domingo, 20 de março de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - DÉCIMO NONO CAPÍTULO

Capítulo 19



O casal seguiu para o salão. O universo outra vez conspirou a favor de Amy, a banda começou a tocar um tango, ela nem precisou se esforçar para convencer o amigo a protagonizar a cena hollywoodiana. Os dois tinham até número ensaiado, coisas do tempo de escola, quando imitavam a cena do filme Perfume de Mulher com Al Pacino. O cenário não poderia ser mais cinematográfico. Em pouco tempo, os demais casais no salão pararam de dançar, tornando-se público para o desempenho de Amy e Philip. Movimentos sincronizados, esbanjando sensualidade, olhares fixos, jogo de pernas, e ao final, um beijo ardente arrancando suspiros de quem assistia.

Aplausos foram puxados surpreendentemente por Jonh, Philip não podia deixar de jogar sedução naquele momento, curvou-se em direção ao rapaz como artista ao final do espetáculo. Amy fixou o olhar em Esther, que tomou a dose em um gole só da bebida que um garçom passou servindo. Encararam-se até outra música começar, e Philip a puxar pelo salão mais uma vez em direção ao bar.

-- Primeira parte do plano executada com maestria, né, amiga?

-- Pelo jeito, não foi só eu que tirei vantagem disso, né?

-- Qual o próximo passo?

-- Preciso falar com ela... Saber o que está pensando...

-- Tenho uma ideia pra isso, mas... Você tem que cumprir sua parte também, topa?

-- Claro...

Philip pediu uma bebida, e abraçou Amy por trás, cochichando em seu ouvido:

-- Você sabe onde fica a central de energia desse prédio?

-- Sim, eu estava na comissão de som e iluminação da festa, precisei saber detalhes do abastecimento de energia elétrica.

-- Ótimo... Vamos até lá agora, preciso conhecer o caminho...

Seguiram para o subsolo do Windson sorrateiramente, quem viu os dois se afastando de mãos dadas, só poderia pensar que estavam buscando ficar a sós para interesses mais íntimos... Inclusive Esther, que ignorava a presença de Michelle sempre próxima a ela. A morena só virava copos, visivelmente perturbada pelo casal Philip e Amy.

No caminho até o porão, Philip olhava atento para corredores, portas, a fim de bolar o plano perfeito que atendesse a sua necessidade, e ao pedido da amiga.

-- Ok, Amy, preste atenção no que vamos fazer: você vai até a central e quando eu cumprir minha parte te envio uma mensagem pro celular e aí você desliga a força, tudo bem?

-- Espera aí, Philip, isso vai acabar com a festa! Não posso fazer isso, é a festa da minha fraternidade, precisamos arrecadar fundos e...

-- Ei, calma! Não vai durar mais que cinco minutos sem luz, é o tempo suficiente para você sumir com Esther sem despertar a atenção de ninguém, muito menos sobre a veracidade de nossa paixão... E além do mais, assim posso sumir também com o quarter backer...

-- E qual será sua parte nisso?

-- Atrair nossas presas...

-- Você é horrível! Presas?

-- Isso... -- Philip sorriu malicioso. Preste atenção, como você é a responsável por essa parte na organização da festa, vou dizer a Esther que você desceu para resolver um problema com a eletricidade do salão e que ainda não voltou e que estou preocupado. Peço a Jonh para ir conosco procurar você, quando estiver a caminho, te envio o SMS, você desliga a força, aguarda três minutos, e religa.

-- Ótimo, como vou encontrar Esther no escuro?

-- Você está vendo aquela porta ali? Ela dá acesso a quê?

-- Vamos ver...

Abriram a porta e se depararam com um depósito de móveis antigos, tapeçarias, todos cobertos com plásticos e panos. Philip sorriu como se tivesse a certeza que o universo conspirava a favor deles naquela noite. A porta só se abria por fora, assim, estava perfeito para seu propósito.

-- Excelente, amiga... Trago Esther para cá e te mando a mensagem, com tudo escuro, digo a Esther para que fique lá enquanto vou com Jonh na central de energia. Você a religa em três minutos e vem para cá e encontra a Esther, a essa altura estarei longe... A sós com Jonh, e aí é comigo -- arqueou as sobrancelhas com ares de malícia.

Voltaram para o salão a fim de dar início ao plano. Esperaram alguns benfeitores anunciarem doações, e só aí Amy desceu para o porão. Como combinado, ao receber o SMS de Philip, desligou a chave da energia, contando no cronômetro do celular os três minutos que o amigo estipulara. Ao final desse prazo, religou a energia e se dirigiu até a tal porta do depósito.

De longe já se ouvia os gritos de Esther pedindo ajuda. Apressou-se notando um tom desesperado na voz da morena. Destrancou a porta rapidamente, ao se deparar com Amy, Esther a abraçou forte, trêmula, estava pálida. Amy se compadeceu vendo o estado daquela mulher sempre tão altiva. Parecia mais uma criança assustada naquele momento.

-- Ei, Esther, calma, já está tudo bem, estou aqui com você...

A morena continuou ali abraçada com Amy, até ir recuperando a calma aos poucos. A novata, por sua vez, esquecera de qualquer plano armado ao sentir o corpo de Esther aninhado no seu. Aquele perfume lhe envolvia de uma maneira quase que sobrenatural, uma vez que transportava Amy interiormente para um universo paralelo, no qual só existiam ela e Esther naquele depósito de quinquilharias, que num momento se transformara em um cenário cheio de romantismo.

Esther permitia aquele aconchego desejando que o contínuo espaço-tempo fosse quebrado e aquele instante se eternizasse. Ali, tão perto do colo de Amy, podia ouvir o coração da loirinha bater no mesmo ritmo que o seu. Esse som, esse clima, era o suficiente para esquecer qualquer jogo de intrigas, naquele momento só importava o que ela e Amy sentiam.

Aos poucos a morena se desvencilhou dos braços de Amy, encarando-a intensamente. A loirinha não fugiu daquele olhar, parecia bem mais que atraída pela faísca dele, estava hipnotizada, rendida aos olhos castanhos latinos de Esther.

A presidente da Gama-Tau baixou a cabeça e disse baixinho, evidenciando um toque de timidez por ter demonstrado tamanha fragilidade.

-- Desculpe-me, acho que tenho um certo pavor de escuro, de locais fechados... A aconteceu algo estranho...

-- Não precisa se desculpar, Esther, está tudo bem. E não se preocupe, sua imagem de mulher destemida está a salvo comigo -- Amy a interrompeu num tom de brincadeira extremamente doce.

-- Seu namorado está a sua procura e me pediu que mostrasse onde era a central de eletricidade... E me deixou aqui saindo com Jonh, não entendi nada... O que houve?

-- Fui informada sobre oscilações no fornecimento de energia em alguns pontos do Windson, quis averiguar antes que acontecesse algo para prejudicar a festa, era apenas um fusível com mau contato... Providenciei o reparo com o pessoal da manutenção, mas na hora da troca a energia caiu de vez...

Esther parecia confusa com a versão dos fatos segundo Amy, mas queria ignorar os fiapos soltos da história, a fim de aproveitar aquele instante a sós com a loirinha.

-- Que bom então que não estragou a festa... Seu namorado está com Jonh... Devem estar trocando impressões a seu respeito...

-- Philip é um cavalheiro, não fala de nossas intimidades com ninguém, especialmente com outro homem...

-- Se você diz... Deve conhecê-lo melhor que eu...

-- Com certeza... Melhor sairmos daqui, vou procurar meu namorado.

-- Espera, loirinha! Pra que a pressa? Medo de ficar a sós comigo?

-- Por que você insiste em não me chamar pelo nome? Você sabe que tenho um, não sabe? E a medrosa aqui não sou eu...

Esther não conteve o riso vendo a irritação de Amy. Ao notar um sorriso se desenhando nos lábios da morena, a novata também não conteve o sorriso, ambas baixaram a cabeça para que nenhuma fosse a culpada de dar o braço a torcer naquela discussão boba.

Alguns segundos de silêncio, e Esther paralisou olhando por cima dos ombros de Amy, sem fazer movimentos bruscos. Caminhou lentamente até ela, e disse quase que sussurrando:

-- Não se mova...

A orientação parecia surtir exatamente o efeito contrário, Amy deu um salto, e uma aranha enorme que descia de um dos móveis empoeirados caiu sobre seus ombros, provocando uma série de gritos, que só se assemelhavam aos berros do filme “Aracnofobia”.

Esther então, com um cabo de madeira, derrubou a aranha, empurrando um móvel pesado por cima do bicho, apressando-se em ir em direção a Amy para tentar acalmá-la.

-- Ei... Só uma arainha de nada, me deixa ver se no seu ataque aconteceu alguma coisa ao seu ombro...

Esther falou mansamente, deslizando as mãos nos ombros de Amy. O ombro esquerdo, nu, estava vermelho, provavelmente não por efeito do contato com o bicho, mas pelas excessivas batidas que a loirinha deferiu contra ela mesma enquanto se debatia com medo da tal aranha.

Amy não conseguia falar, respirava rápido, sentindo o toque suave das mãos de Esther na sua pele, que imediatamente começava a queimar, mas não pelo contato acidental do bicho, e sim pelo desejo que emanava de seu corpo por Esther.

A morena, por sua vez, estremecia diante da maciez da pele alva da novata. A vontade de tomá-la em seus braços era tanta, que o simples fato de ouvir a respiração acelerada de Amy, já lhe arrepiava inteira.

Em segundos a testa de uma já estava colada na outra... Roçaram suas faces, as peles se eriçaram, as bocas se procuraram famintas, até se encontrarem num beijo pleno, intenso, urgente e sem reservas.

À medida que as línguas se buscavam num movimento sincronizado das bocas, as mãos de Esther percorriam o decote do vestido de Amy, esta, puxava para si a morena pela cintura se deliciando nas curvas dela, ousando explorar cada centímetro que sua mão pudesse alcançar.

O beijo não cessava. A vontade contida, até aquele instante, não deixava brechas sequer para recuperar o fôlego, ambas pareciam querer mergulhar uma na outra.

Aquele momento foi interrompido com um barulho de alguém se aproximando pelos corredores do subterrâneo do Windson. Antes que Amy e Esther pudessem descobrir de quem se tratava, ouviram o barulho de portões rangendo, e o som característico de cadeados se fechando.

Entreolharam-se deduzindo o que acontecera, correram em direção à entrada do subterrâneo, mas foi em vão, os portões estavam trancados, e por mais que gritassem, não seriam ouvidas naquela altura.

Esther, visivelmente contrariada, exclamou:

-- Ótimo... Agora estamos trancadas nesse porão...

-- Calma, vou ligar para Philip...

-- Espera...

Não deu tempo de Esther concluir o raciocínio, Amy já estava com o celular nas mãos, discando.

-- Ai, não acredito! Estou sem bateria! Droga, descarregou...

-- É... Estamos presas aqui.

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 20

CAPÍTULO 20: ESQUECENDO SUZANA


No fundo, Camila tinha razão, eu tinha que conversar com Suzana e por um ponto final naquela confusão que foi o fim de nosso noivado.

Por mais doloroso que tenha sido o reencontro, e toda a conversa, eu me convenci que Suzana não era a mesma pessoa pela qual me apaixonei. De certa forma, entendi o que ela se propôs a fazer por Bárbara.

O que eu não podia aceitar eram as condições que ela desenhou para que nossa história tivesse uma continuação. Nenhum relacionamento nesse contexto poderia ser saudável, o beijo que trocamos acendeu muita coisa além de desejo. Saudade de nossa convivência, de nossos planos... Mas nosso sentimento não resistiria ao peso de enganar e trair alguém no leito de morte.

Eu vi diante de mim duas opções: render-me ao sentimento ainda vivo por Suzana aceitando a condição de dividi-la secretamente com a mulher que ela amou e que me traíra, e pior: velando sua morte para concretizar nossos planos. Ou investir em um relacionamento cheio de expectativas, baseado em compreensão e amizade com uma mulher que me inspirava, me fazia bem.

Vesti uma camisola, me perfumei, esperando Camila, a mulher que escolhi para esquecer Suzana. Eu estava pronta para virar essa página da minha vida, e decidida a fazer Camila tão feliz como ela me fazia.

Em pouco mais de duas horas como prometera, Camila estava de volta, pulei em seu pescoço assim que a vi adentrando a porta, lhe cobrindo de beijos pela face, boca, queixo.

- Opa... Ow... Linda, calma... Pra que tanta pressa?

Apressava-me em jogar sua bolsa pelo chão, desabotoar seu terno e a arrastar para cama.

- Isa, meu bem, não é que eu... Não esteja gostando dessa sua disposição... Mas... Minha linda, eu sinto que aconteceu algo... Isa... – interrompia meus beijos para falar tentando se desvencilhar de mim.

- Ai Camila... Como que você já me conhece tão bem assim? – afastei-me, levantando da cama.

- Isa... Vem cá vem, senta aqui, e começa a me falar – fez sinal para que eu sentasse no colo dela.

- Camila, antes de qualquer coisa, eu preciso te dizer que não vou esconder nada, porque quero que não existam segredos entre nós, porque quero que nossa relação dê certo e...

- Isa, calma, respira, me fala devagar.

- Ok. Suzana esteve aqui, conversamos, nos beijamos, mas foi só isso, está tudo resolvido, nossa história acabou.

Camila respirou fundo, e me pediu detalhes. Narrei toda nossa conversa. Ao final, esperava qualquer coisa de Camila, exceto o que ouvi:

- Isabela, você quer dar um passeio pelo jardim do hotel? Notei que a lua está linda...

Sorri pra ela e beijei-a completamente encantada. Recusei a oferta, uma vez que já estava de camisola:

- Você acha que podemos ver essa lua daqui da varanda mesmo?

- Acho que sim.

Na varanda, duas cadeiras alcochoadas estavam dispostas, Camila sentou-se e me puxou para seu colo. Ficamos ali trocando beijos, afagos, sorrisos por quase uma hora, nem me lembro que lua tinha no céu, estava mais interessada nos olhos verdes de Camila, que me contemplavam como se eu fosse uma pintura rara.

Naquela noite nos amamos. Sim, nos amamos, não era simplesmente corpos se entregando ao desejo, eu abri minha alma à Camila, experimentava mais uma vez uma sensação de liberdade, de entrega, estava livre para começar uma nova história, deixando Suzana no meu passado.

Em nosso último dia em Brasília, recebemos boas respostas acerca do incentivo ao financiamento da pesquisa e ainda a perspectiva da agência internacional nos subsidiar também.

Voltamos à noite para Campinas, Camila finalmente conheceu meu apartamento, convidei-a para dormir comigo, já que era mais próximo do hospital. Acordar com Camila era uma sensação indescritível de “estar em casa”, eu adorava vê-la dormir e despertá-la com um beijo. Começando nossas manhãs com carícias que acabavam nos atrasando para o trabalho.

Os dias que se seguiram, consolidaram minha relação com Camila, passávamos o dia inteiro juntas e não precisávamos esconder nada. Nossa pesquisa decorria com sucesso, acompanhávamos oito pacientes, a primeira etapa do projeto estava praticamente concluída.

Quase todos os finais de semana, visitava com Camila o vô Elias, na casa da família dela. Todos sabiam a nosso respeito, e eu era tratada como membro da família, isso me dava um conforto inimaginável.

Quanto a Suzana, cada vez menos pensava nela, lembrar dela quando ouvia Ana Carolina era inevitável, mas a presença de Camila me preenchia, assim, estava convicta que estava esquecendo meu primeiro amor.

Assistindo o noticiário de esportes, fiquei sabendo da convocação de Laila para a seleção feminina de vôlei, no mesmo dia, recebi uma ligação dela, pedindo que fosse despedir-me dela em São Paulo, antes que embarcasse para Tóquio. Desculpou-se por não ter ligado antes, e eu recusei o convite, explicando-lhe minha condição atual com Camila.

Era outubro eu e Camila completávamos três meses juntas, era também mês do meu aniversário, Tia Sílvia e Lívia vieram passá-lo comigo. Camila preparou-me uma surpresa: auxiliada por Bernardo, alugou o espaço de jogos do shopping, o mesmo que nos desafiamos na primeira vez que saímos, convidou a equipe que trabalhava conosco, Olivia veio de São Paulo, os pais, irmãs e sobrinhos de Camila, assim como o Vô Elias, também estavam lá, todos devidamente fantasiados com roupa de criança.

Foi mesmo uma surpresa, ela combinou com Tia Sílvia e Lívia de que as encontraríamos no shopping para jantar em um restaurante novo, usava um, sobretudo que impedia que eu visse sua roupa, quando passamos em frente ao Play, pegou minha mão e disse:

- Minha linda, lembra do nosso primeiro encontro?

- Claro, meu bem, você me enganou direitinho...

- A propósito você ainda me deve a aposta lembra?

- Ai, não vai querer cobrar agora né? Estamos atrasadas...

- Quer revanche? Vem... – entrou me puxando pela mão, no local completamente escuro.

- Meu bem, estamos atrasadas, e acho que tá fechado ho...

As luzes se acenderam, e lá estavam todos, trajados a caráter. Olhei para Camila ainda sob efeito do susto, ela abriu seu sobretudo, exibindo um vestido curto de bolinhas, muito fofo e engraçado, na mão um pirulito redondo, colorido, enorme. O mais engraçado era Bernardo com roupas de Quico, personagem do Chaves. O Vô Elias de macacão vermelho e boné na mesma cor, Tia Silvia entrou junto com Lívia empurrando um bolo colorido, cheio de velas e todos cantavam parabéns a você. Primeiro sorri que nem uma boba olhando para todos com aqueles trajes, mas depois minhas lágrimas se misturaram ao meu sorriso emocionado, foi quando senti as mãos de Camila envolvendo minha cintura e dizendo baixinho ao meu ouvido:

- Feliz aniversário minha criança linda... O primeiro de muitos que quero passar com você.

Apaguei as velas do bolo, abracei Camila longamente, agradecendo aquela surpresa, depois recebi os abraços de todos. Camila entregou uma sacola com minha fantasia.

Camila providenciou tudo que uma festa infantil serve: muito brigadeiro, salgadinhos, além dos apetrechos tradicionais língua de sogra, chapeuzinhos... Bernardo e Márcia, a mãe de Camila, eram os mais animados, faziam qualquer um cair na risada com as performances deles na máquina que ditava movimentos de dança.

Naquela noite, todos entraram na brincadeira, além dos jogos eletrônicos, um videokê compunha a festa. Não saí perto de Camila por um instante, entramos no personagem, e nos esbaldamos. No final da festa, mais uma vez ela me surpreendeu, pegando o microfone, escolheu uma canção no videokê e me chamou:

- Isa, minha linda aniversariante, essa é pra você.

“E no meio de tanta gente eu encontrei você, entre tanta gente chata sem nenhuma graça, você veio, e eu que pensava que não ia me apaixonar, nunca mais, na vida. Eu podia ficar feio só perdido, mas com você eu fico muito mais bonito, mais desperto, e podia estar dando tudo errado pra mim, mas com você, dá certo...”.
A canção de Marisa Monte nunca me foi tão graciosa, Camila além de escolher uma música perfeita, tinha uma voz maravilhosa, eu fiquei ainda mais encantada como se pudesse caber mais encantamento por ela nos meus olhos. Tia Sílvia e minha irmã ficaram fascinadas por Camila, assim como pela família dela, Vô Elias era todo elogios a Lívia, que segundo ele, era a representação de minha mãe quando ele a conheceu como aluna.

A decisão que tomei em me entregar ao relacionamento com Camila, esquecendo Suzana, evidenciava-se como a mais acertada. Eventualmente continuava lembrando-me de Suzana, Lourdes me ligou no meu aniversário, comentou que Bárbara não saía mais de casa com freqüência, Suzana contratara dois técnicos de enfermagem para ajudar nos cuidados, estava sempre abatida.

Confesso que senti um aperto no peito imaginando o sofrimento de Suzana, mas ao mesmo tempo me convencia que eu não seria capaz de suportar o que ela propusera algumas vezes me senti egoísta, questionei meu amor por ela. Outras vezes, me limitava a sentir saudades de alguns gestos dela e me interrogar como ela podia manifestar tantas personalidades diferentes.

Camila não se cansava em se desdobrar em delicadezas, durante o dia quando não podíamos estar juntas por causa de obrigações profissionais distintas, ela deixava bilhetes carinhosos no meu jaleco, pedia a Elisa para me mandar lanches, quando eu não podia acompanhá-la em viagens, na volta me cobria de presentes, zelava por minha saúde, por minha carreira, sempre me apresentando a pessoas influentes no meio científico e médico.

Eu tentava retribuir os gestos dela, deixava na sua mesa do consultório um doce, uma rosa, bilhetes no pára-brisa do carro dela no estacionamento do hospital e nunca, deixei de buscá-la no aeroporto nas voltas de suas viagens, sempre com um de chocolate, não conseguia acertar o predileto dela, então estava sempre arriscando novas combinações, ela se divertia com minha obstinação nessa busca.

Saíamos sempre para jantar, para o cinema, mas nunca para ambientes GLS, mas eu não sentia falta, Camila sempre me dizia que não suportaria um monte de mulheres me assediando, mas eu sabia que o assédio maior seria para ela, e sendo assim, preferia mesmo não ir a esses lugares.

Mas chegou o dia que tivemos que enfrentar uma noite em uma boate GLS da cidade, era despedida de solteira de uma amiga de Camila, e por mais que ela tenha se esforçado para fugir da ocasião, sua amiga Natália não deixou alternativa, uma vez que a declarara madrinha do casamento. Sábado à noite, devidamente arrumadas, seguimos para a tal boate “Delas”.