segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Aconteceu Você : Quinto capítulo

CAPÍTULO 5: EU, EDITORA


Meu fim de semana foi inteiro curtindo minha nova casa, além de deixar as coisas mais parecidas comigo, do meu jeito. A Berta muito gentil, mas, muito bisbilhoteira, apareceu por lá com a típica política de boa vizinhança, trazendo uma torta feita por ela mesma, olhou a minha arrumação e deu pitaque em tudo.

Apesar de me manter ocupada, lembrei-me de ligar para meus pais e claro para minhas amigas inseparáveis que ficaram na capital, mas em todo instante minha memória trazia a tona o cheiro, a voz e a imagem de Marisa. Mas que coisa mais estranha, ter uma mulher ocupando meus pensamentos... Acho que a revelação do Dan me afetou mais do que eu pensava, e o ambiente alternativo contribuiu para meu suposto encantamento por Marisa, essa era a única explicação que eu inocentemente me enganava.

Logo na segunda-feira de manhã, minha equipe já me esperava no escritório improvisado dentro da secretaria de cultura. Minha grande equipe era animada, a mesa no centro da sala já estava repleta de guloseimas típicas do interior, e num clima bastante agradável rapidamente traçamos a pauta do que trabalharíamos na nossa primeira edição. Enviei nossa única repórter para fazer um levantamento das personalidades históricas da cidade junto com o Artur nosso fotógrafo, enquanto nosso estagiário, o Marcos, foi às escolas da cidade lançar o concurso de poesias proposto entre os alunos do nível fundamental.

Eu e Luiza fomos à universidade, lançar o desafio para os alunos de jornalismo, enviar uma crônica para nossa redação a fim de publicar na edição especial de estréia, registrando o centenário da cidade.

O campus da universidade era enorme, prédios diferentes para cada área, Nova Esperança tinha a característica de cidade universitária, talvez por isso fosse tão desenvolvida intelectualmente. Seguimos para o departamento de ciências humanas, Luiza já conhecia a maioria dos professores, uma vez que não fazia muito tempo que se formara ali, assim não foi difícil nossa proposta ser logo encaminhada aos últimos semestres dos cursos de jornalismo e comunicação social.

O coordenador do curso de jornalismo para meu constrangimento me reconheceu das revistas de fofoca, e foi colega de faculdade de meu ex-noivo Fernando, talvez por isso, se rendeu em gentilezas, estabanada como sempre fui, acabei derramando café na blusa, saí da sala em direção ao banheiro do andar para tentar minimizar o estrago em minha roupa.

Murphy sempre me perseguiu: fato! Escolhi justamente a pia com defeito, e a torneira liberou um potente jato d’água me banhando, piorando ainda mais a mancha que antes era só de café. Na minha luta corporal com o jato d’ água piorei minha situação, espalhando a água pela calça e pelo rosto, em meio a essa luta, de repente o jato foi cessado, enxuguei meus olhos com as mãos, e quando os abri diante de mim estava ela: Marisa.

Como se fosse possível, ela estava ainda mais linda. Com um sorriso enorme naquele rosto que não saiu da minha mente desde a noite de sexta, Marisa estendeu algumas folhas de papel toalha me dizendo:

-- Parece que estou mesmo conquistando meu papel de super heroína na sua vida... Sempre te livrando de apuros não é?

Peguei as folhas de papel e fui tentando me secar com elas, mas o estrago era grande. Sem graça eu sorri e sem pensar direito disse:

-- E nós precisamos parar de nos encontrar nos banheiros de Nova Esperança.

-- Concordo, quando podemos nos encontrar então?

Arregalei os olhos instintivamente, e quase escorrego na água derramada no chão pelo incidente da torneira, reação que despertou risos de Marisa:

-- Ei Alexandra, calma, foi só uma brincadeira... Não quero sair com você.

-- Não quer?

Minha expressão de decepção deve ter ficado evidente, tanto que Marisa calou-se por segundos sorriu discretamente afirmando:

-- Não. Minha função de super heroína não inclui esse tipo de encontro.

-- Ah... Ainda bem então, por que eu me sentiria obrigada a aceitar em agradecimento, e não quero sair com você também.

-- Então, estamos entendidas.

-- Claro.

Saí pela porta ainda ensopada, e atordoada com o fora que acabara de levar de Marisa, obviamente as pessoas olhavam para mim naquele estado, quando ouvi a voz suave que me marcara chamando meu nome no corredor:

-- Ei moça! Alexandra! Espere um pouco.

Parei irritada:

-- Pois não Marisa!

-- Você vai sair assim que nem um pinto molhado?

-- Acho que não tenho opção não é?

-- Pra que serve uma super heroína como eu se te deixasse assim nesse estado? Venha comigo, vou te emprestar pelo menos uma camiseta.

-- Não obrigada. Não quero mais incomodar você.

Eu estava irritada pela rejeição que meio sem querer recebi de Marisa, estava envergonhada por que supostamente dei a entender que queria me encontrar com ela em outra situação... Queria sumir da frente dela, Marisa me deixava insegura, nervosa, não sabia lidar com essas sensações diante de uma mulher.

-- Não vai me incomodar, vamos, minha sala é aqui no prédio de frente.

A contragosto, a segui, notando o ar de riso do seu rosto, certamente por causa de minha cara emburrada misturada a minha aparência de cachorro na chuva. Entramos no prédio de frente, ali funcionavam os cursos de saúde. No terceiro andar, na sala no fim do corredor, vi na porta: Dra. Marisa Becker – diretora do centro de ciências da saúde.

Seu escritório era elegante, um pequeno armário, uma estante com alguns livros, e na mesa seu notebook e poucos papéis. Um sofá de dois lugares com duas poltronas de couro com uma pequena mesa de centro, na parede clara um quadro com uma pintura de aspecto cubista acenava seu gosto requintado. Abriu o armário, retirou uma bolsa de academia, e me entregou uma camiseta justa de gola pólo.

-- Tome, está limpa e seca, ia usar para jogar tênis ao sair daqui, mas tenho outra guardada. Vista antes que você fique resfriada.

-- Obrigada, mas não quero incomodar, daqui a pouco minha roupa estará seca.

-- Não seja orgulhosa menina! Vista! Ali é um banheiro, pode se trocar lá.

Tímida, peguei a camiseta e fui até o banheiro, e vesti a peça que Marisa me deu, me deliciando o cheiro cítrico que a roupa tinha o cheiro dela... De volta à sala, agradeci a Marisa me comprometendo a devolver o quanto antes a tal camiseta.

-- Não há pressa, é só uma camiseta. Quer tomar alguma coisa? Café, água...

-- Nem café, nem água... Já tive o suficiente dos dois por hoje...

Sentei em uma das poltronas depois do convite de Marisa que me encantava ainda mais com seus gestos delicados.

-- Então, além de conhecer o banheiro da universidade de Nova Esperança, o que mais faz por aqui Alex?

-- Vim lançar uma espécie de concurso de crônicas sobre o centenário da cidade entre os alunos dos cursos de jornalismo e comunicação social para a edição de estréia do jornal de Nova Esperança.

-- Interessante... Você vai trabalhar nesse jornal?

-- Sim, fui convidada pelo secretário de cultura para ser a editora-chefe do jornal.

-- Então você deve ter chegado há pouco tempo na cidade não é?

-- E você é detetive, policial ou jornalista investigativa?
Disse demonstrando indignação.

-- Calma Alex, só estou tentando estabelecer um diálogo, conhecer mais de você.

-- Conhecer mais de mim? Estou me sentindo interrogada desde que entrei aqui.
Marisa balançou a cabeça negativamente e disse:

-- Você reage sempre assim na defensiva?

-- Não estou na defensiva... Mas se é um diálogo, então me fale de você. O que você faz aqui além de salvar donzelas de torneiras inconvenientes no banheiro?

-- Eu trabalho aqui. Estava no prédio de ciências humanas porque lá funciona a rádio do campus, e fui dar uma entrevista em um programa.

-- Interessante... E você é alguma celebridade aqui para conceder entrevistas?

Marisa abriu um sorriso irônico respondendo:

-- Não tão famosa quanto você, mas sou conhecida aqui no campus sim.

Imediatamente percebi a que Marisa se referia, certamente ela conhecia o escândalo que antecedeu minha vinda para Nova Esperança, e isso me irritou profundamente.

-- Deve ser famosa por sua indiscrição! Com licença Marisa, tenho trabalho a fazer.

-- Ei você é esquentadinha heim! Calma...

-- Olha só Marisa, obrigada pela camiseta, pelo salvamento de novo, tenha um bom dia.

Saí da sala de Marisa pisando forte, me enrolando toda na hora de abrir a porta, puxei com tanta força que acabei por me chocar contra ela. Nem deu tempo Marisa se aproximar, saí esfregando minha mão no rosto, certa que a marca da pancada estava evidente na minha testa. Encontrei Luiza na praça do campus de frente ao prédio das ciências da saúde, preocupada com meu sumiço.

-- Onde você estava chefinha? O que aconteceu com sua testa? Onde você conseguiu essa camiseta?

-- Tem certeza que você é diagramadora? Acho que vou aproveitar seu talento investigativo em reportagens! Quantas perguntas Luiza!

-- Nossa... Você está nervosa.

-- Vamos voltar ao jornal, temos muito que fazer por lá.

Luiza tinha razão, eu estava nervosa. Marisa definitivamente me provocava isso. No final do dia, nos reunimos mais uma vez e concluímos que foi um dia produtivo, cumprir o prazo que o Dandan nos impôs seria possível com algum sacrifício.

E a semana passou nesse ritmo, de plantões, de muito trabalho, minha equipe era de fato muito boa, todos se esforçaram para que na sexta-feira, a edição piloto da Folha de Nova Esperança estava nas mãos do Daniel.

A lembrança do meu novo encontro com Marisa volta e meia me distraía, e um misto de sentimentos surgia. Sentia raiva dela, pela rejeição que sofri, e por ela saber da minha fama exposta nas revistas de fofoca nacionais. Mas inexplicavelmente sentia uma vontade imensa de revê-la, de estar perto dela, eu a desejava? Não... Impossível! O que é isso Alexandra? Toma vergonha nessa cara mulher! Você não é lésbica!

O final de semana reservava uma grande festa na cidade. Era o início das comemorações do centenário de Nova Esperança. Daniel aprovou de cara nosso trabalho e a noite foi de trabalho para a gráfica oficial da prefeitura, para no sábado, como parte dos festejos, o nosso jornal fosse lançado.

Sociedade Secreta Lesbos: Capítulo 40

Capítulo 40

-- Isso é jeito de atender meu telefonema? Acaso ainda não aprendeu a lição sobre como deve me tratar? -- disse Michelle.

-- Desculpe-me, pois não, Michelle.

-- Quero ver você hoje, e aproveita para levar esse ferro velho que você chama de transporte da minha garagem.

-- Estou cheia de compromissos hoje Michelle...

-- Não me interessam seus compromissos, Esther. Trate de aparecer na hora de sempre, ou se prepare para sofrer as consequências...

Cada vez mais, Esther tinha consciência que não suportaria essa situação com Michelle por mais tempo. Sua vida atingira o momento de decisões cruciais, seu passado ressurgia com todas as lacunas a serem preenchidas e mentiras a serem desvendadas; seu futuro se desenhava como uma grande incógnita, porque seu presente se definia como um emaranhado de fios soltos e dúvidas sobre si mesma e sobre seus sentimentos. Libertar-se de Michelle era uma necessidade urgente.

Saiu apressada para encontrar Rachel e Laurel na mansão a fim de tratar dos preparativos para receber Rebeca Travis e a representante nacional da fraternidade. Aproveitou enquanto mexia nos arquivos da Gama-Tau para procurar alguma presidente com nome Michelle. Ficou ainda mais intrigada ao constatar que entre os anos 1985 e 1986, simplesmente não constava nenhuma presidente de fraternidade.

Tentou se esquivar de Amy para não ser obrigada a dizer aonde iria à noite, mas foi inútil. A loirinha a aguardava em seu quarto e tão logo a morena entrou, Amy já se jogou nos seus braços arrancando-lhe um beijo apaixonado.

-- Amy... Você não tinha um aula no laboratório essa hora?

-- Não resisti de saudades de você. Vim mais cedo, estava chata demais a aula.

-- Minha linda, você não pode fazer isso. Nós não podemos ter faltas não justificadas no nosso histórico escolar...

-- Tá, tudo bem... Mas já que estou aqui...

Amy foi dizendo isso, descendo com sua mão por dentro da calça de Esther, que fechava os olhos sem nada conseguir dizer, muito menos conseguir fugir daquele prazer. Michelle ia ter que esperar...

Amaram-se com intimidade, já conheciam cada ponto sensível do corpo da outra. Entre gemidos, sorrisos expressando prazer óbvio. Meio desconfiada, Esther foi se levantando da cama enquanto Amy parecia cochilar abraçada a sua cintura.

-- Meu bem aonde você vai?

-- Ah... Preciso resolver umas coisas da fraternidade minha linda, tentarei voltar logo.

-- Quer ir no meu carro?

-- Ah não... Vou pegar minha moto...

Só depois de dizer isso Esther percebeu que falara demais, uma vez que Amy sabia que sua moto estava na casa de Michelle.

-- Então as coisas da fraternidade serão resolvidas com aquela mulher agora?

-- Amy, minha linda, desculpe-me, não disse a verdade para não chatear você. Mas eu tenho obrigações com essa mulher. Além do mais, preciso pegar minha moto.

-- Não entendo essas obrigações... Isso tem que acabar, Esther! Não vou tolerar isso!

Amy demonstrava uma revolta não só motivada por ciúme, era algo mais profundo. A própria Esther percebeu o tom exasperado da loirinha que pela primeira vez se impunha deliberadamente no relacionamento delas. A morena então tentou ponderar:

-- Amy, isso vai acabar. Me dá mais um tempinho pra tentar resolver as coisas do meu jeito, ok?

A morena se despediu com um selinho, deixando-a emburrada na cama e seguiu par a casa de praia de Michelle Roberts. Naquela noite, mais do que cumprir obrigações, Esther queria sondar acerca da possível passagem daquela mulher pela presidência da Gama-Tau.

Michele, como sempre, reclamou do atraso de Esther, que por sua vez nem se deu ao trabalho de se desculpar. Enquanto a Sra. Roberts se servia no bar, Esther disparou:

-- Michelle, você estudou em Prescott, certo?

--Sim, por quê?

-- Pertenceu a alguma fraternidade?

Michelle parou o olhar, tomou mais um gole de sua bebida, e numa tentativa de cessar aquele assunto retrucou:

-- O que deu em você hoje? Puxando conversa comigo, querendo saber do meu passado? Acaso pensa que te chamo aqui para conversar? Para isso pago meu analista, com você o assunto é outro...

Dizendo isso, foi se aproximando da morena, exigindo seu beijo. Esther conhecia muito bem Michelle, fugir de perguntas era o mesmo que confessar que o assunto era proibido. Convencida de que Michelle escondia algo, Esther tratou de usar de suas armas de sedução para embriagá-la na tentativa de arrancar algumas informações. Serviu doses generosas da bebida preferida daquela mulher: whisky, enquanto se despia e dançava sensualmente diante de Michelle.

Excitada pela situação, Michelle não percebeu as segundas intenções da morena. Ingeria as doses inteiras da bebida num gole único, cheirando as roupas que Esther se desfazia e as atirava no rosto dela. Esther, certa que já tinha domínio da situação, sentou-se no colo de Michelle segurando uma garrafa de whisky e foi despejando na boca da mesma enquanto mordia os seus lábios, levando aquela mulher à loucura.

Em poucos minutos, Michelle já não tinha domínio sobre alguns gestos, sorria sem motivos, enquanto Esther se esquivava das investidas dela. Por vezes a morena permitia que ela a beijasse, ou a tocasse, até segurar seus braços e roçar sua língua pelas orelhas de Michelle sussurrou:

-- Então você foi uma Gama-Tau como eu é?

-- Eu sempre te disse que nós somos iguais em muitas coisas minha morena... -- Michelle dizia ofegante tomada de tesão e sob efeito do álcool.

-- Agora entendo porque você dizia isso... Mas por que você nunca me disse que foi presidente da Gama-Tau?

-- Porque essa fraternidade de merda... nunca me deu o que eu queria e precisava...

-- Ah é? O que você precisava e queria, hein?

-- Dar vazão aos meus desejos mais profundos e secretos, satisfazer meu corpo... E isso encontrei de outra forma. Então, saí da Gama-Tau.

-- Encontrou outra forma?

-- Sim... Tão eficiente que até hoje usufruo dos seus benefícios...

-- Benefícios? Do que você está falando?

Esther instigava Michelle movimentando-se sobre ela e falava de uma maneira extremamente sexy junto ao ouvido da Sra. Roberts.

-- Sim, minha morena, benefícios. Aprendi muito, lá sim aprendi sobre poder, domínio, tudo que a Gama-Tau se vangloria de ter no lema, e na prática não dá nada...

-- Lá? Onde você aprendeu tanto? Como posso aprender? Você pode me ensinar?

-- Eu posso lhe ensinar qualquer coisa, morena. Mas você tem que me provar que merece... Aí sim te apresento à sociedade...

-- Sociedade?

-- É, sociedade secreta. Agora chega de papo... Me faça gozar...

Esther sabia que não conseguiria mais informações do que aquilo naquela noite. Michelle já se complicava pronunciando as palavras, mas definitivamente não se submeteria a ela. Tratou então de oferecer mais bebida à Michelle, enquanto brincava com os seios dela, massageava o clitóris daquela mulher que agora para ela era cheia de mistério.

Como Esther planejava, Michelle não resistiu a tanto álcool. Depois de deixar escapar uma série de palavras sem sentido, e a gestos perdidos, Sra. Roberts caiu no sono nos braços da morena. Sem qualquer peso na consciência, a jovem a deixou dormindo na poltrona, vestiu-se, pegou sua moto e retornou à Gama-Tau.

LEIS DO DESTINO: 21º CAPÍTULO

CAPITULO 21: Bellum interius
*Batalha interior



                Uma semana se passou. Nesse período, Natalia conteve por diversas vezes o impulso de ligar para Diana a fim de saber notícias suas. A falta de informações sobre a saúde da mãe dela, e sobre a própria Diana deixou Natalia uma pilha de nervos naqueles dias. Não podia sondar notícias com Pedro ou Lucas, isso despertaria a curiosidade dos dois, mas, essa era sua única opção.

                Procurou pelos gêmeos na universidade, justamente quando precisava nem o acaso, nem sua busca foram seus aliados. Esperou até a sexta-feira, certamente encontraria os meninos no Botecão, arranjaria uma forma de obter alguma informação.

                Como esperava, a turma de amigos da república Álibi estava mesmo no bar. Logo, as meninas do time de vôlei acolheram animadas Natalia. Lucas e Pedro reticentes foram econômicos na simpatia e atenção corriqueiras com a moça.

                O comportamento dos gêmeos obrigou Natalia a tomar a iniciativa de se aproximar deles, fato que obviamente causou estranheza em ambos.

-- O que foi que deu em você hoje para aparecer por aqui? – Lucas perguntou.

-- Nada demais, só precisava me distrair um pouco.

-- E o namorado? Não se chateia com o fato de você sair assim? – Pedro indagou.

-- Pedro você acha mesmo que sou do tipo de mulher que homem manda?

                Lucas gargalhou, zombando da cara de Pedro ao receber a resposta insolente da moça. Constrangida, Natalia desconversou indo direto ao assunto que lhe levou até ali:

-- Como está a mãe da amiga de vocês?

-- Está falando da Diana? – Lucas interrogou.

-- Sim.

-- Ah, está melhor, saiu da UTI, mas, precisará de muitos cuidados, não pode sofrer grandes emoções, Diana nem voltou ainda, está lá cuidando dela. – Pedro respondeu.

                Aliviada pelo fato da mãe de Diana estar melhor, Natalia questionou finalmente a si mesma sobre tanto empenho para ter notícias de Diana e a preocupação com o bem-estar dela. A verdade é que ela sofria não só a falta de notícias ou a apreensão sobre a saúde da mãe de Diana, mas também sua ausência. Chegou a se condenar por não conseguir simplesmente ficar indiferente aos problemas de Diana.

                Com seu objetivo alcançado, Natalia concluiu que não tinha nada mais o que fazer ali. Enquanto seguia para o banheiro, foi abordada por Sandro, seu colega de sala, o típico filhinho de papai, com uma irreverência inconveniente. No episódio da foto do trote, ele chegou a discutir com Diana sobre a atitude da moça de recolher as fotos na sala.

-- Opa! Olha só quem resolveu se juntar aos bons hoje! Natalia, a gostosa da capa! Aquela sua foto deveria ser capa de revista sabia? Com menos roupa, quem sabe até a Playboy, já pensou?

-- Não enche Sandro! – Natalia empurrou o rapaz irritada.

-- Ei! Você é muito estressadinha, só fiz um elogio.

-- Dispenso seus elogios, me dá licença, preciso passar!

                Sandro cercava Natalia com insistência.

-- Pra que a pressa? Está fugindo de mim?

-- O que? Se toca garoto!

-- Sabe, eu conheço um remédio ótimo pra sua irritação...

                Sandro avançou no corpo de Natalia, lhe roubando um beijo. A moça esperneou, e sem defesas mordeu os lábios do rapaz, que se afastou bruscamente transtornado notando o sangue escorrer por sua boca.

-- Está louca sua vadia?!

-- Louco é você! Fique longe de mim!

-- Você vai se arrepender de me rejeitar assim! Você não sabe com quem se meteu.

-- Está me ameaçando? Não tenho medo de ameaças de covardes como você.

-- Vai acreditando nisso sua caipira ridícula... O que você faria se aquela foto caísse na internet?

-- Você está louco? Eu te processo!

-- Sabe que tem muitos recursos de edição que fácil consigo tirar até a pouca roupa que você usava na foto?

-- Eu te denuncio!

                Natalia estava completamente transtornada, tentava agredir fisicamente o rapaz. Sandro a segurou com violência e revelou:

-- Muito cuidado comigo, posso fazer da sua vida um inferno, do mesmo jeito que espalhei as fotos pela universidade, posso espalhar pelo mundo todo, basta um clique.

-- Então foi você?

                Natalia apertou os olhos, enquanto uma lágrima percorria sua face.

-- E não hesitaria em fazer de novo.

                Sandro empurrou Natalia, e se afastou limpando o sangue da boca.

                Natalia não sabia o que lhe doía mais, se a ameaça de Sandro e sua revelação ou o fato de atestar que Diana não mentira. Entrou no banheiro, e permaneceu por um longo tempo entregue a um pranto sentido, culpado, solitário.

                Demorou a se recompor, lavou o rosto e decidiu ir embora dali, em casa, ligaria para Diana, estava decidida a obter o perdão dela.

                Quando se despedia das colegas e dos gêmeos, ouviu a movimentação de outras pessoas da mesa, uma algazarra que atraiu os demais para a calçada. Natalia seguiu os e por pouco seu coração não saltou pela boca quando viu sair de um carro esporte importado a dona dos seus desejos: Diana.

-- Aeee Diana olha a responsa da caranga!

-- Arrasou menina!

                Eram os comentários dos colegas que recepcionaram Diana. Natalia pouco se importava com o luxo do carro que atraiu a atenção de todos, seus olhos tinham um só alvo: Diana. Ficou paralisada, observando cada movimento da loirinha que esbanjava a simpatia entre os amigos, não notando Natalia no meio deles.

-- De onde surgiu essa máquina Diana?

-- Ah... Exigência de minha mãe jogou baixo comigo, me obrigando a me desfazer da moto, por que isso a preocupava demais... Como ela não pode passar por contrariedades, aceitei minha cota de sacrifício.

                Diana falou em tom jocoso.

-- E você veio de Brasília com essa belezura? – Lucas perguntou acariciando o carro.

-- Imagina... Meu pai autorizou a compra em uma concessionária daqui, cheguei hoje de manhã e passei o dia resolvendo os detalhes da compra, documentação...

-- Precisamos estrear esse carro Di! – Uma das meninas mais afoitas berrou.

-- Quando você quiser gatinha!

                Com o intuito de ser vista, tomada de ciúme, Natalia pôs-se à frente dos que cercavam Diana, foi quando esta finalmente a viu. Durou apenas segundos a troca de olhares, o suficiente para Natalia ler algo que lhe doía muito reconhecer: a mágoa de Diana.

                Diana desviou o olhar e entrou no bar, Natalia baixou os olhos e seguiu também a turma, naquela situação desistira de ir embora, precisava falar com Diana, e seria naquela noite.

                Durante o resto da noite, Diana parecia fazer questão de ignorar Natalia, mas era puro fingimento, pois, a observava com o canto do olho, e se aproveitava da vigília da moça para provocar seus ciúmes, enrolando nos seus dedos o cabelo das meninas que se aproximavam, simulando um flerte.

                A saída de Natalia era beber. As rodadas de tequila se acumulavam alterando o estado normal da menina do interior.

-- Natalia sei que não tenho nada com sua vida, mas você passou mal da ultima vez que bebeu tanto, não acha que devia ir com calma? – Lucas foi cauteloso com as palavras.

-- Estou bem Lucas, obrigada por se preocupar.

                Preocupado com a moça, Lucas sentou ao seu lado, na tentativa de regular o instinto alcoólico de Natalia. A cada minuto que passava, mais aumentava a necessidade de Natalia falar com Diana, sua vontade era cometer uma loucura, e arrastá-la na frente de todos e lhe roubar um beijo, fantasiando que isso fosse o suficiente para selar a paz entre elas. Não podendo se render a tal vontade teve a brilhante ideia de enviar mensagem de texto para Diana.

-- “Preciso falar com você agora”.

                Diana leu a mensagem, mas não respondeu. Mentalmente estava decidida a não facilitar as coisas para Natalia. Estava ferida, por ela não ter confiado, por acreditar que Diana seria capaz de espalhar as tais fotos e principalmente, pela ausência de Natalia durante o período crítico que foi a doença da mãe. Nesses dias, recebera telefonemas de Lucas, Pedro, Julia e até de colegas da faculdade, mas, seu desejo era ouvir o consolo mesmo que à distância de Natalia.

                Ansiosa, Natalia encarava Diana cobrando uma resposta, mas a loirinha não estava nem um pouco disposta a dar o braço a torcer. Não respondeu à mensagem, nem muito menos deu importância aos sinais que Natalia dava.

                Aos poucos o bar se esvaziava, apenas os moradores da república, algumas meninas mais íntimas além de Diana e Natália, permaneciam ali na mesa antes lotada.

-- Natalia está ficando tarde, você quer que eu te acompanhe até o ponto de ônibus, ou chame um táxi? – Pedro perguntou preocupado.

-- Está me expulsando daqui Pedro? – Natalia falou com a voz lentificada.

-- Claro que não, nem o dono do bar sou para fazer isso, só me preocupo com sua segurança.

                Natalia fez uma expressão indiferente, com o olhar fixo em Diana, sem se preocupar mais em disfarçar sua atenção na loirinha.

-- E aí gente? Vamos esticar? Baladinha numa boate? – Diana convidou.

-- Eu topo! – Uma das meninas disse sorrindo para Diana.

-- Vai ficar pra outra vez Di, amanhã temos treino do time de basquete pros jogos universitários. – Lucas se justificou.

-- Então vamos só nós duas Mônica? – Diana sorriu para a garota.

                Natalia virou a tulipa de Chopp como se fosse um energético para dar a coragem de anunciar:

-- Eu também vou!

                A reação de todos na mesa foi de perplexidade. A moça comedida do interior, aceitar justamente um convite de Diana para uma balada, era no mínimo estranho, especialmente por que, não era segredo para os amigos da loirinha o tipo de ambiente que esta selecionava para suas conhecidas “esticadas”.

-- Natalia, não acho uma boa ideia... Você não vai gostar do lugar e você já bebeu demais... – Pedro praticamente cochichou para a moça.

-- Pedro, eu sei me cuidar, mas obrigada pela preocupação. Vamos meninas?

                Diana e Mônica entreolharam-se surpresas, quando Natalia se levantou da mesa convidando-as.

-- Vamos lá então caipira.

                Diana pegou as chaves do carro e foi seguida por Mônica e Natália, entraram no automóvel, onde contrariada, Natalia ficou no banco de trás, rumando para um destino desconhecido para ela.

*******

                Natalia praticamente fuzilava Mônica pelo olhar, vendo a moça se derreter para Diana que não impunha resistências a isso, interiormente se divertia observando a tromba de Natalia pelo retrovisor.

                Chegaram a uma boate no lado oposto da cidade. Diana parecia conhecer todos que esperavam na fila para entrar, mas, não se juntou aos conhecidos diante da entrada, seguiu para a esquina, onde a entrada dos fundos era guardada por dois seguranças.


                Bastou um sorriso e um cumprimento íntimo para os dois engravatados abrirem espaço para Diana e suas acompanhantes passarem.

-- Quando dizem que sobrenome abre portas, eu não sabia que era uma expressão tão literal! – Brincou Mônica.

-- Deixa de ser boba garota! Eu tenho passe livre, por que toco aqui!

                Diana caminhou direto para a área VIP da boate, no trajeto, parou inúmeras vezes, cumprimentando conhecidos e conhecidas, algumas demonstravam uma intimidade que não agradou nem um pouco Natalia.

                A menina do interior estava atordoada naquele ambiente. O jogo de luzes intermitentes e coloridas, as batidas da música alta, e aquela pequena multidão de gente alternativa eram novidades para Natalia. Como se não bastasse seu estado tocado pelo álcool, todo aquele alvoroço de acontecimentos à sua volta naquele cenário aumentou sua tontura. Nem conseguia enxergar as coisas com nitidez, mas era capaz de notar que a maioria dos casais que se agarravam na pista não eram convencionais: eram casais de homens, casais de mulheres, algo que de onde Natalia vinha, nunca veria.

                Na área VIP, um pouco mais afastadas da confusão de pessoas se esbarrando e dançando, as três se acomodaram perto do bar, se serviram das bebidas oferecidas gratuitamente aos convidados daquele setor. Mônica, a mais empolgada, insistia para Diana dançar com ela, entretanto, a loirinha agora parecia mais preocupada com Natalia, que estava visivelmente perdida naquele lugar.

-- Ah, você não vai? Então eu vou! – Mônica anunciou, pegando mais uma dose de bebida, descendo para a pista de dança em seguida.

                Não exatamente como queria, mas enfim, Natalia estava “a sós” com Diana.

-- Então você toca aqui? – Natalia se aproximou puxando assunto.

-- Ahan. – Diana não olhou para Natalia enquanto respondia indiferente.

-- Eu te mandei uma mensagem, não recebeu? – Natalia perguntou tímida.

-- Recebi. Mas, acho que sua mensagem chegou com uns dez dias de atraso.

-- Eu pensei em ligar quando soube da sua mãe, mas...

-- Olha só caipira, você deixou muito claro que não queria mais me ver, nem ao menos falar comigo, eu só te devo uma coisa, por uma questão de honra: provar que não fui eu que tirei aquelas fotos e as espalhei.

                Diana disse com um tom magoado e olhar frio.

-- Você não precisa provar nada. – Natalia falou com os olhos baixos.

                A loira franziu as sobrancelhas estranhando a fala da outra.

-- Impressão minha ou você está sabendo de alguma coisa que eu não estou sabendo?

-- Eu descobri quem fez isso.

-- Descobriu? Então por isso você está falando comigo não é? Que tonta que fui, pensei por um instante que você estivesse arrependida de ter duvidado de mim, que queria conversar comigo pra me pedir desculpas por ter me acusado, e por ter ficado ausente esses dias apavorantes pra mim...

-- Eu queria estar perto de você...

-- Natalia chega, não gaste seu latim comigo, não vai adiantar, nada do que você disser vai desfazer seu vacilo. Agora sou eu que digo: deixe-me em paz.

-- Diana espera...

                Natalia segurou o braço de Diana que ameaçou se afastar dela.

-- Estou aqui pra você... Por você.

                As palavras sinceras acompanhadas de um olhar suplicante de perdão quase amoleceu Diana, que encarou Natalia desarmada. Mas, aquele momento foi interrompido por uma mulher conhecida que se agarrou no pescoço de Diana, fazendo algazarra.

-- Di! Saudade! Onde você se escondeu?

-- Luciana tinha que ser você pra me assustar assim! – Diana brincou.

-- Ah você me conhece, tudo é festa pra mim.  E você... Eu te conheço... – Luciana apertou os olhos em direção à Natália. – Ah claro! Você estava com a Diana naquele dia que a esqueci presa no arquivo...

                Natalia balançou a cabeça confirmando.

-- Nossa você era a última pessoa que esperava encontrar aqui. – Luciana comentou divertida.

                Natalia ficou tímida, o álcool que ingerira parecia não provocar mais a desinibição que a moça objetivara ao fazer seu uso descontrolado. Por algum tempo permaneceu reclusa apenas escutando o papo animado entre Luciana e Diana, sofrendo a aparente indiferença da loirinha. Afastou-se sem alarde para o bar, pediu uma bebida, que mais serviu de distração para o passeio dos seus dedos nos cubos de gelo do que propriamente para beber, sentia-se nauseada, frustrada, dolorida pelo tratamento que recebera de Diana.

                Diana fingiu não se dar conta que Natalia se afastara, mas acompanhou a moça com os olhos, tal atitude não passou despercebida pela amiga:

-- Ok desembucha! O que está rolando entre você e essa menina?

-- O que? Rolando nada, ta doida Lu?

-- Não insulta minha inteligência, você sabe perfeitamente que meu jeito distraído é puro charme! Você pensa que eu não captei a energia?

-- Ai lá vem você com esse lance de energia... Acho que você tem que sintonizar melhor então seu para-raios!

-- Diana não enrola... Primeiro você e Julia rompem o namoro, depois você aparece no fórum pra fazer um trabalho de faculdade, fica horas trancada com essa menina lá, ela sai correndo e você nem explicações me dá pra sair correndo atrás dela, agora você reaparece nessa boate acompanhada dela, encontro o maior climão entre vocês, e agora você está aí, roendo as unhas louca pra olhar pro bar onde ela está só não fez isso ainda pra não reconhecer que estou certa!

                Diana revirou os olhos.

-- Não sei o que você usou naquele banheiro hoje, mas provavelmente estava estragado, você está surtando!

-- Ah então ta, estou enganada... Sendo assim, você não vai se importar se eu disser que a Isadora já está com a armadilha pronta para pegar girino...

                Diana se virou abruptamente e viu o que torcia ser apenas uma brincadeira de Luciana: Isadora, a “bar girl” da boate, famosa por promover o “test-drive” em muitas clientes dali.

-- Cara essa Isadora não tem jeito. Não ta vendo que é só uma menina que está perdida aqui? Vou lá.

-- Opa opa opa! Como assim uma menina perdida? Vai lá fazer o quê?

-- Luciana a garota veio comigo, é uma caipira, o máximo de luzes coloridas que ela viu até hoje foram de ambulâncias ou da polícia! Sei lá o que a Isadora vai servir pra seduzi-la!

-- Desde quando você virou Wendy, a irmã mais velha das garotas perdidas? Simplesmente não combina com você essa proteção com uma caipira, em outra situação você estaria dando corda pra Isadora catar a guria.

-- Não quero que essa novata saia espalhando pelo campus que virou sapa por minha causa, Lucas e Pedro me matariam, estão apaixonados por ela!

-- Só Lucas e Pedro?

-- Não começa Luciana!

-- Diana, você quer mesmo que eu acredite que você não prestou atenção nessa menina?

-- Ah, por que deveria?

-- Você já teve o olho mais clínico... Pode até ser meio mal arrumadinha meio jeca ainda, mas é linda! Se você não viu isso, a Isadora já viu, e olha que eu nunca soube de nenhuma que resistiu ao charme dos coquetéis dela...

                No balcão do bar, Isadora não economizou sedução para conquistar a simpatia de Natalia, que já se mostrava mais receptiva ao papo da bar girl.

-- Está perdida aqui?

-- Depende do que você considera uma pessoa perdida... – Natalia respondeu mirando o copo.

-- Uma pessoa no lugar errado, na hora errada, que se pergunta o que está fazendo nesse lugar, mas não sabe ao certo aonde quer ir. Acertei?

-- É, acho que você me definiu bem nesse momento.

-- Então nesse caso, tenho uma notícia boa para você - Isadora se aproximou cochichando - as pessoas perdidas que vem para o Armazém, sempre são encontradas.

                Natalia ruborizou, não pelo conteúdo da frase, mas pelo que a bar girl deixou evidente nas entrelinhas, com o tom de voz usado e o olhar libidinoso.

-- Não perde tempo em Isadora! – Diana chegou encostando-se no balcão.

-- Tempo foi feito pra ser gasto, não perdido. Como vai Diana?

-- Não tão bem quanto você, a menina aí é quarta ou quinta da noite?

-- Depende a que você está se referindo, se está falando se ela é quarta ou quinta cliente que sirvo bebida, a resposta é não, já servi dezenas de clientes essa noite.

-- Você ao menos perguntou se ela tem idade pra beber? Não está vendo que é só uma menina?


                Diana se esforçava para não demonstrar irritação, mas isso estava claro na troca de farpas com Isadora. Notando ser o centro da discussão, e vendo a oportunidade de despertar os ciúmes de Diana, Natália se intrometeu na conversa:

-- Não estou vendo nenhuma menina aqui, tenho idade e vontade própria para beber o que quiser.

-- Você já bebeu demais essa noite, não pense que vou levar você bêbada para casa, pra você vomitar meu carro todo!

                Foi o único argumento que Diana encontrou para justificar sua censura com Natalia.

-- Se é esse o problema, não se preocupe, não volto no seu carro.

-- Posso saber como você vai voltar? Você nem sabe em que parte da cidade está caipira!

-- A garota já disse pra você não se preocupar Diana, mas, se você fica mais tranquila, me responsabilizo a colocá-la em um táxi, meu turno acaba em uma hora.

                Isadora disse sarcástica. Diana bufou. Encarou Natalia fixamente, deixando transparecer sua insatisfação com aquilo, mas, a moça não se intimidou, afinal conseguiu o que queria: arrancar Diana da indiferença com a qual ela afastou-a naquela noite.

-- Pois muito bem, lavo minha mão com você caipira.

                Diana saiu a passos rápidos e firmes contrariada. Aquela frase parecia estar mais carregada de mensagens subentendidas do que simplesmente um aviso casual. Apesar de sentir-se incomodada com tal percepção, Natalia decidiu prosseguir com sua estratégia de provocar ciúmes em Diana, e Daniele por sua vez, estava convicta que ganhara a confiança da garota.

-- Não sabia que você estava com a Diana, fiz mal em me meter? Ela saiu fumaçando daqui...

-- Fica tranquila, eu só vim de carona com ela, estudamos na mesma faculdade.

-- É só isso mesmo? Ou ela é o motivo de você estar tão atenta ao fundo do copo desde que se sentou aí?

                Natalia sorriu tímida.

-- É só isso mesmo.

-- Então assim fico mais tranquila. Daqui a pouco te mostro como as pessoas “se encontram” no Armazém menina perdida.

                Sedutora como ela só, Isadora beijou o canto dos lábios de Natalia, que não teve outra reação que não fosse paralisar. Sem saber ao certo no que estava se metendo, temeu como aquela noite poderia terminar. Depois que a bar girl se afastou para servir outras clientes, começou a observá-la, seu corpo, suas tatuagens espalhadas estrategicamente nos pontos mais sensuais, seu corte cabelo assimétrico, sua desenvoltura com os copos, garrafas e coqueteleira, o conjunto de características que justificavam o ciúme de Diana e a fama da garota de sedutora.

                Por mais que tentasse, Diana não conseguia afastar o pensamento do bar onde Natalia estava. Uma ideia martelava todo tempo: o corpo de Natalia que ela tratava com tanto respeito e admiração, para Isadora ia ser só mais um na sua extensa lista de conquistas. Enquanto tentava se distrair na pista da dança com Luciana e Mônica, ignorou os possíveis olhares de cobiça os quais era alvo, o que ela desejava na verdade era arrancar Natalia dali, protegê-la daquele movimentado mundo de vaidades onde impera a busca do prazer pelo prazer, e pior, a exposição a perigos os quais Natalia não estava preparada para distinguir e enfrentar.

                Puxou Luciana da pista de dança e pediu:

-- Você tem que tirar a Natalia de lá, aquela caipira não sabe no que está se metendo!

-- Diana vá você mesma e faça o que tem que fazer! Você está louca por ela!

-- Não viaja Luciana! Você sabe perfeitamente o que a Isadora vai fazer quando sair do turno de trabalho dela, a Natalia nem sabe que isso existe! Não quero a culpa de saber que a menina foi drogada, sabe-se lá o que fará depois disso.

-- É... Se a Isadora der uma balinha azul pra caipira, ela não vai saber é o que a Isadora vai meter nela...

                Diana arregalou os olhos apavorada.

-- Luciana a gente tem que fazer alguma coisa!

-- A gente quem cara pálida? Você tem! Por que eu to me mandando, com a sua outra companhia, que, aliás, você já deveria ter nos apresentado há muito tempo!

                Diana resmungou xingamentos contra as amigas vendo-as deixarem a boate abraçadas. Deu-se conta que nem Natalia, nem Isadora estavam mais no bar, deduziu que o turno da bar girl se encerrara, e assim partiu desesperada em busca das duas, não precisou gastar muito tempo para avistá-las na pista de dança: agarradas, envolvidas. Isadora segurava a moça pela cintura por trás, esfregando seu corpo no dela para a fúria de Diana.

                A loirinha avançou na direção das duas, empurrando os demais na pista, ao se aproximar, Natalia foi puxada por Isadora para um corredor que dividia os ambientes da boate. Diana sabia o que a bar girl pretendia, ali era um dos lugares mais utilizados para amassos mais tórridos pelos casais, além de também ser o ambiente que dava alguma segurança para o uso discreto de extasy ou outras drogas orais.

                Diana acertou na mosca, flagrou Isadora empurrando delicadamente um comprimido na boca de Natalia que parecia alheia a tal perigo. Como uma super heroína dos filmes de ação, empurrou a bar girl com violência.

-- Cospe isso Natalia!

                Assustada, a moça pinçou o comprimido azul ainda na sua língua, e foi arrastada pela mão por Diana para fora da boate.