terça-feira, 10 de janeiro de 2012

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE - Capítulo 12

2.12 Tempus iam deleri
 O tempo não apagou

            Rosana sentiu seu peito sufocar quando Diana revelou que precisava encontrar Natalia pessoalmente.

- Honey? Você ainda está aí?

- Sim meu bem, estou.

- Está com essa voz por que minha querida?

- Nada demais minha loira... Saudades de você. Não pensei que você fosse demorar tanto ainda por aí.

- Eu prometo voltar o mais rápido possível.

            Por mais custasse a Rosana, a cantora conteve sua insegurança e o medo de perder a namorada para não pressioná-la, firmando seu pensamento na ideia de que lutar com o destino era inútil, só lhe restava torcer para que a história de Natalia e Diana estivesse mesmo no passado.

*******
            Diana chegou ao seu antigo apartamento em São Paulo e foi invadida por uma avalanche de memórias. Em cada cômodo ela assistiu ao filme com as lembranças de sua vida com Natalia ali.

            Na sala, reviveu o primeiro beijo e quase pode sentir o gosto dos lábios de Natalia, relembrou o momento em que selou um compromisso com a morena, entregando-lhe sua pequena argola de brilhante e quando a convidou para morar com ela. Caminhou pela cozinha e ali pode ouvir o som das risadas de Natalia quando lhe observava tentar cozinhar algo, sorriu emocionada com a imagem do sorriso de Natalia em sua mente. Abriu a porta do seu quarto escuro, onde algumas fotos da intimidade das duas ainda estavam ali expostas, e ressentiu aquele vazio no seu peito provocado pela ausência de Natalia em sua vida.

            Quando chegou ao seu quarto, Diana sentiu sua alma se rasgar tamanha era a saudade que sentira pelo amor que compartilhou naquela cama com Natalia, pelos planos que fizera ali com ela, pelo perfume inconfundível de sua ex-namorada que foi capaz de sentir revivendo aquelas memórias. Deitou-se na cama, e deu vazão a todo aquele pranto contido, a toda dor que escondera de si mesma, e ali sozinha abraçada ao travesseiro chorou o que parecia preso por anos.

            Adormeceu exausta da carga de emoções que experimentara nos últimos dias, especialmente nas últimas horas, ao acordar quase no final da tarde não protelou mais seu reencontro com Natalia, seguiu direto para o prédio do Ministério Público com o coração aos galopes pela ansiedade de rever seu grande amor.
           
            Diana concluiu que era melhor não procurar Natalia em seu gabinete, tendo em vista o conflito de interesses que sua visita poderia supor, assim, esperou no estacionamento do prédio o final do expediente, acreditando encontrar Natalia ali.
           
            Como esperava, ao cair da noite, Diana teve a visão tão ansiada. Como se fosse possível, Natalia estava ainda mais linda do que a loirinha podia lembrar. Cabelos na altura dos ombros com um corte moderno, um óculos de grau discreto e elegante, com seu corpo igualmente impecável depois de tantos anos vestido por um terninho justo de risca de giz o qual a promotora se desfez por conta do calor infernal que fazia em São Paulo naquele dia, deixando à mostra a camisa de manga ¾ com os primeiros botões abertos deixando à mostra um delicado sutiã de renda branca em um decote absurdamente sensual. Os passos firmes em cima de um scarpin sofisticado que combinava com sua bolsa tão vistosa quanto todo o visual da jovem promotora, reforçavam a beleza natural e singular da morena.

            Diana sentiu o mundo parar. Sua respiração acompanhava as batidas descompassadas do seu coração, o turbilhão de sensações a tomou com uma violência que não permitiu que seus músculos obedecessem à necessidade de se combinarem para dar um passo à diante para se aproximar daquela visão divina e perfeita que era Natalia à sua frente.

            Impelida pela atração que renascera no momento que avistou Natalia, Diana deu dois passos curtos em direção à ex-namorada, foi o máximo que conseguiu fazer com a segurança que lhe manteve de pé, temia que do contrário o tremor de suas pernas a fizessem cair aos pés da promotora quando este foi seu desejo escondido.
           
            O que Diana não poderia imaginar era que segundos depois seria sugada para uma triste realidade na qual Natalia era abraçada por braços que não eram os seus, sorria apaixonada para alguém que não era ela, e pior, era beijada por lábios que ao julgamento insano de Diana, não merecia tocá-los por que acreditava que ninguém mais no mundo os desejava tanto quanto ela os desejava naquele momento.

            A mesma força que lhe impulsionou a caminhar para Natalia, estancou os movimentos de Diana naquele instante. A loirinha assistiu uma Natalia descontraída, feliz, se derramar em carinhos para uma mulher que a olhava completamente encantada.

            Nunca sentira uma inveja tão descomunal por alguém como experimentara naquele momento por aquela mulher que estava com Natalia. Estática, Diana ainda viu sua ex-namorada entrar na caminhonete importada que Eduarda dirigia e partir dali destruindo qualquer frágil expectativa que a loirinha nutria desse reencontro.

            Atordoada com aquela frustração, Diana jogou o peso do seu corpo contra um carro que estava próximo a ela, disparando o alarme deste o que chamou a atenção de Carla que chegava ao estacionamento.

- Diana?!

- Carlinha? – Diana franziu a testa reconhecendo a antiga colega.

- Sim!
           
            As duas se abraçaram empolgadas.

- Você era a última pessoa que eu esperava encontrar aqui! – Carla comentou.

- Sinceramente nem eu esperaria me encontrar aqui! – Diana brincou.

- Você parece que continua a mesma hein, só os cabelos meio nova iorquinos, mas no fundo é o mesmo olhar de moleca de sempre...
           
            Carla disse afagando os ombros da colega.

- Eu fiquei sabendo da morte da sua mãe Di, sinto muito.

- Obrigada Carlinha, você sabe o que é essa dor não é? Eu me lembro de quando você perdeu a sua no início da faculdade.

- Sei sim Di, e se não fosse por você, pelos meninos, eu teria perdido meu semestre do curso.

- Você foi muito forte, o mérito é todo seu.

- Mas então? O que faz aqui? Estou curiosa...

- Não sei se posso te falar, é um assunto meio delicado, sigiloso, e não tem nada a ver em não te achar de confiança... É que... Eu vim na verdade procurar a Natalia, não a Natalia, a promotora Natalia Ferronato...
           
            Diana se atrapalhou para explicar até Carla lhe interromper.

- Di, eu trabalho na promotoria, sou assistente da Natalia.

- Ah! Isso facilita muito as coisas pra mim!

- No que posso te ajudar?

- Carlinha eu sei que vocês estão com o caso do meu pai, eu sei que existe todo um processo envolvendo segredo de justiça, enfim, eu adiei minha volta a Nova Iorque para tentar evitar que meu pai atentasse contra a carreira e até a integridade física e moral da Natalia.

- Calma Diana, explique-me direito do que você está falando.

- Podemos conversar em outro lugar?

- Claro, entre aqui no meu carro.

            Carla e Diana conversaram em uma dos bares mais tradicionais em happy hour do centro paulistano.

- Ok, agora me conte com calma.

            Diana relatou detalhadamente os eventos que precederam sua decisão e sua visita, em seguida entregou-lhe os documentos que tirara da Verdes Canaviais as fotos impressas do seu celular.

- Eu sei que esse material não poderá ser incluso no processo por não ter sido obtido pelos meios jurídicos, mas eu pensei que poderia dar alguma luz nas investigações. Mas, o principal de tudo Carlinha é você alertar Natalia sobre a segurança dela, meu pai é capaz de tudo. Eu quero fazer mais alguma coisa para proteger a Natalia, tentei negociar com meu pai, mas foi inútil.

- Di, fica tranquila, eu vou alertar a Natalia e acho que podemos providenciar proteção policial para ela, o delegado que está investigando o caso é o Lucas.

- O Luc? Sério?!

- Sério. Quanto a família dela, vou deixa-la alerta quanto a isso também para que eles possam se precaver.

- Muito obrigada Carlinha.

- Eu é que agradeço sua integridade e coragem de ficar contra seu próprio pai para proteger a Natalia e fazer justiça.

- Meu pai me tirou as pessoas mais importantes da minha vida Cacá, não posso permitir que ele permaneça livre cometendo esses crimes sem punição.

- Vamos lutar para fazer justiça então.

- Carlinha, mais uma coisa... A Natalia ela está bem? Eu a vi no estacionamento e...

- Entendo agora sua carinha quando a encontrei... Você a viu com a Eduarda não foi?

- É esse o nome da mulher que estava com ela?

- É, Eduarda, elas estão namorando há uns meses, na verdade reataram o namoro semana passada. A Natalia está bem sim Di, está feliz.

            Diana sorriu amarelo, baixou os olhos e disse:

- Que bom, fico feliz por ela.

- E agora? Você volta para Nova Iorque?

- Sim, amanhã mesmo acho. Tome meu cartão, são meus telefones lá, se eu for útil em alguma coisa nesse processo, ou para proteger Natalia do meu pai, não hesite em me ligar Carlinha.

            Diana pegou um táxi ali mesmo em frente ao bar depois de se despedir de Carla, exatamente no momento em que Natalia chegava ao mesmo bar com Eduarda. Por segundos a promotora observou a moça loira de rosto familiar entrar no taxi, passou por ela de cabeça baixa ao que parecia, enxugando as lágrimas do rosto.
           
            Natalia sentiu seu coração acelerar, não podia acreditar no que seus olhos viram. –“Era a Diana!” – Pensou. Imediatamente concluiu que seria improvável a presença da ex-namorada ali, e se martirizou por seu inconsciente ainda trazer à tona as lembranças de Diana, quando tudo que ela precisava era esquecê-la para ter uma nova chance com Eduarda.