sábado, 3 de dezembro de 2011

LEIS DO DESTINO: 13º e 14º CAPÍTULOS

CAPÍTULO 13 Intolerabiles attractiva

*Atração irresistível
Por Têmis

                Diana procurou na mochila seu celular, a fim de ligar para sua amiga resgatá-las dali. Esforço inútil, por cilada ou piada do destino, a bateria do seu aparelho estava descarregada, deixando a loirinha furiosa:

- Puta que pariu! - Lançou o aparelho contra a porta.

- Ótimo! Quebrar seu celular vai resolver nosso problema!

                Recolheu o aparelho da outra no chão, ou pelo menos os pedaços dele e lhe entregou.

- E agora? O que faremos? – Natalia perguntou.

- Não faço a menor idéia... Estamos praticamente no último andar desse prédio, dificilmente algum segurança virá aqui.

- Mui amiga a sua heim?

- Ela deve ter esquecido, a Lu é muito distraída.

- Distraída e enxerida, ela estava praticamente te agarrando lá fora.

                Diana segurou o riso e provocou:

- Nem percebi, mas ela é gatinha... Se eu tivesse percebido isso, teria trazido ela pra essa sala sozinha.

- Você não vale nada mesmo não é? Sai catando tudo que é mulher, imagino o quanto sua namorada sofre, com suas traições!

                Natalia disse visivelmente irritada.

- Tudo que é mulher não! Eu seleciono! – Diana retrucou.

- Seleciona como? Por amostragem probabilística? Sai experimentando uma amostra de todo tipo de mulher? Uma loira, uma morena, uma ruiva, uma negra, uma baixa, uma alta...

- Mais ou menos... Uma mais velha, uma da cidade, uma do interior...

                Natalia parecia fumaçar pelo nariz encarando a desfaçatez de Diana. Chutou a porta com força gritando:

- Socorro! Alguém me tire daqui!

- Poupe suas energias, ninguém vem nesse andar essa hora, imagine se tem algum funcionário depois do horário em uma repartição pública.

- Tem que haver uma saída! Não vou ficar aqui com você a noite toda!

- Tem a janela, se você tiver asas, fique à vontade, são só quinze andares.

- Ai! Odeio você! Por que você tinha que me trazer pra cá? Por que não ficamos pesquisando lá na biblioteca? Não, você tinha que se mostrar a descolada, que conhece todo mundo, tinha que fazer as coisas diferentes, olha no que deu! Mas, burra sou eu que ainda caio na sua conversa, de partir pra um destino desconhecido!

- Ai caipira, me poupa desse drama! Vamos passar a noite aqui, é melhor você controlar sua raivinha...

- Raivinha? Eu te odeio Diana! Por mim não te veria nunca mais!

                Natalia levantou a voz encarando Diana com fúria.

- Ah é? Posso saber por que tanta raiva? Por que tanto ódio?

                Diana ingressou na luta de olhares, aproximou-se de Natalia o suficiente para sentir sua respiração tão acelerada quanto a sua, a aproximação da loirinha forçava a outra a dar passos para trás até ser encurralada contra a parede. Diana se mantinha firme encarando as esmeraldas cintilantes de Natalia, aproveitando a distância inexistente entre seus corpos perguntou quase em tom de sussurro:

- Qual o motivo de tanta aversão? Você me odeia por eu ter te beijado ou por que ainda quer me beijar? Odeia pelo fato de eu ter traído minha namorada ou pelo fato de eu não estar livre pra você? Odeia por eu ter te exposto a uma situação constrangedora ou por que me culpa pela frustração de não ter continuado nossos beijos?

                Diana pronunciava cada indagação em tom provocativo, fazendo menção de roçar o nariz no rosto de Natália, mas não o fez, acentuando a sensualidade daquele momento.

                Natalia não conseguia responder, o tom da voz de Diana, a proximidade de seu hálito, de seu cheiro, deixava a menina do interior completamente desarmada, mais que isso, acendia de maneira incontestável o seu desejo.

- Responde...

                Diana insistia, desafiando o autocontrole de Natalia, que a essa altura não conseguia desviar seu olhar da boca da loirinha, explicitando aquilo que seu corpo clamava involuntariamente.

- Não pode responder não é? Por que você me quer... Quer me beijar agora...

                Diana praticamente não concluiu a frase. Natalia avançou em sua boca com sofreguidão, entregaram-se ao beijo como se fosse o último de suas vidas, não se tratavam somente de lábios e línguas se tocando, era a realização de uma necessidade vital daqueles corpos estarem perto, próximos um do outro.

                Natalia como que desperta de um transe, quando percebera que estava de novo nos braços de Diana, empurrou-a com violência.

- Fica longe de mim!

                Diana sorriu, mordeu os lábios, e num só movimento encurralou Natalia mais uma vez contra a parede, segurando as mãos dela sobre a cabeça, encaixou sua coxa entre as pernas da moça e disse ofegante:

- Não posso... Não posso ficar longe de você...

                Foi a vez de Diana beijar Natalia, não foi simplesmente um ato de beijar. Diana devorou Natalia faminta, sugando sua língua mordiscando seus lábios, impondo força contra o corpo da novata, arrancando gemidos de Natalia, que não oferecia mais resistência.

                Diana ousou desprender as mãos de Natália, para percorrer com as suas o corpo da moça o qual se eriçava diante do toque suave da loirinha. Emendaram beijos ardentes e carícias sem pausas para questionamentos, experimentando a sensação inexplicável que estavam fazendo a coisa certa mesmo com todas as circunstâncias contra elas.

                A boca de Diana percorreu o pescoço de Natalia que abria espaço soerguendo a cabeça oferecendo seu tórax aos carinhos da loirinha.

- Diana... Você... Ai...Eu...

                Natalia não conseguia concatenar frases claras, isso pouco importava a Diana. A loirinha queria mais da menina do interior, queria beijar cada pedaço de sua pele macia, sentia um desejo surreal, avassalador por aquele corpo, inédito em sua vida, Natalia por sua vez, não entendia a reação do próprio corpo, em sua vida curta, desconhecia a real sentido de excitação, era incapaz de descrever o vulcão de sensações que Diana lhe apresentara e provocara.

- Quero mais de você...

                Diana sussurrou completamente excitada. Natalia tinha medo de supor o que Diana queria dizer com aquilo, e principalmente, tinha medo de assumir que queria o mesmo que ela.

                Antes de responder com outro beijo ao desejo de Diana, ouviram passos se aproximando, e uma voz conhecida chamou:

- Diana? Diana você está aí?

                Era Luciana, a funcionária do arquivo e amiga de Diana, que retornara ao prédio, depois de deduzir que prendera as estudantes sem querer.

                Não sabendo descrever se era alívio ou frustração o que sentia, Diana se recompôs e respondeu:

- Oi Lu, estamos aqui!

                A porta se abriu, e Luciana estava acompanhada de um dos seguranças do prédio.

- Mil desculpas, amiga! Di, esqueci completamente de vocês aqui!

- Tudo bem Lu, ainda bem que você lembrou.

                Luciana abraçou Diana, e insistia em se desculpar, agora cobrindo a loirinha de beijos no rosto e afagos no cabelo.

                Natalia recolheu as coisas e saiu da sala envergonhada e enciumada, como se o seu “crime” estivesse exposto em sua face ruborizada ainda. Atravessou os corredores e desceu sozinha no elevador, intencionando fugir de uma conversa com Diana, fugir também de testemunhar o flerte entre ela e a funcionária distraída. Antes de sair do prédio, Diana a alcançou:

- Ei apressadinha! Aonde você pensa que vai?

- Para minha casa, aonde mais iria?

- Você veio comigo, volta comigo. Deixo você em casa.

- Não, não quero mais chegar perto de você, pego um taxi.

- Pára com isso caipira... Um taxi daqui pra sua casa é uma fortuna! Toma o capacete, vamos embora, que está esfriando.

                Diana montou na motocicleta, esticando a mão oferecendo o capacete a Natalia, que relutante aceitou. No trajeto, o pensamento de cada uma, era o mesmo, o desejo que sentiam uma pela outra, o sentimento indomável que crescia entre elas.

                Chegaram até o prédio que Natalia morava, esta, desceu apressada, caminhando em direção a entrada.

- Ei! Espera aí!

                Natalia respondeu algo incompreensível para Diana que respondeu:

- Não estou entendendo nada!

                Natalia repetiu e outra vez Diana não entendeu:

- Ow caipira, deixa de ser caipira, tira o capacete antes de falar!

                Enquanto Diana gargalhava, Natalia arrancava o capacete furiosa.

- Eu disse que estou com frio, que amanha conversamos na faculdade sobre a apresentação do trabalho!

- Mas...

- Mas o que Diana?

                Diana desceu da moto, caminhou até a porta do prédio onde Natalia estava e disse:

- O que aconteceu hoje...

- Não vai se repetir! – Natalia completou.

- Não é o que seu corpo me disse naquela sala, nem o que seus olhos revelam agora.

- Mas é o que eu estou dizendo!

- Por quê? A gente se quer...

- Por quê? Como você ainda pergunta isso? Você tem namorada! E o principal: eu não sou isso...

- Isso?

- É! Isso de gostar de mulher...

                Diana balançou a cabeça negativamente e retrucou:

- Não podia esperar outro pensamento de uma caipira... Você está se enganando, mas não sou eu quem vai te convencer disso. E só pra sua informação, não tenho mais namorada, Julia terminou comigo depois que flagrou nosso beijo.

                Natalia mudou a expressão do rosto, mas antes que pudesse pensar em alguma resposta, Diana montou em sua motocicleta e partiu, deixando a menina do interior mais uma vez mergulhada em sentimentos e pensamentos confusos.


CAPÍTULO 14 Deceptio

* Decepção

 Por Têmis

                Ruth era uma das poucas colegas que se aproximou de Natalia em sua sala. A menina era o estereótipo perfeito da menina certinha: estudiosa, organizada, comportada, comedida nas palavras, nas roupas, uma evangélica tradicional, dessa forma, trazia no rosto sempre um sorriso, disposta a agradar todos, com Natália não era diferente. Entretanto, sua inflexível formação religiosa, fazia dela também a personificação do conservadorismo, e isso, ficou muito claro para sua colega no dia seguinte ao encontro desta com Diana, quando a acompanhou até o banheiro no intervalo do almoço.

-- Então Natalia, como foi fazer o trabalho com aquela inconsequente da Diana?

-- Ah... Foi tranquilo, conseguimos um bom caso para discussão na próxima aula de IED.

-- E ela se comportou?

-- Como assim? – Natalia perguntou arqueando uma das sobrancelhas.

-- Ah... Você sabe o que falam dela... – Ruth ficou sem graça.

-- O que falam sobre ela? Que ela é doida? Que não leva o curso a sério? Ou que é pretensiosa e petulante?

-- Tudo isso e que ela...

                Ruth não escondia o constrangimento em tocar no assunto, ficava reticente sempre que alguma menina saia de uma cabine, só voltou a falar, quando deduziu estar a sós novamente com Natália, o que ela não sabia, era que Diana estava em uma das cabines escutando a conversa.

-- Que ela é o que Ruth?

-- Que ela é... Homossexual. – Disse em tom de segredo. – Ela não te assediou?

                Natália ficou pálida. Arregalou os olhos, lavou as mãos pela segunda vez tentando disfarçar o nervosismo pela indagação da colega.

-- Ai meu Deus, ela deu em cima de você Natalia?!

-- Não Ruth imagina!

                Natalia respondeu gesticulando para a moça falar mais baixo.

-- Ai que alívio amiga... Fiquei pensando no dia que ela te defendeu lá na sala com a história das fotos, que ela sei lá, fez isso pra te agradar por que estava interessada em você.

-- Sério que você pensou isso?

-- Eu e o resto da sala.

                Natalia arqueou as sobrancelhas, experimentando um pavor indescritível de ser rotulada como lésbica entre os colegas de sala. Pela primeira vez, enxergou com culpa o que sentia por Diana, se mortificando interiormente por desejar tanto uma mulher e principalmente por que dar vazão a tal desejo foi a experiência mais prazerosa e intensa que já tivera. Em uma atitude de autodefesa, foi categórica:

-- Que absurdo! Ela não me assediou, e mesmo que fizesse isso seria perda de tempo dela, eu lhe daria um chega pra lá, um belo tapa na cara se ela ousasse pelo menos me cantar! Odeio sapatão! Ai que nojo só de imaginar!

                Natalia sacudiu a cabeça repudiando o pensamento.

                Diana que não esperava que a moça assumisse o que acontecia entre elas, sentiu-se profundamente decepcionada e ofendida pela demonstração de homofobia hipócrita da moça do interior. No fundo, tinha esperanças que Natalia ao menos lhe defendesse, afirmando que ela não lhe assediara, já que a atração foi recíproca.

                Com o intuito de surpreender Ruth e Natalia, Diana se recompôs rapidamente, selecionou seu sorriso mais sarcástico para disfarçar sua mágoa, e abriu com violência a porta da cabine:

-- Ahá! Flagrei as novatas se pegando no banheiro!

                Natalia e Ruth como se de fato fossem flagradas cometendo algum delito, arregalaram os olhos assustadas.

-- Di... Di... Diana?! – Natália gaguejou.

-- Ai caipira vai ficar complicado pra você viu? Além de jeca você também é gaga?

-- Eu pensei que não havia mais ninguém aqui no banheiro... – Ruth falou em tom mais baixo.

-- Ah não fiquem tímidas por minha causa! Podem continuar a fazer o que vocês estavam fazendo! – Diana ironizou.

-- Não estávamos fazendo nada! – Natalia falou com a voz trêmula.

-- Então perderam tempo! Sozinhas no banheiro... Se vocês toparem a três...

                Diana se aproximou simulando malícia, apavorando Ruth que caminhou para trás, praticamente subindo pela pia.

-- Não seja ridícula Diana! – Natalia retrucou.

-- Ridícula por que, caipira?

-- Por que... Por que a gente não faz essas coisas!

                A simples aproximação de Diana já deixava Natalia atordoada, com as pernas trêmulas.

-- Que coisas? – Diana insistiu agora se aproximando de Natalia

-- Essas coisas erradas que você faz... – Ruth respondeu nervosa e constrangida.

-- As coisas erradas que eu faço as quais você se refere, não são medíocres e destrutivas como o que vocês estavam fazendo aqui nesse banheiro, difamando, exacerbando preconceito, mentindo...

                Natalia e Ruth ainda mais acanhadas pela lição de moral que estavam recebendo de Diana cruzaram os braços e desviaram o olhar para um ponto qualquer do banheiro.

-- E não precisa se esquivar de mim, por que agora quem está com nojo de você sou eu.

                Diana dessa vez disse encarando Natalia exteriorizando toda sua raiva e decepção, deu-lhe as costas, e saiu do banheiro deixando as novatas envergonhadas, Natalia em especial se martirizava por ter ferido Diana com sua covardia e hipocrisia.

********

                Na república Álibi, Diana descansava no quarto de Lucas e Pedro, o último lhe fazia companhia.

-- Estou te achando tão triste Di, aconteceu alguma coisa?

-- Nada não Pepê, impressão sua. – Diana evitou olhar para Pedro.

-- Diana, eu te conheço muito bem, você não sabe esconder tristeza dos seus olhos. Desabafe!

-- Nada específico Pepê, as pessoas me decepcionam, eu me engano fácil... Fico perdendo tempo da minha vida com idéias românticas de existir a pessoa ideal pra mim, acabo perdendo o foco das minhas prioridades, que é conseguir a minha independência, me livrar dessa faculdade!

-- Alguém te decepcionou de verdade heim... E não foi a Júlia... A propósito, você ainda não me disse por que ela terminou com você.

-- Ai Pedro, ela enjoou de mim, deve ter encontrado uma mulher independente, mais interessante...

-- Diana, você mente muito mal... Você aprontou não foi?

-- Por que as pessoas pensam que estou sempre aprontando?

-- Deve ser por causa desse seu jeito despachado, e pelo fato de você está sempre paquerando alguém, cobiçando... Não acredito que foi fiel à Julia todo esse tempo.

-- Você me conhece muito mal Pedro.

-- Ah Diana! Você me namorava e o Lucas ao mesmo tempo!

-- Eu nunca namorei nenhum dos dois! Ficava com vocês, mas nunca assumi compromisso com nenhum, você que tem essa mania de beijar alguém e já quer um título de propriedade!

                Pedro mudou a expressão bruscamente, como se Diana tocasse em uma ferida aberta em sua alma.

-- Não sou possessivo como vocês me pintam! Qual é o mal de querer ter um compromisso com alguém que você está apaixonado? Isso não é reclamar propriedade! – Bradou.

                Diana se assustou com a reação do amigo.

-- Calma Pepê!


-- Estou farto de ouvir isso. Só a Natalia me disse isso duas vezes! Como se ela tivesse algum direito de me censurar!

-- Ela não tem moral pra censurar ninguém, é uma sonsa, falsa!

                Pedro franziu a testa estranhando o tom de revolta de Diana.

-- Você está sabendo de mais alguma coisa que eu não sei Di?

                Diana pausou para recuperar a calma e respondeu:

-- Não né Pedro! Você já sabe minha opinião sobre essa menina, não mudou: carinha de santa, de menina inocente, são as piores!

-- Sabe que ela odiou quando eu disse isso? Ficou toda vermelha... E ficou ainda mais linda.

                Pedro comentou deixando evidente seu encantamento pela menina do interior.

-- Deixa de ser bobo Pedro! A menina te faz de otário e você ainda fica aí babando por ela?

-- Ah Di... Não é bem assim, ela não me fez de otário, o Lucas me explicou depois, ela foi assaltada, ele a ajudou, por isso, estavam ali na padaria...

-- E aí, beijou seu irmão em agradecimento? Ah faça-me o favor Pedro!

-- Ela fez mesmo pra me provocar... Mas, não adianta Diana, ela não sai da minha cabeça! Ela é linda, doce, inteligente, engraçada, é maravilhosa! Aqueles olhos, a cor da pele dela, as medidas certas... Perfeita!

                Diana se incomodava a cada adjetivo que o amigo dirigia a Natalia, não distinguindo se o incômodo era pelo fato de concordar com ele, ou se era o ciúme mais uma vez se apresentando.

-- Ah nem! Ela nem é isso tudo, para de exagero Pedro. Bonitinha, mas nada extraordinário, meio sem graça na verdade.

                Diana falava tentando afastar da sua mente as imagens que contrariavam suas palavras. Natalia era tudo e muito mais que Pedro descrevera, e o rapaz sequer desfrutou da visão privilegiada das curvas perfeitas de Natalia que os modestos jeans e camisetas escondiam, visão essa que perturbava Diana desde a noite dormira no apartamento da moça.

-- Pra mim ela é perfeita, você não concorda por que nunca conversou com ela, nem nunca prestou atenção nela... É até bom você não concordar comigo, odiaria perder pra você.

                Pedro brincou inocente, entretanto, a brincadeira despertou em Diana uma tensão incomum.

-- Que idéia Pedro! Imagina se eu ia querer alguma coisa com aquela caipira!

-- Calma Di, estou brincando... Preciso encontrar um jeito de me aproximar de novo dela, pedir desculpas, enfim... O que você acha?

-- Acho que você deveria esquecer essa menina, ela não presta, por causa dela você já brigou com seu irmão duas vezes!

-- Diana nunca gostei tanto de uma garota desde que me apaixonei por você... Você precisa me ajudar...

-- Eu?


                Diana perguntou surpresa, escondendo o enorme receio pelo que o amigo poderia lhe pedir.

-- É claro! Você está pagando IED com ela! Como não pensei nisso antes?! Diana você tem que me ajudar, falar com ela, limpar minha barra...

-- Esquece Pedro, não farei nada disso, nada para aproximar você dela, não quero papo com aquela caipira!

-- Ai por que tanta aversão Di? Está com ciúmes é?

-- Pirou Pedro?               

                A tensão de Diana aumentava com a insistência do amigo. Objetivando fugir daquela situação, levantou-se abruptamente da cama procurando sua mochila e capacete, preparando-se para sair do quarto.

-- Ei! Não precisa sair correndo! Que bonitinho você com ciúme de mim!

                O rapaz não calculava o quanto sua inocência atordoava a amiga. Diana desceu as escadas apressada, caracterizando sua fuga, ignorou os muitos apelos de Pedro para que ela não fosse embora. Montou em sua motocicleta e sem conseguir se desligar do instinto de fuga acelerou o veículo em demasia, sequer raciocinando que direção ia seguir.

*****

                Natalia experimentara um sentimento de culpa inédito. Não suportou mais a companhia de Ruth naquele dia, associando à colega parte da culpa por ter ferido Diana daquela forma. Mas, nem dividindo a culpa, esta parecia ser suportável para a moça. Aquele sentimento lhe corroia. Repassou em sua mente as palavras, as expressões, envolvidos naquele episódio, mas, algo mais forte parecia impresso na sua alma: o olhar de Diana, olhar de decepção, mágoa, desencanto. Naquele momento, Natália odiou seu dom de ler as pessoas, preferia não enxergar o que provocara em Diana.

                Não era só uma crise de consciência por ter sido preconceituosa, covarde, homofóbica a ponto de ofender alguém, isso seria suficiente para provocar na moça de boa índole, o constrangimento e o arrependimento, o que Natalia sentia era mais denso, mais profundo, como se ferisse a si mesma escarnecendo Diana.

                Seu primeiro impulso foi procurar a moça, apesar de amargar a certeza de que um simples pedido de desculpas, não seria suficiente para minimizar o que causara, todavia, precisava vê-la, precisava pedir perdão, a despeito de todas as barreiras que ela mesma ergueu a aproximação de Diana depois de considerar o que a loirinha lhe provocava.

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