quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Atualizando de novo

Meninas estou com problemas para atualizar a página da primeira fase de Leis do Destino.
Quem está acompanhando por aqui, informo que até conseguir resolver esse problema com o bloger vou postando por aqui os novos capítulos ok?

Ah!A pedidos, especialmente da Nanda, em homenagem ao último dia do ano, no sábado, dia 31 postarei novo capítulo da segunda fase de Leis do Destino.

Peço desculpas ás minhas queridas e leais leitoras por não conseguir responder os comentários de vocês. Estou aproveitando o tempo livre para adiantar os capítulos, e está sendo bem proveitoso viu?

Parabéns a Isley pela entrada na faculdade de medicina!

Abraço especial para : Rosi, Valdeneide, Ci, Nanda, Bette, Suh, Hagata, Ingryd e todas que vem comentando sempre, e claro a galera da moita que não comenta nem no anonimato, que triste...rs, vou mandar podar essa moita em 2012!

Beijos e até sábado!

LEIS DO DESTINO: 1ª FASE

 CAPÍTULO 30:Animus laedendi
*Intenção de ferir, propósito de ferir, de atingir alguém.
BY TÊMIS


                O retorno à faculdade depois do carnaval foi marcado pela reunião dos alunos do primeiro período que precisavam organizar o trabalho de IED, o júri simulado, no qual, os principais personagens foram nomeados pela própria Dorothea.

                Como continuavam a esconder a relação, Diana e Natália chegaram separadas à sala, onde a maioria da equipe já estava reunida trocando novidades sobre o feriado.

-- Então, estamos todos aqui já? Vamos começar? – Natália convocou.

-- Pensei em usar um caso conhecido, o que vocês acham? – Sheila sugeriu.

-- É você minha advogada? – Diana perguntou interessada.

-- Sim. – A menina respondeu sorrindo.

-- Então trate de escolher um caso onde a ré seja absorvida... – Diana brincou.

-- Você está nas melhores mãos Diana, não se preocupe.

                O tom de flerte de Sheila despertou em Natalia a face insensata do ciúme, sua expressão mudou instantaneamente, fechou seu caderno com violência, descontando nele a raiva que sentia. Acabou por chamar atenção de todos com o gesto brusco.

-- Então Sheila, qual o caso que você tem em mente? Apesar de não concordar com a ideia, quero ouvir sua sugestão.
- Se você não concorda com a minha ideia por que não me diz outra melhor? – Sheila foi ríspida.

-- A melhor ideia é construirmos nosso caso, pegar um caso já julgado nos faz apenas encenar uma peça de teatro, e não estamos fazendo faculdade de artes cênicas.

-- Você quer isso por não querer perder o caso pra mim não é? – Sheila insistiu na rispidez.

-- Perder pra você? Sheila se enxerga! Pegar um caso pronto não tem sentido, assim como colocaremos em prática o que aprendemos? Só decoraremos falas! O sentido do trabalho é que estudemos, nos aprofundemos...

-- Garota você está louca? Estamos no primeiro período, no segundo mês de curso, o que aprendemos não serve nem pra entendermos a lei Áurea, que dirá falas de um inquérito de assassinato.

-- Meninas! Ei guardem toda essa energia para o tribunal! – Diana interveio. – Acho que faz sentido o que a caipira disse, mas não temos tempo para elaborar, precisamos apresentar na terça, e Dorothea será a juíza, estou condenada de todo jeito!

                Todos riram concordando com Diana.

-- Precisamos distribuir os papéis de testemunhas e do júri. – Sheila disse.

-- Ótimo! Mas, que caso é esse que vamos encenar? – Natalia perguntou irritada.

-- O mais discutido na mídia atualmente, o caso Richthofen. Vamos antecipar o julgamento de Suzane.

-- Ei! Como espera me livrar de ter matado meus próprios pais? – Diana disse em tom jocoso. – Com um caso desses, Dorothea me manda pra cadeira elétrica, mesmo não existindo no Brasil, ela cria!

                Mais uma vez, os colegas riram da loirinha.

-- Não se preocupe Diana, tenho minha estratégia de defesa montada, nem Dorothea condenará a inocente manipulada pelos irmãos Cravino, que você representará. Com esse seu rostinho angelical, não será tão difícil assim convencer o júri.

                Sheila piscou o olho para Diana que retribuiu com um sorriso enfurecendo Natalia.

-- Já que está tudo acertado, a reunião está encerrada não é?

                Natalia perguntou recolhendo seu material, enquanto os demais se distribuíam nas funções de testemunhas de defesa e de acusação, ficando a cargo do resto da sala a tarefa de júri. Saiu da sala encarando Diana faiscando ciúme dos sorrisos dela com Sheila.

-- Diana, você pode ficar mais um pouco? Pra combinarmos detalhes da defesa... – Sheila segurou o ombro de Diana que caminhava atrás de Natalia.

-- Eu... É que... – Diana gaguejou.


-- Se você preferir podemos marcar para mais tarde, na minha casa ou na sua se você tiver compromisso agora...

                Diana ficou nervosa, bom a batida na porta violenta que Natalia deu. Fechou os olhos fazendo careta, realizando mentalmente a crise de ciúme que ia enfrentar quando encontrasse a namorada.

-- Sheila, eu só preciso dar uns telefonemas, e conversamos tudo bem?

                Sheila acenou em acordo. Diana saiu apressada à procura de Natalia, a fim de evitar uma crise maior. Natalia descia a rampa disparada, trincando os dentes com o eco dos diálogos de Sheila e Diana em sua mente.

-- Natalia espera!

                Diana a alcançou e pediu.

-- Pára, por favor! Preciso berrar pra fazer você parar?

-- O que é Diana? Por que você não está lá com a oferecida da Sheila? Ou por acaso marcaram em um lugar mais íntimo?

-- Dá pra você se controlar?

                Diana arregalou os olhos repreendendo a namorada pelo escândalo.

-- Que se dane!

                Natalia bradou. Diana segurou-lhe pelo braço e a arrastou para trás de uma escultura no campus.

-- O que deu em você? Quer que todos percebam o que há entre nós?

-- Isso seria ruim pra você né?  Afinal não ia poder paquerar outras na minha frente!

-- Você está louca! Nat quem que eu paquerei? A Sheila é minha colega assim como sua também, estávamos fazendo um trabalho, ela só estava sendo gentil, raridade naquela sala.

-- Ah claro! Sendo gentil?! Ela estava praticamente tirando a roupa pra você comê-la ali mesmo!

-- Deixa de exagero Nat, ta bom, ela estava mesmo me dando mole, mas, você queria que eu reagisse como?  Eu tenho uma reputação a zelar... Dispensar uma gatinha como ela assim de cara não pegaria bem...

                Diana fez cara de safada, tentando quebrar a tensão do momento.

-- Então vá lá salvar sua reputação!

                Natalia disse furiosa, os olhos verdes da morena cintilavam raiva. Diana segurou forte a namorada, a empurrou contra a escultura, olhou para os lados se certificando que não havia ninguém por perto, e tascou o beijo pacificador em Natalia.

-- Deixa de ser boba... Sou só sua.

                O beijo deixou Natalia com as pernas bambas. Não só pelo medo de serem vistas, mas, principalmente pelo desejo que ele acendeu. O sorriso travesso e charmoso de Diana jogou por terra a postura de luta de Natalia, só se rendeu retribuindo o sorriso.

-- Vejo você mais tarde.

                Diana saiu caminhando faceira, convicta que encerrara a questão, e que logo mais se aproveitaria do ciúme da namorada para apimentar as carícias.  Natalia por sua vez, pensava: “estou ferrada, ela me domina”. Ainda com o gosto do beijo em seus lábios, Natalia caminhou para o ponto de ônibus, sem esconder o sorriso resultante de sua paixão por Diana, quando fora abordada mais uma vez de surpresa por Sandro.

-- Olha só quem eu reencontro finalmente! E dessa vez, sem nenhum mané pra atrapalhar!

                Natalia fez menção de correr, mas foi impedida por Sandro que a segurou pela cintura, colou sua boca no pescoço da moça que a essa altura estava apavorada.

-- Agora você não me escapa gatinha...

                Natalia esperneou tentando se desvencilhar dos braços de Sandro, mas, não teve sucesso. Reuniu suas forças e pisou no pé do rapaz que a largou imediatamente, enquanto a moça corria de volta para universidade. Sandro seguiu como se a farejasse e conseguiu alcançá-la antes que Natalia entrasse em um dos prédios, sem defesas foi arrastada pelo rapaz até o estacionamento, a relutância da garota não teve testemunhas, a faculdade estava com pouco movimento, após o feriado poucos cursos tinham aula e àquela hora a movimentação sempre era menor. Quando finalmente viu um grupo de estudantes se aproximando, Natalia pediu socorro, o que provocou ainda mais a ira de Sandro que a segurou pelos cabelos, e calou sua boca com as mãos.

                As meninas se apressaram para chamar os seguranças do campus ao ver a cena, mas isso deu tempo suficiente para Sandro encontrar seu carro, jogar Natalia dentro dele e arrancar em alta velocidade dali.

                Antes de sair do estacionamento, os seguranças avistaram o carro anotaram a placa e acionaram a polícia. Mas, Natalia não esperou o socorro aparecer, numa atitude desesperada, abriu a porta do carro quando Sandro diminuiu a velocidade para fazer uma curva e saltou.

                Rolou pelo asfalto até o meio fio, do chão viu uma viatura da polícia parar, tonta e sentindo as dores no corpo, sentiu a luz sumir dos seus olhos, desmaiou. Foi levada de ambulância para o hospital mais próximo.

                A notícia se espalhou pela universidade, as meninas que testemunharam a violência relataram aos policiais o ocorrido, assim como os seguranças do campus. Sandro não escaparia do processo, apesar de ter conseguido fugir da polícia naquele dia.
**********

                Sheila se insinuava descaradamente para Diana, especialmente depois que ficaram sozinhas na sala, e esta se esquivava como podia, desviando o assunto todo tempo para o trabalho de IED.

-- Não estou te entendendo Diana. – Sheila falou intrigada.

-- O que você não está entendendo Sheila?

-- Seu comportamento! Até parece que você não...

-- Eu não... – Diana calou para que Sheila completasse.

-- Que você não gosta de mulher! Não é possível que eu tenha me enganado!

                Diana ficou constrangida, em sua mente tentava formular um argumento que justificasse sua passividade às investidas da colega sem ser desagradável, dada a gentileza de Sheila ficar do seu lado no trabalho da professora que publicamente lhe manifestava desafeto.

-- Sheila me desculpe, sou meio desatenta com essas coisas, acredite! Você é linda, não tem nada com você, e não, não se enganou, mas, estou comprometida, desculpa.

-- Bom... Então nem tudo está perdido.

                Sheila disse misteriosa.

-- Agora fui eu que não entendi.

-- Você disse que está comprometida, não disse que é comprometida... Uma hora esse estado muda.

                Sheila deixou a sala depois de dar um beijo malicioso na bochecha de Diana. A loirinha caminhou até o estacionamento mais atordoada com a observação de Sheila do que com seu gesto ousado. Refletia sua própria capacidade de comprometer-se com alguém, e temeu pela primeira vez na vida, machucar alguém com sua imaturidade emocional para relacionamentos. Queria com Natalia um compromisso, não podia fazê-la sofrer, precisava cuidar dela e do sentimento que crescia entre elas como algo prioritário, sagrado.

                Tudo que desejou foi correr para os braços da namorada, relembrando sua crise de ciúmes. Ligou para Natalia e estranhou a mensagem de celular desligado. No estacionamento, percebeu a movimentação atípica de policiais, seguranças e estudantes.

-- Aconteceu alguma coisa aqui? Assalto? – Diana perguntou a um dos estudantes que caminhava próximo ao seu carro.

-- Um cara que estava agredindo a namorada aqui, a menina pediu ajuda, enquanto os seguranças chegavam parece que ele a jogou no carro, e ela pra fugir dele pulou com o carro em movimento, algo assim.

-- Que covarde! Prenderam o cara?

-- Ele conseguiu escapar enquanto a policia socorria a moça que estava inconsciente. Agora estão tentando descobrir quem é o cara, estão colhendo depoimento de quem viu tudo.

-- A menina está muito mal?

-- Isso eu não sei.

                Tocada com a história, Diana entrou no seu carro, antes de dar partida ouviu o celular tocar, na esperança que fosse Natalia, atendeu apressada.

-- Oi Luc! Já chegaram à Sampa?

-- Chegamos hoje de manhã. Escuta Di, estou precisando da sua ajuda, mais especificamente, da ajuda do seu pai, ou pelo menos do nome dele...

-- Lucas você sabe que odeio pedir ajuda pra meu pai, menos ainda usar o nome dele...

-- Diana você prometeu me ajudar com o lance daquele playboy perseguindo a Natalia! Por favor, não vacila agora!

                Ao ouvir o nome da namorada, Diana sentiu um frio na espinha e com  a fala apreensiva perguntou:

-- O que tem aquela história com isso?

-- Diana meu plano era outro, mas diante do que aconteceu...

-- O que aconteceu?

-- O Sandro atacou a Natalia no campus, ela ficou apavorada e saltou do carro dele em movimento, está muito machucada e inconsciente no hospital e o filho da mãe escapou do flagrante!

                Diana sentiu suas forças sumirem, por pouco não soltou o telefone. Trêmula, pálida foi tomada por um medo indescritível de perda.

-- Diana? Di você está aí?

-- Oi Lucas...

-- Vai me ajudar? Você ainda está em Salvador não é? Só preciso de uma ligação do seu pai pra esse delegado resolver agir! Já dei o nome do Sandro aqui, levantei a ficha dele, mas o delegado é um burocrata de merda, falando de instauração de inquérito ainda...

-- Não... Eu já estou em São Paulo... Onde você está?

-- Na 21ª DP.

-- E ela? Como ela está?

-- Não sei dizer, o Pedro foi para o hospital ficar com ela, no caderno dela tinha o número do telefone da república, só por isso ficamos sabendo. Diana vai ajudar?

-- Vou ligar para meu pai.

                Completamente perdida, Diana não sabia como agir. Há muito tempo não pedia nada a seu pai, apesar de na prática ser sustentada por ele. Mas, por Natalia faria qualquer coisa, sem pestanejar ligou para seu pai.

-- Alô pai?

-- Ora ora, se não é minha caçula me ligando? O que aconteceu? Torrou o dinheiro todo no carnaval e não tem como voltar pra casa?

-- Não pai, não é isso, já estou em São Paulo, estou precisando da ajuda do senhor.

-- Diana? Dizendo que precisa de ajuda? E da minha? Não esperava ouvir isso tão cedo.

-- Pai, não é pra mim, é para uma amiga. Em resumo, ela estava sendo perseguida por um cara daqui da faculdade, e hoje pela manhã ele a atacou, ela saltou do carro dele em movimento, está inconsciente, ele fugiu do flagrante, mas sabemos quem ele é, temos testemunhas, mas o delegado está fazendo corpo mole.

-- E você quer que eu dê um jeito nesse filho da mãe?

-- Pai não é isso que o senhor está pensando! Quero que ele pague na justiça o que fez, só preciso que o senhor dê uma forcinha pra esse delegado agir logo!

-- Você e essa tal de justiça! Um sujeito desses merece é ser castrado como meus bois!

-- Pai, por favor.

-- Vou atender seu pedido, me dê o nome desse delegado e o do distrito dele.

-- Vou dar o telefone do Lucas, ele está na delegacia, e coloca o senhor a par de todos os dados.

-- Quem diria que você me faria um pedido desses...

-- Pai se não fosse tão importante não apelaria pro seu poder assim.

-- Você desmerece meu poder, mas não tem noção do quão útil será pra sua vida ser minha filha.

-- Não preciso dessa utilidade pai. De qualquer forma, obrigada dessa vez.

                Só Diana sabia o custo emocional que aquele pedido teve para ela, entretanto, isso era o que menos lhe afligia naquele momento. Ligou para Lucas imediatamente.

-- Dei seu telefone ao meu pai, ele vai lhe ligar para pegar informações, a partir daí, deixe que ele resolve. Em qual hospital a Natalia está?

-- No Hospital Universitário. Obrigada Diana, sei que não é fácil pra você...

-- Lucas, mantenha seu celular desocupado, até mais.

                Diana desligou apressada, e arrancou com o carro para o Hospital, nada a impediria de ficar ao lado de Natalia naquele momento.
********

                Pedro andava pelo corredor do hospital nervoso. Um misto de revolta e impotência aumentava a angústia que experimentava por nada poder fazer para ajudar Natalia. Não tinha nenhum contato da família dela, e se algo mais grave acontecesse? A falta de notícias parecia duplicar os segundos, transformando a espera em uma tortura silenciosa.

                Diana chegou afobada, não escondendo a aflição:

-- Como ela está Pedro?

-- Diana?! Mas, o que você está fazendo aqui?

-- Visita de caridade! Responde Pedro!

-- Calma Diana... Não tive notícias dela, subiram com ela para fazer exames, ainda não me disseram nada.

-- E você fica aí parado? Não faz nada? Não foi atrás de notícias?

                O tom revoltado de Diana obviamente espantou Pedro.

-- Diana o que está acontecendo? Você não suporta a Natalia, porque essa preocupação toda com ela?

                A pergunta de Pedro trouxe à Diana a realidade da relação clandestina com Natalia.

-- Preocupação com vocês! Você e o Lucas que estão aí sofrendo por causa da caipira.

-- Não... Você está me escondendo algo...

                Pedro conhecia muito bem Diana, dificilmente a amiga conseguia enganá-lo. Diana fugiu do olhar dele, nesse momento, um jovem médico surgiu:

-- Vocês são os amigos de Natália Ferronato?

-- Sim doutor, somos. – Pedro se apressou em responder.

-- Felizmente está tudo bem com ela. Alguns hematomas, escoriações, um corte mais profundo na região frontal além do abalo psicológico claro, mas, não houve fratura, nem traumatismo craniano, essa era nossa maior preocupação, mas, a ressonância nos tranquilizou.

-- Nós podemos vê-la? – Pedro perguntou ansioso.

-- Ela está com a psicóloga agora, está muito abalada, assim que puder receber visitas, peço para a enfermeira procurar vocês.

-- Obrigado doutor. – Pedro agradeceu seriamente.

                Diana respirou aliviada, sentindo um peso sair do seu coração, agora lhe restara o desafio de convencer Pedro sobre os motivos de sua presença ali. Ponderou acerca das consequências de revelar o seu namoro com Natalia naquelas circunstâncias, mas, se vendo sem saída, uma vez que não estava disposta a sair do lado da namorada, julgou o mais apropriado contar a verdade.

-- Pedro, sobre eu estar aqui, a verdade é que...

                Antes de concluir a frase, Diana olhou para o amigo que escorregava o próprio corpo na parede, deixando as lágrimas cobrirem seu rosto.

-- Pedro?

                O rapaz se entregou a um pranto incontrolável, Diana simplesmente o acolheu em seu peito consolando-o.

-- Está tudo bem agora Pepê... Ela está bem.

-- Não sei o que faria se algo acontecesse a ela... Ela nem ao menos sabe, o quanto a amo...

                Diana ouvia da boca de Pedro, aquilo que ela mesma repetia interiormente. A coragem de revelar a verdade se desfez, assim como a fortaleza do amigo. Escondeu as lágrimas, mas chorou junto com ele, angústias diferentes com um motivo comum. Depois de minutos, Pedro se recompôs e indagou:

-- Você ia dizer algo, antes de minha crise de bebê chorão... Você está de verdade por quê?

-- Por culpa. Tudo isso começou por causa da minha brincadeira no trote, se não fosse por isso, Sandro não teria feito as fotos dela...

-- Ei! Nem conclua esse pensamento! Aquele cara é um doente e criminoso! O que você fez foi uma brincadeira de mau gosto, mas, sei que não tinha intenção de causar mal a Natalia, você é incapaz de machucar alguém Di... Tem um coração enorme, tanto que pediu ajuda ao seu pai pra prender o Sandro.

-- Quem te disse?

-- O Lucas me ligou antes de você chegar. Por falar nele, vou ligar pra contar as novidades sobre o estado de Natalia.

                Diana caminhou pelo andar, enquanto Pedro se afastava para ligar para o irmão. Sentia uma enorme culpa por esconder dos amigos seu namoro, mas, não tinha coragem de magoá-los com a verdade.

CAPÍTULO 31 A fortiori ratione
* Por causa de uma razão mais forte

                Natália não sabia ao certo o que lhe doía mais, se o seu corpo, marcado pelo seu ato corajoso de autodefesa, ou as lembranças que insistiam em ecoar, trazendo de maneira vívida e incômoda a voz e as mãos agressivas de Sandro sobre ela. Sentia asco ao relembrar seu hálito, seu cheiro, o tom da sua voz, a repulsa era tanta que seu corpo rejeitava a lembrança, o reflexo era a ânsia de vômito que lhe sufocava.

                Sentimentos angustiantes mesclados às dores da alma e do corpo tomavam Natalia quando ela retomou a consciência e tudo que desejou era ter Diana ao seu lado. Por mais que se sentisse sozinha e desprotegida, não foi a segurança de seus pais, de sua família que a jovem desejou, era a presença de sua namorada sua maior necessidade.

                Não demorou a concluir que estava em um hospital. Ao abrir os olhos na esperança de encontrar Diana ao seu lado, identificou um rosto desconhecido, mas de expressão complacente:

-- Olá Natália, como se sente?

-- Bem... Bem mal...

-- Pelo menos, seu humor está preservado... Bem, deixe-me apresentar, sou Rosana Barros, psicóloga do hospital, estou aqui para conversar um pouco com você, claro se você quiser.

                Natalia não esboçou reação, acenando que não estava disposta a conversar sobre o que lhe acontecera.

-- Há quanto tempo estou aqui? – Perguntou.

-- Há algumas horas. Você passou por alguns exames, felizmente, nada de mais grave aconteceu, apenas alguns ferimentos leves.

-- Onde estão minhas coisas? Preciso do meu celular.

-- Suas coisas estão aqui, mas seu celular sinto muito, na queda, ele se espatifou, deve ter caído da mochila...

-- Mas, eu preciso ligar para alguém... - Natalia se angustiou, imaginando que Diana sequer sabia o que se passara.

-- Calma Natalia, seus amigos já estão sabendo onde você está, certamente avisarão aos seus pais.

-- Amigos? Que amigos?

-- Um rapaz e uma moça estão lá fora, esperando para te ver, logo você poderá recebê-los.

-- Quero vê-los então.

-- Antes disso, você não gostaria de me falar algo? Você passou por uma situação de estresse, um trauma, às vezes ajuda desabafar um pouco...

-- Não quero nunca mais falar nisso... Só quero esquecer!

-- Natalia é normal sentir isso, mas, acredite, você vai precisar falar sobre o que aconteceu, até mesmo com a polícia.

                Natalia permaneceu calada, deixando as lágrimas escorrerem pelo seu rosto, revivendo a angústia daquelas lembranças recentes.

-- Vou chamar seus amigos, volto mais tarde, você vai ficar essa noite aqui em observação, se estiver disposta, estarei aqui para te ajudar.
******

                Pedro encontrou Diana com os olhos fixos no vazio, diante de uma janela de vidro com vista para os fundos do hospital.

-- Di?

-- Oi. – Diana respondeu ainda distraída.

-- Acabei de falar com o Lucas, seu pai foi rápido, já estão a caminho da casa do Sandro, para o azar dele, e nossa sorte, o cara já é fichado, não vai escapar de pelo menos passar essa noite na prisão.

-- Pelo menos isso... Mas, temos que conseguir mais, ordem de restrição para que ele nem se aproxime da Natalia, expulsão da faculdade, qualquer coisa!

-- Claro, vamos fazer algo a respeito sim.

                Pedro estranhava a revolta da amiga, mas conteve seus comentários desconfiados. Rosana, a psicóloga se aproximou informando:

-- Natália já pode receber visitas, mas não demorem, ela precisa descansar.

                Diana e Pedro caminharam apressados até o quarto indicado por Rosana. Pedro foi o primeiro a se aproximar de Natalia, segurando sua mão, falando bem próximo ao seu rosto, exasperado.

-- Natalia! Que bom te ver! Nem sei dizer o que senti quando me ligaram daqui do hospital, como está se sentindo?

                Natalia estava quase assustada com o comportamento de Pedro, que não largava sua mão, e muito menos se afastava de seu rosto, tomando sua visão, impedindo até mesmo Diana de olhar para Natalia.

-- Estou bem.

                Natalia respondeu, tentando manter distância de Pedro, que insistiu:

-- Eu não posso adiar mais, tenho que falar o que guardo em meu coração: Natalia eu te amo! Percebi isso hoje, quando imaginei como seria minha vida se algo ruim te acontecesse. Eu sei que errei com você, mas me perdoa, me dá uma chance, prometo que serei o melhor cara, vou te proteger, vou ser o que você precisa, por que eu estou completamente apaixonado por você!


                Afobado, Pedro segurou o rosto de Natalia, forçando um beijo, despertando uma reação de pânico na garota, que não conseguiu oferecer resistência, nem tampouco retribuiu o beijo. O que sentiu por Pedro, foi nojo, repulsa, associando a ansiedade do rapaz com a obsessão de Sandro, por mais que racionalmente soubesse que Pedro nunca faria o que Sandro lhe fizera.

                Entretanto, Diana não reagiu da mesma forma. Não ficou imóvel, pelo contrário, moveu-se dali rapidamente, deixou o quarto depois da declaração de amor de Pedro e do beijo entre o amigo e a namorada dela, tomada pelo sentimento controverso, surreal, de ciúme misturado confusão que se instalara entre o medo de perder a amizade de Pedro e o medo de perder sua namorada para esse mesmo amigo. Perderia de uma forma ou de outra, perderia por deixar Pedro acreditar que tinha chances com Natalia, ou perderia se assumisse seu namoro com ela. O fato é que ela já estava perdendo. Perdendo seu direito de estar ao lado de Natalia quando ela tanto precisava, perdendo a oportunidade de declarar o quanto ela era importante, do quanto a amava. Tal oportunidade, Pedro aproveitou ignorando a repulsa que sua amada sentia agora dele.

                O barulho da porta interrompeu o momento que para Pedro seria seu momento mais romântico até então.

-- Não se preocupe, era Diana, ela entrou comigo, mas deve ter saído ao ouvir o que eu te disse.

-- Diana? – Natalia perguntou com os olhos arregalados.

-- É, mas, não se preocupe, ela só está um pouco enciumada, mas não temos mais nada, te juro!

-- Diana estava aqui?

-- Estranho não é? Mas ela foi super legal, fez algo que não esperava dela. Pediu ao pai para intervir, e a essa altura o filho da mãe que te atacou já deve estar preso. Acho que ela vai parar de te encher, você certamente a conquistou, por que merecer que a Diana peça algo ao pai, só sendo pra alguém muito importante para ela...

                Natalia ficou pensativa, e quando Pedro tentou se aproximar de novo, dessa vez a moça o impediu, afastando-o.

-- Pedro, muito obrigada por estar aqui, você é um bom amigo. Mas, nunca mais faça isso, não consigo nem imaginar um homem me tomando a força como você acabou de fazer, e já sinto náuseas...

                Foi então que Pedro percebeu que sua afobação foi completamente inapropriada, mesmo que tenha sido carregada de carinho.

-- Natalia desculpa não foi minha intenção...

                Outra vez a moça pediu distância com um gesto, visivelmente tensa.

-- Pedro, por favor, eu gostaria de ficar sozinha.

-- Mas, Natália... Eu disse que te amo...

-- Não insista, por favor. É um lisonjeiro para qualquer mulher ter um homem como você apaixonado, mas, não posso retribuir esse sentimento, porque eu estou...

                Quando Natalia se preparava para revelar seu namoro a Pedro, foi interrompida por Lucas que entrou no quarto igualmente ansioso.

-- Natalia minha linda! Que bom ver você bem!

-- Oi Lucas.

-- Trago boas notícias...

-- Prenderam o Sandro? – Pedro perguntou.

-- Ele está oficialmente foragido. Pelo que conheço desses filhinhos de papai, deve estar montando uma defesa, certamente se apresentará com advogado e tudo mais, mas, ele não vai se livrar, te garanto Natalia!

                O tema da conversa atormentou Natalia. Agitada, as lágrimas deram lugar a uma crise de ansiedade e pânico que só se acalmou quando foi administrada uma medicação calmante. Orientados pela psicóloga, Lucas e Pedro foram embora, uma vez que Natalia dormiria o resto da noite.
***********

                Na capela do hospital, Diana se recolheu buscando uma decisão sábia sobre como proceder com seus amigos e sua namorada. Não rezava, não era adepta a rituais, nem ao menos sabia se acreditava em uma figura sobrenatural, divina. Sentou-se ali com o único intuito de se refugiar e chorar sem que precisasse dar explicações.

                Notou alguém se sentar ao seu lado, e reconheceu a psicóloga que lhe avisara sobre a liberação para visitar Natalia. Enxugou as lágrimas, tímida deu um sorriso discreto para Rosana que cochichou:

-- Não precisa ficar com vergonha, eu também venho aqui para chorar.

                Diana sorriu.

-- Não quis entrar para visitar sua amiga?

-- Entrei, mas não demorei como a senhora recomendou.

-- Natalia vai precisar muito dos amigos para enfrentar esse trauma...

-- Eu sei...

-- Vai precisar de carinho, segurança, paciência, precisa se sentir à vontade para chorar, para desabafar.

-- Ela terá isso dos amigos, mas a senhora também vai ajudar não é?

-- Claro, a ajuda profissional é muito importante. Mas, não estarei sempre ao lado dela, até agora ela não falou uma palavra sobre o que aconteceu, vai levar um tempo ainda...

-- Entendo. Ajudarei como puder doutora...?

-- Rosana e você seria...? – a psicóloga completou se apresentando.

-- Diana, mas sem o doutora.

                Diana estendeu a mão sorrindo.

-- Muito prazer Diana. É bom saber que Natalia pode contar com você.

                Rosana se levantou depois de se despedir formalmente, mas, antes de deixar a capela disse:

-- Ah! Diana! Seus amigos já foram, se você quiser passar a noite com sua amiga acompanhando-a... Ela está sozinha na enfermaria por recomendação médica, mas, ela precisa de acompanhante.

                Rosana sorriu cúmplice para Diana, como se adivinhasse o que se passava.

                Se a psicóloga foi um sinal dos céus para mostrar um caminho para Diana, isso a loirinha não tinha certeza, mas, lhe deu o sinal verde que precisava para ficar ao lado de sua namorada, como ela desejava.

                Entrou no quarto e encontrou Natalia dormindo, com sua fragilidade exposta nas marcas, curativos espalhados. Em um relance, Diana viu o beijo entre ela e Pedro, e a declaração dele ecoava por sua mente. Entretanto, o que foi mais forte diante de Natalia, foi o sentimento sufocante de perda que Diana experimentara. Não queria, não podia perder Natalia, diante da namorada, enxergou tudo tão claramente: estava apaixonada, mais que isso, sentia por ela o que sempre duvidou que existisse com a intensidade, dramaticidade e magia que escritores, poetas e músicos descreviam. Apavorou-se por ter a idéia da dimensão do que sentia por Natalia e mais ainda, imaginando sua reação se acontecesse algo pior a ela.

                Puxou uma cadeira para perto do leito, segurou a mão machucada de Natália, e chorou copiosamente, permitiu-se desabar finalmente, por um emaranhado de sentimentos confusos: medo, alívio, paixão, temor, revolta, carinho, angústia. Seu pranto persistiu até suas energias se esgotarem, dormiu ali mesmo, sentada, com seu rosto colado com a mão de Natalia.
**********

                Natalia acordou se certificando que continuava no hospital olhou para seu braço direito, com um acesso venoso instalado, estranhou sua mão esquerda presa e ao olhar se deparou com Diana com metade do corpo repousando sobre o leito, sobre sua mão.

                Mesmo ressentida por Diana supostamente tê-la deixado com Pedro na noite anterior, Natalia abriu um sorriso sincero, tenro. Mexeu sua mão despertando o leve sono da namorada.

-- Nat? Faz tempo que você acordou?

-- Não, acabei de acordar...

                 Diana fez uma careta de dor ao se levantar.

-- Como você está se sentindo? – Perguntou a Natalia.

-- Acho que com menos dor do que você...

                Diana ajeitava os cabelos disfarçando sua desconfiança, temendo a mágoa de Natalia.

-- Vou procurar a enfermeira, seu soro acabou...

-- Diana! Você está fugindo de mim?

-- Por quê? Deveria?

-- Claro que não... Já fugiu ontem não é? Agora de novo...

-- Não fugi Nat...

-- Então vem cá, senta perto de mim...

                Natália expôs sua vulnerabilidade, com lágrimas nos olhos chamou Diana como se procurasse proteção do carinho de sua namorada. Diana não pestanejou, lançou-se sobre a cama, acolhendo a namorada em um abraço apertado, consolando-a, transmitindo todo carinho e segurança que seu sentimento por ela era capaz de proporcionar.

-- Eu vou cuidar de você, não vou sair do seu lado, te prometo... Não serei covarde.

                Diana repetia enquanto beijava a cabeça de Natalia recostada no seu peito. A promessa não era só para Natalia, era principalmente a verbalização da decisão que Diana tomara, no momento em que encarou os olhos marejados da namorada a chamando para sentar perto dela.

-- Foi um pesadelo Di...

-- Eu imagino minha linda... Mas, você não está sozinha, estou com você, ele não te fará mal!

                O momento de carinho e conforto entre o casal foi interrompido por Rosana que delicadamente disse:

-- Acho que o Dr. Miranda não vai gostar muito de ver duas pessoas no mesmo leito, diria que é um absurdo a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar não fiscalizar os quartos logo cedo...

                Diana se levantou tímida.

-- Desculpe-me doutora Rosana.

-- Vocês se conhecem? – Natalia perguntou intrigada.

-- Somos colegas de fé por assim dizer não é Diana?

                Diana acenou em acordo, enquanto Natalia arqueava uma das sombracelhas insatisfeita com a resposta misteriosa.

-- Resolvi passar cedo aqui, por que sabia que o Dr. Miranda lhe daria alta ao sair do plantão, então, vim te entregar meu cartão, atendo aqui no ambulatório, se você quiser conversar, liga pra marcar horário, você pode precisar uma hora dessas.

                Enquanto Rosana orientava Natalia, o médico que a atendeu entrou no quarto comunicando sua alta. Ouviram as recomendações do médico atentamente, Diana se comprometeu a cuidar de Natalia e convencê-la a ingressar na terapia com Rosana. Antes de se despedir, a psicóloga chamou Diana em particular e alertou:

-- Os primeiros dias serão complicados Diana, possivelmente Natalia terá pesadelos, pode ter dificuldades em contar o que aconteceu, vai evitar contato com outras pessoas... O médico prescreveu um ansiolítico, mas, o mais importante é que Natalia se sinta segura, não se sinta pressionada, se puder evitar encontros com esse agressor, na delegacia, por exemplo, é fundamental.

-- Pode deixar doutora, vou me assegurar disso. Obrigada por tudo.

-- Fique você também com meu cartão, caso você precise de outras orientações.

-- Obrigada.

                Natalia observava atenta a intimidade das duas, visivelmente incomodada.

-- Vamos pra casa? – Diana ajudou Natalia a se levantar.

-- Vamos! Antes que você paquere as enfermeiras desse turno.

-- Não acredito que você está com esse bico por puro ciúme Nat!

-- De onde veio essa amizade de infância com essa psicóloga?

-- Ela me encontrou na capela do hospital e me trouxe pra você sua boba!

                Natalia sorriu sem graça.

-- Agora vamos, antes que seus admiradores e heróis cheguem.

CAPÍTULO 32 - Curam vulneribus
* Cuidando das feridas

                Depois de pegar algumas roupas na casa de Natália, as duas seguiram para o apartamento de Diana, a loirinha se derramava em cuidados com a namorada, o que comovia e divertia ao mesmo tempo Natalia.

                Com muita delicadeza, Diana ajudou a namorada a se acomodar na sua cama, cercando-a de travesseiros.

-- Di, vai faltar espaço para você nessa cama se você colocar mais travesseiros, você está com medo que eu caia da cama? Estou machucada, não voltei a ser bebê!

                Natalia brincou.

-- Você não quer ligar pra casa? Avisar aos seus pais sobre o que houve? – Diana perguntou sentando-se ao lado da namorada.

-- Di, não posso contar a eles. Se eles sabem o que aconteceu, eles vem me buscar na mesma hora e não me deixam mais voltar para cá!

                Diana acenou em acordo.

-- Vamos ter que tomar muito cuidado Nat, primeiro, você não vai ficar sozinha naquela lata de sardinha no fim do mundo que você mora.

-- Ah ótimo, vou morar onde então?

-- Por enquanto aqui.

                Natalia arregalou os olhos, manifestando sua surpresa.

-- Você pode me dizer que desculpa dará para seus amigos?

-- Pra começar, você vai ligar para eles, dizendo que está no interior, que seus pais vieram te buscar, ganhamos alguns dias para pensar em algo melhor...

-- É esse seu plano? – Natalia perguntou visivelmente decepcionada.

-- Você tem outra ideia?

-- Na verdade tenho: dizer a verdade!

-- Han?

-- Isso mesmo que você ouviu Diana: dizer a verdade. Já está na hora, chega de nos escondermos, não quero mais isso!

-- Ei Nat... Calma...

                Diana se sentou ao lado de Natalia e ponderou:

-- Você tem noção do que será se assumir como lésbica? Como minha namorada?

-- Não estou falando de assumir ser lésbica, não sou lésbica... Estou falando de assumir que estamos juntas!

-- Nat... Olha só o que você acabou de falar... Nem você mesma tem convicção sobre sua sexualidade, e já quer assumir uma relação lésbica publicamente? Você não tem noção do que vai enfrentar, do quanto as pessoas são preconceituosas...

-- Diana sua preocupação é com isso mesmo?

-- Porque você está perguntando isso Nat?

-- Porque eu acho que sua preocupação é perder a amizade do Pedro e do Lucas.

-- Claro que também me preocupo com isso! Você se esqueceu da declaração de amor que o Pedro te fez ontem? Eu vi o abalo do meu amigo, testemunhei o empenho do Lucas em punir o Sandro a ponto de pedir a intervenção do meu pai...

-- Pelo que vejo, eles dois não tem restrições em assumir o que sentem por mim...

-- Você não pode estar falando serio Natalia... Não dá pra comparar.

-- Diana o que sei é que estou cansada de mentir, de esconder nosso namoro, por ser grata aos meninos o que eles fizeram e fazem por mim, eu preciso ser honesta com eles, não quero dar esperanças a eles, especialmente por que não quero que nunca mais nenhum homem me toque!

                Diana franziu a testa, assustada com a declaração da namorada.

-- Nat eu entendo que você está traumatizada com o que aconteceu, a Dra. Rosana me advertiu que isso poderia acontecer, acho que não é o melhor momento para tomarmos decisões tão importantes...

-- Que se dane os conselhos que essa psicóloga deu! Estou falando de nós! Você está usando desculpas, porque na verdade tem vergonha de assumir namoro com uma caipira como eu não é?

-- Natália!

                Diana exortou Natalia segurando o rosto da namorada.

-- Eu não tenho motivos pra ter vergonha de você! Para com isso! Eu me preocupo sim com a repercussão disso na sua vida, e claro com as consequências na amizade com os meninos. Pedro e Lucas são como irmãos para mim, porque os meus irmãos de sangue são preconceituosos, machistas, cópias fiéis do meu pai, que me criou para ser um meio para ascensão social ou algo do tipo, me casando com alguém do interesse dele. Os meninos seguraram minha barra por muito tempo aqui, até minha mãe convencer meu pai a me manter aqui, me protegeram, inclusive quando resolvi assumir minha sexualidade, apesar de estarem apaixonados por mim... Você não pode achar que é fácil magoá-los assim...

                Natalia baixou os olhos, Diana ergueu o rosto dela delicadamente, e disse:

-- Não pensa nisso agora, me deixa cuidar de você...

                Diana beijou ternamente a face de Natalia, colhendo com seus lábios as lágrimas que escorriam pelo rosto da namorada. Natalia se entregou ao carinho da loirinha, e logo se acomodou no peito de Diana, e as duas permaneceram abraçadas, aninhadas uma na outra.

                O cuidado de Diana beirou a comicidade, o que para Natalia se transformou em adicionais de carinho, quando observava a loirinha se esforçar para preparar algo na cozinha.

-- Di... Deixe-me ajudar...

-- Não! Você deveria estar na cama descansando! Volte pra lá! Estou me saindo bem aqui... Seguindo direitinho a receita que peguei no site: picadinho com legumes, minha mãe sempre mandava fazer pra mim quando eu estava doente.

                Diana disse jogando os legumes inteiros na panela, se afastando do fogão como se temesse uma reação química devastadora.

-- Di, você deveria descascar as batatas e cenouras antes de jogá-las na panela junto da carne.

-- Mas isso não está escrito aqui!

                Diana exclamou exibindo a folha de papel com a receita copiada.

-- Acho que quem publicou isso não imaginou que precisaria colocar o obvio como: acenda o fogo com fósforo...

                 Natália riu, com a expressão irritada da namorada, que cruzou os braços encostando-se na pia.

-- Que bico mais charmoso!

                Natalia brincou se aproximando de Diana, envolvendo sua cintura.

-- Nunca cozinhei nem ovo ta? Pega leve comigo...

                Diana disse com voz manhosa.

-- Então eu cuido da mesa, e você cuida da... Cama!

                Natalia beijou Diana ardentemente acendendo o desejo da loirinha, que segurou a outra com força arrancando um gemido de dor.

-- Ai...

-- Desculpa Nat... Caraca como sou desastrada... Seus machucados!

-- Calma Di... Está tudo bem... Dá beijinho que passa.

                Diana beijou delicadamente as costas de Natalia.

-- Agora acho melhor eu assumir a direção desse fogão, antes que esse picadinho vire ração...

                Natalia falou sorrindo, mexendo nas panelas, enquanto Diana fazia careta.

-- Você trate de ficar quietinha só observando!

                Diana foi obediente, sentou-se junto ao balcão, e observou praticamente com devoção em cada movimento, expressão que Natalia exibia. Perguntava-se interiormente como conseguiu viver até aquele dia sem vislumbrar a beleza serena e limpa de Natalia. A presença dela inquietava e ao mesmo tempo trazia um sentimento de calmaria em sua alma que ela sequer sabia que desejava.
*********

                O final de semana foi reservado para mimos e cuidados de Diana com Natalia, que por diversas vezes acordava de seus pesadelos assustada sendo acolhida pela namorada. A loirinha também se responsabilizou pela tarefa de trocar os curativos de Natália, usando uma delicadeza que comoveu Natalia.

-- Com uma enfermeira dessas, eu vou me machucar sempre! – Natalia brincou.

-- Nem brinca com isso... Meu coração não aguenta outra agonia dessas...

                Natalia sorriu sem graça.

-- Prontinho!

                Diana finalizou recolhendo o material de curativo da cama.

-- Di, amanhã é segunda-feira, tenho que voltar para a faculdade...

-- Ei! Você só vai voltar para a faculdade quando você se sentir preparada para isso. Quando aquele criminoso estiver preso, enfim... Quando estiver recuperada.

-- Diana na terça nós temos o tal júri simulado da Madimbu, ela não vai dispensar a oportunidade de te condenar!

-- Não se preocupe com isso! Eu e os meninos vamos dar um jeito...

                Natalia sorriu, e aproximou a boca dos lábios de Diana, depositando um beijo suave, mas cheio de desejo.

-- Você está doente, não pode beijar sua enfermeira assim... – Diana disse com as bochechas coradas.

-- Assim como? – Natalia respondeu imprimindo sensualidade no tom de voz.

-- Assim... Quente...

                Natalia se insinuou ainda mais contra o corpo de Diana, roçando seus lábios pelo pescoço da loirinha, que fechou os olhos sentindo o arrepio tomar de conta da cada poro da sua pele. Natalia acariciou a pele eriçada da namorada, que não se conteve, e retribuiu às investidas posicionando suas mãos por baixo da camiseta de Natalia, se desfazendo da peça.

                Contemplou as marcas no corpo da namorada, que parecia se envergonhar dos hematomas espalhados pelo dorso e braços. Diana deslizou o dorso da mão pelos machucados, depositou seus lábios por cada marca beijando ternamente, dando aquele momento um clima de especial de carinho e paixão, como se aquele gesto representasse cura e redenção.

                Natalia caiu sobre o corpo de Diana trocando beijos lentos e famintos, dando espaço para movimentos suaves, e o passeio das mãos, arrancando gemidos de prazer de ambas.

-- Eu sou tão sua Di...

-- Também sou sua Nat... Só sua.

                O prazer transformado em fluidos e sons ditou o trajeto dos dedos e bocas, que as conduziram ao ápice simultaneamente.

                Abraçadas, trocando carícias, em um clima íntimo de cumplicidade, Natalia confessou:

-- Se existisse uma compensação pelo que aconteceu comigo, estar com você assim, dividindo uma casa, como foram esses dias, seria a melhor de todas.

-- Não fala assim minha linda...  Pra termos dias assim, não é preciso que você passe por tragédias para receber compensações...

-- O que você quer dizer com isso?

-- Ah... Dividirmos uma casa, ficarmos juntas assim, pode ser um plano.

-- Está falando sério Di?

-- Por que não?

                Trocaram um sorriso, um sorriso que parecia preparar o clima para uma declaração contundente do sentimento óbvio que se consolidava entre elas, quando o celular de Diana tocou.

-- Oi Lucas.

-- Di, o filho da mãe se apresentou a polícia. Está detido.

-- Jura? Pelo menos isso!

-- Agora não tenho como avisar a Natalia, ela não deixou telefones da casa dos pais.

-- Ela deve entrar em contato logo Lucas.

-- É, na verdade ela precisa estar o quanto antes na delegacia para depor.

-- Lucas, na terça teria um trabalho da Madimbu, um júri simulado que Natalia apresentaria, será que você poderia falar com a bruxa para adiar? Se eu for, você sabe o que pode acontecer...

-- Pode deixar Diana, amanhã a procuro no departamento, ou melhor, peço ao Pedro, ele é queridinho dela.

-- Valeu.

                Depois de compartilhar a novidade, Diana aconselhou Natalia a ligar para Lucas.

-- Nossos dias de paz acabaram? – Natalia perguntou contrariada.

-- Não minha linda. Não acabaram, estamos juntas, quer maior paz que isso?

CAPÍTULO 33 Tutari voluit
*Intenção de proteger

                Pedro acompanhou Natalia até a delegacia, onde um dos preceptores de prática jurídica da universidade os aguardava, se apresentando como advogado da moça a pedido do amigo.

-- Natalia pode ficar calma, pedi para o Doutor Prado vir só pra te deixar mais segura, mas é só um depoimento.

                A menina apenas acenou em acordo, visivelmente tensa. Narrou para o delegado tudo que aconteceu entre ela e Sandro até o seu último ataque. Reviver aquele pesadelo em cada palavra trouxe à tona a fragilidade da aparente moça forte do interior. Exatamente por tal motivo, Natália lamentou interiormente não poder contar com o apoio da namorada, que insistia em manter em segredo a relação.

-- Natalia, você está bem?

                A jovem apenas acenou em acordo apaticamente à pergunta de Pedro.

-- O Sandro está preso, mas não vou mentir: em breve ele sairá e responderá ao processo em liberdade.

-- E vai estudar na mesma sala que eu, vai me perseguir, publicar aquelas fotos na internet, ou seja: fará da minha vida um inferno.

-- Não! Não vou permitir isso!

-- O que você poderá fazer Pedro? Vai me escoltar?

-- Faria isso se fosse necessário, aliás, faria com todo prazer, só pra ficar ao seu lado o dia inteiro...

                O rapaz disse com os olhos cintilando sua paixão.

-- Entretanto, temos outros meios mais eficazes para lhe proteger. Faremos isso judicialmente. O Doutor Prado vai solicitar uma ordem de restrição, que proibirá Sandro de se aproximar de você, a coordenação do curso terá que agir, certamente vai sugerir a transferência dele para o curso noturno.

-- Isso vai demorar quanto tempo?

-- Com a influência do pai da Diana, garanto que isso será rápido!

-- O pai da Diana?

-- É, sabe que estou verdadeiramente surpreso com o empenho da Diana pra te ajudar. O pai dela tem intervindo todo tempo para acelerar as coisas, não é típico de a Diana requisitar assim o poder do pai dela.

-- Mas, por que o pai dela tem tanto poder assim?

-- Você não sabe quem é o pai da Diana?

-- Não! Por que deveria saber?

-- Por que todos na faculdade sabem...

-- Ok, o que a faculdade toda sabe?

-- A Diana é filha do senador Acrisio Toledo Campos.

                Natalia franziu a testa, como se evidenciasse uma interrogação.

-- Você não sabe quem é Acrisio Toledo Campos? – Pedro indagou surpreso.

-- Esse nome não é estranho, mas não lembro exatamente de quem estamos falando.

-- Ele é o dono do Mato Grosso. Era um advogado pouco convencional, o mais procurado pelos criminosos mais famosos do país, rapidamente multiplicou o patrimônio da família investindo principalmente em terras e gado, até ingressar na carreira política. Volta e meia aparece uma denúncia contra ele, inclusive naquele escândalo de compra de sentenças, na participação de grupos de extermínio...

-- Claro! Sei quem é! – Natalia interrompeu.

-- Ele é seu mais novo defensor.

                A expressão de Natalia ao ouvir isso foi tão confusa quanto seu sentimento diante daquela situação. Para ela, Acrisio Toledo Campos era a personificação de tudo que ela mais repugnava no meio político, o exemplo da politicagem opressora.

-- Agora posso entender porque Diana odeia que a chamem pelo nome completo... – Natalia pensou alto.

-- Como você sabe disso? – Pedro perguntou.

-- Pela reação dela nas aulas de IED... – Natalia disfarçou.

-- Essa é outra história... A professora Dorotheia odeia Acrisio Toledo e tenta se vingar perseguindo Diana na disciplina dela.

-- Então pelo jeito serei mais uma a ter rabo preso com o senador Acrisio?

-- Pergunta capciosa heim... Na verdade, o que me intriga é o empenho da Diana em pedir ajuda do pai. A consciência dela deve mesmo pesar muito, ela julga que é culpada por essa perseguição do Sandro...

-- Mas isso é absurdo, eu nunca pensaria dessa forma!

-- Eu sei disso, mas de qualquer maneira, a intervenção dela, do pai dela, vai nos ajudar muito, inclusive para obter esses originais das fotos, pode se tornar uma moeda de troca para diminuir a pena dele em um acordo.

-- Quais são os próximos passos nesse processo?

-- Bem, o advogado do Sandro deve conseguir um Habeas corpus nos próximos dias, e ele responderá em liberdade. Entretanto, o Doutor Prado vai entrar com um pedido para que você seja incluída no programa de proteção a vítima imediatamente.

-- Obrigada por tudo Pedro, agora, preciso ir pra casa.

-- Sua casa... Esse é outro ponto que gostaria de conversar com você Natalia.

-- O que tem minha casa?

-- Não sei, nunca entrei lá... Mas, sei que é no fim do mundo! Muito arriscado você continuar morando lá!

-- O que você sugere Pedro? Meus pais não tem grana pra pagar os preços absurdos dos apartamentos perto do campus...

-- Pensei nisso com o Lucas, e conversamos com algumas amigas que estão se organizando para abrir vaga na república delas.

-- Pedro...

-- Não se preocupe Natalia, as meninas são ótimas, algumas você já conhece do time de vôlei.

                Natalia ficou pensativa, a dedicação apaixonada dos irmãos despertava além de culpa por enganá-los escondendo seu namoro com Diana, um sentimento de segurança. Pedro e Lucas, gratuitamente manifestavam o carinho protetor que ela tanto precisava naquele momento. O cuidado da namorada era indiscutível, mas o teor clandestino do relacionamento provocava em Natalia a incômoda sensação da instabilidade do namoro.

******

                Diana mal conseguiu prestar atenção nas aulas, seu pensamento e seu coração estavam com a namorada, na delegacia, depondo contra Sandro. Sua vontade era de estar ao lado de Natalia, mas, seus receios impediram tal atitude.

                A mensagem no celular recém comprado por Natalia foi suficiente para fazer a loirinha sair no meio da última aula e correr para casa.

-- “Estou em casa. Esse é meu novo número. Nat”.

                A caminho de casa, parou em uma confeitaria, comprou a torta “floresta negra”que Natalia confessara ser seu doce favorito. Encontrou a namorada na cozinha, aparentemente concentrada preparando o almoço.

-- Olha que posso me acostumar com isso... – Diana disse abraçando Natalia pela cintura.

-- Isso o quê?

-- Você me esperando em casa, preparando nosso almoço...

-- Ah... Você quer me contratar como sua cozinheira?

-- Claro que não! Quem vai fazer a faxina se você ficar só cozinhando?               

                Diana gargalhou depois da expressão indignada da outra.

-- Falava da sua companhia sua boba... – Diana beijou os lábios de Natalia.

-- Mas vai ter que desacostumar...

                Natalia falou se afastando de Diana. A loirinha franziu a testa estranhado a reação da namorada.

-- Do que você está falando?

-- Tenho que voltar para meu apartamento.

-- Mas Nat, você mal se recuperou...

-- Diana não tive ferimentos sérios, posso me cuidar. – Natalia interrompeu.

-- Ah pode? Da última vez, um louco quase te violentava! E seus ferimentos físicos até podem não ter sido sérios, mas como vai ser quando você acordar no meio da noite com pesadelos, sozinha naquela caixa de fósforos que você chama de casa?

                Natalia se encostou no balcão da cozinha baixando os olhos.

-- Nat não tem sentido você sair daqui. Mesmo que o advogado consiga uma ordem judicial limitando a aproximação do Sandro, não é bom você ficar sozinha nesse momento. E não há porque isso acontecer, já que você não está sozinha!

-- Não mesmo Diana?

-- Claro que não! Você não acredita que estou ao seu lado?

-- Não vi você do meu lado naquela delegacia hoje...

-- Não estava ao seu lado fisicamente, mas estava te protegendo com os recursos que tenho...

-- Os recursos os quais você se refere são os recursos do seu pai, o grande senador?

-- Se você acha que meu cuidado com você se limita às intervenções do meu pai, você não tem noção do quanto gosto de você e o quanto é importante para mim.

-- Acho que entre quatro paredes, longe do mundo você deixa isso muito claro, mas sinto falta de mais...

-- Por que não estou publicamente ao seu lado? Estou nos bastidores, passando por cima de meu orgulho e das minhas promessas interiores, só pra te proteger.

-- Não quero você nos bastidores da minha vida Diana. Quero você ao meu lado no palco.

                Natalia saiu da cozinha deixando Diana sem palavras. Estava muito clara a insatisfação dela com o namoro, e isso angustiou a loirinha profundamente. Diana seguiu a namorada até o quarto e com voz mansa a chamou:

-- Nat...

-- Oi Diana.

-- Você está chateada comigo?

-- O que você acha?

-- Seu tom já me respondeu...

-- Diana é querer demais que minha namorada fique do meu lado?

-- O fato de eu não estar em público com você, não quer dizer que não esteja ao seu lado. Por que é tão importante pra você assumirmos nosso namoro para todos? Acho que não tem noção das consequências disso.

-- Se não podemos assumir nosso relacionamento, permanecer aqui mais tempo é muito arriscado para seus amigos nos flagrarem.

                Diana tentou argumentar, mas, os seus argumentos pareciam frágeis diante do tom magoado da namorada, engoliu as palavras, enquanto observava Natalia recolher suas coisas espalhadas pelo quarto.

-- Nat, por que você está guardando suas roupas?

-- Por que é hora de voltar pra minha casa ou caixa de fósforos como você chama.

-- Natália para com isso! Você não vai a lugar nenhum!

                Diana se aproximou da namorada tomando as roupas que ela tinha nas mãos.

-- Você não vai se expor a riscos sem necessidade, não vai ficar sozinha, continua aqui até essa confusão toda se resolver, e se os meninos nos flagrarem, eu não vou esconder nada!

-- Então vamos continuar mentindo esperando um flagrante?

-- Só te peço um pouco mais de tempo Nat... É um momento muito tenso para carregarmos de mais drama ainda.

-- Acho que você está é me enrolando!

-- Nat... Será que não mereço um crédito? Um tempinho?

                Diana fez cara de anjo, arrancando um sorriso tímido de Natalia.

-- Tudo bem... Vou te dar mais alguns dias, até essa história do Sandro se resolver, os meninos sossegarem mais...

-- Ótimo! Agora vamos comer, estou faminta, trouxe sua sobremesa favorita e você nem ligou!

-- Jura que você trouxe torta charlote?

-- Não é floresta negra a sua favorita?

                Diana perguntou sem graça. Natalia sorriu e respondeu:

-- Vai passar a ser agora, só pra você tirar essa cara de frustração.



                Natalia se aproximou dos lábios de Diana, roubando um beijo delicado selando o acordo, acreditando que sua insatisfação tinha os dias contados, numa esperança ingênua de que os problemas no namoro se encerrariam em breve.