quarta-feira, 30 de novembro de 2011

LEIS DO DESTINO: 7º CAPÍTULO

* Sensus Excitabat

Despertada pelos sentidos, despertando sentimentos.
Por Têmis





Diana parecia à vontade trajando aquela camiseta, exibindo suas pernas finas, mas, delineadas, pele alva, sem manchas, nem ficou tímida tentando esconder a calcinha, se espalhou no sofá-cama esperando Natalia que se trocava no banheiro.

Natália surgiu trajando um baby doll minúsculo, evidenciando suas pernas torneadas, impecáveis, só comparadas às pernas das cantoras de axé baianas. Diana paralisou bestificada com aquela visão. Nunca imaginara que as roupas comportadas da menina do interior, escondiam um corpo tão sensual e delicado ao mesmo tempo. A dona da casa sequer percebeu os olhos atentos e fixos de Diana em seu corpo, inocentemente ingeria um copo d’água, para Diana aquele gesto imprimiu uma sensualidade surreal, a loirinha conseguia até ver a cena em câmera lenta, tamanha era a perfeição do que via.

-- Você quer água? – Ofereceu Natália.

-- Han?

Diana foi desperta do transe.

-- Perguntei se você quer água.

-- Ah sim, por favor.

Natália educadamente serviu o copo à Diana, que bebeu com voracidade evitando olhar para o corpo da novata que não poderia imaginar a reação que provocara na outra.

-- Como você dorme? No escuro, ou prefere que eu deixe a luz da cozinha acesa?

-- Escuro total! Se você não se incomoda, claro.

Diana foi rápida na resposta. Pensava consigo mesma que a escuridão lhe daria a segurança de não ser denunciada pelo olhar de desejo que expressara ao ver Natalia naqueles trajes. Entretanto, mal sabia Diana, que Natália não despertaria só o seu sentido da visão, mas todos.

O perfume de Natalia quando espalhou seus cabelos no travesseiro inebriou o olfato de Diana, o simples fato da novata se remexer na cama, fazendo sua pele roçar na pele da loirinha, arrepiava-lhe, provocando um desejo quase incontrolável de tocar aquela pele tão macia, delicada, como se seu tato precisasse daquele contato.

A noite parecia não ter fim para Diana que lutou contra ela mesma para não dar vazão ao desejo até então escondido dela mesma, desde que conheceu Natália. A proximidade das duas, o lado determinado, confiante e maduro da menina do interior propiciou uma intimidade que Diana não estava preparada para entender.

Como uma típica interiorana Natália acordou cedo. Olhou para a janela percebeu que a tempestade era coisa do passado, o sol já dava sinais de um dia lindo pela frente. Do seu lado, Diana dormia tranqüila, serena. Não pode evitar olhar para a loirinha que daquele jeito nem parecia à moça petulante e irritante que estava sempre com uma piada na ponta da língua. Natalia pode prestar atenção em cada detalhe do rosto delicado, se não a conhecesse, diria até que Diana era uma moça meiga, dada a face de anjo que a veterana tinha.

Natália não conseguia compreender o porquê de estar tão presa à visão de Diana dormindo, mas passou minutos contemplando-a, antes de se assustar ao perceber sua hóspede se remexendo na cama. Levantou-se rapidamente e foi preparar o café-da-manhã das duas.

Caprichou e nem sabia o motivo de tanto esmero para agradar Diana. Espalhou pelo balcão pão-de-queijo, café, leite, torradas, até bolinho de chuva Natália preparou. O barulho das panelas e pratos naquele espaço minúsculo acabou por acordar Diana, que com um humor nada agradável saudou a dona da casa.

-- Puta que pariu caipira!

-- Bom dia pra você também Diana.

-- Bom dia? Caraca você trouxe um galo na mala que te acorda quando o sol nasce? – Diana retrucou esfregando os olhos.

-- O sol já nasceu há horas minha cara!

Diana espreguiçou-se, levantou e se espantou com a “mesa” posta.

-- Nossa! Tudo isso você fez pra mim?

-- Você se acha a última coca-cola do deserto não é? – Natália respondeu sem graça.

-- A última não, mas, a mais gelada e mais saborosa, com certeza sim.

Diana abriu seu sorriso mais faceiro.

-- Não fiz tudo isso pra você não! Fiz pra mim, mas acho que vai sobrar um pouco pra você.

Natália disfarçou.

-- Opa! Acho que se você não for rápida, não vai sobrar é pra você!

Diana avançou no pão-de-queijo sem a menor cerimônia.

-- Se o Direito te decepcionar, você já tem ofício garantido caipira, abre uma padaria!

-- Vindo de você vou entender como elogio. Pelo menos você não me disse de novo que minhas habilidades são de Amélia.

-- O que ninguém gosta em São Paulo, eu adoro!

-- A poluição? Os engarrafamentos?

-- Não né! Esse clima maluco, de uma hora pra outra uma tempestade cai e olha só o sol hoje, nem parece que a cidade se acabava em água na madrugada.

-- … verdade.

-- Com uma luz dessas, não posso ficar parada. Vem comigo?

-- Pra onde?

-- Ah, resposta errada! Quando eu te fizer um convite, você deve responder sim, vamos?

-- Imagina se vou aceitar cegamente ir com você pra qualquer lugar!

-- Eu devia ter imaginado que uma caipira como você é bicho do mato também!

Diana provocou, despertando a irritação de Natalia.

-- Vamos? – Natália disse levantando-se do banco.

-- Mas, você vai vestida assim?

-- Qual o problema?

Diana olhou e mais uma vez ficou desconcertada ao se deparar com o belo par de pernas de Natalia.

-- … que... Não sei se de onde você veio é comum sair de pijama... Mas, aqui não!

-- Ué, você está preocupada com convenções? – Natália perguntou sarcástica.

-- Não estou preocupada, mas a gente não vai poder passar perto de um canteiro de obras, os peões vão te atacar!

Natalia ruborizou.

-- Então, me dá vinte minutos e já me apronto.

-- Não demore, preciso passar no meu AP pra pegar umas coisas.

Em exatos vinte minutos, Natalia estava pronta. Calça jeans justa, camiseta de alça, tênis, com um moletom nas mãos. O visual da novata apesar de simples e nos padrões de meninas da sua idade, para Diana se apresentou como figurino da sensualidade, delineando suas formas tão femininas.

-- Vamos?

Diana acenou em acordo. Parou em sua casa no trajeto:

-- Não demoro, prometo só jogar uma água no corpo, trocar de roupa e pegar meu material.

Ao contrário da quitinete que Natália morava, o apartamento de Diana era bem mobiliado, organizado, bem ventilado, com uma varanda na sala. Bem ao estilo da loirinha. Decoração clean, sofá espaçoso, pilhas de CDs próximo a uma aparelhagem de som moderna, e nas paredes uma exposição de fotos de paisagens, rostos, objetos, todas de muito bom gosto, bem produzidas.

-- Fique à vontade caipira, prometo que não demoro mais de dez minutos.

Olhando em volta, Natália percebera que a realidade financeira da loirinha, era bem diferente da sua. Como prometera Diana não demorou.

-- Já voltei! Demorei mais de dez minutos?

Natália saiu de sua distração para balançar a cabeça negativamente.

-- Vamos? – Convidou Diana.

-- Não sei bem pra onde, mas vamos.

Diana sorriu, e caminhou em direção á porta, Natália esbarrou em uma escultura, e por pouco não espatifou a obra de arte no chão.

-- Desculpa Diana. – Natália disse sem graça.

-- Relaxa caipira, não seria um grande prejuízo não. Era só pedir a escultora ela faria outra pra mim.

-- Nossa que moral que você tem! O que o dinheiro não faz né?

Diana ficou séria, e Natália percebeu que abusou da ironia no comentário.

-- Minha moral com a escultora não tem nada haver com dinheiro, até mesmo porque o dinheiro não é meu, é da minha família.

-- Eu não quis ser desagradável Diana, desculpe-me.

-- Vamos esquecer isso, a gente está perdendo tempo aqui.

Em uma cidade repleta de paisagens tipicamente urbanas, não foi surpresa o destino das duas. Diana levou Natália a um dos poucos espaços naturais de São Paulo: o Parque do Ibirapuera.

Diana abriu sua mochila e montou sua câmera sofisticada rapidamente, e como se cumprisse uma missão, não parou de clicar a paisagem, as pessoas, sob o olhar atento de Natalia.

Natália estava mais interessada na veneração de Diana à fotografia, do que propriamente à bela paisagem. Sentou-se na grama e observou cada movimento, expressão e olhar da loirinha. Diana passou mais de uma hora fotografando sem parar, por momentos se afastou de Natália, até enfim sentar ao seu lado na grama e voltar ao seu comportamento normal.

-- E aí caipira? Gostou da surpresa? Esse é o máximo de mato que você vai encontrar em São Paulo, deu pra matar as saudades?

-- Até parece que você veio pra cá pra me agradar... Estava praticamente em transe enquanto fotografava.

-- Fotografia é minha paixão, por causa dessa paixão suporto o Direito.

-- O que tem Direito com fotografia?

-- Nada! Esse é um dos motivos pelos quais odeio tanto Direito.

Natalia sorriu e insistiu:

-- Então, pode me explicar?

-- Meus pais nunca aceitariam me manter longe deles, na verdade meu pai, pra estudar fotografia. Decidi prestar vestibular pra Direito aqui em São Paulo porque aqui, além de estar a quilômetros de distância da vigilância de meu pai, ainda é a cidade onde tem os melhores cursos de fotografia do país. Por isso enrolo tanto a faculdade, preciso me profissionalizar em fotografia, juntar uma grana pra me especializar fora do país, poder me manter, viver de foto, e não depender mais dos meus pais.

-- Agora entendo... E eles apóiam você estudar Direito?

-- Completamente. Desde criança colocam isso na minha cabeça. Meu pai é um apaixonado por leis, as conhece profundamente mesmo que seja só para passar por cima delas com sua empáfia e moral deturpada, eu acho que por ele, latim não era língua morta, vive com expressões em latim na ponta da língua, que ele parece ter aprendido na faculdade, mas nunca freqüentou uma.

-- Ah, ele então é da área?

-- Você não sabe quem é meu pai? Sério?

-- Eu deveria saber?

Diana ficou sem graça e mudou de assunto rapidamente.

-- Está com fome?

-- Nem vi as horas passarem... Acho que já é hora de almoço não é?

-- Eu esqueci a cesta de piquenique...

-- Sério? Você ia trazer uma cesta de piquenique? – Natalia perguntou surpresa.

-- Caipira só você mesmo... – Diana gargalhou – Olha minha cara de quem faz piquenique no Ibirapuera.

Natalia mostrou a língua para a outra, numa expressão completamente infantil.

-- Vamos almoçar, estou faminta!

O contato das duas na motocicleta despertava sensações desconhecidas para Natalia. Não sabia explicar, mas o corpo de Diana tão perto do seu, depois de conhecer uma face diferente da loirinha, menos pretensiosa, mais sensível, Natalia se via incapaz de sentir outra coisa que não fosse carinho e admiração pela loirinha, mas o carinho e a admiração eram confusos, escondiam sentimentos inéditos, que a menina do interior não se preocupava em decifrar, queria apenas desfrutar da companhia de Diana, sentir seu cheiro, escutar sua voz, rir com seu jeito despojado, ou simplesmente se encantar com as diversas faces que ela revelava.

Almoçaram em um restaurante de comida regional, Diana não se cansava de provocar Natalia, que nem ligava mais pras piadas as quais era alvo. A afinidade entre as duas era inegável, apesar de serem opostas em planos, gostos, e histórias de vida.

As horas passaram rápidas, e no final da tarde Natalia se viu obrigada pelo seu excesso de responsabilidade a por um fim no seu sábado de folga.

-- Diana, eu preciso voltar pra casa, tenho um trabalho de filosofia pra fazer...

-- Ah para com isso caipira! Filosofia?! Você escreve qualquer besteira e o professor vai achar super profundo! Filosofar é entrar em um quarto escuro, de olhos vendados e ainda conseguir achar um pontinho branco lá!

-- Posso usar essa definição no trabalho?

-- Fique à vontade! Imagina dispensar minha companhia pra filosofar!

Natalia riu. E quando se preparavam para um novo passeio, para um rumo desconhecido, outra tempestade surgiu, Diana acelerou a motocicleta para seu apartamento, já que era mais próximo dali.

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