sábado, 17 de março de 2012

Desculpem o atraso III

Demorei mas postei!
Desculpem meninas, mas além da falta de tempo, ainda sofro de uma dificuldade típica de escritores no final de uma estória...
Não vou nem anunciar se terça tem capítulo novo, mas juro que vou me esforçar.
Bjos a todas.

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE

2.30 Firmum in vita nihil
Nada (é) firme na vida. Tudo é inconstante, transitório. 




            Diana abriu um sorriso largo, carregado de emoção.


-- Disfarce? Sério? – A fotógrafa perguntou sem se desafazer do sorriso.


-- Acha que essa habilidade só você tem?


-- Eu não acredito que você está aqui...


-- Tinha que estar do seu lado nesse momento, e estou aqui transbordando de orgulho da minha futura mulher.


-- Se eu te beijar agora você vai considerar que te traí com uma ruiva sexy e misteriosa?


-- Provavelmente, e o pior ainda terei as provas de sua traição por que a imprensa não vai deixar passar esse flagrante.


-- Então vou me livrar desses fotógrafos o mais rápido possível e te levar pra minha casa, topa?


            Natalia mordeu os lábios maliciosamente deslizando o indicador pelo decote do vestido de Diana.


-- Não demore.


            Diana sentiu o calor voluptuoso percorrendo seu sangue e ao passar por Natalia sussurrou:


-- E não tire a peruca quando chegarmos em casa...


            Os convidados aos poucos deixaram o salão da embaixada, de alguns jornalistas e dos organizadores da exposição, Diana recebeu os melhores elogios e o apoio incondicional a sua arte e sensibilidade, os mesmos lamentaram que alguns meios da mídia focassem o escândalo do seu pai naquele momento. A fotógrafa apesar de incomodada com tal fato, sentia-se mais forte a ponto de superar o caráter desagradável daquela situação graças à presença da linda ruiva que lhe sorria mesmo de longe pelo resto da noite.


            Com o salão praticamente vazio, Diana se aproximou de Natalia intimando:

-- Hora de outra exposição ruiva: seu corpo nu na minha cama.


            Natalia chegou a ficar com as bochechas ruborizadas, especialmente por que nesse momento notou a aproximação de um dos seguranças da embaixada que cochichou algo ao ouvido de Diana.


-- Mas quem é? – Diana indagou curiosa, quase irritada.


-- Só me pediu que a senhorita o esperasse.


-- O que houve Di? Algum problema?


-- Um recado esquisito que acabei de receber. Um homem pediu que o esperasse aqui... Que estranho, quer saber? Deve ser algum repórter, vamos embora.



            Diana segurou a mão de Natalia e caminharam em direção a saída quando ouviram uma voz grave:


-- Diana! Espere.


            Reconhecendo aquela voz, Diana se voltou imediatamente, confirmando suas suspeitas, diante dela, estava seu pai.

-- Eu disse que viria. Esperei até que o salão esvaziasse, a imprensa se retirasse, não queria ofuscar seu trabalho com a lama que meu nome está arrastando.


            Atônita, Diana não sabia o que falar para Acrisio, visivelmente nervoso diante da filha.


-- Di, eu vou te esperar lá fora.


            Natalia avisou em tom manso ao ouvido da namorada.


-- Não... Fica... – Diana falou com a voz fraca.


-- Vocês não precisam de plateia meu amor, estou te esperando lá fora, o tempo que for.


            Acrisio observou o carinho e intimidade entre as duas, o que para Diana denotava constrangimento, mas o fazendeiro foi nada mais do que uma timidez inédita naquele homem seguro, arrogante e austero.


-- O que o senhor faz aqui? Pensei que estava na cadeia.


-- Ainda não fui condenado, vou esperar o julgamento em liberdade.



            A pausa silenciosa foi quebrada pelos passos lentos de Acrisio se aproximando da filha.


-- Minha filha eu estou muito orgulhoso de você. Fiquei na surdina escutando os elogios das pessoas sobre sua sensibilidade nas fotos,  eu não entendo nada dessas coisas artísticas, mas eu achei muito bonitas.


-- Obrigada. Mas não sei deu pra notar... Mas, a Vernissage está encerrada, e tenho compromisso...


-- Diana, eu sei que você está magoada comigo, depois daquela nossa conversa na fazenda eu não parei de pensar, de refletir no tempo que perdi tentando consertar você como se eu tivesse te quebrado em algum momento... Se eu soubesse o que te afastava de mim, se eu ouvisse sua mãe, se...


-- Muitos “ses” não é mesmo papai? Mas nada muda tudo que o senhor fez, tudo que o senhor é, agora um assassino confesso.


-- Diana eu errei muito na minha vida, não sou culpado desses assassinatos na Verdes Canaviais, mas sou culpado de outros.


-- Vai me dizer agora que confessou esses assassinatos para compensar pelos outros dos quais você não pode mais ser acusado?


-- Não só por isso... Sei que vou pagar pelos meus erros e pelos meus crimes, se não for aqui, será diante de Deus.


-- Nossa... O senhor agora virou religioso? Ou será que é mais um personagem para confundir a filha caçula?  O senhor merece um Oscar, sua atuação será muito importante diante do júri.


-- Não estou tentando te enganar minha filha. Os últimos anos me ensinaram muito, especialmente sobre perdas.


-- Não? Que ataque é esse de pai herói agora senhor Acrisio?


-- Não é heroísmo Diana. Só um acerto de contas com minha própria vida e com quem eu prejudiquei, e acho que os mais prejudicados por mim foram vocês, minha família.


-- Olha papai, eu abro mão dessa dívida. Pode acertar suas contas com os meus irmãos, com seus empregados, com a justiça, com Deus, eu não tenho nada a acertar com o senhor.


-- Você não, mas eu sim e nem que eu passe o resto da minha vida tentando isso, eu farei de tudo para ter meu anjo de volta na minha vida, preciso daquele olhar angelical para mim, ao menos mais uma vez para ter um pouco da paz que não tenho há tanto tempo.



            Diana não respondeu, Acrisio notou a loirinha desarmada, se aproximou e beijou a testa da filha e deixou o salão.


            Ao ver a saída de Acrisio, Natalia voltou para o salão e perguntou delicada:


-- Está tudo bem meu amor?


-- Sim, vamos pra casa meu amor.


***********


            Natalia sabia o quanto o aparecimento inesperado de Acrisio na exposição afetou Diana. Flagrou por várias vezes nos dias seguintes a namorada distraída, distantes, mas todas as vezes que tentava penetrar naquele campo de defesa construído pela loirinha em volta da sua questão com o pai, Diana se esquivava.


            O processo contra Acrisio caminhava e ganhava ainda mais vulto com a repercussão na imprensa e entre as famílias dos empregados da fazenda. Os depoimentos contraditórios das testemunhas intrigavam o Ministério Público e o delegado das investigações, especialmente quando uma das testemunhas sofreu um acidente misterioso um dia antes de depor, ficando em estado grave com politraumatismo.

-- Essa testemunha era muito importante para confrontarmos os depoimentos Natalia. Nilton Silva afirmou que ele era um dos principais executores das ordens de Acrisio, traria tantos esclarecimentos...


-- Eu acho sensato você manter um policial de vigília onde o Feliciano Dantas está internado, se o acidente dele não foi acidente...


-- Podem aparecer para terminar o serviço.


-- Isso mesmo.


-- Vou mandar dois homens para lá.


-- E eu acho que vou fazer uma visitinha ao hospital.


-- Natalia você pirou? Você não pode abordar assim a testemunha.


-- Relaxa Lucas, não vou comprometer o processo.


            Com a ideia fixa de chegar à verdade dos fatos que cercavam os crimes cometidos na Verdes Canaviais e a confissão de Acrisio Toledo, dois dias após o acidente com a testemunha: Feliciano Dantas, Natalia chegou ao hospital onde este estava internado em uma unidade semi-intensiva.

            Precisava conversar a sós com Feliciano ainda que extra oficialmente. Pediu discrição aos policiais que faziam a segurança do quarto, e entrou.

-- Senhor Feliciano? Eu sou Natalia Ferronato, representante do Ministério Público, à frente do processo contra Acrisio Toledo, no qual o senhor é testemunha.


-- O que a senhora faz aqui? Eu estou preso?


-- Acalme-se, é apenas uma conversa informal.


-- Eu não sei de nada...


-- Feliciano, você não precisa temer nada, está seguro...


-- Seguro? A senhora não conhece o doutor... Prefiro a cadeia  ao castigo dele.


-- Está falando de Acrisio Toledo?


-- O senhor Acrisio é um patrão bom... Mas é um homem muito poderoso, e perigoso também.


-- O que você sabe sobre os assassinatos que ocorreram naquela fazenda?


-- Doutora me desculpe, mas, eu não tenho nada pra dizer a senhora não. Eu já entendi o recado que me deram, olha onde estou.


-- Se você colaborar Feliciano, podemos proteger você, diminuir sua pena...


-- Doutora, ninguém pode me proteger daquele homem, se a senhora for esperta vai ficar alerta também...


-- O que você está querendo me dizer?


-- A senhora tem hora e dia marcado pra morrer doutora.


            Natalia sentiu o peso das palavras daquele homem como uma sentença decretada da qual não podia fugir. O rápido silêncio foi rompido pelo barulho da porta se abrindo, uma enfermeira adentrou o quarto com uma bandeja de medicamentos, e imediatamente Natalia reconheceu a loirinha:


-- Diana? O que você está fazendo aqui?


-- A Carla me disse que você estava aqui, vim correndo para cá, parece que estava adivinhando... Vamos embora, o Douglas está aqui, brigando para visitar o empregado dele!



-- Por que eu tenho que fugir dele? Não estou fazendo nada...


-- Será que dá pra você discutir outra hora isso?


-- Doutora a menina tem razão, não vai ser nada bom nem pra mim nem pra senhora, se o deputado encontrar a senhora aqui...


-- Vamos Nat! Agora!


            Diana arrastou Natalia e a tirou do quarto, para driblar Douglas, empurrou-a para uma das salas que funcionava como ambulatório e lá se esconderam.


-- Diana o que deu em você? Está pretendendo ingressar na carreira de agente secreto? Outro disfarce?


-- Natalia quando vi os dois policiais eu imaginei que eles não deixariam a filha de Acrisio entrar para visitar uma testemunha contra o pai não é?


-- Mas porque você veio atrás de mim?


-- A Carla me ligou desesperada, pelo risco que você corria vindo assim falar com esse homem perigoso, especialmente por que Lucas foi chamado agora na fazenda, encontraram o corpo de Moacir Silva, outra testemunha.


-- O comparsa de Douglas...


-- É meu amor... Não quis arriscar o Douglas te encontrar aqui “interrogando” outra testemunha que sobreviveu a esse suposto acidente. Se Danilo estiver certo, Douglas deve estar ainda mais enlouquecido com o aprofundamento dessas investigações e a possível condenação do papai.


-- Você acha que foi ele que matou o Moacir?


-- Não sei Nat... O papai também é capaz disso... Mas fizeram parecer suicídio.


 ************


            Apesar de não negar o medo que sentiu com a advertência de Feliciano, Natalia escondeu de Diana e dos seus amigos tal fato. No entanto sua apreensão se elevou a tal ponto que começava a interferir na sua rotina, se assustava facilmente, e qualquer pessoa estranha que lhe olhasse com atenção, certamente por sua beleza, a promotora interpretava como comportamento suspeito.

            A sua paranoia a acompanhava até mesmo nos sonhos. Frequentemente acordava assombrada pelos pesadelos que envolviam sua morte e infelizmente não podia contar com a presença de sua namorada todas as noites para apaziguar sua alma conturbada uma vez que a perseguição da imprensa só aumentou com o avançar do processo que acumulava mortes suspeitas de testemunhas.

****************
             
            Diana sentiu o peito sufocar, o chão sumir e seu mundo desabar, quando viu ali diante dos seus olhos, à frente do prédio onde sua namorada morava, os destroços do carro de Natalia, completamente destruído em uma explosão.

            Dezenas de policiais e o corpo de bombeiros cercavam o local, afastavam curiosos e socorristas atendiam feridos com os estilhaços da explosão e dentro do carro, do banco do motorista, retiravam o que sobrou de um corpo, completamente carbonizado.