sábado, 15 de janeiro de 2011

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 14

CAPÍTULO 14: MAIS UMA VEZ NOVA CIDADE, NOVA VIDA



Avistei no Galeão um rosto conhecido, de longe, Suzana observava meu embarque, Tia Sílvia também estava magoada com ela, mas ainda sim pediu:

-Vai filha, vá se despedir dela.

Caminhei em sua direção sentindo meu coração quase saltar pela boca:

-Conseguiu um habeas corpus de sua dona? – perguntei sarcástica, já me arrependendo vendo seu olhar de tristeza.

-Ela não é minha dona Isa, ao contrário do que possa parecer não estamos...

-Chega Suzana, você não me deve explicações, não temos mais nada. – não a deixei concluir.

-Eu esperava te dissuadir a ficar...

-Nem tente Suzana, nada me prende ao Rio.

-Isa... eu te amo e sei que você me ama...dê uma chance pra gente...

-Você perdeu sua chance comigo Suzana, mas você ainda tem seu primeiro amor, é um consolo né...

-Isa você está enganada, eu e Bárbara...

-Já disse, não me interessa Suzana! – comecei a chorar magoada.- Tudo que quero é esquecer você, essa mulher...- parei pra respirar e enxugar meu rosto – esquecer seu rosto, seu corpo...sua voz...esse amor que me consome todos os dias.

-Isa...- Suzana enxugava as lágrimas tentando se aproximar de mim.

-Por favor Suzana não se aproxime...

-Tudo bem...vou respeitar sua vontade, mas não quero esquecer você, vou lutar cada minuto da minha vida para te ter de volta...você é minha vida, não posso esquecer minha vida...

Afastei-me de Suzana apressada, abracei Tia Sílvia, e embarquei. Cheguei a Campinas em pouco tempo, mas nem me dei conta de decolagem e pouso, as palavras de Suzana ainda ecoavam na minha cabeça, me perguntava porque Suzana me procurava se Bárbara lhe cercava, como se definisse território ? Como me pede pra ficar com ela com a presença daquela mulher ao seu lado sempre? Por acaso queria que eu a dividisse com Bárbara Camargo? Fiquei perdida com essas perguntas, desembarquei, recolhi minhas malas da esteira, e saí pelo portão, pra minha surpresa avistei fantasiado de chofer segurando uma plaquinha com o nome :Isabela Furacão, o Bernardo, fazendo pose séria. Lógico que não contive o riso, ele me deu esse codinome na época da faculdade, quando passava na TV a minissérie Hilda Furacão, na ocasião coincidiu que um estudante de farmácia de nossa universidade, o qual era envolvido com a igreja, tinha aparência de um seminarista mesmo, cabelo liso como o de Rodrigo Santoro na série de TV, andava atrás de mim pelo campus se confessando apaixonado, Bernardo não perdia chance de deixar o coitado sem graça, me comparado ao personagem mineiro de Ana Paula Arósio. Do lado oposto do salão, estava Olívia, segurando uma faixa rosa choque, com a frase “bem-vinda Isabela cara de remela”, era outra rima infame que eles me atormentavam sempre...Olivia pulava sem parar balançando aquela faixa, a cena foi realmente cômica, todos no saguão olhavam para o mico que Olivia pagava mas ela não ligava, queria me fazer sorrir e conseguiu. Os dois correram pra me abraçar em meio a gargalhadas.

Olívia morava em São Paulo, mas ao saber de minha chegada foi para Campinas me recepcionar, ficou durante o resto do dia, e dormiu conosco. Nem ela nem Bernardo tocaram no nome de Suzana, ou sobre os motivos do fim do nosso noivado, trataram de colocar os assuntos em dia, como sempre, implicaram um com o outro, e como há muito tempo eu não fazia, ri, por alguns momentos nem lembrei de Suzana.

Estava mesmo disposta a esquecê-la, a conhecer novas pessoas, me divertir, e senti que a proximidade de meus amigos ajudaria bastante. Bernardo fez questão de que eu dormisse na sua cama, dormia em um colchonete perto da janela do quarto. O apartamento era pequeno, mas meu amigo tinha bom gosto, tornou aquele espaço aconchegante.

Na manhã seguinte, eu teria a apresentação do projeto de intercâmbio no auditório do Hospital das Clínicas, Olivia foi embora antes que do nascer do sol, prometendo voltar no fim de semana para sairmos juntos. Bernardo não trabalharia, mas mesmo assim me acompanhou até o hospital. Ao chegarmos, me surpreendi com a dimensão do hospital, era gigantesco, maior que o Fundão sem dúvida, e também mais organizado. Outra surpresa foi ver a postura de Bernardo no hospital, aquele ar debochado e afetado sumira no momento que colocamos os pés na recepção, dando lugar a um homem sério, sem aqueles trejeitos e vocabulário tão peculiares.

-Com licença doutor, mas o que você fez com meu amigo Bernardo, o “viado irado”?

Ele estava aqui a poucos segundos, acaso está aí dentro? – puxei sua camisa olhando por dentro dela como se procurasse algo.

-Shiii...- Bernardo fez sinal com o dedo na boca, trincando os dentes pra falar- bicha pelo amor...deixa minha identidade secreta a salvo!

Sorri com o canto da boca, balançando a cabeça negativamente:

-Você é um figura Bê...vamos pro auditório, já deve estar começando a reunião.

No auditório, cerca de 60 pessoas aguardavam o início da reunião, o intercâmbio de residentes estava vinculado a um programa de pesquisa em neurologia e neurocirurgia, assim, além dos residentes dessas áreas, participavam médicos assistentes, outros pesquisadores em biomedicina e genética. Eu estava feliz em voltar a pesquisar, durante o primeiro ano de residência, tentei participar de grupos de pesquisa, mas a rotina não permitia que eu dedicasse o tempo necessário, consegui a muito custo, publicar um artigo, mas eu queria mais. Aguardamos por quase uma hora a chegada dos coordenadores do programa, que iam proferir as explicações necessárias. Todos estavam impacientes, até que a porta lateral do auditório se abre, entram por ela: um homem calvo com aproximadamente 50 anos, gordo, de óculos, usando cavanhaque; outro homem mais jovem, alto, careca, também usando óculos, muito branco; uma senhora baixa, com cabelos presos em coque, também aparentava ter uns 50 anos, e por fim, ela entrava, linda, uma parte dos cabelos ruivos cacheados estavam presos por uma grande presilha, usava óculos quase imperceptíveis de tão delicados que eram, usava jaleco justo abaixo dos joelhos, mas notava-se que estava de botas cano longo, subia elegantemente até as cadeiras dispostas no palco, não podia acreditar, era ela: Dra. Camila Drumond.

-Ai minha Nossa Senhora das canelas grossas! EU NÃO CREIO! - toda afetação de Bernardo voltava.

Eu também como Bernardo, não podia crer, ficamos os dois literalmente de queixo caído...não só pelo fato de Dra Camila ter conseguido ficar ainda mais linda, mas também por constatar que ela estava coordenando o programa. O homem careca foi até o centro do palco, e começou as apresentações:

-Bom dia caros colegas, eu sou o Dr. Bruno Vasconcelos, primeiramente, perdoem-nos pelo atraso, tivemos alguns detalhes para acertar antes, em segundo lugar, adianto que hoje nosso encontro será breve, apresentaremos a equipe, dividiremos os subgrupos, e logicamente vamos explanar quais os objetivos na primeira etapa de nossa pesquisa.

Esforçava-me para me concentrar no que o tal careca falava, mas eu só escutava : -Blá blá blá...- me detinha olhando para aquela mulher deslumbrante, lembrando do dia que a vi pela primeira vez, seu olhar pra mim na boate e não podia não lembrar da minha briga com Suzana por causa dela:

-Coordenando esse projeto junto comigo temos o Dr. Valério Azevedo, Dra Diana Kramer, e pra nossa honra, encabeçando essa pesquisa, Dra Camila Drumond, creio que todos vocês já a conhecem.

Dra. Camila levantou-se se dirigiu até onde Dr Bruno falava, este sentou-se, deixando-a com a palavra:

- Bom dia a todos, Dr Bruno a honra é toda minha em trabalhar com vocês e com essa equipe brilhante que foi escolhida.

Nossa que voz ela tinha, um tom grave, mas macio, sabe aquelas vozes que dá prazer escutar? Era assim a voz dela, na ocasião da boate, não a ouvi, pelo barulho e também porque ela praticamente não falou quando fora cumprimentar Olivia e Bernardo. Dra. Camila explicava sua experiência nos Estados Unidos, em pesquisas com a utilização de células tronco no tratamento de doenças neurológicas degenerativas, além da nova técnica cirúrgica que desenvolvera, implantando um microchip no cérebro de pacientes em grupos de risco para aneurismas. Li alguma coisa ainda na faculdade sobre isso, era um técnica ainda em estudo, mas com bons resultados, com a utilização do microchip, era possível prever o surgimento de um aneurisma, permitindo uma intervenção precoce, ela planejava desenvolver também ali essa experiência.

Enquanto a escutava, eu praticamente babava, nem piscava olhando pra ela, era inevitável, acho que todos na sala deviam estar sentindo o mesmo que eu, uma beldade daquelas, ainda por cima um gênio!

-Ei...ei...Isabelaaaa chamando terraaaa – Bernardo estralava os dedos diante dos meus olhos tentando chamar minha atenção.

-Oiii...que que foi Bernardo?

-Quer um babador?

-Ai infernooooo, pára com isso Bê...deixa eu escutar vai, vão falar das divisões do grupo.

Bernardo me tirou do estado de transe, enquanto Dra Diana explicava a escala de trabalho dos grupos, mais uma vez eu voltei meus olhos para Dra Camila, que notara minha presença e olhava fixamente pra mim, mas aquele olhar provocativo dos nossos encontros anteriores pra minha decepção se transformara em um olhar frio.

-Vocês residentes, estão recebendo nesse momento pastas com o resumo dos objetivos pro projeto, cronograma de atividades, escala de horários a divisão dos subgrupos, seus respectivos coordenadores, algumas regras...sugestão de algumas bibliografias que vocês devem estar familiarizados, enfim, qualquer dúvida após a reunião com os médicos assistentes, e os pesquisadores, estaremos aqui para retirarem suas dúvidas. Por favor, sigam para o departamento pessoal para assinar os contratos e confirmarem alguns dados. Obrigada a todos, e até amanhã. –concluiu Dra. Diana.

Antes de levantar-me e sair do auditório, conferi em qual grupo eu estaria, estava curiosa, qual não foi minha surpresa ao ver que era a única residente em neurologia no grupo que Dra Camila coordenava, os demais eram residentes em neurocirurgia. Não que eu não tivesse gostado, mas logicamente, estranhei e deduzi que fosse algum erro de digitação, uma vez que existia no grupo uma residente em neurocirurgia chamada Isabel. Resolvi esperar a reunião para tirar essa dúvida com os coordenadores. Camila não me olhava mais, mesmo com meus olhos fitados nela insistentemente. Depois de voltar do departamento pessoal, aguardei na porta do auditório a conclusão da reunião e me dirigi a Dra Diana, Camila falava com os geneticistas em um canto do auditório, mas percebi que me observava quando eu falava com Dra Diana:

-Dra Diana, com licença, Isabela Bitencourt , residente de neurologia, acho que houve um equívoco na divisão dos grupos. Pelo que vi, deduzo que meu nome foi trocado com uma residente de neurocirurgia, o que é compreensível temos nomes parecidos.

-Quem é sua coordenadora segundo a divisão?

-Dra Camila Drumond.

-Então não há equívocos minha jovem.

-Mas...só tem residentes de neurocirurgia nesse grupo e...

-Como falei não há equívocos, Dra Camila escolheu ela mesma sua própria equipe, logo se seu nome está aí, é aí que você vai ficar.

-Mas...

-Espera aí doutora, qualquer residente estaria se matando para conseguir uma vaga para trabalhar diretamente com Dra Camila Drumond e você fica se prendendo a detalhes?

-Não, não é isso é que minha especialidade não é cirurgia e...

-Ah minha querida, você tem muito o que aprender, Dra Camila pode te ensinar muito, mas se você não quer, melhor falar diretamente com ela.

Aquela senhora antipática me deixou falando sozinha, ainda sem entender nada sobre minha colocação naquele grupo, quando ouvi aquela voz grave e macia por trás de mim se aproximando:

-Algum problema? Posso ajudar?

Era ela...senti de novo aquele perfume doce, senti um frio na barriga, me virei em sua direção e mais uma vez a trapalhona baixou em mim, consegui derrubar todos os papéis de dentro da pasta, me abaixei rapidamente enquanto ela fez o mesmo, acabamos por chocar nossas testas, enquanto cada uma esfregava a mão na testa, Camila perguntou:

-Você já assinou os papéis do seguro?

-E-e-e-u? Seguro? Porque uai?

Meu nervosismo mineiro me traía de novo...ela sorriu com isso:

- Porque você acabou de sofrer um acidente de trabalho doutora...- sorriu discretamente.

-Desculpe-me doutora, sou muito atrapalhada quando estou nervosa mais ainda...

-Está nervosa porque?

-É...primeiro dia de trabalho numa cidade nova né...-disfarcei recolhendo os papéis e ajeitando os cabelos.

-Claro...mas me diga, tem alguma dúvida? Vi você falando com Diana, posso ajudar?

-Na verdade acho que sim. Notei que estou no seu grupo, mas sou a única neurologista no meio dos neurocirurgiões, imaginei que algum equivoco ocorreu, mas Dra Diana disse que não...

Camila me interrompeu:

-Não houve mesmo, minha equipe sou eu mesma que escolho, achei seu currículo o melhor dos que vi, por isso o escolhi, vai ser uma boa oportunidade para você doutora, não se preocupe, não vou te obrigar a realizar uma craniotomia, nem a usar uma furadeira.
Ela foi incisiva, procurava naqueles olhos claros aquele desejo que vi nas outras vezes que nos encontramos, mas não achei. Falou comigo como uma profissional, nada mais que isso, pediu licença, e se retirou do auditório. Na porta principal Bernardo observava tudo, desceu saltitante em minha direção, já que não tinha mais ninguém no auditório:

-E aí Isabela matusquela? O que a deusa falou?

-Que não houve equívocos...vou trabalhar com ela Bê. – fiz uma careta de contrariedade.

-Sacrifício heim? – Bernardo falou com ironia.

Na verdade se tornou mesmo sacrificante, éramos o grupo que mais trabalhava, Camila era muito exigente com os prazos, cumpríamos os horários rigorosamente, cada caso que nos era encaminhado exigia muito estudo, os diagnósticos eram complicados, uma bateria de exames eram realizados. Entretanto o sacrifício maior foi tolerar o tratamento de Camila comigo, como eu era a única neurologista do grupo, quando os procedimentos eram estritamente cirúrgicos, eu me perdia um pouco, assim Camila me usava como sua secretária, acho que propositalmente esquecia meu nome, chamando-me sempre de “mineira”, enquanto os outros realizavam exames e sugeriam procedimentos, para mim, as ordens eram basicamente:

-Traga-me um café por favor mineira.

- Mineira providencie água e café para todos.

-Pegou os resultados dos exames mineira?

-Anote isso pra mim por favor mineira!

Já me tornara motivo de piada pros outros residentes do grupo, que lógico só me chamavam de mineira também pra minha ira. Muitas vezes me refugiava na sala de gesso na urgência onde Bernardo estava, ele me dava um martelo, e eu quebrava dezenas de peças de gesso retiradas de pacientes, era uma terapia que ele tinha criado na residência pra liberar a raiva. Por causa dessas humilhações, decidi aprofundar-me ainda mais nas bibliografias, a essa altura, estava no meu apartamento, que não era tão bom como o do Rio, tinha dois quartos, mas muito pequenos, o escolhi mesmo assim, porque era no mesmo prédio do Bernardo, assim, não me sentia tão sozinha, além de ser perto do hospital, muitas vezes dispensamos o carro, o meu foi trazido por Livia e Afonso quando minha mudança chegou a Campinas.

Pensava em Suzana sempre, as vezes falava por chat com Lurdes e Letícia, elas repetiam que Suzana permanecia arrasada, e Bárbara a seguia por todos os cantos, isso despertava a mágoa que adormecia quando lembrava dos momentos maravilhosos que tive com ela. A admiração, o encantamento que nutria por Camila se perdia em meio as suas provocações, nutria agora uma raiva absurda por ela, queria provar pra ela que a mineira era uma médica e pesquisadora competente.

Bernardo incansavelmente me chamava pra sair nos fins de semana, mas eu estava obcecada em sair da condição de secretária de Camila e enfim mostrar minha competência, todo meu tempo livre era pra estudar, pesquisar. Entretanto, no segundo final de semana de junho, fui praticamente seqüestrada por Bernardo, que na época estava de caso com um fisioterapeuta de um time de vôlei de São Paulo. Bernardo ligou-me numa noite de sexta, com voz chorosa, pedindo que eu o buscasse em um bar perto do hospital, pois havia sido assaltado e fora machucado pelos bandidos. Fiquei tão apavorada, que peguei as chaves do carro no mesmo instante, sequer troquei de roupa, saí de short curto, havaianas, e um top, desci as escadas sem esperar pelo elevador, quando cheguei no bar em questão (o qual eu só acertei o caminho porque ficara a um quarteirão do hospital), desci do carro a procura de Bernardo, que me abraçou por trás, me suspendeu, me levando de volta pro carro, me empurrando pela porta do carona, eu não entendi nada, abriu a porta de trás do carro, jogou duas malas, entrou no carro e arrancou com urgência.

-Bernardo Luís o que está acontecendo? Onde você foi machucado? E de quem são essas malas?

-Nossa quantas perguntas Isa! Muita calma nessa hora! Coloca o cinto por favor.

-BER-NAR-DOOOOO, fala logo – falei trincando os dentes de raiva, notando que tinha sido enganada, porque ele não tinha sequer um arranhão.

- Primeiro, que roupa indecente heim doutora? Segundo, coloca o cinto porque estamos chegando na estrada. Terceiro, fica calma porque esse corpinho continua perfeito assim como meu rosto- piscou os olhos rapidamente qual personagem de desenho animado e fez um bico- , de machucado só meu ego por inveja dessas suas pernas. Quarto, essas malas são nossas racha, como você é lenta heim, ainda não entendeu que estamos viajando?

-O que? Pára esse carro Bernardo!- disse batendo repetidas vezes no seu ombro.

-Aiiiiiii, vai quebrar sua unha heim! Só paro agora em São Paulo meu bem!

-São Paulo? Bernardo eu tenho que estudar, você andou bebendo xampu de novo?

-Isa você não fez outra coisa depois que chegou, se eu te convidasse você não viria, e não ia te deixar sozinha um fim de semana inteiro, meu bofe está trabalhando esse final de semana lá, na superliga de vôlei, Olivia está nos esperando lá... Então peguei umas roupas suas fiz as malas e estamos aqui e não tem volta!

Eu sabia que por mais que eu esperneasse não tinha mesmo como voltar, e pensei que no fundo ele tinha razão, precisava descansar da rotina. Chegamos em pouco mais de uma hora em São Paulo.Olívia nos recebeu aos gritos na porta do apartamento como sempre, escandalosa...decidi tirar a cara emburrada e relaxar enfim.

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - DÉCIMO TERCEIRO CAPÍTULO

Capítulo 13



Sem pressa, sem objetivos escusos, sem jogos, um beijo puro, por ele mesmo. Esther correspondeu com a mesma intensidade, e a paixão trocada naquele ósculo foi se tornando faminto. Só os lábios e línguas não eram suficientes para concretizar tal fervor, as mãos, braços se apertavam pelos corpos como se buscassem se fundir.

Entre abraços e outros beijos, Amy e Esther caíram unidas na areia. Trocaram carinhos e sorrisos como duas crianças brincando na praia, até seus olhos se encontrarem e denunciarem seu desejo, provocando a troca de outro beijo, dessa vez, cheio de excitação, com o corpo de Esther por cima do corpo de Amy, roçando mutuamente.

Sem nada mais dizer, Esther levantou-se rapidamente, estendendo a mão para Amy, que estranhou e se decepcionou com a súbita parada nos carinhos calientes que estavam trocando, mas a seguiu. A morena subiu na moto, dando a mão para que Amy fizesse o mesmo, e disse, num tom carinhoso:

-- Acho que precisamos de um mínimo de privacidade e conforto, né?

Amy sorriu como se concordasse com a observação de Esther, e envolveu seus braços na cintura da morena, dessa vez, de uma maneira carinhosa e sensual, beijando o pescoço da veterana que se derretia em sorrisos com o gesto da novata.

Esther pilotava devagar, dessa vez sem capacete, sentindo o carinho de Amy lhe envolver. Esta por sua vez, parecia embriagada com o cheiro que o vento trazia dos cabelos da morena.

Esther parou próximo ao cais, onde alguns barcos e iates estavam atracados. Amy estranhou e não conteve a curiosidade:

-- Não vai me dizer que você tem um barco...

-- Acha que não posso ter?

-- Não é isso... É que, você não parece ser tipo que curte essas ostentações...

-- Não é ostentação, o barco que você vai conhecer era do meu pai, era a paixão dele depois do surf... E foi a única herança que ele me deixou, meu avô tentou me convencer a vender, mas não consegui.

-- Então você o usa pra trazer menininhas aqui?

Esther ficou séria de repente, parou diante do barco, e falou em tom magoado:

-- Vamos embora, você não merece conhecer esse lugar se pensa isso de mim.

Amy arregalou os olhos já provando o imenso arrependimento de ter proferido o comentário descabido, apertou a mão de Esther e disse-lhe com o olhar cheio de sinceridade:

-- Desculpe-me, Esther, foi sem propósito e injusta a pergunta, eu quero conhecer o barco de seu pai, vamos?

A morena rendeu-se ao olhar carinhosamente arrependido da novata, respirou fundo, ajeitou os cabelos assanhados pelo vento e seguiu em direção ao barco Nina. Uma embarcação de médio porte, mas sofisticada, sem exageros.

Esther ajudou Amy a subir, a loirinha ficou encantada com a vista, mais bonita pela presença da morena à sua frente.

Amy colou seu corpo ao de Esther a tomando em um beijo longo e faminto. O beijo logo evoluiu entre carícias insinuantes para o primeiro passo de uma noite de amor, quando Esther a puxou pela mão até as escadas próximas a cabine, desceu rapidamente. Lá em baixo, encontrou uma pequena sala com sofá, um bar, uma pequena cozinha, e uma porta, a qual Esther abriu com pressa, apresentando o quarto bem montado com cama de casal, com uma entrada para um banheiro.

Em poucos minutos as poucas peças de roupas que ambas vestiam se perderam na pressa das mãos de se possuírem. Caíram naquela cama de maneira urgente, como se precisassem atender uma necessidade absolutamente vital. Os corpos se buscavam de uma forma ardente, mas ao mesmo tempo delicada. Voltados e entregues à exploração da língua na pele, das mãos pela extensão do sexo de ambas, carícias exigentes até atingirem o ápice. Uma explosão de gozo entre as pernas e vozes se deu naquela noite.

Amy e Esther abraçaram-se sentindo seus corpos vibrarem por tal expressão, sorriram, e repousaram, encostando suas testas, cada uma ouvindo a respiração da outra voltando ao normal aos poucos.

Não sentiram o cansaço chegar, adormeceram ali coladas, nem tampouco viram o sol aparecer pelas escotilhas. Acordaram com o celular de Esther tocando alto, era Rachel.

-- Onde você está, sua louca?

-- Ai, Rachel, fala baixo...

-- Você sabe que horas são? A Amy está com você?

-- Amy? Deixa eu ver se é ela que tá aqui... -- Esther brincou olhando debaixo do lençol, onde Amy se espreguiçava.

-- Esther!

-- Acalma, menina, ela está aqui, estamos bem, logo chegamos...

Esther dessa vez não fugiu de Amy, seria impossível, a loirinha estava em cima dela, beijando seu pescoço, seu queixo. Simplesmente se rendeu ao carinho de Amy, e se amaram mais uma vez.

Enquanto Amy se levantou, Esther foi tomada por um sentimento de culpa indescritível, sentiu desejo de se punir por estar tão envolvida por Amy e pior, gostava disso. Rapidamente se levantou, vestiu-se de qualquer jeito e quando se preparava para deixar o barco, foi surpreendida com o grito de Amy na porta da cabine:

-- Esther, aonde você vai?

-- Desculpa, tenho que ir.

-- Por favor, não me diz que você vai me dispensar de novo, Esther... Me diz que você está indo só comprar nosso café-da-manhã...

-- Você é muito romântica, loirinha... Te ofereceria uma carona pra casa, mas estou com pressa.

-- Esther, não me deixa aqui... Não faça isso de novo!

A veterana não olhou para trás, evitando assim que Amy visse suas lágrimas caindo pelo rosto. A novata por sua vez não evitou que sua face fosse banhada com o sal de seu pranto. Sentiu-se de novo humilhada, e dessa vez conseguia ser mais doloroso, uma vez que a noite com Esther tinha sido ainda mais perfeita, viu-se apaixonada e magoada, em seguida.

Recolheu suas roupas espalhadas e caminhou amargando sua mágoa até um posto de táxi perto do cais, prometendo a si mesma não permitir que Esther lhe tocasse nunca mais. Chegando emcasa, ignorou as demais irmãs reunidas na sala, subiu para o primeiro andar sem sequer cumprimentar ninguém. Trancou-se no quarto desejando deixar aquela fraternidade, para que nunca mais fosse obrigada a cruzar com Esther. Laurel até tentou falar com Amy, mas foi inútil, ela sequer respondeu a amiga, não chorava mais, ficou ali deitada na cama olhando pro nada sentindo o abalo como nunca experimentara na vida.