quarta-feira, 24 de novembro de 2010

1ª temporada: Porque sei que é amor

CAPÍTULO 1: O sofrimento nos ensina, nos molda, nos motiva e nos machuca

Por mais que saibamos que a vida é carregada de chegadas e partidas como diria a canção, ninguém está suficientemente preparado para tragédias.

Não foi diferente comigo, quando na adolescência, perdi tragicamente meus pais num tolo acidente automobilístico.

Assim minha vida teve o chamado divisor de águas, a perda precoce de meus pais forçou-me a adotar uma postura madura também precocemente, a fim de dar suporte a minha irmã caçula tão dependente dos meus pais, além de gerar em mim um medo inexplicável de apegar-me as pessoas.

Desde o trágico acidente que vitimou papai e mamãe, o papel de irmã mais velha protetora, exemplo de força, arrimo para minha doce irmã Lívia tornou-se minha prioridade, mesmo contando com todo apoio de meus tios e tias além de nossos avós, eu me sentia a maior responsável por Lívia, apesar de nossa diferença de idade não ser tão grande, eram apenas cinco anos.

Após a morte de nossos pais, passamos a morar com uma tia, que apesar de jovem, era viúva, sem filhos, sempre nos tratou como filhas.Apesar de sempre aparentar um excelente humor, com ares de mulher bem resolvida com uma vida financeira bastante confortável, e exemplarmente elegante, aquela mulher carregava muita frustração e solidão por ter ficado viúva com apenas 2 anos de casamento sem sucesso nas tentativas de engravidar. A nossa presença em sua espaçosa casa sem dúvida mudaria a vida dela também.

Ela nos apoiava em tudo, e administrava a herança de nossos pais, fazendo questão de me comunicar tudo que faria e como eu deveria me portar em relação às nossas reservas financeiras.

Como advogada bem sucedida, com seu próprio escritório, o qual era o de melhor reputação entre as maiores empresas da região, ela não escondia o desejo que eu prestasse vestibular para direito, para assim trabalhar com ela e continuar seu legado. Como se aproximava a minha escolha, volta e meia ela deixava isso evidente, me trazendo livros e me levando para o escritório algumas vezes após as minhas aulas.

Para a decepção de minha querida tia, em nada me atraía aquele universo de leis. Desde criança, meus pais foram a referência máxima do que eu queria pro meu futuro, parece clichê, mas depois da morte deles, eu tinha a certeza mais que absoluta que seguiria seus passos na carreira.

Meu pai era um renomado cardiologista, pouco antes do acidente, fora nomeado chefe do serviço de cardiologia do hospital universitário. Mamãe, também médica, entretanto mais dedicada a docência, estava concluindo seu mestrado em neurociências quando nos deixou... Definitivamente, era essa carreira que eu queria seguir.

Quando enfim tive coragem de comunicar isso a tia Sílvia, apesar de decepcionada, admirou-se da minha firmeza e objetividade, e apoiou-me completamente. No final do ano de 1993, prestei vestibular em 4 universidades em diferentes cidades, tia Sílvia me acompanhou em todas as provas.

Foi um ano difícil, eu estudava dia e noite, sobrando-me pouco tempo para os apelos da adolescência, eu tinha poucos amigos, nenhum muito especial, considerando que minha suposta maturidade me afastava de relações mais profundas, as únicas pessoas que me enxergavam como eu era de fato, eram minha tia Sílvia e minha irmã caçula, que apesar de minha super proteção, também se revelava uma criança precoce no entendimento das coisas, o sofrimento às vezes provoca isso nas pessoas.

Para a satisfação de minha família, passei em duas das universidades que prestei vestibular, uma delas na cidade mesmo, a mesma que mamãe fora professora. O período da universidade não fora muito diferente dos que antecederam o vestibular, estudava em domingos, feriados, saía de casa às 7 da manhã, retornando somente as 22h. Aproveitava o intervalo entre as aulas para pesquisar na biblioteca, sempre objetivando ingressar em projetos de pesquisa, assim como meus pais fizeram na sua graduação.

Era pra mim como uma missão, e me comprometi completamente nela, ignorava as farras tão própria dos universitários, e como se repetiam essas farras nesse meu universo... Todos os meses alguma sala promovia algum churrasco, alguma festa, calourada... Até me rendi em algumas ocasiões por insistência de algumas colegas, conheci alguns rapazes, mas nenhum que despertasse em mim paixões, ou que me fizesse querer relacionamentos sérios.

Na universidade conheci uma das minhas poucas amigas verdadeiras: Olívia. Ela odiava seu nome, então sempre a chamávamos de Lili. Sem dúvida uma das pessoas mais persuasivas que já conheci na vida! A Lili era uma jovem muito bonita, tinha cabelos extremamente lisos, meio chanel, era magra, mas com curvas típicas de brasileira, era dona de um belo par de olhos claros, ela mesma não sabia definir a cor, num tom jocoso repetia sempre que seus olhos eram ”furta-cor”, geralmente essa observação era seu assunto preferido no jogo da sedução que ela praticava com tanta freqüência, especialmente com os alunos do internato que marcavam ponto todos os finais de semana no “Estetos”.

O Estetos era um bar localizado próximo ao campus da saúde, o peculiar nome era uma abreviação de estetoscópio (aparelho de asculta pulmonar e cardíaca), obviamente esse nome se dava por sua clientela, predominantemente composta por acadêmicos de medicina, enfermagem, fisioterapia... Famosos pela, digamos, sua afinidade com bebidas alcoólicas.

Às vezes que estive no bar, o fiz por insistência da Lili, que sempre conseguia de mim o que queria, aliado ao talento pro humor impecável de outro amigo em comum, o Bernardo, os dois foram os responsáveis pelos poucos momentos festivos da minha fase universitária.

Bernardo estava adiantado em relação a nós em algumas disciplinas, perdeu duas disciplinas básicas e foi aí que nos conhecemos. Nossa afinidade era incrível, nos auto denominávamos de “santíssima trindade”. Apesar de não sairmos muito, estávamos sempre juntos na universidade, estudávamos juntos para as provas, éramos cobaias um pro outro nas práticas... Não conto as vezes que saíamos cobertos de esparadrapos cobrindo os muito hematomas nos braços nas nossas tentativas em puncionar as veias um do outro... Isso sempre era motivo de risos e piadas entre os colegas.

Mas em se tratando de piadas, ninguém dominava isso melhor do que o Bernardo, assim, facilmente ele virava o centro das atenções. Era muito querido pela maioria, exceto por alguns machistas que irritavam profundamente a mim e a Lili quando chamavam o Bernardo de boiola.

O Bernardo não demonstava irritação, aprendera a driblar esse tipo de tratamento, e estava muito bem resolvido na sua sexualidade, desde cedo saíra da casa dos pais para não ter que prestar satisfações da sua orientação sexual, sua segurança em relação a isso nos orgulhava, mas como amigas dele nos doía muito esses rótulos.

Os seis anos de faculdade, transcorreram sem grandes acontecimentos, exceto um fato que tantos jovens costumam destinar atenção: e perda da virgindade, para mim se deu de maneira casual, sem a magia romântica, aconteceu pelo apelo circunstancial do corpo, mas que não teve repercussões na minha vida sentimental. O namoro mais duradouro que tive não passou de dois meses, por mais que eu tentasse, não me sentia a vontade com os homens exceto com o Bernardo, mas isso ele mesmo dizia:

- Mona, eu não valho na sua contagem, porque da fruta que você gosta chupo até o caroço...

- Que ditadozinho infame, Bê! – eu retrucava fazendo careta pra ele...

- Amiga, você sabe que sou uma mulher disfarçada de homem, porque os melhores homens gostam desse disfarce aqui...Entonces mi preciosa... – no seu peculiar tom jocoso ele respondia aparentando desdém...

Concluímos a nossa graduação em novembro de 2000, eu estava com 23 anos, cada um de nós tinha planos diferentes para o futuro, eu me perdia entre o desejo de seguir na pesquisa, fazendo mestrado e me dedicando a pesquisa e a docência como mamãe, ou fazer residência em neurologia. Lili estava decidida a fazer residência em oncologia, as experiências familiares com câncer a afetaram profundamente, isso motivou essa escolha, Bernardo era viciado em adrenalina, seus estágios extracurriculares sempre eram em urgências, e assim já tinha decidido por essa área.

Pra nossa tristeza, os melhores programas de residência em cada área escolhida eram em diferentes cidades, assim, a santíssima trindade inevitavelmente teria que ser separada. Optei pela residência, adiando meus planos de mestrado para um outro momento, mas não desisti da pesquisa, sendo aprovada no começo de 2001 na residência da UFRJ. Lili foi aprovada e mudou-se para São Paulo, Bernardo na segunda tentativa passou e mudou-se Campinas, passou seis meses trabalhando como plantonista e estudando para a prova de residência.

O primeiro ponto: Chegada

A pedidos... Estou chegando...


Desembarcando no universo de blogueiros sem grandes ambições, apresento a vocês queridas leitoras, e às novas que se Deus quiser aparecerão, um novo espaço para o romance, para a paixão, para as fantasias, para o prazer da leitura...


A Mel que parte desse ponto hoje nesse blog, é a mesma Mel que iniciou há um ano atrás o compartilhamento de sua histórias e suas estórias escondida em um Fake do Orkut, conquistando a atenção de meninas interessadas em romance, humor e principalmente, ansiosas por se identificarem com personagens e momentos.


A escrita não tem grandes ambições, que não seja divertir, entreter. Convido vocês a mergulharem no universo das personagens: mulheres, meninas, que buscam no fundo a mesma coisa: realização. Realização pessoal, no amor, na carreira... E só as mulheres que lutam por isso com cada novo plano, cada novo devaneio, sabem a importância dessa conquista.


Nesse espaço além dos romances já publicados na Comunidade Histórias e Desabafos e no site
http://www.abcles.com.br/historias/index.php, publicarei pequenos contos, dividirei reportagens, depoimentos, vídeos, opiniões, dicas, pontos e pontos do universo feminino que por mais misterioso que pareça, é sempre encantador.