terça-feira, 3 de abril de 2012

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE

2.34 De visu et auditu
No Direito: De vista e ouvido. Testemunha ao mesmo tempo ocular e auricular. 


            Com a alma leve, Diana retornou a São Paulo. No entanto, aquele bem-estar ficou abalado quando chegou ao seu endereço provisório onde Natalia a esperava.


-- Não queria mais voltar meu amor?


-- O tempo estava ruim, e só agora pouco a decolagem foi liberada. Tudo bem com você?


-- Um pouco preocupada, a audiência de instrução começará na segunda-feira e estou com receio de interrogar minha namorada.


-- Sobre isso, esperava que ao menos você me comunicasse que fui intimada, nem isso você podia me dizer?


-- Foi puro esquecimento Di, me desculpe.



-- Tudo bem, eu já esperava ser intimada. Não há motivo para se preocupar, repetirei aquilo que disse a você, Lucas e Carla.


-- Mesmo sabendo que isso incrimina seu novo querido pai?


-- Senti sarcasmo na sua pergunta Nat?


-- Desculpe meu amor, mas estou mesmo com medo que sua aproximação com seu pai te faça hesitar em falar a verdade e que isso é justamente o que ele quer...


-- Natalia espera um pouco... – Diana interrompeu. – É esse seu medo? Sua preocupação é que eu prejudique sua linha de acusação? Eu pensei que você estava preocupada com meus sentimentos em entregar meu pai justamente quando caminhamos para uma reconciliação...



-- Reconciliação? Nossa... Então você está mesmo disposta a perdoar tudo que ele te fez? Que fez a sua mãe? Que nos fez? Até tentar me matar Diana?



-- Natalia toda essa história tem dois lados, e estou dando a oportunidade de meu pai me mostrar o lado dele.


-- Incrível... Tenho medo até de o Acrisio ter o poder de convencer o júri todo com essa versão de “pai herói injustiçado”.


-- Incrível é como esse seu sarcasmo está me irritando ultimamente... – Diana deixou escapar.


-- Talvez tanto quanto me irrita seu lado de filha ingênua e carente.

           
            Diana encarou Natalia magoada.


-- Di me desculpe não quis dizer isso...


            Natalia se aproximou, mas, Diana instintivamente deu dois passos para trás.


-- Vou para meu apartamento Natalia, preciso trabalhar e estamos falando coisas que nos arrependeremos depois.


-- Não Di, não vai. Você acabou de chegar, não quero que você saia assim, magoada comigo...


-- Vamos nos magoar mais se eu ficar aqui... Amanhã nos falamos.


            Natalia fechou os olhos sentindo o desgosto de ver Diana saindo do apartamento sem sequer olhá-la. Diana por sua vez, amargava a mágoa e o medo do namoro delas não resistir aquele desgaste.

            Trancada em seu quarto escuro, onde revelava as fotos feitas na noite anterior na fazenda, Diana se viu dividida. Contemplando as fotos penduradas dela com Acrisio dançando a loirinha abriu um sorriso, mas imediatamente os olhos marejaram, talvez por emoção pelo carinho que sentia renascer por seu pai, mas principalmente por tal evento não ser compreendido por sua namorada e isso representar uma ameaça ao amor delas.

            Em outro tanque uma foto dela com Natalia estava submersa, acidentalmente uma das substâncias químicas fixadoras se espalhou pela água estragando-a. Uma estranha sensação abateu a fotógrafa, quase premonitória.

-- Posso entrar?


            Natalia bateu à porta surpreendendo Diana.


-- Claro que pode...


            Natalia se aproximou quase tímida.


-- Eu não consegui dormir imaginando você aqui sozinha com raiva de mim...


-- Saiu de casa a essa hora sozinha? Os policiais te seguiram?


-- Não... Eu vim quase fugida para cá...


-- Nat isso é perigoso, você está correndo risco.


-- Sim, estou. Correndo o risco de te perder, e isso está me apavorando Di.


            Diana abraçou Natalia ao notar a voz da morena embargada.


-- Eu não quero que seu pai nos afaste outra vez Di, e isso está acontecendo, mesmo sem que ele interfira diretamente...


            Natalia disse isso olhando para as fotos da namorada com o pai, que Diana acabara de revelar.

-- Shi... Não vamos falar do meu pai agora.


            Diana segurou o rosto de Natalia com as duas mãos e repetiu:


-- Meu pai não está nos separando meu amor. Nós estamos nos afastando. Mas, não vamos deixar que isso aconteça, eu te amo, você não vai me perder nunca...


-- Promete?


-- Não preciso prometer Nat, eu vou lutar pelo nosso amor a vida toda. Por que minha vida é você.


-- Mas eu sei que você está magoada comigo.


-- Nat eu quero que você seja minha mulher, quero compartilhar tudo com você, e não dividir minha vida em duas: uma com minha família e uma com você. Eu preciso que você compreenda isso e queira o mesmo que eu para que construamos nossa vida juntas.


-- Eu quero meu amor.


            Diana sorriu e beijou Natalia delicadamente. A morena continuou o beijo se insinuando, roçando os lábios pelo queixo e lábios de Diana, deslizou o dorso da sua mão pelo decote da blusa da fotógrafa, despertando o arrepio na pele da loirinha que suspirou profundamente.


            Natalia continuou suas carícias, e lentamente empurrou Diana até a porta, habilmente desabotoou o fecho do sutiã da loirinha, liberando-os para sua boca explorar sem pressa os mamilos eriçados perfeitos para seus lábios e língua se deliciarem em cada reação que o corpo de Diana tinha ao ritmo e intensidade daqueles beijos, mordiscadas que rapidamente encharcaram a cavidade da loirinha que segurava os cabelos de Natalia com força deixando evidente o prazer que sentia.


            O conhecimento que tinham sobre o corpo da outra conduziu os movimentos seguintes. O desejo estava em harmonia com cada toque, beijo, sussurro, gemido. As mãos preencheram o espaço quente que queimava, pulsava, se derretia com a volúpia incessante, inundando e fazendo transbordar pelos pequenos lábios, coxas, a manifestação do gozo incontestável de ambas.


****************


            A fim de preservar o bom clima entre elas, Natalia e Diana reservaram o domingo para o luxo de nada fazerem: conversaram amenidades, relembraram histórias, Diana pediu uma revanche no vídeo game, Natalia aceitou advertindo:


-- Eu pratiquei muito esses anos Di, tem certeza?


-- Eu também pratiquei esperando ansiosamente essa revanche!


            Natalia gargalhou enquanto Diana estreitava os olhos. Como há dez anos, a promotora surpreendeu a loirinha que antevendo outra derrota no jogo, apelou para o ponto fraco da morena.


-- Di isso é trapaça! Cócegas não!


            Diana ignorou a indignação de Natalia, e logo a namorada perdeu o domínio nos controles do game e foi eliminada do jogo.


-- Vitória! Ganhei! Diana como você se sente nesse momento? – Diana brincava fingindo entrevistar ela mesma – Bem me sinto gratificada, foram anos de esforço e graças a Deus deu tudo certo finalmente, os treinos, as câimbras nos dedos, os olhos cansados, nível a nível, vidas e vidas, bônus, pontos extras, cada golpe tem seu significado... – Gostaria de agradecer a alguém Diana? – Agradecer ao nerds que publicaram nos blogs esses poderes ocultos dos meus personagens, e claro à minha adversária, que é totalmente descontrolada e tornou mais fácil minha vitória!


-- Mas é muito boba mesmo, e mentirosa! Você não ganhou de maneira justa!



-- Má perdedora! A gente joga com as armas que tem!


-- Vou me lembrar disso na próxima partida meu amor...



            A descontração entre elas foi como um bálsamo naqueles dias turbulentos. No final da tarde, forçadas a voltar à realidade, pelo excessivo numero de chamadas de Carla e dos policiais que faziam a segurança de Natalia, Diana disse:


-- Melhor nós irmos para o outro apartamento meu amor, é mais seguro para você lá.


-- Você vem?


-- Sigo você no meu carro. Vamos juntas.


            Como combinado Diana seguiu o carro de Natalia, ao chegar a garagem do prédio, a promotora se apavorou ao notar um homem estranho à espreita que se escondeu atrás de uma das colunas quando percebeu Natalia notara sua presença. Imediatamente a morena ligou para Diana que entrava no prédio.


-- Di tem um homem aqui escondido... Muito estranho, acho que está me vigiando...


            Natalia falava rápido, nitidamente tensa.


-- Calma estou chegando, suba rápido.


            Natalia abriu o carro com pressa, seguindo para o elevador. Ouviu passos a lhe seguir e foi tomada por um pânico surreal que só se desfez ao ouvir um baque depois de uma freada brusca.


            Diana desceu do veículo com o extintor de incêndio quando o homem que seguia Natalia caiu do capô do seu carro no chão.


-- Tobias?!


            Diana indagou surpresa quando reconheceu o homem deitado no chão.


-- Oi dona Diana.


-- Mas o que você está fazendo aqui?


-- Fazendo o que seu pai mandou.


            Quando Tobias respondeu a Diana, foi o exato momento em que Natalia se aproximou:


-- Estou ligando para o Lucas. Você precisa de mais alguma prova que seu pai está por trás do atentado contra mim?


            Natalia disse encarando Diana.


-- Não pode ser... Tobias mas justo você? Não sabia que você fazia esse tipo de serviço sujo...


-- Ei espera aí dona Diana! Serviço sujo? Seu Acrisio só me pediu para ficar de guarda, seguir a doutora aí para que nada de mal acontecesse a ela.


-- Han? Você estava me seguindo! – Natalia retrucou.


-- Eu estava indo para meu carro que está estacionado aqui, não sou um profissional dessas coisas... Fiquei nervoso quando a senhora me viu... Só aceitei fazer isso pro seu Acrisio por que ele queria alguém de total confiança.


-- Não acredito nisso. Você vai ser levado para delegacia, vai dizer a verdade lá. – Natalia disse firme.


-- Mas doutora eu não minto, não quero ir pra delegacia não... Dona Diana...


-- Natalia... O Tobias está falando a verdade. É filho do administrador da fazenda do papai em Campo Grande, nos conhecemos desde criança, ele não faz esse tipo de coisa... Não machucaria ninguém...


-- É mais um capanga do seu pai! Tentando me tirar do caso.


-- Não doutora! As ordens do seu Acrisio foram pra proteger a senhora. Ontem a policia não saiu com a senhora, mas eu fui, eu e meu irmão.


-- Não espera que eu acredite nisso não é?


-- Tobias se acalme, você não fez nada errado, venha, deixe-me ajudar a te levantar, eu te machuquei?


-- Só uns arranhões dona Diana.


-- Você pode ir Tobias, obrigada e me desculpe.


-- Não! Ele não vai sair daqui! Estava ameaçando minha vida! Ele vai ser preso, o Lucas está vindo para cá. Ótimo, olha aí os policiais chegando.


            Os policiais responsáveis pela segurança de Natalia se aproximaram.


-- Natalia não houve ameaça nenhuma... Não há necessidade disso...


            Natalia ignorou Diana, narrando para os policiais o que ocorrera. A revelia das afirmações da namorada, Natalia orientou para que levassem Tobias à delegacia sob a acusação de tentativa de homicídio. Diana pessoalmente se encarregou de ligar para o pai que enviou Pedro imediatamente para liberar o funcionário.


            No apartamento Natalia estava mais uma vez nervosa, e irritada com a atitude de Diana.


-- Você acha mesmo que seu pai estaria me protegendo? Que piada é essa?


-- Acho, por que ele me disse que faria isso, e a prova foi que ele não contratou um segurança qualquer, mandou o afilhado dele fazer isso.


-- Ele te disse?!


-- Sim Nat. Disse que faria isso para me proteger também.


-- Como assim?


-- Ele sabe que eu morreria por você...


-- Diana?!


-- Eu disse a ele que ainda amo você.


-- Você o que?! Você disse que estamos juntas?!


-- Não, não disse isso. Só disse que continuo apaixonada por você...


-- Não acredito nisso...  Eu sabia que essa aproximação do seu pai com você tinha uma razão... Ele está te manipulando direitinho... Agora ele tem elementos para me tirar do caso oficialmente...


-- Natalia para! O mundo não gira em torno de você! A vida da minha família está de pernas pro ar, eu tenho um meio-irmão psicopata que tentou assassinar meu outro irmão e um pai que estou redescobrindo tentando proteger a nós, assumindo dezenas de atrocidades e tudo que você consegue ver uma grande conspiração para te tirar do maior caso de sua carreira?!


-- Diana não seja simplista as coisas não são bem assim...


-- Natalia chega. Você quer continuar discutindo esse assunto? Então faça sozinha. Estou farta.


            Natalia tentou argumentar, mas Diana bateu a porta do quarto com força. Impaciente a promotora seguiu para delegacia a fim de ficar a par dos esclarecimentos de Tobias a Lucas.

            O peão foi liberado por Lucas, já que nada tinha contra ele. Apesar de não estar convencida da versão de Tobias, Natalia retornou ao apartamento mais calma, no entanto a sensação quase insuportável de ver o abismo entre ela e a namorada se alargar lhe tomou mais uma vez. Deitou-se ao lado de Diana, mas não foi capaz de envolver seu corpo como sempre fazia ao dormir com sua amada, a distância abstrata agora lhe parecia física.

           
            Diana fingiu estar dormindo, se esquivando de uma nova conversa desgastante com a promotora. A desconfortável lembrança do presságio que tivera na noite anterior com o estrago acidental da foto das duas lhe tirou a paz e o sono.


**********


Natália chegou cedo ao Fórum, acompanhada de Carla e dos Seguranças, mal conseguiu descansar na noite anterior, a insônia foi sua companheira madrugada a dentro, aproveitou para repassar todos os pontos do Caso Acrísio – como ficou conhecido na imprensa – não poderia deixa pontas soltas, perguntas sem respostas, e, sobretudo, tinha que convencer a Juíza do caso de que o pai da sua amada era realmente culpado de todas aquelas acusações contidas na denúncia. Esta era a razão do desassossego do seu coração, estava diante do maior caso de sua carreira, conseguira processar um dos homens mais poderosos e influentes do país, mas não estava certa de que a sua relação com Diana resistiria a uma condenação, e a audiência de instrução e julgamento seria de suma importância, tanto para o desenrolar do processo quanto para o destino das duas.


Preferiu usar a entrada lateral do prédio, supondo ser possível despistar os jornalistas, enganou-se, logo foi avistada e praticamente atacada com um bombardeio de perguntas, Carla e os Seguranças formaram uma barreira humana para que a Promotora pudesse entrar no Fórum após ela declarar que só se pronunciaria ao final da audiência.

Natália repassava os questionamentos que faria as testemunhas quando Diana entrou na antesala do gabinete, estava acompanhada de Danilo e do Advogado, limitou-se a acenar com a cabeça, o que deixou a namorada ainda mais angustiada considerando os eventos da noite anterior e o mal-estar tácito entre elas. Não demorou muito para o Oficial de Justiça apregoar as partes, constatando a ausência do Réu e seu Advogado, que chegaram quando a Dra. Valentina Bianchini, Juíza do processo, acabara de determinar que o escrivão abrisse o termo da audiência.

Sob a tensão de Natália e o ar sarcástico de Pedro, os trabalhos foram iniciados com a oitiva das testemunhas arroladas pela acusação. As primeiras testemunhas não acrescentaram em nada o que já haviam falado por ocasião do Inquérito Policial, já que Pedro, estranhamente, afirmava sucessivamente que não tinha nada a perguntar. Quando Diana foi conduzida até a sala de audiências Natália sentiu suas pernas trêmulas, foi tomada por uma onda de pânico, quando Pedro sorriu sinicamente, entretanto tal angústia foi amenizada pelo olhar cúmplice da sua namorada secreta.

Quando a presidente da audiência terminou a qualificação de Diana, Pedro pediu um aparte a Magistrada:
-        Pela Ordem Dra. Valentina, quero Contraditar a testemunha Diana Toledo, por se tratar de filha de Acrísio Toledo, ora acusado, consistindo parentesco em primeiro grau. Pugno por não ouvi-la.

-        Dra. Natália quer dispensar a testemunha?



-        MM. Juíza, o Ministério Público manifesta a necessidade da oitiva de Diana Toledo, requeiro que ela seja ouvida na condição de declarante, sem a prestação do compromisso.

-        Faça-se constar em ata a Contradita de Testemunha apresentada pelo Réu, através de seu Advogado, bem como a manifestação da Representante do Ministério Público, o que passo a decidir o seguinte: “Por ser Diana Toeldo testemunha arrolada pela acusação, e considerando a necessidade de ser ouvida para a elucidação do presente processo, todavia, sem desconsiderar o vínculo biológico em primeiro grau da mesma com o Acusado, decido por escuta-la como declarante, sem a prestação do compromisso de dizer a verdade.



Fora travado naquele instante o primeiro duelo entre Natália e Pedro o que só aumentava a tensão para a oitiva da Loirinha. Conforme as praxes processuais a Promotora foi a primeira a indagar.

-        Srta. Diana você tem conhecimento sobre os corpos achados na fazenda Verdes Canaviais?

-        Sim.


-        E como tomou conhecimento?


-        Através da imprensa, já que não morava no Brasil quando se desencadearam os fatos. Tomei conhecimento pela internet na época da campanha eleitoral na qual meu pai concorria.


-        Na época em que soube de tais ilícitos como procedeu?

-        A princípio não me envolvi, como falei anteriormente, não morava no Brasil e não mantinha contato com meu pai. Na ocasião da morte de minha mãe, voltei ao país e me inteirei das denúncias, fui até a fazenda e encontrei documentos que demonstravam que de fato existia trabalho escravo e os encaminhei ao Ministério Público.


-        E quanto as mortes?


A cada pergunta aumentava a angustia da Loirinha, sentia-se em um impasse entre a obrigação de falar a verdade, mesmo sem ter prestado o compromisso, e a possibilidade de com isso contribuir com a condenação do seu pai.


-        A princípio as mortes eram apenas boatos, comentários entre os trabalhadores da fazenda, mas não existia prova concreta, até que o meu pai espontaneamente permitiu que o Dr. Lucas fizesse buscas nas terras da fazendo, indicando inclusive possíveis lugares, lugares estes em que os cadáveres foram achados.

-        A srta. Acredita que o Réu foi o mandante dos homicídios?


-        Não, o autor dos homicídios foi o meu irmão Douglas, meu pai está tentando proteger o filho.

-        O Sr. Acrísio sabia das mortes?


-        Sabia.

-        O que faz a senhorita afirmar isso?

Diana hesitou por segundos, olhou para o pai, que num gesto positivo quase imperceptível tranquilizou a filha.


-- Na ocasião em que visitei a fazenda, tive uma conversa com meu pai, cobrei explicações, e ele deixou claro, que o compactuava das práticas de trabalho escravo denunciadas, relatando que tais atitudes eram necessárias para manter a ordem, cobrir os gastos, enfim... Deixou sub entendido que por vezes punições mais severas eram aplicadas lá.




-        Sem mais perguntas Meritíssima.



Natália não queria prolongar o sofrimento de Diana com aquelas perguntas, receava, porém, que Pedro não iria ter a mesma preocupação, o que foi confirmado pelas perguntas que se seguiram.


-        Diana Toledo, qual a sua relação com o seu pai?


A Loirinha engoliu a seco aquela pergunta, não sabia a resposta, talvez nem existisse resposta, tudo que sabia e sentia era que estavam tentando reconstruir algo que havia ficado no passado, que estavam se permitindo redescobrir o amor entre pai e filha.


-        É como toda relação de pais e filhos, possuímos nossas desavenças que estão cada vez mais no passado.

Acrisio sorriu discretamente, emocionado.

-        Essas desavenças não seriam o motivo pelo qual você esteja tentando se vingar do seu pai?


-        De forma alguma, acredito na inocência dele nesse caso.




-        É contraditório afirmar acreditar na inocência depois de se aliar com seu irmão e servir seu pai numa bandeja de prata para o Ministério Público. O fato da Srta. ter forjado tantas provas contra o Sr. Acrísio não estaria ligado ao fato de há cerca de dez anos ele ter chantageado a família da sua então namorada?


Diana empalideceu, tentou retrucar a pergunta, mas só conseguia balbuciar meias palavras. Natália agindo muito mais por medo, lembrando em muito aquela caipira impetuosa que no passado confrontou o Senador para defender o seu amor, interviu naquele massacre.

-        Dra. Valentina, o Advogado de defesa está fazendo da oitiva da declarante uma sabatina pessoal, que em nada acrescenta ao processo.

-        Dr. Pedro, mantenha o foco de suas perguntas ao objeto do processo e não em problemas familiares existentes entre a declarante e o acusado.


Diana suspirou aliviada por não ter que responder aquela indagação. Pedro se mostrava cada vez mais sarcástico, com sorrisos irônicos e perguntas capciosas.


-        Diana, no dia do falecimento de sua mãe alguns jornais noticiaram que a filha caçula de Acrísio Toledo havia prometido de vingar do próprio pai, em uma discussão em ambiente público, isso é verdade?


-        É, mas...


-        Sem mais perguntas Meritíssima.


-        Está dispensada.

A Loirinha ainda estava digerindo a pergunta, quando Pedro a interrompeu, respondeu sem pensar, sem escolher as melhores palavras, a fim de exprimir o que realmente havia acontecido naquele dia tão difícil em sua vida, estava vivendo um pesadelo. Pedro, que um dia fora um dos melhores amigos, havia direcionado todas as perguntas com o intuito de distorcer suas respostas. Tão logo, deixou a sala, desabou num pranto inconsolável, estava exausta de toda aquela situação, o Advogado tocou em feridas não cicatrizadas, o que ocasionou uma avalanche de sentimentos contraditórios, e quando Carla chegou ao corredor do Fórum procurando Diana, a pedido de Natália, não a encontrou mais.

Depois de Diana, Danilo foi o próximo a ser ouvido, ficando claro que da parte de Pedro a sabatina a Loirinha se tratava mais de uma vingança pessoal que da defesa de seu cliente. No decorrer da audiência foram ouvidas as testemunhas de defesa e por último o interrogatório de Acrísio, que manteve a linha do réu confesso, atribuindo a si mesmo a autoria de todos os crimes pelos quais estava sendo processado. Ao final da instrução, depois de apresentadas as devidas alegações finais por parte da acusação e da defesa, a Juíza sentenciou, pronunciando Acrísio Toledo e Nilton Silva para submetê-los a julgamento pelo Tribunal do Júri.





NOTA DE CAPÍTULO: O final desse capítulo foi escrito com maestria pela leitora beta, Têmis.