terça-feira, 6 de março de 2012

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE

2.27 Ipso facto
Só pelo mesmo fato; por isso mesmo, consequentemente. 


            Quando Diana acordou ainda no sofá da sala teve a sensação de que sua cabeça estava sendo triturada por um moedor de carne. Incerta sobre a segurança de abrir os olhos sem virar pó com a luz do sol que lhe agredia como se ela fosse uma vampira, Diana ousou sentar-se no sofá com as mãos protegendo a visão.


            A boca amarga, a tontura que a fez acreditar estar em alto mar atestaram para Diana a ressaca colossal que ela não experimentara há tempos. Para piorar seu mal-estar não encontrou Natalia ao seu lado, aquela sensação de amnésia era uma das piores memórias da fotógrafa da sua fase de vício.


            A sua angústia crescia ao tentar recobrar o que acontecera na noite anterior e nada vinha à mente, exceto o momento no qual não teve coragem de revelar à Natalia o porquê de não aceitar a bebida que a namorada lhe oferecia. O remorso por ter cedido e bebido mesmo sabendo dos riscos também lhe consumia, mais do que a sede que a fez beber um litro de água inteiro de uma só vez.


            Natalia chegou carregada de sacolas de compras, equilibrando-as com dificuldade enquanto abria a porta.


-- Di! Já de pé meu amor? Pensei que demoraria um pouco mais...


            Se por um lado Diana sentia um profundo alívio por não ter aprontado com Natalia na noite anterior, dado o bom humor dela, por outro, a loirinha estranhava aquela disposição da namorada.


-- Eu saí para comprar algumas coisinhas. Vou preparar uma comidinha gostosa para nós, saudável. Foi difícil encontrar os ingredientes, mas, vou improvisar.


-- Nat... O que aconteceu ontem?


-- Hum... A gente tomou uma garrafa de vinho e você apagou. Não quis te acordar e não consegui te levar pra cama e você dormiu aí mesmo no sofá.


-- Nat... Foi só isso mesmo? Eu tenho vergonha de dizer isso, mas não me lembro de nada.


-- Isso deve ser porque você está faminta! Vou te preparar um bom suco, e te trouxe uns analgésicos.


            Diana tomou o suco que Natalia preparou contendo a ânsia de vômito que lhe tomava.


-- Não faz essa cara amor. O suco está delicioso...


            A fotógrafa fez uma careta qualquer, e se jogou no sofá sem forças. Permaneceu ali o resto da manhã, de vez em quando abria apenas um dos olhos para conferir o desenrolar de Natalia na cozinha.


            Os efeitos da conjugação das medicações que usara junto com o álcool foram sentidos exatamente como o seu médico descreveu, contudo, o remorso lhe consumia. O remorso por esconder de Natalia um fato tão importante da sua vida, não se tratava de algo do seu passado, mas sim uma marca, uma parte indissociável dela, desagradável, um fardo, o qual ela estava aprendendo a conviver.

           
            Natalia tentava disfarçar sua ansiedade e temor por concluir que Diana escondera tal episódio de sua vida excluindo-a de uma condição permanente na qual Rosana era seu porto seguro. A promotora não sabia calcular as consequências daquela postura de Diana na estabilidade do relacionamento delas, o que havia de implícito naquele segredo: Diana não confiava nela? Lembrou-se da conversa ao telefone que ouvira entre ela e Rosana dias atrás no Brasil, na qual percebeu a cumplicidade que sua namorada tinha com a psicóloga e sentiu a insegurança povoar de novo seus pensamentos.



            O eco das palavras de Rosana pronunciadas na noite anterior, quando intimou Natalia a cuidar bem de Diana, entretanto, instigou a morena a dedicar a fotógrafa o carinho e a atenção que o momento exigia, buscando assim deixar Diana à vontade para compartilhar com ela sua história recente sobre as drogas.


-- Amor? O almoço está pronto, vamos comer? – Natalia convidou.


-- Nat eu não sinto fome, acho que se eu comer algo não fica no meu estômago...


-- Meu amor eu preparei uma comidinha leve, se esforce para comer um pouquinho, você precisa se alimentar para melhorar desse mal estar.


            Convencida pela voz mansa da namorada, Diana assentiu. Natalia não poupou mimos à namorada, destinando um afago, um sorriso, uma brincadeira mais descontraída a fim de minimizar o desconforto que Diana expressava nitidamente.



            O clima estranho ainda instalado ganhou um novo elemento quando o celular de Diana tocou: no display a loirinha conferiu: Dr. Foster.


-- Eu preciso atender meu amor.


            Diana avisou se afastando da mesa, despertando ainda mais a insegurança de Natalia que temendo se tratar de Rosana, furtivamente seguiu a namorada a fim de ouvir algo da conversa:


-- Olá doutor.


-- Diana como você está?


-- Eu... É estou bem doutor. Seguindo o tratamento, esqueci a data da consulta? Não teria que retornar ao senhor no final do mês apenas?



-- De fato, você deve retornar para nova consulta no final do mês, mas, com o que aconteceu na madrugada, liguei para saber se você deseja antecipar nosso encontro.


-- Ah! Não se preocupe doutor, está tudo bem, não se repetirá.


            Diana disfarçou sua surpresa emendando uma desculpa vaga.


-- Espero mesmo que não se repita Diana, seria um retrocesso na sua recuperação, se está a um passo de uma recaída, é melhor que me procure para voltarmos a nossa terapia, reavaliar as dosagens das medicações...


-- Não doutor Foster, não é necessário. A única consequência é mesmo essa ressaca que sinto, não é uma recaída.


-- Diana você se lembra do que conversamos sobre o álcool junto com esses medicamentos que prescrevi não é?  A Rosana me disse que foi pouca a quantidade que você ingeriu, mas, mesmo assim é um risco.


            Diana silenciou ao ouvir o nome de Rosana. Mas afinal o que se passara na madrugada? O oco das suas memórias deixou a fotógrafa ainda mais angustiada, fazendo-a concluir que a conversa honesta com Natalia não podia ser protelada.



-- Obrigada por ligar doutor. Mas está tudo bem, nos vemos no final do mês.


            Ao deduzir que a ligação fora encerrada, Natalia correu para fugir do flagrante, mas, esbarrou em uma escultura no corredor, o barulho da peça se espatifando ao chão chamou a atenção de Diana no quarto.


-- Natalia?


            Com a fisionomia de culpa, Natalia se desculpou com a voz fraca:


-- Desculpe-me. É a segunda escultura sua que destruo... É da Julia também?


-- Era. Natalia... Você estava escutando a conversa?


            Natalia baixou os olhos e respondeu dando as costas a Diana.


-- Não entendi muita coisa. Eu... Desculpa Di. Pensei que fosse a Rosana... Você não quis atender na minha frente...


-- Rosana? Porque a Rosana ligaria para mim? Ele me odeia!


-- A Rosana não te odeia coisa nenhuma, ela te ama isso sim!


-- Amava. Depois do que fiz com ela, a última pessoa que ela quer ver na face da Terra sou eu.


-- Diana amor não acaba assim... Especialmente o de vocês, tão íntimo, tão forte...


            A voz de Natalia embargou-se. Diana franziu a testa estranhando a afirmação da namorada que surpreendentemente não transparecia sarcasmo.


-- Natalia está acontecendo alguma coisa que não sei?


-- Eu acho que quem não sabe de alguma coisa muito importante sou eu não é? Acho que não provei ainda que sou merecedora de sua confiança como a Rosana foi, ou é.


-- Que besteira é essa Nat? Desde quando você tem que me provar alguma coisa? Como assim não merece minha confiança? Eu amo você, acaso você merece meu amor e não minha confiança?


-- Não sei, me diga você... Por que me sinto excluída da sua vida.


-- Excluída? Natalia você é minha vida! Como você pode duvidar disso depois de tudo que passamos?


-- Você também é minha vida Diana, eu amo você por inteiro, mas estou percebendo que você não está inteira comigo... Você tem segredos que me esconde... Como posso ter minha vida sem pedaços dela?


            Diana ficou pálida supondo o que poderia ter acontecido naquela madrugada.


-- Você sabe como me senti quando te vi apagada nesse sofá depois de beber um sexto do que já vi você beber sem sequer mudar a voz, no entanto você parecia desmaiada ontem... Fiquei desesperada sem saber o que fazer, ia te levar para um pronto socorro, até que por milagre ou ironia do destino a Rosana aparece aqui, senhora da situação, demonstrando te conhecer, saber mais de você do que eu, e ainda no direito de me censurar por beber com você, me intimidando a cuidar de você direito se eu não quisesse te perder... E sabe o pior de tudo isso? É saber que ela está certa e morrer de medo de perder pra ela...



-- Ei Nat calma meu amor...


            Diana abraçou Natalia com força, fazendo calar aquele discurso afobado, aflito.


-- Eu sinto muito ter feito você se sentir assim meu amor... Mas não tem nada com confiança ou com não estar inteira com você. Na verdade não te contei essa parte da minha vida por vergonha, medo de te decepcionar. Seus conceitos tão rígidos, sua integridade inabalável, não sabia como você reagiria, ou o que você sentiria ao saber que estou em recuperação de dependência química.


            Natalia ficou séria. Sentou-se no sofá e perguntou em tom magoado:


-- Você acha que eu não compreenderia isso? Acha que meu amor se abalaria por que você tem uma doença? Que ideia você faz de mim Diana?


-- Eu tive medo Nat. Eu já tenho um pai e um irmão criminoso dos quais você precisa ser protegida, imagine sabendo que sou uma viciada que quase morreu de overdose...


-- O quê?


            Diana sentou-a ao lado de Natalia sem conseguir encará-la.



-- Há mais de um ano e meio... Depois da morte de minha mãe quando voltei do Brasil...


-- Diana como você pode me omitir um fato desses?


            Natalia levantou-se indignada.


-- Eu fui fraca Nat. E em poucos meses eu já estava completamente dependente em uma rotina de autodestruição. Eu não trabalhava mais, não comia, abusei da paciência dos meus amigos, da Rosana que me deixou... Até chegar ao fundo do poço com a overdose. Precisei disso para aceitar minha doença e desde então estou me tratando. Primeiro passei por desintoxicação internada, depois terapia e medicações que ainda tomo.


-- Por isso a Rosana estava tão revoltada comigo...


-- Eu não posso beber Nat, meu problema foi com drogas mais pesadas, mas o álcool é meio que...


-- Porta de entrada.


-- Além do mais, com os medicamentos que uso, não podia misturar... Por isso suponho que apaguei tão rápido.


-- Diana como você pode fazer isso comigo?


-- Eu sei que te decepcionei Nat...


-- Diana! Para com isso! Quem falou em decepção? Estou falando de você me esconder isso... Diana eu coloquei você em risco ontem!


-- Não meu amor, eu me arrisquei, eu sabia que eu não podia...


-- Diana nós estamos dividindo uma vida, teremos uma guerra para enfrentar nos próximos meses, como faremos isso juntas se você me esconde coisas do tipo me julgando uma arrogante preconceituosa? Então a Rosana é capaz de te compreender, de te ajudar e eu que te amo desde a primeira vez que te vi não?



-- Nat eu me sinto tão envergonhada por isso... Mas eu tive medo. Nossa história é complicada demais... Tive medo de te assustar...


            Natalia balançou a cabeça negativamente, indignada. Diana se aproximou da namorada segurou o rosto dela pelo queixo, encarando o verde dos seus olhos pediu:


-- Você pode me perdoar por isso? Eu fui uma idiota. Não quero te esconder mais nada, nada.


-- Promete?


-- Sim, eu prometo. E pra te provar isso, vou dizer outro segredo.


-- Qual? O que mais você me esconde?


-- Bem, eu fui abduzida por uma nave extraterrestre, eles me levaram para Krypton me deram super poderes para conquistar a Terra, voltei e desde então trabalho como agente secreta para CIA, mas infelizmente agora que você tem essas informações, tenho que te matar.


            Natalia apertou os olhos e Diana se manteve séria mesmo depois da morena abrir um sorriso divertido:


-- Sei... Abduzida... Imagino que tenha sido pelo último parente do superman perdido por lá não foi? Com seus super poderes como você pretende me matar agora? Com um super sopro? Ou me derretendo?


-- Na verdade, contra você usarei meu poder secreto e mais eficaz.


-- Que seria?


            Diana encarou Natalia com uma expressão enigmática.


-- Você verá.


            Diana fingiu se afastar e rapidamente voltou-se atacando a cintura da namorada fazendo cócegas até caírem no sofá em meio a gargalhadas encerrando o clima denso instalado com os últimos acontecimentos.

***************


            Diana e Natalia desembarcaram no Brasil na noite de domingo. A primeira ligação que fez deu a Natalia a certeza de que seu pressentimento estava certo. Dias difíceis se aproximavam, o desfecho do caso Acrisio Toledo se desenhava de maneira surpreendente.


-- Nat ainda bem que você voltou! Tentei falar com você ontem, mas não consegui.


-- O que aconteceu Carlinha?


-- As investigações do Lucas avançaram, finalmente um corpo foi encontrado na Verdes Canaviais.


            Natalia ficou séria.


-- O corpo está no IML para que seja feito o teste de DNA. E tem mais, foram encontrados membros de corpos, então podemos esperar que se trate de mais de uma pessoa.


-- Ok Carlinha. Amanhã nos falamos melhor no gabinete.


            Natalia jogou a bolsa na poltrona do quarto enquanto Diana se aproximava reticente:


-- Problemas?


-- Na verdade solução...


-- De?


-- O início da solução para levarmos seu pai a julgamento. Pelo menos um corpo foi encontrado enterrado na fazenda do seu pai.


            Diana sentou-se na cama com uma expressão triste.


-- O que foi meu amor? Não me diga que você acreditava mesmo que não houve assassinatos lá.


-- Não é isso Nat...


-- O que é então?


-- É que... Desde a última conversa que tive com ele... Não acho que ele tenha mesmo culpa nessas mortes.


-- Você não pode estar falando sério meu amor. Acrisio Toledo conseguiu te enrolar?


-- Natalia, eu melhor do que ninguém eu conheço meu pai. Ele não teria porque mentir para nós naquela conversa.


-- Meu amor agora a ingênua é você...

-- Não se trata de ingenuidade Natalia. Mas acho que discutir com você sobre isso é inútil, você já tem todas as certezas a respeito dele. Ele já foi condenado por você, não importa outra visão, outra versão.


-- Di não é isso...


-- Natalia quer saber? Não vamos discutir por causa disso. Estou exausta da viagem e amanhã tenho que começar a organizar a exposição. Vou tomar um banho e descansar.


-- Diana você está chateada comigo?


            Natalia não obteve resposta. Diana entrou no banheiro ignorando a indagação da namorada. A promotora previu problemas analisando a reação de Diana naquela questão, e por mais que temesse tal desgaste, não se sentia capaz de fingir acreditar em qualquer vestígio de inocência de Acrisio Toledo dos crimes dos quais ele era acusado.


            Apesar de entender a namorada, Natalia não podia recuar na sua postura, iria contra o que ela acreditava, e principalmente poderia comprometer o inquérito que estava na iminência do desfecho. No entanto, protelar o mal estar com Diana também ia permitir. Assim, desfez-se das roupas e entrou no banheiro, nua surpreendendo Diana quando sentiu o corpo de Natalia colar no seu sob a água.

-- Natalia... Não...


            Diana murmurou, mas não teve efeito. Natalia passeou com suas mãos pelo corpo molhado da loirinha que se apoiava com as duas mãos contra a parede.


-- Não? Você não me quer?

           
            O tom da voz de Natalia era ofegante o que só contribuía para excitar Diana que relutava contra a investida da namorada.


-- Natalia, por favor...


-- Não posso meu amor... Não consigo te quero muito... Quero você...


            Diana sentia seu corpo estremecer com a respiração entrecortada de Natalia, que tocava a pele alva da fotógrafa com toda volúpia que seu desejo ditava, no mesmo ritmo intercalava beijos e mordidas pelo pescoço e nuca de Diana não hesitando em deslizar sua língua pela orelha da loirinha, bebendo a água que escorria quente pelos poros excitados de Diana.


-- Seu corpo me enlouquece Di... Adoro sentir meu corpo no seu, entrar em você...


            Natalia percorreu o sexo de Diana com os dedos, provocando as áreas mais sensíveis até alcançar seu clitóris protuberante onde se deteve massageando-o com a precisão ditada pelas respostas do corpo de Diana. A loirinha se rendeu ao prazer que os movimentos de Natalia provocavam: gemeu alto enquanto a morena roçava seu sexo pelo seu bumbum arrebitado:


-- Não para Nat, vai entrar em mim vai...


            Enchendo-se da languidez colossal que se apossava de cada célula do seu corpo, Natalia preencheu o sexo de Diana arrancando-lhe o gemido rouco que anunciou o auge daquele ato evidente nos espasmos e no gozo abundante derramado pelas pernas de ambas.


            Ao menos naquela noite, a discussão tensa foi disfarçada, mas elas sabiam que o novo ponto de tensão entre elas ainda causaria problemas na sua vida em comum.

*************


            O primeiro compromisso de Natalia no seu gabinete era com Lucas. O delegado definia os detalhes dos próximos passos do inquérito policial que investigava Acrisio Toledo.


-- Finalmente esse caso vai avançar heim Luc?

-- Quem diria que só avançaria graças ao suspeito!

-- Aí você já está forçando a barra Lucas...

-- Não Natalia. Enquanto você estava lá nos “estates” passeando, Acrisio Toledo disponibilizou o aparato todo para dar agilidade nas buscas, com o nosso equipamento nunca encontraríamos esses corpos tão rápido.

-- Lucas ele tem alguma intenção oculta. Sempre tem. Ele já encontrou uma forma de livrar o filhinho monstro dele das nossas investigações colocando-o em foro privilegiado, agora ficará muito mais difícil conseguirmos enquadrar o Douglas pelos crimes dele.

-- Bom Natalia, eu não sei que tipo de intenção oculta tem nessas atitudes dele em nos fornecer provas para prendê-lo.


-- Nem tanto né Luc? O fato de acharmos os corpos não prova que Acrisio é o mandante ou o assassino.


-- Já é o suficiente para intimá-lo para depor, já que a fazenda é dele. Estou esperando só o resultado do DNA, para identificarmos de quem se trata.


-- É óbvio que alegará que não sabia de nada, que não autorizou nada, e tudo vai ficar por culpa do infeliz que aceitou ser laranja dele.


-- Natalia não se chateie com o que vou falar. Mas, você devia considerar que Acrisio de fato não ordenou essas mortes, isso te daria uma visão mais imparcial que vai nos ajudar a chegar na verdade.


-- Como é que é? Lucas ele está te manipulando também! Não acredito nisso!

-- Não Natalia não é isso! Você é que está totalmente irredutível sobre a culpa de Acrisio, sem se quer considerar outras possibilidades. Eu sei que você tem seus motivos, suas mágoas para embasar seu julgamento, mas, na sua posição você não pode limitar assim a versão dos fatos.


-- Você não está raciocinando Lucas...

-- Natalia eu acho seu raciocínio está limitado. Por razões pessoais você não está considerando os outros elementos dessa história. Vou intimá-lo para depor, e te mantenho informada.

           
            Lucas deixou Natalia pensativa no gabinete, a promotora se quer notou a chegada de Carla na sala.


-- Natalia eu preciso da sua assinatura nesses pareceres. Natalia?


            Carla tentava chamar atenção da chefe estalando os dedos.

-- Oi Carla.

-- Os papéis...

            Carla apontou para a mesa.

-- Eu sabia que você ficaria assim quando o Lucas te contasse sobre o Acrisio.

-- Por falar nisso... O que você contou ao Lucas sobre Diana e eu? Carla você falou que estamos juntas de novo?


-- O que?! Claro que não Natalia, o que você acha que sou? Uma fofoqueira?


-- Ah você pode ter deixado escapar entre um beijo e outro...

-- Natalia! Eu... Mas...


            Sem graça, a assistente disfarçava seu desconcerto quando Natalia confirmou saber do seu relacionamento secreto com Lucas.


-- O que foi? Acha que eu não tinha percebido?


-- Você não comentou nada... Mas a questão não é essa! O fato de estar com Lucas não me faz esquecer minha lealdade com você. O que Lucas soube através de mim é o motivo pelo qual você e Diana se separaram.



-- Desculpa Carlinha, sei que você não trairia minha confiança. Só fiquei meio irritada com os argumentos dele.


--Eu fiquei surpresa quando ele me contou Nat, também me deixou com dúvidas acerca da motivação de Acrisio para colaborar com as investigações. Uma coisa foi a jogada contra as acusações trabalhistas, outra coisa é esse apoio para descobrir as provas de assassinato. Acho que ele conquistou ao menos o benefício da dúvida.



            Natalia fez menção de retrucar a afirmação da amiga institivamente, mas Carla a impediu com um gesto.


-- Natalia, eu sei o que você pensa. Mas, acho que está na hora de você abrir o leque de hipóteses, inclusive sobre Acrisio não ser culpado desses assassinatos.


            Natalia permaneceu no gabinete mastigando aquelas informações, processando as opiniões que escutara inclusive a da sua namorada, a reação de Diana e o medo daquele ponto de tensão no seu relacionamento com a filha do acusado encheu a promotora de dúvidas sobre suas conclusões no caso mais importante da sua carreira até então.


***********

           
            Diana estava animada com a definição da exposição itinerante na embaixada americana no Brasil. Era a primeira vez que o seu trabalho seria exposto no seu país, isso além de apavorar dava um gosto de vitória que aliviava Diana dos acontecimentos dramáticos que enfrentava.


            E foi no seu trabalho que Diana se focou, evitando até mesmo conversar com Natalia sobre o caso do seu pai, tentando assim não macular a frágil tranquilidade entre elas.


            Danilo a mantinha informada sobre a investigação na fazenda, insistindo para que Diana procurasse o pai para se entender com ele, afirmando a boa intenção do pai na colaboração da busca de provas. Entretanto, o temor em enfrentar o pai e toda aquela demanda de mágoas, desentendimentos e ressentimentos acumulados, somados a fatídicas discussões e guerras emocionais minava qualquer passo de Diana em direção ao pai.