sábado, 22 de outubro de 2011

Sociedade Secreta Lesbos: Capítulo 30

Capítulo 30



Amy e Esther seguiram abraçadas pelas escadas da mansão. No seu quarto, Esther cobriu a cama de pétalas de rosas, ao ver isso, Amy encheu os olhos d’água, sorriu e beijou a morena apaixonadamente.

Esther, nitidamente bêbada, disse à loirinha:

-- Você merece muito mais que isso... Seu presente está aqui... Vou te dar... Mas antes... Quero que você me dê algo também...

Amy, também bêbada, mal conseguia pronunciar palavras audíveis, replicou imediatamente:

-- Eeeu te dou o que você quiser...

Esther sorriu maliciosamente, beijou Amy enquanto a empurrava, posicionou-a de costas na cama, deitou-se sobre ela, e a despiu enquanto deslizava suavemente com o dorso de sua mão pelas costas e bumbum de Amy, despertando arrepios na pele da loirinha, que suspirava fundo, sentindo um calor subindo pelo seu sexo, e a umidade o invadindo... Ao encontrar aquela umidade entre as pernas de Amy, Esther pediu:

-- Dá pra mim?

-- O que você quiser... -- sussurrou num tom sensual.

Esther brincou com seus dedos entre as nádegas de Amy sugerindo o que ela queria... E repetiu:

-- Dá pra mim, Amy...

Amy empinou seu bumbum e assim Esther consumou seu desejo fazendo a loirinha se contorcer de prazer, movimentava seus quadris enquanto gemidos altos escapavam. Esther não só a penetrava, como continuava a deslizar sua língua quente pelas costas da loirinha.

Amy, totalmente excitada, virou-se e avançou na boca da morena, sugando seus lábios carnudos, e com pressa a despiu, jogou o corpo de Esther na cama, ficando sobre ela, roçando seu sexo encharcado, até ordenar:

-- Agora é você que vai dar pra mim...

Massageou seu clitóris provocando o quanto pôde até Esther pedir:

-- Vai, minha linda... Me toma... Sou sua!

Amy penetrou dois dedos no sexo molhado de Esther, movimentando-os com a ajuda do peso do seu próprio corpo, mexendo seus quadris, para a loucura da morena, que arqueava seu corpo numa expressão plena de prazer.

A loirinha sentou-se na cama, e puxou Esther pra cima dela, que sentou com as pernas envoltas na cintura de Amy, permitindo que ambas se tocassem simultaneamente, até gozarem juntas.

Ficaram ali abraçadas, sentindo os corações batendo juntos, acelerados. Esther abriu o criado mudo ao lado da cama, pegou um embrulho pequeno, e entregou à aniversariante:

-- Como prometido... Aqui seu presente, linda...

-- Esther! Você já me deu tanta coisa hoje... Só aqui nessa cama... Nossa... Quanto você me deu... -- sorriu mordendo os lábios.

-- Amy Anderson! Você está muito acesa... Abre logo...

Amy abriu o embrulho, ansiosa. Seus olhos brilharam ao ver a jóia que estava dentro da caixa. Uma pulseira com um pingente, uma flor de lótus, como a tatuagem de Esther, que explicou:

-- Essa flor de lótus é um símbolo de evolução, do progresso da alma... Essa flor cresce até mesmo em meio a lama...

Amy ficou profundamente emocionada, a essa altura, o efeito do álcool já se dissipava. Pediu que Esther colocasse a pulseira nela, depois pulou em cima de Esther, cobrindo-a de beijos, repetindo:

-- Obrigada, linda, obrigada!

Foram dormir abraçadas, antes de se entregar de vez ao cansaço, Amy chamou Esther, baixinho:

-- Esther? Está dormindo?

A morena não respondeu. Amy então deixou quase que um sussurro escapar:

-- Eu te amo...

Esther abriu os olhos e tentou controlar a aceleração de seu coração ao ouvir isso da loirinha. Sentiu um misto de felicidade, mas também experimentou uma profunda angústia, porque sabia que era recíproco. Mas o objetivo que regeu sua vida até conhecer Amy era a vingança contra Sandra Anderson, e ela julgava não poder fugir disso.

1ª temporada: Porque sei que é amor : Último capítulo

CAPÍTULO 31: COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ


Resolvi não forçar a barra e me preparei para dormi no sofá, para que ela ficasse mais a vontade no quarto. Entretanto, provoquei-a, vestindo uma camisola de seda decotada, curtinha, uma que a deixava doida, quem sabe eu ativasse sua memória sexual...

Ofereci-me para trocar os curativos do braço depois que ela molhou no banho, sentei-a na cama e aproveitava do nosso contato para demorar mais no roçar de nossa peles, usei de toda sedução jogando meus cabelos para o lado e sobrepondo meu corpo sobre o dela, deixava meu decote na altura de seus olhos para pegar algum material de curativo na cabeceira da cama, atrás dela. Com o rabo de olho observava sua reação, ela ficava perturbada com isso, vi que estava no caminho certo para reconquistar minha mulher.

Saí do quarto após desejar-lhe boa noite, beijando sua testa, notei o rubor de sua face, o que me deu uma satisfação incrível por constatar que Camila não estava indiferente ao flerte entre nós.

- Mas o sofá é confortável? Essa é sua cama, não é justo você dormir sem conforto depois de todos esses dias dormindo na poltrona do hospital.

De pé na porta do quarto, continuei a jogar meus cabelos sensualmente, passava minha mão pela nuca, como se quisesse deixar subetendido o cansaço dos meus músculos pelas noites mal dormidas no hospital.

- Pelo menos no sofá me estico inteira – sorri.

- Ah Isabela, é sua cama, pode dormir aqui – Camila falou timidamente.

- E’ nossa cama...

Camila ruborizou, afastou-se na cama, abrindo espaço para mim. Aproximei-me lentamente após apagar as luzes do quarto, ligando apenas o abajur do meu lado. Deixei meus cabelos espalhados pelo travesseiro afim de exalar o perfume que eu usava na nuca, passei no meu corpo durante o banho, o óleo de amêndoas doces que ela adorava, a memória dos seus sentidos ia dar seus sinais, eu tinha certeza.

Podia sentir o corpo de Camila perto de mim, quente. Ela se mexia muito na cama, foi então que interrompi sua inquietude:


- Está com calor, Cami?

- Não... – disse baixinho.

- Está sentindo alguma dor?

- Não...

- Perdeu o sono?

- Mais ou menos.

- Tem uma coisa que faço pra você dormir, quer tentar lembrar?

Tímida, ela balançou a cabeça positivamente, aproximei meu corpo do dela, abri meus braços e disse-lhe ternamente:

- Encosta aqui sua cabeça.

Camila chegou-se tímida, afastando seus cachos pro lado, aconchegando-se em meu peito, a essa altura meu coração já estava acelerado, e ela podia sentir isso obviamente.

Apertei-a em meus braços e com uma das mãos, fazia cafuné nos seus cachos, sentiindo sua pele responder ao meu carinho. Nossos corações aceleravam o compasso juntos, sentia as pernas de Camila se entrelaçarem nas minhas, à medida que meus braços a envolviam ainda mais, sua respiração já acompanhava a rapidez das batidas do seu coração, ela não estava imune ao nosso contato, e eu tinha que usufruir disso.

- Cami, está tudo bem?

- Sim... Tem certeza que eu dormia depois disso?

Senti uma malícia em sua pergunta, sorri divertida, e respondi:

- E’ dormia, mas antes disso a gente se cansava um pouco...

- Cansava?

- E’ Cami...

Ela ficou calada, senti que ficou sem graça com a suposta ingenuidade da pergunta, e com a mesma timidez, não comum na Camila com a qual me casei, ela indagou:

- Como foi nosso casamento?

- Foi na chácara de sua família, você decorou tudo com as rosas que você mesma cultivou, da mesma espécie das rosas que se abriram no nosso primeiro beijo na estufa de seu pai... Você estava linda, Carmem a conduziu até o altar, o Vô Elias celebrou, todos estavam emocionados, entrei cantando pra você, suas sobrinhas jogavam pelo tapete pétalas de flores até minha chegada a você...

- Deve ter sido lindo, gostaria de lembrar...

- Foi perfeito... Mas se você não lembrar, casamos de novo... Você quer?

Ela sorriu e apertou suas mãos na minha cintura, esse gesto era comum entre nós quando estávamos naquela posição na cama. Meu corpo tremeu, empurrei minhas pernas entre as suas, notando Camila levantar sua cabeça. Encarou-me com aqueles olhos verdes que me penetravam a alma, os cachos longos avelã caiam sobre meus seios expostos no decote da camisola, ela baixou os olhos em direção aos meus lábios, mordi meu lábio inferior numa expressão de desejo, segurei seu rosto com uma mão, enfiando meus dedos em seus cabelos, Camila não fugiu de meus olhos, puxei-a em direção a minha boca, rocei meus lábios nos dela, e ela invadiu minha boca com sua língua institivamente, e nos entregamos em um beijo inédito, parecia ser o primeiro beijo entre nós.

A partir daí, nossos corpos se entenderam sozinhos, deixamos a saudade falar. Nossas mãos buscavam cada pedaço de nossas peles como se necessitasse explorar aquele território desconhecido e, ao mesmo tempo, tão nossos. Nossas bocas sugavam o sabor doce do tesão emanado em cada poro.

Com cuidado, coloquei Camila sob mim e movimentei-me entre suas pernas, fazendo-a sentir a umidade liberada de meu sexo, ela sorria com prazer, beijei ardentemente, enquanto mantinha o jogo de quadris agora nas suas coxas, com uma das mãos massageei seu clitóris sentindo sua calcinha encharcada, ouvi seus gemidos rocos no meu ouvido.

Ficamos por quase uma hora despertando a memória de Camila... Sentia meu amor me olhando encantada de novo, dormiu enfim nos meus braços e, no clarear do dia, foi minha vez de relembrar seu sono tranquilo com um sorriso bobo nos lábios...

- Bom dia amor...

Camila sorriu...

- Bom dia... Você tem mesmo um jeito bom de me colocar para dormir...

Beijei seus lábios suavemente, e ela retribuiu, acariciou meu rosto e perguntou:

- A gente sempre acorda com esse sorriso bobão nos lábios?

- Sempre... E sempre te observo dormir, até você sentir meu olhar e despertar...

Dessa vez foi ela que me puxou para um beijo mais longo, e mais uma vez nos amamos antes do café. Camila estava solta, sabia o que estava fazendo quando me tocava, quando remexia sobre mim e dentro de mim, gozamos juntas, e ficamos abraçadas até a fome falar mais alto. Servi-a na cama mesmo, e ela não parava de me roubar beijos entre uma mordida e outra do wafle, e dos pães prediletos dela.

Aos poucos Camila se lembrava de histórias, imagens, conversas. Com memória ou não, nos apaixonávamos de novo, ela lia as coisas de sua pesquisa lembrando de detalhes de outras etapas, Prescott se animava com a rapidez de sua recuperação, Meredith ficava com Camila enquanto eu assistia as aulas, e nos reuníamos a tarde no apartamento com Prescott. Isso durou um mês, até que voltamos a rotina na universidade, já no final do ano, quando nos preparamos para passar as festas de fim de ano no Brasil.

Nem percebíamos mais o que era novo, ou que era de memória que voltava para Camila, já desfrutávamos da mesma intimidade, carinho, amor, a flagrei várias vezes olhando nossa aliança sozinha e beijando-a. Isso ela repetia sempre. O tempo passava e parecíamos duas adolescentes apaixonadas, surpreendendo uma a outra com presentinhos, recadinhos, declarações de amor no meio do dia.

No dia que completamos 1 ano de casadas, ela voltou a me surpreender com um jantar na cobertura do prédio que morávamos. Ela montou uma pequena estufa com Meredith enquanto eu assistia as aulas sozinha. Não haviam as nossas rosas, mas ela conseguiu alguns espécimes lindos.

- Meu amor como você fez isso tudo?

- Perdi a memória meu amor, não minha inteligência...

- E toda essa produção tem segundas intenções?

- Tem... Terceiras, quartas... – sorriu maliciosa.

- Se minha mulher sabe disso... Ela é ciumenta, viu...

- Então, você quer deixar essa ciumenta e casar comigo?

- Agora?

Sorrimos por um bom tempo até que Camila tomou um ar mais sério, bebericou um gole de vinho, e me disse com um olhar brilhante e apaixonado:

- Isa não posso afirmar com certeza o quanto te amava antes disso tudo, mas posso te dizer que hoje te amo com tudo que tenho, mesmo fraca do juízo – rimos. – Eu sinto esse amor como parte integrante de mim, seu cuidado, sua dedicação, sua paixão, me curam de tudo, se fosse você hoje a perder a memória eu faria de tudo para você se apaixonar por mim, porque seu amor é o que me faz ser a mulher que sou hoje.

Depois de palavras como essas, minhas lágrimas desceram fácil pelo meu rosto, Camila também estava emocionada, beijou nossa aliança em minha mão e eu finalizei:

- Eu me apaixonaria por você quantas vezes fosse preciso, você é minha vida...

Naquela noite fizemos amor como nas nossas núpcias, re-apresentei a Camila nosso brinquedinho, depois de muitos risos, ela ficou curiosa, tratei de matar sua curiosidade, inundando-a de prazer.

Uma semana depois embarcamos para o Brasil, uma caravana nos esperava, abraços apertados, lágrimas de alegria pelo reencontro, Camila lembrou de Lívia e de tia Sílvia também, cochichava que o rosto de Bernardo era familiar, mas não lembrava seu nome. Nosso amigo estava mais gordo, corte de cabelo diferente, usando um cavanhaque, até eu tive dificuldade de destacá-lo entre os que nos recepcionaram. Senti falta do Vô Elias, Carmem nos disse que ele estava adoentado e decidiu não vir a São Paulo, o Vô Antenor só iria para Campinas no final de semana, minha vó havia passado por uma cirurgia e ele estava acompanhando-a.

Olívia nos preparou uma festinha de boas vindas, estava morando em um apartamento maior, e assim pode receber a todos. A primeira coisa que minha sogra percebeu foi nosso rosto mais magro, comíamos muito mal em Boston, e os últimos meses tinham sido bem puxados para nós. Na festinha Olívia nos apresentou sua nova namorada, uma acadêmica de medicina, não tinha mais de 22 anos, muito bonita, parecia mais uma modelo, magra, alta, cabelos longos, uma aparência bem hetero, minha mulher coitada com o gaydar sequelado custou a acreditar que elas eram um casal.

A noite seguimos para Campinas, nossa intenção era ficar em nosso apartamento, mas Carmem não deixou, outra recepção nos aguardava na chácara, Vô Elias estava sentado no alpendre, aparência cansada, mas com um sorriso sincero caminhou em nossa direção. Abraçou- nos demoradamente, ficamos os três unidos naquele abraço cheio de saudade, sentimos muita falta desse calor familiar em Boston.

As festas de fim de ano passamos todos juntos, exceto pelo Vô Antenor que regressou a Valença no mesmo dia que chegou, revelou-me que minha vó atravessava um câncer avançado, mesmo com todo tratamento novas metástases surgiam, foi orientado por Tio César a não prolongar o sofrimento dela, e assim pediu-me que antes de voltar a Boston a visitasse na fazenda. Camila lembrava que algo ruim acontecera entre nós mas não sabia ao certo o que, e talvez por isso garantiu ao Vô Antenor que acataríamos seu pedido.

Passamos nosso reveilon no nordeste a convite de Olivia e sua namorada, Bernardo nos acompanhou, estava com outro namorado, um advogado muito chato e nervoso, que pagava uma de hetero em público, era ridículo, Olívia e eu repreendemos veementemente a nova escolha de nosso amigo que se justificava dizendo que devolvia os abusos do tal boyzinho com muito chifre... Era o mesmo debochado de sempre o Bernardo.

A praia de Boa Viagem em Recife estava linda, o hotel que ficamos disponibilizou várias tendas com buffet na areia, a queima de fogos coloridos e aquele clima litorâneo contrastava com o nosso reveilon anterior, mas o sentimento otimista sobre o ano vindouro era o mesmo.

Conhecemos Recife juntas, o agito do começo de noite do Recife antigo, com o ensaio e desfile dos grupos de maracatu, as feirinhas de artesanato, os shows de MPB no Marco Zero. Conhecemos ainda Olinda, e suas ladeiras históricas cheias de cor e ritimo, avistamos a orla recifense do alto da vista da Sé, nos deliciamos com as tapiocas, e enchemos as bolsas com souvenirs locais. As praias eram um show a parte, pelo pouco tempo que tínhamos só nos detivemos na praia Maria Farinha, bebemos tanta cerveja que sequer um táxi conseguíamos chamar... O namorado chato do Bernardo, precavido, pegou o telefone de um taxista e assim providenciou nossa volta ao hotel.

Depois de quatro dias na capital pernambucana, seguimos para Belo Horizonte, para cumprir nossa promessa de visitar a Vó Helena, não queria voltar á fazenda, não era do meu feitio voltar atrás no que dizia e prometera nunca mais pisar lá enquanto ela estivesse viva, no entanto minha consciência pesou mais, e apoiada pela segurança do amor de Camila que já estava totalmente recuperada, segui para Valença para despedir-me de minha vó, perdoá-la enfim.

Já no aeroporto, Lívia nos revelou que vovó havia sido internada, fomos assim direto ao hospital, toda a minha família estava pelos corredores, alguns cumprimentavam friamente a mim e a Camila, outros eram fervorosos nos abraços, mas aquilo nem nos incomodava, nosso objetivo ali era outro: eu perdoar vovó e Camila me apoiar.

No quarto, apenas Vô Antenor e Tia Sílvia estavam com vovó, depois de nos abraçarmos, sentei ao lado do leito de vovó que estava de olho fechados.

- Vovó Helena?

Abriu os olhos lentamente, estava abatida, pelo menos 20kilos a menos, cabelos falhos, rosto ressecado, lábios feridos. Seu olhar era triste, ao me ver esboçou um sorriso, segurou minha mão com a força máxima que pode.

- Isa minha querida... Pensei que morreria sem ver você.

- Estou aqui vovó...

- Estou orgulhosa de você, seu avô me disse... Estás pesquisando no exterior?

- Sim vovó, em Boston, estou apenas de passagem pelo Brasil.

- Perdi tanta coisa de sua vida por causa da minha intolerância...

Baixei meus olhos, experimentando o ressentimento das palavras duras que ela me destinou quando eu estava com Suzana. Olhou minha mão esquerda e vendo minha aliança continuou:

- Soube também que você casou... Está feliz?

- Sim vovó muito. Ela está aqui comigo, está lá fora com Lívia.

- Quero vê-la.

Não podia acreditar nisso, mas não questionei, pedi que tia Sílvia a fizesse entrar, Camila adentrou o quarto com um olhar de interrogação assustado.

- Venha cá minha filha, fique aqui perto de sua mulher.

Assim Camila o fez. Vovó Helena segurou nossas mãos juntas, e com uma sinceridade tocante nos abençoou:

- Sei que vocês não precisam de minha benção, vejo que o amor é fonte de toda graça, e isso é abundante em vocês duas... Mas mesmo assim, quero abençoar vocês, e pedir perdão por minha estupidez especialmente a você minha neta, você é meu orgulho, nunca foi minha decepção.

Não contivemos as lágrimas, abracei Vovó deitando- me no leito ao lado dela, como fazia quando criança em seu colo.

Retornamos no dia seguinte para Campinas, nosso vôo para Boston partiria em dois dias. Depois de uma pequeno almoço de despedida, embarcamos de volta para os EUA, dessa vez o aperto no peito era menor, talvez pelo alívio de ter me reconciliado com Vovó, mesmo sabendo que aquela seria a última vez a vê-la viva.

O choque do verão brasileiro com o inverno nos EUA detonou com nossas energias, antes de voltarmos a nossa rotina de pesquisa, Camila e eu nos demos folga, alugamos dezenas de dvds, e não nos desgrudamos uma da outra por dois dias, só namorando e fazendo planos, definimos nossas próximas férias na Europa, eu não conhecia, mas Camila sim, e por isso fazia questão que conhecesse tudo ao seu lado.

E nessa atmosfera de amor tranquilo e paixão na cama, nossa história ia sendo construída, logicamente brigávamos por bobagens como qualquer casal, me descobri uma ciumenta terrível quando Camila começou a trabalhar com acadêmicas em sua pesquisa, as meninas, mais novas que eu, só faltavam babar no chão que minha mulher pisava, não só por sua beleza, mas por sua atitude, inteligência e segurança. Nas férias de verão colocamos em prática nossa viagem de férias e foi tudo perfeito, conhecemos Paris, Berlim, Roma, Londres, Irlanda, grande parte do trajeto fizemos de trem desfrutando do romantismo de suas cabines luxuosas.

Passamos em Boston, três anos no total, sempre que podíamos escapávamos para alguma cidade americana para uma nova lua- de- mel, que nem era necessária, mas assim saíamos da rotina. Conhecemos Miami, até para matar a saudade do sol e das praias, Los Angeles, Washigton, até nos aventuramos em Las Vegas. Trabalhávamos muito, na fase final do mestrado, nossa relação estremeceu, tamanho era minha insegurança por passarmos menos tempo juntas do que Camila e as tal acadêmicas. Camila como sempre, exemplo de sensatez me deixava brigando sozinha, até que eu me rendesse e lhe pedisse desculpas, as quais ela aceitava me cobrindo de beijos.

Enfrentamos uma maratona de apresentações em congressos internacionais da nossa pesquisa: Canadá, Espanha, Inglaterra, Turquia, já havíamos concluído, mas Prescott fazia questão de nossa participação nesses eventos, alguns fomos como convidadas especiais, em outros participávamos como meras pesquisadoras. Aproveitávamos para fazer turismo, e acabamos nos divertindo muito.

No final de 2008 regressamos ao Brasil, com as malas cheias de publicações, convites para grupos de pesquisas e propostas de financiamento de novos projetos.Voltamos a trabalhar no mesmo hospital, e eu me preparava para o concurso da UNICAMP, queria mesmo lecionar e continuar na pesquisa, a clínica não me atraía tanto.

Eu e Camila, crescíamos juntas profissionalmente (ela logicamente bem mais que eu), na intimidade, cumplicidade, nossa paixão não arrefecia, sempre buscávamos apimentar com uma coisa ou outra, mas as vezes a rotina nos surpreendia, chegamos a passar semanas sem nos amarmos, mas nunca por falta de desejo, sempre por falta de tempo ou cansaço, mas dormíamos sempre grudadas. Sabíamos como a outra estava sem trocar uma palavra, as vezes mesmo longe, quando precisávamos viajar sozinhas, sentíamos a presença uma da outra.

Pensava as vezes como o amor é sutil em suas demoras, como é simples e acalentador, quando permitimos que ele se baste em uma relação. Ele não surge com a pretensão de ser o único, nem muito menos de ser igual a outro amor. Quando é amor, tudo acontece naturalmente, e mesmo que não dê certo, sempre deixa alguma coisa em nós, cabendo a cada um manter apenas as marcas que nos fazem ser uma pessoa melhor, disponível para o amor.

Descobri com Suzana o que é amar uma mulher, descobri também o que é sofrer por ela, experimentei céu e inferno na terra. Mas também aprendi que com amores também se vão, porque se não houver abdicação, respeito, ele se despedaça... Camila me reconstruiu, aliás o amor dela me refez, não me entreguei pela metade esperando ela me completar, ela me fez crescer e ficar inteira pra ela, pra juntas construirmos nossa história, acredito que é nisso que consiste amar, é capacitar o outro a estar inteiro, dois meios nem sempre forma um inteiro, por meio pode ser só um pedaço, e nenhum amor é duradouro quando apenas pedaços de pessoas se relacionam.

Vivo com Camila esse amor, inteiro, real, palpável, maduro, e nem por isso é monótono ou sem perspectivas. Ontem ela viajou para o exterior sem mim, preciso ministrar aulas na faculdade onde hoje sou professora, encontrei aqui no desktop do meu notebook um recado dela, junto com o video de Titãs

“Escute a música, leia a letra...te amo, te levo comigo, até daqui a pouco minha vida...”

Porque eu sei que é amor Eu não peço nada em troca
Porque eu sei que é amor Eu não peço nenhuma prova
Mesmo que você não esteja aqui O amor está aqui
Agora Mesmo que você tenha que partir
O amor não há de ir Embora
Eu sei que é pra sempre
Enquanto durar E eu peço somente
O que eu puder dar

Porque eu sei que é amor Sei que cada palavra importa
Porque eu sei que é amor Sei que só há uma resposta
Mesmo sem porquê eu te trago aqui
O amor está aqui Comigo
Mesmo sem porquê eu te levo assim
O amor está em mim Mais vivo
Porque eu sei que é amor

Esse é o meu amor, essa é minha vida, até quando durar, e eu espero que o pra sempre seja longo, seja na sua essência o amor pra vida toda.

FIM

domingo, 9 de outubro de 2011

1ª temporada: Porque sei que é amor

CAPÍTULO 30: PARTIDA E MUDANÇA



Esperamos até o Natal para passarmos com nossas famílias, pela primeira vez, tia Sílvia e Lívia vieram de Valença para passarmos juntas na chácara de minha sogra. Foi mais que uma ceia natalina, foi nossa despedida, partiríamos em dois dias, era nosso plano passar o reveillon em New York.

Trocamos presentes, confraternizamos, mas estavámos já saudosas daquele aconchego familiar, sabia que sentiríamos muita falta de tudo, Vô Elias era o mais emocionado, temia que não nos víssemos mais. Alguns dias antes ele nos revelou estar sonhando muito com meus pais, com o Sr. Ernesto e com sua falecida esposa, deduzia que isso era sinal de que sua hora estava chegando.

Rapidamente tratamos de afastar esse pensamento dele, fazendo com que ele prometesse que só nos deixaria quando estivéssemos de volta ao Brasil, ele sorriu como se não acreditasse isso ser possível, mas concordou.

No dia 27 de dezembro, o aeroporto de Cumbica mais parecia um encontro familiar, uma procissão nos seguiu para despedir-se de nós. Meu vô veio de Valença, acompanhado por Tio César, mesmo felizes com nosso sucesso e nosso casamento, todos choravam, inclusive nós, mas enfim era hora de partir, uma nova etapa nos esperava, e eu mais uma vez: nova vida, novo lugar.

Chegamos a Boston no dia seguinte, estava frio, muito frio, o orientador de Camila nos aguardava, foi muito simpático, um homem alto, muito branco, cabelos grisalhos extremamente lisos, olhos verdes, o gringo típico. Levou-nos até o hotel, simples, mas tinha o necessário, e era perto de tudo, estação de metrô, lojas, supermercado, e não era tão longe de Harvard.

Descansamos o resto do dia, o fuso mexeu com nossa resistência, depois de ligarmos pra nossas famílias, caímos no sono, jantamos a noite no hotel mesmo, o frio estava de rachar, preferimos não sair.

No dia seguinte, conhecemos os apartamentos que a imobiliária nos reservou, e nenhum nos agradou completamente, o que faltava em um, no outro tinha, mas faltava sempre alguma coisa, optamos pelo conforto e localização, apesar de não ter o tamanho que desejávamos, a cozinha era minúscula, mas ao menos nosso quarto era espaçoso e iluminado, e a mobília era razoável, essa foi nossa escolha. Acertado o apartamento, nos encontramos na Universidade, com o orientador de Camila, que apresentou, o Prof. Haris, que seria meu orientador, era mais jovem, alto, cabelos pretos, mas sua pele era clara, olhos também verdes, era um homem de seus quarenta anos, bonito, com algum charme intelectual. Marcamos algumas orientações, que se iniciariam na primeira semana de janeiro, Camila tinha mais tempo, mas não queria esperar, convenceu seu orientador a iniciar o quanto antes a sua pesquisa.

Viajamos para New York na véspera do reveillon, e lá não perdemos tempo no hotel, pagamos mico de turista mesmo, contiuando o clima romântico de lua-de-mel, andamos pelo Central Park, passeamos de charrete de mãos dadas, a cidade favorecia o romantismo apesar do frio, as luzes, a decoração natalina, não tinha o calor humano do nosso país, mas era fácil encontrarmos brasileiros posando pra fotos nos atrativos turísticos. Curtimos a virada do ano abraçadas, Camila envolvida na minha cintura, descansando o queixo no meu ombro vendo a queima de fogos:

- Que nosso ano seja maravilhoso como esse está terminando meu amor...

- Que nossa vida seja sempre assim, com você nos meus braços minha vida...

Enquanto fazíamos pequenas promessas de acertos na nossa convivência pro ano que nos esperava, ouvimos uma voz conhecida, bem perto de nós:

- Que seja um ano bom para nós todas!

Não podia acreditar, Suzana diante de nós, ao seu lado, Pietra, fazendo cara de poucos amigos, definitivamente, ela não gostava de mim. Camila, pra minha surpresa, soltou-se de meus braços e deu um abraço curto, educado, como se cumprimentasse uma velha conhecida em Suzana, e deu dois beijinhos de comadre em Pietra, desejando um bom ano para ambas. Eu estava chocada, mas, repeti o gesto cordial de minha mulher.

- Mundo pequeno Suzana, vejo que você está recuperada, ficamos satisfeitas com isso não é amor? – Camila tentava agir naturalmente.

- Estou bem Camila, obrigada por perguntar, na verdade vim pra ver um especialista, estou na fila em Campinas pra inserção do neurochip da pesquisa de vocês.

- Se te interessar, estou fazendo o meu pós doutorado em Boston, então se você quiser se inscrever no programa pra inserir aqui...

Suzana até se interessou pela proposta de Camila, eu não podia acreditar que ela estava fazendo isso, mas enfim, não sentia mais nada por ela, quando a vi, sequer aquele desejo, atração que senti as outras vezes eu experimentei.

Confesso que a expressão de insatisfação de Pietra me incomodou, mas nada que estragasse o meu reveillon com minha linda mulher, que mais uma vez me dava provas de sua superioridade de caráter, exibindo toda sua polidez com Suzana que por pouco não estragou nosso relacionamento.

Esse encontro quase surreal terminou com a troca de nossos contatos telefônicos em Boston, Suzana ainda teve a ousadia de nos convidar para fazer um programa juntas, os dois casais, assistir alguma peça na Brodway... A cara de espanto da namorada dela foi a melhor! Tive que me desviar das balas certeiras que ela disparou com o olhar...

Seguimos para o hotel rindo da situação, para meu alívio Camila percebeu que não existia mais entre mim e Suzana aquela energia que tomava a atmosfera quando nos reencontramos anteriormente, talvez por isso ela tenha agido tão despreocupadamente diante dela.

Fizemos amor até a exaustão, ainda movidas pelo romantismo da cidade, era incrível as facetas que minha mulher mostrava debaixo dos lençóis... Dominava meu corpo de todas as formas: com suavidade, com paixão, com autoridade, com sutileza...muitas vezes me fazia gozar sem sequer me penetrar, ela conhecia as reações dos meus sentidos como ninguém, e talvez por isso, nenhuma vez que fazíamos amor era rotineiro...

Voltamos para Boston no dia 2 de janeiro, minha primeira orientação estava marcada para o dia 3, uma quarta-feira. Nossas coisas já estavam no nosso apartamento, não trouxemos muitas roupas do Brasil visto que precisaríamos de muitas roupas que não usamos em nossa terra, assim não demorou muito arrumarmos tudo no closet apertado de nosso quarto.

À noite, tratamos de encher nossa dispensa com o máximo de alimentos parecidos com comida de gente que encontramos no supermercado, percebi que sentiríamos muita falta de comida brasileira, especialmente do arroz com feijão, e a varidade de frutas de nossa terrinha.

No dia seguinte, estávamos cedo na universidade, de metrô era bem rápido, gastamos cerca de 20 minutos. Camila me deixou com o Prof. Haris no escritório dele e seguiu para encontrar o Dr.Prescott seu orientador. Apavorei-me com a rigidez do meu orientador, e confesso que me perdi muitas vezes no nosso diálogo, meu inglês não era tão bom quanto eu pensava... Algumas vezes ele se irritava em me repetir algumas coisas, que vontade de correr dali na mesma hora e voltar pro colo de minha mulher, lugar mais seguro do mundo!

Saí da reunião com um calhamaço de artigos científicos, uma lista kilométrica de referências bibliográficas, e um mundo de preocupação nos meus ombros, passei direto para a biblioteca afim de encontrar tudo que aquele aprendiz de ditador me recomendara.

Perdi a hora naquela imensidão de livros, não sabia nem por onde começar a ler, foi me batendo um desespero, uma vontade de chorar...quando senti uma mão no meu ombro, e um beijo na minha testa.

- Pensei que tinha perdido minha mulher aqui, você viu uma loira linda zanzando por aí?

- Ai amor... Me leva pra casa...

- Se minha mulher te escuta você me chamar assim...

Sorri, e beijei o seu rosto, recebendo um afago que dissipava minhas angústias, ela mesmo recolheu tudo na mesa, e me puxou pela mão, me levando pra casa. No trajeto, contei sobre meu pavor com as exigências do Prof. Haris, Camila tratou de me acalmar e disse que me ajudaria em tudo, com a experiência dela isso seria bastante últil.

Os meses que se seguiram foram de estresse, a saudade do Brasil, as exigências do mestrado, o pouco tempo que tínhamos juntas. Emagreci mais de cinco kilos, Camila tinha paciência de Jó comigo, muitas vezes deixava de pesquisar seus trabalhos para me ajudar e me acalmar. Os únicos momentos que eu me sentia inteira, era quando me aninhava nos seus braços, depois de nos amarmos, Camila era muito mais do que uma amante sensacional, ela era meu porto seguro, minha referência de mim mesma.

Vimos o tempo passar, o frio ir indo embora as poucos, estava mais acostumada com os ataques do prof. Haris, fizemos algumas amizades, muito diferentes das que tínhamos no Brasil, mas eram boas companhias para um happy hour, saíamos muito pouco, no máximo jantávamos fora, ou comparecíamos a alguns convites de festas de aniversário de colegas. Camila alcançava como esperado grande sucesso nas pesquisas, junto com o departamento de medicina biofísica e o de informática fez aperfeiçoamentos no neurochip, restando as experiências práticas para avaliar os resultados.

Seis meses se passaram, mais adaptadas a rotina, organizamos melhor nosso tempo e assim pudemos fazer passeios pelo Rio Charles, o Boston Public Garden, sendo uma cidade cercada por água, a enseada sempre oferecia passeios agradáveis, aproveitamos o bom tempo de verão para desfrutar disso. Nunca mencionamos nosso status de casadas, as pessoas nem pareciam interessadas nisso, e além do mais éramos discretas, manifestações de carinho em público até que aconteciam, mas nunca na universidade.

Fomos convidadas pelo Dr.Prescott para assistirmos em uma espécie de pub as finais do campeonato de beisebol, ele era um fanático pelo Red Sox, assim, fechou o tal bar para assistir com torcedores esse grande jogo, para não desapontá-lo topamos, apesar de que eu, mesmo com longas explicações de Camila, não entendia como funcionava esse esporte. Ficamos perto do telão, no balcão, me detinha mais em beber do que naquela correria por bases do campo, ignorando a empolgação dos torcedores, Camila ria do meu completo desinteresse. O chato do prof.Haris nos observava de longe, sentado em uma mesa, sujeito antipático, ainda não conseguia ficar a vontade com ele.

-Amor, vou ao banheiro que ir comigo? – mordi os lábios, já meio alta pelo alcóol, dando a entender minha intenção em ficar a sós com minha mulher.

- Agora amor? Espera esse lance... – Camila fixava os olhos no telão, como todo o resto do bar, me sentia na final do brasileirão de futebol.

-E’ agora... Já...

- Mas amor...

-Camila Drumond, você vai me trocar por um bando de mané com o pau na mão batendo em uma bola e correndo atrás dela?

Camila arregalou os olhos, mas não conteve um sorriso divertido ao me ouvir proferir aquelas palavras com um jeito profundamente irritado.

- Ai que meda!

- Ah vai catar coquinho!

Saí do balcão indignada em direção ao banheiro, para minha surpresa, Camila não me seguiu, o que me deixou ainda mais irritada. Resmungava sozinha em português enquanto lavava minhas mãos, quando percebi braços me puxando para trás, não eram os de Camila, eu conhecia o cheiro, o toque, a aproximação dela. Virei-me imediatamente, deparando-me com o rosto vermelho e suado do prof. Haris esfregando-se em mim, me provocando náuseas, uma repulsa gigantesca. Empurrei-o com todas as minhas forças contra a pia, fazendo menção de correr dali, mas ele puxou-me com violência pelos cabelos, forçando minha entrada em uma das cabines, quando tentei gritar pedindo socorro, ele me sufocou com sua mão, sentia aquele membro ereto entre minhas pernas me despertando um desejo quase assassino de decepá-lo e jogá-lo na descarga ali mesmo.

Notei ele baixar suas calças com uma das mãos, já que com a outra sufocava minha boca, esperneei, lutei com meus braços e pernas para empurrá-lo, mas era inútil, queria ao menos fazer algum barulho suspeito, mas ele apertava sucessivas vezes a descarga escondendo os pequenos barulhos que eu conseguia fazer. Fui tomada de desespero, as lágrimas começaram a rolar por minha face, o ar começou a faltar, ficando assim mais vulnerável, ele sorria sadicamente levantando meu vestido, não podia acreditar no que estava me acontecendo, queria matá-lo.

Ouvi passos se aproximando no banheiro:

-Isa? Meu amor, você está aí?

Retirei forças não sei de onde, bati minha testa na testa daquele ser desprezível, o que fez ele soltar a mão da minha boca e gritei:

- Socorroooo

Uma forte batida na porta da cabine rompeu a tranca, Camila mesmo apavorada por me ver com o vestido levantado, rosto marcado pela violência dele, sendo eu muito branca, e aquele homem de calçar baixas ofegante, reuniu suas forças e o puxou pela camisa, arremessando-o contra a pia, como estava de calças baixas, estava sem equilíbrio, bateu com a cabeça caindo inconsciente imediatamente.

Nem olhou para aquele homem asqueroso caído no chão, correu para me abraçar, eu estava em estado de choque, tremia, respiração curta, estava apavorada, Camila também estava, mas me abraçava tão forte que chegava a doer meus ossos...

- Eu tô aqui meu amor, já passou, perdão por ter demorado tanto, sou uma idiota!

Logicamente eu não culpava Camila, mas não conseguia falar algo para minimizar sua culpa, agora olhava para prof.Haris, desamaido no chão do banheiro, quando alguém entrou se assustando com a cena. Não sabia o que fazer, ou dizer, a mulher que entrou deu meia volta, retornando com alguém da gerência do bar. Mais calma, Camila tomou a frente da situação explicando o que houve, pedindo que chamassem o Dr. Prescott, nesse momento, prof. Haris se mexia, fazendo menção de levantar-se.

Em minutos aquela situação fugiu de nosso controle, o gerente do bar chamou algum médico para examinar prof. Haris, nem nos oferecemos, o Dr. Prescott estava transtornado, xingando com palavras de baixo calão o colega, que estava tonto, enquanto eu me mantinha em estado de choque abraçada a Camila.

Tudo que eu queria era sair daquele lugar, felizmente não aconteceu nada grave com o asqueroso Haris, não porque eu ligasse se ele estava vivo ou morto, mas por causa das implicações disso para mim e Camila. Dr.Prescott não nos deixou voltar de táxi, foi pessoalmente nos deixar, ele tratava Camila como um pai cuidadoso, sua mulher sempre nos mandava alguma torta, era nossa referência de família em Boston.

Naquela noite, Dr.Prescott decidiu que brigaria no departamento para também ser meu orientador, apesar das regras da universidade, ele estava certo de que com seu prestígio seria atendido, dadas as circunstâncias, orientou-me a formalizar uma queixa, o que Camila concordou, mas eu não tinha disposição para pensar em nada, só queria apagar da minha memória a imagem daquele homem me tomando a força, seu cheiro e expressões nojentas, sentia uma ânsia de vômito cada vez que relembrava a voz dele ofegante perto de mim.

Ao chegarmos ao apartamento, Camila me despiu com delicadeza, eu só chorava sem conseguir dizer uma só palavra, colocou dentro da banheira, e banhou-me como se quisesse tirar do meu corpo qualquer marca desse trauma, sentia o amor de Camila no gesto de passar aquela esponja suave por minha pele.

Deixou-me descansando na banheira e preparou-me um chá calmante, suspeito que colocou alguma medicação sonífera nele, já que não lembro de nada mais, do que ela vestindo meu roupão me levando pra nossa cama, envolvendo-me em seus braços e assim acordei com o dia claro só, e pra começar meu dia, contemplei a face tranquila de minha heroína, meu amor, minha mulher, minha vida, desfrutando o sono dos justos.

-Bom dia meu amor, dormiu bem?

-Hurrum...você me deu alguma coisa pra dormir?

-Desculpe-me amor, mas sabia que você não ia querer se eu te desse, coloquei no chá...você estava precisando.

- Sim...

Caíram facilmente pelo meu rosto algumas lágrimas, Camila puxou-me para perto do seu corpo me afagando.

- Esse homem vai pagar por isso meu amor. –Senti nas palavras de Camila um ódio visceral.

- Por favor Cami, só quero esquecer isso, não quero nunca mais vê-lo, e você vai me prometer não fazer nenhuma besteira.

- Isa! A gente vai denunciá-lo no departamento, não vou sossegar até que ele seja afastado das funções dele, e ter seu nome enxovalhado na comunidade acadêmica.

- Cami...isso só vai me fazer lembrar dessa noite que quero esquecer...

- Então você vai deixar que ele faça isso com outras orientandas?

A pergunta de Camila me deixou pensativa, não podia mesmo deixar um ato desses ficar impune. Na segunda-feira, para minha surpresa, Dr.Prescott já havia se adiantado, falando pessoalmente com a reitoria de pós-graduação, e o chefe de departamento que designou minha pesquisa a ele como fora solicitado. Para abrir um processo institucional minha queixa era necessária, assim, apresentei-me ao departamento junto com Camila, minha principal testemunha, para cumprir minha obrigação moral.

Pela reação do chefe e diretor do departamento, o meu caso não fora o primeiro, mas as investigações nunca avançaram porque as orientandas dele não prestavam queixas, suspeita-se que ele as chantegeavam, ameaçando acabar com o financiamento da pesquisa. Fomos alertadas que poderíamos ser alvo de perseguição dele, que seria imediatamente afastado de suas funções, mas Camila não demonstrava qualquer medo, estava segura, e só por isso me senti convicta a prosseguir com esse processo.

Eu, Camila e Dr.Prescott passamos a trabalhar juntos, assistia aulas de manhã e de tarde ficávamos sempre no laboratório ou biblioteca, muitas vezes só eu e Camila, e assim, nossa pesquisa fluiu tranquilamente. Acordava a noite as vezes com pesadelos, mas sempre era acalmada pela voz de minha mulher perto de mim:

- Estou aqui pra te proteger meu amor, foi só um sonho ruim...

Suzana não entrou em contato conosco, o que pra mim foi bom, não a queria em nossas vidas de novo, fomos informados que Dr.Bruno realizou a inserção do neurochip dela em Campinas, portanto não precisou dos serviços de Camila mais uma vez. Passamos cerca de dois meses sem ver o Haris no Campus, conseguimos o testemunho da moça no bar que nos encontrou, assim ficou ainda mais fácil.

Em outubro, Haris surgiu para importunar, cercava-nos pelos corredores, pelos jardins a uma certa distância como se quisesse impor terrorismo, fomos informadas pelo departamento que ele estava prestes a ser exonerado, mas não podia proibir a entrada dele se ele não se aproximasse de nós, ou nos desacatasse de alguma forma. Em uma tarde, esperava Camila no laboratório, e me preocupava com sua demora, ela geralmente chegava antes de mim, um atraso de meia hora foi suficiente para eu sair pelo campus a sua procura.


Não estava na biblioteca, nem no refeitório, segui pelos jardins ligando para seu celular, não tinha resposta, só chamava, senti meu peito sendo comprimido por uma angústia massacrante, apressei meus passos insistindo em ligar, perto de uma escadaria que dava acesso a um jardim no subsolo ouvi a campainha do celular de Camila, saí seguindo o som pulando os degraus, sabia que algo ruim estava acontecendo.

Pude ouvir uma voz masculina ofegante dizendo em inglês:

- Vou te fazer mulher de verdade sua sapa vagabunda...ensinar como se trata um homem!

Acelerei ainda mais meus passos, e vi Camila estendida no chão, inconsciente, com manchas de sangue pelo rosto, braços, aquele homem asqueroso sobre ela, mexendo no seu membro, buscando despir a parte de baixo da roupa de minha mulher, não tive dúvidas, peguei um balde de zinco que estava no jardim, e acertei-o por trás, ele caiu, e partiu em minha direção em seguida, olhei rapidamente pro lado e uma tesoura de polda estava em cima de uma estátua decorativa, lancei mão dela apontando contra ele, ficando perto de Camila ainda inconsciente:

- Venha, se aproxime de mim ou de minha mulher que eu te mostro como um verme como você deve ser tratado!

Ele ria como se duvidasse que eu teria coragem de deferir qualquer coisa contra ele, e partiu em minha direção, cortei seu braço e seu rosto, provocando um grito alto dele:

- O próximo corte será nesse seu pênis doente e ridículo, ele vai virar comida de cachorro!

Assustou-se com a ameaça verdadeira nas minhas palavras, mas ainda tentou tomar de mim a tesoura, foi quando o jardineiro do campus de aproximou empurrando-o para o canto, ficando entre ele e eu que protegia Camila, machucada aos meus pés.

Haris tentou se levantar, mas o jardineiro o segurou com força, pediu que eu chamasse um segurança, mas não consegui, precisava saber de Camila, precisava ficar ali com ela, nem sabia que ferimentos ela fora alvejada, liguei para o Dr. Prescott enquanto examinava Camila superficialmente, e pra meu alívio senti sua respiração, fraca, mas existia. Em menos de dois minutos o segurança do Campus se apresentou, algemando Haris e o levando dali, Prescott chegou depois, informando que a ambulância já estava a caminho.

Pela minha avaliação, sabia que o estado de Camila era grave, possivelmente algum trauma crânio-encefálico, não tinha reflexo pupilar, tentava me manter calma para ajudá-la, mas toda minha medicina parecia nada valer ali, fui apenas a mulher dela, desperada, suplicando a Deus que não a tirasse de mim, segurando sua mão, hora eu falava com ela, hora eu rezava:

- Senhor não me tire meu amor...C ami fica comigo minha vida, não me deixe...

A ambulância chegara e os paramédicos foram de uma rapidez cinematográfica, começaram ali mesmo o atendimento. Eu não saía de perto, tentando obter alguma boa notícia sobre o estado de Camila, como se eu não soubesse da sua clínica atual. Acompanhei Camila na ambulância, continuando na minhas orações, Prescott seguiu de carro, em menos de dez minutos estávamos no hospital.

Não permitiram minha entrada nas salas de exames, como médica eu sabia que uma pessoa emocionada perto de um ente querido em risco de morte só atrapalhava o atendimento, mas não queria sair do lado de Camila um só instante, sentia que ela precisava ouvir minha voz a chamando de volta à consciência.


Prescott chegou e me segurou no corredor, dizendo-me palavras confortadoras, mas eu sequer raciocinava, meu pensamento era só Camila, uma hora se passou, mas para mim pareceu um dia, e então o médico da urgência procurou por um familiar de Senhorita Drummond:

- Sou sua mulher doutor, pode falar, sou médica, então não me poupe detalhes.

O médico fez cara de espanto, mas reconheceu Prescott, neuro-cientista de renome, não quis questionar a veracidade de meu parentesco com Camila, e por insistência de Prescott que se apresentou como amigo, ele relatou:

- A Senhorita Drumond sofreu alguns traumas no abdome, tórax, escoriações, mas nada grave, nossa demora se deu porque estávamos realizando exames de imagem que confirmaram um traumatismo craniano moderado. Ela não está em coma, mas ainda está inconsciente, a boa notícia é que não há hemorragia, e ela respira sozinha.

- Posso vê-la doutor? – estava ansiosa, precisava eu mesma averiguar tudo.

- Siga-me por favor.

Nunca imaginei ver meu amor naquele estado, seu rosto que eu tantas vezes acompanhei dormir sereno, estava machucado, inchado ao redor do olho esquerdo, seus lábios cortados, no nariz, uma cânula de oxigênio, queria eu estar no lugar dela, me rasgava a alma ver meu amor naquele leito. Aproximei-me do seu ouvido contendo os soluços do meu choro, murmurando:

- Minha vida, estou aqui do seu lado, fica comigo...

Prescott ficou ao meu lado na cama puxando meu ombro:

- Ei, vai ficar tudo bem minha querida, vamos deixá-la descansar, você sabe que ela pode demorar a acordar, venha comigo, vamos tomar um café.

- Não, desculpe-me, mas só saio de perto dela quando a ver despertar, nem que demore dias, eu ficarei aqui, quero ser a primeira imagem que ela verá quando estiver consciente.

Ele sabia que não adiantava insistir, ninguém me tiraria dali, pensei em ligar para a nossa família e contar o que houve, mas o que eu diria? Nem sabia o que aquele verme tinha lhe feito, o estado de Camila era estável, assim, poderia esperar um pouco para dar a notícia no Brasil.

Minha poltrona estava colada ao leito de Camila, quando de madrugada, senti um movimento na sua mão, a qual eu segurava, ela estava despertando:

- Cami, meu amor, fala comigo...

- Onde estou?

- Em um hospital, você sofreu um traumatismo craniano, mas vai ficar tudo bem meu amor.

- Mas...como vim parar aqui? E..quem é você?

Por segundos fiquei chocada com a pergunta, mas eu sabia que um traumatismo desse tipo podia causar confusão mental, déficit de memória, pra não citar outras seqüelas mais graves. Tentei não transparecer desespero, e respondi compassadamente, até para me acalmar junto.

- Camila, sou eu, Isabela, sua mulher, você foi agredida por um ex-professor meu, está inconsciente desde ontem.

- Mulher? Você é minha mulher? Mas como assim?


Nossa... Era tudo que eu precisava, minha mulher perder a memória homossexual...voltar a consciência como hetero, um turbilhão de pensamentos tomaram conta de mim, respirei fundo, e continuei:

- Cami, descanse, vou chamar o plantonista para lhe avaliar.

- Mas você vai me deixar aqui sozinha?

Senti aquela mulher que sempre foi para mim, referencial de segurança, frágil, carente, não podia mesmo deixá-la sozinha, chamei a enfermeira pela campainha para informar sobre o despertar de Camila, e voltei-me a sentar do seu lado no leito.

- Não vou te deixar sozinha nunca, estou aqui do seu lado, sente alguma dor?

- Um pouco, nas minhas costas e cabeça.

- Você tem alguns hematomas nas costas, por isso.

Como um gesto impulsivo, segurei sua mão, e acariciei seus cabelos, Camila franziu a testa, me olhava estranho, afastou a mão, e mesmo sabendo que ela não estava em seu estado normal, aquilo me doeu profundamente. Durante o tempo que ficamos sozinhas, ela parava seu olhar no meu algumas vezes, mas desviava quando notava que eu percebia sua atitude. O plantonista chegou e começou a fazer perguntas básicas a Camila, mas ela não parecia entender o inglês, percebendo isso, traduzi tudo o que ele dizia e também o que ela perguntava.

Exatamente como supus, o déficit de memória era parcial, e era também temporário, poderia durar horas, dias, meses, era necessário aguardar. O mais importante é que nenhuma seqüela grave havia sido diagnosticada. Camila foi sedada mais uma vez, e eu continuei ali na poltrona do hospital ao lado dela. Logo cedo, Meredith, mulher de Prescott, trouxe roupas limpas e alguns artigos de higiene, como deixei minha bolsa no laboratório, seu marido tratou de providenciar isso.

Camila também não lembrou de Meredith, mas aquela senhora era tão amável que em pouco tempo ela já aceitava os carinhos dela, ao contrário dos meus que ela parecia sentir medo.

Permanecemos no hospital por alguns dias, o quadro clínico de Camila evoluía muito bem, tinha alguns flashes de memória, e foi aí que me pediu que ligasse para sua mãe, eu, já havia falado com as irmãs dela e com tia Sílvia sobre o que tinha acontecido, assim, Carmem estava preparada para falar com a filha sem se assustar. Deixei-a no quarto sozinha para ficar a vontade falando com sua mãe, já que eu era para ela uma estranha, mas não contive minha curiosidade, deixei a porta aberta e escutei a conversa da porta.

- Mãe, oi, estou bem sim...não, ainda não sei quando recebo alta, mas nem estou com pressa, quando sair devo ir pra casa com a Isabela, e eu nem a conheço mãe, ela disse que somos casadas! Mãe como posso ser casada com uma mulher? E’ estranho ela me conhece em tudo, e eu não sei nada dela, ela é linda, cuida de mim, não saiu daqui por mais de meia hora...não mãe não estou sendo mal educada não, mas quando ela toca em mim sinto uma coisa diferente, é como se fosse natural, estou confusa mãe...está bem, vou me acalmar sim, beijos, te amo.

Esperei alguns segundos e entrei no quarto:

- E aí? Está tudo bem no Brasil? Preocupados com você não é?

- Nem tanto, minha mãe disse que você já tranquilizou a todos.

- Liguei para eles essa semana, tenho matido a todos informados.

- Minha mãe falou que...nos amamos.

- Sim Camila, a gente se ama, somos muito felizes juntas.

- Mas eu sempre...fui...

- Lésbica?

- E’.

- Sempre não sei dizer, sei que você teve namorados, mas faz muito tempo que só teve namoradas, até me conhecer, namoramos, noivamos e casamos, em dezembro completamos 1 ano de casadas.

Camila parecia curiosa sobre sua própria vida, me perguntava detalhes sobre como nos conhecemos, sobre nossa pesquisa, sobre isso ela lembrava quase tudo, reconheceu Prescott quando ele a visitou no terceiro dia de internamento, isso nos deu muitas esperanças. Tentava não pressioná-la, trabalhava em minha pesquisa com o notebook no colo, e ela intervia algumas vezes, indagando sobre nossos casos clínicos, parecia recordar de alguns aleatoramente. As memórias se confundiam com o que eu lhe contava, ela não sabia se tinha lembrado disso, ou se tinha decorado desde que lhe revelei. Mostrei as fotos de nosso casamento, e lembrando do que ela falou para mãe sobre o que sentia quando a tocava, acariciei seus cabelos tenramente, e dessa vez ela permitiu.

Depois de uma semana de internamento, Camila recebeu alta, Prescott e Meredith nos levou para nosso apartamento, devidamente arrumado para nosso reingresso, nosso orientador aproveitou para informar que Haris fora expulso da universidade e se encontrava preso acusado por tentativa homicídio e estupro. Desse episódio Camila tinha flashes de memória, chegando a ter pesadelos durante as madrugadas.

Algumas coisas no apartamento pareciam familiares para ela, por exemplo, sabia onde encontrar algumas peças na cozinha, recordou de histórias e piadas sobre o tamanho de nossa cozinha, mas ainda ficava tímida na minha presença, desviava o olhar quando eu o percebia, sentia sua pele arrepiar quando encostava na minha acidentalmente. Ela explorava o ambiente em busca de lembranças, olhava nossas fotos, inclusive do nosso casamento, em um porta-retrato na cabeceira de nossa cama. Preparei-lhe o jantar, o que a fez lembrar:

- Você aprendeu a cozinhar?

Sorri e respondi:

- Nem um traumatismo craniano te faz esquecer que eu não sei cozinhar?

Rimos juntas, e assim ela parecia se acostumar com minha presença. Eu já estava disposta a conquistar de novo aquela mulher pra mim, se ela não lembrasse de nosso passado, lhe daria um presente inesquecível.

Sociedade Secreta Lesbos: Capítulo 29

Capítulo 29



Dentro da mansão, Laurel vendou os olhos de Amy, e Esther a conduziu pela mão até o quintal. Caía a noite, deixando o cenário perfeito para a realização do ritual de aniversário da escolhida. Apenas algumas luzes permaneceram ligadas, as Gama-Tau formaram um círculo em volta de Amy e Esther.

A presidente da Gama-Tau sentou a loirinha em um banco alto, retirou suas sandálias, enquanto uma veterana trazia uma jarra transparente com um óleo perfumado.

Esther derramou o óleo nos pés de Amy, massageando lentamente entre os dedos, subiu com as mãos pelas pernas da loirinha, deslizando com requintes de sensualidade por entre as pernas de Amy, levantando-a do banco, continuando a passear com suas mãos embebidas no mesmo óleo pelos braços e ombros da escolhida.

Para as Gama-Tau, aquele óleo representava uma unção, um símbolo dos bons desejos que todas as irmãs da fraternidade desejavam à aniversariante.

As irmãs continuavam em círculo, acreditavam que assim as boas energias estavam sendo projetadas por todas. Enquanto Amy permanecia de olhos vendados, outra veterana passeava com ela pelo círculo, parando em frente a cada uma das Gama-Tau, que soprava na boca da aniversariante um trago de uma fumaça, resultante de uma infusão de ervas, e depois proferiam palavras, que segundo o ritual, atrairia bons fluidos, como os elementos da natureza e os dons do ser humano, como: bondade, amor, esperança, alegria, paz, prosperidade.

Depois do percurso pelo círculo, Amy foi entregue mais uma vez nas mãos da presidente da Gama-Tau, que tragou profundamente a fumaça, soprou delicadamente na boca da loirinha e disse: LUZ.

As luzes se acenderam, Esther tirou a venda dos olhos de Amy, e sorriu para ela, e falou:

-- Que nunca falte luz aos seus olhos para que você sempre enxergue os dons que estão na sua vida, e saiba onde eles precisam ser usados. Que a luz dos seus olhos reflita o que você tem de mais puro no seu coração e que este tenha sempre lugar para a fraternidade que está formando uma grande mulher.

Ditas essas palavras, Esther sorriu de forma apaixonada para sua escolhida, que a essa altura já apresentava seus olhos verdes iluminados e marejados, retribuiu o sorriso. Esther, apenas com uma piscadela, autorizou Nicole, a DJ da noite, a liberar o som. A veterana não tardou em seguir a ordem da presidente, e a festa começou ao som de Lady Gaga – Just Dance.

Uma pequena pista de dança foi improvisada, mas o atrativo dela ainda estava por surgir... A piscina estava coberta de balões de cor metálica, e mais ao fundo, um ofurô de madeira foi colocado, tudo muito caprichado, para o encantamento de Amy que aceitou sem pestanejar a bebida que Ellen veio lhe servir, virando o copo de uma única vez para a surpresa de Esther, que cochichava algo com Lauren, e logo se aproximou de sua escolhida:

-- Eeeei... Calma aí, loirinha, o mundo não vai se acabar hoje e tem muita festa pela frente... Se você beber assim, não vai aproveitar sua própria festa! Especialmente porque você nem sabe o que a Ellen colocou aqui nessa bebida, não é, Ellen?

Ellen fez cara de poucos amigos ao ouvir a observação implícita da morena e replicou:

-- São drinks típicos de nossas festas, Esther, por que você mesma não prova?

-- Claro que vou provar, e saberei se existe algum ingrediente secreto na bebida de minha escolhida...

Esther encarou Ellen sem se intimidar com as faíscas que saiam dos olhos da moça, até Amy interferir:

-- Minha linda, sem estresse... Faço o que você quiser nessa noite... Bebo o que você quiser também, obrigada Ellen, me dá mais?

Fez bico de criança mimada entregando o copo nas mãos de Ellen, em seguida, beijou Esther vorazmente, sem reservas, pela primeira vez diante de todas as irmãs, de tal maneira que a morena não teve outra opção, que não fosse retribuir aquele beijo.

Obviamente os olhares de todas se voltaram para o casal, que parecia não enxergar mais ninguém. Seguiram trocando beijos na pista de dança e ali dançaram juntas, roçando seus corpos. Esther movimentava suas curvas sensualmente, enquanto abraçava Amy por trás, cheirava sua nuca e pescoço, às vezes mordia, por outras lambia, mas cobriu a aniversariante de carícias calientes. Tal atitude dava à loirinha uma expressão de felicidade e prazer óbvia.

A entrega do novo casal parecia inspirar as demais, à medida que a festa avançava, e as bebidas regavam a animação, a desinibição como esperada em todas as festas íntimas da Gama-Tau tomou de conta da pista de dança, do ofurô... Os flertes deram lugar a amassos escandalosos, beijos triplos, peças de roupas sendo perdidas pelo jardim... E aí era chegada a hora de encher a pista de dança de espuma e sabão.

O festival de escorregões, com as meninas agarradas uma nas outras, sugeriam luta livre de mulheres, com uma pitada generosa de sensualidade, uma vez que as roupas molhadas, além de evidenciarem as curvas das meninas quentes de Prescott, precipitavam uma transparência semelhante à nudez. Algumas mal conseguiam ficar de pé por 10 segundos, não só porque sempre tinha alguma outra menina para derrubar, mas porque a maioria já estava suficientemente alcoolizada.

Amy ao ver a farra que estava instalada, tirou os saltos e saiu puxando Esther pela mão, escorregaram pela pista, e rolaram juntas pela espuma. Toda a produção da aniversariante foi por “espuma a baixo”, a morena soltou os cabelos da moça, e ali na pista trocaram beijos e mordiscadas nos lábios, em meio a sorrisos e gargalhadas. Envolveram as demais meninas que estavam rolando como elas na pista, criando um clima de descontração absoluta.

As outras meninas que participavam apenas com platéia tiveram que se juntar às demais que estavam na pista. Amy, Esther, Laurel e Rachel, saíram de lá e foram puxando uma a uma para o festival de cai, cai no sabão. Até a própria DJ Nicole largou a mesa de som e se entregou à farra, arrastando todas para um pulo coletivo na piscina, que a essa altura tinha poucas bolas decorando-a.

Algumas das meninas que já foram alvo da pegação de Esther olhavam demonstrando inveja de Amy. A presidente da Gama-Tau expressava um sentimento inédito, isso alegrava particularmente Rachel, que torcia pela amiga abandonar de vez os planos de vingança contra Sandra Anderson, usando Amy para isso.

Na piscina a pegação continuou, até troca de casais aconteceu, as novatas especialmente eram as mais empolgadas. As veteranas se aproveitaram do estado alcoólico das meninas e em grupo promoviam um círculo de beijos no qual as novatas beijavam várias veteranas, entretanto, a novata que agradasse mais uma delas, esta, fazia um sinal para que as demais a tirasse do círculo, simbolizando que aquela novata fora eleita por ela para ser sua naquela noite.

Amy já trocava as palavras, e totalmente desinibida, foi tirando seu vestido, ficando na piscina apenas de lingerie, deixando Esther enlouquecida de desejo. Aos poucos, as outras meninas foram seguindo o exemplo da aniversariante, em poucos minutos, a festa se transformou num desfile de peças íntimas. A própria presidente teve seu vestido retirado pela sua escolhida, e ali mesmo na piscina, deixaram o desejo falar mais alto, se entregaram em beijos quentes que despertavam gemidos...

Ellen sorria maliciosa, se deliciando por ver Amy naqueles trajes, imaginando como seria tocar aquele corpo perfeito. Cheia de tesão por essa visão, puxou uma das veteranas, a encostou contra a parede da bica e a possuiu ali mesmo, sem reservas. No seu pensamento era Amy que ela estava penetrando. Sem dúvida, a bebida que ela mesma preparou, contribuía para acessos de alucinações que estavam guardadas no íntimo de cada menina, inclusive dela mesma...

Esse tipo de bebida era comum nas festas íntimas da Gama-Tau, eram receitas secretas próprias dos rituais dessa fraternidade. Tal fato dava às festas da Gama-Tau um diferencial na animação.

Esther saiu com Amy da piscina, levando-a para o ofurô. Nesse momento, as outras três meninas que o ocupavam saíram para dar espaço ao casal. Ali, Amy encaixou-se entre as pernas de Esther, ficando por cima dela, lambendo o pescoço da morena que descia com sua mão por dentro do lingerie da loirinha. Primeiro massageando seus seios firmes eriçados, até sentir o arrepio do corpo da aniversariante, que se sentou com as pernas abertas no colo da morena deixando seu corpo até a altura do pescoço submerso na água, dando passagem para Esther penetrá-la lentamente em movimentos vagarosos, mais fortes.

A noite ainda prometia para as meninas quentes de Prescott. E nela aconteceu de tudo, especialmente porque as veteranas sabiam que muito pouco ia ser lembrado por elas após o efeito da bebida passar...

Os quartos da mansão foram cenários de ménage a trois, de trocas de casais, de sexo bizarro, ou de simplesmente encontros mais românticos, como no caso de Amy e Esther, que depois de experimentarem o gozo no ofurô, subiram para o quarto de Esther, a morena ainda precisava entregar o presente da aniversariante.