sábado, 3 de dezembro de 2011

I kissed girl

Apesar de não ser uma série lésbica, e o conteúdo ser um tanto adolescente, confesso que acompanho GLEE  pela qualidade das vozes dos protagonistas, e as roupagens de hits atuais e do passado.
Confessado o delito rsrs, compartilho com vocês um trecho do mais recente episódio: I kissed girl
Com esse título sugestivo, a caliente Santana sai do armário assumindo seu namoro com a loira burrinha ( mas muito fofa e putz como ela dança!) Brittany.

Na versão delas do sucesso da Kate Perry, as meninas do Glee ficam ao lado de Santana contra o preconceito dos alunos. Ficou muito legal!



LEIS DO DESTINO: 15º e 16º CAPÍTULOS

CAPÍTULO 15: Posito ideas 
Colocando as idéias no lugar
Por Têmis


                Diana não sabia ao certo quem procurar, ou aonde ir, precisava usar a sensatez e a resignação que nunca tivera, para refletir e decidir como conduzir aquela avalanche de sentimentos e sensações que vivia. Perguntava-se como uma garota que representava tudo que ela não queria para amar, conseguira dentro de algumas semanas balançar suas estruturas, acabar com seu namoro estável, dividir seus melhores amigos e ao mesmo tempo lhe magoar tanto com comentários que ela naquela altura já tinha aprendido a driblar.

                Depois de horas pilotando pela cidade, chegou a sua casa e se deu conta que era incapaz de ficar a sós com tantos pensamentos conflitantes. Cheia de receio de não ser atendida, sacou o celular e ligou para Julia.

-- Alô?

-- Oi Julia.

-- Oi Diana.

-- Você está em casa?

-- Não, por quê?

-- Por nada... – Diana ficou encabulada.

-- Aconteceu alguma coisa? Estou achando sua voz meio triste.

                Antes de qualquer coisa, Julia sempre foi uma grande amiga, por muitas vezes o porto seguro de Diana, por isso, a ex-namorada lhe conhecia muito bem, a distância sempre presente no namoro delas por conta do trabalho de Julia desenvolveu nesta a sensibilidade de conhecer os diferentes tons de voz da outra.

-- Só queria conversar um pouco, pensei em ir a sua casa, mas estou escutando barulho, você deve estar ocupada, deixa pra lá.

-- Você acanhada? Nossa, deve ser sério mesmo... Vamos fazer o seguinte, estou bem perto da sua casa, daqui vou para o aniversário do Rodrigo, passo na sua casa no caminho, pode ser?

-- Fico esperando, obrigada Ju.

                Diana desligou o telefone, aliviada por ainda poder contar com a amizade da ex.

                Natalia deve ter pegado uns três ônibus errados, até conseguir chegar ao prédio que Diana morava. Esfregou as mãos tentando aliviar o nervosismo enquanto caminhava até a entrada, avistou uma ruiva na portaria, que caminhou até o elevador. Natalia apertou os olhos para focar melhor a visão e atestou o que suspeitava, era Julia, a suposta ex-namorada de Diana, com certeza não estava ali por acaso.

                Desceu os degraus da portaria lentamente, frustrada, enciumada, machucada. Natalia desconhecia aquele sentimento, e desejou nunca tê-lo sentido, mas ele foi sua companhia naquela noite.

******

                Julia fez questão de ser anunciada, mesmo tendo as chaves do apartamento.

-- Oi loira!

-- Oi ruiva... Obrigada por ter vindo.

-- Precisava vir aqui mesmo te entregar as chaves. Mas, me diga que carinha é essa?

-- Umas paradas aí... Estou tão perdida, não estou me reconhecendo Ju...

                Diana foi evasiva, seria um abuso desabafar com a ex-namorada, sua angustia provocada pelo sentimento que fora motivo do término da relação com Julia.

-- É ela não é? – Julia perguntou séria.

-- Não é por ninguém especificamente Julia, são as pessoas em geral que me decepcionam me machucam com rótulos... Hoje mesmo ouvi sem querer duas meninas falando sobre mim, sobre minha sexualidade... Esses termos pejorativos, a ideia que estar perto de uma lésbica pega mal...

-- Diana... – Julia interrompeu impaciente. – Eu sei que isso é chato, desgastante, mas, eu também te conheço, você tirou de letra os primeiros comentários, já está acostumada com isso e já ouviu ofensas bem piores... O que tem diferente dessa vez?

-- Nada diferente, só que isso às vezes cansa!

-- Diana me poupa vai... Estou aqui me esforçando pra cumprir o que sempre combinamos, de me manter sua amiga se um dia terminássemos, ainda estou magoada com você, então, respeite meu esforço, e para de me enrolar por que tem uma festa me esperando!

-- Ai Julia não é fácil falar disso!

-- Fala, é ela não é?

-- É! Pronto, queria saber, pronto, é ela sim!

-- Eu sabia! – Julia ficou de pé irritada.

-- Ah agora você vai ficar com mais raiva de mim?

-- Não é raiva, é revolta... Ou sei lá o que! – Deixou escapar um riso. – Ai, não tenho palavras pra explicar, só odeio quando minha intuição é confirmada! Nunca é a meu favor!

                Diana sorriu sem graça.

-- Eu sabia Diana que aquela garota representava algo mais pra você. Você sempre foi de flertar, de usar as armas que você tem consciência que tem, pra ser o centro das atenções, pra despertar o desejo das outras pessoas, mas era uma atitude de autoafirmação, por puro egocentrismo ou simplesmente por que faz parte de você esse instinto de conquistar, seduzir, e você usa isso até nas suas fotos, é parte de você... Mas, daí a trair, ser desleal, eu sabia que você não seria capaz.

-- Mas, eu te traí Ju... Você não merecia isso...

-- Não mesmo! Mas você não traiu seus sentimentos Diana... Você estava com aquela garota aqui na sua casa, por que o que sente por ela, ultrapassou a barreira da vaidade, da atração pura e simples... Isso me machuca também, saber que alguém mexeu com você o suficiente pra você trair nossa relação, mas, ao menos tenho o consolo que agi corretamente terminando com você.

-- Eu estou tão envergonhada! Agindo assim como uma idiota por causa dessa caipira! Quem ela pensa que é? Ela disse que tinha nojo de mim... Posou de hetero pra amiguinha crente... E ainda está galinhando dando mole pra Lucas e Pedro ao mesmo tempo! Pra piorar tudo, o Pedro ainda me pede ajuda pra conquistá-la!

                Julia fez uma careta, quando teve a dimensão da encrenca sentimental que a ex-namorada estava metida.

-- Diana, eu sei que isso pode não ajudar muito, porque a ultima coisa que você é capaz nesse momento é de entender quem te machucou... Mas, você tem noção que a cabeça dessa menina deve estar mais confusa do que a sua? Ela tem o que? 18, 19 anos? Uma adolescente, você provavelmente foi a primeira experiência lésbica dela, foi flagrada pela namorada mais velha da primeira garota que ela beija, e ainda ouviu dessa garota que não significou nada pra ela...
               
Diana baixou os olhos.

-- Quanto à confusão com Pedro e Lucas... Você sabe o que é certo a fazer não?

-- Sei? – Diana fez careta.

-- Contar a verdade Diana.

-- Nunca! Você está doida?

-- Quanto mais você demorar a contar, mais o seu amigo ficará iludido e a situação só vai se complicar mais. Imagina se ele começa a namorar a menina...

                Diana chegou a sentir um arrepio, só de imaginar tal hipótese.

-- Dê um tempo pra você organizar suas ideias, seus sentimentos, depois você decide como agir.

                A loirinha acenou em acordo.

-- Obrigada por ser tão altruísta Ju... Mesmo depois do que fiz você ainda ser tão amiga...

-- Não sou isso não, meu intuito era pisar em você, te ver sofrer.

                Diana arregalou os olhos surpresa.

-- Mas, quando te vi, mais calma depois que passaram esses dias, percebi que nosso namoro já tinha acabado há tempos... Meus sentimentos por você mudaram Diana, hoje a noite fui o que tenho sido há alguns meses: sua melhor amiga.

                Julia sorriu, e puxou Diana para um abraço desarmado. Se aquela noite parecia irremediavelmente tenebrosa para Diana, a conversa e o abraço de Julia se configuraram em uma ponta de esperança que no final tudo ficaria bem.

*****

                Natalia acordou cedo. Depois de uma semana conflituosa, tudo que precisava era descarregar toda tensão dentro de uma quadra. Foi uma das primeiras a chegar ao treino marcado para o sábado.

-- Vamos ver se lá no interior sabem tratar essa redonda com carinho...

                Carla brincou entregando a bola a Natalia no início do treino depois de apresentá-la ao restante da equipe. Natália não precisou se esforçar muito para mostrar o quanto dominava aquele esporte, aproveitando praticamente cem por cento das bolas que chegavam até suas mãos, revezando os ataques com cortadas, bolas de segunda, bloqueios e largadas, impressionou não só as colegas veteranas, como também quem assistia inclusive Lucas, o mais empolgado gritando elogios a cada ponto da moça.

                A empolgação do rapaz não era só pela técnica da moça, Lucas não pode deixar de perceber as curvas encantadoras do corpo de Natalia, especialmente suas pernas que chamavam a atenção pela beleza e forma.

-- Aee gatinha! Você manda muito bem!

-- Ai deixa de ser exagerado! Jogo direitinho e só.

-- Estou dizendo a verdade, você é muitooo boa.

                Lucas fez uma expressão safada, olhando para as pernas de Natalia, que estapeou seu braço sem graça.

-- Então Natalia, próximo sábado, há mesma hora?

                Uma das meninas perguntou.

-- Claro! Estarei aqui sim.

                Despediram-se de maneira descontraída, ao que parecia, Natalia fora muito bem aceita pelas meninas do time, esse fato, minimizou a angústia que lhe assolara nos últimos dias.

-- Vai fazer o que agora? – Lucas perguntou ajudando Natalia com sua mochila.

-- Tomar um banho! Depois correr pra casa, fazer uma faxina na gaveta que eu chamo de casa e depois, se eu sobreviver, comer alguma coisa e cair na cama exausta, eis o meu resto de sábado!

-- Ah você não pode estar falando sério gatinha!

-- Estou sim.

-- Tenho uma proposta melhor a te fazer.

-- Estou ouvindo.

-- Você toma seu banho, e vem comigo experimentar a melhor feijoada do mundo!

-- Imagina! Não posso!

-- Ah não faz isso comigo, aceita! Prometo que te ajudo na faxina amanhã!

-- Lucas você não pode estar falando sério.

                Natalia balançou a cabeça sorrindo.

-- Vamos?

-- Posso saber onde essa feijoada fantástica será servida?

-- Na casa de um amigo, a mãe dele nos oferece todo início de semestre, e hoje, é aniversário dele.

-- Então, seu irmão também estará lá, não acha que vai ficar uma situação meio chata você me levando?

-- Ele vai é me dar um beijo quando vir que te levei!

                Natalia arqueou uma das sobrancelhas duvidando da previsão de Lucas.

-- Se eu for, vai mesmo me ajudar na faxina?

-- Na sua mochila também tem um bíblia pra que eu jure com a mão sobre ela?

                Natalia riu e respondeu:

-- Tirei-a hoje de manhã por que não caberiam meus tênis... Vou confiar na sua palavra então.

CAPÍTULO 16 Confessio
*Confissão


                Diana argumentava com Pedro seus motivos para não ir ao aniversário de Ricardo.

-- Pepê, eu não estou no clima! Trabalhei ontem no casamento mais brega de todos os tempos, aquela gente sugou toda minha energia fashion, eu preciso ficar em casa, me refazendo, terça-feira enfrentarei Madimbú na arena!

-- Diana não inventa desculpas! Há três anos a gente vai a todas as feijoadas na casa do Rico, é aniversário dele poxa! E há séculos você não sai conosco, sempre nos programas com a Julia nos deixou de escanteio, agora que você está solteira vem com esse papo de ficar em casa recarregando energias? Você nem é bateria de celular!

                Diana mostrou a língua, fazendo careta para a piada sem graça do amigo.

-- Pedro, você por acaso esqueceu quem vai estar lá?

-- Toda a galera! Seus amigos!

-- E a irmã do Ricardo! A Letícia voltou para o Brasil, ouvi o Ricardo comentando com os meninos.

-- E o que tem ela estar lá?

-- Pedro você está com algum problema de amnésia? A Letícia quase provoca um escândalo na frente de toda família dela, depois que nos agarramos no banheiro, só não fez isso, por que o Ricardo não deixou, já imaginou o que pode fazer me vendo lá na casa dela de novo?

-- Ah foi... Mas, já faz dois anos, ela nem lembra mais disso, estava bêbada também... Vamos lá.

-- Você acha que alguém é capaz de esquecer um beijo meu? Imagina! Nem em cem anos!

-- Tá bom gostosona então quem sabe ela queira outra dose do beijo, você está solteira mesmo, o que tem a perder?

                Diana sabia que era impossível vencer Pedro na argumentação, ele vencia pelo cansaço, trocou de roupa e seguiu com o amigo para a casa de Ricardo.
****


                Natália estava bastante à vontade com suas novas colegas de time, aos poucos se enturmava, especialmente pela popularidade de Lucas. Sua minissaia era o assunto entre os meninos, que não eram econômicos nos elogios às pernas da novata.

-- Olha lá quem chegou Lucas, seu genérico!

                Todos olharam para a entrada de Pedro e Diana se aproximando pelo jardim. Cumprimentaram a todos, Diana com a simpatia de sempre desfez o sorriso quando avistou Natalia. A reação de Pedro foi exatamente contrária a da amiga, abriu um sorriso sincero e se adiantou em cumprimentá-la.

                Perto de Lucas, Diana comentou sua surpresa de encontrar Natalia ali.

-- Quem convidou essa garota?

-- Eu! Ela veio comigo, por quê?

-- Que é isso agora? Ela virou acompanhante oficial de vocês agora? Quando não é o Pedro é você que arrasta essa caipira pros nossos programas?

-- Ai que coisa feia Di! Você está com ciúmes?

-- Que ciúme o que! Daqui a pouco estão vocês dois brigando de novo por causa dela.

-- Ah ela bem que vale a pena uma briga, olha aquele par de pernas Di! Muito gostosa ela viu... Se o Pedro não se garantir, entro no páreo pra valer!

-- Ah quer saber, fiquem aí vocês dois babando por ela, vou embora, não devia mesmo ter vindo!

-- Espera aí! Como é que é? Você vai embora por causa da Natalia?! Isso ta muito estranho... Qual é Diana?


                Diana mastigava o misto de ciúme, raiva e a necessidade de se desviar da desconfiança do amigo. Tomou da mão de Lucas o copo de caipirinha, e ingeriu todo o conteúdo de um só gole e anunciou olhando na direção de Natalia:

-- Não vou dar esse gostinho a ela...

                Lucas continuou com a mesma desconfiança no olhar, enquanto Diana buscava mais bebida, dificilmente conseguiria se manter ali, se não distraísse seus sentimentos e desejos por Natalia.

                Natalia por sua vez, ao avistar Diana, teve que se controlar para não soltar o copo que segurava. As reações que a presença da loirinha provocava em Natalia eram intemperantes, e mesmo com tal resposta do seu corpo, ela não conseguia evitar acompanhar cada passo de Diana com o olhar. Foi fria às investidas de Pedro, frustrado, o rapaz se afastou, buscando o conforto da melhor amiga.

-- Natalia nem me deu atenção... Ainda deve estar chateada comigo! Diana você tem que me ajudar!

-- Pedro para por aí ta?! Já disse que não quero e não vou ter contato nenhum com essa menina, mesmo que fosse o amor da sua vida!

-- Caraca Diana...

-- E não me enche mais com isso, por que já está ficando chato!

                Enquanto Diana permanecia cultivando seu mau-humor e acumulando copos vazios de caipirinha, na roda das meninas do time de vôlei, onde Natalia estava alheia aos assuntos, por estar mais preocupada em monitorar os movimentos de Diana, o conteúdo da conversa subitamente mudou com a chegada de uma jovem baixa, magra, de cabelos longos, mais parecia desfilar do que caminhar em volta da piscina.

-- Olha só quem deu as caras meninas... – Comentou Fernanda.

-- É a Letícia? – Perguntou Mônica surpresa.

-- A própria! Mais magra, está mais bonita, estava fazendo intercâmbio na Austrália. – Respondeu Fernanda.

-- Quero só ver a cara dela quando encontrar a Diana aqui. – Cochichou Marília.

                Ao ouvir o nome de Diana, instintivamente Natalia voltou seu rosto para a colega, curiosa acerca do comentário da menina.

-- O que tem ela com a Diana? – Mônica indagou curiosa.

-- Ai Mônica, como sempre você é a última, a saber, né? – brincou Fernanda.

-- Ai não me matem de curiosidade! – Suplicou Mônica.

-- Há uns dois anos, as duas se pegaram no banheiro, a Letícia fez um escândalo quando o Ricardo as flagrou acusando a Diana de tê-la agarrado à força ameaçou expulsar a Di da casa, foi um bafafá... – Narrou Marília

-- Mas eu estava aqui nessa festa, não vi nada disso!

-- Mônica você estava dormindo dentro do carro bêbada, não lembraria nem se a Diana te agarrasse! – Brincou Fernanda.

-- E isso da Diana ter agarrado à força, foi verdade? – Natália perguntou tímida.

-- Ah eu duvido... A Diana não dá ponto sem nó... A Letícia provocou, eu estava perto quando ela ficou se oferecendo pra posar pra Diana fotografar. – Defendeu Fernanda.

-- Pois eu não duvido, sabe como são essas sapas né? Já levam tudo na maldade, interpretam qualquer gesto como paquera... – Retrucou Marília.

                Natalia ficou pensativa, e agora, o alvo do seu olhar se multiplicou, passou a monitorar não só Diana, mas também, Letícia, motivada por um ciúme irracional.

-- Olá Diana, não esperava te encontrar por aqui.

                Letícia surpreendeu Diana que quase se engasgou com a porção de farofa que comia.

-- Letícia! Oi... Tudo bem com você?

-- Tudo ótimo e você?

-- Tudo bem, o intercâmbio foi bom pra você?

-- Foi mais do que eu esperava. E como anda sua carreira de fotógrafa?

-- Caminhando a passos lentos, fazendo muita festa de criança, casamento, batizado, funeral... Mas, pelo menos dá pra comprar equipamentos, fazer cursos.

-- A oferta de posar pra você continua de pé...

                Letícia falou mordendo os lábios jogou os cabelos pro lado e saiu distribuindo charme, deixando Diana estupefata, de queixo caído, com a repetição da cantada anos depois.


                De longe, Natalia observou o reencontro de Letícia e Diana. Remoendo o ciúme, teve até a intenção de ler os lábios de Diana, obviamente não conseguiu, supôs em sua mente fértil desde trocas de insultos e até a troca de cantadas.

-- E aí, está curtindo a festa gatinha?

                Lucas se aproximou abraçando Natalia por trás.

-- Está ótima Lucas! Mas, meu copo está vazio!

-- Não seja por isso!

                Lucas logo reapareceu com mais uma bebida pra moça que virou a dose rapidamente.

-- Natalia você está acostumada a beber assim?

-- Não dizem que é na faculdade que se aprende a beber?

-- Opa, mas as lições não são dadas de uma vez só!

-- Lucas... Não aja como seu irmão careta vai...

-- E por falar nele... Amarrou o bode naquele canto e não sai por nada... Você deu outro fora nele?

-- Não dei fora nenhum, só não quero dar falsas esperanças pra ele, seu irmão já se sentiu com direitos sobre mim por que ficamos algumas vezes, imagina que inferno seria minha vida com os ciúmes dele se namorássemos.

-- É o Pedro vacilou mesmo, mas ele gosta de você, é um cara legal.

-- Eu sei que é, mas não daria certo, já não deu certo.

                Lucas acenou em acordou, entregando mais uma dose de vodca para Natalia. A moça mais desinibida, e disposta a atrair a atenção de Diana, puxou Lucas para dançar junto com os outros casais que improvisaram uma pista de dança no deck.

                Natalia abusou da sensualidade nos movimentos de samba, não se importando com os olhares de censura de Pedro, enciumado pela proximidade dela com seu irmão. O que ela queria afinal conseguiu o olhar fixo de Diana.

                A loirinha olhava hora com cobiça, hora com ciúme, hora com raiva. Uma coisa era certa: Natalia mexia com ela muito mais do que qualquer outra mulher, diante dela, Diana não conseguia antever seus próximos passos, estar perto dela, era provocar a imprevisibilidade do seu corpo, o desejo era maior do que as razões que as afastavam, o sentimento era tão intenso que jogava por terra todas as defesas que mentalmente Diana preparou.

                O som parou, de repente, a mãe de Ricardo aparecia com um bolo, pedindo que todos cantassem “Parabéns a você” para seu filho. Em meio à distração de todos, Letícia cochichou algo ao ouvido de Diana, se afastou, sendo seguida segundos depois pela loirinha. Natalia não deixou que isso passasse despercebido, aproveitando-se da mesma distração trilhou o mesmo caminho das duas em direção ao jardim lateral da casa.

-- O que você quer Letícia? – Diana perguntou.

-- Você nem suspeita?

                Letícia falou empurrando Diana contra uma árvore.

-- Letícia olha só, se você está querendo outra confusão, vou te avisando que...

-- Confusão? Não quero confusão sua boba, quero você!

-- O que?

-- Por que a surpresa? Nunca me esqueci dos seus beijos, cada loira que beijei na Austrália, era você que eu via...

                Letícia se aproximava faiscando desejo por Diana que tentava se esquivar.

-- Você está louca Letícia alguém pode passar por aí e sermos pegas de novo! E aí você vai dizer que te ataquei!

-- Mas você me quer não quer?

                Dessa vez a moça não deixou alternativa a Diana, prendendo seu corpo, arrancando-lhe um beijo faminto.

                Natalia que escondida escutava e via tudo, sentiu seu coração apertar ao testemunhar a boca que ela tanto desejava, sendo invadida por outra mulher. Deu dois passos para trás, e o barulho das folhas secas pisadas, chamou a atenção do casal que se beijava.

                Diana ficou pálida, olhos fixos nos olhos de Natalia, marejados, estranhamente a loirinha sentiu-se culpada, empurrou se desvencilhou de Letícia e fez menção de correr atrás de Natalia, mas antes que alcançasse a moça, Letícia lhe puxou com violência.

-- Diana o que você tem com essa garota? Aliás, quem é essa garota?

-- Letícia, de boa, não rola ta? Não quero ficar mal com o Ricardo de novo, além do mais, não engoli ainda o fato de você pra ficar limpa na história ter me acusado de te agarrar à força.


                Diana deixou a garota falando sozinha e saiu apressada procurando Natalia, esta, como se quisesse apagar o que acabara de ver, tomou uma dose de vodca atrás da outra velozmente.

-- Você não acha que já bebeu demais não?

-- Não enche Pedro.

-- Natalia você está tão agressiva comigo... Sei que está chateada, mas, não é pra tanto!

-- Você ainda não me viu ser agressiva, me deixa em paz, por favor!

                Natalia andou até onde Lucas estava e avisou:

-- Lucas, eu vou embora.

-- Mas, já gatinha?

-- Não estou me sentindo bem, melhor eu ir.

-- Vou te deixar então, deixe-me pedir o carro ao Ricardo.

                Enquanto esperava o amigo, Natalia continuava a beber, quando viu Diana, ao perceber a moça vindo em sua direção, caminhou em direção à saída. Diana a seguiu apressada, conseguindo alcançar perto da garagem da casa.

-- Espera! Nossa você não estava me escutando te chamar?

-- Tenho um nome, não atendo por assobios, não sou cadela!

                Diana segurou o braço de Natalia que tentava continuar seu percurso até a saída da casa.

-- O que é garota? Por que você não volta pra se agarrar com aquela patricinha?

-- Por que você está indo embora?

-- Não te interessa, vá atrás daquela magrela antipática matar as saudades vai!

                A voz arrastada de Natalia denunciava seu exagero na bebida. Por mais que o ciúme evidente da moça satisfizesse à loirinha, Diana não conseguia esquecer-se do que ouvira de Natalia no último encontro.

-- Você está bêbada caipira! Deixa de falar besteira, fique aqui, vou chamar o Lucas pra te levar pra casa.

-- Não quero que ele me leve pra casa! Não quero que você saia daqui!

                Diana arqueou as sobrancelhas surpresa.

-- Fato: você está bêbada.

-- Por que diz isso?

-- Há poucos dias você disse que tinha nojo de mim. Agora você não quer que eu saia de perto de você?

-- Eu menti! Não tenho nojo de você! Eu desejo você! Cada pedaço do meu corpo quer o seu encaixado nele! Menti por que eu tenho medo do que sinto perto de você! Diana você invade meus pensamentos, meus sonhos, eu não quero esse sentimento, não quero! Não quero, mas eu sinto pela primeira vez na minha vida a necessidade de estar com alguém, que droga, eu preciso ficar perto de você!

                Diana sempre tão decidida, sempre tão senhora de qualquer circunstância, se viu sem palavras, e anestesiada por ouvir isso de Natalia que extravasou toda emoção hesitando na pronúncia das palavras, mas absolutamente segura do que revelava.

-- Eu sei que sou só mais uma... Que não tenho a experiência das mulheres que você tem, sou só uma caipira que não significo nada pra você, mas, eu precisava que soubesse que não tenho nojo de você e me envergonho muito de ter dito aquelas coisas.

                Diana tentava formular uma sentença lógica que fosse honesta e incontestável o suficiente para convencer Natalia de que ela estava enganada, e que todo aquele sentimento relatado por ela era recíproco.

-- Se você não significasse nada pra mim Natalia, eu não estaria aqui na sua frente, segurando minha vontade de te beijar porque toda experiência que você julga que eu tenha não se compara ao que sinto quando minha boca toca a sua.

                Natalia andou lentamente em direção a Diana, com os olhos cintilando, encarou-a e segurou seu rosto, quase sorrindo disse:

-- Você me chamou pelo meu nome...

                Diana sorriu tímida.

-- Chama de novo...

-- Natália... Natália...


                Enquanto Diana repetia seu nome, Natalia aproximava seus lábios dos lábios da loirinha, até as bocas se encontrarem absolutamente absortas no desejo. 

LEIS DO DESTINO: 13º e 14º CAPÍTULOS

CAPÍTULO 13 Intolerabiles attractiva

*Atração irresistível
Por Têmis

                Diana procurou na mochila seu celular, a fim de ligar para sua amiga resgatá-las dali. Esforço inútil, por cilada ou piada do destino, a bateria do seu aparelho estava descarregada, deixando a loirinha furiosa:

- Puta que pariu! - Lançou o aparelho contra a porta.

- Ótimo! Quebrar seu celular vai resolver nosso problema!

                Recolheu o aparelho da outra no chão, ou pelo menos os pedaços dele e lhe entregou.

- E agora? O que faremos? – Natalia perguntou.

- Não faço a menor idéia... Estamos praticamente no último andar desse prédio, dificilmente algum segurança virá aqui.

- Mui amiga a sua heim?

- Ela deve ter esquecido, a Lu é muito distraída.

- Distraída e enxerida, ela estava praticamente te agarrando lá fora.

                Diana segurou o riso e provocou:

- Nem percebi, mas ela é gatinha... Se eu tivesse percebido isso, teria trazido ela pra essa sala sozinha.

- Você não vale nada mesmo não é? Sai catando tudo que é mulher, imagino o quanto sua namorada sofre, com suas traições!

                Natalia disse visivelmente irritada.

- Tudo que é mulher não! Eu seleciono! – Diana retrucou.

- Seleciona como? Por amostragem probabilística? Sai experimentando uma amostra de todo tipo de mulher? Uma loira, uma morena, uma ruiva, uma negra, uma baixa, uma alta...

- Mais ou menos... Uma mais velha, uma da cidade, uma do interior...

                Natalia parecia fumaçar pelo nariz encarando a desfaçatez de Diana. Chutou a porta com força gritando:

- Socorro! Alguém me tire daqui!

- Poupe suas energias, ninguém vem nesse andar essa hora, imagine se tem algum funcionário depois do horário em uma repartição pública.

- Tem que haver uma saída! Não vou ficar aqui com você a noite toda!

- Tem a janela, se você tiver asas, fique à vontade, são só quinze andares.

- Ai! Odeio você! Por que você tinha que me trazer pra cá? Por que não ficamos pesquisando lá na biblioteca? Não, você tinha que se mostrar a descolada, que conhece todo mundo, tinha que fazer as coisas diferentes, olha no que deu! Mas, burra sou eu que ainda caio na sua conversa, de partir pra um destino desconhecido!

- Ai caipira, me poupa desse drama! Vamos passar a noite aqui, é melhor você controlar sua raivinha...

- Raivinha? Eu te odeio Diana! Por mim não te veria nunca mais!

                Natalia levantou a voz encarando Diana com fúria.

- Ah é? Posso saber por que tanta raiva? Por que tanto ódio?

                Diana ingressou na luta de olhares, aproximou-se de Natalia o suficiente para sentir sua respiração tão acelerada quanto a sua, a aproximação da loirinha forçava a outra a dar passos para trás até ser encurralada contra a parede. Diana se mantinha firme encarando as esmeraldas cintilantes de Natalia, aproveitando a distância inexistente entre seus corpos perguntou quase em tom de sussurro:

- Qual o motivo de tanta aversão? Você me odeia por eu ter te beijado ou por que ainda quer me beijar? Odeia pelo fato de eu ter traído minha namorada ou pelo fato de eu não estar livre pra você? Odeia por eu ter te exposto a uma situação constrangedora ou por que me culpa pela frustração de não ter continuado nossos beijos?

                Diana pronunciava cada indagação em tom provocativo, fazendo menção de roçar o nariz no rosto de Natália, mas não o fez, acentuando a sensualidade daquele momento.

                Natalia não conseguia responder, o tom da voz de Diana, a proximidade de seu hálito, de seu cheiro, deixava a menina do interior completamente desarmada, mais que isso, acendia de maneira incontestável o seu desejo.

- Responde...

                Diana insistia, desafiando o autocontrole de Natalia, que a essa altura não conseguia desviar seu olhar da boca da loirinha, explicitando aquilo que seu corpo clamava involuntariamente.

- Não pode responder não é? Por que você me quer... Quer me beijar agora...

                Diana praticamente não concluiu a frase. Natalia avançou em sua boca com sofreguidão, entregaram-se ao beijo como se fosse o último de suas vidas, não se tratavam somente de lábios e línguas se tocando, era a realização de uma necessidade vital daqueles corpos estarem perto, próximos um do outro.

                Natalia como que desperta de um transe, quando percebera que estava de novo nos braços de Diana, empurrou-a com violência.

- Fica longe de mim!

                Diana sorriu, mordeu os lábios, e num só movimento encurralou Natalia mais uma vez contra a parede, segurando as mãos dela sobre a cabeça, encaixou sua coxa entre as pernas da moça e disse ofegante:

- Não posso... Não posso ficar longe de você...

                Foi a vez de Diana beijar Natalia, não foi simplesmente um ato de beijar. Diana devorou Natalia faminta, sugando sua língua mordiscando seus lábios, impondo força contra o corpo da novata, arrancando gemidos de Natalia, que não oferecia mais resistência.

                Diana ousou desprender as mãos de Natália, para percorrer com as suas o corpo da moça o qual se eriçava diante do toque suave da loirinha. Emendaram beijos ardentes e carícias sem pausas para questionamentos, experimentando a sensação inexplicável que estavam fazendo a coisa certa mesmo com todas as circunstâncias contra elas.

                A boca de Diana percorreu o pescoço de Natalia que abria espaço soerguendo a cabeça oferecendo seu tórax aos carinhos da loirinha.

- Diana... Você... Ai...Eu...

                Natalia não conseguia concatenar frases claras, isso pouco importava a Diana. A loirinha queria mais da menina do interior, queria beijar cada pedaço de sua pele macia, sentia um desejo surreal, avassalador por aquele corpo, inédito em sua vida, Natalia por sua vez, não entendia a reação do próprio corpo, em sua vida curta, desconhecia a real sentido de excitação, era incapaz de descrever o vulcão de sensações que Diana lhe apresentara e provocara.

- Quero mais de você...

                Diana sussurrou completamente excitada. Natalia tinha medo de supor o que Diana queria dizer com aquilo, e principalmente, tinha medo de assumir que queria o mesmo que ela.

                Antes de responder com outro beijo ao desejo de Diana, ouviram passos se aproximando, e uma voz conhecida chamou:

- Diana? Diana você está aí?

                Era Luciana, a funcionária do arquivo e amiga de Diana, que retornara ao prédio, depois de deduzir que prendera as estudantes sem querer.

                Não sabendo descrever se era alívio ou frustração o que sentia, Diana se recompôs e respondeu:

- Oi Lu, estamos aqui!

                A porta se abriu, e Luciana estava acompanhada de um dos seguranças do prédio.

- Mil desculpas, amiga! Di, esqueci completamente de vocês aqui!

- Tudo bem Lu, ainda bem que você lembrou.

                Luciana abraçou Diana, e insistia em se desculpar, agora cobrindo a loirinha de beijos no rosto e afagos no cabelo.

                Natalia recolheu as coisas e saiu da sala envergonhada e enciumada, como se o seu “crime” estivesse exposto em sua face ruborizada ainda. Atravessou os corredores e desceu sozinha no elevador, intencionando fugir de uma conversa com Diana, fugir também de testemunhar o flerte entre ela e a funcionária distraída. Antes de sair do prédio, Diana a alcançou:

- Ei apressadinha! Aonde você pensa que vai?

- Para minha casa, aonde mais iria?

- Você veio comigo, volta comigo. Deixo você em casa.

- Não, não quero mais chegar perto de você, pego um taxi.

- Pára com isso caipira... Um taxi daqui pra sua casa é uma fortuna! Toma o capacete, vamos embora, que está esfriando.

                Diana montou na motocicleta, esticando a mão oferecendo o capacete a Natalia, que relutante aceitou. No trajeto, o pensamento de cada uma, era o mesmo, o desejo que sentiam uma pela outra, o sentimento indomável que crescia entre elas.

                Chegaram até o prédio que Natalia morava, esta, desceu apressada, caminhando em direção a entrada.

- Ei! Espera aí!

                Natalia respondeu algo incompreensível para Diana que respondeu:

- Não estou entendendo nada!

                Natalia repetiu e outra vez Diana não entendeu:

- Ow caipira, deixa de ser caipira, tira o capacete antes de falar!

                Enquanto Diana gargalhava, Natalia arrancava o capacete furiosa.

- Eu disse que estou com frio, que amanha conversamos na faculdade sobre a apresentação do trabalho!

- Mas...

- Mas o que Diana?

                Diana desceu da moto, caminhou até a porta do prédio onde Natalia estava e disse:

- O que aconteceu hoje...

- Não vai se repetir! – Natalia completou.

- Não é o que seu corpo me disse naquela sala, nem o que seus olhos revelam agora.

- Mas é o que eu estou dizendo!

- Por quê? A gente se quer...

- Por quê? Como você ainda pergunta isso? Você tem namorada! E o principal: eu não sou isso...

- Isso?

- É! Isso de gostar de mulher...

                Diana balançou a cabeça negativamente e retrucou:

- Não podia esperar outro pensamento de uma caipira... Você está se enganando, mas não sou eu quem vai te convencer disso. E só pra sua informação, não tenho mais namorada, Julia terminou comigo depois que flagrou nosso beijo.

                Natalia mudou a expressão do rosto, mas antes que pudesse pensar em alguma resposta, Diana montou em sua motocicleta e partiu, deixando a menina do interior mais uma vez mergulhada em sentimentos e pensamentos confusos.


CAPÍTULO 14 Deceptio

* Decepção

 Por Têmis

                Ruth era uma das poucas colegas que se aproximou de Natalia em sua sala. A menina era o estereótipo perfeito da menina certinha: estudiosa, organizada, comportada, comedida nas palavras, nas roupas, uma evangélica tradicional, dessa forma, trazia no rosto sempre um sorriso, disposta a agradar todos, com Natália não era diferente. Entretanto, sua inflexível formação religiosa, fazia dela também a personificação do conservadorismo, e isso, ficou muito claro para sua colega no dia seguinte ao encontro desta com Diana, quando a acompanhou até o banheiro no intervalo do almoço.

-- Então Natalia, como foi fazer o trabalho com aquela inconsequente da Diana?

-- Ah... Foi tranquilo, conseguimos um bom caso para discussão na próxima aula de IED.

-- E ela se comportou?

-- Como assim? – Natalia perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

-- Ah... Você sabe o que falam dela... – Ruth ficou sem graça.

-- O que falam sobre ela? Que ela é doida? Que não leva o curso a sério? Ou que é pretensiosa e petulante?

-- Tudo isso e que ela...

                Ruth não escondia o constrangimento em tocar no assunto, ficava reticente sempre que alguma menina saia de uma cabine, só voltou a falar, quando deduziu estar a sós novamente com Natália, o que ela não sabia, era que Diana estava em uma das cabines escutando a conversa.

-- Que ela é o que Ruth?

-- Que ela é... Homossexual. – Disse em tom de segredo. – Ela não te assediou?

                Natália ficou pálida. Arregalou os olhos, lavou as mãos pela segunda vez tentando disfarçar o nervosismo pela indagação da colega.

-- Ai meu Deus, ela deu em cima de você Natalia?!

-- Não Ruth imagina!

                Natalia respondeu gesticulando para a moça falar mais baixo.

-- Ai que alívio amiga... Fiquei pensando no dia que ela te defendeu lá na sala com a história das fotos, que ela sei lá, fez isso pra te agradar por que estava interessada em você.

-- Sério que você pensou isso?

-- Eu e o resto da sala.

                Natalia arqueou as sobrancelhas, experimentando um pavor indescritível de ser rotulada como lésbica entre os colegas de sala. Pela primeira vez, enxergou com culpa o que sentia por Diana, se mortificando interiormente por desejar tanto uma mulher e principalmente por que dar vazão a tal desejo foi a experiência mais prazerosa e intensa que já tivera. Em uma atitude de autodefesa, foi categórica:

-- Que absurdo! Ela não me assediou, e mesmo que fizesse isso seria perda de tempo dela, eu lhe daria um chega pra lá, um belo tapa na cara se ela ousasse pelo menos me cantar! Odeio sapatão! Ai que nojo só de imaginar!

                Natalia sacudiu a cabeça repudiando o pensamento.

                Diana que não esperava que a moça assumisse o que acontecia entre elas, sentiu-se profundamente decepcionada e ofendida pela demonstração de homofobia hipócrita da moça do interior. No fundo, tinha esperanças que Natalia ao menos lhe defendesse, afirmando que ela não lhe assediara, já que a atração foi recíproca.

                Com o intuito de surpreender Ruth e Natalia, Diana se recompôs rapidamente, selecionou seu sorriso mais sarcástico para disfarçar sua mágoa, e abriu com violência a porta da cabine:

-- Ahá! Flagrei as novatas se pegando no banheiro!

                Natalia e Ruth como se de fato fossem flagradas cometendo algum delito, arregalaram os olhos assustadas.

-- Di... Di... Diana?! – Natália gaguejou.

-- Ai caipira vai ficar complicado pra você viu? Além de jeca você também é gaga?

-- Eu pensei que não havia mais ninguém aqui no banheiro... – Ruth falou em tom mais baixo.

-- Ah não fiquem tímidas por minha causa! Podem continuar a fazer o que vocês estavam fazendo! – Diana ironizou.

-- Não estávamos fazendo nada! – Natalia falou com a voz trêmula.

-- Então perderam tempo! Sozinhas no banheiro... Se vocês toparem a três...

                Diana se aproximou simulando malícia, apavorando Ruth que caminhou para trás, praticamente subindo pela pia.

-- Não seja ridícula Diana! – Natalia retrucou.

-- Ridícula por que, caipira?

-- Por que... Por que a gente não faz essas coisas!

                A simples aproximação de Diana já deixava Natalia atordoada, com as pernas trêmulas.

-- Que coisas? – Diana insistiu agora se aproximando de Natalia

-- Essas coisas erradas que você faz... – Ruth respondeu nervosa e constrangida.

-- As coisas erradas que eu faço as quais você se refere, não são medíocres e destrutivas como o que vocês estavam fazendo aqui nesse banheiro, difamando, exacerbando preconceito, mentindo...

                Natalia e Ruth ainda mais acanhadas pela lição de moral que estavam recebendo de Diana cruzaram os braços e desviaram o olhar para um ponto qualquer do banheiro.

-- E não precisa se esquivar de mim, por que agora quem está com nojo de você sou eu.

                Diana dessa vez disse encarando Natalia exteriorizando toda sua raiva e decepção, deu-lhe as costas, e saiu do banheiro deixando as novatas envergonhadas, Natalia em especial se martirizava por ter ferido Diana com sua covardia e hipocrisia.

********

                Na república Álibi, Diana descansava no quarto de Lucas e Pedro, o último lhe fazia companhia.

-- Estou te achando tão triste Di, aconteceu alguma coisa?

-- Nada não Pepê, impressão sua. – Diana evitou olhar para Pedro.

-- Diana, eu te conheço muito bem, você não sabe esconder tristeza dos seus olhos. Desabafe!

-- Nada específico Pepê, as pessoas me decepcionam, eu me engano fácil... Fico perdendo tempo da minha vida com idéias românticas de existir a pessoa ideal pra mim, acabo perdendo o foco das minhas prioridades, que é conseguir a minha independência, me livrar dessa faculdade!

-- Alguém te decepcionou de verdade heim... E não foi a Júlia... A propósito, você ainda não me disse por que ela terminou com você.

-- Ai Pedro, ela enjoou de mim, deve ter encontrado uma mulher independente, mais interessante...

-- Diana, você mente muito mal... Você aprontou não foi?

-- Por que as pessoas pensam que estou sempre aprontando?

-- Deve ser por causa desse seu jeito despachado, e pelo fato de você está sempre paquerando alguém, cobiçando... Não acredito que foi fiel à Julia todo esse tempo.

-- Você me conhece muito mal Pedro.

-- Ah Diana! Você me namorava e o Lucas ao mesmo tempo!

-- Eu nunca namorei nenhum dos dois! Ficava com vocês, mas nunca assumi compromisso com nenhum, você que tem essa mania de beijar alguém e já quer um título de propriedade!

                Pedro mudou a expressão bruscamente, como se Diana tocasse em uma ferida aberta em sua alma.

-- Não sou possessivo como vocês me pintam! Qual é o mal de querer ter um compromisso com alguém que você está apaixonado? Isso não é reclamar propriedade! – Bradou.

                Diana se assustou com a reação do amigo.

-- Calma Pepê!


-- Estou farto de ouvir isso. Só a Natalia me disse isso duas vezes! Como se ela tivesse algum direito de me censurar!

-- Ela não tem moral pra censurar ninguém, é uma sonsa, falsa!

                Pedro franziu a testa estranhando o tom de revolta de Diana.

-- Você está sabendo de mais alguma coisa que eu não sei Di?

                Diana pausou para recuperar a calma e respondeu:

-- Não né Pedro! Você já sabe minha opinião sobre essa menina, não mudou: carinha de santa, de menina inocente, são as piores!

-- Sabe que ela odiou quando eu disse isso? Ficou toda vermelha... E ficou ainda mais linda.

                Pedro comentou deixando evidente seu encantamento pela menina do interior.

-- Deixa de ser bobo Pedro! A menina te faz de otário e você ainda fica aí babando por ela?

-- Ah Di... Não é bem assim, ela não me fez de otário, o Lucas me explicou depois, ela foi assaltada, ele a ajudou, por isso, estavam ali na padaria...

-- E aí, beijou seu irmão em agradecimento? Ah faça-me o favor Pedro!

-- Ela fez mesmo pra me provocar... Mas, não adianta Diana, ela não sai da minha cabeça! Ela é linda, doce, inteligente, engraçada, é maravilhosa! Aqueles olhos, a cor da pele dela, as medidas certas... Perfeita!

                Diana se incomodava a cada adjetivo que o amigo dirigia a Natalia, não distinguindo se o incômodo era pelo fato de concordar com ele, ou se era o ciúme mais uma vez se apresentando.

-- Ah nem! Ela nem é isso tudo, para de exagero Pedro. Bonitinha, mas nada extraordinário, meio sem graça na verdade.

                Diana falava tentando afastar da sua mente as imagens que contrariavam suas palavras. Natalia era tudo e muito mais que Pedro descrevera, e o rapaz sequer desfrutou da visão privilegiada das curvas perfeitas de Natalia que os modestos jeans e camisetas escondiam, visão essa que perturbava Diana desde a noite dormira no apartamento da moça.

-- Pra mim ela é perfeita, você não concorda por que nunca conversou com ela, nem nunca prestou atenção nela... É até bom você não concordar comigo, odiaria perder pra você.

                Pedro brincou inocente, entretanto, a brincadeira despertou em Diana uma tensão incomum.

-- Que idéia Pedro! Imagina se eu ia querer alguma coisa com aquela caipira!

-- Calma Di, estou brincando... Preciso encontrar um jeito de me aproximar de novo dela, pedir desculpas, enfim... O que você acha?

-- Acho que você deveria esquecer essa menina, ela não presta, por causa dela você já brigou com seu irmão duas vezes!

-- Diana nunca gostei tanto de uma garota desde que me apaixonei por você... Você precisa me ajudar...

-- Eu?


                Diana perguntou surpresa, escondendo o enorme receio pelo que o amigo poderia lhe pedir.

-- É claro! Você está pagando IED com ela! Como não pensei nisso antes?! Diana você tem que me ajudar, falar com ela, limpar minha barra...

-- Esquece Pedro, não farei nada disso, nada para aproximar você dela, não quero papo com aquela caipira!

-- Ai por que tanta aversão Di? Está com ciúmes é?

-- Pirou Pedro?               

                A tensão de Diana aumentava com a insistência do amigo. Objetivando fugir daquela situação, levantou-se abruptamente da cama procurando sua mochila e capacete, preparando-se para sair do quarto.

-- Ei! Não precisa sair correndo! Que bonitinho você com ciúme de mim!

                O rapaz não calculava o quanto sua inocência atordoava a amiga. Diana desceu as escadas apressada, caracterizando sua fuga, ignorou os muitos apelos de Pedro para que ela não fosse embora. Montou em sua motocicleta e sem conseguir se desligar do instinto de fuga acelerou o veículo em demasia, sequer raciocinando que direção ia seguir.

*****

                Natalia experimentara um sentimento de culpa inédito. Não suportou mais a companhia de Ruth naquele dia, associando à colega parte da culpa por ter ferido Diana daquela forma. Mas, nem dividindo a culpa, esta parecia ser suportável para a moça. Aquele sentimento lhe corroia. Repassou em sua mente as palavras, as expressões, envolvidos naquele episódio, mas, algo mais forte parecia impresso na sua alma: o olhar de Diana, olhar de decepção, mágoa, desencanto. Naquele momento, Natália odiou seu dom de ler as pessoas, preferia não enxergar o que provocara em Diana.

                Não era só uma crise de consciência por ter sido preconceituosa, covarde, homofóbica a ponto de ofender alguém, isso seria suficiente para provocar na moça de boa índole, o constrangimento e o arrependimento, o que Natalia sentia era mais denso, mais profundo, como se ferisse a si mesma escarnecendo Diana.

                Seu primeiro impulso foi procurar a moça, apesar de amargar a certeza de que um simples pedido de desculpas, não seria suficiente para minimizar o que causara, todavia, precisava vê-la, precisava pedir perdão, a despeito de todas as barreiras que ela mesma ergueu a aproximação de Diana depois de considerar o que a loirinha lhe provocava.