esperando minha autópsia, está esquecida disso agente
Garcia?
Fernanda não escondeu sua surpresa, nem tampouco sua
satisfação. Deu partida no carro e seguiram para a delegacia de homicídios. Mal
entrou no departamento e a voz do delegado Wellington ecoou:
-- Agente Garcia! Na minha
sala agora!
-- Pode ser mais tarde
delegado?
Fernanda tentou se esquivar, mas, foi inútil.
-- Agora!
Wellington berrou.
Desconfiada e sem nenhuma pressa, Fernanda foi até a sala do chefe.
-- Olha só chefe, eu não
tive culpa...
-- Não quero ouvir suas
desculpas esfarrapadas Garcia! Confiei em você, na sua competência e você faz
exatamente tudo ao contrário que eu pedi! Você está me sabotando Garcia é
isso?!
-- O quê?! Surtou delegado?
Acha mesmo que o mundo gira em torno do seu umbigo né?! Minha cara atrair a
imprensa pra ferrar com uma investigação só pra te irritar né?!
-- Garcia não me irrite
mais! Você está fora do caso!
-- Mas... – Fernanda tentou
falar
-- Fora do caso!
Wellington berrava batendo na mesa.
-- Com licença. – Letícia
bateu à porta.
-- Doutora Letícia? –
Wellington ajeitou a gravata e falou macio.
-- Bom dia doutor
Wellington. Desculpe-me interromper.
-- Imagina, não interrompeu
nada. Já terminei aqui, se manda Garcia.
-- Não mesmo! Não vou
aceitar você me tirar desse caso assim! – Fernanda retrucou.
Wellington encarou Fernanda cuspindo ódio.
-- Doutor Wellington, na
verdade não tive como não ouvir isso aqui fora... Temo que o senhor esteja
cometendo o equívoco tirando a agente Garcia do caso.
-- Doutora eu sei que disse
que ela era nossa melhor investigadora, mas eu estava claramente enganado. Vou
designar outro investigador para esse caso.
-- Acho que o senhor devia
confiar nos seus instintos profissionais, um grande líder sabe reconhecer as
qualidades dos seus liderados, e o senhor é um exemplo de liderança. Eu estava
lá, vi a agente Garcia em ação, o fato de ter vazado para a imprensa é
lamentável, mas não foi culpa dela. Ela é a melhor para esse caso delegado.
Conhecendo a vaidade de homens como Wellington, Leticia
apelou usando de seu charme pessoal para dissuadir o delegado da ideia de tirar
Fernanda do caso.
-- Doutora Letícia, tem
muita coisa em jogo nesse caso, é o primeiro de grande repercussão depois da
inauguração dessa delegacia especializada, uma escritora famosa, sobrinha de
Francisco Mota, eu não posso arriscar tanto, deixando a agente Garcia no
comando das investigações. Não depois do que ela fez taxando a sobrinha do
secretário de segurança de segurança como suspeita de assassinato!
-- Tenho certeza que isso
foi um grande mal entendido, eu não vi isso em nenhum momento.
Fernanda observava atenta e de braços cruzados a legista
seduzir o delegado ao seu favor.
-- Tudo bem doutora Leticia,
vou confiar em sua opinião. Olhe que estou me arriscando muito!
Wellington disse se aproximando da médica.
-- O senhor não vai se
arrepender, agora preciso ir, quero adiantar a autópsia para ajudar a agente
Garcia nesse caso.
Letícia se esquivou do assédio do delegado, encarou
Fernanda com um sorriso vitorioso discreto e saiu da sala.
-- Veja se conserta essas
merdas que você fez e descubra algo desse assassino! E saiba que você deve essa
a doutora Letícia!
Fernanda revirou os olhos e saiu da sala batendo a porta
com força e correu para alcançar Leticia que entrava no elevador.
-- Segura a porta! –
Fernanda berrou.
Fernanda entrou ofegante no elevador ocupado pela escrivã
e amiga Carol e Leticia.
-- Eu queria te agradecer
por ter me defendido com o delegado. Valeu. – Fernanda disse sem graça.
-- Não precisa agradecer
investigadora Garcia. Eu só disse a verdade. Você não acusou ninguém, não
deixou nada vazar para a imprensa, e é realmente a melhor para o caso.
Fernanda encarou Leticia com um sorriso no canto dos
lábios.
-- Valeu mesmo.
Fernanda visivelmente tímida desceu no segundo andar
junto com Carol quando o elevador parou.
-- Pode limpar a baba
descendo na boca Nanda, o elevador já subiu.
Carol disse implicando com a amiga.
-- Que mané baba! Deixa de
ser ridícula garota!
-- Conta aí tudo! Como foi a
noite romântica na montanha? Quente? Essa ruiva deve ser caliente!
Fernanda balançou a cabeça negativamente e rebateu:
-- Quente o quê! Estava tudo
frio, e seria de muito mau gosto pedir pra acender a lareira...
-- Ah não esconde o jogo
Nanda! Pensa que não vi os olhares de vocês no elevador? “Ui queria te
agradecer... Ui você é a melhor para o caso”.
Carol provocou, fazendo caras e bocas.
-- Mas é muito idiotinha
mesmo! A doutora salvou minha pele com aquele pulha que está todo derretido por
ela.
-- Você pode culpa-lo por
isso? Ela é uma gata!
-- Uma perua isso sim!
-- Pois eu tenho certeza que
você adoraria fazer “glu-glu” com ela.
Carol imitou o gesto de Sérgio Malandro.
-- Ow! Você nada melhor pra
fazer não?!
Fernanda disse irritada, se afastou de Carol indo em
direção ao laboratório de imagem do setor de perícias.
**********
-- Aumenta o zoom aí Artur. Aí!
Fernanda analisava as imagens do vídeo da câmera de Dulce
junto com um colega.
-- Dá pra focar só nas mãos
dele? – Fernanda indagou.
-- Com essa aparelhagem
aqui, dá ate pra focar em um poro da pele...
-- Mas que diabos é isso?
Fernanda apertou os olhos, observando a articulação da
mão esquerda com deformidades.
-- A mão dele é torta? Ele é
deficiente físico? – Artur indagou.
-- Os dedos dele são
encurvados... A mão parece uma garra? – Fernanda pensou alto.
-- O assassino é o Capitão
Gancho?!
Intrigada, Fernanda pediu para Artur separar e melhorar
aquelas imagens.
********
O escândalo foi inevitável. Mesmo sem um rosto, Catherine
Morgan era manchete nas paginas policiais do mundo todo. Astutamente, Erich
achou uma forma de tirar proveito da situação, deixando escapar para a imprensa
que o assassino reproduziu um crime de um dos livros da escritora.
O golpe de Erich surtiu um efeito de marketing poderoso.
Foi registrado um aumento fenomenal dos livros de Catherine Morgan
mundialmente.
Dulce desfrutava de um novo prestígio na revista, apesar
de não revelar a identidade de Catherine Morgan. A notícia era policial, mas, a
revelação da homossexualidade da escritora rendeu uma excelente pauta de
fofocas.
A identificação da vítima só foi possível graças ao seu
celular encontrado por Benjamim no jardim da mansão de Gisele em Itatiaia.
-- Mariana Gonçalves
Duchesi. Estudante de física. Estava em Resende há dois dias, iria começar um
estágio em uma Fábrica de Combustível Nuclear, a FCN. Morava no Rio de Janeiro
onde estudava, mas é mineira de Betim.
Beto resumiu o que descobriu da vítima.
-- Bonita e inteligente.
Física é um dos cursos que forma turmas de cinco, dez alunos no máximo, se ela
já estava em estágio, sinal que estava perto de concluir o curso. – Leticia
comentou com tom de lamentação.
-- Quem teria motivos para
mata-la? – Ferreira indagou aos colegas.
-- A família relatou que
Mariana sempre foi independente, que visitava a cidade natal nas férias,
mantinha contato com os pais, irmãos, tudo normal, nada que nos dê algum
indício do motivo do assassinato. – Beto informou.
-- E os amigos que estavam
com ela no bar? – Fernanda interrogou.
-- Não eram amigos há muito
tempo, conheceram-se em Rezende, estavam na mesma pousada, todos iniciariam
esse estágio na FCN, mas em especialidades diferentes. – Ferreira respondeu.
-- Precisamos investigar
essa pousada. – Fernanda disse. – Doutora Letícia, o laudo da autópsia tem mais
algum dado que nos ajude?
-- Marquei nessas fotos
algumas lesões que julguei intrigantes. Estão vendo esses hematomas na parte
posterior do crânio? Pela extensão indica que essa área foi acometida mais de
uma vez.
-- O assassino golpeou na
cabeça dela para deixa-la inconsciente? – Beto perguntou.
-- Por que ele faria isso se
ela já estava inconsciente? Ele a drogou não? Como no livro? – Fernanda interrogou.
-- Não agente Roberto, não,
sim, sim agente Garcia. A lesão não é compatível com um hematoma causado por um
instrumento ou arma, e sim com uma superfície sólida. Ela estava completamente inconsciente,
sim ela foi drogada com a mesma substância citada no livro “A nova face do
crime”. – Letícia explicou.
-- Que substância é essa? –
Ferreira perguntou.
-- Uma mistura de ketamina
com um tranquilizante injetável, o diazepan. A ketamina é um anestésico muito
potente, paralisa a pessoa em segundos se injetado em alta dose e em alta
concentração. Junto com o diazepan, relaxou o suficiente para leva-la a
inconsciência, mas não imediatamente.
-- Espera um pouco doutora,
você está me dizendo que a vítima estava paralisada, mas, consciente quando foi
assassinada? – Fernanda quis saber.
-- Não, estou dizendo que
ela primeiro ficou paralisada, depois inconsciente. O tempo que o assassino
demorou para leva-la até o andar de baixo pode ter sido o tempo necessário para
que a droga fizesse efeito.
-- Doutora e esses
hematomas, do que se trata?- Fernanda seguiu perguntando.
-- Pela quantidade de fios
do carpete encontrados na pele da vítima, suponho que o assassino a arrastou
até o andar de baixo. Esses hematomas confirmam minha tese, uma vez que os
hematomas são compatíveis com o choque repetido nos degraus da escada.
-- Talvez por que o
assassino não teve forças para leva-la nos braços? – Fernanda especulou.
-- É uma possibilidade. –
Leticia disse.
-- Doutora Leticia, você se
incomoda em analisar uma imagem daquele vídeo comigo?
-- Aquele vídeo? Analisar? –
Leticia ruborizou imediatamente.
-- É. Sei que não é sua
função, mas, preciso de uma opinião médica...
-- Agente Garcia eu acho que
não sou a pessoa mais qualificada para analisar aquelas imagens... E mesmo como
médica eu não conheço aquela prática para emitir um parecer...
O rosto de Leticia parecia adquirir a mesma cor dos seus
cabelos, se atrapalhando com as palavras, quando Fernanda com ar de riso a
interrompeu:
-- Doutora, eu estou me
referindo as imagens do assassino.
-- Ah! Claro! As imagens do
assassino...
Fernanda colocou a mão na boca escondendo o sorriso ao
perceber que a médica continuava sem graça.
-- Então, vamos?
Letícia colocou as mãos dentro do jaleco e acenou em
acordo.
**********
-- Tive o cuidado de eu
mesma apagar as cenas de sexo explícito, prometi isso a Gisele.
Leticia balançou a cabeça positivamente. A proximidade
das duas cadeiras diante da mesa de controle de vídeo provocava o roçar
acidental das peles, o cheiro do perfume doce da ruiva exalava suavemente
quando esta mexia nos seus cabelos, chamando a atenção da morena que se
policiava para não se perder naquele aroma e naquela visão.
-- O que exatamente você
quer que eu analise agente Garcia? Agente Garcia? Fernanda?
Fernanda parecia contemplativa observando cada traço do
rosto delicado e alvo de Letícia quando foi desperta pela própria.
-- Está tudo bem
investigadora?
-- Sim. Veja doutora, olhe
as mãos dele. Que tipo de deformidade é essa?
Leticia franziu o cenho, ajeitou os óculos no rosto e
observou atentamente o vídeo. Os gestos e expressões da legista apesar de
naturais se desenhavam para Fernanda em câmera lenta com uma conotação sensual
que surpreendeu a policial.
-- Afirmar só por essas
imagens é complicado, existem diagnósticos diferenciais que posso citar:
artrite reumatoide, Síndrome de Guyon conhecida como mão em garra, que também
pode ser uma sequela de hanseníase.
-- Mão em garra?
-- Pelos espaços entre as
falanges, e principalmente a forma como ele pega a seringa, veja, ele não tem
capacidade do reflexo de preensão, ou seja, de pinçar – Leticia mexeu dois
dedos exibindo o movimento a que se referia - Isso me levar a apostar em uma
lesão neural provocada por Hanseníase. Esse tipo de lesão é também chamada de "garra
cubital", é a expressão morfológica mais característica da paralisia
ulnar, correspondendo à hiperextensão das articulações metacarpo falangeanas do
quarto e quinto dedos, com flexão de suas interfalangeanas. Pela falta de
musculatura intrínseca, estabilizando as articulações metacarpofalangeanas,
temos o esgotamento do poder de tração dos tendões extensores ao nível destas articulações,
impedindo que as articulações mais distais se estendam.
-- Doutora, português, por
favor?
-- Desculpe-me, o que
acontece é que há uma hipotrofia dos músculos da mão e esses dedos – apontou
para a imagem – ficam dobrados, não estendem, dando essa aparência de uma
garra.
-- Entendi. Não é uma
deficiência física então?
-- Não deixa de ser. Mas se
está me perguntando se ele nasceu com isso, a resposta é não. Mas é uma
deficiência, o paciente tem diminuição da força, há também uma diminuição da
sensibilidade.
-- Mas, hanseníase não é uma
doença de pele?
-- Também. Mas, ela acomete
os nervos também, especialmente os periféricos, ou seja, mãos, pés... No caso
dele, descobriu a hanseníase em estagio avançado, com incapacidade já,
irreversível uma lesão neural desse tipo, a fisioterapia ou uma cirurgia
diminuiria a extensão da lesão, mas não reverteria completamente o quadro.
-- Isso embasa sua teoria
sobre ele ter arrastado Mariana pelas escadas, ele não tinha forças para
carrega-la não é?
-- Certamente que não, o
acometimento é no nervo ulnar, que se estende pelo úmero, cotovelo e ulna, ou
seja, uma ramificação do plexo braquial, uma lesão desse tipo incapacita mesmo
o braço acometido.
-- Então nosso assassino é
mesmo o Capitão Gancho... – Fernanda pensou alto.
-- Se está se referindo ao
vilão do clássico das histórias infantis, do menino que não queria crescer,
Peter Pan que habitava a terra do nunca, não é uma apologia completamente
correta uma vez que o personagem em questão não possuía mão, porque esta foi
comida por um crocodilo.
-- Quê? – Fernanda arqueou
uma das sobrancelhas.
-- O personagem que você
falou o Capitão Gancho. Não é um codinome adequado.
Fernanda fez um gesto qualquer ignorando a legista que
apertou os olhos ignorando a reação da policial.
-- Agora temos uma
informação sobre o assassino, que ele tem hanseníase, será que tem algum
registro desses pacientes? – Fernanda indagou.
-- Correção, ele não tem
hanseníase necessariamente, pode já estar curado, o tratamento é de no máximo
um ano. Ele tem sequelas da doença, não quer dizer que ainda tenha a doença. E
sim, há um registro desses pacientes, existe um sistema de informação nacional
chamando SINAN, no qual agravos são notificados compulsoriamente, hanseníase
está entre esses agravos. Se ele tratou ou está tratando a doença o caso tem
que ter sido notificado, a notificação nos dará todos os dados do paciente,
inclusive endereço.
-- Isso é excelente! Como
conseguimos esses dados?
-- Tenho uma amiga
enfermeira que trabalha na vigilância epidemiológica do estado, posso pedir a
ela um relatório dos casos notificados com grau de incapacidade avançado nos
últimos dez anos. Antes dessa data acho que será mais difícil.
-- Você faria isso?
-- Claro, não me custa nada.
Fernanda sorriu e segurou o ombro da médica dizendo:
-- Valeu mesmo doutora.
Leticia sentiu seu corpo se arrepiar com o simples toque
de Fernanda. Por segundos trocaram um olhar diferente, os olhos negros da
policial brilharam ao encontrar aquelas esmeraldas cintilantes. Desviaram os
olhares ao mesmo tempo, perturbadas.
-- Aguardo então notícias
suas. – Fernanda disse com as mãos no casaco.
-- Hurrum.
Desconcertadas, se despediram. As imagens do rosto de
cada uma ficaram impressas nos pensamentos uma da outra. O cheiro de Leticia
parecia ter ficado entranhado nas narinas de Fernanda, a policial sentiu aquele
perfume perto dela o resto do dia. Quanto a ruiva, a perturbação em seu corpo e
em sua mente tomou proporções inimagináveis para a médica centrada e de emoções
contidas.
Leticia reviveu o toque de Fernanda, ressentiu a
suavidade da ponta dos dedos da morena, o calor que emanou da sua pele, e tais
pensamentos distraiu-na completamente.
********
Fernanda se surpreendeu com a chamada de um numero
desconhecido no seu celular.
-- Alo?
-- Nanda, oi sou eu, Gisele,
você me disse que eu poderia te ligar se eu me lembrasse de alguma coisa...
-- Oi Gi, o que houve?
-- Benjamim encontrou algo
na minha casa de Itatiaia.
-- Benjamim?
-- Sim, o filho do caseiro.
Ele guardou em um saquinho, ele adora assistir CSI.
-- É, o pai dele comentou. O
que ele achou?
-- Uma ponta de cigarro,
perto da piscina. Não é de nenhum empregado ninguém aqui fuma.
-- Excelente, é mais uma
pista, posso pegar com você?
-- Sim, Valdeci veio
entregar, está aqui comigo.
-- Vou passar aí para pegar.
Fernanda saia da delegacia quando reencontrou Leticia.
-- Agente Garcia, eu estou
indo na Vigilância Epidemiológica, quer ir comigo?
-- Preciso pegar uma
evidência na casa de Gisele... Mas, vamos, depois passo lá.
********
Era quase noite quando Leticia e Fernanda chegaram ao
luxuoso flat em Copacabana onde Gisele estava hospedada.
-- Entrem por favor.
Gisele disse ao abrir a porta.
-- Dulce?! O que está
fazendo aqui? Gisele eu não acredito que você vai dar entrevista a ela! –
Fernanda disse.
-- A Dulcinha foi demitida
Nanda, por que se recusou a revelar minha identidade.
Fernanda fez uma careta com a notícia.
-- Algum avanço nas
investigações?
-- Estamos avançando. –
Fernanda foi sucinta.
-- Se demorar muito, o
assassino logo fará uma nova vítima. – Dulce disse.
-- Ainda não consideramos um
assassino em série. – Fernanda explicou.
-- Mas, se estamos falando
de um assassino em serie que caça mulheres como no livro de Catherine Morgan,
temos uma vantagem: o livro. – Leticia concluiu.
-- Não vamos viajar nessa
teoria ok? Não sabemos se o cara é surtado o suficiente para continuar seguindo
esse padrão...
Antes que Fernanda concluísse sua explanação, seu celular
tocou, era Beto.
-- Oi Beto, o que houve?
-- Outro corpo de uma mulher
foi encontrado Fernanda, dessa vez em um prédio abandonado na Zona Leopoldina, tem
a mesma marca no peito do símbolo da seita que você falou, encontrada no corpo
de Mariana Duchesi. O Capitão Gancho atacou novamente.
-- Estou indo para aí. –
Fernanda desligou o celular. – Temos um assassino em série e ele fez mais uma
vítima.