quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sociedade Secreta Lesbos: Capítulo 33

Capítulo 33



Na mansão, Amy andava de um lado para outro, esperando o som da música vinda do estúdio cessar para enfim subir ao encontro de Esther. Sentiu-se mal por saber tão pouco da vida da mulher que amava. Teve vontade de dividir com ela aquela dor, ou ao menos ficar ao seu lado dando todo carinho que precisava. O silêncio se instalou e ela não esperou até subir, ouvindo Esther falar ao telefone:

-- Vô, como isso aconteceu? Não se preocupe, eu sei o que fazer... Logo o senhor estará livre disso, eu prometo.

Timidamente, vendo a expressão de angústia da morena, Amy indagou:

-- Aconteceu alguma coisa?

-- Sim... Meu avô foi preso pela imigração... Tenho que tirá-lo de lá antes que ele seja deportado.

-- Nossa! Esther, eu posso ajudar, meu pai é advogado, pode indicar algum amigo daqui, espere um pouco e vou com você, só preciso dar um telefonema...

-- Não! Não quero nada de sua família!

-- Calma, Esther... Minha mãe foi rude com você, mas minha família tem influência, pode ajudar...

-- Não, Amy, eu disse não! Tenho meus meios de resolver isso, por favor, não se envolva nisso.

Esther desceu as escadas as pressas, saindo sem dar satisfações. No fundo sabia que a prisão do avô se tratava de uma retaliação de Michelle, sabia muito bem o que fazer para livrá-lo da deportação.

Michelle tinha esse trunfo para ter domínio sobre a morena, assim, a primeira coisa que Esther fez foi ligar para a ardilosa Sra. Roberts.

Michelle a aguardava em sua casa de praia. Com o mesmo ar de superioridade de sempre, atendeu Esther, e num tom sarcástico se dirigiu a moça:

-- Ora, ora, ora... Veja quem retorna com o rabo entre as pernas... Você achou mesmo que podia me desafiar?

-- Michelle, faço qualquer coisa, mas tire meu avô daquela prisão, ele não pode ser extraditado...

-- Vai ser muito difícil... Terei que usar de toda minha influência, você sabe que terei que ser muito bem recompensada...

-- É, eu sei, farei o que você quiser, mas, por favor...

-- Calma... Só preciso dar um telefonema, não precisa chorar...

Michelle já previa os passos de Esther, e já havia se adiantado para livrar o avô da morena da extradição, uma vez que fora a própria, quem armou para o senhor mexicano ser preso. Retornou à sala onde Esther a aguardava, angustiada, e comunicou-lhe:

-- Tudo resolvido... Seu avô já está a caminho de casa.

-- Muito obrigada, Michelle, vou aguardá-lo em casa, então.

-- Não, você terá tempo de vê-lo outro dia, hoje você fica comigo. Pode ligar para ele e se certificar que está bem e solto, mas hoje, vamos compensar o tempo perdido...

Como sabia que não tinha opção, Esther falou rapidamente com seu avô, comprovando a veracidade da informação de Michelle, e assim foi tirando seu casaco de couro, se aproximando da Sra. Roberts, que tomou a boca com fome, sugando os lábios de Esther qual fruta saborosa, e avisou sussurrando ao seu ouvido:

-- Hoje vamos dar uma festinha de comemoração pela volta da minha cadelinha... As convidadas nos aguardam lá em cima, vamos.

Saiu puxando Esther pelas escadas. Na sala de vídeo da mansão, outras três mulheres, do mesmo porte de Michelle, estavam sentadas nas poltronas luxuosas. Na mesa de centro, carreiras de pó dispostas sobre uma fina placa de vidro, na tela de plasma um filme pornô era exibido, as garrafas e copos de whisky estavam espalhados pelo chão acarpetado.

Diante das supostas convidadas, Michelle anunciou:

-- Meninas, nosso brinquedinho acabou de chegar, é hora da diversão!

Michelle serviu um copo de whisky a Esther, que num gole só sorveu todo conteúdo. Agachou-se na mesa de centro e cheirou o pó ali disposto, certa que só assim conseguiria pagar sua dívida com Michelle naquela noite.

Aqueles eventos na casa de praia dos Roberts eram frequentes, às vezes com mais pessoas. A própria Esther já participara, fazendo sexo com Michelle para suas amigas assistirem. Imaginava que aconteceria o mesmo naquela noite.

Os planos de Michelle eram outros. Aproximou-se de Esther sensualmente deixando seu hobbie de seda cair, mostrando assim seu lingerie de renda vermelha. Despiu Esther diante das convidadas, que olhavam à morena com o desejo óbvio. As mulheres mordiam os lábios e passavam a língua por eles evidenciando a excitação urgente ao ver as curvas latinas perfeitas.

Abraçando a morena por trás e lambendo seu pescoço, Michelle fez sinal para as demais convidadas, que imediatamente se aproximaram. Uma tocava o sexo de Esther, outra tomou o lugar de Michelle e apalpou com força os seios fartos da morena.

As três iam se revezando, explorando o corpo de Esther, que não podia evitar sentir prazer com as múltiplas investidas, enquanto Michelle inalava mais uma carreira de pó.

Levantou-se e se apropriou da morena, ordenando:

-- Agora me chupa, minha vadiazinha...

Empurrou a cabeça de Esther, que foi se ajoelhando entre as pernas de Michelle, invadindo o sexo encharcado da Sra. Roberts, excitando ainda mais quem assistia aquilo.

Michelle gemia alto, na medida em que Esther colocava uma de suas pernas em cima de seu ombro, promovendo uma abertura entre as pernas de Michelle que dava espaço total para penetrar dedos e língua, provocando o gozo inevitável daquela ardilosa mulher.

As demais se sentaram no sofá, assistindo a cena, pareciam gozar juntas, se tocavam ao testemunhar o orgasmo de Michelle, que por sua vez, empurrou Esther para o chão, abrindo as pernas da morena, e introduziu dois dedos comprovando a umidade abundante em seu sexo. Assim, chamou as convidadas para beberem do gozo do “brinquedinho” dela.

Uma a uma sugaram o sexo de Esther, que se contorcia de prazer. Ali travava uma luta contra seu próprio corpo, não queria sentir nada, mas isso era impossível. O toque e as línguas pelo seu corpo a davam uma explosão de sensações. Gozou.

O que ia se seguir parecia mais com o estilo sádico de Michelle Roberts.

Michelle voltou à sala com seus conhecidos brinquedos. Sentou Esther em uma cadeira algemando ambas as mãos da morena para trás. Abriu suas pernas, e introduziu o gargalo da garrafa de whisky no sexo de Esther, a expressão de dor da morena parecia excitar ainda mais o sadismo de Michele.

Esther tentava fechar as pernas, mas com um chicote, Michele lançava mão dele, chicoteando as pernas da morena. Enquanto isso, outra a puxava para trás pelos cabelos, mordendo agressivamente os lábios de Esther.

O cenário de orgia se transformara numa sessão de tortura, ao final, Esther estava machucada, com sangue nos lábios, marcas pelas pernas e pescoço. Não segurou o choro de revolta que nem mesmo a droga e o álcool ingeridos diminuíram.

Permaneceu ali ainda presa à cadeira, sentindo o sal de suas lágrimas pelo seu rosto e corpo feridos. Lembrou-se da doçura de Amy e dos momentos juntas. Desejou tanto estar abraçada a ela. Fechou seus olhos e pensou no seu rosto angelical na tentativa de minimizar a dor que dilacerava também sua alma.

Uma das mulheres retirou as algemas de Esther, imediatamente, ainda sentindo dores por todo corpo, a morena levantou-se procurando suas roupas. Seu desejo era correr para os braços de Amy, esforço inútil. Michelle não permitiu, escondeu as chaves da moto da moça, e quase no raiar do dia, Esther achou as chaves do carro de Michelle, e não pensou duas vezes, saiu daquela mansão qual escravo fugia de uma senzala.

Aconteceu você

Capítulo 2: Meu mundo caiu

Eu mal tinha forças para me levantar daquela poltrona, de repente me senti uma anã que mal alcançava o chão, afundada naquela cadeira, de tão pequena que me sentia pela dupla humilhação. Lentamente fui tateando minhas coisas, a ponto de pedir que a própria Cuca me beliscasse e me fizesse acordar daquele pesadelo. Saí do escritório da minha ex-editora chefe atônita, meio tonta, ainda assim percebi que cada passo meu era vigiado pelos meus antigos colegas por certo penalizados com minha situação. No fundo do corredor, Marcinha estampando na face um óbvio: “Tadinha...”.

-- Amiga, e aí? Você assistiu? Precisa de ajuda?

-- Eu... Eu... Onde é o departamento de pessoal?

--Ela te deu férias? Enfim alguma bondade nessa bruxa!

--Não... Ela me demitiu.

-- Meu Deus!

-- Eu... Preciso ir Marcinha.

Eu nem ao menos sabia que caminho seguir pelo prédio, que dirá pra minha vida dali por diante. Entrei no elevador deixando cair pastas, e ignorando-as no chão. Caminhando pela calçada mais parecia um zumbi, ironicamente, eu só conseguia ver as pessoas folheando as revistas de fofoca com minha humilhação estampada.

Minha volta pra casa pareceu nem acontecer, dirigi de uma forma automática, pra minha sorte não ultrapassei nenhum sinal vermelho, e suponho que algumas buzinas insistentes e desaforadas eram para chamar minha atenção, mas eu sequer me incomodei. Subi para meu apartamento pelas escadas, para continuar meu dia de cão, o elevador do meu prédio acabara de emperrar. Fingi não perceber os cochichos do porteiro e de algumas vizinhas fofoqueiras que conheciam meu noivo, a essa altura meu ex-noivo.

A repercussão do meu “chifre” teve proporções de Big Brother. Os meus telefones não pararam de tocar um instante, recebi telefonemas de amigos, de revistas de fofocas, e pra meu constrangimento total, de minha família.

Meus pais depois de aposentados resolveram assumir a condição de turistas profissionais, e mesmo numa excussão de pescadores ao Pantanal, souberam da minha tragédia sentimental, minha mãe famosa por falar pelos cotovelos ao telefone só chorava penalizada com minha situação, e meu pai berrava do outro lado xingando o meu ex-noivo Fernando.

Não me faltava nada pior acontecer, ao menos era isso que eu pensava. Afundada entre os travesseiros e o edredom, gastei uma caixa de lenços chorando minha decepção. Exausta acabei dormindo, acordei no susto com a campainha sendo tocada insistentemente. Aos tropeços levantei, e eis que abro a porta pras luluzinhas... O trio das meninas super-poderosas, as minhas melhores amigas desesperadas por notícias minhas:

-- Alex! Menina pensei que você estivesse morta! Imaginei o pior! Que você tinha se afogado no chuveiro, eletrocutada pelo secador, se intoxicado com coca-cola... -- Disse Marcinha enxugando o suor do rosto.

-- Ai falou a exagerada! Amiga como você está? -- Perguntou Renatinha preocupada, me abraçando.

-- Como vocês acham que estou? -- Perguntei já me deitando no sofá.

-- Ai tadinha da minha amiga...

Eveline já se aproximou do sofá me dando colo, as três ficaram levantando possibilidades, variaram do xingamento ao Fernando, até o escracho com a Izabel. Acomodaram-se pelo meu apartamento e naquela noite dormiram comigo. Naquela noite eu precisava mais do que nunca da loucura adorável das minhas amigas para acreditar que o dia enfim precedia outro melhor.

Os dias seguintes ainda me reservaram outra desagradável surpresa. A dona do apartamento que eu morava me ligou comunicando que não renovaria meu contrato de locação, uma vez que precisava do apartamento para seu filho que estava se mudando para a cidade com a mulher. ”timo: traída, sem noivo, sem emprego e sem teto.

Era hora de sair do casulo que se transformou meu apartamento e correr atrás do prejuízo, procurar emprego e agora outro lugar para morar. E quem achava que a notícia de hoje embala o peixe do mercado amanhã quebrou a cara... Descobri que minha humilhação pública ainda era manchete, e minhas entrevistas de emprego se tornaram entrevistas de fofocas, suspeitei também que minha credibilidade como jornalista fora abalada pela demissão do jornal o Dia.

Um mês se passou, e nada na minha vida mudou, exceto a minha despensa, que agora estava vazia, meu estoque de chocolates estava agora depositado na minha cintura, e as caixas de valium, pondera, e todos mais de tarja preta que eu guardava no meu armário não bastavam para devolver meu bem estar.

Até que, recebi um telefonema inesperado:

-- Alexandra?

-- Sim.

-- Não está reconhecendo minha voz?

-- Desculpe-me, mas não, e vou adiantando, se for algum colega de faculdade querendo entrevista, não tenho nada a declarar.

-- Ei sardenta! Calma aí!

O apelido de infância me chamou a atenção.

-- Quem está falando?

-- Pensei que eu fosse mais marcante... Não lembra mesmo Alex?

-- Ai... Não...

-- Sardenta, sardentinha, onde mais você tem essas pintinhas?

O refrãozinho infame me reportou à minha infância no interior, não podia ser outra pessoa que não o meu amigo Daniel.

-- Dandan?

-- Ai finalmente! Eu mesmo Alex! Como vai minha amiga?

-- Se eu te contasse você não acreditaria Dan...

-- Não precisa me contar, sua mãe me falou tudo...

-- Por que não herdei esse talento jornalístico de minha mãe? Ela te achou e ainda atualizou você sobre minha desgraça?

-- Não seja tão maldosa com sua mãe sardenta! Ela está preocupada com você, normal, e nos encontramos num cruzeiro pelo nordeste, só por isso eu estou sabendo do que aconteceu.

-- Ah entendi... Mas então Dandan, por isso você me ligou?

-- Na verdade amiga, estou ligando pra te fazer uma proposta.

-- Que proposta?

-- De trabalho... Não sei se você sabe, mas atualmente sou o secretário de cultura da cidade, e estou com um projeto de abrir um jornal local, e gostaria que você fosse minha editora chefe. O que acha?

A proposta era estranha, mas não poderia ter chegado à melhor hora. Mas mudar-me para o interior nem de longe estava nos meus planos. O interior fora cenário de minha infância, onde meus avós tinham um belo sítio. Daniel era um dos maiores motivos das boas lembranças de lá. Um amigo divertido e leal, não mantivemos contato nos últimos cinco anos, desde o final da minha faculdade, quando visitei o interior para o enterro de minha avó. Entretanto, nada me prendia aquela cidade, e a oportunidade de fugir do escândalo e começar uma vida nova. Meio que de supetão respondi:

-- Acho ótimo! Quando começo?

-- Assim que se fala sardenta!

Leis do destino

CAPÍTULO 2: A REPÚBLICA (LEX LOCI CELEBRATINIS)

* lei do lugar da celebração – Quando da celebração de algum ato, as suas formalidades são regidas pelas leis vigentes no lugar da celebração.


Por Têmis

Diana era a popularidade em pessoa. Não só pela função que desempenhava nas festas do curso como organizadora e DJ, mas pela simpatia e liderança que exibia. Era veterana do curso de direito, mas nem um pouco compromissada com os estudos. Pagava disciplinas em praticamente todos os períodos do curso, não fosse isso, se formaria em um ano como seus maiores amigos.

Entre seus amigos, estavam os gêmeos, Pedro e Lucas, moravam na república Álibi, no início da faculdade, viveram uma espécie de triângulo amoroso com Diana, mas atualmente, eram apenas os melhores amigos. Pedro e Lucas como a maioria dos gêmeos univitelinos, eram opostos. Pedro era mais centrado, considerado um dos melhores alunos da universidade, era bolsista de pesquisa, monitor de disciplinas, estava sempre envolvido com atividades de extensão, exatamente por isso, vivia ás voltas com Diana cobrando mais aplicação nos estudos da amiga, esforço inútil, Diana queria protelar o quanto pudesse o término do curso, na esperança de ganhar tempo para que ela conseguisse se sustentar fazendo aquilo que gostava: fotografia. Lucas não era um aluno relapso, até por conta da influência do irmão, que era também seu melhor amigo, mas, tinha outras prioridades na vida, entre elas, curtir sua fase de farras tão próprias da faculdade, assim, se tornara um das principais companhias de Diana.

Na república, junto com Pedro e Lucas, moravam mais seis rapazes, todos do curso de direito. As festas de lá eram tradicionais no campus, eram as mais concorridas, as mais animadas e logicamente as mais loucas. Existia até uma série de relatos que se transformaram em lendas no campus de fatos ocorridos na república. Falava-se em orgias, em uso de drogas, em rituais, mas, a maioria desses relatos, não passavam de boatos, de mitos que os moradores da república alimentavam, mantendo a fama da república.

Os trotes semestrais eram atração à parte na Álibi. Esse semestre não seria diferente. Diana comandou o som da festa com sua animação típica e estilo peculiar, mas, seu trabalho na festa não a impedia de prestar atenção nas caras novas, no comportamento dos bichos e veteranos, e obviamente de lançar seu charme para quem a observava.

Natália era uma das que observava a DJ com atenção, mesmo sem saber o direito o porquê. Talvez por que o jeito estiloso da moça era a representação das pessoas que Natália esperava conviver, pessoas “da capital”, bem diferentes do estereótipo provinciano o qual ela estava acostumada toda sua vida ou talvez por que, a energia de Diana exercia uma atração diferente em Natália, sensação que a moça do interior não sabia explicar.

-- Ela é uma figura não é?

Pedro se aproximou de Natália olhando na mesma direção da moça.

-- A DJ? – Natália perguntou.

-- É Diana o nome dela.

-- Ela é muito boa.

Pedro sorriu acenando em acordo, mesmo entendendo o adjetivo com uma conotação diferente da que Natália usou.

-- Está bebendo o quê? – O rapaz perguntou.

-- Já bebi tanta coisa diferente que não sei te responder essa pergunta.

-- Sendo assim, quer uma cerveja?

-- Aceito.

Pedro voltou com uma latinha na mão e serviu a moça.

-- Pedro, morador desse hospício.

-- Natália, caloura querendo enlouquecer.

Nesse momento, a conversa casual, tomou ares de paquera. Pedro apesar da aparência do “politicamente correto” tinha seu charme. Sua beleza não passaria despercebida por nenhuma mulher, especialmente por Natália, mais desinibida pelo álcool. A pele morena daquele rapaz alto de olhos castanhos de barba rala agradou a caloura. Os dois emendaram o clima de flerte, em meio ao barulho dos estudantes protagonizando coreografias sensuais ou bizarras sobre a mesa da sala e aos muitos gritos de incentivo dos que assistiam.

Pedro não saiu do lado de Natália, de certa forma, a desinibição da moça ajudaria a contrabalancear sua timidez, assim, continuou a lhe oferecer bebidas, as quais a caloura não recusou. A proximidade dos dois chamou a atenção de Lucas, que não hesitou em fazer a brincadeira tão recorrente entre eles. Aproximou-se de Natália quando Pedro se afastou, fingindo já conhecê-la, se passando assim pelo irmão gêmeo.

-- Vamos dançar?

Obviamente Natália não notaria a diferença das roupas dos irmãos, aceitou o convite acreditando estar dançando com Pedro, sua companhia na noite. Lucas, bem mais ousado que o irmão colou seu corpo na cintura da moça, ensaiando passos sensuais, dominando a moça até roubar-lhe um beijo na pista. Natália não resistiu, o beijo arrancou aplausos, e o casal atraiu não só a atenção de Pedro que voltava inocente da cozinha, como também de Diana.

Pedro andou a passos rápidos até a pista de dança, afastando abruptamente o irmão de Natália:

-- Pow Lucas! De novo essa brincadeira sem graça?! Deixa de ser mané!

-- Calma Pepê!

Natália olhava atônita para os dois.

-- Gente, eu acho que bebi demais, estou vendo tudo em dobro...

Os dois irmãos continuavam se estranhando. Pedro ficou do lado de Natália tentando se desculpar pelo irmão:

-- Natália não liga, esse é meu irmão gêmeo, não é capaz de conquistar uma mulher e fica se aproveitando de nossa aparência idêntica...

-- Ah cala a boca Pedro! Até parece que preciso me passar por você pra conseguir mulher!

A animosidade entre os irmãos se acentuou até Diana largar a pick-up para intervir no desentendimento dos amigos.

-- Ei que porra é essa aqui? Vão brigar por mulher agora? Ficaram malucos?

Diana lançou dois petelecos na cabeça de ambos.

-- Ah Di, para vai! – Pediu Lucas.

-- Não quero um piu de nenhum dos dois agora! Dispersando now! Depois teremos um conselho de família, e as duas figurinhas repetidas vão fazer as pazes nem que seja na marra!

Lucas deu de ombros, deu um beijo no rosto de Diana e se afastou. A loira encarou Natália com faíscas de raiva no olhar, em seguida fez um sinal para Pedro com a cabeça e o rapaz se aproximou dela:

-- Desde quando uma caipira é motivo pra você brigar com seu irmão? Presta atenção seu Mané, olha nosso pacto! Família poxa!

Pedro balançou a cabeça positivamente, enquanto Diana voltava para a sua pick-up, dissipando aparentemente a situação estranha que se instalara. Entretanto, o incidente foi o suficiente para transformar Natália em principal alvo dos olhares e atenção de Diana o resto da noite. A DJ não admitia que nada abalasse a relação dos seus dois melhores amigos, esse foi um dos motivos do triângulo amoroso ter se desfeito, o fato de Natália ter sido o pivô da discussão de Lucas e Pedro, tornou a moça objeto de sua antipatia, e uma coisa era certa: coitada de quem Diana antipatizasse.

Diana observou Pedro e Natália perseverarem na paquera, na troca de carícias, e finalmente, seu amigo beijando a caloura ardentemente.

-- Pedro... Eu beijei seu irmão pensando que fosse você...

Natalia se justificou, colando a sua testa na testa de Pedro depois de afastarem as bocas.

-- Eu sei gatinha...

A raiva de Diana só aumentava à medida que Pedro e Natália pareciam mais íntimos. Cochichou alguma coisa com uma veterana e esta, “acidentalmente” esbarrou em Natália, banhando-a com vinho tinto.

-- Ai que desastre! Desculpa!

A moça se desculpou cinicamente.

-- Não tem problema...

Natalia minimizou o estrago.

-- Ai, mas, sujou tudo... Venha comigo, vamos tentar dar um jeito nisso.

A garota arrastou Natalia pela mão, subindo pelas escadas da república, e entraram em um dos quartos.

-- Tira o vestido, vou lavar essa mancha rapidinho e passo o ferro quente, vai dá pra você usar.

-- Não precisa... Está tudo bem...

-- Ai, eu não vou me perdoar se você perder esse vestido tão fofinho por causa dessa mancha!

Natalia cedeu, mais para não parecer antipática, do que pelo incomodo de ficar com a roupa suja. Enquanto a moça saiu com seu vestido para lavá-lo, Natalia ficou no quarto, trajando apenas um conjunto de calcinha e sutiã de algodão, com estampas infantilizadas.

De repente, um blecaute parou a festa. Escuridão. Natalia sozinha naquele quarto, só de roupas íntimas nada podia fazer que não fosse esperar, entretanto, a algazarra que se fez, em meio a passos apressados correndo pela casa e gritos:

-- É fogoooooooooooooo, salve-se quem puder!

A moça do interior se desesperou, e saiu correndo do quarto, quando descia às escadas a escuridão se desfez, e a claridade expôs Natália diante de todos, só de calcinha e sutiã, e o sonoro: - Hurruuull! – tomou de conta da república. O macharal em coro berrava elogios ao corpo da caloura completamente desorientada olhando para todos que riam, apontavam, ridicularizaram a menina.

Natalia subiu as escadas apressadamente fugindo do constrangimento, sendo seguida por Pedro. Os risos ecoavam em sua mente, e o olhar de escárnio de Diana tirou a paz e a alegria do momento da sua entrada na faculdade.


CAPÍTULO 3: A POSTERIORI

A posteriori: Depois. Método que conclui pelos efeitos e conseqüências. Que vem depois. Segundo os acontecimentos previstos. É a etapa do conhecimento que advém da experiência, verificado através de percepções sensoriais só alcançadas na prática.

Por Têmis



Como aparecer na faculdade depois do escândalo que protagonizou? Era o que Natália pensou quando o despertador tocou. Na noite anterior Natália fugiu do alarde causado sob a proteção de Pedro, que como cavalheiro que era, providenciou roupas para Natália vir para casa, e a acompanhou até o táxi.

Não conseguiu dormir relembrando os risos, os olhares, as gargalhadas, a imagem de uma pessoa em especial lhe incomodava: o rosto de Diana.

Pensou no seu sonho, lembrou-se do quanto se esforçara para estar ali, na confiança que os pais depositaram nela, e levantou-se da cama. Impôs a si mesma a obrigação de comer algo antes de enfrentar a maratona de duas conduções para chegar à faculdade. O táxi da noite anterior lhe custaria algumas semanas sem lanche.

Na faculdade, andou apressada, evitando olhar para os veteranos, não sabia ao certo quem estaria na república na festa do trote. Mas sua atitude não impediu os cochichos dos calouros quando a moça entrou na sala do primeiro semestre.

O pesadelo não podia ser pior. Maldita tecnologia e os serviços 24horas das grandes cidades. Algum desocupado fotografou a exibição forçada da caloura no trote em trajes íntimos e revelou o filme a tempo de fazer fotocópias e distribuí-las pelos corredores do curso de direito.

Natália olhou para a foto pasma, pálida, trêmula.

Seu primeiro impulso foi de levantar-se e correr, precisou reunir todas as forças para não fazê-lo, torcendo para que o professor logo chegasse encerrando os buchichos que ecoavam pela sala junto com os risos. Mas, Natália descobrira precocemente e no pior momento que na faculdade ninguém chega na hora, inclusive os professores.

Suportou o quanto pode, mas, a piada de um colega mais engraçadinho foi a gota dágua:

-- Aí coleguinha, a calcinha de ursinho foi feita à mão pela mamãe?


Natália ergueu-se repentinamente e saiu correndo da sala, e caminhou atordoada pelos corredores. Quando ouviu um grito:

-- Sai da frenteeeeeeee!

O aviso não chegou a tempo de Natalia se desviar da menina que berrava de cima do seu skate. Choque, desastre e as duas se espatifaram no chão. Enquanto se recompunha da queda ainda no chão, Natália indagou a skatista sem lhe olhar:

-- O que deu em você pra andar com isso em plena faculdade?

Natália só ouviu um sorriso sarcástico, ao fitar a skatista constatou de quem se tratava:

-- “Isso” é um meio de transporte não poluente, que além de implicar em atividade física, é também divertido! Se “isso” não existe no cafundó de onde você veio, “isso” se chama skate.

Diana se refestelava no chão usando seu tom mais esnobe olhando para Natalia.

-- Ah! Você não só é imprudente e mal educada andando com “isso” por aí, como também tem outro defeito que eu detesto: sarcasmo.

-- Escuta aqui sua caipira, você estragou a festa que passei semanas preparando, e acabou de acabar com minha manhã perfeita! Sabe de uma coisa: não gosto de você!

-- Nossa, você acabou de salvar meu dia! Você imagina que ontem, no meu primeiro contato com os alunos do curso o qual eu passei meu último ano ralando pra conseguir entrar, mudei minha vida, deixei minha casa, minha família, pra morar numa quitinete fedida menor que a dispensa da casa dos meus pais em nome desse sonho, e imagina só: na festa de comemoração com meus colegas, alguém resolve me fazer de palhaça, atração de circo ou seja lá o que, me expondo de calcinha e sutiã, e ainda fotografam isso e espalham pela faculdade, na minha primeira aula, eu dispensei minha ansiedade para fugir das piadas e risos, e sou atropelada por uma menininha petulante e irritante, mas veja só que maravilha de notícia ela me dá: ela não gosta de mim! Isso mudou minha vida! Salvou meu dia!

Diana bufou. Observou Natália se levantar furiosa. Conteve o riso e perguntou:

-- Posso perguntar uma coisa?

-- O quê?

Natália perguntou irritada, praticamente rosnando.

-- Você sempre acorda com esse bom humor?

Natália apertou as mãos e dessa vez rosnou. Recolheu suas coisas espalhadas, e caminhou em direção às escadas que davam acesso ao térreo. Parou quando ouviu Diana berrar mais uma vez:

-- Ei, ow caipira!

Natália bateu a mão na perna, expressando sua irritação.

-- Fala!

-- Onde você está indo? O primeiro semestre é nesse andar!

-- Não tenho a menor condição de assistir aula ouvindo as piadinhas e aquelas fotos percorrendo a sala, já pensou se o professor pegar uma delas?

-- Você estava falando sério com esse lance das fotos?

-- Por que eu inventaria isso ow gênio? – Natalia revirou os olhos.

-- Mas eu não... – Calou-se antes de confessar sua participação no episódio da noite anterior – Se eu fosse você, eu não perderia a primeira aula da Mandimbú.

-- Han?

-- É... Aquele personagem de desenho animado... De Dragon Ball Z, não tem TV na cidade que você veio?

-- Garota deixa de ser ridícula! Minha cidade fica a poucas horas daqui!

-- Então, conhece o personagem? Esse é o nome que batizei a professora de Introdução ao Estudo do Direito.

-- Vou ter que conter minha curiosidade para conhecer essa figura dantesca que você está me descrevendo. Não conseguiria ficar naquela sala hoje.

-- Nunca ouviu falar que notícia de hoje embala o peixe amanhã? Você não é tão importante assim, já deu tempo esquecerem você. Venha assistir aula, assim você começa logo a se decepcionar com esse mundo de leis sem noção.

Natália estranhou o empenho de Diana em dissuadi-la da idéia de não assistir aula.

-- Por que você continua fazendo direito se acredita que as leis são sem noção?

-- Você acabou de entrar nessa faculdade, acha que vai ter respostas pra dilemas tão complexos como esse? Você ainda é bicho! Primeiro passo para entender é assistir meu duelo com a Mandimbú, vamos?

-- Espera aí... Você faz aula no primeiro período? – Natália perguntou surpresa.

-- Sou uma pessoa de coração enorme, permeio todos os semestres do curso com minha energia superior, com a luz do meu conhecimento... Aproveite essa generosidade em compartilhar minha sabedoria com vocês, meros bichos, e vamos logo antes que cheguemos depois de Mandimbú, você não ia querer atrair a atenção dela, acredite!