sábado, 22 de outubro de 2011

Sociedade Secreta Lesbos: Capítulo 30

Capítulo 30



Amy e Esther seguiram abraçadas pelas escadas da mansão. No seu quarto, Esther cobriu a cama de pétalas de rosas, ao ver isso, Amy encheu os olhos d’água, sorriu e beijou a morena apaixonadamente.

Esther, nitidamente bêbada, disse à loirinha:

-- Você merece muito mais que isso... Seu presente está aqui... Vou te dar... Mas antes... Quero que você me dê algo também...

Amy, também bêbada, mal conseguia pronunciar palavras audíveis, replicou imediatamente:

-- Eeeu te dou o que você quiser...

Esther sorriu maliciosamente, beijou Amy enquanto a empurrava, posicionou-a de costas na cama, deitou-se sobre ela, e a despiu enquanto deslizava suavemente com o dorso de sua mão pelas costas e bumbum de Amy, despertando arrepios na pele da loirinha, que suspirava fundo, sentindo um calor subindo pelo seu sexo, e a umidade o invadindo... Ao encontrar aquela umidade entre as pernas de Amy, Esther pediu:

-- Dá pra mim?

-- O que você quiser... -- sussurrou num tom sensual.

Esther brincou com seus dedos entre as nádegas de Amy sugerindo o que ela queria... E repetiu:

-- Dá pra mim, Amy...

Amy empinou seu bumbum e assim Esther consumou seu desejo fazendo a loirinha se contorcer de prazer, movimentava seus quadris enquanto gemidos altos escapavam. Esther não só a penetrava, como continuava a deslizar sua língua quente pelas costas da loirinha.

Amy, totalmente excitada, virou-se e avançou na boca da morena, sugando seus lábios carnudos, e com pressa a despiu, jogou o corpo de Esther na cama, ficando sobre ela, roçando seu sexo encharcado, até ordenar:

-- Agora é você que vai dar pra mim...

Massageou seu clitóris provocando o quanto pôde até Esther pedir:

-- Vai, minha linda... Me toma... Sou sua!

Amy penetrou dois dedos no sexo molhado de Esther, movimentando-os com a ajuda do peso do seu próprio corpo, mexendo seus quadris, para a loucura da morena, que arqueava seu corpo numa expressão plena de prazer.

A loirinha sentou-se na cama, e puxou Esther pra cima dela, que sentou com as pernas envoltas na cintura de Amy, permitindo que ambas se tocassem simultaneamente, até gozarem juntas.

Ficaram ali abraçadas, sentindo os corações batendo juntos, acelerados. Esther abriu o criado mudo ao lado da cama, pegou um embrulho pequeno, e entregou à aniversariante:

-- Como prometido... Aqui seu presente, linda...

-- Esther! Você já me deu tanta coisa hoje... Só aqui nessa cama... Nossa... Quanto você me deu... -- sorriu mordendo os lábios.

-- Amy Anderson! Você está muito acesa... Abre logo...

Amy abriu o embrulho, ansiosa. Seus olhos brilharam ao ver a jóia que estava dentro da caixa. Uma pulseira com um pingente, uma flor de lótus, como a tatuagem de Esther, que explicou:

-- Essa flor de lótus é um símbolo de evolução, do progresso da alma... Essa flor cresce até mesmo em meio a lama...

Amy ficou profundamente emocionada, a essa altura, o efeito do álcool já se dissipava. Pediu que Esther colocasse a pulseira nela, depois pulou em cima de Esther, cobrindo-a de beijos, repetindo:

-- Obrigada, linda, obrigada!

Foram dormir abraçadas, antes de se entregar de vez ao cansaço, Amy chamou Esther, baixinho:

-- Esther? Está dormindo?

A morena não respondeu. Amy então deixou quase que um sussurro escapar:

-- Eu te amo...

Esther abriu os olhos e tentou controlar a aceleração de seu coração ao ouvir isso da loirinha. Sentiu um misto de felicidade, mas também experimentou uma profunda angústia, porque sabia que era recíproco. Mas o objetivo que regeu sua vida até conhecer Amy era a vingança contra Sandra Anderson, e ela julgava não poder fugir disso.

1ª temporada: Porque sei que é amor : Último capítulo

CAPÍTULO 31: COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ


Resolvi não forçar a barra e me preparei para dormi no sofá, para que ela ficasse mais a vontade no quarto. Entretanto, provoquei-a, vestindo uma camisola de seda decotada, curtinha, uma que a deixava doida, quem sabe eu ativasse sua memória sexual...

Ofereci-me para trocar os curativos do braço depois que ela molhou no banho, sentei-a na cama e aproveitava do nosso contato para demorar mais no roçar de nossa peles, usei de toda sedução jogando meus cabelos para o lado e sobrepondo meu corpo sobre o dela, deixava meu decote na altura de seus olhos para pegar algum material de curativo na cabeceira da cama, atrás dela. Com o rabo de olho observava sua reação, ela ficava perturbada com isso, vi que estava no caminho certo para reconquistar minha mulher.

Saí do quarto após desejar-lhe boa noite, beijando sua testa, notei o rubor de sua face, o que me deu uma satisfação incrível por constatar que Camila não estava indiferente ao flerte entre nós.

- Mas o sofá é confortável? Essa é sua cama, não é justo você dormir sem conforto depois de todos esses dias dormindo na poltrona do hospital.

De pé na porta do quarto, continuei a jogar meus cabelos sensualmente, passava minha mão pela nuca, como se quisesse deixar subetendido o cansaço dos meus músculos pelas noites mal dormidas no hospital.

- Pelo menos no sofá me estico inteira – sorri.

- Ah Isabela, é sua cama, pode dormir aqui – Camila falou timidamente.

- E’ nossa cama...

Camila ruborizou, afastou-se na cama, abrindo espaço para mim. Aproximei-me lentamente após apagar as luzes do quarto, ligando apenas o abajur do meu lado. Deixei meus cabelos espalhados pelo travesseiro afim de exalar o perfume que eu usava na nuca, passei no meu corpo durante o banho, o óleo de amêndoas doces que ela adorava, a memória dos seus sentidos ia dar seus sinais, eu tinha certeza.

Podia sentir o corpo de Camila perto de mim, quente. Ela se mexia muito na cama, foi então que interrompi sua inquietude:


- Está com calor, Cami?

- Não... – disse baixinho.

- Está sentindo alguma dor?

- Não...

- Perdeu o sono?

- Mais ou menos.

- Tem uma coisa que faço pra você dormir, quer tentar lembrar?

Tímida, ela balançou a cabeça positivamente, aproximei meu corpo do dela, abri meus braços e disse-lhe ternamente:

- Encosta aqui sua cabeça.

Camila chegou-se tímida, afastando seus cachos pro lado, aconchegando-se em meu peito, a essa altura meu coração já estava acelerado, e ela podia sentir isso obviamente.

Apertei-a em meus braços e com uma das mãos, fazia cafuné nos seus cachos, sentiindo sua pele responder ao meu carinho. Nossos corações aceleravam o compasso juntos, sentia as pernas de Camila se entrelaçarem nas minhas, à medida que meus braços a envolviam ainda mais, sua respiração já acompanhava a rapidez das batidas do seu coração, ela não estava imune ao nosso contato, e eu tinha que usufruir disso.

- Cami, está tudo bem?

- Sim... Tem certeza que eu dormia depois disso?

Senti uma malícia em sua pergunta, sorri divertida, e respondi:

- E’ dormia, mas antes disso a gente se cansava um pouco...

- Cansava?

- E’ Cami...

Ela ficou calada, senti que ficou sem graça com a suposta ingenuidade da pergunta, e com a mesma timidez, não comum na Camila com a qual me casei, ela indagou:

- Como foi nosso casamento?

- Foi na chácara de sua família, você decorou tudo com as rosas que você mesma cultivou, da mesma espécie das rosas que se abriram no nosso primeiro beijo na estufa de seu pai... Você estava linda, Carmem a conduziu até o altar, o Vô Elias celebrou, todos estavam emocionados, entrei cantando pra você, suas sobrinhas jogavam pelo tapete pétalas de flores até minha chegada a você...

- Deve ter sido lindo, gostaria de lembrar...

- Foi perfeito... Mas se você não lembrar, casamos de novo... Você quer?

Ela sorriu e apertou suas mãos na minha cintura, esse gesto era comum entre nós quando estávamos naquela posição na cama. Meu corpo tremeu, empurrei minhas pernas entre as suas, notando Camila levantar sua cabeça. Encarou-me com aqueles olhos verdes que me penetravam a alma, os cachos longos avelã caiam sobre meus seios expostos no decote da camisola, ela baixou os olhos em direção aos meus lábios, mordi meu lábio inferior numa expressão de desejo, segurei seu rosto com uma mão, enfiando meus dedos em seus cabelos, Camila não fugiu de meus olhos, puxei-a em direção a minha boca, rocei meus lábios nos dela, e ela invadiu minha boca com sua língua institivamente, e nos entregamos em um beijo inédito, parecia ser o primeiro beijo entre nós.

A partir daí, nossos corpos se entenderam sozinhos, deixamos a saudade falar. Nossas mãos buscavam cada pedaço de nossas peles como se necessitasse explorar aquele território desconhecido e, ao mesmo tempo, tão nossos. Nossas bocas sugavam o sabor doce do tesão emanado em cada poro.

Com cuidado, coloquei Camila sob mim e movimentei-me entre suas pernas, fazendo-a sentir a umidade liberada de meu sexo, ela sorria com prazer, beijei ardentemente, enquanto mantinha o jogo de quadris agora nas suas coxas, com uma das mãos massageei seu clitóris sentindo sua calcinha encharcada, ouvi seus gemidos rocos no meu ouvido.

Ficamos por quase uma hora despertando a memória de Camila... Sentia meu amor me olhando encantada de novo, dormiu enfim nos meus braços e, no clarear do dia, foi minha vez de relembrar seu sono tranquilo com um sorriso bobo nos lábios...

- Bom dia amor...

Camila sorriu...

- Bom dia... Você tem mesmo um jeito bom de me colocar para dormir...

Beijei seus lábios suavemente, e ela retribuiu, acariciou meu rosto e perguntou:

- A gente sempre acorda com esse sorriso bobão nos lábios?

- Sempre... E sempre te observo dormir, até você sentir meu olhar e despertar...

Dessa vez foi ela que me puxou para um beijo mais longo, e mais uma vez nos amamos antes do café. Camila estava solta, sabia o que estava fazendo quando me tocava, quando remexia sobre mim e dentro de mim, gozamos juntas, e ficamos abraçadas até a fome falar mais alto. Servi-a na cama mesmo, e ela não parava de me roubar beijos entre uma mordida e outra do wafle, e dos pães prediletos dela.

Aos poucos Camila se lembrava de histórias, imagens, conversas. Com memória ou não, nos apaixonávamos de novo, ela lia as coisas de sua pesquisa lembrando de detalhes de outras etapas, Prescott se animava com a rapidez de sua recuperação, Meredith ficava com Camila enquanto eu assistia as aulas, e nos reuníamos a tarde no apartamento com Prescott. Isso durou um mês, até que voltamos a rotina na universidade, já no final do ano, quando nos preparamos para passar as festas de fim de ano no Brasil.

Nem percebíamos mais o que era novo, ou que era de memória que voltava para Camila, já desfrutávamos da mesma intimidade, carinho, amor, a flagrei várias vezes olhando nossa aliança sozinha e beijando-a. Isso ela repetia sempre. O tempo passava e parecíamos duas adolescentes apaixonadas, surpreendendo uma a outra com presentinhos, recadinhos, declarações de amor no meio do dia.

No dia que completamos 1 ano de casadas, ela voltou a me surpreender com um jantar na cobertura do prédio que morávamos. Ela montou uma pequena estufa com Meredith enquanto eu assistia as aulas sozinha. Não haviam as nossas rosas, mas ela conseguiu alguns espécimes lindos.

- Meu amor como você fez isso tudo?

- Perdi a memória meu amor, não minha inteligência...

- E toda essa produção tem segundas intenções?

- Tem... Terceiras, quartas... – sorriu maliciosa.

- Se minha mulher sabe disso... Ela é ciumenta, viu...

- Então, você quer deixar essa ciumenta e casar comigo?

- Agora?

Sorrimos por um bom tempo até que Camila tomou um ar mais sério, bebericou um gole de vinho, e me disse com um olhar brilhante e apaixonado:

- Isa não posso afirmar com certeza o quanto te amava antes disso tudo, mas posso te dizer que hoje te amo com tudo que tenho, mesmo fraca do juízo – rimos. – Eu sinto esse amor como parte integrante de mim, seu cuidado, sua dedicação, sua paixão, me curam de tudo, se fosse você hoje a perder a memória eu faria de tudo para você se apaixonar por mim, porque seu amor é o que me faz ser a mulher que sou hoje.

Depois de palavras como essas, minhas lágrimas desceram fácil pelo meu rosto, Camila também estava emocionada, beijou nossa aliança em minha mão e eu finalizei:

- Eu me apaixonaria por você quantas vezes fosse preciso, você é minha vida...

Naquela noite fizemos amor como nas nossas núpcias, re-apresentei a Camila nosso brinquedinho, depois de muitos risos, ela ficou curiosa, tratei de matar sua curiosidade, inundando-a de prazer.

Uma semana depois embarcamos para o Brasil, uma caravana nos esperava, abraços apertados, lágrimas de alegria pelo reencontro, Camila lembrou de Lívia e de tia Sílvia também, cochichava que o rosto de Bernardo era familiar, mas não lembrava seu nome. Nosso amigo estava mais gordo, corte de cabelo diferente, usando um cavanhaque, até eu tive dificuldade de destacá-lo entre os que nos recepcionaram. Senti falta do Vô Elias, Carmem nos disse que ele estava adoentado e decidiu não vir a São Paulo, o Vô Antenor só iria para Campinas no final de semana, minha vó havia passado por uma cirurgia e ele estava acompanhando-a.

Olívia nos preparou uma festinha de boas vindas, estava morando em um apartamento maior, e assim pode receber a todos. A primeira coisa que minha sogra percebeu foi nosso rosto mais magro, comíamos muito mal em Boston, e os últimos meses tinham sido bem puxados para nós. Na festinha Olívia nos apresentou sua nova namorada, uma acadêmica de medicina, não tinha mais de 22 anos, muito bonita, parecia mais uma modelo, magra, alta, cabelos longos, uma aparência bem hetero, minha mulher coitada com o gaydar sequelado custou a acreditar que elas eram um casal.

A noite seguimos para Campinas, nossa intenção era ficar em nosso apartamento, mas Carmem não deixou, outra recepção nos aguardava na chácara, Vô Elias estava sentado no alpendre, aparência cansada, mas com um sorriso sincero caminhou em nossa direção. Abraçou- nos demoradamente, ficamos os três unidos naquele abraço cheio de saudade, sentimos muita falta desse calor familiar em Boston.

As festas de fim de ano passamos todos juntos, exceto pelo Vô Antenor que regressou a Valença no mesmo dia que chegou, revelou-me que minha vó atravessava um câncer avançado, mesmo com todo tratamento novas metástases surgiam, foi orientado por Tio César a não prolongar o sofrimento dela, e assim pediu-me que antes de voltar a Boston a visitasse na fazenda. Camila lembrava que algo ruim acontecera entre nós mas não sabia ao certo o que, e talvez por isso garantiu ao Vô Antenor que acataríamos seu pedido.

Passamos nosso reveilon no nordeste a convite de Olivia e sua namorada, Bernardo nos acompanhou, estava com outro namorado, um advogado muito chato e nervoso, que pagava uma de hetero em público, era ridículo, Olívia e eu repreendemos veementemente a nova escolha de nosso amigo que se justificava dizendo que devolvia os abusos do tal boyzinho com muito chifre... Era o mesmo debochado de sempre o Bernardo.

A praia de Boa Viagem em Recife estava linda, o hotel que ficamos disponibilizou várias tendas com buffet na areia, a queima de fogos coloridos e aquele clima litorâneo contrastava com o nosso reveilon anterior, mas o sentimento otimista sobre o ano vindouro era o mesmo.

Conhecemos Recife juntas, o agito do começo de noite do Recife antigo, com o ensaio e desfile dos grupos de maracatu, as feirinhas de artesanato, os shows de MPB no Marco Zero. Conhecemos ainda Olinda, e suas ladeiras históricas cheias de cor e ritimo, avistamos a orla recifense do alto da vista da Sé, nos deliciamos com as tapiocas, e enchemos as bolsas com souvenirs locais. As praias eram um show a parte, pelo pouco tempo que tínhamos só nos detivemos na praia Maria Farinha, bebemos tanta cerveja que sequer um táxi conseguíamos chamar... O namorado chato do Bernardo, precavido, pegou o telefone de um taxista e assim providenciou nossa volta ao hotel.

Depois de quatro dias na capital pernambucana, seguimos para Belo Horizonte, para cumprir nossa promessa de visitar a Vó Helena, não queria voltar á fazenda, não era do meu feitio voltar atrás no que dizia e prometera nunca mais pisar lá enquanto ela estivesse viva, no entanto minha consciência pesou mais, e apoiada pela segurança do amor de Camila que já estava totalmente recuperada, segui para Valença para despedir-me de minha vó, perdoá-la enfim.

Já no aeroporto, Lívia nos revelou que vovó havia sido internada, fomos assim direto ao hospital, toda a minha família estava pelos corredores, alguns cumprimentavam friamente a mim e a Camila, outros eram fervorosos nos abraços, mas aquilo nem nos incomodava, nosso objetivo ali era outro: eu perdoar vovó e Camila me apoiar.

No quarto, apenas Vô Antenor e Tia Sílvia estavam com vovó, depois de nos abraçarmos, sentei ao lado do leito de vovó que estava de olho fechados.

- Vovó Helena?

Abriu os olhos lentamente, estava abatida, pelo menos 20kilos a menos, cabelos falhos, rosto ressecado, lábios feridos. Seu olhar era triste, ao me ver esboçou um sorriso, segurou minha mão com a força máxima que pode.

- Isa minha querida... Pensei que morreria sem ver você.

- Estou aqui vovó...

- Estou orgulhosa de você, seu avô me disse... Estás pesquisando no exterior?

- Sim vovó, em Boston, estou apenas de passagem pelo Brasil.

- Perdi tanta coisa de sua vida por causa da minha intolerância...

Baixei meus olhos, experimentando o ressentimento das palavras duras que ela me destinou quando eu estava com Suzana. Olhou minha mão esquerda e vendo minha aliança continuou:

- Soube também que você casou... Está feliz?

- Sim vovó muito. Ela está aqui comigo, está lá fora com Lívia.

- Quero vê-la.

Não podia acreditar nisso, mas não questionei, pedi que tia Sílvia a fizesse entrar, Camila adentrou o quarto com um olhar de interrogação assustado.

- Venha cá minha filha, fique aqui perto de sua mulher.

Assim Camila o fez. Vovó Helena segurou nossas mãos juntas, e com uma sinceridade tocante nos abençoou:

- Sei que vocês não precisam de minha benção, vejo que o amor é fonte de toda graça, e isso é abundante em vocês duas... Mas mesmo assim, quero abençoar vocês, e pedir perdão por minha estupidez especialmente a você minha neta, você é meu orgulho, nunca foi minha decepção.

Não contivemos as lágrimas, abracei Vovó deitando- me no leito ao lado dela, como fazia quando criança em seu colo.

Retornamos no dia seguinte para Campinas, nosso vôo para Boston partiria em dois dias. Depois de uma pequeno almoço de despedida, embarcamos de volta para os EUA, dessa vez o aperto no peito era menor, talvez pelo alívio de ter me reconciliado com Vovó, mesmo sabendo que aquela seria a última vez a vê-la viva.

O choque do verão brasileiro com o inverno nos EUA detonou com nossas energias, antes de voltarmos a nossa rotina de pesquisa, Camila e eu nos demos folga, alugamos dezenas de dvds, e não nos desgrudamos uma da outra por dois dias, só namorando e fazendo planos, definimos nossas próximas férias na Europa, eu não conhecia, mas Camila sim, e por isso fazia questão que conhecesse tudo ao seu lado.

E nessa atmosfera de amor tranquilo e paixão na cama, nossa história ia sendo construída, logicamente brigávamos por bobagens como qualquer casal, me descobri uma ciumenta terrível quando Camila começou a trabalhar com acadêmicas em sua pesquisa, as meninas, mais novas que eu, só faltavam babar no chão que minha mulher pisava, não só por sua beleza, mas por sua atitude, inteligência e segurança. Nas férias de verão colocamos em prática nossa viagem de férias e foi tudo perfeito, conhecemos Paris, Berlim, Roma, Londres, Irlanda, grande parte do trajeto fizemos de trem desfrutando do romantismo de suas cabines luxuosas.

Passamos em Boston, três anos no total, sempre que podíamos escapávamos para alguma cidade americana para uma nova lua- de- mel, que nem era necessária, mas assim saíamos da rotina. Conhecemos Miami, até para matar a saudade do sol e das praias, Los Angeles, Washigton, até nos aventuramos em Las Vegas. Trabalhávamos muito, na fase final do mestrado, nossa relação estremeceu, tamanho era minha insegurança por passarmos menos tempo juntas do que Camila e as tal acadêmicas. Camila como sempre, exemplo de sensatez me deixava brigando sozinha, até que eu me rendesse e lhe pedisse desculpas, as quais ela aceitava me cobrindo de beijos.

Enfrentamos uma maratona de apresentações em congressos internacionais da nossa pesquisa: Canadá, Espanha, Inglaterra, Turquia, já havíamos concluído, mas Prescott fazia questão de nossa participação nesses eventos, alguns fomos como convidadas especiais, em outros participávamos como meras pesquisadoras. Aproveitávamos para fazer turismo, e acabamos nos divertindo muito.

No final de 2008 regressamos ao Brasil, com as malas cheias de publicações, convites para grupos de pesquisas e propostas de financiamento de novos projetos.Voltamos a trabalhar no mesmo hospital, e eu me preparava para o concurso da UNICAMP, queria mesmo lecionar e continuar na pesquisa, a clínica não me atraía tanto.

Eu e Camila, crescíamos juntas profissionalmente (ela logicamente bem mais que eu), na intimidade, cumplicidade, nossa paixão não arrefecia, sempre buscávamos apimentar com uma coisa ou outra, mas as vezes a rotina nos surpreendia, chegamos a passar semanas sem nos amarmos, mas nunca por falta de desejo, sempre por falta de tempo ou cansaço, mas dormíamos sempre grudadas. Sabíamos como a outra estava sem trocar uma palavra, as vezes mesmo longe, quando precisávamos viajar sozinhas, sentíamos a presença uma da outra.

Pensava as vezes como o amor é sutil em suas demoras, como é simples e acalentador, quando permitimos que ele se baste em uma relação. Ele não surge com a pretensão de ser o único, nem muito menos de ser igual a outro amor. Quando é amor, tudo acontece naturalmente, e mesmo que não dê certo, sempre deixa alguma coisa em nós, cabendo a cada um manter apenas as marcas que nos fazem ser uma pessoa melhor, disponível para o amor.

Descobri com Suzana o que é amar uma mulher, descobri também o que é sofrer por ela, experimentei céu e inferno na terra. Mas também aprendi que com amores também se vão, porque se não houver abdicação, respeito, ele se despedaça... Camila me reconstruiu, aliás o amor dela me refez, não me entreguei pela metade esperando ela me completar, ela me fez crescer e ficar inteira pra ela, pra juntas construirmos nossa história, acredito que é nisso que consiste amar, é capacitar o outro a estar inteiro, dois meios nem sempre forma um inteiro, por meio pode ser só um pedaço, e nenhum amor é duradouro quando apenas pedaços de pessoas se relacionam.

Vivo com Camila esse amor, inteiro, real, palpável, maduro, e nem por isso é monótono ou sem perspectivas. Ontem ela viajou para o exterior sem mim, preciso ministrar aulas na faculdade onde hoje sou professora, encontrei aqui no desktop do meu notebook um recado dela, junto com o video de Titãs

“Escute a música, leia a letra...te amo, te levo comigo, até daqui a pouco minha vida...”

Porque eu sei que é amor Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor Eu não peço nenhuma prova
Mesmo que você não esteja aqui O amor está aqui
Agora Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir Embora
Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar E eu peço somente
O que eu puder dar

Porque eu sei que é amor Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor Sei que só há uma resposta
Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui Comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim Mais vivo
Porque eu sei que é amor

Esse é o meu amor, essa é minha vida, até quando durar, e eu espero que o pra sempre seja longo, seja na sua essência o amor pra vida toda.

FIM