terça-feira, 24 de janeiro de 2012

LEIS DO DESTINO: 2ª FASE - Capítulo 16

2.16 Ex causa
No Direito: Pela causa

            A missão que Danilo destinou a Diana não atingiria só sua família. Rosana pressentiu a aproximação que esta causa promoveria entre Natalia e Diana, e antecipadamente sofreu com isso calada.

            Marco concretizou a negociação da propriedade que abrigaria Lídia e sua mãe nos Estados Unidos, apressando os planos de Danilo para viabilizar a viagem forçada da mulher e sua sogra.

            Cumprida a agenda de Rosana no Brasil, a cantora viu sua angústia crescer ao saber que partiria sozinha para Nova Iorque, uma vez que Diana aliada ao irmão estava disposta a denunciar e provar os crimes do pai e do irmão ajudando a justiça a cumprir seu papel através de Natalia, representante do Ministério Público.

- Rô não precisa ficar assim, não vou demorar nenhum minuto além do necessário aqui no Brasil.

- Meu amor eu sei, mas não queria ficar longe de você nesse momento. Di é meu primeiro disco de uma carreira em ascensão, poxa, queria você perto de mim!     

- Minha querida até você lançar o álbum eu já estarei lá ao seu lado!
           
- Di você não pode me garantir isso. Essas coisas de justiça especialmente no Brasil podem demorar meses, até anos!
- Não vai se arrastar assim, confie em mim. E se demorar, eu não vou deixar de estar com você no lançamento do seu disco honey. Estarei lá.

- Promete que vai se cuidar? Estou apavorada. Douglas tentou matar o próprio irmão, que teoricamente estava do mesmo lado que ele, imagine o que ele é capaz de fazer com você!

- Calma Rô. Eu e Danilo temos tudo arquitetado, e por incrível que pareça, começo a acreditar que o papai vai nos proteger do Douglas quando estiver a par das atrocidades que ele tem cometido.

- Você acredita mesmo nisso?

- Acredito que o Danilo conhece o papai e o Douglas melhor que eu, se ele acha isso, vou dar o crédito.

- Ok, eu preciso ir agora, última chamada para o embarque.

            Rosana abraçou Diana por minutos, amargando a aflição de um sentimento de perda antecipado. Sufocando essa angústia a psicóloga segurou as lágrimas e sorriu para a namorada declarando:

- Vou ficar na torcida pra que dê tudo certo e você voe de volta pra mim.

- Obrigada meu bem. E quanto a você apesar de não precisar porque tem talento de sobra: boa sorte na finalização do disco! Quero que me mantenha informada de tudo! E fiquei à vontade para escolher qualquer foto das que te dei, não é obrigada a aceitar minha sugestão ok?

- Eu adorei sua sugestão meu amor. E as fotos que você fez estão todas incríveis! Vou usar no encarte, no site com certeza! Agora preciso mesmo ir.

- Boa viagem, se cuide.

            Diana beijou as mãos da namorada que com os olhos marejados disse:

- Di...
- Oi baby.

- Te amo.

            Diana não hesitou em corresponder à declaração.

- Eu também amo você.

            Ouvir tal declaração de Diana não foi a primeira vez para Rosana, mas, naquele momento teve um significado especial. Por isso, a cantora se apegou a essa despedida para manter as esperanças vivas acerca da estabilidade do seu namoro.

Quanto à Diana a declaração foi honesta, amava Rosana, sua gratidão e admiração por ela eram imensuráveis, a cumplicidade e o companheirismo construído ao longo do tempo que estavam juntas, aliado a amizade e atração que sentia consolidavam o amor da loirinha pela cantora. Apesar da confusão de sentimentos e memórias Diana tinha convicção do seu amor por Rosana, assim como amou Julia em outro momento de sua vida, mas, temia a intensidade e a dimensão do que ainda sentia por Natalia, os próximos eventos que fatalmente a colocaria de novo em seu caminho seria uma prova de fogo, ou melhor, explicitando, seria um acerto de contas com o destino, um ajuste de encontros não concretizados, de sentenças não finalizadas, de momentos que não aconteceram, a vida devia isso a ela e Natalia.

************

Eduarda não suportou o castigo imposto à ela pela namorada. Cansou de ter suas chamadas ignoradas e esperou Natalia no apartamento dela no final do expediente.

- Oi, a Miriam me deixou entrar.

- Oi.

            Natalia disfarçou com alguma frieza a surpresa da namorada.

- Tentei te ligar o dia todo para conversarmos, mas você não me atendeu...

- Meu dia foi cheio, não tive como atender.

- Eu... Acho que te devo um pedido de desculpas, fui insensível com você ontem.

            Eduarda falava com cautela, buscando identificar a receptividade de Natalia às suas palavras, mas, a morena evitava encará-la.

- Eu devia ter compreendido o quão abrupto foi para você aquele reencontro, e agido de outra forma com você, mas, fiquei apavorada, insegura...

            Natalia permaneceu calada sentando-se no sofá, Eduarda sentou-se de frente para ela tornando inevitável o encontro dos olhares.

- Nat, eu te amo, eu tenho tanto medo de te perder e esse seu passado tão presente na nossa vida me deixa aflita, cheia de receios.

- Não tenho culpa nesses acasos do passado no meu presente Duda. Estava naquele jantar atendendo um convite insistente seu, fui pega de surpresa, como você esperava que eu reagisse?

- É eu sei... Mas, você foi injusta comigo me acusando de ter armado tudo para te testar. Eu nunca faria isso!

- Eu sei Duda, estava cansada e tonta com aquele jantar, me senti pressionada e fui insensata e injusta com você, te devo um pedido de desculpas também.

- Vamos esquecer isso?

            Natalia acenou em acordo. Eduarda se aproximou segurando o rosto da namorada depositando um beijo em seus lábios a fim de selar as pazes. Ambas sabiam que aquele assunto era um ponto de tensão no relacionamento delas, talvez por isso, tacitamente transformaram-no em assunto proibido.

*************

            O primeiro passo nos planos de Danilo e Diana era recolher o máximo de documentos que poderiam ser usados como prova contra Douglas, a fim de entrega-los a Lucas para ajudar nas investigações.
           
            Alguns desses documentos Danilo guardara em um cofre no seu quarto por precaução, outra grande parte estava em uma HD externa, que Lídia escondia a pedido do marido, antes de embarcar para os EUA entregou-a a Diana.

            Munidos dessas provas os irmãos agendaram um encontro com Lucas e Natalia, a fim de explicitar seus planos em troca da delação premiada. Diana apressou o encontro diante da hesitação do irmão em adiar as denúncias, aguardando o retorno do pai de uma viagem de negócios.

- Diana eu gostaria de primeiro conversar com o papai.

- Você não percebe que quanto mais demorarmos mais você está em risco? Se o Douglas desconfiar de algo você está perdido! Quando o papai chegar contamos tudo, mesmo não tendo certeza se essa é a melhor solução, afinal estamos também o incriminando.

- Tudo bem, amanhã chego a São Paulo, nos encontramos aí.

            Diana ligou pessoalmente para Lucas, deduzindo que aparecer na delegacia não seria sensato dado ás circunstâncias, o delegado sugeriu um lugar privado e fora do expediente, sem riscos de serem flagrados por algum jornalista que acompanhava o caso.  Assim, Danilo sugeriu uma pequena chácara que ele possuía a poucos minutos da capital, Lucas acatou a proposta.
            Lucas não adiantou para Natalia o teor do encontro sigiloso, o delegado era exageradamente precavido em assuntos sigilosos ao telefone, temia escutas ilegais especialmente por que no momento não era só o caso de Acrisio que ele e Natalia estavam à frente, existiam outros crimes envolvendo grandes figuras públicas acusados de contravenção e lavagem de dinheiro em jogos de azar os quais ganharam grande repercussão na mídia pela denúncia do envolvimento de policiais nos crimes.

            Era quase noite quando Natalia encontrou Lucas no local indicado. A promotora além de ansiosa parecia receosa dada à distância e isolamento do local.

- Lucas chega de me enrolar! Que lugar é esse? O que estamos fazendo aqui? Você me disse que era sobre o caso de Acrisio Toledo, do que se trata?

- Calma Natalia eu vou explicar tudo.

- Estou esperando! Quem vamos encontrar aqui? Por que nesse fim de mundo isolado? Se é algo com Acrisio Toledo isso pode ser uma armadilha! Já pensou nisso?

            Natalia indagava impaciente cobrando respostas de Lucas quando foi surpreendida por uma voz familiar de alguém que saía pelo alpendre da casa.

- Não se preocupe Natalia, não atrairia vocês para uma armadilha.

            Diana respondeu seguida do irmão se aproximando dos degraus deixando a luz revelar seu rosto. Natalia ficou ali atônita, olhando para Diana revivendo as sensações que só a loirinha despertava-lhe com a simples presença: mãos geladas e suadas, coração acelerado com os olhos cintilando o brilho inconfundível de uma grande paixão.

- Olá Diana, desculpe-me o atraso. Demorei um pouco para achar a entrada.

- Sem problemas delegado. Você se lembra do meu irmão?

- Claro que sim, como vai Danilo?

- No período mais delicado da minha vida, mas, cheio de esperanças.

            O clima estranho e tenso foi quebrado por Lucas que se aproximou de Diana e disse:

- Será que a gente pode quebrar essa formalidade toda e se abraçar? Estou querendo fazer isso há anos com você, eu estou morrendo de saudades de você loira!

            Diana se desarmou e pulou no pescoço de Lucas abraçando o amigo calorosamente, se ainda existia alguma mágoa do passado, ela foi sufocada e aniquilada naquele gesto, provocando uma sensação de conforto na alma de ambos.

            Desvencilhando-se dos braços de Lucas, Diana encontrou os olhos de Natalia, marejados. A loirinha teve que conter o impulso de mergulhar naquele brilho que emanava do olhar da promotora e tomar sua boca. O colo ruborizado denunciava seu nervosismo, e ela sabia que estava sendo lida por Natalia naquele momento, por isso, esquivou-se em um tom mais formal:

- Olá Natália.

- Oi Diana.

            O cumprimento aparentemente frio reinstalou o clima desconfortável, e foi a vez de Danilo retomar o foco daquela reunião secreta.

- Vamos entrar? O jardim é lindo, mas, está ficando frio.

- Esse lugar é muito aconchegante é da sua família Di? Nunca viemos aqui não é? – Lucas perguntou.

- Na verdade é do Danilo. – Diana respondeu acenando para todos entrarem.

- Comprei para minha mulher, ela é botânica, e encantada por esse lugar, era de um professor dela do mestrado que se mudou para o Japão, estava vendendo, então o dei de presente de casamento para ela. – Danilo explicou.

- Não sabia que você era casado. – Lucas comentou.

- Bem vocês agora compõem a dúzia de pessoas que sabe disso, esse é um dos motivos de vocês estarem aqui hoje.

            Danilo afirmou surpreendendo Lucas e Natalia.

- Sentem-se, essa conversa será longa.

            Diana convidou-os e deu a palavra ao irmão que relatou o motivo daquele encontro confidencial.
           
            Mesmo se tratando de um assunto de grande relevância profissionalmente para Natalia e pessoalmente para Diana, as duas tiveram dificuldade de se concentrar naquela conversa, por vezes se perdendo nos olhares que revelavam tudo o que seu interior guardava.
- Antes de dizer qualquer coisa Danilo, preciso esclarecer que o benefício da delação premiada depende muito do juiz, de como ele vai julgar as informações que você deu ao processo, talvez você não consiga absolvição total dos seus crimes, você tem certeza que quer seguir com isso? - Natalia perguntou a Danilo.

- Certeza absoluta. Mesmo que eu seja condenado e tenha que ser preso eu quero fazer isso, alguém precisa parar o Douglas, nem que o preço envolva também a prisão do papai.

- Esse é outro ponto que precisamos esclarecer Danilo. – Lucas disse – A prisão do seu pai será inevitável, ele cometeu inúmeros crimes, a motivação para isso, ou o fato de seu irmão ser responsável pela execução de grande parte deles ou acrescentar o requinte de crueldade, não exime o senhor Acrisio de suas culpas.

- A Diana já me alertou sobre isso delegado. Mas, o que tenho não vai colaborar muito nas denúncias contra meu pai, só teriam validade na época do mandato dele, seriam motivo para cassação de mandato, perda do direito político, quebra de decoro parlamentar, processo no comitê de ética... Esse material que estou entregando acrescenta mais suspeitas e implica em outros nomes a serem investigados: doações a diretores e ex-diretores do INCRA, comprovantes de depósito para líderes do Movimento dos Sem Terra, e nessa HD vocês terão uma lista de todos os funcionários da Verdes Canaviais, os que deram entrada na cooperativa e uma lista atualizada, assim vocês poderão compará-las para ter uma noção do quantitativo de trabalhadores desaparecidos.

- Danilo sem dúvida esse material é valiosíssimo, vai nos dar um gás nas investigações e munição para mantermos os inquéritos abertos. – Lucas disse sem disfarçar sua empolgação analisando o material.

- Meu pai está fora do Brasil a negócios. Eu tenho que dizer a vocês que vou alertá-lo sobre o que eu mesmo fiz e lhe direi os motivos, vou apelar para seu amor de pai na esperança que ele freie Douglas e nos perdoe, a mim e a Diana.

- Não olhem para mim! Não sei de onde veio toda essa inocência do meu irmão, estou tão incrédula quanto vocês sobre essa esperança dele. Imagine o amor de pai de Acrisio Toledo... Sinto arrepios ao cogitar essa fantasia.

            Diana comentou despertando um riso discreto do irmão.

- Danilo existem alguns procedimentos burocráticos a seguir para tornar legal esse depoimento, ou seja, terá que ser feito diante de um escrivão, você terá que assiná-lo enfim, assim poderá também listar o que você está me entregando como prova, e aí posso te oferecer proteção se você precisar.

            Lucas esclareceu, e detalhou os trâmites que precisavam ser respeitados, indicando a necessidade da contratação de um bom advogado entre outras sugestões. Enquanto o delegado indagava Danilo sobre detalhes dos documentos o telefone de Diana tocou, era Rosana, disfarçadamente ela se afastou até o alpendre da casa para atender.

- Hi Honey. Está tudo bem?

- Estou chegando da gravadora meu amor, está ficando fantástico! Os arranjos dos metais deram vida nova às melodias, estou muito feliz com o resultado.

- Que coisa boa meu bem. Então ficará pronto no prazo?

- Creio que sim. E quanto a você? Como estão as coisas por aí?

- Estou com o Danilo aqui, reunimos o material que servirá como prova no processo para entregar ao Lucas. Agora é oficial nosso plano.

- Alguma previsão de quando você volta?

- Não minha querida. Tenho um encontro na embaixada dos Estados Unidos amanhã, querem aproveitar minha presença no Brasil para iniciar por aqui a exposição itinerante.

- Estou morrendo de saudades meu amor.

- Eu também estou minha querida, mas só ficarei o tempo necessário e não se preocupe, estarei aí ao seu lado no lançamento do álbum meu amor.

            Diana falou carinhosamente ou notar a voz embargada de Rosana, antes de encerrar a ligação ouviu passos lentos se aproximando do alpendre, ao se virar em direção ao som viu Natalia encostada na janela lateral.

- Promete?

            Rosana perguntou segurando o choro.

- Di, promete que vem mesmo?

            Diana emudeceu com os olhos fixados em Natalia que não disfarçou seu interesse na conversa.

- Di? Está me escutando? Alô?

            Por alguns segundos Diana não conseguiu responder.

- Diana!

- Oi, desculpe-me, a ligação está falhando, nos falamos melhor depois tudo bem? Beijos.

            Diana desligou o telefone rapidamente, observada atentamente por Natalia.

- O sinal do celular está péssimo. – Diana comentou sem graça.

- É... Não consegui sinal da minha operadora.

            Natalia disse se aproximando da sacada.

- E parece que um temporal se aproxima.

            Diana previu olhando o céu.

-Preciso apressar o Lucas, não quero pegar essa estrada na chuva.

- Muito tempo na cidade te deixou com medo do mato caipira?

            Diana brincou despertando um sorriso sarcástico de Natalia.

- Nossa... Sabe há quanto tempo ninguém me chama de caipira? Oito anos!

- É que você deve ter aprendido a cortar metade dos “erres” que você pronunciava, isso já dá uma disfarçada.

- Você não tem vergonha?

- De que?

- De ser uma coroa já de trinta anos com essas criancices? Implicando com meu sotaque! E você que agora fica aí misturando inglês com português nas frases? Está parecendo o John, aquele barman do Mess falando.

            As duas sorriram mais relaxadas.

- Não é fácil sabia? Recebo telefonemas de trabalho o dia todo, os quais tenho que atender falando inglês, além do mais estou fora há muito tempo, a gente se perde no começo mesmo.

- Eu imagino.

- Você disse que não conseguiu sinal da sua operadora, quer tentar ligar para alguém do meu?

- Obrigada, mas melhor não. Vou tentar uma mensagem de texto, é mais fácil do que uma ligação.

            Diana acenou em acordo.

- Você ficou surpresa com a atitude do seu irmão?

- Muito!  Nunca vi coragem no Danilo, ele estava sempre à sombra do Douglas, copiando o estilo dele, repetindo suas frases... Mas, o amor faz milagres não é? Transforma covardes em heróis, bandidos em mocinhos, nos motiva a ir além das nossas expectativas e capacidade, e até a nos sacrificarmos quando necessário. Não acha?

- Suponho que sim.

            Natalia disse baixando os olhos. O silêncio se instalou entre as duas, as palavras de Diana calaram fundo no coração de Natalia, apesar de serem relacionadas à atitude de Danilo, ambas se identificaram.

            O silêncio foi quebrado por uma forte ventania, seguida de raios e trovões que precederam uma potente chuva anunciada pelas nuvens outrora assustando as meninas que estavam no alpendre.

- É eu acho que vocês terão que esperar um pouco para retornarem a São Paulo. – Danilo comentou.

- Muito perigoso pegar essa estrada mesmo com a pista tão escorregadia da lama- Lucas confirmou.

- Mas eu não posso ficar aqui, tenho compromissos...

- Você terá que adiar seus compromissos doutora, se não quiser colocar em risco sua vida ou ficar atolada numa estrada perigosa, o que dá no mesmo.

            Danilo disse entrando na casa dizendo:

- Diana me ajude a preparar algo para a doutora e o delegado comerem, essa chuva não está parecendo acabar tão cedo.

            Diana assentiu e seguiu o irmão. Natalia visivelmente angustiada andava de um lado para outro esfregando as mãos.

- Natalia está preocupada com alguma coisa? Era algum compromisso importante? – Lucas perguntou.

- Não posso ficar aqui... - Natalia pensou alto.

- Nat é loucura enfrentarmos essa estrada nessa tempestade. Acalme-se, vou avisar pelo radio da policia que estamos a salvo e peço para ligarem para Carla, ela entra em contato com sua namorada, é essa sua preocupação?

            Natalia concordou com a cabeça disfarçando sua preocupação real: os seus sentimentos aflorando estando tão perto de Diana.

            As horas avançaram e a chuva não cessou. Lucas já se acomodava pelo sofá da casa convicto de que não retornaria à cidade naquela noite enquanto Danilo comentava com a irmã.

- Vocês podem ficar no quarto da Bernadete, mas, se for impossível, deixe o quarto para a promotora e venha dormir comigo no meu quarto, a gente relembra os tempos de infância e te conto uma estória de fantasmas...

            Diana sorriu e beijou a bochecha do irmão.

- Acho que será a segunda opção, Natalia nunca aceitaria dividir um quarto comigo.

- Ok eu sou um irmão careta, não quero ter esse tipo de conversa com você maninha...

- Ah meu querido você está alguns anos atrasado, não se preocupe que não vou partilhar com você minha vida amorosa.

             Os dois sorriram. Diana foi ao encontro de Natalia que contemplava a chuva sentada em uma cadeira de balanço no alpendre.

- O Lucas já está dormindo no sofá. Vim dizer que tem um quarto pra você, se quiser descansar. Não sei se vai te servir, mas tem um pijama meu lá que você pode usar.

- Obrigada, mas, vou esperar a chuva passar e aí acordo o Lucas para irmos.

- Para com isso Natalia. Deixa de ser cabeça dura vai... Vá descansar, vocês partem cedinho amanhã é mais sensato.

            Natalia bufou demonstrando alguma irritação.

- Toda essa irritação é por não ter conseguido falar com a... Como é mesmo o nome? Eduarda?

- É ela se chama Eduarda. E sim estou irritada por não conseguir falar com ela nesse fim de mundo!

- Por que não usa o radio da policia no carro do Lucas? Com o dinheiro que ela tem quem sabe ela envie um helicóptero ou um barco pra te resgatar aqui...
           
            Diana provocou.

- Não duvido mesmo que ela enviaria. Ela faz tudo por mim.

- Então não perca tempo! Olha lá o carro do delegado doutora. Vá chamar SOS.

- Sabe que você me deu uma excelente ideia Diana?

            Intempestivamente Natalia desceu os degraus e caminhou na chuva em direção ao carro de Lucas. Tentou abrir o veículo em vão, uma vez que as portas estavam trancadas, no entanto, a morena insistia puxando a maçaneta da porta como se pudesse destravá-la a força promovendo uma cena engraçada para Diana que gargalhava observando Natalia trocar insultos com a porta.

- Quer um pé de cabra doutora?
           
            Diana berrou em meio a risos o que só aumentou a irritação de Natalia. Nem um pouco disposta a dar o braço a torcer, a promotora arriscou as outras portas na esperança de alguma estar aberta, mas a lama no seu trajeto acabou provocando um escorregão cômico para o deleite de Diana.

- É melhor você sentar e esperar mesmo doutora Ferronato, duvido que uma Lancester venha se sujar de lama pra te resgatar!

- Não se preocupe Diana Toledo! Sobre sentar e esperar eu entendo muito, pelo menos eu sei que Eduarda não vai me deixar!

            Diana aceitou a provocação subentendida nas palavras de Natalia e desceu os degraus se aproximando da promotora que se levantava com dificuldade.

- Pois não a faça esperar por anos e anos, corra pros braços dela!

            Diana berrou encarando Natalia. Com os olhos marejados as duas emudeceram, a água da chuva que caía sobre elas escorreu pelos seus rostos misturados às lágrimas que foram mais fortes e jorraram, revelando a intensidade dos sentimentos contidos em ambas.

- Eu sei que se eu correr pros braços dela, ela vai estar me esperando, não vai a lugar nenhum sem mim.

            Natalia disse com a voz entrecortada.

- Eu não te deixei! Não me acuse de ter partido sem você como se eu escolhesse te abandonar, não me culpe por sua covardia!

- Covardia? Como ousa? Quem foi que cedeu às chantagens do pai por medo de lutar contra ele?

- Não é possível Natalia! Não é possível que mesmo agora você tendo provas e mais provas em inquéritos e processos criminais contra meu pai você ainda me condene por ter te protegido contra as ameaças dele! Você acha mesmo que ele não seria capaz de cumprir o que ameaçou? Como você pode ser tão cabeça dura assim?

- E para me proteger você precisou mentir magoar e me trair não foi? Qual a justificativa para uma traição Diana?

- Que droga Natalia! Expliquei a você anos atrás! Não te traí! Inventei aquilo para que terminássemos e eu pudesse cumprir as exigências de meu pai, de outra forma você não aceitaria o fim do nosso namoro por que você me conhecia como ninguém e ia ver a verdade nos meus olhos e eu acabaria não resistindo!

- A prova da sua mentira do passado está justamente no seu presente Diana. Você está com ela hoje, não comigo.


- Natalia você acha que eu estou com a Rosana desde que parti do Brasil?

- Acho! Só isso justifica o fato de você ter me deixado por todo esse tempo e nunca ter me procurado me ligado. Claro, você estava muito bem com sua companheira Miss Flower!

- O que justifica então você não ter feito isso? Você também podia ter me encontrado. Você tinha uma passagem pra lá, tinha os telefones de minha mãe, tinha meu e-mail, se você quisesse ou me amasse como você dizia que amava estaria comigo até hoje!

- Não acredito... Você está duvidando do meu amor?

- Isso é absurdo? Eu fiquei horas naquele aeroporto, sozinha, me pegando no fio de esperança que eu tinha de ser feliz com você longe da confusão que nossa vida se transformou. Até o último momento do embarque eu acreditei no seu amor, você não sabe por quanto tempo eu esperei pela verdade dos planos que você fez comigo, passei anos da minha vida sozinha, vivendo de aventuras, guardando meu sentimento por você, até que me conformei que eu fui pra você só a primeira mulher, minha importância pra você é só histórica, só passado.

- Ah sim, você guardou o sentimento por mim tão bem guardado que se esqueceu dele! Deve ter comido metade das mulheres de Nova Iorque, ou não, desculpe-me você tinha a doutora Rosana, sua companheira!

- Rosana foi a primeira mulher que tive um relacionamento sério depois de anos nutrindo a esperança de você me procurar, pronta pra continuar nossa história. Só me dei conta do quanto eu estava iludida quando te vi um ano atrás, uma mulher feliz e realizada, apaixonada por alguém que não era eu.

- O que você esperava? Voltar e me encontrar casta, solitária, fracassada e infeliz? Esperando me salvar da minha vida de infelicidade sem você?

- Nunca esperaria isso de você. Sempre soube que você brilharia em qualquer rumo que tomasse em sua carreira, que não faltariam homens ou mulheres aos seus pés. Eu esperava estar na sua vida, mas esse sonho estava condenado ao fim desde que você me deu um não como resposta a ele não aparecendo naquele aeroporto.

- Minha resposta foi sim Diana. Eu fui até o aeroporto.

- O que?!

            Diana apertou os olhos e enxugou o rosto, duvidando do que acabara de ouvir. Com a voz embargada Natalia repetiu:

- Eu fui até o aeroporto, com uma mochila nas costas, meu passaporte na mão, cem reais no bolso e minha alma cheia de esperanças de uma vida feliz ao seu lado onde você estivesse. Mas eu cheguei tarde demais, o avião já estava pronto para partir e enfim...

            Chocada com a revelação Diana sentiu seu peito apertar por uma revolta inexplicável contra o destino e seus desencontros.

- Eu entendi isso como um sinal de que não era pra acontecer, repensei todas as tribulações que enfrentamos e conclui que o preço era alto demais, que devia ter algo muito errado na nossa história e a vida nos dava sinais disso todo tempo e nós ignoramos. Foi lá naquele saguão que decidi simplesmente abrir mão, e seguir minha vida.

- Eu passei tanto tempo sonhando dobrar uma esquina e encontrar você... Não conto às vezes que segui uma garota na rua por que algo nela fazia lembrar-me de você... Todas as vezes que atendi um telefonema do Brasil eu rezava que fosse sua voz do outro lado, e me censurava tanto por isso depois! Meu Deus como eu me torturava! Repetindo pra mim mesma que você não me quis, que você disse não à nossa vida juntas.

            Diana desabafou fazendo pausas para dar vazão ao seu pranto solto.
           
- Eu também te esperei Diana. Eu vi seu rosto em cada garota loira de cabelos curtos que caminhava na USP, olhei aquela passagem por meses usando toda minha sensatez para resistir à tentação de usá-la e voar pros seus braços. Mas toda espera tem um fim Diana, mesmo que o fim não seja condizente com nossa expectativa, essa espera frustrada pela realidade se transforma numa dor escondida, num brilho apagado ou nos arrasta para outras esperas, novas expectativas.

- Por que você não foi Nat? Por quê?

            Diana se aproximou de Natalia segurando suas mãos trêmulas. Aproximou seu rosto como que atraída por um campo magnético, seguindo apenas o que seu corpo pedia e aquilo que captava dos sentidos de Natalia que sem defesas deixava o toque de Diana acalmar seus soluços. Os lábios de Diana tocaram as lágrimas que escorriam pela face da Natalia com delicadeza de quem conhecia o sabor e o sentido delas. As mãos da morena presas ao próprio corpo relaxaram diante da carícia dos dedos de Diana que percorreram a pele da promotora sem pressa, permitindo que o tato acompanhasse toda emoção embutida naquele instante.

            Com os olhos cerrados Natalia abriu seus lábios prevendo o que a boca Diana buscava ao roçar no trajeto da sua testa, olhos, nariz até finalmente encontrar seu alvo de desejo e fundidos os lábios se deram em um beijo imperativo por sua intensidade e ao mesmo tempo sereno pelo seu ritmo. As bocas descerraram-se abrindo caminho para as línguas oferecerem seu sabor, seu calor, dando a mostra de todo desejo e sentimento contido por anos.

            E foi ela, mais uma vez ela, a testemunha e elemento do cenário da vitória do sentimento e da paixão sobre mágoas e dores entre Natalia e Diana: a chuva. Foi a chuva que compôs a trilha sonora daquela colisão de almas apaixonadas e conectadas por um sentimento inexplicável que permaneceu latente à espera da primeira oportunidade para ressurgir com toda sua força.

            Compelida pela voracidade daquela paixão evidente no beijo, Diana não interrompeu o desejo desenhado pelo fluxo dos movimentos de suas mãos e boca pelo corpo de Natalia, anunciando o que ambas ansiavam: entregarem-se inteiras uma a outra.

            Contra toda sua volição, Natalia cessou aquele beijo, afastando Diana do seu corpo, travando uma luta com sua própria vontade.
           
            Diana hesitou em insistir, mas não resistiu e buscou Natalia mais uma vez, no entanto, a morena a repudiou com um gesto. Ergueu sua mão freando o intento da loirinha, sendo tomada mais uma vez pelo pranto. Natalia balançou a cabeça negativamente e deu voz ao seu gesto:

- Não Diana. Não. Chega.

            Natalia correu para a casa, deixando Diana ali na companhia da chuva.



           

Set Fire To The Rain - Atear Fogo À Chuva

 


I let it fall, my heart
And as it fell, you rose to claim it
It was dark and I was over
Until you kissed my lips and you saved me

Eu deixei cair, meu coração
E enquanto ele caía, você surgiu para reivindicá-lo
Estava escuro e eu estava farta
Até que você beijou meus lábios e me salvou

My hands they were strong
But my knees were far too weak
To stand in your arms
Without falling to your feet

Minhas mãos eram fortes
Mas meus joelhos eram muito fracos
Para permanecer em seus braços
Sem cair aos seus pés

But there's a side, to you, that I never knew, never knew
All the things you'd say, they were never true, never true
And the games you'd play, you would always win, always win

Mas há um lado, em você, que eu nunca soube, nunca soube
Todas as coisas que você diria, nunca foram verdade, nunca foram verdade
E os jogos que você jogaria, você sempre ganharia, sempre ganharia

But I set fire to the rain
Watched it pour as I touched your face
Well, it burned while I cried
'Cause I heard it screaming out your name, your name!

Mas eu ateei fogo à chuva
E fiquei vendo ela cair enquanto eu tocava seu rosto
Bem, ela queimava enquanto eu chorava
Porque eu a ouvi gritando seu nome, seu nome!

When I lay, with you
I could stay there, close my eyes
Feel you here forever
You and me together, nothing is better!

Quando deito, com você
Eu poderia ficar lá, fechar meus olhos
Sentir você aqui para sempre
Você e eu juntos, nada é melhor

Cause there's a side, to you, that I never knew, never knew
All the things you'd say, they were never true, never true
And the games you'd play, you would always win, always win

Porque há um lado, em você, que eu nunca soube, nunca soube
Todas as coisas que você diria, nunca foram verdade, nunca foram verdade
E os jogos que você jogaria, você sempre ganharia, sempre ganharia

But I set fire to the rain
Watched it pour as I touched your face
Well, it burned while I cried
'Cause I heard it screaming out your name, your name!

Mas eu ateei fogo à chuva
E fiquei vendo ela cair enquanto eu tocava seu rosto
Bem, ela queimava enquanto eu chorava
Porque eu a ouvi gritando seu nome, seu nome!

I set fire to the rain
And I threw us into the flames
Well, it felt something died
Cause I knew that that was the last time, the last time!

Eu ateei fogo à chuva
E nos atirei às chamas
Bem, sentia que algo morreu
Porque eu sabia que era a última vez, a última vez!

Sometimes I wake up by the door
That heart you caught must be waiting for ya…
Even now when we're already over
I can't help myself from looking for ya

Às vezes acordo ao lado da porta
Aquele coração que você apanhou deve estar esperando por você
Mesmo agora, quando já terminamos
Não posso evitar ficar te procurando


I set fire to the rain
Watched it pour as I touched your face
Well, it burned while I cried
'Cause I heard it screaming out your name, your name!

Eu ateei fogo à chuva
E fiquei vendo ela cair enquanto eu tocava seu rosto
Bem, ela queimava enquanto eu chorava
Porque eu a ouvi gritando seu nome, seu nome!

I set fire to the rain
And I threw us into the flames
Well, it felt something died,
'Cause I knew that that was the last time, the last time!

Eu ateei fogo à chuva
E nos atirei às chamas
Bem, sentia que algo morreu
Porque eu sabia que era a última vez, a última vez!

Oh oh oh oh oh…
Let it burn…
Oh oh oh oh oh…
Deixe queimar…
 (Adele)

           
            Sem ação Diana permaneceu ali sendo banhada pela chuva e pelos sentimentos densos expostos pela verdade revelada naquela conversa e naquele beijo.  Ficou ali mesmo, consumida pelo desejo de ter Natalia em seus braços para sempre, nem mesmo a chuva conseguiu apagar o fogo ateado com o encontro de sua boca com a boca da morena, talvez por que Diana ansiava se queimar, ansiava amar Natalia assim como nas suas memórias e nos seus sonhos, ansiava arder naquele amor que ela acreditava ter morrido, mas naquela noite deu toda sua mostra do quão vivo estava.

            Natalia com seu corpo encharcado e transtornada pela tempestade em sua alma adentrou na casa coberta de lama e por sentimentos desordenados de culpa, desejo e medo. Medo da força do amor que ela julgava ser apenas uma ferida do seu passado, no entanto, acabara de experimentar a prova de que ele estava intacto em toda sua forma e dimensão, e isso a assustou profundamente.

            Danilo encontrou a promotora na cozinha, aturdida, trêmula.

- Você está ensopada doutora! O que houve?

            O rapaz não teve resposta e deduziu que não as teria, dado o estado da promotora.

- Você precisa se secar, Diana preparou o quarto para você, terceira porta.

            Natalia precisava de um refúgio para tentar ordenar seus pensamentos, e seguiu para o quarto indicado por Danilo. Tocou os próprios lábios como se pudesse tatear as marcas da boca de Diana neles, buscando na sua própria pele algum resquício do perfume da loirinha, rememorando o sabor do seu beijo e o calor do seu toque intensificando o desejo despertado minutos atrás. No intuito de retomar seu equilíbrio lançou-se em um demorado banho que em nada amenizou seu destempero.

            Danilo encontrou a irmã ainda imóvel sob a chuva, usou seu casaco para se proteger e tirou Diana do seu estado de inércia à frente da casa. Com cuidado o rapaz usou uma toalha para secar o corpo da irmã, e com a compreensão que nunca usara com a caçula abraçou-a sem nada perguntar. Diana correspondeu ao gesto recostando a cabeça no peito do irmão.

            O alento de Danilo, no entanto, não pacificou a tormenta que se instalara na mente de Diana. Ela viu a madrugada chegar acompanhada da mesma chuva que fora ateada pelo fogo de seu amor por Natalia naquela noite, e não resistindo à força daquele sentimento caminhou pelo corredor e parou diante da porta do quarto onde Natalia estava.
            Natalia podia sentir a presença de Diana quando notou a sombra dos seus pés pela fresta da porta. Ficou de pé diante da porta fechada, hesitando até mesmo se aproximar dela como se isso a fizesse ultrapassar seu campo seguro, todavia, ao passo que se impunha um limite a atração que sentia a empurrava para uma proximidade perigosa de Diana. Assim, Natalia recostou sua testa contra a porta com sua respiração acelerada ao sentir o aroma da pele de Diana atravessar a porta.

            Diana por sua vez, travava uma batalha entre o orgulho e a sensatez contra sua paixão recém-renovada por Natalia. Ficou ali parada diante da porta sentindo a excitação crescer pelo seu corpo gradualmente ao perceber que do outro lado da porta sua amada também notara sua presença.

            O desejo desmedido transcendeu aquela barreira física de madeira, e de uma maneira surreal, seus sentidos se uniram iniciando uma entrega inevitável que apesar de abstrata acendeu a paixão que já estava em brasas, transformando-a em uma chama ardente incontrolável.

            Não foi preciso mais do que uma batida na porta para Natalia atender ao apelo do seu corpo e da sua alma. A morena abriu a porta com urgência, com seu corpo envolto apenas por uma toalha, encarando Diana que emanava sua excitação através da sua pele alva agora ruborizada pelo calor que consumia seu corpo ao se deparar com a beleza estonteante da morena, protagonista absoluta dos seus sonhos.

            Dessa vez, Diana não precisou se aproximar, se isso fosse imprescindível, seria difícil tirar a loirinha do estado hipnótico que ela aparentava ao ver Natalia exalando sensualidade. Não foi necessário mais do que cinco segundos para Natalia sugar a loirinha do seu transe aparente puxando-a pelo pescoço para dentro do quarto tomando posse de sua boca faminta, sedenta, ardente, apetitosa, onde Natalia se perdeu, ou melhor: se encontrou.

            Natalia soube disso no momento em que se sentiu liberta sendo tocada e beijada por Diana mais uma vez. Era nos lábios de Diana que ela se encontrava. Era nos braços de Diana seu lugar mais seguro. Estava no corpo de Diana a resposta para o vazio que lhe perseguiu por todos esses anos longe dela, estava nos olhos de Diana o brilho que ela havia perdido no seu próprio olhar quando a deixou partir no passado.

            Diana por sua vez, extasiada pelo toque de Natalia, inebriada pelo seu cheiro, demorou a acreditar que aquele momento era real. Envolvida naquele clima mágico a loirinha jogou o corpo de Natalia contra a parede e desprendeu a toalha que cobria seu corpo percorreu o corpo dela com o dorso de sua mão arrancando arrepios em cada poro da pele da morena.

            Os olhos de Diana cintilavam a emoção que lhe tomava. Tal emoção não era resultado só da excitação que percorria seu sangue pelo que via: as curvas do corpo delicado de Natalia que para Diana eram as mais perfeitas, era, sobretudo, uma emoção que transcendia a conotação sexual daquele instante. Era como caminhar de volta para o rumo da felicidade plena que só experimentara ao lado de Natalia.

            Com um sorriso de satisfação nos lábios, Natalia abriu espaço para a boca de Diana beijar seu pescoço, seu colo, deslizar sua língua pelos seus seios se deliciando com as sensações que os gestos da loirinha lhe provocavam.

            Calmamente Diana conduziu Natalia até a cama não interrompendo os beijos que inundavam de prazer o corpo de ambas. Sentada à cama, a morena contemplou Diana diante dela, e com o mesmo carinho que fora tocada pela loirinha, Natalia se desfez das roupas dela, beijando sua barriga, seu umbigo, puxando-a pela cintura, tal gesto desestruturou completamente Diana, que excitada cravou suas unhas nos ombros de Natalia arranhando suas costas até enfim deixar seu corpo o cair sobre o dela dando início à entrega que elas guardavam na memória de seus corpos na definição de plenitude de um ato.

            Os movimentos foram suaves, Diana parecia querer prolongar cada toque, cada beijo, cada carícia como se necessitasse matar a saudade nutrida por todos os anos separadas em cada pedaço da pele de Natalia. Por isso, a loirinha atiçou e sentiu todos os seus sentidos serem atiçados naquele encaixe. Sincronizados: tato, olfato, visão, audição e paladar levaram o casal ao ápice.

            Com os corpos úmidos e nus abraçados, com as respirações descompassadas, se permitiram o benefício do silêncio, para não macular aquele momento de magia. Trocaram apenas o olhar apaixonado só destinado uma a outra e abraçadas, adormeceram, fugindo das consequências que o dia traria.