quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE - Capítulo 23

2.23 Flagrante delicto
No Direito: ao consumar o delito. Diz-se do momento exato em que o indivíduo é surpreendido a perpetrar o ato criminoso, ou enquanto foge, após interrompê-lo ou consumá-lo, perseguido pelo clamor público. 


            O avançar das investigações impetradas por Lucas encontrou um obstáculo físico que nem mesmo a boa vontade de Acrisio sanou. A extensão territorial da fazenda Verdes Canaviais atrasou e muito o trabalho da policia na busca dos supostos corpos enterrados ali.

            O único recurso disponível nessa vasculha eram os cães farejadores, no entanto, dada a dimensão daquela propriedade, aquela busca seria lenta e onerosa. A inexistência de uma pista sobre o local exato para determinar as escavações atrapalhou o que a polícia e o Ministério Público consideram o elemento fundamental para confirmar os crimes de assassinato.

            Nem mesmo o poder tirano de Acrisio e toda habilidade persuasiva de Danilo destruíram a aliança de lealdade que os antigos capangas de Douglas tinham com seu chefe. Eles poderiam dar a informação que a policia precisava, mas não o fizeram convencidos pelo agora deputado Douglas Toledo de que aquele tempo gasto nas buscas seria o suficiente para que ele conseguisse frear aquele processo, livrando-os das acusações.

            Não podendo mais adiar a viagem, e convictas de que o processo estacionara com aquele obstáculo, Diana e Natalia partiram para os Estados Unidos para definirem suas situações com as respectivas namoradas. Para o desconforto de Natalia, Eduarda orientou que a noiva mudasse o destino do desembarque para Nova Iorque ao invés de Miami, uma vez que estava lá a negócios.

            Viajaram juntas, escondendo de Eduarda e Rosana o horário de embarque, a fim de evitar constrangimentos na chegada de ambas as recepcionando no aeroporto.

- Meu amor, esses são os meus telefones aqui, e o meu endereço. Assim que eu conversar com a Rosana, deixo meu apartamento e vou para o Ritz, faça o mesmo quando conversar com a Eduarda. Já reservei o quarto em seu nome.

            Natalia parecia atordoada naquele cenário, Diana podia reconhecer a jovem caipira que chegara sozinha a São Paulo há uma década.

- Meu amor fique calma, eu não vou te deixar sozinha aqui. E não precisa ficar acanhada com seu inglês, pode ter certeza que aqui já estão acostumados com os milhões de sotaques estrangeiros arranhando essa língua.

- Sou uma caipira mesmo não é? Estou com medo!

            Diana teve vontade de colocar sua morena no colo e proteger toda aquela inocência, quando observou seu jeitinho tímido e apavorado olhando para aquele imenso saguão lotado.

- Essa cidade assusta todo mundo Nat. Venha comigo, eu deixo você no endereço que a Eduarda te deu. Ops... Acho que não vai ser preciso.

            Diana apontou para o um homem vestido de chofer segurando uma placa: “Miss Ferronato”.

- Parece que a sua noiva te fareja hein... – Diana disse enciumada.

- Di... Pare com isso meu amor. Justo agora você vai ficar de bico pra mim?

- Desculpe-me meu amor, você está certa. Vem cá!

            Diana puxou Natalia para trás de uma coluna longe da visão do chofer e beijou a morena demoradamente. Natalia sobressaltada correspondeu ao beijo, mas repreendeu Diana em seguida:

- Você enlouqueceu?

- Deixa de ser boba, aqui isso é normal. Ninguém nem liga, olha, ninguém olhando.

            Natalia olhou em volta e atestou o que Diana observara.

- Agora vá lá para sua limusine.

            Diana fez careta. Natalia sorriu, olhou de novo para os lados e roubou outro beijo de Diana.
- Te amo.

            Natalia disse segurando o rosto da loirinha ternamente.

- Também amo você minha caipira. Vê se não me enrola muito hein!

            Trocaram outro beijo e se despediram. Separadas por um objetivo em comum.

***********

            A cobertura luxuosa dos Lancester em Manhatan só fora vista parecida por Natalia, nos filmes hollywoodianos. Ainda mais quando o homem alto  trajando uniforme de mordomo pigarreou discretamente para chamar atenção de Natalia que distraída se concentrava naquele cenário cinematográfico.

- Com licença senhorita.

- Sim?

- Boa tarde. A senhorita Lancester pede desculpas, mas, não conseguiu chegar a tempo para recepciona-la, mas me encarregou de servir a senhorita em absolutamente tudo o que precisar. Por favor, siga-me vou mostrar-lhe seus aposentos.

            Natalia quase riu do excesso de educação do homem, que falava português com alguma dificuldade. Conteve-se e seguiu o homem até o quarto igualmente luxuoso sobre as escadas douradas.

- Onde ela está?

- A senhorita se refere a senhorita Lancester?

- Certamente. – Natalia respondeu contendo o sarcasmo.

- Está em reunião. A propósito ela pediu que a senhorita ligasse para esse número assim que estivesse acomodada.

            O mordomo entregou-lhe o cartão com o número de telefone e em seguida trouxe o aparelho para Natalia.

- Se me permite senhorita, posso fazer a ligação?

            Educadamente o mordomo se ofereceu, ao notar Natalia perdida com aquela infinidade de algarismos.

- Olá meu amor! Chegou bem? Perdoe-me não estar aí, mas a reunião está demorando muito mais do que eu previa. Albert está te tratando bem?

- Certamente senhorita. – Natalia brincou.

            Eduarda gargalhou.

- Que horas você vem?

- Prometo que o quanto antes. Estou morrendo de saudades amor. Beijos, te amo.

            Eduarda desligou com pressa. Natalia passou o resto da tarde ensaiando as melhores palavras para não magoar Duda terminando o noivado, mas sua expectativa foi mais uma vez frustrada com o comunicado de Albert:

- Senhorita com licença. A senhorita Lancester pediu que lhe entregasse esse embrulho e avisasse que as vinte e uma horas o motorista vem apanhar a senhorita.

- Como assim, ela não vem?

- Apenas comunicou que a aguardará no local que o motorista vai levar a senhorita, não me adiantou que lugar é.

- Mas... Que embrulho é esse?

            Natalia reclamava alto, nada satisfeita com a mudança de planos. Abriu o pacote que guardava um vestido curto e elegante, acompanhado de um sapato igualmente fino.

- Era só o que me faltava...

            Natalia bufou fatigada. Ao notar o olhar atento do mordomo conteve sua insatisfação. Deduziu que Eduarda estava aprontando algo romântico para lhe impressionar, e isso só agastava mais. Indisposta, preparou-se para o encontro com a empresária pressentindo que a noite desagradável ia ser pior do que ela esperava.

************

            Diana reencontrou seu apartamento vazio. Como imaginara, Rosana certamente já estava na casa de espetáculos onde se realizaria seu show.

- Oi Rô, e aí tudo pronto?

- Oi meu amor! Diana me diz, por favor, que você está me ligando do aeroporto!

- Não posso dizer isso Rô, por que não estou no aeroporto.

- Diana! Você me prometeu que estaria comigo hoje! Faltam poucas horas pro show...

- Rosana, calma! Estou te ligando de casa...

- De casa?! Em São Paulo?

- Bom, a vista mais me parece o Central Park, será que é o Ibirapuera?

- Di!

- Estou aqui em Nova Iorque minha querida. Daqui a pouco estarei aí tudo bem?

            Diana não protelou mais seu encontro com a cantora, notando seu estado de nervos pela estreia. Bem como a loirinha previu, Rosana estava tensa. Ao ver Diana a estreante da noite naquele palco se jogou nos braços da fotógrafa como se a loirinha fosse portadora de toda calma que ela precisava naquele momento.

- Que bom que você chegou meu amor...

            Rosana sussurrou ao ouvido de Diana, enquanto um dos produtores pediu à equipe para dar privacidade às duas.

- Ei... Você está tremendo? O que houve? Alguma coisa está dando errado honey?

- Não...

- Sweet... Você vai brilhar nesse palco essa noite como sempre, não tenho a menor dúvida disso. Chegou a sua hora, você não esperou, você batalhou por isso a vida toda!

            O apoio de Diana foi fundamental para fazer Rosana se concentrar no espetáculo como o maior passo da sua sonhada carreira. A casa estava cheia, o público de Miss Flower era bastante diversificado, uma vez que o estilo versátil de Rosana agradava diferentes faixas etárias, especialmente pelas versões de extremo bom gosto e sensibilidade que a cantora encaixava no seu repertório.

            Chegada a hora do show, Rosana se encaminhou para o palco depois de um longo abraço em Diana. A cantora estava trêmula e diante daquela pequena multidão o pavor lhe roubou a voz, as várias introduções instrumentais do primeiro número se repetiram e Rosana travada diante do pedestal demonstrava sua insegurança.

            Diana se angustiou. Como não podia simplesmente invadir o palco e arrancar Rosana daquele transe de pânico, foi rápida em achar uma solução.

-- Lery, o ponto de retorno que ela está usando também tem canal de comunicação?


-- Sim Diana tem. É assim que mantemos contato também com ela.

-- Ótimo! Preciso de um comunicador então.

            O diretor imediatamente deu a Diana o aparelho com o fone acoplado a um microfone facial, colocando a loirinha em contato com a cantora:

-- Rô chegou a hora minha querida. Não se esqueça de que essa noite é sua, todos aqui estão prontos para se render a você, solte sua voz e brilhe minha estrela!


            As palavras de incentivo de Diana encheram o peito de Miss Flower de entusiasmo e inspiração. Rosana contrariou até mesmo a banda que a essa altura suavizara o interlúdio com o apagar das luzes, e sua voz à lapela ecoou pelo imenso teatro da música carro chefe do seu disco, já amplamente divulgada nas rádios do país.

            Como Diana previra, a plateia estava pronta para se render a Miss Flower e foi ao delírio com o início surpreendente do show. Aliviada por sentir Rosana ficar mais à vontade no palco, Diana ocupou seu lugar em um dos camarotes reservados para a equipe de produção da gravadora para assistir e aplaudir a apresentação de Rosana.

**************


            Natalia estranhou a multidão em frente ao teatro. Imaginava que Eduarda escolheria um restaurante famoso e luxuoso para um jantar romântico, como era costumeiro, a empresária gostava sempre de impressionar.

- Mas que diabos a Duda está inventando agora?

           
            Natalia pensou alto.

            O motorista se dirigiu até a entrada lateral, que dava acesso aos camarotes do teatro. Inconsciente acerca do que se tratava aquele espetáculo, Natalia seguiu as instruções do segurança instruído por Eduarda para encaminhá-la até seu camarote.

            Enquanto caminhava até o local indicado, as luzes do teatro se apagaram e apenas as do palco se iluminaram para anunciar a atração da noite: Miss Flower.

            Atônita, Natalia sentiu o desconforto que seria aquela noite. Custou a crer que Duda armara aquela situação outra vez. Quando viu a loira, não escondeu sua insatisfação com aquela surpresa.

- Você está linda meu amor! Que saudade!

            Eduarda recepcionou Natalia no camarote, que correspondeu friamente ao cumprimento.


- Eu não acredito Duda. Não acredito que você fez isso de novo!

- Fiz exatamente o que para merecer esse tratamento depois de dias sem te ver?

- Essas suas surpresas Eduarda não tem graça. É outro teste? Para ver como me comporto de novo diante da Rosana?

- Natalia, que tal a gente começar de novo? Acho que você entrou no enredo trocado.

           
Natalia bufou fatigada.

- Eu não quero assistir esse show.

- Ok Natalia, está claro que tem algo muito errado com você, mas não é o momento nem o lugar para discutirmos isso. Estou aqui a trabalho também. Não sei se você se lembra, mas convenci o grupo a patrocinar essa cantora, meu pai acabou de agregar ao grupo um conglomerado de mídia e entretenimento, fez isso por minha causa, para que eu tivesse uma motivação a mais para assumir a presidência da empresa, essas pessoas que estão aqui nesse camarote, são pessoas importantes do grupo, e preciso que você se comporte à altura na condição de minha noiva, é pedir demais de você ao menos um pouco de simpatia?


            Natalia manifestou uma expressão ainda mais insatisfeita. Eduarda insistiu:

- Essas pessoas passaram a última meia hora me ouvindo falar da mulher incrível com a qual eu me casaria. Será que você se esforçar um pouco para fazer jus ao meu discurso?


- Não pedi para fazer propaganda a meu respeito, e não gosto de ser enrolada assim. Não quero assistir esse show Eduarda, não estou disposta a fazer tipo, vestir um personagem, quero conversar com você, temos assuntos importantes a tratar...


- Natalia chega! – Eduarda foi incisiva com um olhar que intimidou a morena. – Não sei de onde surgiu tanta grosseria em você. É melhor que se acostume com esse papel de fazer tipo, e vestir personagens para me acompanhar nos meus compromissos sociais e de negócios, mesmo não querendo, é sua obrigação como minha mulher.

           
            Com uma avalanche de desaforos represada na garganta, Natalia teve que engolir seco a delegação de função que Eduarda acabara de destinar a ela, sentiu fisicamente a desagradável sensação de calar-se diante da surpreendente arrogância da empresária ao deglutir com dificuldade a saliva tendo em vista o bolo que entalava seu esôfago.


- Podemos nos acomodar agora meu amor?

            Eduarda de novo fuzilou Natalia pelo olhar. A morena refletiu que o embate público com Duda não seria um bom precedente, considerando o que aquela noite ainda reservava. Não queria basear o término da sua relação com a empresária em meio a mágoas desnecessárias.

- Prometa-me que não haverá jantar ou comemoração depois do show.

- Natalia...

- Eduarda!

- Ok, sem obrigações sociais depois do show.

            Assim Natalia assentiu, e com uma simpatia forçada, mastigando o desconforto daquela noite cumpriu a obrigação que Eduarda impusera. Vez por outra se esquivava da mão da empresária que insistia em segurá-la constantemente. Mais uma observação tornou aquela circunstância ainda mais tensa e desagradável.

- Onde está o anel de noivado que te dei Natalia?

            Eduarda cochichou.

- Eu não... Está aqui na bolsa... É que...

- Estou usando o meu, não quero que pensem que uma Lancester cometeu a garfe de não presentear a noiva com uma joia apropriada. Coloque-o imediatamente.

            Outra ordem indigesta da empresária rasgou o esôfago de Natalia ao ser engolida. Ao menos a postura de Eduarda estava facilitando o desfecho que a promotora objetivava com aquela viagem. Nitidamente contrariada, colocou o anel.

            Como se faltasse mais um elemento para coroar o mal-estar da situação, Natalia avistou no camarote paralelo ao dela, Diana, encarando-a com o cenho franzido, expressando a interrogação acerca da sua presença ali. Discretamente Natalia fez um gesto qualquer disfarçando quando Duda percebeu sua inquietação.


***********


            Diana não entendia o que seus olhos enxergavam.

- Mas que diabos ela veio fazer aqui?!

            A loirinha se questionava, tentando manter a atenção na apresentação de Rosana, que dominava completamente o palco. Tal brilhantismo na sua performance teve um  momento comum em suas apresentações, quando a cantora elegia um hit atual para imprimir sua versão e seu estilo próprios. Para esse espetáculo, Rosana escolheu uma canção que parecia profética para Diana.



Make You Feel My Love    Fazer Você Sentir Meu Amor

 

 

When the rain
Is blowing in your face
And the whole world
Is on your case
I could offer you
A warm embrace
To make you feel my love

Quando a chuva
Está soprando no seu rosto
E o mundo todo
Depende de você
Eu poderia te oferecer
Um abraço caloroso

Para fazer você sentir o meu amor


When the evening shadows
And the stars appear
And there is no one there
To dry your tears
I could hold you
For a million years
To make you feel my love

Quando as sombras da noite
E as estrelas aparecerem
E não houver ninguém lá
Para secar suas lágrimas
Eu poderia segurar você
Por um milhão de anos
Para fazer você sentir o meu amor

I know you
Haven't made
Your mind up yet
But I would never
Do you wrong
I've known it
From the moment
That we met
No doubt in my mind
Where you belong

Eu sei que você
Não se
Decidiu ainda
Mas eu nunca
Te faria nada de errado
Eu já sei que
Desde o momento
Que nos conhecemos
Não há dúvida na minha mente
De onde você pertence

I'd go hungry
I'd go black and blue
I'd go crawling
Down the avenue
No, there's nothing
That I wouldn't do
To make you feel my love

Eu passaria fome
Eu ficaria triste e deprimida
Eu iria me arrastando
Avenida a baixo
Não, não há nada
Que eu não faria
Para fazer você sentir o meu amor

The storms are raging
On the rolling sea
And on the highway of regret
Though winds of change
Are throwing wild and free
You ain't seen nothing
Like me yet

As tempestades estão violentas
Sobre o mar revolto
E sobre o caminho do arrependimento
Embora ventos de mudança
Estejam trazendo entusiasmo e liberdade
Você ainda não viu nada
Como eu

I could make you happy
Make your dreams come true
Nothing that I wouldn't do
Go to the ends
Of the Earth for you
To make you feel my love

Eu poderia fazer você feliz
Fazer os seus sonhos se tornarem reais
Nada que eu não faria
Vou ao fim
Da Terra por você
Para fazer você sentir o meu amor
(Adele)


            A consciência de Diana pesou toneladas, imaginando a identificação de Rosana naqueles versos em pouco tempo. A declaração de amor, envolta na insegurança que a cantora sentia ficou clara, quando ela mesma explicitou:

- Alguém aí duvida de um amor como esse? Não duvidem! Ele existe. Di, eu te amo!

            Em meio aos aplausos empolgados da plateia, Diana viu Rosana lançar um beijo em sua direção, o qual lhe feriu como um punhal certeiro.

            O Show se aproximava do seu final, quando Diana observou Natalia deixando o camarote. Deduzindo que a promotora estaria indo ao banheiro, disfarçou e arriscou indo nessa direção.


************
           
            A declaração de amor de Rosana era o que faltava para a promotora decretar a reunião dos piores presságios sobre o final daquele dia. Sob a vigilância de Eduarda, a morena mal conseguiu mover um músculo da face, a fim de aparentar indiferença. Mas o ciúme a traiu, deixando os seus olhos e bochechas avermelhados.


- Eu não duvido desse amor. A cantora parece bem convincente não é?

            A provocação tinha um alvo, apesar de Eduarda comentar com todos que estavam no camarote. Sentindo-se sufocada e provocada Natalia pediu licença para sair dando a desculpa mais comum:

- Com licença, preciso ir ao banheiro.

- Eu vou com você meu amor.

- Não é necessário, obrigada.

            O tratamento frio de Natalia já estava cansando a empresária, talvez por isso, ela não insistiu deixando a promotora seguir sozinha ao toalete.

            Aquelas mulheres desconhecidas que Natalia encontrou no banheiro as deixavam mais à vontade do que a companhia de Duda naquela situação. Por tal motivo, a promotora não teve pressa para voltar ao camarote.

***********
           

            Diana se apressou ao avistar Natalia adentrando no banheiro. O show estava perto do seu final e precisava esperar Rosana atrás do palco para celebrar o sucesso da estreia.

            Aproveitou a distração de Natalia quando saía do banheiro, e puxou a morena para um dos acessos à saída de emergência.


- Diana que susto! Qualquer dia desses te agrido pra me defender dessas abordagens!


- O que você está fazendo aqui?! Natalia! Você não ia conversar logo com a Eduarda? Peraí! E esse anel no seu dedo? Dá pra me explicar o que está acontecendo?


- Calma Di... Não tive culpa. A Eduarda trabalhou o dia todo, não falei com ela, esperava falar aqui.

- Aqui?!

- Não sabia que aqui era aqui! Não sabia que estava vindo para cá!

- Caraca Nat, como tu consegue ser tão enrolada assim?

- Juro que nem eu mesma sei.


            Diana quase sorriu com a concordância da promotora, mas olhar para aquele anel na mão da sua amada desfazia qualquer estado mais descontraído.


- E esse anel? Precisava desse assessório ainda? Para mim o vestido já está mais que suficiente.


- Ainda não decifrei se isso foi elogio ou insulto.


- Natalia! Você está me tirando? Não acredito!

- Meu amor... Tenho mesmo que repetir que sou sua? Daqui a pouco resolvemos essa situação, só não quis criar caso em público. Paciência, só um pouco mais... Afinal de contas, pelo que entendi você também não terminou com a Dona Flor não é? Até declaração de amor ela te fez agora pouco...

           
            Foi a vez de Natalia fazer bico.

- Eu vou conversar com ela, mas não podia fazer isso antes do show dela né? Ela já estava nervosa o suficiente...

            Diana se aproximou da morena olhando com malícia para as pernas bem torneadas de Natalia, expostas pelo vestido absurdamente sensual.

- Di? E essa cara? Meu amor aqui não... É uma saída de emergência... E se houver um incêndio... Hein?

            A voz manhosa e nervosa de Natalia era praticamente um paradoxo diante do seu desejo evidente no brilho dos seus olhos verdes.

- Já são mais de oito horas de abstinência da sua boca Nat, faz isso comigo não... O incêndio já começou aqui dentro de mim...

            Natalia mordeu os lábios intensificando a vontade de a loirinha tomar a boca da promotora. E como se precisasse de mais um sinal de que a vontade era recíproca, Diana não avançou, assim, Natalia com o dedo indicador convidou a fotógrafa para mais perto, até suas bocas colarem em um beijo apaixonado.

            Era impossível para Diana estando tão próxima daquele corpo que despertava a onda incessante de sensações excitantes, conter as mãos. Assim, enquanto o beijo urgente se prolongava as mãos de Diana já passeavam pelo colo até as pernas de Natalia que gemia com aquele passeio quente na sua pele.

- Ai meu amor... Você me deixa completamente louca... – Diana sussurrava entre um beijo e outro.

            Natalia gemia satisfeita, absorta na crescente volúpia se derramando no seu sexo.

            Quando os próximos movimentos e sensações se tornaram mais que previsíveis, Diana e Natalia escutaram um chiado e uma voz abafada bem próxima a elas.

- “Diana? Onde você está? Você deixou o comunicador ligado, Diana?”

            Era a voz de Lery, um dos produtores do show. Alguns segundos separaram a dedução do incidente lamentável que podia ter acontecido com tal distração dela e o flagrante de Rosana.

            Ao se dar conta de que o fone com o ponto do radio comunicador, estava pendurado no seu pescoço, e que todos escutavam o que ela conversava com Natalia, Diana se assustou com a abertura abrupta da porta e Rosana à sua frente com o rosto pálido e olhos marejados.


- Não bastava eu escutar, eu tinha que ver com os meus próprios olhos...

            Diana não teve tempo de se refazer entre a consciência do seu vacilo e o flagrante delito oficializado.

- Rô...

- Cala a boca Diana. Até sua voz me enoja!

            Rosana saiu furiosa pelo corredor, cercada por dois seguranças. Diana a acompanhou ainda sob efeito do choque, mas para sua surpresa, encontrou Julia que ao avistar Natalia logo atrás de Diana, segurou a loirinha pelo braço e disse:

- Não. Você já fez estragos demais... Não aprende nunca Diana?

- Julia eu preciso explicar para ela...


- Está tudo explicado pelo jeito. Será que não dava para evitar isso? Por que Diana?


- Julia, não era pra ser assim... Preciso falar com ela!


- Hoje não!

            Julia foi incisiva, seguiu na direção do camarim de Rosana, enquanto Diana ainda tentava se refazer do incidente lamentável.


- Di, eu... Sinto muito.

- Não podia ter acontecido isso Natalia... Ela não merecia... Que anta que eu sou!

- Eu preciso ir, antes que a Eduarda nos flagre também...

- Eu... Eu vou te esperar no hotel, não demore, por favor...

           
            Natalia assentiu, antes de chegar ao camarote onde Eduarda estava a empresária a encontrou no corredor.


- Tanto tempo no banheiro meu amor? Estava providenciando um belo enfeite para minha testa de presente de noivado?


            Natalia bufou. Pensou e repensou as próximas palavras, no entanto o comportamento de Eduarda só piorava a sua pré-disposição a encerrar aquela relação de uma maneira honesta e amigável.
- Será que agora podemos ir embora? O show acabou não é?


- Natalia onde você estava?

- Eduarda, por favor...


            Eduarda se aproximou de Natalia como se farejasse o perfume não familiar.

- Em quem você estava se esfregando?

- Já chega Eduarda! Você está abusando dessa provocação. Estou cansada.

- Eu é que estou cansada Natalia! Saí do Brasil como sua noiva, quinze dias depois nos vemos e você se comporta como uma estranha comigo!


- Ok, você quer mesmo resolver isso aqui?


- Bom você não está hesitando em se comportar com total descaso comigo na frente dos executivos da minha empresa, então não vejo porque resolver nossa questão em outro lugar!

- Eu não me sinto à vontade...

- Você é que não está me deixando à vontade Natalia! Esperava mais de você! Não vê que nossa vida agora mudou? Você está entrando para uma das famílias mais ricas do continente! Acha mesmo que pode se comportar como uma mulher mal humorada e mal educada quando estiver ao meu lado? Acho bom você se acostumar a controlar esse seu gênio!

- O meu o quê? Ora faça-me o favor Eduarda! Já chega! Não estou à sua altura? Não sirvo para estar ao seu lado? A nossa vida mudou sim, e vai mudar ainda mais por que estou voltando para o Brasil amanhã mesmo, e não será como sua noiva, e nem como sua namorada. Você está livre para achar alguém digna de ser uma Lancester.

- Natalia o que é isso?!


- É isso mesmo que você ouviu Duda. Acho que essa noite foi uma demonstração de que esse noivado foi um equívoco, até mesmo porque nem mesmo aceitei.


- Natalia que loucura é essa?! Você está com o anel que te dei...


            Rapidamente Natalia retirou o anel da mão e entregou-o a Duda.


- Você merece alguém que te ame mais que eu, merece uma mulher que seja sua companheira ideal nessa sua nova vida, esse alguém não sou eu.


            O tom de Natalia já era mais calmo diante do estado nervoso de Eduarda.

- Isso não pode estar acontecendo...

- Eduarda... Eu sinto muito. Mas não posso me casar com você.


            Com seu orgulho ferido Eduarda deixou-o falar mais alto.

- Provavelmente você está mesmo certa. Você não é a mulher ideal para mim. Eu superestimei você Natalia, hoje você me deu uma mostra disso.

            Eduarda deu as costas para Natalia sem maiores explicações. A promotora sentiu-se aliviada por não ter que expor para Eduarda sua principal razão para terminar seu namoro com a empresária, apesar daquela postura de Duda, Natalia sabia que a ex escondia a mágoa por aquela decisão, entretanto, esta seria muito maior, se Eduarda soubesse da traição, e consequente reconciliação da morena com Diana.