domingo, 1 de abril de 2018

CAPÍTULO 32: LIÇÃO 28 - NÓS SÃO NECESSÁRIOS PARA UM NÓS

Sorri amarelo. Clarisse conseguia me ler muito bem, por mais que eu relutasse em lhe contar a verdade, essa hora fatídica iria acontecer.

-- Você está me seguindo, amiga?

-- Não, Luiza. Acabaram minhas aulas, estou indo para o estacionamento, você está com tanta pressa, por isso imaginei que estivesse indo a outro lugar.

-- Então, a pressa é de ir para casa mesmo.

-- Hoje é dia de rodízio de sushi, que tal? Assim, podemos continuar nossa conversa, você me deve uma longa história, não é?

-- Devo, Clarisse, odeio esse seu olhar investigativo e o tom de censura, sabia?

-- Olha aí você sendo paranoica, eu te censuraria por quê?

-- Não sei, com você eu sempre tenho a impressão de não corresponder às suas expectativas.

-- Ai Luiza! Para com isso!

-- A gente vai conversar, mas hoje não.

-- Luiza, eu sou sua amiga, não sua mãe, ou sua chefe, para estar avaliando e julgando você, não se esquece disso.

Abracei Clarisse e saí com uma fagulha de esperança que ela me apoiasse no meu novo relacionamento, aliás, um relacionamento que eu ainda lutava para que fosse real. De frente ao prédio de Marcela, experimentei pela primeira vez o receio de ser vista por pessoas conhecidas da universidade, antevi constrangimentos e possíveis difamações, talvez o medo de Marcela não fosse um exagero da parte dela.

Por mais pessimistas ou racionais que fossem meus sentimentos ou indagações nos meus momentos de reflexão, o mais louco e inexplicável, era o fato de que tudo se desfazia quando eu estava diante de Marcela. Bastava olhar para ela, e ver seu sorriso e eu ganhava o oxigênio para mergulhar o mais profundo oceano.

-- Oi, meu bem!

-- Oi, Malu...

-- Malu?

-- Maria Luiza? Ma-Lu?

-- Ah... Juro que pensei que você estava “shippando” eu e você.

Sorrimos juntas. Aquele sorriso em entorpecia, respirei fundo desejando selar meus lábios nele.

-- Marcela, eu preciso te beijar...

-- E o que você está esperando?

Não esperei mais. Avancei na boca de Marcela com voracidade, empurrando seu corpo contra a porta, imprimindo força nos quadris, o suficiente para ouvir um gemido escapar. Virei-a de costas contra a parede e não tardei em sentir a umidade que invadia seu sexo, tão molhado quanto o meu. Brinquei com meus dedos ali, me deliciando com o calor que sentia no meu tato e a pulsação crescente. Estávamos ofegantes, e aquela respiração descompassada na nuca de Marcela e excitava mais, a medida que eu pressionava meus dedos e suspendia os quadris dela, os gemidos dela se intensificavam me deixando completamente louca.

-- Não para meu bem... Eu... Ah... Vai... Isso... Aí Luiza...

Entre os meus dedos o gozo de Marcela jorrava fácil, e isso parecia um combustível para meu desejo insaciável por ela. Sentindo seus músculos tremerem, segurei Marcela pela cintura, deixando de frente para mim, com sua face corada e absurdamente linda, irradiando paixão e prazer. Beijei-a na mesma intensidade que nossos corações batiam, mas, dessa vez, saboreei sua língua, chupei, mordisquei seus lábios, lambi seu pescoço, e logo estava caminhando com minhas mãos de novo para o sexo de Marcela, parecia um ímã para meus dedos aquele cheiro, aquela umidade.

Queria mais espaço e consegui. Abri o botão e o zíper do seu short, ela ergueu uma de suas pernas, permitindo que meus dedos deslizassem fluidamente naquela cavidade que parecia se ajustar a cada investida, a cada movimento do meu corpo e boca. Meus quadris acompanharam os movimentos, sentia as unhas de Marcela cravando meu dorso, até que o gemido que era incipiente ganhou potência explodindo um rugido de prazer.

Abracei-a ofegante, sentindo os espasmos no corpo dela e os meus em cada músculo, sorri com uma satisfação inexplicável, talvez por que ainda enxergasse avidez nos olhos de Marcela, e eu queria mais, nossos corpos se comunicavam, se entendiam, ultrapassando todas as indagações racionais que nos afastavam.

-- Marcela, você é deliciosa... – sussurrei sentindo o arrepio dos poros de sua pele.

-- Eu sou tão sua, meu bem... – Marcela beijava meu rosto, trêmula.

-- Por que a gente não vai para cama? Quero tanto de você ainda...

Minha boca já buscava os lábios de Marcela, arrancando pequenos gemidos entre sorrisos.

-- Eu preparei algo para você, acho que não vai ficar bom se esfriar.

-- Algo esfriar com você? Não, meu bem... Você tem fogo... É quente... – Remexi meus quadris contra a cintura de Marcela.

-- Malu...

Marcela sorria tímida, eu me divertia com aquela reação, e me apaixonava mais pela dubiedade entre a timidez e a paixão que seu corpo manifestava.

-- Você e esse fogo todo... Eu nem sei o que fazer direito... – Marcela sorria ao falar.

-- Discordo, você sabe direitinho.

-- Ah Luiza!

Marcela cobriu o rosto ruborizado, aquela face de menina ficava evidente quando a timidez falava mais alto. Segurei suas mãos e beijei sua testa, contemplei seus olhos que brilhavam contra a luz, meu Deus! Menina e mulher em um corpo só, que encrenca eu estava me metendo!

-- Então, você fez um jantar para nós?

-- Jantar é exagero. Com um fogão de duas bocas, não tem como fazer um jantar à sua altura... É só um risoto de camarão...

-- Nossa! Amo risoto, amo camarão, amo você!

Deixei escapar, e acho que a surpresa de Marcela foi proporcional a minha. Queria fazer um “Ctrl+z”, mas, no mundo real isso não era possível. O silêncio se instalou, desviamos os olhares, com algum constrangimento, me afastei, praticamente denunciando meu arrependimento.

-- Você se incomoda em comermos na minha mesa imaginária?

Marcela apontou para o canto da sala. Duas velas aromáticas, duas almofadas, e um paninho de prato bordado no centro. Eu me emocionei, e talvez por isso, incidi no que eu julguei precipitado falar:

-- Eu amo você.

Para minha decepção, Marcela não me disse o esperado: “eu também te amo”.

-- Isso é um sim? Aceita?

-- Claro. Vamos ver se você me conquista pelo estômago também.

Respondi com um sorriso amarelo. Do que eu estava lamentando? Marcela me falou depois de nos amarmos pela primeira vez que me amava, e eu não correspondi à sua declaração, talvez ela tenha pensado que era precipitado, o que no fundo eu também achava que era.

-- Sem pressão, tudo bem!

Marcela me serviu o risoto sob meu olhar atento. Observei sua delicadeza, as vezes baixava os olhos quando se deparava com minha vigilância. Sentamos no chão, na sua suposta mesa imaginária, à primeira garfada, eu senti sua apreensão, fiz mistério, não esbocei reação. Mal sabia ela, que eu poderia comer terra com pimenta, se preparada por ela, eu iria lamber o prato, os beiços e dizer que estava estupendo. Não sei se o momento alterou meu paladar, mas estava tudo tão quente e salgado, que nem senti o sabor direito, escondendo a Paola Carosela que vivia em mim, disparei minha avaliação:

-- Hum, tem personalidade heim... Está interessante, forte, muito bom, meu bem.

Marcela apertou os olhos, franziu a testa, e deu a sua primeira garfada e logo derrubou minha máscara:

-- Malu, como posso confiar em você? Está horroroso!

Marcela tomou o prato de minhas mãos e se levantou.

-- Deixa de exagero, me dá aqui meu prato. Está bom!

-- Bom? Você reclama da comida do RU que para mim, é maravilhosa, imagina isso daqui que até pra mim está intragável, e olha que você nem provou o camarão, está completamente passado.

-- Meu bem, não seja tão dramática...

A essa altura eu já estava na cozinha, tentando acalmar a situação. Roubei um camarão da panela, e bem... Estava mesmo muito ruim, escondi a careta:

-- Onde você comprou esse camarão?

-- Malu! Larga isso, vamos pedir uma pizza.

Enquanto Marcela alcançava seu celular para pedir a pizza, abracei-a por trás, repousando meu queijo em seu ombro e lhe disse:

-- A gente pode voltar ao meu plano? E ir direto para cama?

Rocei meus lábios no seu pescoço afastando os seus cabelos.

-- E a gente vai ficar com fome?

-- Se depender de mim não... Não fico saciada tão fácil, e... Bem, estou aqui para você.

Marcela ruborizou mais uma vez. Afastei-me e comecei a abrir os botões da minha camisa, soltei meu cabelo, tirei os óculos. Não demorou para Marcela avançar em minha boca e me empurrar até o quarto me despindo vorazmente.

***********

Passaram-se duas semanas e o primeiro teste para meu relacionamento com Marcela surgiu. Nossos mundos tinham uma agenda diferente, o meu o aniversário da Cris, o dela, uma festa da turma, aquela do tipo que se firmava como tradição, na metade do curso de medicina, eles faziam a tal festa dos 50% médicos.

Apesar dos dias tranquilos e apaixonados que tivemos, nos esquivando dos assuntos que eram pontos de tensão entre nós, os planos diferentes para o final de semana nos colocou de novo na pauta: dois mundos.

Estávamos no meu gabinete, no final da tarde de sexta, quando o assunto veio à tona:

-- Meu bem, não sei se está sabendo, mas, amanhã vai ter festa da minha turma, vou dormir na casa da Jessica, por que vou de carona com ela.

-- Hum, na casa da Jessica, quer dizer na casa que ela divide com sua ex-namorada?

-- É, Malu. Jessica divide com ela, e com outra menina lá do trabalho da Laura.

-- Então, você vai à uma festa, sem mim, e de quebra, vai dormir na casa de sua ex-namorada. Você pensou ao menos em discutir comigo antes?

-- Não vou dormir na casa da minha ex, eu vou dormir na casa de Jessica, que vai me dar carona. A festa não aconteceu ainda, estou agora discutindo com você.

-- Está me comunicando só, já decidiu, deve ter combinado tudo com Jessica, não foi?

-- Luiza, eu não sabia que tinha que te pedir permissão para ir a festa da minha sala.

-- De repente some o “meu bem” o “Malu”, ficou nervosa, por quê?

-- Ah pronto! Não estou nervosa, mas, você ficou. Estou falando com você sobre uma festa que terá amanhã, vou de carona, não posso pedir que além de me dar carona a Jessica venha me deixar em casa.

-- Pensou que eu poderia ter planos para nós? Ou que sei lá, eu poderia te dar outra solução ao invés de você dormir na casa de sua ex?

-- Outra solução?

-- É... Além do mais, eu te falei que tinha o aniversario da Cris esse sábado, esqueceu?

-- Não esqueci, por isso decidi ir para a festa da minha turma, você tinha planos.

-- Planos de te levar comigo para o aniversário da minha amiga.

-- Espera, Luiza, você queria me levar para uma festa onde deve estar a maioria dos seus amigos, e nem perguntou se eu ia querer isso?

-- Mas... Eu quero te levar pra onde eu for, quero você do meu lado. Seria uma ótima oportunidade de você conhecer todo mundo, até para acabar com essa cisma que vivemos em mundos diferentes.

-- Luiza, vivemos em mundos diferentes. A prova disso é que não posso te levar para a festa da minha turma. Como explicaria sua presença lá?

-- Então nem passou pela sua cabeça me chamar? Tem vergonha de mim?

-- Vergonha? Luiza! Não é o RU, que você aparece e fica meia hora, socializa e ninguém nota os sete erros da imagem!

-- Eu sou um jogo dos sete erros no seu cenário de vida?

-- Nossa, você consegue distorcer as palavras heim...

-- Ué, estou tentando entender o que me diz. Saiu da sua boca essa analogia.

Marcela respirou fundo, juntou as mãos e lançou uma pergunta que equivaleu a um empurrão contra a parede:

-- Como você me apresentaria na festa da sua amiga? Essa é minha aluna? Essa é minha orientanda? Ou uma amiga?

-- Precisa de um título? Não poderia te apresentar pelo seu nome?

Minha resposta esquivada respondeu ao que Marcela indagava nas entrelinhas.

-- Você está lançando essa hipótese agora que eu te falei que ia a festa e dormirei na casa de Jessica, ou você considerou de fato me convidar para te acompanhar a esse aniversário?

-- Claro que considerei.

-- E deixou para me convidar um dia antes? Eu só estou te falando hoje, por que só hoje decidimos nossa ida, Jessica não ia poder ir por que iria para a casa dos pais, só hoje desistiu.

-- Marcela eu já te apresentei ao Ed, a Cris sabe sobre nós também, seria uma oportunidade de conhece-la, lógico que estava contando que ia te levar...

Enquanto eu dissertava minha argumentação, ouvi passos e a voz familiar de Clarisse:

-- Luizaaa, você está aí?

Arregalei os olhos e empalideci. Marcela percebeu, escondeu-se atrás da porta e eu segui ao encontro de Clarisse no laboratório.

-- Oi Clarisse! Como você entrou?

-- Ah, pedi ao Marcos para colocar a senha, ele estava na reunião do colegiado comigo. Estava te ligando, mas você não atendeu, ele me disse que você estava aqui.

Clarisse estava acostumada a me visitar no laboratório, no gabinete, por isso, foi seguindo para o escritório sem cerimônia. Se eu tentasse impedir despertaria a desconfiança dela, e pior, Marcela saberia sobre minha insegurança em falar dela a minha amiga docente.

Como quem se prepara para o impacto de um mergulho, fechei os olhos quando Clarisse entrou no escritório, e logo ouvi o tom de surpresa dela na saudação:

-- Oi! Não sabia que você estava acompanhada, Luiza! Eu te conheço, já te vi por aqui, tudo bem?

-- Oi, tudo bem.

Ouvi o diálogo com eco, como se eu estivesse bem longe dali. Tinha que decidir rápido, era a hora de mostrar para Marcela que eu estava disposta a trazê-la para meu mundo, mas para que isso acontecesse, tinha que enfrentar o julgamento e a sentença de Clarisse.

3 comentários:

  1. Não sei. Sinto que Marcela e Luiza não tem sintonia. Não combinam.

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  2. Minha autora preferida, estou sentusen tanta falta das atualizações de seus contos, por favor vokte...

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