sexta-feira, 6 de maio de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - VIGÉSIMO QUARTO CAPÍTULO

Capítulo 24



Na mansão Gama-Tau, Amy se remexia na cama buscando alguma tranquilidade para dormir, mas era impossível, com a enxurrada de pensamentos acerca do destino de Esther naquela noite. Ficou de pé diante da janela de seu quarto, na ânsia de escutar o ronco da motocicleta de Esther enfim chegando à mansão. A espera deu lugar ao acelerar do coração quando a morena estacionou sua moto e entrou apressada na sede da fraternidade.

Amy seguiu na ansiedade, andando de um lado pro outro no quarto, na esperança que Esther a procurasse em seu quarto. Entretanto, a morena tentava “lavar a alma” no seu banho demorado. A água morna do chuveiro se misturava ao sal de suas lágrimas abundantes, sentia seu corpo doer, sua pele ardia dos arranhões nas costas, braços. No entanto, a dor maior era no seu amor próprio, na sua auto-estima, no seu interior. Sentia-se imunda, ferida de morte, e pra sanar tal sujeira, pra minimizar tal martírio, não bastava apenas uma sessão de exorcismo naquela água...

Não suportando a ansiedade Amy subiu até o andar do quarto de Esther, bateu na porta, não obteve resposta, entrou mesmo assim, não resistiu ao notar a porta aberta do banheiro, e aquela cena fez Amy sentir uma imensa vontade de colocar a forte e destemida presidente da Gama-Tau no colo como criança: Esther estava com os braços cruzados encolhida no canto do box, olhando fixamente para a água que caía, um olhar vazio, as lágrimas que caíam eram silenciosas. Sem pensar, Amy invadiu o box, com uma toalha na mão, desligou o chuveiro e agachou-se agasalhando Esther com a toalha, apertando-a num abraço confortador, cheio de cuidado, carinho, proteção.

Esther se deixou ser abraçada, a carícia de Amy enxugando as lágrimas do seu rosto e recostando sua cabeça no seu peito, foi como um bálsamo praquele momento de profunda tristeza, que era tanta, que sequer conseguia exteriorizar. Aos poucos, Amy conseguiu levantá-la, vestiu-a em um roupão, e a sentou na cama. Com delicadeza, secou o resto do seu corpo, cabelos. Tinha muitas perguntas a fazer, mas sua preocupação era somente estar do lado daquela mulher que lhe despertava tantos sentimentos diversos, tão diversos quanto as faces que Esther demonstrava, mantendo o mistério sobre sua real personalidade.

-- Quer comer alguma coisa, Esther?

A morena apenas sacudiu a cabeça negativamente, e deitou-se no colo de Amy, que não demorou a afagar seus cabelos ainda úmidos. Notou o ferimento no seu braço, e as interrogações só aumentaram em sua cabeça. Entretanto, sabia que não era momento de indagações, Esther estava frágil, e pela primeira vez, expondo tal fragilidade para ela.

Num tom tímido, Esther finalmente falou:

-- Você poderia dormir aqui, comigo hoje?

--Claro que sim...

Amy deitou-se então ao lado da morena, que se aninhou em seus braços, sob os afagos e carícias, Esther adormeceu, enquanto Amy permaneceu acordada presa ao mistério que ela estava disposta a desvendar por amor.

Acordar nos braços de Amy deu a Esther uma sensação inédita de bem estar. O cheiro da loirinha, a maciez de sua pele e seu semblante delicado, tranquilo, transmitia paz para Esther, sentimento que ela desconhecia. Por alguns instantes, ignorou que em breve perderia a candura de Amy, quando enfim desse continuidade ao seu plano de vingança. Uma coisa era certa, Amy estava apaixonada por ela, exatamente como ela queria a princípio, para que assim ficasse mais fácil executar seus planos... Entretanto, ela não esperava também se apaixonar. Tal fato transformou o momento o qual ela se preparara toda vida numa adaga afiada, que ia lhe ferir profundamente a alma.

A contemplação de Esther parecia ter despertado o sono de Amy, que acordou com um sorriso sincero nos lábios para a morena:

-- Bom dia, minha linda...

Aproximou-se da boca de Esther, depositando um beijo suave, o qual a morena retribuiu tímida.

-- Bom dia... Temos que nos apressar, temos aula daqui a pouco.

-- Você está bem? Ontem estava um tanto quanto... Abalada...

-- Sim, estou... Não se preocupe, já passou. Obrigada por me fazer companhia.

--Não precisa agradecer... Bem, vou me arrumar. Te encontro lá em baixo pra tomarmos café?

Esther sorriu e balançou a cabeça positivamente, e acompanhou com o olhar Amy saindo de sua cama, exibindo seu baby-doll minúsculo rosa, delicado como ela. Quando estava quase à porta para sair, a loirinha correu de volta para onde Esther estava, e deu-lhe mais um beijo, dessa vez carregado de carinho:

-- Quase me esqueci... -- sorriu. -- Até daqui a pouco, linda.

O dia reservava momentos de tensão para a presidente da Gama-Tau. A reunião do conselho da universidade aguardava os resultados das atividades realizadas pela fraternidade, dessa forma, o encontro com Michelle Roberts seria inevitável.

Rachel, como tesoureira da fraternidade, acompanhou a amiga, que estava visivelmente incomodada pelo fato de encontrar tão cedo Michelle, que lhe fizera ameaça óbvia na noite anterior. Todos os representantes de fraternidade já estavam no gabinete da reitoria sentados em volta de uma grande mesa de reuniões, aguardando apenas a chegada de alguns membros do conselho, dentre eles, a Sra. Roberts.

Como de costume, a Sra. Roberts fez sua entrada triunfal, não retirou o óculos de sol por nenhum momento. Sentou-se à cabeceira da mesa, e apenas fez sinal para que o vice-reitor desse início a reunião.

Todos os representantes apresentaram seus balancetes, relatórios, sem atrair muita atenção da poderosa Michelle. Quando enfim Esther fez uso da palavra, a Sra. Roberts retirou seus óculos de sol e encarou fixamente a morena enquanto esta tentava não demonstrar o quanto estava intimidada com a postura de Michelle, que roçava na boca a perna dos óculos sem se distrair do seu foco: Esther.

Ao final da exposição de Esther, que não ousou olhar uma vez sequer para Michele, a empáfia personificada tomou a palavra do vice-reitor, que se detinha a elogiar os trabalhos das fraternidades.

-- A Gama-Tau teve um desempenho tímido, entretanto, considerando os inúmeros doadores em potencial naquele baile. Penso que não souberam se organizar para atingir o objetivo principal. Alguma coisa a justificar esse fiasco, Esther Gonzalez?

Esther engoliu seco, mexeu nos papéis que continham os balancetes, mas nada muito concatenado surgia, até Rachel interferir:

-- Tenho certeza que conseguimos parceiros importantes para o orfanato, Sra.Roberts.

Com isso, Rachel empurrou para o lado de Esther uma lista de grandes nomes do empresariado que compareceram a festa e assinaram um livro de autógrafos, manifestando a intenção de se tornarem doadores assíduos do orfanato adotado pela Gama-Tau. E assim, Esther prosseguiu a defesa do trabalho da fraternidade:

--Michael Connor, Jacob Fines, Victor Madsen, Mattew Carter... São apenas alguns dos nomes que tenho aqui nessa lista, que estiveram no baile de máscaras da Gama-Tau. Todos possíveis doadores honorários. Acho que esse ganho já justifica o sucesso de nosso baile, não acha, Sra. Roberts?

Michelle, sentindo-se pela primeira vez desafiada por Esther, ficou sem palavras por alguns segundos, até retomar sua postura de superioridade, e respondeu:

-- Espero de fato que essa lista que você mencionou tenha mesmo validade e salve a Gama-Tau de arruinar sua reputação de promotora de festas... Porque senão, é hora de outras fraternidades mostrarem que sabem promover festas melhores que as de vocês...

Dizendo isso, Michelle foi se levantando, recolocando os óculos e deixando o gabinete da reitoria, cumprimentando a todos com um seco:

-- Bom dia a todos. Senhor vice-reitor -- fez apenas um sinal com a cabeça e se retirou da sala.

Os demais participantes da reunião foram recolhendo os papéis da mesa e se retirando em seguida, mas o comentário era um só: a insatisfação da Sra. Roberts com o baile da Gama-Tau. Outros presidentes de fraternidades já ambicionavam tirar o reinado de festas da Gama-Tau, título que a fazia a fraternidade mais popular e respeitada da Universidade. Esther e Rachel se entreolhavam com apreensão.

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 25

CAPÍTULO 25: EU SEI QUE E’ PRA SEMPRE ENQUANTO DURAR...


Suzana demonstrava dia-a-dia progressos na fisioterapia, já falava sem dificuldades, quase não se percebia a paralisia facial, exceto quando ela sorria. Certa vez quando almoçamos juntas no meu até então apartamento, surpreendeu-me roubando pedaços de palmito do meu prato com a mão direita. O gesto me transportou para nossos momentos juntas, ela sempre fazia isso para me provocar, nem me dei conta que ela o fez sem dificuldades com a mão direita.

- Espera aí... Faz de novo Su. – falei ansiosa.
Ela repetiu com um sorriso largo nos lábios.

- Suzana! Seus movimentos estão ótimos... Por que você não me disse isso?
Não me contive, como um reflexo pulei no seu pescoço abraçando-a em comemoração ao seu progresso. Quando me dei conta do meu gesto, fui me afastando do seu corpo, sentindo a resistência dela em se afastar dos meus braços. Senti nossos rostos se encostarem no movimento da separação, Suzana já respirava acelerado e eu me controlava para não invadir sua boca tão próxima de mim. Senti uma vibração no meu corpo, não era excitação, era meu celular dentro do bolso da frente de minha calça, abruptamente me desvencilhei e atendi: Camila.

- Oi amor, onde você está?

- Oi meu bem, eu estou... No shopping... Vim comprar umas coisinhas...

Não gostava de mentir para Camila, mas desde que Suzana se tratava em Campinas, fiz isso repetidas vezes tentando evitar novas discussões com Camila.

- Vai demorar por aí ainda?

- Não, já estou indo pra casa, quer jantar o que hoje?

- Ah, qualquer coisa meu amor, mas te liguei para te contar uma novidade, amanhã temos compromisso, a universidade vai realizar uma homenagem póstuma pro papai pela pesquisa dele em botânica, e vou receber o prêmio no lugar dele em uma cerimônia.

- Ai que coisa maravilhosa minha linda... Estarei na primeira fila aplaudindo seu discurso.

Suzana observava minha conversa com Camila, com um olhar triste, depois que desliguei o telefone, indagou-me:

- Porque você mentiu pra sua noiva?

- Não sei, nem eu mesma sei... Talvez pra evitar provocar os ciúmes dela.

- Não estamos fazendo nada demais.

- Eu sei, eu sei, mas preciso ir, agora tenho comprar algo no shopping pra ela não desconfiar, talvez algo pra vestir na cerimônia de amanhã.

- Cerimônia?

-E’, Camila vai representar o pai em uma homenagem póstuma da universidade.

Saí às pressas em direção ao shopping, não comprei um vestido só pra mim, comprei também para Camila, me sentia como aqueles maridos cafajestes que para desencargo de consciência presenteava a esposa depois de uma traição. Ela nem desconfiou, cobriu-me de carinho em retribuição.

- Amor, e sua tese do mestrado? Está escrevendo?

- Ai Cami... Travei viu, você bem que podia me ajudar né?

- Claro que sim...

Camila participava de tudo em minha vida, sentou-se ao meu lado em frente ao computador, fazendo sugestões de melhor redação, sugeria bibliografias, questionava minha metodologia, e assim ia me inspirando.

- Mas me diga, além do presente que você me trouxe, o que preparou para o jantar? – Camila me olhava como se me desafiasse, sabia que eu não tinha o menor jeito na cozinha.

- Espaghetti ao molho de camarão, e de sobremesa, mousse de chocolate!

- Meu Deus com tanto talento assim você está pronta pra casar! Tenho que apressar em amarrar essa mulher... Fez tudo sozinha meu amor?

- Sim, sozinha, fui sozinha no balcão do restaurante, escolhi sozinha, paguei sozinha, e trouxe sozinha pra casa...

Gargalhamos juntas do meu feito.
- Mas... Por causa disso vai desistir de se casar comigo? Ou preciso fazer um curso de culinária antes?

- Comeria todo dia pão com mortadela na padaria da esquina, mas nunca desistiria de casar com você meu amor...

- E então? Quando casamos, sou moça de família do interior, você acha que é só me levar pra casa e pronto?

Camila sorriu, mas logo ficou séria.

- Isa, eu nunca quis tanto alguma coisa na vida como quero casar com você, mas ainda não é o momento, mas me aguarde, estou esperando algumas definições e tão logo as terei e aí você não me escapa!

Beijou-me longamente, percebi certo mistério nessa colocação, mas logo me entreguei aos seus beijos, deixando aquele corpo perfeito possuir o meu incansavelmente.

No dia seguinte, Camila estava de folga, ansiosa, preparava o discurso que ela faria a noite, fui trabalhar, prometendo chegar cedo para irmos juntas ao salão de atos da universidade. No meio da tarde, saí do hospital, no estacionamento recebi um telefonema de Rosa, a técnica de enfermagem que cuidava de Suzana:

- Dra. Isabela, a senhora disse que eu podia ligar se houvesse algum problema, e...

- O que houve com Suzana, Rosa? – interrompi com a voz angustiada.

- Nada, com ela nada doutora, meu filho é que adoeceu, está no hospital, eu queria pedir a senhora pra levar Dra. Suzana pra fisioterapia, pra eu ir ver meu filho.

- Ah... Que susto Rosa, pode ir, estou passando aí pra levá-la então.

Fiquei preocupada com o horário mas a fisioterapia não demorava, no máximo em duas horas eu estaria livre, então dava tempo me arrumar e ir com Camila para a cerimônia.

Ajudei Suzana a entrar no carro, sua perna direita ainda não respondia bem, na clínica, ela parecia inspirada por minha presença, as vezes sentia que ela se esforçava para exibir-se para mim, estava orgulhosa por sua força de vontade, a fisioterapeuta, uma jovem morena de olhos verdes de cabelos curtos cacheados , todo tempo estimulava Suzana com elogios a sua disposição.

A sessão durou cerca de 50 minutos, mas a fisioterapeuta, Luiza, pediu que Suzana passasse ainda por uma massagem estimulante, mesmo preocupada com o horário cedi aos apelos de Luiza, gastando mais meia hora ali. Saímos da clínica por volta das 18h, Suzana percebeu minha pressa:

- Isa, eu pego um táxi, vai se arrumar... Que horas é a cerimônia?

- Não, tudo bem, te deixo em casa, a cerimônia será apenas as 19:30h, D. Marta está em casa ainda né?

- Ficará comigo hoje.

Murphy estava com tudo... Peguei todos os semáforos fechados, horário de pico, ainda contei com alguns congestionamentos, gastando mais de 40minutos no trajeto. No meu celular várias chamadas de Camila, nem atendi para não me atrasar mais. Cheguei em casa as 19h, jogando tudo pra cima, chamando por Camila. No balcão do bar, um bilhete de Camila: “não sei onde você está, nem que horas chegará, não posso te esperar.” Até pela escrita e pelas palavras senti a chateação justa de Camila.

Com todo esforço para chegar a tempo na cerimônia, com o trânsito e depois de eu errar o prédio do salão de atos, só consegui chegar a tempo de ouvir o “muito obrigada” de Camila, seguido de aplausos da platéia. Como me doeu isso... Camila percebeu minha presença na porta do auditório, me olhou com frieza, não retribuiu meu sorriso. Esperei a conclusão da cerimônia nas fileiras de trás para não chamar atenção. Um coquetel foi servido em seguida, cumprimentei Carmem, as irmãs de Camila e o Vô Elias que cochichou ao meu ouvido:

- Ela procurou seu rosto o tempo todo na platéia minha querida... Espero que você tenha um motivo justo para esse atraso.

Camila fez questão de não chegar perto de mim, e eu até temia me aproximar, vi raiva, mágoa nos olhos dela, e o pior, ela tinha razão em sentir isso. Cerca de meia hora depois do início do coquetel, tomei coragem e me aproximei:

- Cami... Eu...

- Isabela, em casa conversamos.

Ela me fuzilava com o olhar, e o pior, a situação pioraria quando ela soubesse o motivo. Meu coração apertava imaginando que brigaríamos, corria o risco de perder Camila. Ela era compreensiva, mas eu já estava abusando dessa compreensão, sem mencionar minha confusão de sentimentos com a proximidade de Suzana em nossas vidas.

Não demorou muito, estava tensa e triste pelo tratamento de Camila, avisei-a que estava indo pra casa ela respondeu que iria em seguida, chegou em casa vinte minutos depois que eu, eu a aguardava na sentada na cama.

- Cami, eu te devo desculpas...

- Pára Isabela, você me deve bem mais do que desculpas... Eu estava evitando essa conversa para não ser injusta, nem ser acusada de egoísmo, mas hoje foi a gota d’água. Primeiro, não minta pra mim. Onde você estava e porque não atendeu minhas ligações?

- Eu... Fui levar Suzana a fisioterapia porque o filho da Rosa estava no hospital... Acabei me atrasando com o trânsito... Não atendi pra não me atrasar mais, eu estava dirigindo quando você ligou.

- Isabela, eu não posso acreditar que o motivo de você ter me decepcionado hoje foi Suzana. Você sabia da importância disso pra mim, relembrar meu pai, sua morte, você me disse que estaria lá na primeira fila, eu precisava olhar seu rosto na platéia e você arriscou isso pra estar com sua ex- namorada?

- Cami, eu não podia imaginar que ia me atrasar tanto...

- Isabela só pra começar, você nem devia ter ido levá-la, existem pessoas que usam cadeiras de rodas e ainda assim são independentes. Suzana já está andando com auxílio de muletas ela podia perfeitamente ir de táxi...

- Mas Camila, ela não tem ninguém...

- Isabela acorda! Isso já está indo longe demais! Você está mentindo pra mim, escondendo coisas, você pensa que eu não sei que você a visita todos os dias quando estou operando?

- Camila, não é bem assim, eu não conto porque não tem importância...

- Não me subestime Isabela, isso não é justo comigo... Você está mudada, nem na sua tese você fala mais, como posso fazer planos pra gente?

- Camila, eu te amo, quero casar com você, ficar com você pra sempre meu amor...

- Quer mesmo Isabela? Certeza? O que está acontecendo entre você e Suzana, então?

- Nada, estou sensibilizada com a situação dela, me sinto responsável não sei por quê.

- Isabela eu acho bom você prestar atenção na nossa relação, porque eu estou me cansando de entender tudo e fechar os olhos pra sua sensibilização toda com Suzana.

Camila saiu para o banheiro batendo a porta, visivelmente irritada, não me dirigiu a palavra no resto da noite. Eu não dormi, já estava acostumada a dormir com ela me envolvendo em seus braços, há mais de um ano não dormimos brigadas uma com a outra, senti um receio de estar estragando tudo entre nós. Camila estava cheia de razão no que me disse, mas eu não conseguia ignorar Suzana.

Era madrugada enquanto eu andava pela casa, não sei se por consciência pesada, dúvida, ou falta dos braços de Camila em volta do meu corpo, provavelmente por todos esses motivos.

Sentei-me em uma poltrona ao lado da cama, observando-a dormir, eu adorava contemplar seu semblante adormecido, dessa vez ainda fui tomada de uma angústia por tê-la magoado. Como se percebesse que alguém velava seu sono, Camila despertou, já se notava os olhos verdes inchados, provavelmente chorou em silêncio antes de cair no sono. Que culpa me corroia!

- Ainda acordada? – com voz sonolenta Camila indagou.

- Não consigo dormir brigada com você... – baixei os olhos, enxugando a face por onde uma lágrima descia.

- Vem cá, vem... Deita aqui.

Camila levantou o lençol, abriu seus braços, abrindo espaço pra que eu me acomodasse entre eles, abraçou-me recostando seu queixo entre meu pescoço, e falou-me ao ouvido:

- Não resisto a esse jeitinho de criança dengosa que você faz quando sabe que errou.

- Não quero te perder Cami... – apertei seus braços que me envolviam.

Adormeci, agora era possível. Como não fazíamos há um tempo, passamos o sábado na chácara da família de Camila, Carmem sua mãe, chamou Bernardo também. Antes do almoço, fomos até a estufa, cenário do nosso primeiro beijo, Camila estava carinhosa, e eu ainda mais, minha consciência continuava pesada por nossa briga na noite anterior.

- Cami, vou me afastar de Suzana.

- Não te pedi isso Isa, só te pedi pra prestar mais atenção na gente...

- Mas será melhor assim, acho que essa reabilitação dela já pode ser feita no Rio né? Lá ela tem mais amigos, o Vitor está mais perto...

- Mas e o neurochip?

- A gente pode agendar uma avaliação para dois meses, o que acha?

- E’ mais ou menos o tempo que eu pensava, mas antes tenho que repetir os exames dela, vamos fazer isso na segunda-feira, ok?

Balancei a cabeça positivamente, enquanto Camila me entregava uma tulipa, selando minha decisão com um beijo longo e molhado.

Namoramos no quarto dela, depois do almoço. Camila despiu- me lentamente, explorando cada centímetro da minha pele, eu arqueava minhas costas rendida ao calor de sua língua roçando meu corpo tomado de tesão. Em cada toque em meu corpo, eu tinha certeza que era com Camila meu futuro, eu a amava, não podia perdê-la.

Voltamos para nossa casa, em um clima romântico, nossos olhares demonstravam nossa disposição em fazer dar certo nosso futuro e presente juntas. No domingo sequer saímos de casa, passamos o dia inteiro grudadas, nos amamos em todos os cômodos da casa, no chão, na mesa da cozinha, no sofá, na cama, no banheiro...

Nem lembrei de ligar pra Suzana para saber como ela estava, estava absorta na felicidade com Camila.

Na segunda pedi a Eliza que contatasse Suzana para uma consulta no dia seguinte. Foi um dia corrido, mal nos encontramos no almoço, Camila operou o dia todo, entretanto não deixava de se manter presente, deixou na minha mesa um envelope vermelho junto com uma rosa, da mesma espécie que se abriu no dia de nosso primeiro beijo, no envelope um bilhete: “Jantar as 20H, não se atrase. A.V.”. Uma abreviação de amo você no final do bilhete.

Apesar de morarmos juntas, embarquei no clima romântico de encontro, saí do hospital direto pro shopping, comprei um vestido vermelho, frente única, decotado, uma lingerie sensual, passei em um salão para arrumar os cabelos, passando em uma joalheria, vi um colar lindo, com um pingente em forma de rosa provavelmente de zircônio, não resisti, comprei- o para Camila. A caminho do estacionamento, recebi uma ligação de Suzana.

- Ei onde está minha médica? Esqueceu de mim?

- Oi Suzana, desculpa, estava resolvendo uns assuntos pessoais.

- Não vai vir me ver? Estou com saudades...

- Amanhã você tem consulta, nos vemos lá.

- O que houve Isa? Estou no seu apartamento, me peguei dormindo com uma aquela camiseta velha que você adorava dormir e eu odiava... Penso em você o dia todo aqui e você quer me ver só no hospital?

- Suzana não é mais meu apartamento, e de qualquer forma... Nossa relação deve ser mesmo só profissional, melhor não confundirmos as coisas...

- E’ isso mesmo que você quer?

- Suzana, por favor...

Não ouvi mais respostas, só o “tu tu tu”, senti-me mal com a conversa, e como tratei-a, mas era necessário. Segui para casa, procurando fixar meus pensamentos em Camila.

Nossa casa estava linda, Camila me recebeu bem vestida, os cabelos presos num coque, deixando alguns cachos caindo sobre o rosto, um vestido tão curto quanto o meu, com um decote que evidenciava seus seios deliciosamente fartos, segurava dois cálices de vinho.

- Pontual meu amor, muito bem – entregou- me um cálice e beijou minha bochecha roçando a sua face na minha.

- Uau... Mas que mulher é essa? – desci meus olhos pelo seu corpo.

- Ela já tem dona, não adianta se empolgar.

Avancei em direção a ela, largando o cálice de vinho numa mesinha disposta ao lado da porta, empurrei-a contra a porta que ela fechava, beijando-lhe ardentemente, descendo minhas mãos por suas pernas macias.

- Ei... Ah... Isa... PA... PA... Pára, a gente...

Não conseguiu completar, deixou a taça junto com a minha, ao sentir que minhas mãos já estavam por baixo do seu vestido, apertando seu sexo molhado, excitada pelo tremor do seu corpo junto ao meu, sentia um frio subindo pela minha espinha até meu sexo pulsar sentindo a umidade das entranhas de Camila em meus dedos que buscavam espaço puxando a sua calcinha lateralmente. Gozou na minha mão ali mesmo, mas meu desejo não estava satisfeito. Camila tirou forças não sei de onde, pois suas pernas pareciam bambas, empurrou- me ofegante...

- Não foi assim que planejei nossa noite romântica, pelo menos não nessa sequência...

Sorri mordendo meu lábio inferior.

- E’ que você me deixa louca... E vestida assim... Nossa... é pra me matar!

Camila me observou atentamente, não tinha lhe dado tempo para apreciar meu look:

- Uau... Mas que mulher é essa? - repetiu minha exclamação.

- Ela está disponível para você... - exibi meu decote nas costas com ar sedutor.

- Ai amor, deixa eu seguir meu plano... Por favor...

Puxou- me pela mão até a mesa perfeitamente posta, um arranjo com rosas semelhantes ao que me deixou sobre a minha mesa mais cedo, afastou a cadeira me convidando a sentar.

- Espera, antes que te dar algo.

Peguei minha bolsa que estava no chão, e entreguei-lhe o embrulho. Camila abriu com os olhos brilhando. Ao se deparar com o colar, abriu um largo sorriso, e beijou minha boca avidamente, mas sem pressa.

- E’ lindo meu amor! Lindo, obrigada!

- Deixa eu ver como fica em você.

Coloquei o colar em volta de seu pescoço e depois beijei sua nuca para avisar que já tinha terminado.

- Deixa eu olhar.

Correu para a sala onde havia um espelho, voltou me beijando insistindo em agradecer.

- Amei minha loirinha, amei!

- Vou querer recompensa depois, apesar de que seu sorriso já é quase suficiente...

- Vamos jantar, estou faminta e ansiosa pra te... Comer todinha...

Meu coração acelerou, nem fazia mais questão de jantar... Queria ser o prato principal dos desejos de Camila.

- Preparei seu prato predileto...

- Ai duvido, o meu prato principal é...

Camila veio da cozinha anunciando:

- Frango ao creme de milho.

- Mas como você...

- Pedi a receita ao seu padrinho quando fomos à formatura de Lívia, estava reservando para uma ocasião especial.

- Ai Camila, te amo! Casa comigo?

- E’ exatamente o que eu queria ouvir.

Fiz a pergunta quase num tom de brincadeira, como fazia sempre, quando ela fazia algo que me agradasse, mas Camila respondeu séria.

- Recebi hoje a resposta do pós-doutorado em Haward, próximo ano começo, e quero que você venha comigo, como minha mulher.

Fiz menção de falar algo, mas as palavras não saíam, e Camila continuava.

- A seleção pro mestrado está aberta, falei com meu antigo orientador, e ele quer ler seu projeto da tese, assim, você faria lá também, com minha recomendação e sua experiência na minha pesquisa, uma pode ajudar a outra e...

- E’ claro que eu quero meu amor!


Foi um impulso, mas não me arrependi, eu queria estar com Camila, não gostaria de interromper a carreira dela, nem muito menos a minha, unir nosso casamento ao nosso desenvolvimento profissional era mais que perfeito.