quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Aconteceu Você : Quarto capítulo

CAPÍTULO 4: NOVOS AMIGOS

O lugar não era muito convencional, no percurso já percebi isso, seguimos por uma estrada de terra por cerca de meia hora, chegando numa espécie de chácara, ao entrarmos pelo portão, o aspecto era de um barzinho normal, estava lotado, as mesas estavam espalhadas dentro da casa e pelo jardim, ao final um palco com uma banda tocando rock dos anos 80, gente bonita e descontraída, desenhavam um agradável cenário para diversão.

De longe Daniel acenou para alguém em segundos um jovem bonito se aproximou, não devia ter mais de vinte e dois anos, músculos bem definidos, mas não exagerados, não era alto, e os traços do seu rosto moreno eram de uma beleza encantadora, especialmente seu sorriso que se abriu sincero para mim:

-- Alex, este é Diego, meu namorado.

-- Muito prazer Diego. Ops... Seu o quê Dandan?

Não consegui disfarçar minha surpresa, apertando a mão do rapaz, arregalei os olhos e quase me engasgo com minha própria saliva. Daniel sorriu, e Diego também.

-- Dan, não é assim que se faz esse tipo de revelação, sua amiga ficou assustada.

-- Gente me desculpe, não tenho nada contra, só me pegou de surpresa a revelação...

Muito constrangida tentei remendar minha reação, caminhamos até uma mesa onde outras pessoas estavam sentadas, entre os dois que me abraçaram na tentativa de me deixar à vontade. Na mesa, todos bebiam, riam de uma maneira leve, ao notarem nossa chegada, as atenções se voltaram para mim, quando Daniel me apresentou:

-- Pessoal essa é a Alexandra, podem chamar essa sardentinha de Alex, chegou hoje à nossa cidade, vai ser a editora chefe do jornal que vamos inaugurar. Minha amiga de infância!

-- Oi gente. -- Falei tímida.

Gentilmente um dos rapazes, deu seu lugar na mesa, oferecendo sua cadeira:

-- Sente aqui conosco Alex, seja bem vinda a nossa máfia! Muito prazer eu sou Leandro.

Sorri agradecida o gesto do rapaz negro que usava um cavanhaque charmoso e cabelo cheio de estilo, que lembrava um cantor de reggae. Sentada, fui escutando o Diego anunciar o nome das outras pessoas da mesa.

-- Alex esse cara chato ali no centro da mesa é o Mário, vizinho a ele a santa da namorada que agüenta ele a Lígia; perto dela as fofas Clara e Isabelle, Paulo e Luís, aí do seu lado: Danielle, Luíza e o Beto.

Todos sorriram uns mais simpáticos que outros, mesmo assim me senti acolhida. Não tive coragem de perguntar se haviam ali mais casais “especiais”, apesar de vir de uma cidade grande, meu meio sempre foi hetero demais, temi não saber agir naturalmente, puro preconceito confesso. Diego e Daniel se esforçaram para me integrar nos assuntos, falando do relacionamento deles e da vida deles na cidade.

-- Sou estudante de medicina Alex, minha família é super tradicional, e pelo fato do Dan ser uma pessoa pública, não tivemos como esconder nosso relacionamento por muito tempo. Mas procuro evitar o choque das pessoas, e nos refugiamos nesses lugares alternativos. Essa chácara é de um casal de amigas nossas, artistas da região sempre promovem eventos aqui, acabou sendo um espaço nosso se é que você me entende.

-- Mas então, se trata de um bar gay? -- Perguntei constrangida.

-- … um bar de gente inteligente Sardenta... Nem todos aqui são gays, mas gostam de boa música, curtem dança, teatro e um clima agradável aqui têm tudo isso. -- Respondeu Daniel.

A noite seguiu leve, senti falta das minhas amigas, àquela altura a Renatinha já estaria bêbada se queixando pelo tanto de homens lindos acompanhado de outros igualmente atraentes. Basicamente fui uma boa ouvinte na mesa, o Leandro tinha um astral maravilhoso e me arrancou muitas risadas enquanto Danielle tratava de aumentar o teor alcoólico do meu sangue me trazendo bebidas diversas.

O intervalo da banda deu lugar a uma apresentação acústica do Beto, a mesa toda se converteu rapidamente no fã clube particular do rapaz magro de aparência nerd da turma. Já meio tonta pedi licença e fui até o banheiro, mal sabia eu o que representava o banheiro em um “bar inteligente” como definiu meu amigo. Ao abrir a porta me deparei com duas mulheres trocando um beijo quente encostadas no espelho, não notaram minha presença, por um momento hesitei em entrar em um dos boxes andando para trás, visivelmente perturbada com a cena, e tonta, tropecei em um tapete, e fui salva de uma queda por braços firmes e ágeis.

-- Bem a tempo donzela!

A voz era suave, o cheiro cítrico que eu senti me arrepiou, virei-me devagar ainda envolvida naqueles braços de pele macia e encontrei os olhos castanhos claros e brilhantes mais lindos que eu já tinha visto em toda minha vida.

Com algum esforço me coloquei de pé ficando de frente para uma mulher tão bela quanto o par de olhos que me encantou, no mesmo momento que o casal que antes se beijava, interromperam o beijo dando atenção às “intrusas” naquele banheiro.

-- Você está bem? – Perguntou a mulher.

Balancei a cabeça afirmando que estava bem, fascinada pelos olhos castanhos brilhantes definidos por sombracelhas bem delineadas, boca bem desenhada, cabelos longos escuros e lisos, seu corpo, vestido num jeans justo e blusa decotada com uma jaqueta curta lhe davam um charme irresistível.

-- Muito prazer, Marisa Becker.

Aquela mulher encantadora estendeu sua mão delicada para mim, inexplicavelmente nervosa retribui o gesto:

-- O prazer é meu, Alexandra Castro

O aperto de mão firme me despertou uma sensação inédita, meu coração acelerou e minhas mãos suaram. Sem graça observei o casal de mulheres saírem do banheiro de mãos dadas, disfarçando meu nervosismo caminhei até a pia onde lavei minhas mãos, embaraçada pela vigilância daquela mulher incrível.

-- Está bem mesmo Alexandra? Você me parece tensa... Posso ajudar?

-- Estou bem obrigada Marina.

-- … Marisa.

Ela disse com um sorriso absolutamente arrebatador.

-- Desculpe-me Marisa... Obrigada pela gentileza, mas estou bem, só meio sem prática com bebida... Acho que já atingi meu limite por hoje.

Devo ter gaguejado em algumas palavras, mas no geral acho que me saí bem na desculpa. Sorri amarelo e saí pela porta esquecendo o motivo de ter ido até ali, apressada pela chegada de outras mulheres. No caminho de volta acabei percebendo que precisava mesmo usar o banheiro, voltei para lá, acabei tropeçando de novo na entrada e como se fosse uma grande piada do destino, outra vez caí nos braços de Marisa, dessa vez de frente, ficando a centímetros de sua boca absurdamente sensual.

-- Acho que tem algum ímã te trazendo pra mim...

Marisa me disse isso de uma maneira tão doce que nem me assustei com o tom de flerte. Certamente em outra situação me chocaria diante da paquera de uma mulher, mas Marisa era tão feminina, que seria hipocrisia de minha parte dizer que não estava lisonjeada pela delicadeza daquela mulher comigo.

-- Acho que é mesmo minha coordenação motora, na verdade a falta dela mesmo... Eu vivo tropeçando, me estatelando no chão, em parede...

-- Então é melhor você me dar seu telefone, você vai precisar muito de mim...

Sorri encantada com cada palavra que Marisa falava, estava impressionada com o charme exuberante e feminino dela, nenhuma mulher me chamara tanto à atenção até aquele dia. Fui caminhando de costas até um dos boxes do banheiro enquanto Marisa saía. Voltei à mesa onde Daniel e Diego estavam preocupados com minha demora.

-- Onde você estava sardenta? – Daniel perguntou.

-- No banheiro oras...

-- Viu passarinho verde por lá? Aliás, passarinho meio difícil por lá não é... -- Daniel disse segurando o riso.

-- Encontrou alguma sandalhinha perdida por lá querida? -- Perguntou Diego.

Olhei para meus pés sem nada entender, o que despertou a risada do casal. Não vou negar que passei boa parte do resto da noite procurando Marisa entre as mesas, sem sucesso. Os amigos do Dan pareciam ter uma fonte inesgotável de energia, altas horas da madrugada, ainda estavam no pique, dançando ao ritmo do rock da banda, ou até mesmo rindo uns dos outros e Marisa parecia ter evaporado entre as árvores dali.

Pouco antes do amanhecer Daniel resolveu vir embora, exausta dormi no banco traseiro do carro mesmo, nem percebi quando o Dan me colocou no colo e me deixou dormindo no sofá de minha nova casa.

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