domingo, 2 de janeiro de 2011

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 12

CAPÍTULO 12: O PASSADO VOLTA PARA ATORMENTAR


Passamos dois dias no apartamento de Copacabana, depois voltamos as nossas rotinas. No hospital, Lurdes foi a primeira a perceber as alianças que exibíamos, e também foi a que mais vibrou com isso. Lurdes se tornara a melhor amiga de Suzana desde sua residência, além de enfermeira de confiança de Suzana, era sua confidente, seu porto seguro. O ano começou com nossa procura por apartamentos e Suzana tentando encaixar pelo menos quinze dias de férias para viajarmos em lua-de-mel. Estávamos completamente envolvidas com os preparativos para o nosso casamento, não escondíamos nossa felicidade, mas como nossas vidas nem de longe era um conto de fadas, toda aquela alegria estava ameaçada pelo mistério de Suzana.

Viajamos no carnaval para uma casa de praia em Cabo Frio, na companhia de Letícia e Flávia, e mais dois casais de amigas delas: Laila, uma jogadora de vôlei da seleção do Rio de Janeiro, dona de um corpo magro e atlético, obviamente muito alta, cabelos longos com cachos negros largos; Pietra, preparadora física do mesmo time de vôlei de Laila, era também alta, de corpo esbelto bronzeado, mas não era magra como sua namorada; e, por fim, Virgínia e Carla, ambas arquitetas bem sucedidas, a primeira tinha o cabelo curto com mechas coloridas, usava um óculos moderno, era magra, mas tinha seios fartos, a segunda era loira também de cabelos curtos, era menos feminina, mas era uma mulher bonita sem dúvida.

Foram dias divertidos, bebemos horrores, Suzana alcoolizada conseguia ser ainda mais quente na cama. Os nossos gritos e gemidos viraram assunto principal da zuação das meninas, curtimos as praias, assistimos os desfiles dos blocos locais, jogamos baralho... Em uma das noites, Laila sugeriu jogarmos um streap poker, como já estávamos meio bêbadas, acabamos topando. Eu tinha o hábito de jogar poker com Tia Silvia e vovô, então quando todas estavam quase de lingerie apenas, eu só havia perdido as sandálias. Não pude deixar de reparar no corpo de Pietra, era realmente incrível, minha principal concorrente era Laila, que ansiava por me ver sem roupa, Suzana já estava tomada de ciúmes com as investidas despudoradas de Laila, o que nos fez concluir que sua relação com Pietra era aberta. Para satisfação de minha noiva tudo que Laila conseguiu foi me deixar de short e soutien, enquanto ela num blefe arriscado ficara nua em pêlos... na cozinha, Laila só de toalha me abordou:

-Ai que vontade de ser esse copo...

Quase derrubei o copo d’água de susto ouvindo aquilo. Ela continuou se aproximando:

- Que tal uma revanche? Dessa vez te deixo peladinha... – sussurrou no meu ouvido, deslizando seus dedos pelos meus braços.

-Laila...pára com isso, eu não sei que tipo de relação você tem com a Pietra, mas te asseguro que não é como a minha com Suzana.

-Ah deixa disso loirinha... Variar as vezes apimenta a relação – nesse momento ela segurou meu pescoço forçando um beijo.

Afastei-a imediatamente com dificuldade por causa de sua altura, e Suzana entrou na cozinha ficando entre eu e Laila:

-Qualé Laila? Perdeu a noção do perigo?

-Desculpa Suzana, perdi a cabeça, sua noiva é linda... Desculpe Isabela não vai se repetir ok? Não sou uma piranha não, foi mal.

Nem preciso dizer que Suzana a partir dali mal olhou para a cara de Laila, que não parou de me secar o resto dos dias. Pietra, por outro lado, não sei se por vingança, assediou Suzana várias vezes. Imaginei que o mundo lésbico fosse mesmo uma putaria... Discutimos algumas vezes, mas bastava um beijo mais apaixonado para nossas defesas caírem e nos entregarmos a paixão.

Na volta ao trabalho, estávamos na cantina, lanchando no meio da tarde, muito descontraídas, Suzana roubando pedaços do bolo no meu prato, enquanto eu jogava bolinhas de guardanapo em sua cara. Quando o típico zum zum zum de pessoas conversando parou de repente, dando espaço a alguns buchichos. Na porta da cantina estava uma mulher alta, cabelos presos elegantemente, com óculos de sol nos olhos, aparentava ter mais de 40 anos, mas o seu corpo era impecavelmente desenhado no conjunto de terno riscado, sapatos altos, e uma maquiagem perfeita. Desfilou sua altivez pelas mesas da cantina, até chegar de frente para a nossa, tirando dos olhos os imensos óculos de sol:

-Ora ora ora, finalmente te encontrei Dra Suzana Andrade!

Suzana empalideceu, desfez o sorriso que tinha, olhou para aquela mulher e gaguejando se dirigiu a ela:

-O que- que vo- você está fazendo aqui?

-Vim te procurar pessoalmente, já que você não atende meus telefonemas, nunca está em casa...

Senti um arrepio na espinha, uma sensação muito ruim me invadiu, Suzana nem me olhava mais, levantou-se da mesa e saiu da cantina empurrando aquela misteriosa mulher pelo braço, me deixando ali sozinha, cheia de interrogações, e como alvo dos olhares de todos ali. Totalmente perdida, a trapalhona baixou em mim, levantei-me derrubando talheres, porta guardanapos, espalhando palitos pela mesa... Com passos rápidos e descompassados, baixei minha cabeça e saí pelos corredores do hospital buscando um refúgio para acalmar meus pensamentos. Entrei no banheiro dos funcionários, fechando-me em uma cabine, baixei a tampa da privada e me sentei tentando acalmar minha respiração, puxando do bolso do meu jaleco minha bombinha para asma. Ouvi a batida da porta, com duas vozes femininas se aproximando:

-Menina que babado... Dra. Bárbara Camargo de volta! Quem diria, ela está bonitona, você viu?

-Não, não vi, só ouvi boatos nos corredores, alguém tem que trabalhar nesse hospital ao invés de fazer fofoca...

-Deixa de ser chata Lurdes! Com o duro que a gente dá, grana curta, essas emoções são o que restam de bom nesse trabalho... Mas me fala aí, você sabia que ela tinha voltado?

-Não, não sabia, porque eu saberia Sheila?

-Ah você é toda amiga da chefe né, ela com certeza sabia. Coitada da Dra. Isabela, ficou perdidinha...

-Dra.Isabela? Ela viu Dra. Bárbara?

-Ué você não ficou sabendo? Ela estava com a chefe na cantina quando a poderosa chegou, Dra Suzana saiu arrastando Dra. Bárbara pela cantina, deixando a Dra.Isabela com cara de tacho na mesa.

-Ai caramba, Suzana não tem jeito...

-Será que a residente vai dançar nessa, Lurdes?

-Para de falar besteira Sheila...elas estão noivas, Suzana ama a Isabela.

Ouvi tudo e minhas interrogações aumentaram, comecei a sentir o peito apertar com uma angústia sem tamanho, chorei em silêncio, imaginei o porque de Sheila perguntar se “a residente dançaria nessa”, meu Pager bipou, denunciando minha presença clandestina no Box, fui obrigada a sair, Lurdes e Sheila me olharam assustadas, lavei meu rosto e saí do banheiro em direção ao elevador. Lurdes seguiu atrás de mim, chegando à porta do elevador, puxou-me pela mão até um consultório vazio.

-Lurdes por favor, tenho que trabalhar, me deixa.

-Espera aí Isabela, preciso falar com você.

Seguiu até o telefone, avisou para a neurologia que Dra.Isabela estava atendendo uma urgência no pronto socorro e que só poderia voltar ao setor em minutos.

-Pronto, agora você tem alguns minutos pra me ouvir.

-Lurdes...

-Escuta Isa, não queria que você escutasse essas fofocas que você ouviu agora pouco, Suzana vai te explicar com calma toda essa situação.

-Quem é essa mulher Lurdes?

-Dra. Bárbara Camargo Souto, até dois anos atrás era a diretora clínica desse hospital, mas, afastou-se para fazer doutorado na Espanha.

-O que ela tem a ver com Suzana?

-Ai Isa, isso vocês tem conversar...

-Você não disse que queria conversar comigo, pois bem, estamos conversando, funciona assim, eu pergunto algo e você responde o que sabe...fala.

-Não, você descreveu um interrogatório doutora.

-Dá no mesmo nesse momento, fala Lurdes.

-Elas... tiveram um longo caso e bem complicado. Bárbara era casada com um empresário poderoso, acabou se separando dele pra ficar com Suzana, até que ele ameaçou tomar seu filho e o dinheiro dela, ela então voltou para o marido e foi embora para o exterior com ele e o filho, abandonando Suzana.

-Ela deixou Suzana pra voltar com o marido e o filho?

-E'... mais ou menos, Bárbara é muito rica por causa do marido e pelo que falam as más línguas, teve muitos amantes, homens e mulheres, mesmo estando com Suzana. Era comum ouvirmos histórias de flagras entre ela e enfermeiras, médicos... Para direção geral ela ter se afastado foi um alívio, porque já se especulava a existência de processos de assédio sexual contra ela.

Fiquei completamente atordoada com aquelas revelações, não podia acreditar que Suzana me escondera por dez meses a história dela com essa mulher, e pior, ao vê-la, esqueceu-se de mim naquela mesa para falar com ela. Sentei em uma cadeira e deixei as lágrimas caírem. Tentei ligar para o celular de Suzana, mas chamava até cair na caixa postal. Saí batendo a porta em direção ao setor de neurologia a fim de trabalhar para esquecer aquela situação. Imaginei que a relação das duas devia ter sido muito forte, a ponto de todos na cantina pararem para ver o reencontro delas. Minha relação com Suzana estaria ameaçada com a volta dessa mulher? Seria ela nas ligações misteriosas para o celular de Suzana? Onde elas estariam até aquela hora? Porque Suzana não me atendia? Não consegui me concentrar nas consultas, minha preceptora notou isso, imaginando o motivo, pelos boatos que corriam pelo hospital, dispensou-me mandando que eu fosse pra casa descansar.

Já era noite, quando estava no estacionamento, avistei de longe, perto de um carro importado de luxo, Suzana e a tal Bárbara discutindo, ambas gesticulavam muito, Bárbara mexia nos cabelos de Suzana, me fazendo quase ferir as palmas das mãos de tanto apertá-las contra minhas unhas, Suzana não se afastava dela, o que me angustiava muito. Aproximei-me para escutar o que elas falavam, mas trapalhona como sou, não soube ser sutil, acabei batendo em um carro disparando o alarme do mesmo chamando atenção para mim. As duas me olharam ao mesmo tempo, Suzana tirou a mão de Bárbara do seu rosto e veio em minha direção:

-Isa, eu estava indo te procurar agora, já está de saída tão cedo?

Meus olhos estavam marejados, não sei se por raiva ou nervosismo, olhei para Suzana, em seguida olhei para Bárbara, que me encarava com desprezo:

-Essa daí é a tal Isabela? Sua noivinha?

Pelo menos ela sabia quem eu era e que era noiva de Suzana, que alívio.

-Sim, essa é Isabela, minha noiva – Suzana falou segurando minha mão.

Não consegui pronunciar uma palavra até então, dirigi-me a minha noiva informando:

-Estou indo pra casa mais cedo, fui dispensada, não estou me sentindo bem.

-O que você tem? … a asma? –perguntou preocupada.

-E'...você demora?

-Não, vou pegar minhas coisas e vou cuidar de você.

-Ora, você arranjou uma mulher ou uma paciente Suzana?- Bárbara interrompeu com deboche.

Suzana não disse nada, o que me irritou profundamente, soltei sua mão e andei rápido para o carro, sem olhar para trás. Pelo retrovisor vi Bárbara segurando a cintura de minha noiva, que segurou suas mãos retirando-a de sua cintura e entrou sozinha no hospital.

No apartamento, esperava ansiosa a chegada de Suzana. Chorava, meu coração estava experimentando uma angústia inédita, não sabia explicar aquele pressentimento de perda que me tomava. Uma hora depois da minha chegada, Suzana entrou no meu quarto, eu ainda estava com a mesma roupa. Meu quarto estava escuro, ela sentou na poltrona vizinha a minha cama onde eu me sentei ao vê-la, puxou meu corpo em direção ao dela, e começou a falar:

-Isa, eu sei que te devo mil explicações, eu sei que agi mal hoje, mas tudo tem uma razão, que eu espero que você entenda.

-Estou escutando Suzana.

-Bom...vamos lá...aquela mulher que você viu, você já deve saber é a Bárbara, foi minha professora na faculdade, tivemos uma relação.

-E?

-O fato é que, foi forte o que tivemos, eu era jovem, estava apaixonada, um dia no estacionamento do hospital, meu pai desconfiado seguiu-me e testemunhou um beijo nosso. Quando voltei pra casa, minhas roupas estavam jogadas no jardim da porta de casa. Meu pai não permitiu que eu sequer entrasse, dizendo que não tinha mais filha, não permitiu que minha mãe saísse ao meu encontro. Recolhi minhas roupas, nem uma mala ele me deu, não tinha o que fazer, ainda estava na faculdade, não tinha dinheiro, não tinha para onde ir, liguei pra Bárbara...

Ela pausou, enxugou as lágrimas e continuou:

-Ela foi me buscar, me acomodou em um hotel e ali permaneceu comigo a noite toda. Bárbara me sustentou no último ano de faculdade, alugou uma quitinete, perto da faculdade e me dava de tudo. Eu me sentia constrangida com aquela situação, mas não tinha opção, mamãe quando conseguia me levava algum dinheiro, mas meu pai não facilitou, eu morri pra ele. … um militar muito rígido, dizia que preferia um filho morto a um filho gay...

Segurei suas mãos, e acariciei seu rosto.

-Bárbara se aproveitava dessa situação, eu era refém dela, mas não me importava, a amava, mas sabia que ela tinha outros casos, sofria muito, me sentia humilhada, mas tudo mudava quando ela chegava me beijando. Meu último ano de faculdade foi terrível, mas enfim me formei.

Levantou-se da poltrona e começou a andar pelo quarto prosseguindo:

-Só mamãe e Vitor compareceram a minha formatura, mamãe tinha horror a Bárbara, mas a suportava, porque no fundo sabia que eu não teria como me sustentar sem ela. Graças a Deus, passei de cara na residência, mas continuava presa a Bárbara, pela minha paixão e por que ela acabou assumindo a direção clínica do hospital universitário. Mesmo ganhando um dinheirinho com a residência, Bárbara fez questão de manter a ajuda financeira, a meu contragosto.

-E ela não te amava?

-Ela gostava de me manter a disposição dela, quando notava que eu estava interessada em alguém e me afastava dela, ela demonstrava seu poder sobre mim. Era uma relação doente... ela fazia questão de demonstrar a todos que eu era sua propriedade.

-Como você agüentava isso?

-Eu a amava e era idiota Isa... Não conto as vezes que encontrei Barbara comendo uma enfermeira ou uma interna no seu consultório... agüentava vê-la com seu marido e com os amantes. Cansei disso e comecei a sair com outras mulheres, devolvi a quitinete alugando outra perto e depositei de volta o dinheiro que ela transferira pra minha conta. Ela enlouqueceu com isso, começou a me perseguir nos barzinhos que eu freqüentava, no hospital, até que eu lhe disse, que não ia tolerar aquele tratamento que ela me dava, que se ela me amasse mesmo, tinha que ter um relacionamento sério, exclusivo.

-E ela o que fez?

- Foi aí que ela deixou o marido, alugou um apartamento maior pra nós e começamos a morar juntas. Como não queria tirar o conforto do filho, Luquinha passava só os fins de semana conosco, vivemos alguns meses maravilhosos, até eu flagrá-la outra vez me traindo dentro do seu carro, numa rua perto do Fundão. Ela parecia ser doente, não conseguia ser fiel, as coisas pioraram quando o marido encerrou a conta conjunta, cancelou cartões de crédito e ameaçou impedi-la de ver o Lucas.

-Foi então que ela te deixou?

-Ainda ficamos mais uns meses juntas, eu estava concluindo a residência, ela estava mais centrada no trabalho, todos sabiam de nós no hospital, ela deu uma sossegada nos amantes, mas ela não suportou viver sem os luxos que estava acostumada... e a frieza de Lucas com ela, o pai estava o envenenando contra ela.

Pausou, sentou perto de mim, e continuou:

-Quando conclui a residência, passei no concurso do hospital em primeiro lugar, qual não foi minha surpresa, quando cheguei ao apartamento e vi a parte do guarda-roupa dela vazio. Liguei pra ela e seu marido atendeu, sendo taxativo: “esqueça minha mulher, nunca mais nos atormente, você não vai acabar com minha família sua sapatão safada!”

-Nossa...

-Bom, eu soube no dia seguinte no hospital do afastamento dela da direção clínica, iria pro exterior fazer doutorado e acompanhar o marido que iria cuidar de uma nova filial da empresa em Madrid.

-Mas ela nem falou nada com você?

-Não, voltou a me ligar e mandar e-mails a cerca de um ano, depois de estar morando fora a mais de um ano.

-Era ela que te ligava quando você não queria atender na minha presença?

-Sim... ela insistia que estava se separando do marido, que estava arrependida do que fez e que voltaria pra mim quando concluísse o doutorado.

-Mas Suzana, porque você não me contou nada?

-Isa, eu só queria esquecê-la, você foi a primeira pessoa que me envolvi desde que ela me deixou. Passei mais de um ano afundada no trabalho, não saía, não me divertia, estava dia e noite naquele pronto socorro. O lado bom foi que isso me deu a chefia da urgência, mas eu estava decidida a não me apaixonar de novo, mas você apareceu... me deixou sem defesas, me apaixonei perdidamente. Queria preservar nossa relação dessas lembranças, por isso também queria resguardar nossa relação dos comentários no hospital, já que a minha com Bárbara tomou proporções de escândalo de revista de fofoca.

-Você tinha que ter me contado, você tem noção de como me senti hoje te vendo naquele estado diante dela?

-Eu fiquei apavorada, ela tem me ligado desde que chegou antes do carnaval. Não tinha te preparado pra isso, tentei falar lá em Cabo Frio, mas foi quando aquela abusada da Laila te beijou na cozinha. Não queria te expor diante de todos, tudo que queria era tirar a Bárbara dali pra evitar uma confusão.

- O que ela quer afinal?

- Quer voltar comigo... separou-se do marido judicialmente, conseguiu a guarda de Lucas e na separação ficou com metade da fortuna do marido.

-E o que você disse?

- Disse que estava noiva de uma mulher linda e maravilhosa, que eu queria passar o resto de minha vida com ela... – me abraçou beijando o pescoço.

-Mas você balançou quando a viu? Ela tentou alguma coisa com você?

Ela soltou meu corpo lentamente, desviou o olhar, nesse momento fiquei tensa:

-Suzana? Você tem algo mais pra me falar?

-Isa...

Aproximei-me do interruptor, acendi a luz do quarto, olhei pra ela fixamente e vi, para meu desespero, uma marca roxa no seu pescoço, de um “chupão”. Segurei seu rosto virando-o afim de confirmar a origem daquela marca, não era minha, eu odiava esse tipo de marca.

-Ah Suzana... me diz que eu não tô vendo isso... – comecei a chorar querendo acordar daquele pesadelo.

-Isa...meu amor... – se aproximou de mim.

-Não chega perto de mim Suzana, você está com o cheiro dela, ela deixou uma marca no seu pescoço, que vulgaridade Suzana! – gritei com toda decepção que me tomava.

-Meu amor, foi um momento de fraqueza, mas não aconteceu nada demais, só uns beijos, até eu expulsá-la da minha sala...e...

- Fraqueza? Só uns beijos? Um beijo é muita coisa Suzana, que dirá uns... – eu gritava e chorava copiosamente – O que você sentiu? Você ainda gosta dela?

-Não sei Isa, não sei... ainda estou em choque...e...

-Não sabe? Suzana a gente está noiva! Até ontem estávamos nos preparativos pra o nosso casamento e você não sabe se gosta ou não de sua ex-namorada?

- Eu só sei que te amo... por mais que eu tenha essa história mal resolvida com a Bárbara é com você que eu quero passar o resto da minha vida!

-História mal resolvida? Então vamos fazer o seguinte, você trate de resolver bem essa história, e depois você me procura tá? – disse com o rosto banhado em lágrimas.

-Isa não faz isso comigo...

-Vai embora Suzana... sai da minha casa.

Aquela noite foi tenebrosa, Suzana saiu em prantos do meu apartamento, eu não tinha forças sequer pra tomar banho, pensava em tudo que ela me contara, pensava no quanto ela sofreu e pior, lembrava do rosto daquela mulher dura, imaginando-a beijar a boca e sugar o pescoço de minha noiva... Queria matá-la, queria bater em Suzana, queria arrancar aquela dor do meu peito.

Na manhã seguinte, acordei com a mesma roupa do dia anterior. Enquanto tomava banho, pensei em Suzana, imaginando como ela estaria, lembrei de cada detalhe de sua história e pensei comigo mesma: “não posso deixar aquela mulher me roubar Suzana, ela tem que saber que Suzana não é mais aquela menina que ela podia comprar e manipular, Suzana é minha!”. Sabia que ela não trabalharia de manhã, combinamos de ver um salão de festas para nossa cerimônia de casamento. Resolvi fazer uma surpresa, saí apressada ainda com os cabelos molhados para o apartamento de Suzana.

Aproveitei a porta aberta por outro morador do prédio e subi direto para o apartamento de Suzana. Passei numa padaria e comprei sonhos de doce de leite, Suzana adorava. Toquei a campainha, em poucos minutos, vivi um pesadelo, Bárbara atendeu a porta só de roupão.