domingo, 20 de março de 2011

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 20

CAPÍTULO 20: ESQUECENDO SUZANA


No fundo, Camila tinha razão, eu tinha que conversar com Suzana e por um ponto final naquela confusão que foi o fim de nosso noivado.

Por mais doloroso que tenha sido o reencontro, e toda a conversa, eu me convenci que Suzana não era a mesma pessoa pela qual me apaixonei. De certa forma, entendi o que ela se propôs a fazer por Bárbara.

O que eu não podia aceitar eram as condições que ela desenhou para que nossa história tivesse uma continuação. Nenhum relacionamento nesse contexto poderia ser saudável, o beijo que trocamos acendeu muita coisa além de desejo. Saudade de nossa convivência, de nossos planos... Mas nosso sentimento não resistiria ao peso de enganar e trair alguém no leito de morte.

Eu vi diante de mim duas opções: render-me ao sentimento ainda vivo por Suzana aceitando a condição de dividi-la secretamente com a mulher que ela amou e que me traíra, e pior: velando sua morte para concretizar nossos planos. Ou investir em um relacionamento cheio de expectativas, baseado em compreensão e amizade com uma mulher que me inspirava, me fazia bem.

Vesti uma camisola, me perfumei, esperando Camila, a mulher que escolhi para esquecer Suzana. Eu estava pronta para virar essa página da minha vida, e decidida a fazer Camila tão feliz como ela me fazia.

Em pouco mais de duas horas como prometera, Camila estava de volta, pulei em seu pescoço assim que a vi adentrando a porta, lhe cobrindo de beijos pela face, boca, queixo.

- Opa... Ow... Linda, calma... Pra que tanta pressa?

Apressava-me em jogar sua bolsa pelo chão, desabotoar seu terno e a arrastar para cama.

- Isa, meu bem, não é que eu... Não esteja gostando dessa sua disposição... Mas... Minha linda, eu sinto que aconteceu algo... Isa... – interrompia meus beijos para falar tentando se desvencilhar de mim.

- Ai Camila... Como que você já me conhece tão bem assim? – afastei-me, levantando da cama.

- Isa... Vem cá vem, senta aqui, e começa a me falar – fez sinal para que eu sentasse no colo dela.

- Camila, antes de qualquer coisa, eu preciso te dizer que não vou esconder nada, porque quero que não existam segredos entre nós, porque quero que nossa relação dê certo e...

- Isa, calma, respira, me fala devagar.

- Ok. Suzana esteve aqui, conversamos, nos beijamos, mas foi só isso, está tudo resolvido, nossa história acabou.

Camila respirou fundo, e me pediu detalhes. Narrei toda nossa conversa. Ao final, esperava qualquer coisa de Camila, exceto o que ouvi:

- Isabela, você quer dar um passeio pelo jardim do hotel? Notei que a lua está linda...

Sorri pra ela e beijei-a completamente encantada. Recusei a oferta, uma vez que já estava de camisola:

- Você acha que podemos ver essa lua daqui da varanda mesmo?

- Acho que sim.

Na varanda, duas cadeiras alcochoadas estavam dispostas, Camila sentou-se e me puxou para seu colo. Ficamos ali trocando beijos, afagos, sorrisos por quase uma hora, nem me lembro que lua tinha no céu, estava mais interessada nos olhos verdes de Camila, que me contemplavam como se eu fosse uma pintura rara.

Naquela noite nos amamos. Sim, nos amamos, não era simplesmente corpos se entregando ao desejo, eu abri minha alma à Camila, experimentava mais uma vez uma sensação de liberdade, de entrega, estava livre para começar uma nova história, deixando Suzana no meu passado.

Em nosso último dia em Brasília, recebemos boas respostas acerca do incentivo ao financiamento da pesquisa e ainda a perspectiva da agência internacional nos subsidiar também.

Voltamos à noite para Campinas, Camila finalmente conheceu meu apartamento, convidei-a para dormir comigo, já que era mais próximo do hospital. Acordar com Camila era uma sensação indescritível de “estar em casa”, eu adorava vê-la dormir e despertá-la com um beijo. Começando nossas manhãs com carícias que acabavam nos atrasando para o trabalho.

Os dias que se seguiram, consolidaram minha relação com Camila, passávamos o dia inteiro juntas e não precisávamos esconder nada. Nossa pesquisa decorria com sucesso, acompanhávamos oito pacientes, a primeira etapa do projeto estava praticamente concluída.

Quase todos os finais de semana, visitava com Camila o vô Elias, na casa da família dela. Todos sabiam a nosso respeito, e eu era tratada como membro da família, isso me dava um conforto inimaginável.

Quanto a Suzana, cada vez menos pensava nela, lembrar dela quando ouvia Ana Carolina era inevitável, mas a presença de Camila me preenchia, assim, estava convicta que estava esquecendo meu primeiro amor.

Assistindo o noticiário de esportes, fiquei sabendo da convocação de Laila para a seleção feminina de vôlei, no mesmo dia, recebi uma ligação dela, pedindo que fosse despedir-me dela em São Paulo, antes que embarcasse para Tóquio. Desculpou-se por não ter ligado antes, e eu recusei o convite, explicando-lhe minha condição atual com Camila.

Era outubro eu e Camila completávamos três meses juntas, era também mês do meu aniversário, Tia Sílvia e Lívia vieram passá-lo comigo. Camila preparou-me uma surpresa: auxiliada por Bernardo, alugou o espaço de jogos do shopping, o mesmo que nos desafiamos na primeira vez que saímos, convidou a equipe que trabalhava conosco, Olivia veio de São Paulo, os pais, irmãs e sobrinhos de Camila, assim como o Vô Elias, também estavam lá, todos devidamente fantasiados com roupa de criança.

Foi mesmo uma surpresa, ela combinou com Tia Sílvia e Lívia de que as encontraríamos no shopping para jantar em um restaurante novo, usava um, sobretudo que impedia que eu visse sua roupa, quando passamos em frente ao Play, pegou minha mão e disse:

- Minha linda, lembra do nosso primeiro encontro?

- Claro, meu bem, você me enganou direitinho...

- A propósito você ainda me deve a aposta lembra?

- Ai, não vai querer cobrar agora né? Estamos atrasadas...

- Quer revanche? Vem... – entrou me puxando pela mão, no local completamente escuro.

- Meu bem, estamos atrasadas, e acho que tá fechado ho...

As luzes se acenderam, e lá estavam todos, trajados a caráter. Olhei para Camila ainda sob efeito do susto, ela abriu seu sobretudo, exibindo um vestido curto de bolinhas, muito fofo e engraçado, na mão um pirulito redondo, colorido, enorme. O mais engraçado era Bernardo com roupas de Quico, personagem do Chaves. O Vô Elias de macacão vermelho e boné na mesma cor, Tia Silvia entrou junto com Lívia empurrando um bolo colorido, cheio de velas e todos cantavam parabéns a você. Primeiro sorri que nem uma boba olhando para todos com aqueles trajes, mas depois minhas lágrimas se misturaram ao meu sorriso emocionado, foi quando senti as mãos de Camila envolvendo minha cintura e dizendo baixinho ao meu ouvido:

- Feliz aniversário minha criança linda... O primeiro de muitos que quero passar com você.

Apaguei as velas do bolo, abracei Camila longamente, agradecendo aquela surpresa, depois recebi os abraços de todos. Camila entregou uma sacola com minha fantasia.

Camila providenciou tudo que uma festa infantil serve: muito brigadeiro, salgadinhos, além dos apetrechos tradicionais língua de sogra, chapeuzinhos... Bernardo e Márcia, a mãe de Camila, eram os mais animados, faziam qualquer um cair na risada com as performances deles na máquina que ditava movimentos de dança.

Naquela noite, todos entraram na brincadeira, além dos jogos eletrônicos, um videokê compunha a festa. Não saí perto de Camila por um instante, entramos no personagem, e nos esbaldamos. No final da festa, mais uma vez ela me surpreendeu, pegando o microfone, escolheu uma canção no videokê e me chamou:

- Isa, minha linda aniversariante, essa é pra você.

“E no meio de tanta gente eu encontrei você, entre tanta gente chata sem nenhuma graça, você veio, e eu que pensava que não ia me apaixonar, nunca mais, na vida. Eu podia ficar feio só perdido, mas com você eu fico muito mais bonito, mais desperto, e podia estar dando tudo errado pra mim, mas com você, dá certo...”.
A canção de Marisa Monte nunca me foi tão graciosa, Camila além de escolher uma música perfeita, tinha uma voz maravilhosa, eu fiquei ainda mais encantada como se pudesse caber mais encantamento por ela nos meus olhos. Tia Sílvia e minha irmã ficaram fascinadas por Camila, assim como pela família dela, Vô Elias era todo elogios a Lívia, que segundo ele, era a representação de minha mãe quando ele a conheceu como aluna.

A decisão que tomei em me entregar ao relacionamento com Camila, esquecendo Suzana, evidenciava-se como a mais acertada. Eventualmente continuava lembrando-me de Suzana, Lourdes me ligou no meu aniversário, comentou que Bárbara não saía mais de casa com freqüência, Suzana contratara dois técnicos de enfermagem para ajudar nos cuidados, estava sempre abatida.

Confesso que senti um aperto no peito imaginando o sofrimento de Suzana, mas ao mesmo tempo me convencia que eu não seria capaz de suportar o que ela propusera algumas vezes me senti egoísta, questionei meu amor por ela. Outras vezes, me limitava a sentir saudades de alguns gestos dela e me interrogar como ela podia manifestar tantas personalidades diferentes.

Camila não se cansava em se desdobrar em delicadezas, durante o dia quando não podíamos estar juntas por causa de obrigações profissionais distintas, ela deixava bilhetes carinhosos no meu jaleco, pedia a Elisa para me mandar lanches, quando eu não podia acompanhá-la em viagens, na volta me cobria de presentes, zelava por minha saúde, por minha carreira, sempre me apresentando a pessoas influentes no meio científico e médico.

Eu tentava retribuir os gestos dela, deixava na sua mesa do consultório um doce, uma rosa, bilhetes no pára-brisa do carro dela no estacionamento do hospital e nunca, deixei de buscá-la no aeroporto nas voltas de suas viagens, sempre com um de chocolate, não conseguia acertar o predileto dela, então estava sempre arriscando novas combinações, ela se divertia com minha obstinação nessa busca.

Saíamos sempre para jantar, para o cinema, mas nunca para ambientes GLS, mas eu não sentia falta, Camila sempre me dizia que não suportaria um monte de mulheres me assediando, mas eu sabia que o assédio maior seria para ela, e sendo assim, preferia mesmo não ir a esses lugares.

Mas chegou o dia que tivemos que enfrentar uma noite em uma boate GLS da cidade, era despedida de solteira de uma amiga de Camila, e por mais que ela tenha se esforçado para fugir da ocasião, sua amiga Natália não deixou alternativa, uma vez que a declarara madrinha do casamento. Sábado à noite, devidamente arrumadas, seguimos para a tal boate “Delas”.

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