terça-feira, 6 de dezembro de 2011

LEIS DO DESTINO: 1ª FASE - 22º CAPÍTULO

Sem mencionar uma só palavra, mas tomada de uma fúria avassaladora, Diana empurrou Natalia para dentro do seu carro e seguiu para o apartamento da moça que não ousou quebrar o silêncio em todo percurso.

                De frente ao prédio de Natália, o silêncio foi quebrado por uma ordem expressa de Diana:

-- Desce do carro e vê se toma juízo!

-- Eu... Não sei o que dizer, não podia imaginar que ela...

-- Se não sabe o que dizer, desce calada, entre logo, é perigoso ficar parada aqui essa hora!

-- Diana...

-- Natalia entre em sua casa agora, você já extrapolou os limites da minha paciência hoje.

                Consciente de que Diana estava certa, Natalia desceu do carro e caminhou até a porta do prédio de cabeça baixa, enquanto Diana segurava o volante com força, descarregando sua raiva.          


                A raiva que sentia não era só de Natalia e Isadora. Era principalmente dela mesma, por não conseguir controlar seus sentimentos. Não conseguia ficar indiferente a Natalia, nem ao seu corpo, nem à sua voz, nem aos seus olhos, e muito menos às suas atitudes. Todas as emoções se misturaram naquela noite quando estava diante dela, e por mais que quisesse odiá-la por não ter acreditado na sua inocência no episódio das fotos, por ter ficado ausente em seu momento mais vulnerável, e ter se comportado levianamente na boate, tudo que Diana desejava era tomá-la em seus braços e matar a saudade de sua boca, de seu gosto, de seu cheiro.

                Natalia permaneceu parada à porta do seu prédio, nutrindo o fio de esperança de Diana descer daquele carro e tirar do seu corpo as impressões digitais de Isadora. Ao invés disso, uma chuva caiu de repente, no exato momento que Diana destravava suas mãos do volante e descia do carro.

                Como se não desse conta do seu corpo ensopado pela chuva, Diana permaneceu diante do seu carro, encarando Natalia parada à frente do prédio, imóvel. No interior de ambas o duelo entre desejo e racionalidade limitava os passos de uma em direção a outra. Fácil prever quem venceria essa luta. Bastou os olhos se encontrarem, e falarem por si sós. Cada uma deu um passo, cauteloso, lento, como se caminhassem em campo minado. E quando estava óbvia a vitória do desejo, ao mesmo apressaram os passos, e sob a chuva uniram suas bocas, lânguidos seus lábios se devoraram, suas línguas se enroscaram, enquanto seus braços puxavam com força uma contra o corpo da outra, deixando explícita a necessidade que estes tinham de se fundir.

                Aquele beijo intenso se prolongou o suficiente para Diana ter um lapso de arrependimento. Afastou-se de repente desvencilhando-se de Natalia, e correu para seu carro, partindo sem olhar para trás.

******

                Nem se Natalia passasse o resto da noite naquela chuva, o calor que sentiu naquele beijo cessaria. Não conseguiu dormir, sentindo seu corpo arder, ao ressentir as sensações que Diana lhe provocava.              

                Restavam duas horas de sono até a hora do treino de vôlei, quando Natalia conseguiu se acomodar. Sem a mínima disposição física ou mental para sequer levantar-se, Natalia seguiu para o ginásio de esportes da universidade, a fim de desvincular por alguns momentos seu pensamento de Diana.

                Causando estranheza nas suas companheiras de time, Natalia não rendeu como nos treinos anteriores, estava desconcentrada, pediu desculpas às meninas dando uma justificativa qualquer e saiu antes do treino acabar.

                Na quadra vizinha Lucas treinava basquete, ao ver Natalia passar cabisbaixa, lembrando-se do comportamento da moça na noite anterior, preocupou-se, seguiu a moça e essa foi a sorte de Natalia.

                Quando caminhava para a saída da universidade, passando perto do estacionamento, Natalia foi abordada mais uma vez por Sandro, seu colega, responsável pelas fotos no trote.

-- Olha só quem veio me dar bom dia! A gatinha feroz, que quis me devorar ontem...

                Natalia paralisou por um instante, e tentou apressar os passos em seguida, mas Sandro a segurou com violência.

-- Sempre apressada essa menina... Mas, hoje nossa conversa vai ser em um lugar mais aprazível do que a porta de um banheiro...

                Natalia esperneou, mas Sandro era alto e forte, as forças da moça não foram suficientes para evitar que o rapaz a empurrasse para dentro do seu carro no estacionamento. No momento em que bateu a porta, foi surpreendido por um soco poderoso no nariz, que o fez cair no capô do seu carro.

                Sandro não teve tempo de se refazer, e já recebeu outro golpe, se desequilibrou e caiu no chão. Lucas envolveu seu braço nos ombros de Natalia que tremia apavorada.

-- Está tudo bem agora Natalia, vou dar uma lição nesse cara...

-- Não Lucas...

                Sandro pôs-se de pé, ainda tonto, com o rosto ensanguentado tentou revidar os golpes que sofrera de Lucas, mas com facilidade foi empurrado por este.

-- Cara só vou te dizer uma vez: fique longe dela, não ouse encostar em um fio de cabelo, não ouse direcionar a palavra a ela, ou vou ter que ser menos cavalheiro com você, tenho certeza que não vai querer conhecer meu lado menos educado.

-- Você acha que tenho medo de você? Só me pegou desprevenido, mas isso não ficará assim! Não sabe com quem se meteu! Isso tem volta!

-- É só dizer quando você quer apanhar mais e vou estar pronto pra você!

                Sandro entrou no carro possesso de raiva arrancando dali. Lucas deu um abraço protetor em Natalia que permanecia pálida e trêmula.

-- Natalia, o que aconteceu aqui? O que esse cara queria?

--Foi ele que tirou e espalhou as fotos Lucas. Ontem ele me perseguiu no Botecão, tentou me agarrar, eu mordi os lábios dele quando me beijou, ficou violento comigo, me fez ameaças, disse que vai colocar na internet a foto, e que pode até fazer uma montagem com essa foto...

-- Ei ei ei! Calma aí? Esse cara está te assediando, fazendo chantagem e você não conta nada? Natalia isso é crime! Temos que tomar providências mais sérias contra ele, até conseguirmos expulsá-lo da universidade, isso é o mínimo que podemos conseguir.

-- Ele agora vai querer se vingar de você Lucas...

-- Ele é só um covarde que se aproveita de mulher, não se preocupe comigo, na segunda-feira falo com o coordenador do curso, vou pedir ajuda ao Pedro, pra ver o que podemos fazer para puni-lo, quanto às fotos, vamos pensar em algo que o impeça de fazer o que ameaçou. Agora vamos, vou te deixar em casa.

-- Você está se especializando em salvar donzelas... – Natalia brincou.

-- É verdade, acha que tenho futuro?

-- Acho que você é o melhor.

                Natalia sorriu tímida, enquanto Lucas fazia pose máscula.

-- Preciso passar na quadra para pegar minhas coisas, mas é rápido, vamos?

                A menina acenou em acordo e seguiu com Lucas até a quadra. No ponto de ônibus, sentados, a moça observou a mão machucada do rapaz, certamente pelos socos que deu em Sandro.

-- Deixe-me ver sua mão, está machucada...

                Satisfeito com a preocupação da moça, e com o contato de suas mãos, Lucas não se fez de rogado, permitindo ser cuidado por Natalia. Prevenida como sempre, a moça retirou de sua mochila uma garrafinha de água e uma toalha de rosto limpa.

-- Precisamos de gelo aqui... Você quer ir até a padaria para comprarmos?

                Querendo prolongar aquele cuidado, Lucas concordou, e com diversos pretextos, acabou por conseguir permanecer até o final da manhã com Natália, restando a alternativa de convidá-la para almoçar com ele. Grata por ser salva mais uma vez pelo rapaz, Natalia sentiu-se na obrigação de aceitar, e assim seguiram para um restaurante sugerido pelo rapaz.

                A companhia de Lucas era agradável, o que acabou distraindo Natalia de suas angústias e dilemas. Almoçou em clima ameno com o rapaz, até avistar entrando no mesmo restaurante o motivo de sua insônia e inquietação: Diana. E para piorar o desconforto, a loirinha chegou acompanhada de outro rosto conhecido, sua ex-namorada Júlia.

-- Olha só quem está chegando ali!

                Lucas comentou como se fosse surpresa para Natalia, que mudou imediatamente sua expressão descontraída.

-- Hum... E veio com a Julia, devem ter voltado a namorar, Diana nega, mas sei que ela está apaixonada, e vendo-a com a ex, acho que não me enganei. E por falar em Diana, como foi a balada com ela ontem?

                Natalia não conseguia desviar o olhar das duas, e não sabia o que responder a Lucas, foi vaga na resposta.

-- Foi normal, tranquila.

                Sabendo que o rapaz não se conformara com a resposta, desconversou falando do cardápio de sobremesas, quando notou a aproximação de Diana e Julia.

-- Olá meninas! – Lucas cumprimentou simpático.

-- Oi Lucas, há quanto tempo hein? – Julia retribuiu a simpatia.

-- Faz tempo mesmo Julia, surpresa boa encontrar vocês aqui.

                Diana continuou em silêncio, a exemplo de Natalia.

-- Olá. – Julia disse a Natalia.

-- Oi, como vai? – Natalia respondeu cordialmente.

-- Que mal educado que sou! Julia essa é Natalia minha amiga caloura da faculdade. Natalia, essa é Julia, uma das artistas plásticas mais talentosas do mundo!

-- É puro exagero de gentileza dele Natalia. Muito prazer.

                Natalia foi educada, apesar de demonstrar seu desconforto com a situação.

-- Parece que o restaurante está ainda mais lotado hoje. Não há uma mesa disponível, que tal irmos para outro lugar? – Diana saiu do seu silêncio.

-- Ah Diana, só escolhi esse restaurante por que estava com saudades da comida daqui! – Julia retrucou.

-- Sentem conosco, já estamos escolhendo a sobremesa, daqui a pouco vamos embora, e vocês já ficam com nossa mesa.

-- Ótimo!

                Julia aceitou feliz o convite. Lucas usando de seu cavalheirismo levantou-se e puxou a cadeira para Diana e Julia sentarem-se.

                O clima estranho na mesa, só não era mais evidente, para Lucas, que era o mais inocente naquela situação, por isso, manteve o diálogo animado com Julia, enquanto Natalia e Diana tentavam disfarçar a troca de olhares.

-- O que foi isso na sua mão Lucas?

                Julia perguntou, atraindo o olhar de Diana para o machucado do rapaz.

-- Coisas do ofício de salvador de donzelas em perigo. – Brincou.

-- Conta aí Lucas, isso ta me cheirando a briga de meio de rua... O que foi agora? – Diana perguntou desconfiada.

-- Foi algo que me fez lembrar que te devo um pedido de desculpas.

-- Han?

-- Natalia, tudo bem se eu contar? Ela pode ajudar também...

                Lucas segurou a mão de Natalia, que não sabia o que responder, não imaginava a reação de Diana.

-- Fala Lucas! Estou ficando preocupada.

                Natalia concordou com um gesto positivo, autorizando Lucas a contar. O rapaz narrou o que acontecera, e à medida que dava detalhes das ameaças de Sandro, o rosto e colo de Diana tomavam a cor vermelha, anunciando sua fúria, que se exteriorizou com um soco na mesa, ao ouvir Lucas contar que Sandro empurrou Natalia para dentro de seu carro à força.

-- Filho da mãe!

-- Calma Diana! – Julia apertou a mão no ombro de Diana, alertando-a sobre sua reação exagerada diante de Lucas.

-- Eu acusei Diana injustamente Natalia, pensei que ela tivesse aprontado isso com você, por isso, acho justo que ela saiba. Desculpa Di.

-- A gente tem que fazer alguma coisa. Lucas isso é um absurdo, quem esse cara pensa que é?

-- Tenho uma ideia do que fazer vou precisar de sua ajuda, posso contar com você?

                Mais contida nos seus ânimos, Diana tentou esconder sua ira e interesse em resolver essa questão.

-- Quando foi que te neguei ajuda? – Diana pausou diante do olhar de Lucas que indicava uma resposta positiva para aquela indagação. – Ok, quando recusei ajuda em questões importantes?

                O rapaz sorriu.

-- Vou entender isso como um sim.

                Natalia sentia uma alegria enorme ao ver Diana preocupada com ela, entretanto, a presença de Julia ali minava qualquer esperança a respeito de um possível entendimento entre elas duas.

-- Bom, acho que a mesa é de vocês, terminamos nosso almoço, vamos Natalia?

-- Sim, vamos.

                Lucas e Natalia se levantaram juntos, Diana os acompanhou com os olhos, mastigando o ciúme pela notória intimidade entre os dois. Natalia se sentia observada por Diana, e por isso, não impôs resistência às gentilezas do rapaz.

-- Por mais que você os olhe, fuzilando-os com seu ciúme, não adianta você não conseguirá derrubá-los só com o poder da mente.

-- Ha ha, é uma piadista minha ex-namorada!

-- Diana, você é patética tentando esconder seus sentimentos sabia?

-- Ah é? O que você acha que eu deveria fazer?Eu te contei o que houve. Está vendo como o Lucas está caído por ela? E ela continua dando trela pra ele! Julia, como se não bastasse tudo que ela fez, agora volta a dar mole pro meu melhor amigo...

-- Ei! De onde saiu tanta intransigência de você? Por que você é tão dura pra julgar essa garota? Diana você já se colocou no lugar dela? Já pensou o quanto ela está apavorada? Se Lucas não tivesse livrando-a desse cara hoje, sabe-se lá o que ela teria sofrido nas mãos dele!

-- Eu quero matar esse filho da mãe!

-- Diana a cabeça dessa menina deve estar a mil! Não só pelo fato de estar se descobrindo lésbica, como essa sucessão de exposição, encarar uma vida adulta sozinha numa cidade estranha, a perseguição de um psicopata, e ainda por cima, a garota que ela está apaixonada parece não saber o que quer com ela!

-- Ah não Julia, você não vai me convencer que a culpa é minha, não mesmo!

-- Diana não se trata de achar um culpado, me diz, o que importa de quem é a culpa? Você errou, ela errou, não foi a primeira vez e nem será a última que duas pessoas que se gostam se desentendem. Há tempos em que a gente cai no erro de super dimensionar os fatos que por vezes nem os são porque não passam de meras hipóteses, atribuímos importância a palavras e discursos que nunca tiveram a pretensão de entrar pra história quando mencionados, e as transformamos em sentenças absolutas, em regras inquestionáveis, e até em castigos irreversíveis.  

-- Muito profundas suas palavras, como sempre Julia, mas, elas não mudam o que me separa da Natalia. Não gosto do jeito como ela me tira a razão e o senso, não gosto dessa sensação de não ter o controle das coisas. Perdi o controle, te traí, acabei com um relacionamento estável que me fazia feliz, estou enganando meus melhores amigos, e vivo numa luta sem fim para não agarrá-la todas as vezes que a encontro. Julia isso é absurdo, eu durmo e acordo pensando nela, não pode ser bom isso, definitivamente, não pode acabar bem, sendo assim, melhor que nem comece.

-- Você está tentando convencer a mim ou a você disso?

-- Julia não sei por que você é tão condescendente com as coisas da Natalia, você deveria odiá-la!

-- Por que odiaria a menina? Não foi ela que ofendeu, foi você! Sequer a conhecia. E ao contrário do que você afirma, não sou condescendente, apenas a compreendo, por que já tive dezoito anos, você deveria entendê-la também.

-- Nossa diferença de idade nem é tão grande, uns quatro anos só...

-- Ah para né Diana! Vai querer mesmo comparar? Esses quatros anos são toda diferença, por que você os viveu de maneira praticamente independente, um deles em Nova Iorque! Essa menina viveu a vida inteira com os pais no interior!

-- Ah... Não é bem assim... Você sabe que o que passei com meu pai não foi e não é nada fácil...

-- Cada um com seus problemas... Mas, pra encerrar essa questão, por que nosso almoço já está chegando: para de ficar aí alisando suas mágoas, para de fazer drama e trate de se entender com a Natalia, por que já tem gente na fila, esperando a caipirinha abrir um espacinho! Acorda mulher!

*************

                Lucas foi educado e cuidadoso com Natalia até deixá-la em casa, respeitando a recusa da moça em permitir sua entrada no apartamento.

-- Tudo bem, vamos deixar pra outro dia, entendo que tem o lance do seu namorado...

-- Nem sei se ainda tenho namorado Lucas, há dias não nos falamos. Mas, estou cansada, dormi muito pouco, gostaria de descansar um pouco, só isso.

-- Não posso negar que essa dúvida sobre seu namoro me anima um pouco. – Brincou – Só por isso não vou insistir pra te colocar pra dormir. Mas, em troca quero que aceite meu convite.

-- Você e suas trocas... Sempre me deixando sem condições de recusar seus convites...

-- Amanhã nossa turma vai pro sítio da Cacau, super maneiro lá, de vez em quando a gente relaxar um pouco, fazer trilha, vamos?

-- E tem jeito de dizer não depois do que fez por mim hoje?

                O rapaz comemorou.

-- Amanhã passo cedinho por aqui então.

Sociedade Secreta Lesbos: Capítulo 41

Capítulo 41

Amy tentava dormir em seu quarto, mas sabendo onde sua amada estava isso era impossível. Perdeu-se em pensamentos, tentando encontrar uma forma de livrar Esther das garras daquela mulher cruel, sem que a morena se ofendesse com a intervenção. Recebeu telefonema de seus pais e estranhou que seu pai não a tenha exortado por estar em uma fraternidade diferente da que sua mãe queria. Deduziu então que ele ainda não sabia e foi mais um fato estranho, visto que, Sandra compartilhava tudo com seu marido Peter Anderson. Sandra por sua vez, nada cobrara de sua filha, mostrou-se amorosa, preocupada, e mais um fato improvável pra Amy, perguntou sobre Esther.

-- Mãe? Aconteceu alguma coisa? A senhora me perguntando sobre Esther? Isso é no mínimo esquisito...

-- Ora Amy... estou tentando ser educada... mas estou vendo que seu humor hoje não está dos melhores, aconteceu alguma coisa?

-- Mãe... gostaria de ajudar Esther, mas ela não deixa... tem uma mulher, uma tal de Michelle que inferniza a vida dela, eu a odeio! Maltrata, chantageia Esther...

-- Michelle?

-- É mãe, uma tal de Michelle Roberts...

Um silêncio se instalou, Sandra sentiu um aperto no peito, como se pressentisse algo terrível, mais que isso, uma chuva de hipóteses sobre o passado iniciou-se. Não teve condições de prosseguir a conversa com a filha:

-- Mãe? A senhora está aí ainda?

-- Sim Amy, mas preciso desligar filha, em breve estarei aí e vamos encontrar um jeito de ajudar Esther. Não faça nada, não se envolva com essa mulher.

-- Mas mãe... mãe?

Sandra desligou o telefone angustiada. Cada vez mais novas peças do quebra-cabeças de seu passado com Carmem surgiam. Ela precisava investigar isso e o faria. Peter, seu marido, era um homem poderoso, bem-sucedido profissionalmente, sempre foi rico, mas sua fortuna não era apenas fruto da herança dos Anderson, sua firma de advocacia era a mais bem conceituada de Nova Iorque, ocupava pelo menos cinco andares de um luxuoso prédio na 5ª avenida, tinha como clientes poderosas multinacionais, além dos políticos mais influentes do estado. Entretanto, o poder não absorveu a sensibilidade e generosidade desse homem. Era um pai amoroso e marido apaixonado, sempre foi, sobretudo, um grande amigo para Sandra desde a época que esta era noiva de seu irmão mais velho: Wiliam Anderson.

Percebendo a angústia da mulher, Peter logo se preocupou, conhecia Sandra como ninguém.

-- Aconteceu alguma coisa, meu amor?

-- Não sei, meu bem... Estou preocupada com Amy... Ainda não contei alguns detalhes da minha visita a Prescott... acho que o destino está brincando com todos nós...

-- Sente-se, minha querida. Seja lá o que for, vamos resolver juntos como sempre fizemos, conte-me tudo.

Sandra então começou a narrar tudo que acontecera em sua visita à filha, seu ingresso na Gama-Tau, seu envolvimento com Esther, e o mais grave, revelou que Esther era a filha de Carmem Gonzalez e Wiliam, seu irmão. Peter Anderson ficou em choque, levantou-se do sofá e ficou andando de um lado para o outro, enquanto Sandra prosseguia.

-- Peter, tem algo muito estranho em toda a história entre Carmem, seu irmão e eu. As peças não se juntam, Esther me culpa pela desgraça que foi a vida da mãe dela e a sua também. Falou em vingança, e nossa filha está completamente apaixonada por ela.

-- Sandra... Minha sobrinha então está viva? Não morreu no acidente com Will e com o tio Joseph? Como assim a Amy está apaixonada por uma mulher e logo sua prima! É muita coisa pra assimilar, como você não me contou isso quando retornou de Prescott?

-- Meu bem, perdoe-me, você estava tão envolvido com a causa do filho do senador Benson que quis adiar essa conversa...

-- Mas Sandra, essas coisas que você me disse são graves demais! Minha sobrinha viva! Se ela atribui a você todo sofrimento de Carmem e fala em vingança, nossa Amy pode estar em perigo. Ela pode usar Amy para se vingar de você, será que você não pensou nisso?

-- Acredito que ela também ame nossa filha Peter, mas ela está confusa, perturbada, especialmente depois de nossa conversa... E tem mais...

-- O quê?

-- Encontrei Michelle na saída da casa Gama-Tau... e agora, Amy me falou que uma tal de Michelle Roberts maltrata e chantageia Esther... não acha muita coincidência de nomes?

-- Sandra, temos que agir imediatamente, minha querida... vou adiantar as coisas no escritório, passar os casos para outros advogados, e vamos para Prescott o mais rápido possível. Até a próxima semana quero ver minha sobrinha e tentar dissuadi-la dessa vingança.

-- Peter, temos que descobrir o que houve de fato, provar para Esther que eu e sua família não tivemos culpa do sofrimento de Carmem e nem o dela.

-- Qualquer fato mal contado, mentiroso, será desvendado, meu bem. Eu lhe asseguro isso!

Na mansão Gama-Tau, Esther subiu para seu quarto na certeza de encontrar Amy esperando-a em sua cama. Decepcionou-se vendo-a vazia. Pensou em procurá-la no  quarto, mas a ansiedade por continuar a ler o diário de sua mãe foi mais forte, especialmente após descobrir que a mesma Michelle que fora a cúmplice do amor entre sua mãe e Sandra era a mulher cruel que lhe mantinha refém.

-- Rebeca descobriu nosso namoro... quando imaginei que ela ficaria possessa, ela me surpreendeu com o silêncio, notei uma tristeza profunda no seu olhar... desde ontem ela não fala comigo... o que se passa na cabeça dela? Michelle tem aparecido no meu quarto nas madrugadas, confesso que estou com receio desse hábito dela...Sandra não confia nela, começo a desconfiar também, apesar de não fazer nada, os olhos dela sobre mim parecem indecentes... acho que minha loirinha tem razão, o mais sensato é morarmos num lugar nosso, deixarmos as fraternidades para viver nosso amor.

O diário de Carmem cada vez mais se revelava como decisivo para Esther compreender tudo que se passara com sua mãe e Sandra, já começava a acreditar que havia mesmo pontos obscuros principalmente pela presença de Michelle nesse cenário.

-- Acho que conquistamos mais uma amiga a nosso favor. Carol, a melhor amiga de Sandra na Beta-Lo já sabe de nós, e ao contrário do que pensávamos, não se escandalizou... minha loirinha está segura de contar aos pais sobre nós, antes que William transforme num escândalo de grandes proporções... ainda não sabemos como, mas ele descobriu nosso romance, surpreendendo-nos na nossa cabana... foi uma cena lamentável, Sandra ficou abalada, perdemos nosso cantinho secreto para nos encontrarmos, não é mais seguro para nós manter nossos encontros lá.

Ao ler o nome Carol, imediatamente Esther lembrou-se da história que sua mãe narrara ao seu avô, quando ouviu uma conversa desta com outras meninas da Beta-Lo no banheiro da universidade, palavras que desencadearam o fim do seu romance com Sandra. Sem dúvida ela tinha que procurar esses rastros do passado e ter certeza da verdade sobre Sandra e sua mãe.

O dia seguinte fora marcado por muito trabalho na Gama-Tau, as meninas quentes de Prescott estavam agitadas pela visita que receberiam. Amy esperava ansiosa pela descida de Esther do quarto, lutava contra a vontade de subir ao seu encontro e constatar que a morena não dormira em casa, mas o olhar constante para as escadas da loirinha chamou a atenção de Rachel, que se aproximou comentando:

-- Deve ter dormido demais nossa presidente... por que você não vai lá acordá-la? Além das aulas de hoje, temos muito trabalho a fazer por aqui...

Parece que Amy só precisava de um algum tipo de segurança que encontraria sua amada no seu quarto, subiu rapidamente ao terceiro andar da mansão, encontrando Esther ainda dormindo, sobre seu peito um caderno velho que obviamente atraiu a atenção da loirinha. Tentou acordar Esther com beijos e sopros suaves perto do seu ouvido assustando a morena que derrubou no chão o caderno aberto. Ao recolhê-lo, Amy viu rapidamente o nome de solteira de sua mãe, tal fato a deixou curiosa, fez menção de ler algo mais quando o caderno fora arrancado de sua mão por Esther que disparou:

-- Quem te deu o direito de ler isso?

-- O nome de minha mãe escrito aí me deu tal direito! O que é isso?

-- Não te interessa, Amy...

-- Claro que me interessa, Esther! Diga-me o que é isso?

-- Amy, já te falei não te interessa!

-- Você e seus mistérios, já estou cheia disso Esther! Já suportei demais, quer uma relação comigo? Que eu seja só sua? Então chegou a hora de você me deixar fazer parte de sua vida, chega de meias palavras, de reticências, de segredos. Chega!

-- Ah, você está cheia disso? Então estamos quites, por que também estou cheia disso: de você pegando no meu pé, me fazendo perguntas, cobranças, nunca gostei de ninguém me sufocando. Então chega! Sai do meu quarto que tenho muito que fazer.

Amy saiu batendo a porta com força, fumaçando de raiva, contendo as lágrimas, desceu as escadas e saiu da mansão implicando a mesma força à porta, despertando olhares curiosos das irmãs gama. Rachel, como sempre se fez presente junto à amiga, e subiu para o quarto de Esther, encontrando-a furiosa.

-- Olha, você nem vem!

-- Opaaa, calma aí onça! Vai me morder como mordeu a Amy, é?

-- Ai, Rachel, me deixa em paz!

A morena ia procurando uma roupa qualquer para vestir, jogando tudo para cima demonstrando seu estado nada amigável, mesmo assim Rachel insistiu.

-- Nem adianta você fazer cara de bicho, não vou sair daqui antes que você me conte o que houve.

-- Rachel, você é uma mala!

A moça sorriu ignorando a face de raiva da amiga e não se intimidou.

-- Sou sim, por isso mesmo você não vai se livrar de mim... vamos, fale logo.

-- A Amy se mete demais onde não é chamada, você acredita que ela estava lendo o diário de minha mãe?

-- Opa... como assim? Esther a Amy é um poço de educação, ela não leria nada sem permissão, especialmente um diário...

-- Ah claro, a senhorita Anderson é perfeitinha!

-- Esther, conte logo essa história direito...

-- O diário caiu aberto no chão, ela viu o nome da mãe dela e ficou me fazendo perguntas sobre ele. Não respondi, disse que não interessava a ela.

-- Ah! Como que o nome da mãe dela escrito em um caderno velho empoeirado no seu quarto não interessa a ela?

-- Rachel você é minha amiga ou não?

-- Sou, claro que sou. Só eu mesmo pra te aguentar, viu... por isso tenho todo direito de dizer quando você está errada!

-- Ah, quem ela pensa que é pra ir entrando no meu quarto, fazendo perguntas, exigindo explicações...

-- Sua namorada, Esther Gonzalez!

-- Isso não dá todo direito a ela!

-- Será possível, Esther, que vou ter que te ensinar a namorar? -- dizendo isso, Rachel não se conteve, riu divertida, conseguindo arrancar risos discretos da amiga, e continuou -- Larga mão de ser turrona! Amy merece alguma explicação, sim...

-- Ah, ótimo, Rachel! O que direi a ela? Que o nome da mãe dela está no diário de minha mãe porque elas namoraram na juventude?

-- Diga apenas que é o diário de sua mãe e que ela conheceu a mãe dela na juventude. O resto deixe que ela descubra com Sandra, se ela quiser.


Aconteceu Você : Sexto capítulo

CAPÍTULO 6: FESTA NO INTERIOR


A cidade estava linda. Decoração interiorana típica, palanque enfeitado na praça principal, povo alegre, bem vestido, a bandinha de música já animava o público, e perto da igreja várias barracas com comida regional foram armadas. Um parque de diversões também estava pronto atraindo centenas de crianças. O clima agradável da cidade contribuiu para o aspecto festivo e o humor de todos ali.

Daniel já estava na praça com alguns funcionários da secretaria de cultura quando cheguei. A Berta fez questão de me elogiar, o que claro levantou minha auto-estima, especialmente porque enfim as minhas calças 38 entraram no meu corpinho depois de meses de tentativas. Depois de alguns minutos de espera, a solenidade foi iniciada no final da manhã com a chegada do prefeito, discursos de autoridades até finalmente o Dan fazer seu pronunciamento, enfatizando o lançamento da Folha de Nova Esperança, nesse momento funcionários da secretaria de cultura além de mim e minha enorme equipe nos espalhamos entre a pequena multidão distribuindo os exemplares.

Não posso negar que me esforcei para ficar perto das pessoas que folheavam o jornal ansiosa pela reação delas. Insegura, não esquecia as palavras da minha ex-chefe ao me demitir, quando afirmou que eu não tinha vocação pro jornalismo. Meu editorial foi lido pelo Daniel no palco, o que me deixou particularmente nervosa, entretanto meu alívio se deu quando os aplausos tomaram de conta da praça.

Minha carreira como editora-chefe estava oficialmente lançada, a sensação de otimismo que me preencheu se tornou visível para minha equipe e especialmente para meu amigo Daniel que me abraçou, demonstrando todo seu orgulho. Diversas atrações da região se apresentaram no palco armado, enquanto as pessoas caminhavam pelas ruas em festa. Daniel me apresentou ao prefeito, a vereadores, todos me parabenizando pela qualidade do jornal.

-- Pronto amiga, agora começa nosso trabalho de fato! Correr atrás de notícias, e próxima semana lançar outro número, quero cobertura completa da festa heim! -- Disse Daniel animado.

-- Pode deixar amigo, minha equipe já está por aí trabalhando.

-- Vamos almoçar na casa do prefeito, depois encontramos o Diego e o resto da turma no Aconchego, para nossa festa de verdade.

-- Aconchego?

-- Sim, é um hotel fazenda, perto da serra, você vai gostar de lá.

E assim aconteceu, para cumprir o protocolo, almoçamos na casa do prefeito da cidade, homem muito simples, assim como sua família, extremamente popular, mas muito culto, nossa conversa sobre grandes escritores foi bastante agradável, especialmente por que o Sr. Joaquim Lopes não poupou elogios para o editorial que escrevi. Depois do almoço seguimos para a serra, para o tal hotel fazenda Aconchego, onde a turma de amigos do Dan estava reunida numa comemoração mais íntima.

O clima serrano do hotel fazenda era maravilhoso, perto de um lago, uma palhoça com uma grande área para churrasco abrigava a turma animada do Dan, todos que estavam na noite que os conheci, e mais alguns rostos conhecidos da secretaria de cultura, inclusive parte da minha equipe do jornal.

O Beto já estava com o violão na mão, tocando seu repertório de muito bom gosto, Leandro fez aquela festa ao me rever, parecia um amigo de longa data, e logo tratou de me deixar à vontade entre os que já estavam lá enquanto Daniel ia ao encontro de Diego que estava numa cachoeira perto dali.

Há muito tempo não me sentia tão leve, dei boas risadas com meus mais novos amigos, já nem me chocava mais com os selinhos trocados entre Clara e Isabelle. No final da tarde, o filho do dono do hotel, namorado do Beto, chegou oferecendo um passeio a cavalo pelos campos da fazenda. Não sei de onde me veio à inspiração de aceitar o convite, afinal há mais de 15 anos não montava. Talvez tenha sido o excesso de otimismo que aquele dia estava me proporcionando.



Eis que meu contato com o campo foi iniciado, montei no cavalo, e segui com Beto, Leandro, Tarcísio o namorado do Beto e a Luísa. Tudo estava muito tranqüilo, até que, excessivamente confiante com meu bom desempenho na montaria, acelerei o galope, e como era de se esperar dada minha destreza sempre “impecável”, perdi as rédeas do animal, quando enfim as tive de volta, puxei o arreio com força e fui lançada por cima do cavalo, caindo por cima de um amontoado de ração.

A última imagem que tenho lembrança foi à vista de cima enquanto eu era lançada pelo ar. Ao cair e bater a cabeça desmaiei imediatamente. Segundo o relato das testemunhas a queda teria sido cômica se não fosse à apreensão que todos sentiram ao me verem cair inconsciente. Chamaram Diego a fim de que ele como acadêmico de medicina, desse as orientações corretas diante do meu estado. Em pouco tempo, Daniel conseguiu que uma ambulância me removesse dali, a essa altura eu já esboçava alguma consciência, percebia que eu estava sendo conduzida numa maca para um veículo, mas não conseguia abrir os olhos, e mesmo ao conseguir, não via as coisas com nitidez.

Não sei exatamente em que momento, nem quanto tempo depois, mas minha consciência retornou aos poucos, e a primeira imagem embaçada que identifiquei diante de mim foi a do rosto de Marisa bem próximo do meu, sua voz que tanto mexeu comigo tinha um som incompreensível, deduzi que pudesse ser algum delírio meu, ou alucinação sei lá... O fato é que fui apertando os olhos e gradualmente minha visão ficava mais nítida, e tive a certeza, não era delírio, Marisa estava ali na minha frente.


Vestida num jaleco justo, cabelos presos, Marisa me perguntava:

-- Alexandra? Você está me ouvindo?

A voz parecia tão longe, e responder era difícil, mas Marisa insistiu:

-- Alexandra, você está no hospital, sofreu uma queda, se você estiver me entendendo, aperte minha mão.

Segui a orientação de Marisa mesmo não entendendo o porquê de ela estar ali, após apertar a mão dela, escutei alguns burburinhos de comemoração, e aos poucos eu começava a voltar a minha consciência, abri os olhos e vi claramente em volta de mim o Dan, Diego, Beto, Leandro e Luiza, além de Marisa ao meu lado.

-- Consegue falar Alexandra? – Perguntou Marisa.

-- Sim.

Notei o suspiro aliviado de todos na sala quando falei.

-- Vou fazer algumas perguntas a você. Qual o seu nome completo? – Perguntou Marisa.

-- Alexandra Alcântara Torres.

-- Que dia é hoje?

-- Não faço a menor idéia... Sei que hoje é sábado, e estamos no mês de maio, mas o dia não lembro.

-- Onde você mora?

-- Em Nova Esperança, interior do estado.

-- Você sabe quem é o presidente do Brasil?

-- Deeer, claro né, sou uma jornalista, não ia saber disso? Luiz Inácio Lula da Silva. O interrogatório terminou? O que mais você quer saber de mim Marisa?

Notei o espanto de todos quando me dirigi a Marisa pelo nome dela.

-- Calma Alexandra, essas perguntas fazem parte do exame neurológico, você sofreu um trauma na cabeça, esses testes são protocolo.

-- E quem é você pra fazer esses testes comigo?

-- Sua médica Alexandra, estou de plantão hoje aqui na urgência.

Que idiota eu sou! Claro que ela era médica! Chefe do departamento de ciências da saúde era isso que estava escrito na placa na porta da sala dela na universidade. Completamente constrangida pela minha estupidez, não consegui me desculpar, notei um sorriso de canto de boca em Marisa, e fui salva daquele momento mico pelo Dan que se aproximou de mim falando:

-- Sardenta você me mata do coração assim! O que deu em você pra sair galopando daquele jeito?

-- Dandan aquele cavalo era maluco! Tudo bem que me empolguei, e perdi as rédeas também... Mas que ele era maluco, isso ele era!


Todos riram do meu jeito desajeitado de me justificar, inclusive Marisa, e foi ela mesma que falou em seguida:

-- Bom você aparentemente está bem, mas para nos assegurarmos vamos fazer uma tomografia cerebral, e um raio x do seu tórax.


-- … preciso mesmo doutora? – Perguntou o Beto.

-- Sim é.

-- Não vai doer nada Alex, tira essa cara de espanto! – Diego disse apertando minha mão.

Diego e Dan ajudaram a me transferir para a maca, e Marisa fez questão dela mesma me levar até o setor de imagens do hospital. Meu comportamento beirava o ridículo, deitada olhava para cima observando Marisa empurrando aquela maca, e ao notar que ela desviava o olhar para mim eu fechava os olhos rapidamente, como se fingisse dormir.

Chegando enfim para fazer os tais exames, Marisa me deixou sozinha, o que claro me assustou, obrigando-me a falar:

-- Você vai me deixar sozinha aqui?

-- Ué, pensei que você estivesse dormindo. – Marisa falou sorrindo.

Fingi ignorar o comentário irônico de Marisa e insisti:

-- Você vai me deixar mesmo sozinha nessa sala branca e fria?

-- Nossa que dramática! Tem certeza que você é jornalista? Tem talento para atriz... Já para amazona...

-- E você tem certeza que é médica? Tem talento para humorista!

-- Eu que não vou ficar aqui nessa sala com uma criatura tão mal-humorada assim!

Marisa saiu da sala me deixando irritada. Entrei naquele tubo que era o tal tomógrafo, ansiosa, ouvi a voz de Marisa me pedindo:


-- Não se mova Alexandra, não vai demorar muito.

Em outro momento eu pensaria que era mais uma alucinação ou delírio meu, mas se assim o fosse, não era bem isso que eu ouviria... Os minutos ali naquela posição pareceram uma eternidade, até enfim a plataforma se mover e eu reencontrar Marisa do meu lado:

-- Você teve muita sorte, eu não estava lá para lhe salvar dessa queda, mas os sacos de ração protegeram essa cabeça dura que você tem, não há lesão no seu cérebro.

Mantive meu bico qual menina mimada fazendo birra. Recusei ajuda dela para me levantar, tonta acabei caindo mais uma vez nos braços de Marisa, por alguns segundos nossos olhos se encontraram, parecia que uma força me atraía para os lábios daquela mulher ainda mais linda tão de perto.

-- Estava me perguntando quanto tempo mais ia demorar até você cair nos meus braços de novo.

Nosso momento de intimidade foi interrompido pelo técnico de radiologia que já me aguardava no setor de raios-X, já trazia uma cadeira de rodas, não era mais necessária a maca. Marisa continuou me conduzindo, e pra contribuir para meu momento constrangimento total, fui obrigada a tirar a parte de cima da minha roupa para realizar o exame, na frente de Marisa.

-- Não precisa ficar tímida Alexandra, não há nada aí que eu não tenha visto antes.

-- Hã! Como assim?

-- Alexandra eu precisei examinar você, esqueceu?

-- Então você se aproveitou de mim enquanto eu estava inconsciente para tirar minha roupa?

-- Alexandra assim você me ofende! Sou médica! Vou chamar um colega para atender você. Célio quero um raio X de tórax posterior, anterior e de perfil, por favor, leve-a ao ambulatório depois que concluir o exame, o Dr. Marcos a atenderá.

Novidades

Olá meninas!
Como prometido, hoje inicio a postagem da segunda fase do romance: Leis do Destino.
Para facilitar o acesso, não só desse, mas de todos os romances, por sugestão do meu amor lindo, coloquei-os em páginas separadas, assim, vocês terão duas opções de acesso.

No menu esquerdo vocês veem os links com as páginas dos contos (alguns ainda estou organizando), basta clicar e você será direcionada para a página das postagens do conto, detalhe, nessa página, a ordem dos capítulos é crescente, ou seja, inicia com o primeiro capítulo.

Abaixo dos links, vem as postagens do arquivo do blog, divididas por dia, ou seja, se você acompanhar diariamente, poderá ir direto para a data para conferir as postagens, no entanto, encontrará outros arquivos como os primeiros capítulos de Aconteceu Você, os últimos de Sociedade Secreta... E obviamente a ordem dos capítulos está em ordem decrescente, assim como os marcadores com os nomes dos contos.

Espero que facilite a vida de vocês assim rs.
Aguardando ansiosamente os comentários de vocês sobre essa nova fase de Leis do Destino.
Grande beijo!