segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Maca e Vero: terceira parte

Terceira compilação: Maca e Vero, primeiras inspiradoras de Isa e Suzana...

SOCIEDADE SECRETA LESBOS -DÉCIMO CAPÍTULO

Capítulo 10

Sem saber ao certo que horas seriam Esther abriu os olhos, sentindo o sol entrando pela janela que tinha as cortinas abertas. Olhou para Amy que dormia tranquila em seus braços e experimentou uma sensação dúbia.

Por um lado, a noite com sua discípula foi de longe a melhor que já experimentara. Tê-la em seus braços lhe trazia uma paz e plenitude inéditas. Mas por outro lado, ela sentia culpa, medo, deveria se arrepender, mas não sentiu arrependimento. Não queria pôr um fim naquela noite, mas era preciso, tinha obrigações e uma missão interna a cumprir, e se apegar a Amy não ajudaria em nada.

Afastou-se lentamente dos braços de Amy, foi em direção ao banheiro, olhou-se no espelho por minutos, sentindo aquela mistura de sentimentos que lhe deixava tonta.

Debaixo do chuveiro buscou uma forma de se livrar daquele sentimento bom que sentia por ter Amy em sua cama, mas foi inútil, as lembranças que tinha do corpo alvo de Amy intimamente ligado ao seu, inspirava o sorriso mais sincero.

Na cama, Amy acordou sentindo falta do corpo quente de Esther em baixo do seu. Ainda sentia o perfume da morena no seu corpo cheio de evidências do prazer que a noite lhe proporcionara... Unhas, mordidas...

Soergueu-se e olhou pelo quarto em busca de Esther. Ouviu barulho do chuveiro, e assim caminhou até o banheiro. Encontrou a morena envolta em uma pequena toalha, linda, tão linda que roubou a respiração da novata. Mordeu os lábios e a devorou com o olhar.

-- Bom dia...

Esther surpreendeu-se com a voz em tom malicioso de Amy, que estava logo atrás dela, completamente nua. Olhou-a dos pés a cabeça e sentiu seu corpo estremecer, mas disfarçou com um cumprimento seco, desviando o olhar rapidamente, que deixou Amy pensativa.

-- Aconteceu alguma coisa, Esther?

-- Não, por quê?

Esther não encarava Amy, que tentava se aproximar da morena, sem sucesso.

-- Esther?

-- Novata, você está dispensada, não preciso de nada mais no momento.

Amy foi tomada por um sentimento devastador, sentiu-se ultrajada, e como se pudesse, ainda mais nua. Em um movimento de puro reflexo, tentou cobrir-se, enquanto uma lágrima se formava e caía lentamente pelo seu rosto. Viu Esther sair do banheiro com urgência, deixando-a ali com sua humilhação e revolta.

Esther saiu do banheiro em uma atitude de fuga, olhar para Amy ali vulnerável, com os olhos desejosos lhe dizendo bom dia, tocou a veterana de uma forma tal, que teve que se controlar muito para não abraçar seu corpo nu e cobri-la de carinhos.

Ficou ali parada diante de suas roupas, respirando fundo, repetindo internamente os motivos pelos quais não podia se deixar levar por aqueles sentimentos que se confirmaram na noite passada. Por mais que desejasse Amy, e quisesse se entregar a ela, protegê-la e a ter todo o tempo perto, não poderia se esquecer de suas promessas interiores.

Amy passou por Esther, já vestida em um roupão. Seu rosto alvo não escondia as evidências de que seus minutos sozinha no banheiro foram de choro. Esther fugiu do olhar dela, baixou a cabeça, desejando cuidar da loirinha desfazendo aquele olhar triste e magoado. Ouviu em poucos minutos a porta bater forte, e agora era sua vez de deixar as lágrimas contidas caírem. Encostou sua cabeça na porta do closet batendo-a como se buscasse se punir pelo que sentia, ou pelo que causou a Amy?

A novata desceu o lance de escadas amargando a sensação de ter sido dispensada pela mulher responsável pelos melhores e mais intensos sentimentos, e pela melhor noite de sua vida. Experimentava a raiva, revolta pela frieza de Esther, e a mágoa, o vazio por não ter sido correspondida no desejo de prolongar a noite com mais momentos de carinho e excitação no dia seguinte.

Sentiu tristeza profunda, porque guardava a esperança que seus dias, a partir daquela noite, seriam ao lado de Esther. Mas a resposta da morena a arrancou desses sonhos, dando-lhe a realidade da arrogância já conhecida da veterana.

Tamanha foi sua pressa de chegar ao quarto que acabou por tropeçar no tapete, ficou caída no corredor desejando não mais se levantar, quando sentiu uma mão a puxar com delicadeza, era Rachel, o braço direito de Esther, que a olhava com certa piedade:

-- Amy, você se machucou?

-- Mais machucada do que estou, impossível...

Rachel parecia entender a que Amy se referia. Ajudou a loirinha a se levantar, e seguiu com ela até o primeiro andar levando-a até a porta de seu quarto sem dizer uma palavra, apenas observava Amy enxugar suas lágrimas, em silêncio.

-- Obrigada, Rachel, estou bem, só preciso de um banho pra tirar esse cheiro... -- pausou para respirar fundo e deixar cair outra lágrima. -- Ficarei bem.

-- Amy... Eu queria te dizer algo, mas... Bem, acredite. Isso vai passar.

Logicamente, as palavras de Rachel entraram para as muitas interrogações que Amy tinha desde a noite do ritual de iniciação da Gama-Tau, mas naquele momento, não importava. Queria ficar sozinha com sua decepção, retirar o cheiro de Esther do seu corpo como se isso tirasse a marca dela de sua alma.

Rachel subiu ao terceiro andar prevendo como encontraria sua amiga, e não errou em suas suposições. Esther estava jogada na cama, envolta ainda apenas com a toalha de banho. Chorava em silêncio em meio às roupas de Amy pelo chão e perdidas entre os lençóis.

-- Esther? O que aconteceu, minha amiga?

Esther sentiu vontade de desabar nos braços da amiga, chorar tudo que estava preso por ter sido obrigada a interromper momentos de paixão e carinho que ela nunca teve, por conta de uma força maior para ela, e pior, por ter consciência de que magoara profundamente Amy. Mas não se permitiu esse momento de exposição de fragilidade, escondeu o rosto, e levantou-se rapidamente, desviando o assunto:

-- Correu tudo bem na festa ontem?

-- Sim, claro, um sucesso como sempre. Não te vi chegar... Algum problema?

Rachel conhecia Esther muito bem, compreendeu que ela não ia falar tão facilmente, e tratou de respeitar as demoras da amiga, continuando o assunto que iniciara.

-- Problema algum, o de sempre, Rachel. Está ficando cada dia mais insuportável...
Esther respirou profundamente, num gesto de contrariedade, enquanto Rachel a interrompeu:

-- Não entendo por que você tem que se submeter a isso!

-- Como não entende, Rachel? Eu preciso, faz parte do acordo de proteção...

-- Proteção? Estou vendo é você ser exposta por essa mulher doente, Esther!

-- Não é bem assim, Rachel...

-- É assim, sim... E já está mais do que na hora de você pôr um fim nisso, e pensar no seu bem-estar, Esther!

-- Do que você está falando? Tenho uma promessa a cumprir, e preciso dela para manter meu avô a salvo...

-- Precisa dela? Pra quê? E essa promessa? Esther, ninguém te pediu nada, só na sua cabeça essa vingança tem algum sentido.

Esther ficou sem palavras, tamanha era a convicção do discurso da amiga. Passou a mão pelos cabelos, fechou os olhos e suspirou como um desabafo:

-- Eu não estou aguentando mais...

-- Esther, você está perdendo grandes momentos de sua vida. Você pensa que não estou percebendo seu olhar para Amy? Você está se apaixonando, minha amiga... E fica perdendo tempo nesse plano de vingança estúpido...

-- Ei, Rachel, pode parar... Não estou apaixonada, não. E você chama minha promessa à minha mãe no leito de morte de estupidez?

-- Uma grande estupidez, sim. Se sua mãe estivesse viva, não permitiria isso, ela não te pediu nada, você cultivou isso no seu coração desde criança. Quanto tempo se envenenando, amiga...

-- Meu avô concorda comigo, ele viu o que minha mãe sofreu...

-- Esther, me desculpe, mas seu avô nem sabe ao certo o que aconteceu com sua mãe. Só quer te apoiar pra que você não sofra ainda mais.

-- Já chega desse assunto, Rachel, vou me vestir e vou visitar meu avô.

Rachel se dirigiu até a porta, mas antes de sair, disse uma última coisa à sua amiga:

-- Você está vendo sua vida passar, Esther, presa a uma promessa insana, e isso é um grande engano.