terça-feira, 21 de novembro de 2017

CONTINUAÇÃO 1ª FASE - LEIS DO DESTINO

CAPÍTULO 32 - Curam vulneribus
* Cuidando das feridas


Depois de pegar algumas roupas na casa de Natália, as duas seguiram para o apartamento de Diana, a loirinha se derramava em cuidados com a namorada, o que comovia e divertia ao mesmo tempo Natalia.

Com muita delicadeza, Diana ajudou a namorada a se acomodar na sua cama, cercando-a de travesseiros.

-- Di, vai faltar espaço para você nessa cama se você colocar mais travesseiros, você está com medo que eu caia da cama? Estou machucada, não voltei a ser bebê!

Natalia brincou.

-- Você não quer ligar pra casa? Avisar aos seus pais sobre o que houve? – Diana perguntou sentando-se ao lado da namorada.

-- Di, não posso contar a eles. Se eles sabem o que aconteceu, eles vem me buscar na mesma hora e não me deixam mais voltar para cá!

Diana acenou em acordo.

-- Vamos ter que tomar muito cuidado Nat, primeiro, você não vai ficar sozinha naquela lata de sardinha no fim do mundo que você mora.

-- Ah ótimo, vou morar onde então?

-- Por enquanto aqui.

Natalia arregalou os olhos, manifestando sua surpresa.

-- Você pode me dizer que desculpa dará para seus amigos?

-- Pra começar, você vai ligar para eles, dizendo que está no interior, que seus pais vieram te buscar, ganhamos alguns dias para pensar em algo melhor...

-- É esse seu plano? – Natalia perguntou visivelmente decepcionada.

-- Você tem outra ideia?

-- Na verdade tenho: dizer a verdade!

-- Han?

-- Isso mesmo que você ouviu Diana: dizer a verdade. Já está na hora, chega de nos escondermos, não quero mais isso!

-- Ei Nat... Calma...

Diana se sentou ao lado de Natalia e ponderou:

-- Você tem noção do que será se assumir como lésbica? Como minha namorada?

-- Não estou falando de assumir ser lésbica, não sou lésbica... Estou falando de assumir que estamos juntas!

-- Nat... Olha só o que você acabou de falar... Nem você mesma tem convicção sobre sua sexualidade, e já quer assumir uma relação lésbica publicamente? Você não tem noção do que vai enfrentar, do quanto as pessoas são preconceituosas...

-- Diana sua preocupação é com isso mesmo?

-- Porque você está perguntando isso Nat?

-- Porque eu acho que sua preocupação é perder a amizade do Pedro e do Lucas.

-- Claro que também me preocupo com isso! Você se esqueceu da declaração de amor que o Pedro te fez ontem? Eu vi o abalo do meu amigo, testemunhei o empenho do Lucas em punir o Sandro a ponto de pedir a intervenção do meu pai...

-- Pelo que vejo, eles dois não tem restrições em assumir o que sentem por mim...

-- Você não pode estar falando serio Natalia... Não dá pra comparar.

-- Diana o que sei é que estou cansada de mentir, de esconder nosso namoro, por ser grata aos meninos o que eles fizeram e fazem por mim, eu preciso ser honesta com eles, não quero dar esperanças a eles, especialmente por que não quero que nunca mais nenhum homem me toque!

Diana franziu a testa, assustada com a declaração da namorada.

-- Nat eu entendo que você está traumatizada com o que aconteceu, a Dra. Rosana me advertiu que isso poderia acontecer, acho que não é o melhor momento para tomarmos decisões tão importantes...

-- Que se dane os conselhos que essa psicóloga deu! Estou falando de nós! Você está usando desculpas, porque na verdade tem vergonha de assumir namoro com uma caipira como eu não é?

-- Natália!

Diana exortou Natalia segurando o rosto da namorada.

-- Eu não tenho motivos pra ter vergonha de você! Para com isso! Eu me preocupo sim com a repercussão disso na sua vida, e claro com as consequências na amizade com os meninos. Pedro e Lucas são como irmãos para mim, porque os meus irmãos de sangue são preconceituosos, machistas, cópias fiéis do meu pai, que me criou para ser um meio para ascensão social ou algo do tipo, me casando com alguém do interesse dele. Os meninos seguraram minha barra por muito tempo aqui, até minha mãe convencer meu pai a me manter aqui, me protegeram, inclusive quando resolvi assumir minha sexualidade, apesar de estarem apaixonados por mim... Você não pode achar que é fácil magoá-los assim...

Natalia baixou os olhos, Diana ergueu o rosto dela delicadamente, e disse:

-- Não pensa nisso agora, me deixa cuidar de você...

Diana beijou ternamente a face de Natalia, colhendo com seus lábios as lágrimas que escorriam pelo rosto da namorada. Natalia se entregou ao carinho da loirinha, e logo se acomodou no peito de Diana, e as duas permaneceram abraçadas, aninhadas uma na outra.

O cuidado de Diana beirou a comicidade, o que para Natalia se transformou em adicionais de carinho, quando observava a loirinha se esforçar para preparar algo na cozinha.

-- Di... Deixe-me ajudar...

-- Não! Você deveria estar na cama descansando! Volte pra lá! Estou me saindo bem aqui... Seguindo direitinho a receita que peguei no site: picadinho com legumes, minha mãe sempre mandava fazer pra mim quando eu estava doente.

Diana disse jogando os legumes inteiros na panela, se afastando do fogão como se temesse uma reação química devastadora.

-- Di, você deveria descascar as batatas e cenouras antes de jogá-las na panela junto da carne.

-- Mas isso não está escrito aqui!

Diana exclamou exibindo a folha de papel com a receita copiada.

-- Acho que quem publicou isso não imaginou que precisaria colocar o obvio como: acenda o fogo com fósforo...

Natália riu, com a expressão irritada da namorada, que cruzou os braços encostando-se na pia.

-- Que bico mais charmoso!

Natalia brincou se aproximando de Diana, envolvendo sua cintura.

-- Nunca cozinhei nem ovo ta? Pega leve comigo...

Diana disse com voz manhosa.

-- Então eu cuido da mesa, e você cuida da... Cama!

Natalia beijou Diana ardentemente acendendo o desejo da loirinha, que segurou a outra com força arrancando um gemido de dor.

-- Ai...

-- Desculpa Nat... Caraca como sou desastrada... Seus machucados!

-- Calma Di... Está tudo bem... Dá beijinho que passa.

Diana beijou delicadamente as costas de Natalia.

-- Agora acho melhor eu assumir a direção desse fogão, antes que esse picadinho vire ração...

Natalia falou sorrindo, mexendo nas panelas, enquanto Diana fazia careta.

-- Você trate de ficar quietinha só observando!

Diana foi obediente, sentou-se junto ao balcão, e observou praticamente com devoção em cada movimento, expressão que Natalia exibia. Perguntava-se interiormente como conseguiu viver até aquele dia sem vislumbrar a beleza serena e limpa de Natalia. A presença dela inquietava e ao mesmo tempo trazia um sentimento de calmaria em sua alma que ela sequer sabia que desejava.
*********

O final de semana foi reservado para mimos e cuidados de Diana com Natalia, que por diversas vezes acordava de seus pesadelos assustada sendo acolhida pela namorada. A loirinha também se responsabilizou pela tarefa de trocar os curativos de Natália, usando uma delicadeza que comoveu Natalia.

-- Com uma enfermeira dessas, eu vou me machucar sempre! – Natalia brincou.

-- Nem brinca com isso... Meu coração não aguenta outra agonia dessas...

Natalia sorriu sem graça.

-- Prontinho!

Diana finalizou recolhendo o material de curativo da cama.

-- Di, amanhã é segunda-feira, tenho que voltar para a faculdade...

-- Ei! Você só vai voltar para a faculdade quando você se sentir preparada para isso. Quando aquele criminoso estiver preso, enfim... Quando estiver recuperada.

-- Diana na terça nós temos o tal júri simulado da Madimbu, ela não vai dispensar a oportunidade de te condenar!

-- Não se preocupe com isso! Eu e os meninos vamos dar um jeito...

Natalia sorriu, e aproximou a boca dos lábios de Diana, depositando um beijo suave, mas cheio de desejo.

-- Você está doente, não pode beijar sua enfermeira assim... – Diana disse com as bochechas coradas.

-- Assim como? – Natalia respondeu imprimindo sensualidade no tom de voz.

-- Assim... Quente...

Natalia se insinuou ainda mais contra o corpo de Diana, roçando seus lábios pelo pescoço da loirinha, que fechou os olhos sentindo o arrepio tomar de conta da cada poro da sua pele. Natalia acariciou a pele eriçada da namorada, que não se conteve, e retribuiu às investidas posicionando suas mãos por baixo da camiseta de Natalia, se desfazendo da peça.

Contemplou as marcas no corpo da namorada, que parecia se envergonhar dos hematomas espalhados pelo dorso e braços. Diana deslizou o dorso da mão pelos machucados, depositou seus lábios por cada marca beijando ternamente, dando aquele momento um clima de especial de carinho e paixão, como se aquele gesto representasse cura e redenção.

Natalia caiu sobre o corpo de Diana trocando beijos lentos e famintos, dando espaço para movimentos suaves, e o passeio das mãos, arrancando gemidos de prazer de ambas.

-- Eu sou tão sua Di...

-- Também sou sua Nat... Só sua.

O prazer transformado em fluidos e sons ditou o trajeto dos dedos e bocas, que as conduziram ao ápice simultaneamente.

Abraçadas, trocando carícias, em um clima íntimo de cumplicidade, Natalia confessou:

-- Se existisse uma compensação pelo que aconteceu comigo, estar com você assim, dividindo uma casa, como foram esses dias, seria a melhor de todas.

-- Não fala assim minha linda... Pra termos dias assim, não é preciso que você passe por tragédias para receber compensações...

-- O que você quer dizer com isso?

-- Ah... Dividirmos uma casa, ficarmos juntas assim, pode ser um plano.

-- Está falando sério Di?

-- Por que não?

Trocaram um sorriso, um sorriso que parecia preparar o clima para uma declaração contundente do sentimento óbvio que se consolidava entre elas, quando o celular de Diana tocou.

-- Oi Lucas.

-- Di, o filho da mãe se apresentou a polícia. Está detido.

-- Jura? Pelo menos isso!

-- Agora não tenho como avisar a Natalia, ela não deixou telefones da casa dos pais.

-- Ela deve entrar em contato logo Lucas.

-- É, na verdade ela precisa estar o quanto antes na delegacia para depor.

-- Lucas, na terça teria um trabalho da Madimbu, um júri simulado que Natalia apresentaria, será que você poderia falar com a bruxa para adiar? Se eu for, você sabe o que pode acontecer...

-- Pode deixar Diana, amanhã a procuro no departamento, ou melhor, peço ao Pedro, ele é queridinho dela.

-- Valeu.

Depois de compartilhar a novidade, Diana aconselhou Natalia a ligar para Lucas.

-- Nossos dias de paz acabaram? – Natalia perguntou contrariada.

-- Não minha linda. Não acabaram, estamos juntas, quer maior paz que isso?