sexta-feira, 6 de maio de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - VIGÉSIMO QUARTO CAPÍTULO

Capítulo 24



Na mansão Gama-Tau, Amy se remexia na cama buscando alguma tranquilidade para dormir, mas era impossível, com a enxurrada de pensamentos acerca do destino de Esther naquela noite. Ficou de pé diante da janela de seu quarto, na ânsia de escutar o ronco da motocicleta de Esther enfim chegando à mansão. A espera deu lugar ao acelerar do coração quando a morena estacionou sua moto e entrou apressada na sede da fraternidade.

Amy seguiu na ansiedade, andando de um lado pro outro no quarto, na esperança que Esther a procurasse em seu quarto. Entretanto, a morena tentava “lavar a alma” no seu banho demorado. A água morna do chuveiro se misturava ao sal de suas lágrimas abundantes, sentia seu corpo doer, sua pele ardia dos arranhões nas costas, braços. No entanto, a dor maior era no seu amor próprio, na sua auto-estima, no seu interior. Sentia-se imunda, ferida de morte, e pra sanar tal sujeira, pra minimizar tal martírio, não bastava apenas uma sessão de exorcismo naquela água...

Não suportando a ansiedade Amy subiu até o andar do quarto de Esther, bateu na porta, não obteve resposta, entrou mesmo assim, não resistiu ao notar a porta aberta do banheiro, e aquela cena fez Amy sentir uma imensa vontade de colocar a forte e destemida presidente da Gama-Tau no colo como criança: Esther estava com os braços cruzados encolhida no canto do box, olhando fixamente para a água que caía, um olhar vazio, as lágrimas que caíam eram silenciosas. Sem pensar, Amy invadiu o box, com uma toalha na mão, desligou o chuveiro e agachou-se agasalhando Esther com a toalha, apertando-a num abraço confortador, cheio de cuidado, carinho, proteção.

Esther se deixou ser abraçada, a carícia de Amy enxugando as lágrimas do seu rosto e recostando sua cabeça no seu peito, foi como um bálsamo praquele momento de profunda tristeza, que era tanta, que sequer conseguia exteriorizar. Aos poucos, Amy conseguiu levantá-la, vestiu-a em um roupão, e a sentou na cama. Com delicadeza, secou o resto do seu corpo, cabelos. Tinha muitas perguntas a fazer, mas sua preocupação era somente estar do lado daquela mulher que lhe despertava tantos sentimentos diversos, tão diversos quanto as faces que Esther demonstrava, mantendo o mistério sobre sua real personalidade.

-- Quer comer alguma coisa, Esther?

A morena apenas sacudiu a cabeça negativamente, e deitou-se no colo de Amy, que não demorou a afagar seus cabelos ainda úmidos. Notou o ferimento no seu braço, e as interrogações só aumentaram em sua cabeça. Entretanto, sabia que não era momento de indagações, Esther estava frágil, e pela primeira vez, expondo tal fragilidade para ela.

Num tom tímido, Esther finalmente falou:

-- Você poderia dormir aqui, comigo hoje?

--Claro que sim...

Amy deitou-se então ao lado da morena, que se aninhou em seus braços, sob os afagos e carícias, Esther adormeceu, enquanto Amy permaneceu acordada presa ao mistério que ela estava disposta a desvendar por amor.

Acordar nos braços de Amy deu a Esther uma sensação inédita de bem estar. O cheiro da loirinha, a maciez de sua pele e seu semblante delicado, tranquilo, transmitia paz para Esther, sentimento que ela desconhecia. Por alguns instantes, ignorou que em breve perderia a candura de Amy, quando enfim desse continuidade ao seu plano de vingança. Uma coisa era certa, Amy estava apaixonada por ela, exatamente como ela queria a princípio, para que assim ficasse mais fácil executar seus planos... Entretanto, ela não esperava também se apaixonar. Tal fato transformou o momento o qual ela se preparara toda vida numa adaga afiada, que ia lhe ferir profundamente a alma.

A contemplação de Esther parecia ter despertado o sono de Amy, que acordou com um sorriso sincero nos lábios para a morena:

-- Bom dia, minha linda...

Aproximou-se da boca de Esther, depositando um beijo suave, o qual a morena retribuiu tímida.

-- Bom dia... Temos que nos apressar, temos aula daqui a pouco.

-- Você está bem? Ontem estava um tanto quanto... Abalada...

-- Sim, estou... Não se preocupe, já passou. Obrigada por me fazer companhia.

--Não precisa agradecer... Bem, vou me arrumar. Te encontro lá em baixo pra tomarmos café?

Esther sorriu e balançou a cabeça positivamente, e acompanhou com o olhar Amy saindo de sua cama, exibindo seu baby-doll minúsculo rosa, delicado como ela. Quando estava quase à porta para sair, a loirinha correu de volta para onde Esther estava, e deu-lhe mais um beijo, dessa vez carregado de carinho:

-- Quase me esqueci... -- sorriu. -- Até daqui a pouco, linda.

O dia reservava momentos de tensão para a presidente da Gama-Tau. A reunião do conselho da universidade aguardava os resultados das atividades realizadas pela fraternidade, dessa forma, o encontro com Michelle Roberts seria inevitável.

Rachel, como tesoureira da fraternidade, acompanhou a amiga, que estava visivelmente incomodada pelo fato de encontrar tão cedo Michelle, que lhe fizera ameaça óbvia na noite anterior. Todos os representantes de fraternidade já estavam no gabinete da reitoria sentados em volta de uma grande mesa de reuniões, aguardando apenas a chegada de alguns membros do conselho, dentre eles, a Sra. Roberts.

Como de costume, a Sra. Roberts fez sua entrada triunfal, não retirou o óculos de sol por nenhum momento. Sentou-se à cabeceira da mesa, e apenas fez sinal para que o vice-reitor desse início a reunião.

Todos os representantes apresentaram seus balancetes, relatórios, sem atrair muita atenção da poderosa Michelle. Quando enfim Esther fez uso da palavra, a Sra. Roberts retirou seus óculos de sol e encarou fixamente a morena enquanto esta tentava não demonstrar o quanto estava intimidada com a postura de Michelle, que roçava na boca a perna dos óculos sem se distrair do seu foco: Esther.

Ao final da exposição de Esther, que não ousou olhar uma vez sequer para Michele, a empáfia personificada tomou a palavra do vice-reitor, que se detinha a elogiar os trabalhos das fraternidades.

-- A Gama-Tau teve um desempenho tímido, entretanto, considerando os inúmeros doadores em potencial naquele baile. Penso que não souberam se organizar para atingir o objetivo principal. Alguma coisa a justificar esse fiasco, Esther Gonzalez?

Esther engoliu seco, mexeu nos papéis que continham os balancetes, mas nada muito concatenado surgia, até Rachel interferir:

-- Tenho certeza que conseguimos parceiros importantes para o orfanato, Sra.Roberts.

Com isso, Rachel empurrou para o lado de Esther uma lista de grandes nomes do empresariado que compareceram a festa e assinaram um livro de autógrafos, manifestando a intenção de se tornarem doadores assíduos do orfanato adotado pela Gama-Tau. E assim, Esther prosseguiu a defesa do trabalho da fraternidade:

--Michael Connor, Jacob Fines, Victor Madsen, Mattew Carter... São apenas alguns dos nomes que tenho aqui nessa lista, que estiveram no baile de máscaras da Gama-Tau. Todos possíveis doadores honorários. Acho que esse ganho já justifica o sucesso de nosso baile, não acha, Sra. Roberts?

Michelle, sentindo-se pela primeira vez desafiada por Esther, ficou sem palavras por alguns segundos, até retomar sua postura de superioridade, e respondeu:

-- Espero de fato que essa lista que você mencionou tenha mesmo validade e salve a Gama-Tau de arruinar sua reputação de promotora de festas... Porque senão, é hora de outras fraternidades mostrarem que sabem promover festas melhores que as de vocês...

Dizendo isso, Michelle foi se levantando, recolocando os óculos e deixando o gabinete da reitoria, cumprimentando a todos com um seco:

-- Bom dia a todos. Senhor vice-reitor -- fez apenas um sinal com a cabeça e se retirou da sala.

Os demais participantes da reunião foram recolhendo os papéis da mesa e se retirando em seguida, mas o comentário era um só: a insatisfação da Sra. Roberts com o baile da Gama-Tau. Outros presidentes de fraternidades já ambicionavam tirar o reinado de festas da Gama-Tau, título que a fazia a fraternidade mais popular e respeitada da Universidade. Esther e Rachel se entreolhavam com apreensão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário