sábado, 26 de setembro de 2015

Aconteceu você: 8º Capítulo

CAPÍTULO 8: DE VOLTA À ESCRITA
Definitivamente escrever era para mim uma terapia, e há muito tempo eu não me permitia tal atitude por obrigações profissionais, talvez por acomodação e até quem sabe por trauma de tanto ouvir da Cuca, minha antiga chefe Isabel, que eu não tinha o menor talento para escrita.
Entretida com minha volta à escrita, nem vi o tempo passar, já era noite, quando meu celular tocou, era ela: Marisa.
- Oi Mah! Então, ainda no hospital?
- Na verdade não...
- E eu posso saber onde você está?
- Acho que sim, estou aqui na sua porta, você poderia, por favor, abri-la?
Desci as escadas correndo, e abri a porta ansiosa, Marisa estava de pé, com uma pizza na mão:
- Entrega para senhorita Alexandra.
Puxei-a para dentro de casa arrancando-lhe um beijo intenso, sem deixar chance de escapatória.
- Você sempre recebe assim os entregadores de pizza?
- Só os mais gostosos...
- Minha nossa! O que você tem hoje? Não provocou nenhum acidente, e está fazendo cada coisa comigo...
- Nem vem ta! Hoje me comportei direitinho... Quer dizer...
- O que foi? Algo que eu não saiba?
- É que... Bem, saí toda molhada do banheiro...
Só contei o início da história e isso foi o suficiente para Marisa deduzir o resto e cair na gargalhada.
- Então por isso você estava com a jaqueta de Elaine?
- Ahan...
Contei os detalhes da história me divertindo com as caras e bocas de Marisa, enquanto colocava a mesa para nós. Minha vontade de estar perto dela era tão grande, que puxei-a para meu colo e assim comemos a pizza que ela trouxe. Visivelmente cansada, Marisa bocejava depois de jantarmos, levei-a para meu quarto, deitei sua cabeça no meu colo acariciando seus cabelos e em pouco tempo ela cochilou sob meu olhar de encantamento.
Inspiração maior eu não podia ter. Com cuidado deixei-a na cama dormindo e voltei para meu notebook escrevendo a perfeição da minha personagem no romance que se tornara a representação do meu presente real e imaginário depois de conhecer Marisa.
Envolvida na escrita, descrevendo a médica de sucesso e apaixonante que transformara a vida de uma jornalista atrapalhada, não percebi a chegada de Marisa por trás da minha poltrona, abraçou-me delicadamente recostando seu queixo no meu ombro para ler o que eu digitava.
- “Seu semblante sereno quase angelical repousando no meu colo, na minha cama, me dava a sensação de paz, bem-estar a qual eu nem sonhava que existisse, o mundo poderia acabar naquele momento e eu permaneceria imóvel para não desfazer aquele instante.”
Marisa leu o trecho em voz alta me surpreendendo, em seguida perguntou-me:
- Você pode me explicar o que é isso afinal Alexandra? Você está me usando para escrever um livro?
O tom da voz de Marisa ao me dizer isso, assustou-me. Imaginei que ela pudesse estar ofendida por eu de certa forma estar usando-a como recurso literário.
- Não... Quer dizer...
- Posso ler?
Muito constrangida e temendo sua reação, balancei a cabeça autorizando, e ela colocou o notebook no seu colo apertando os olhos para ler. Prestei atenção em cada gesto dela, mas as suas expressões eram enigmáticas para mim, despertando em mim uma curiosidade angustiante.
A leitura demorou quase uma hora, eu andava de um lado para o outro no quarto e apesar do meu gesto impaciente, Marisa não se distraiu, e quando não suportei mais a espera gritei:
- Ai Marisa! Fala alguma coisa!
Marisa colocou a mão no queixo, com uma expressão séria, fez suspense, e enfim disse:
- Alex, você escreve muito bem! Fique totalmente presa a leitura e estou ansiosa para saber mais dessa estória...
Respirei aliviada e abri um sorriso tímido.
- Você tem que publicar isso...
- Publicar?
- Claro! Tem qualidade pra isso, você tem que publicar.
- Mas esse tipo de literatura? Será que vai ser bem aceito?
- Tenho certeza que sim... Mas só pra te convencer que estou certa, faz o seguinte, começa a publicar por capítulos em sites especializados, você vai ver a aceitação do público.
Achei a idéia de Marisa viável, e prometi pensar no assunto.
- Mas me diga... Essa tal médica aí é tudo isso que você escreveu?
- O personagem é sim...
- Ah... O personagem...
Marisa falava isso enquanto se aproximava de mim, envolvendo minha cintura, e eu a encarava com desejo, até mergulhar meus lábios nos seus num beijo descrito no meu romance: excitante e apaixonado.
- Então vamos fazer a vida imitar a arte...
Marisa me jogou na cama, e facilmente me despiu, sugou meus seios com volúpia, enquanto descia suas mãos entre minhas coxas, meu corpo arrepiava e ansiava para ter Marisa dentro de mim. Meu sexo encharcado anunciava o meu desejo, até Marisa enfim brincar com seus dedos por cima do meu clitóris instigando meu pedido:
- Quero você dentro de mim Mah...
Marisa não tardou em me atender, penetrou dois dedos enquanto outro dedo continuava a massagear meu clitóris, descia sua língua quente pelo meu pescoço, orelha, para meu delírio. As estocadas de Marisa no meu sexo tinham um ritmo alucinante, quando eu achava que não havia possibilidade de prazer maior, Marisa impôs o peso de seu corpo sobre seus dedos dentro de mim, intensificando os movimentos e meus gemidos. O gozo se derramou entre os dedos de Marisa, que esboçava um sorriso de satisfação.
Abracei Marisa que estava ofegante, nossos corações batendo rápido deram lugar a uma troca de carícias que poderia ser inocente se não fosse na pele quente de Marisa que se eriçava quando o dorso de minha mão deslizava por seus braços. Seguindo o que eu entendia do corpo dela, despi-a com calma, mesmo me enrolando com os botões da sua blusa, deixei-a nua na minha cama e continuei com o percurso de minhas mãos sobre a pele de Marisa que mexia seu corpo tomado de prazer.
Senti a umidade de seu sexo e isso me excitou ainda mais, penetrei meus dedos que deslizaram naquele líquido dando-me toda liberdade para movimentá-los de acordo com as reações do corpo de Marisa, e sentir seu gozo provocou novo orgasmo em mim.
Não lembro ao certo quando dormimos, mas acordei da melhor forma que poderia acordar: com as mãos de Marisa pelo meu corpo, apertando-o contra o seu acendendo meu desejo que se confundia com meus sonhos. Sem que eu percebesse, Marisa já estava com sua perna encaixada entre minhas coxas, me acordando definitivamente.
Tomamos banho juntas, trocando carinhos sensuais e sorrisos maliciosos, na cozinha o café-da-manhã virou farra, aliás, mais que isso, se tornou uma vingança, minha cozinha se tornou uma praça de guerra de farinha, em pouco tempo, as panquecas saíram, mas nós estávamos precisando de outro banho... E minha cozinha... Bem, ficou bem a altura do que eu fiz na dela.
Apesar de passar o dia afastadas, cada uma em seu trabalho, nos mantivemos “juntas”, trocando mensagens de texto, telefonemas em um clima de romance incontestável. Tudo me parecia mais leve, até o trabalho fluiu mais tranquilamente, estava me apaixonando por Marisa, isso era um fato.
Não me esqueci do que Marisa me sugeriu sobre publicar meu romance na internet, testando a aceitação da minha estória, minha dúvida, era se eu queria ficar conhecida como escritora de contos lésbicos. Mas como na internet você pode ser qualquer personagem, usar o subterfúgio de um pseudonome, ou como se fala no Orkut, um fake cairia como uma luva.
A nova edição do jornal já tinha pauta pronta e encaminhada, e a sequência de reportagens sobre saúde continuaria nesse número. Artur, nosso fotógrafo, surgiu com a idéia de uma iniciar uma investigação sobre a extração de madeira na região, já que era conhecida pela sua riqueza natural e pelo grande número de empresas madeireiras. Pedi que me apresentasse algo que fosse notícia, e adverti acerca de sua segurança e que esta reportagem não poderia interferir nas pautas semanais.
Minha ansiedade em rever Marisa só aumentava, e pra minha frustração, a noite não poderia vê-la, já que ela me avisar sobre seu plantão na urgência do hospital. Voltei para casa e mergulhei mais uma vez na vida dos meus personagens, e criei o tal perfil fake no Orkut, e sem muita expectativa, publiquei o primeiro capítulo do romance em uma comunidade especializada em contos. Confesso que temia rejeição, e aquela comunidade serviria de termômetro para publicação no site que me apresentou esse tipo de literatura.
E assim o fiz, antes de dormir, não podia deixar de contar a novidade a Marisa, que mesmo ocupada, atendeu minha ligação, vibrando com a novidade, aquele incentivo me enchia de confiança e otimismo, o suficiente para eu continuar escrevendo, até o sono me vencer.
Antes de sair para o trabalho, precisava conferir se meu conto havia conquistado alguma leitora no primeiro capítulo, e para minha surpresa, haviam duas páginas de comentários das leitoras ansiosas pela continuidade da estória, aquela motivação foi mais que fundamental para nutrir minha inspiração.
Contive toda minha necessidade de compartilhar isso com Marisa, imaginando que depois do plantão ela precisava dormir e não ser interrompida, no fim do dia daria um jeito de encontrá-la. Nenhum telefonema ou mensagem o dia todo, isso me angustiava de uma forma esquisita. No fim da tarde, resolvi ligar, o celular só caía em caixa postal, pensei que não haveria mal em ir pessoalmente em sua casa, e assim o fiz.
Parei numa delicatess e comprei guloseimas para um chá na varanda da aconchegante casa de Marisa, ao chegar enfim, estacionei com cuidado, e bati à porta com a cesta de itens nas mãos e um sorriso exuberante aguardando que ela abrisse a porta. Para minha total decepção, a morena fatal abriu a porta.
- Pois não?
Aquilo me parecia um pesadelo, aquelas situações que você deseja que o chão se abra de vez lhe tirando daquele constrangimento imediatamente. Não consegui falar uma só palavra, e a morena deduziu:
- Você veio fazer alguma entrega? Marisa você pediu alguma coisa? – A morena gritou para dentro da casa.
Eu fiz menção de dar meia volta quando a morena me chamou:
- Ei mocinha... Não vai entregar?
Ela puxou a cesta e perguntou:
- Tenho que assinar algo? Já está pago?
Sentia que algum ser sobrenatural prendeu minha voz em algum feitiço, não conseguia falar, até Marisa se aproximar da porta:
- Alex? O que você está fazendo aqui?
Continuei sem falar nada, enquanto a morena perguntou:
- Você a conhece?
- Claro! É a Alexandra, editora-chefe do jornal da cidade, te falei dela.
A intimidade delas me machucava, e me doeu ainda mais como Marisa se referiu a mim. Isso me desnorteou, joguei a cesta no chão, e saí correndo em direção ao carro sendo seguida por Marisa que gritava:
- Alex! Aonde você vai? Espera!
Não parei, andei rápido com aquela cesta na mão me sentindo a mais idiota das criaturas, deduzindo o motivo pelo qual Marisa não me ligou nem me procurou o dia todo. Nervosa como estava demorou para minhas mãos furadas atuarem, e permitir que a cesta com as guloseimas se espatifassem pelo terraço da casa.
- Alex, espera aí!
Agachei-me para recolher as coisas, e só então Marisa me alcançou e me ajudou a recolher o que estava espalhado pela terra.
- Quanta coisa! Tudo pra mim?
Marisa disse um pouco constrangida enquanto eu lutava para minhas lagrimas de raiva e decepção não entregarem meu estado apaixonado.
- Era tudo pra você sim, faça bom proveito junto com a morena fatal!
Levantei-me indignada, jogando o que estava em minhas mãos dentro da cesta, e correndo em direção ao carro ignorando o chamado de Marisa. Dirigi pela estrada amargando um sentimento estranho de traição. Ignorei também as chamadas de Marisa no meu celular, e m refugiei na casa do Dan que obviamente se surpreendeu com minha visita repentina.
- Sardenta! Aconteceu alguma coisa?
Entrei na casa de Daniel sem conseguir expressar o que estava sentindo, sensível como ele era segurou-me pela mão, me conduziu até a cozinha, puxou a cadeira para que eu sentasse e disse:
- Estou preparando um café, tome comigo e vamos conversar, acho que você está precisando.
Aceitei o convite e desabafei com meu amigo o que se passava na minha cabeça e no meu coração. Dan ouviu tudo atentamente, deixou que eu falasse sem me interromper. Em seguida me perguntou:
- Você está apaixonada por ela Alex?
Eu sinceramente não sabia o que responder, e foi isso que o confessei ao Dan:
- Não sei Dandan, mas o que tenho sentido esses dias com ela é muito intenso, diferente de tudo que já vivi.
- Você já disse isso a ela?
- Não né Dan! Não há necessidade disso, não quero ficar nas mãos dela, você mesmo falou que ela não se prende a ninguém e ainda tem essa morena fatal...
- Então acho bom você ir com calma tendo cuidado com seus próprios sentimentos, deixe que ela dê os passos nesse relacionamento deixando claro o que ela quer com você, até lá, se preserve, não vá atrás dela, deixe que ela te procure, se imponha...
- E se ela achar que eu perdi o interesse nela?
- Minha querida, é bom que ela pense isso... Assim vai se perguntar onde foi que ela errou...
Mais calma, voltei para casa com o celular desligado, não queria falar com Marisa, e imbuída desse sentimento escrevi mais alguns capítulos do meu romance e dormi experimentando a decepção de esperar em vão que Marisa me procurasse naquela noite.
Os dias se passaram e Marisa não me procurou, e como isso me doeu. Daniel e Diego me ajudaram muito a me controlar e não procurá-la também, até que o próprio Diego, trouxe-me notícias acerca do sumiço dela o que talvez justificasse o porquê de não ter me procurado. Marisa havia viajado a trabalho no mesmo dia que encontrei a tal morena em sua casa.
Os dias de exílio sem notícias de Marisa foram uma tortura, a fertilidade de minha imaginação agora estava contra mim, especulando e fantasiando sobre o destino dela, o intuito e com quem ela estaria. Durante esses dias, mal consegui escrever, apesar de animada com a aceitação do público que se mostrava completamente envolvido na estória, dando ao romance o caráter de web novela na medida em que diariamente novos trechos eram publicados.
A nova edição do jornal foi lançada, outro sucesso. Meus pais finalmente deram notícias, estavam voltando ao Brasil em breve. Minhas amigas me cobravam uma visita no fim de semana à capital. Daniel e meus novos amigos ocupavam meu tempo livre com programas divertidos e mesmo assim eu não conseguia desvencilhar meu pensamento de Marisa.

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