quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Capítulo Novo!

Olá meninas!
Capítulo novinho e adocicado para vocês sorrirem nessa quinta-feira que para mim será de descanso ufa! Quem me conhece sabe que me preocupo com o nível glicêmico das minhas leitoras, portanto, esse mel todo desses últimos capítulos tem que ser controlado não é? huahuahuahua
Capítulos tensos aguardam nosso casal de protagonistas.

Sei que estou em falta com vocês nas respostas dos comentários, mas não é por falta de vontade viu? Além da correria habitual, ainda me envolvi em outros trabalhos, rs, e minha net tem me dado além de muita raiva um prejuízo de tempo rs, até respondo os coments, mas a pagina fica fora do ar e aí cadê disposição de escrever tudo de novo? Perdoem-me!

Mas, desde já, obrigada a Val, Suh, Lidy, Lala, Adriana, Lu e Laila pelos últimos coments, me divirto muito os lendo.
bjos e até terça com novo capítulo!

Mas, não deixem de passar sempre por aqui, quem sabe solto uns spoliers do capítulo 20?kkkkkkk

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE - Capítulo 19

2.19 Parva scintilla excitavit magnum incendium
Pequena centelha desencadeou um grande incêndio. Provérbio que se aplica a pequenas coisas capazes de provocar consequências desastrosas. 

            Natalia fechou os olhos demoradamente amargando a dedução dos fatos que desencadearam a reação estranha de Diana. Para confirmar sua inferência, leu a mensagem enviada por Eduarda.

            Diana bateu a porta do banheiro com força diante do silêncio de Natalia. Mas sua retirada embravecida do quarto não durou meio minuto, retornou do banheiro com os olhos vermelhos cobrando explicações da promotora.

- Qual sua condição para ficarmos juntas para sempre Natalia? É eu aceitar ser sua amante? A poderosa moralmente inabalável promotora Natalia Ferronato não pode se aliar a uma Toledo Campos não é?

- Di, para com isso. Você sabe que não tem nada com seu nome ou a reputação de sua família. Eu posso te explicar tudo, acalme-se.

- Estou esperando essa explicação Natalia.

            Diana cruzou os braços diante da morena numa postura desafiadora.

- Di... Não estou medindo forças com você, nem muito menos sendo interrogada. Desfaz essa cara e se sente aqui ao meu lado, vou te contar tudo.

- Nem venha com essa sua vozinha mansa achando que vai me enrolar doutora!

- Di... Por favor?

            Natalia bateu a palma da mão na cama apontando onde Diana sentar. Ainda nervosa a loirinha assentiu se acomodando à frente da morena.

- Eu ia te contar tudo ontem mesmo, mas, você pediu que não falássemos de assuntos chatos ontem se lembra disso?

            Diana meneou a cabeça um tanto contrariada.

- Minha demora ontem teve um motivo. Fui até o aeroporto para falar com Eduarda antes que ela viajasse a trabalho para Miami.

- Natalia dá pra me poupar dos detalhes românticos do seu namoro com essa loira azeda?

- Diana! Deixa de birra! A Eduarda até se parece com você!

- O quê?! Você está doida! Imagina! Olha se você está tentando me acalmar com essa conversa, está conseguindo justamente o contrário!

- Dá pra me deixar falar? Não ia falar nada romântico implicante! Fui lá porque não sei por quanto tempo ela ficará fora do país, e queria definir minha situação com ela, antes de vir correndo para você.

- Você ia terminar com a Eduarda no aeroporto?

- Eu sei, parece insensato, mas eu não concebo a ideia de trair, enganar, especialmente alguém que só me amou. Queria estar livre pra você Diana.

- Ok... E o que deu errado no seu plano? – Diana falou mais calma.

- Aconteceu que quando eu surgi afobada naquele saguão, a Eduarda interpretou como um gesto romântico e sem me deixar chance de explicar as verdadeiras razões de eu estar ali, me pediu em casamento colocando na minha mão esse anel.

            Natalia mostrou descontente a joia no seu dedo.

- Deixe-me ver se entendi. Você foi terminar o namoro com a Eduarda e ao invés disso ficou noiva dela?!

- É, mais ou menos. Fiquei tão surpresa, foi tudo tão rápido, a Eduarda ali toda melosa diante de mim, fiquei tensa imaginando que ela fosse até se ajoelhar fazendo uma cena... Não consegui falar nada, nem sim nem não...

- E com isso ela entendeu que sua resposta foi sim, e agora você está noiva de outra, na cama comigo!

- Diana imagina minha situação?! Acha que estou confortável com isso? Mas desfazer aquele equívoco ia ser difícil naquela situação, vi que foi inapropriado terminar um namoro naquela circunstância, mas já era tarde, logo a última chamada para o embarque dela foi anunciada, não consegui nem me situar direito naquela confusão...

- E não fez nada para desfazer o mal entendido, só se calou. De novo! Natalia qual o seu problema em dizer NÃO?  Qual o problema com sua voz pra sumir quando outra pessoa decide sua vida?

- Diana eu ia falar, mas não deu tempo!

- Natalia isso é um remake! Foi assim quando íamos assumir nosso namoro há dez anos quando o Pedro salvou sua vida e Laura te declarou namorada dele e você simplesmente calou, consentiu adiando a verdade e você lembra no que deu isso?

            Diana relembrou indignada andando pelo quarto.

- Diana não é tão ruim assim! A situação é diferente agora, somos mais maduras, vivemos muita coisa para chegarmos até aqui, não vou deixar se repetir o que nos separou com aquele mal entendido. Eu vou esclarecer tudo com a Eduarda assim que ela voltar ao Brasil.

- Quando ela volta?

- Não sei, nem ela sabe. O pai dela exigiu a presença dela em algumas negociações, ela é filha única, então você imagina o quanto o pai deposita confiança nela...

- Não me interessa a vida dos Lancester Natalia. Resumindo: não tem data para você terminar esse noivado não é?

- Qual o mal em esperar mais alguns dias Diana? Ficamos separadas oito anos, isso não vai mudar nossos sentimentos nem nossos planos.

- Ah discordo! O retrospecto da nossa história mostra que um dia é muita coisa! Além do mais não quero ficar mais um dia separada de você Natalia! Termine por telefone então.

- Você está sendo infantil Diana. Acaso você vai terminar com a Rosana por telefone também?

- Não! Não posso fazer isso. A Rosana está lançando o primeiro disco dela no mercado, é um momento delicado para ela, e mesmo que não fosse nunca faria isso com ela. Eu seria uma filha da mãe!

- Você não faria isso com a Rosana, mas está me pedindo que eu faça isso com a Eduarda. É isso que entendi? Dois pesos e duas medidas?

- Não dá pra comparar Natalia. Eu tenho uma vida com a Rosana, moramos juntas. Ela é uma pessoa leal, que foi meu porto seguro no último ano, sem contar em outros momentos da minha vida nos quais só pude contar com ela. Não posso agir de uma maneira desleal com ela.

            Foi à vez de Natalia se levantar indignada.

- E o que te faz concluir que não devo a Eduarda o mesmo tratamento? Acha que o que tenho com ela é menos importante do que o que você tem com a dona florida? O que faz a miss dos jardins ser tão especial?

- Quem é a implicante e infantil agora? – Diana indagou irritada.

- Qual é Diana? Sentiu-se ofendida tomando as dores da sua “companheira”? Você a ama não é?

            Diana engoliu a intenção de responder à provocação de Natalia que fazia caras e bocas ao se referir a Rosana. Ponderou as palavras para continuar a discussão.

- A Rosana é especial sim, e não merece que eu a deixe, a traia, minta e mesmo assim é o que estou fazendo por que amo você. Não vou terminar minha relação com ela por telefone, o farei pessoalmente, depois do lançamento do disco dela, que deve ser ainda esse mês. Não quero perder o respeito e a amizade dela.

- Nem com a Julia você teve toda essa integridade... Responde Diana, você a ama?

            O tom enciumado de Natalia estava exposto nos seus olhos apertados.

- Não preciso e não tenho porque mentir para você. Amo. Amo a Rosana por tudo que ela fez por mim, você não sabe de um terço do que ela fez. Mas, o meu amor por ela é composto de amizade, gratidão, respeito, admiração, tudo que amo nos meus amigos.

- Você dorme com todos os seus amigos?

- Nat... Essa discussão está saindo do foco.

- Engano seu. O foco é ainda o mesmo: nossas namoradas. Melhor dizendo sua companheira não é?

- Correção: a minha companheira e sua NOIVA.

            O ciúme instalado acalorando ainda mais aquela discussão beirava a comicidade com as expressões caricatas de ambas ao se referirem às rivais.

- Você precisa mesmo ficar usando esse anel?

            Diana disse emburrada olhando para o chão. Natalia mal percebera que se esquecera de tirar o anel antes de chegar ao apartamento de Diana no dia anterior como eram seus planos. Sem pestanejar retirou a joia e armada com seus olhos e sorriso apaixonado se aproximou da loirinha erguendo o rosto dela:

- Olha pra mim Diana.

- Não quero... Nem consigo te ver! O brilho desse anel está ofuscando minha visão.

            Natalia não segurou o riso.

- Quando falei de você não perder seu jeito de moleca não me referia a essas pirraças Diana! Vou te colocar de castigo assim!

            Qual criança mal criada, Diana deu de ombros, se esquivando de Natalia.

- Di, olha pra mim meu amor.

            A voz dócil de Natalia desfez a resistência da loirinha que ergueu os olhos encarando a promotora.

- O que você está vendo? – Natalia indagou.

- Que você está escondendo suas mãos. – Diana respondeu rabugenta.

- Não estou escondendo nada.

            Natalia expôs as mãos a fim de que Diana atestasse que o anel fora retirado.

- Não tem nada mais ofuscando sua visão. E agora olhe para mim e me diga o que você está vendo.

- Isso é uma pegadinha? Eu tenho que responder de uma maneira fofa e romântica o que enxergo nos seus olhos ou eu tenho que falar de verdade o que estou vendo?

            Natalia balançou a cabeça negativamente e sorriu.

- Você não existe... Responde a verdade. Olhe com atenção para mim e responda o que você está vendo?

- Uma remela no canto do olho?

- Deus! Eu amo uma criança de doze anos! – Natalia bufou revirando os olhos.

- Ai Nat não faz pergunta difícil... Dessas perguntas de mulher do tipo: alterei a cor do meu cabelo de castanho escuro para castanho escuro achocolatado ou que cortou meio centímetro repicado do cabelo, isso não vale! Só te vi uma vez na semana passada e seu cabelo estava ensopado e não foi o alvo principal da minha atenção na ocasião...

- Diana cala a boca!

            Natalia berrou impaciente, colocou os cabelos atrás das orelhas e repetiu:

- Agora Diana Toledo, você pode só me olhar com atenção e me dizer o que você vê?

- Hum... Vejo os olhos mais lindos da face da terra, o verde lodo que só fica bonito especificamente no seu tom de pele...

            Natalia se derreteu e sorriu motivando Diana a continuar:

- Arrisco dizer que esses olhos estão reluzentes com um brilho apaixonado, ou pode ser encantamento por estar vendo um espetáculo de mulher como eu diante deles...

            Diana fez charme arrancando outro sorriso tímido de Natalia.

- Continue...

- Hum... Vejo os lábios mais apetitosos do universo, essa simetria, essa angulação deles parece ter sido desenhada pelo artista mais talentoso de todos, Deus é mesmo o cara né? E quando esses lábios se articulam pra me dar esse sorriso tenho a certeza incontestável que Deus existe mesmo! Ele colocou perfeição em você.

            A timidez de Natalia dava lugar a uma emoção pacificadora.

- Você descreveu meus olhos e minha boca. O que mais você vê?

- Suas bochechas... Estão vermelhinhas... Tímida doutora? Ou está excitada?

            Natalia mordeu os lábios arqueou a sobrancelha e respondeu:

- Os dois talvez.

- Estou perto de responder sua charada? O que ainda não vi no seu rosto?

- Sua visão não pode ser tão linear Diana. Como boa profissional de fotografia você deveria saber que uma imagem só é vista completamente com a visão periférica não é?

            Diana franziu a testa intrigada com as informações que Natalia acrescentava.

- Olhar para os lados? Ou seria ver você em 3D?

- Como você consegue ser tão boba hein? – Natalia perguntou depois de gargalhar. – Diana vou te dar mais uma chance, se você não conseguir ver o que estou tentando te mostrar vou recolocar esse anel só pra te castigar.

- Ameaça doutora? Será que posso te processar por isso?

- Fique à vontade, mas ainda sim a cumprirei.

            Encafifada com o mistério de Natalia, Diana se concentrou em cada quadro do rosto da morena, analisando-a como uma fotografia sua. Tal esforço teve sua recompensa quando notou na orelha esquerda da promotora a pequena argola de brilhante no segundo furo, a joia presenteada por ela ao selarem um compromisso antes de morarem juntas oito anos atrás.

            Imediatamente Diana sentiu seus olhos encherem-se de lágrimas de comoção. Um sorriso largo se desenhou em seu rosto, e Natalia entendeu que a loirinha encontrara a resposta à sua charada.

            Incrédula pela dimensão do gesto de Natalia, Diana colocou as mãos na própria cintura, sacudiu a cabeça negativamente, deixando o rosto ser molhado pela emoção.

- Assim você acaba comigo Nat... Eu pensava que você tinha se desfeito dela...

- Eu demorei anos para tirá-la daqui Di, relutante em me desapegar do nosso compromisso mesmo que não fizesse mais sentido, mas minha decisão de coloca-la de volta foi quase que instantânea quando resolvi vir pra cá ontem.

            A voz embargada de Natalia evidenciava sua comoção semelhante à da loirinha. Intempestivamente Diana abriu o guarda-roupa pegou sua carteira e de dentro de um compartimento dela retirou um embrulho minúsculo que abrigava a argola que formava o par com a de Natalia.

- Eu também demorei muito tempo para guarda-la, mas não consegui me desfazer. Enrolei nessa etiqueta que você provavelmente nem sabe do que se trata, mas, é da toalha que você me deu naquela cabana onde fizemos amor pela primeira vez.

            Natalia sorriu franzindo a sobrancelha.

- Não sou uma louca que sai rasgando tudo pra ficar com uma lembrança não... Não foi proposital. Quando enxuguei a bolsa da minha câmera essa etiqueta ficou presa no fecho e só percebi em casa, guardei e escrevi nela a data daquele dia.

- Vinte de fevereiro de 2003.

- Isso... Ali eu tive a confirmação que minha vida mudaria pra sempre, tive a sensação louca que eu ia te amar a vida toda.

            Natalia enxugou o rosto, tomou a argola das mãos de Diana e a colocou na orelha esquerda da loirinha e disse:

- Minha como eu sou sua. Naquele dia, hoje e sempre.

            Diana puxou Natalia para junto do seu corpo e a beijou, renovando aquele compromisso de amor, forte o bastante para suportar e tornar pequeno os empecilhos que surgiam contra elas.

- Então fica combinado assim? Vamos esperar para definirmos nossa situação com nossas respectivas “ex-namoradas” pessoalmente o mais rápido possível.

            Natalia inquiriu para checar o acordado.

- Sim, fica combinado assim. No entanto, não ouse me deixar de castigo longe de você até essa situação com Eduarda ficar definida, isso não aceito. Mesmo que tenhamos que voltar a nossa situação clandestina de amantes, prefiro isso a ficar distante mais tempo de você.

- Di... Você sabe que mesmo depois que eu terminar oficialmente com a Duda nós não podemos assumir nada, nem tampouco ser vistas em público juntas. Nossos planos e nossa relação tem que continuar em segredo, sabe disso não é?

- Sei sim doutora promotora! Mas, será temporário, e ao menos não terei que te dividir com mais ninguém.

            Natalia devolveu o beijo avidamente, detonando o desejo que as fez entregarem-se mais uma vez, se amaram até a exaustão, ignorando os apelos do mundo exterior e só voltaram a ligar os celulares quando a noite chegou apresentando-lhes a incômoda realidade de suas condições de namoradas distantes.

            No canto da sala Natalia ligava para Eduarda enquanto Diana atendia o telefonema de Rosana no quarto. Não conseguiram disfarçar a frieza nas palavras, fato que obviamente foi estranhado pela cantora e pela empresária. Ambas usaram o cansaço como desculpa, uma vez que estavam pouco dispostas a continuar aquela conversa, tamanho era o peso de suas consciências em ludibriar pessoas tão caras como elas.

- Duda me perdoe, mas estou realmente cansada, amanhã conversamos melhor.

- Meu amor é só cansaço mesmo?

- Sim.

- Ok então. Meu amor, eu acho que você precisará solicitar o visto para vir me visitar, vou passar mais tempo aqui do que eu pensava e do que eu queria também. Não estou entendendo os motivos do papai para essas transações com minha presença, ele está me escondendo algo, tenho certeza.

- Quanto tempo mais você acha que ficará?

- Não faço a menor ideia. É melhor que você venha, até mesmo porque quero que você conheça meu pai, ele está me cobrando para conhecer minha noiva, falei para ele que te pedi em casamento antes de partir.

            Natalia cerrou os olhos prevendo a decepção de Eduarda quando ela terminasse o noivado.

- Meu bem? Ainda está aí? – Eduarda perguntou.

- Sim estou.

- Ficou triste com minha demora não é? Desculpe-me meu amor, não queria que as coisas fossem assim. Vou te recompensar, eu prometo. Mas, providencie o visto.

- Duda depois a gente vê isso. Preciso descansar beijos.

            Antes que Eduarda pudesse emendar algum questionamento pelas reticências da namorada, Natalia desligou o telefone antecipando uma angustia inenarrável pela dor que causaria na empresária.
           
            Diana surgiu na sala com a mesma expressão de culpa.

- Isso não é fácil não é?

            A loirinha indagou obtendo a concordância de Natalia com um gesto.

- Odeio mentiras Di. E o pior, não sei por quanto tempo a Eduarda ficará lá, vai ficar cada vez mais difícil esconder dela a verdade. Ela não merece isso, a gente não merece isso.

- Eu sei. A Rosana não engoliu minha desculpa do cansaço. No entanto, ao menos com ela logo poderei contar a verdade. O lançamento do disco será no final do mês, estarei lá para apoiá-la e em seguida vou ser honesta sobre nós, espero que ela me entenda e me perdoe.

- Será que vai ser preciso eu fazer o mesmo? Ir para os Estados Unidos para encerrar essa mentira que se transformou meu noivado com Eduarda?

- É melhor você considerar essa possibilidade meu amor.

            Diana puxou o corpo de Natalia que se abrigou no seu ombro se rendendo ao carinho e conforto necessários para acalmar seu coração.

*********************

            O final de semana findou-se e com ele, a lua-de-mel improvisada de Natalia e Diana. Era preciso voltar à realidade, tal verdade tornou a despedida de Natalia no apartamento de Diana ainda mais difícil.

- Meu amor eu preciso ir. Não faz assim... Ainda tenho que ir em casa trocar de roupa, não posso aparecer com a mesma roupa que estava sexta-feira passada!

- Por que não? Tem alguma regra nova na promotoria sobre não repetir roupa no recinto?

- Di...

- Que horas te vejo? Almoça comigo?

- Meu amor, temos que ser cuidadosas... Não posso vir aqui todo tempo... Além do mais tenho muito a fazer, principalmente no caso do seu pai, o Lucas agendou outro depoimento do Nilton Silva, o laranja que seu pai arranjou pra tal cooperativa de trabalhadores, quero estar presente.

- Esse cara não  vai entregar nada. O Danilo disse que o papai e o Douglas mantém toda família dele, protege de todas as formas, ele não vai abrir mão disso só pelo beneficio da redução da pena ou se livrar dela. Do que adianta ficar livre pra ser assassinado pelo Douglas depois? Ou ver a família inteira passar necessidade?

- A gente sabe disso Di, mas, é o único caminho que temos por enquanto. Com o material que seu irmão nos entregou, temos novos nomes de trabalhadores desparecidos, temos esperança de ao menos conseguir um mandado para procurar indícios de corpos debaixo daqueles canaviais.

- Nat isso é loucura! Você sabe o tamanho daquela fazenda?

- Di a gente tem que tentar alguma coisa. Na justiça é assim, a gente procura veredas nos caminhos que a lei nos dá.

- Boa sorte então. Mas... Voltando à questão inicial: que horas te vejo?

- Eu te ligo tá?

            Trocaram beijos apaixonados ao se despedirem. Natalia cumpriu sua agenda conforme descrevera para Diana, todavia, não conseguiu esconder a felicidade que irradiava pelos seus olhos, e um sorriso tolo ao ler as mensagens de texto que Diana enviou durante todo o dia.

            Carla não pode deixar de perceber, não conteve a curiosidade ao perceber nas costas da chefe quando esta tirou o terno, marcas de unhas atrás do seus braços.

- Andou pulando a cerca chefe?

            Sentindo-se alvo de espionagem Natalia se entregou perguntando com a expressão assustada.

- Como assim Carla? Com quem você falou?

            Carla apertou os olhos e insistiu:

- Perguntei se você pulou uma cerca de arame farpado Nat porque seus braços estão arranhados... Se não foram unhas de mulher uma vez que sua namorada está fora do Brasil, deduzi que você podia ter se acidentado pulando uma cerca...

- Ah... Isso aqui? Foi num galho de árvore...

            Natalia tentou visualizar as marcas que sequer se dera conta antes, buscando uma justificativa a qual não convenceu a amiga.

- Natalia?

            A postura questionadora de Carla intimidou Natalia que fugia dos olhos da assessora a fim de não se entregar ainda mais.

- Natalia olhe pra mim.

            Carla manteve os olhos fixos na promotora aguardando a verbalização da verdade. Natalia revirou os olhos, suspirou e desabafou:

- Tá bom! Gente não tenho mesmo vocação para o crime... Eu mesma me denuncio não é?

- Hurrum...

- Passei o fim de semana com a Diana. Foi isso. O resto você pode deduzir não é?

            Natalia apontou para o braço arranhado.

- Eu sabia! Sempre soube que era questão de tempo para vocês se reconciliarem. Vocês estão juntas não é? Pra valer?

            Carla falou empolgada, não ponderando o tom de voz obrigando Natalia a sinalizar para que a assessora acalmasse os ânimos.

- Carlinha, por favor! Não precisa se tornar uma ação pública! Fala baixo!

- Desculpe... – Carla cochichou. – Conta tudo, estou curiosa!

- Foi lindo, foi maravilhoso, a gente esclareceu tudo, toda aquela mágoa foi dissipada, a gente se ama Carlinha, e vamos ficar juntas pra enfrentar Acrisio, Douglas e quem mais ousar nos separar. – Natalia respondeu com os olhos cintilando paixão.

- Ai que lindo! Mas e a Eduarda e a Rosana? Já resolveram tudo com elas?

- Não... Mas, vamos fazer isso assim que pudermos nos encontrar pessoalmente.

            Natalia detalhou o fim de semana e os acontecimentos que precederam a decisão de reatar a sua história com Diana para a amiga que prontamente reivindicou:

- Exijo o posto de madrinha desse casamento!

- Que casamento menina?! Ninguém falou nisso ainda. Temos uma pequena pedra no caminho antes de avançar nessa história se lembra?

- Um detalhe isso.

- Detalhe que exige sigilo absoluto sobre nossa relação Carlinha. Nem preciso te advertir sobre isso não é?

- Deeer! Claro né!
- Agora vamos voltar ao trabalho!

- Acho melhor você vestir o terno de novo, nada escapa aos óculos de Dona Joana...

            Natalia se apressou em seguir o conselho, despertando a risada da assessora.

***********

            Diana tentava se desvincular do pensamento em Natalia, mas isso era tarefa impossível. Por isso encheu a caixa de mensagens da promotora com mensagens apaixonadas e bobas, típicas do seu jeito amolecado de se declarar.

            A inspiração acordada pelo amor que lhe tomava fez Diana voltar ao Parque do Ibirapuera e lá se reencontrou com seu prazer em fotografar o lugar, dessa vez com a sensibilidade voltada a captar a felicidade das pessoas que transitavam por ali.

            Aproveitou o tempo livre para se reunir com o representante da embaixada americana no Brasil, responsável pelos eventos culturais da instituição, acertando os detalhes da sua exposição no país.

            No meio da tarde, Danilo ligou avisando sobre a chegada do pai, fato que implicava em uma difícil conversa entre ele e Acrisio, na qual, ele fazia questão da presença da irmã caçula.

- Dan você tem certeza? Minha presença pode soar como provocação ao papai, você sabe o que ele pensa de mim e que nossa relação é de longe a pior entre pai e filha.

- Diana é uma oportunidade para apelar para a razão do papai. Mesmo que você não acredite, nós dois precisaremos da proteção dele.

- Isso é tão surreal pra mim Dan. Minha vida sempre foi me proteger do papai...

- É hora de mudar isso. Estou fazendo minha parte. O papai chega a São Paulo essa semana, posso te esperar na fazenda quando ele estiver lá?

- Pode, vamos para cova dos leões!

************

            Como Natalia previu o depoimento de Nilton Silva não acrescentou muito nas investigações, mesmo assim, Lucas concluiu ser a hora de outra diligência na Verdes Canaviais tendo em vista o surgimento dos novos nomes de trabalhadores desaparecidos.

- Lucas me mantenha informada, acho que com os novos dados que o Danilo nos deu, essa visita pode ser mais produtiva do que as anteriores.

- Confio nisso também Natalia.

- Preciso passar no fórum, você vem comigo Carla?

- Anh... Eu vou depois Nat, se você não se incomodar...

            Carla inesperadamente ficou tímida, nervosa o que não passou despercebido pela amiga.

- Está tudo bem Carlinha?

- Claro... Preciso só de umas cópias de depoimento daquele outro caso para anexar no inquérito...

            Perdida em formular uma desculpa Carla deixava evidente que escondia algo quando Lucas interviu:

- Eu prometi entregar essas cópias a ela Natalia, ela está envergonhada assim porque ela perdeu as originais no dia daquela chuva e ficou com medo de te dizer.

            Natalia estranhou o clima estranho daquela justificativa desmedida para algo tão simples, especialmente porque identificara a mentira dos amigos, uma vez que os referidos documentos foram vistos por ela na mesma manhã. Deu-se por convencida para não protelar o constrangimento, suspeitando que aquele mistério só poderia implicar em um fato: tensão sexual. Preferiu questionar a amiga em um momento mais oportuno, mas interiormente ria da tentativa inocente dos amigos esconderem a relação. Apaixonada como estava ela só conseguia desejar que todos vivessem o que ela vivia, por isso se alegrou pelo que poderia estar começando a acontecer entre Lucas e Carla.


            O dia pareceu mais longo naquele dia para Natalia pela ansiedade de reencontrar Diana. Não tinha dúvidas do seu destino ao sair do trabalho: os braços da sua amada.

            Contando cada segundo para o final do expediente foi tomada mais uma vez pela angustia com a chamada de Eduarda no celular:

- Se eu não te ligar você não me liga não é? – Eduarda começou cobrando.

- Oi né Duda?

- Poxa Natalia o dia todo sem me dar notícias? Mal me respondeu uma mensagem!

- O dia foi conturbado, passei quase todo no depoimento de um acusado na delegacia, não podia me distrair.

- Distrair? É isso que sou? Uma distração?

- Eduarda de onde saiu esse seu lado dramático? Você sabe que meu trabalho não permite muitas vezes sequer que o celular fique ligado!

- Posso saber de onde saiu esse seu lado grosseiro? Estou ligando do outro lado do continente procurando o consolo e o carinho da minha noiva e recebo uma patada por isso?

- Você já começou a conversa com cobranças, o que esperava?

- Esperava que você ao menos se preocupasse pelos motivos os quais estou te cobrando algo...

            Natalia pode notar certo embargo na voz da empresária, fato que imediatamente lhe fez se arrepender e moderar seu tom com Eduarda.

- Desculpe-me Duda. O que aconteceu? Por que você está tão nervosa?

- Meu pai acabou de jogar uma bomba em minhas mãos Natalia.

- Que bomba?

- Transferiu todos os bens dele para mim, e me entregou a presidência do grupo.

- O que?!

- Isso mesmo que você ouviu. Ele não me adiantou nada, no meio da reunião da diretoria ele anunciou essa decisão. Só agora faz sentido a questão que ele fez da minha presença no fechamento de contratos e uma fusão com uma subsidiária na Europa.

            Pouco importava a Natalia os detalhes dos negócios da família de Eduarda, o que mais a angustiava era o que isso implicaria na sua pressa de resolver sua situação com a empresária.

- Meu amor você precisa vir. Nem que seja por dois ou três dias. Meu pai está irredutível, e essa nova condição vai mudar nossa vida, teremos que morar aqui...

- Ei! Calma aí Eduarda, não apresse as coisas...

- Como assim apressar Natalia? Nós vamos nos casar não é? Espera que vivamos casadas em países diferentes?

- Eduarda você me fez uma proposta de casamento afobada em um saguão de aeroporto e agora fala que tenho que me mudar para os Estados Unidos por conta de seus negócios, acha que é só assim? Não acha que eu preciso ao menos ser consultada? Eu tenho uma vida aqui, uma carreira, além de que sequer respondi ao seu pedido.

- O que você está querendo me dizer? Está recusando minha proposta de casamento?

            Eduarda já dava sinais de descontrole alterando seu tom de voz.

- Eduarda eu estou dizendo que precisamos conversar, e não acho que possa ser por telefone.

- Você tinha muito mais a perder no passado quando aquela Diana te chamou para fugir do país com ela, e você apesar de hesitar jogou tudo para cima e foi. Agora você é independente, eu te ofereço uma vida tranquila e estável com todo conforto, e você vem colocando empecilhos. Qual é o seu problema? Não me ama como a amou não é?

            Natalia respirou profundamente para controlar o impulso de confirmar aquela retórica. Não era daquele jeito que terminaria sua relação com Eduarda, suas regras de conduta moral não permitiriam tal crueldade.

- Duda você está falando bobagens, não vou continuar essa discussão. Vou providenciar meu visto, e tentarei embarcar o mais rápido possível para lhe encontrar.

            Sem dar chances de Eduarda retrucar, Natalia desligou o telefone. Se pudesse arriscar um palpite ela acertaria quando imaginou que naquele momento Eduarda lançara o celular contra a parede furiosa com a noiva.

            Depois da conversa tensa com a empresária, Natalia pressentiu que não seria tarefa fácil definir aquela situação e ficar livre para Diana. O mal estar gerado por aquele telefonema só foi minimizado quando dona Joana bateu à porta:

- Doutora, tem um motoboy aqui fora insistindo em entregar-lhe um embrulho pessoalmente.

- Embrulho?

- É, disse que a exigência do remetente era que a encomenda fosse entregue em mãos.

- Se passou pela segurança e pelo raio X não acho que seja uma ameaça não é?

            Natalia pensou alto.

- A senhora vai ou não receber?

            Dona Joana indagou impaciente.

- Faça-o entrar.

            O motoboy entrou no gabinete com seus trajes característicos da profissão e o capacete na cabeça apenas com a viseira levantada. Os olhos verdes eram familiares, mas Natalia tentou disfarçar o reconhecimento se adiantando para receber o embrulho.

- Quem enviou? – a promotora perguntou.

- Consta no protocolo de entrega.

            O motoqueiro de voz rouca exibiu o livro de protocolo para Natalia assinar e decretou:

- Tenho instruções para aguardar a sua resposta.

            Natalia estranhou, e tentando esconder o conteúdo do pacote de dona Joana que curiosa se esticava para conferir o teor da entrega, quando viu quem o enviou sorriu discretamente: Diana Toledo.

            Abriu com cuidado a caixa e dessa vez não conseguiu conter o sorriso largo quando conferiu do que se tratava: um pedaço de torta charlote, a preferida de Natalia. Fixado na embalagem um bilhete:

-“A sobremesa eu já providenciei, mas o jantar é por sua conta. Janta comigo?”.

- Diga-lhe que a resposta é sim.

            Natalia disse assinando o livro de protocolo do motoboy. Encantada com o gesto delicado de Diana, Natalia nem olhou para o motoqueiro que não saiu da sala mesmo já tendo cumprido sua missão.

- O senhor já está dispensado.

            Dona Joana praticamente expulsou o rapaz, enquanto Natalia esperava ficar sozinha para telefonar para Diana. Qual não foi sua surpresa quando coincidentemente ouviu um celular chamar da recepção, sem resposta. Intrigada seguiu o som e percebeu que coincidia com as chamadas do celular do motoboy que se afastava pelo corredor do prédio.

            Insistiu na ligação já que não obteve resposta, seguindo o som que ecoava pelos corredores junto com o motoboy que se afastava sem cessar seu percurso mesmo sendo seguido acintosamente pela promotora. Para surpresa de Natalia o motoboy entrou no banheiro feminino do andar, a promotora intrigada continuou a perseguição, dentro do banheiro se deparou com o motoboy que de frente para ela retirou o capacete exibindo seus cabelos grandes loiros e o sorriso estonteante que lhe desestruturava completamente. Diana com seu jeito de moleca disse:

- A gente precisa parar de se encontrar nos banheiros da cidade doutora.

            Tentando se recobrar do choque, Natalia balançou a cabeça negativamente, sorriu e não resistindo ao charme da loirinha a empurrou contra a porta, prendendo seu corpo no dela para um beijo faminto.

- Você é louca! E eu amo você ainda mais por isso!

            Diana envolveu a cintura de Natalia devolvendo o beijo quente, sugando a língua da morena acendendo seus desejos.

- Já podemos jantar agora?

            Diana sussurrou. Natalia sorriu e se rendendo aos apelos do seu corpo e tocada pelo gesto apaixonado da fotógrafa respondeu:

- Desde que o prato principal seja servido na nossa cama, sim podemos.

- Será servido onde você quiser meu amor.

            Naquele dia, o expediente de Natalia foi encerrado mais cedo pela primeira vez desde que assumiu o cargo no Ministério Público. Nos braços de Diana, Natalia retomou suas energias, outrora abaladas pela discussão com Eduarda. Aninhada no corpo da loirinha a promotora tinha a certeza que tudo mais era menor, aquele sentimento que unia ela e Diana era intenso e forte o suficiente para transpor qualquer episódio desagradável que riscasse seu estado de felicidade plena.

- Di... Vou precisar encontrar a Eduarda nos Estados Unidos, ela não tem prazo para voltar, aliás, talvez fique por lá para assumir os negócios do pai. Será que demora para conseguir o visto?

- Acho que posso adiantar isso para você. Tenho contatos na embaixada daqui agora por causa da exposição. Digo que você vai comigo e não terá problemas.

- E você vai comigo?

- Você acha que vou te deixar encontrar aquela loira azeda sozinha? Vai que ela tenta te roubar de mim? Não mesmo!

- Não sei por que você tem medo disso... Você que me roubou dela... – Natalia brincou provocando Diana.

- Não mesmo! Eu cheguei primeiro! Loira de farmácia enjoada é o que ela é.

- Não fala assim, ela é linda, se parece com você até.

- Está querendo me irritar Natalia? Olha que te ataco bem nos seus pontos fracos!

- Não! Cócegas não! Por favor, meu amor...

- Então pare de implicar comigo! Imagina se aquela branquela feiosa se parece comigo! Você não acha isso mesmo não é?

- Por que você acha que me encantei e decidi namorá-la? A primeira vez que a vi ela estava usando um chapéu igual ao seu naquele trote da USP, tinha os cabelos curtos, e ela até se arriscou como DJ pra me fazer uma declaração de amor.

            Natalia respondeu tentando sondar a reação de Diana. A loirinha apertou os olhos buscando reconhecer na promotora, sinais de verdade ou de pura implicância.

- Você namorou aquela cópia paraguaiana da minha beleza, charme e encanto por mais de um ano por que ela te fazia lembrar-se de mim?

- Mais ou menos.

            Natalia segurou o riso e Diana indignada comentou:

- Vou processar essa mulher!

- Ai pronto! Qual o crime dela?

- Infração de direitos autorais. Compor meu estilo não foi fácil oras!

            Natalia gargalhou apertando as bochechas de Diana, puxando seu rosto para um selinho.

- Te amo sua besta!

            Diana fez uma careta infantil arrancando outra gargalhada de Natalia. A morena se divertia com a fotógrafa nos pequenos detalhes do cotidiano delas, sempre foi assim: se divertia com o instinto competitivo da loirinha em tudo, no vídeo game, no baralho, até mesmo nas apostas, as quais, Diana sempre as perdia, em uma delas até teve que assistir aula de IED fantasiada de caipira.

Estar na companhia de Diana era sempre um convite a deixar a mostra o lado mais doce e leve de Natalia, brincava uma com a outra até caírem ao chão agarradas e logo estavam trocando beijos em meio a beliscões e mordidas, que se tornavam o início de uma tórrida entrega à paixão.

Quanto a Diana, nada lhe deixava mais à vontade do que os olhos atentos de Natalia e sua postura desafiadora que contrastava com sua ingenuidade disfarçada em amabilidade conferindo a morena o poder de despertar o que Diana tinha de melhor. Por isso, a fotógrafa queria sempre se superar, se apegava a detalhes no dia-a-dia delas para conquistar mais um sorriso, mais um beijo, mais um encanto da morena.

            Foi nessa rotina que Natalia e Diana se refugiaram dos problemas que as cercavam, como se aqueles instantes de felicidade pudessem ser armazenados como combustível para enfrentar o que estava por vir. Miriam estranhou o sumiço da sua roomate que praticamente só ia ao apartamento para pegar mudas de roupas, uma vez que dormia todos os dias com Diana.

Entretanto, a necessidade de enfrenta-los surgiu finalmente com o telefonema de Danilo a Diana.
- Diana agora é pra valer. O papai chegou a São Paulo, chegou a hora.

- Ok, vamos juntos então. Passe para me pegar no meu apartamento amanhã cedo, pode ser?

- Por mim, iríamos hoje. Mas, não estou disposto a enfrentar horas dirigindo à noite depois do acidente...

- E nem eu. Amanhã resolveremos isso.

            Natalia temia aquela conversa dos irmãos com Acrisio, especialmente pelo rancor existente de Diana para o pai. Naquela noite, sua missão era de velar o sono da loirinha que a todo o momento acordava assustada olhando o relógio do celular. A morena ainda viu Diana disfarçar, mas não conseguiu esconder os comprimidos guardados na mesa de cabeceira que tomara na madrugada, na verdade, Natalia se angustiou ao ver tal manifestação de vulnerabilidade da sua amada.

            Exatamente por isso, a promotora envolveu Diana em seus braços, encaixando seu corpo no dela, beijando sua nuca e cochichou tentando tranquiliza-la:

- Estou do seu lado meu amor, durma tranquila, protejo seu sono.

            Mesmo que as palavras de Natalia não trouxessem a solução para a dimensão do peso que assolava sua paz, Diana não pode deixar de se comover com o cuidado e a sensibilidade da promotora.