sábado, 31 de dezembro de 2011

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Minhas queridas e leais leitoras!
2011 chegando ao fim, e meus planos de concluir o web romance Leis do Destino foram por água abaixo rsrs.
Essas personagens tem vida própria acreditem!
Quando eu penso que 5 páginas são capazes de descrever a trajetória delas em um capítulo, elas batem o pé e exigem mais, fazer o que né? A primeira fase tem quase 500 páginas no meu word, a segunda fase já passou das 100 páginas e ainda falta tanta coisa na minha cabeça pra definir o destino dessas duas...ai ai

O título do post de hoje é a mensagem que o bloger me dá quando tento atualizar as páginas da primeira e segunda fase da página Leis do Destino. Já mandei e-mail para o site gente, mas não obtive resposta, blogueiras de plantão se puderem me ajudar com isso desde já agradeço.

Assim, os capítulos novos de ambas as fases serão postados aqui na página principal até eu deixar de apanhar nas postagens rs e voltar a organizar direitinho na página ok?

Quero aproveitar para desejar um 2012 iluminado para todas vocês que me acompanham sempre na moita ou no meio da galera. De coração, desejo tudo que positivo para esse ano novo: paz, saúde, esperança, alegria, prosperidade, e muito amor.

Esse ano promete, conto com as boas vibrações e orações de todas para os novos projetos que quero iniciar e compartilhar com vocês no momento certo.
Grande beijo minhas queridas, até próximo ano!

Capítulo 9 - Leis do Destino 2ª fase

2.9 Loco dolenti
No lugar dolorido.

            Os rituais de despedida de Alice Toledo foram torturantes especialmente para Diana que nutria a inconformação e a revolta pela morte da mãe e pela culpa do pai. Não suportou ficar na sua casa em Campo Grande, preferiu se hospedar com Rosana na casa de sua tia Alda.

- Minha querida, precisamos voltar para Nova Iorque.

- Vou ficar mais alguns dias Rosana.

- Meu bem, não vou deixar você sozinha aqui.

- Honey eu preciso ficar, minha mãe deixou um testamento, preciso ficar para a abertura, e eu tenho algumas questões para resolver com o senhor Acrisio Toledo.

- Agora mesmo é que não volto sem você! Ficamos até a leitura do testamento, depois partimos.

- Minha querida, você tem seus compromissos lá, não quero que se prejudique por minha causa.

- Eu já disse que vou ficar com você.

            E assim, Diana e Rosana permaneceram no Brasil, apressando a leitura do testamento de Alice Toledo.

            No maior escritório de advocacia do estado, a família Toledo Campos se reuniu para conhecer a vontade de dona Alice na distribuição de seus bens que não eram só aqueles que seu marido dividiu com ela, uma vez que, Alice vinha de uma família rica que tratou de proteger a herança da filha antes do seu casamento com Acrisio, fazendeiro rico mas sem a menor tradição familiar.

            O encontro entre Diana e o pai foi ainda mais tenso do que os momentos que sucederam a morte de Alice. A animosidade só se intensificou depois da abertura do documento no qual Alice dividiu seus bens entre seus filhos e sua irmã, deixando a maior parte para Diana, prevendo que a filha não aceitaria o dinheiro do pai se um dia precisasse.

- Agora você pode desprezar meu dinheiro minha filha. Sua mãe te fez uma mulher rica.

            Acrisio abordou Diana na saída do prédio.

- Faz muito tempo que não uso seu dinheiro sujo. – Diana tentou ignorar o sarcasmo do pai.

- Ah, então finalmente sua brincadeirinha de bater foto está rendendo uns trocados? Americano gasta muito dinheiro com bobagens mesmo...

- É realmente querer demais de alguém como você entenda algo além de corrupção e exploração. Meu trabalho está sendo reconhecido mundialmente, até pela Casa Branca, isso orgulharia um pai, mas isso você nunca foi mesmo, assim, não faz diferença.

- Agora não sou seu pai, agora você me diz isso, mas quando precisou, foi ao colinho do papai corrupto e explorador que você recorreu não é?

- Só fiz isso uma única vez, por alguém que eu amava que você deu seu jeito de nos separar, não bastasse isso, me separou da minha mãe até na hora da morte dela!

- Ah para de melodrama Diana, desde pequena você tem esse talento pra atuação! O que você faria aqui? Sua mãe estava inconsciente, você aqui não mudaria nada.

- Era meu direito! – Diana gritou chamando atenção de quem passava.

- Fale baixo! O que você quer? Outro escândalo? Já não basta o que estamos atravessando?

- O que EU estou atravessando é uma dor imensurável, eu perdi a minha mãe, o que você está passando é uma derrota nas urnas e os muitos processos dos quais você é culpado, porque você é um criminoso! Está colhendo o que plantou!

            Acrisio apertou os olhos e levantou a mão contra Diana que não se moveu, travando uma luta com o pai só pelo olhar.

- Você acha que eu não estou sofrendo? Eu acabo de perder a mulher da minha vida! Quem você acha que é para vir tripudiar sobre a minha dor julgando que a sua perda é maior que a dos outros?


- Por sua causa também perdi a mulher da minha vida esqueceu? Além do mais você é responsável pela doença de minha mãe, responsável pela morte dela. Quantas vezes eu a ouvi te pedindo para não envolver o Danilo e o Douglas no seu jogo sujo de poder, e você a enganou todas às vezes!

- Seus irmãos fazem aquilo filhos devem fazer pelos pais! Ficam ao lado da família! Coisa que você não considera. Prefere envergonha-nos com esse comportamento pecaminoso!

- Ora quem é você para falar em pecado?!

            Alda interveio notando os ânimos se acirrarem.

- Vocês dois parem já com isso! Diana, vamos embora!

            Antes de deixar o prédio com a tia, Diana declarou:

- A hora de você pagar por todo mal que fez as pessoas está chegando senhor Acrisio Toledo, e eu quero testemunhar esse evento.

            Acrisio não se intimidou com as palavras da filha, o que despertou a certeza em Diana de que a velha raposa guardava um trunfo que o livraria do montante de acusações às quais ele era alvo.

- Você não devia desafiar seu pai assim Diana.

            Alda falou ainda nervosa no caminho de volta para casa.


- Permaneci omissa por muito tempo tia. Suportei os desmandos de meu pai para não entrar em atrito com a mamãe, agora é minha obrigação fazer algo para freá-lo antes que ele destrua mais vidas.

- Minha querida, o que você espera com essa vingança?

- Não é vingança Tia Alda. É senso de justiça.

- Pois eu digo que você devia seguir sua vida, voltar para Nova Iorque, isso faria sua mãe feliz. Ela tinha tanto orgulho de você, continue orgulhando-a. A justiça vai dar um jeito no seu pai sem que você precise fazer nada contra ele. As pessoas estão cansadas de políticos como ele, o Brasil está mudando Diana, a prova é que mesmo com todo dinheiro e poder de Acrisio, ele foi derrotado nas urnas de novo!

            Diana refletiu no conselho da tia, e quando encontrou Rosana à sua espera no quarto, concluiu que Alda estava certa, por mais que lhe custasse, aceitou que iniciar uma guerra com seu pai não faria sua mãe feliz.

- Pronto minha querida, podemos voltar à Nova Iorque.

            Rosana acolheu a namorada no colo, acariciando seus cabelos.

- Você está bem?

- Vou ficar bem, com você do meu lado, vou ficar sim.

- Podemos ir hoje mesmo?


- Acho que só amanhã meu bem. Os advogados estão ajeitando a papelada toda me dando posse dos bens que a mamãe me deixou, e quero deixar uma procuração pra tia Alda, ela vai entregar para a mesma empresa que administra os bens dela administrar os meus também.

- Tudo bem, vou reservar nossas passagens então.

- Honey, eu preciso ir à casa de minha mãe antes de partirmos. Quero levar algo dela comigo.

- Algo em específico?

- Algo que tenha o cheiro dela, adorava o perfume de minha mãe...

- Entendo minha querida, você quer que eu vá com você?

- Obrigada meu bem, mas quero fazer isso sozinha. Vou aproveitar que meu pai não está em casa essa hora.

            No quarto de sua mãe, Diana se perdeu nas lembranças que as roupas, as fotos, os aromas dos perfumes e cremes de sua mãe lhe traziam. Abraçou-se a um dos casacos de dona Alice e chorou sua saudade.

            Ao sair da mansão de seus pais, Diana ouviu os berros do pai no escritório, relembrou seus tempos de adolescente, nos quais se esquivava pelas cortinas para ouvir as discussões de Acrisio com seus compassas. Atraída pela curiosidade remontou seu hábito da adolescência quando seu pai gritava com seu irmão mais velho:

- Agora toda semana é isso? Mas que diabos! Quantos mandados ainda vão expedir? Você não me disse que aquele delegadozinho filho de uma égua foi transferido? Não colocaram um dos nossos no lugar dele?

- Não sei que é o substituto, mas não é dos nossos, pelo menos por enquanto.

- Isso mesmo, por enquanto! Por que todo mundo tem seu preço, descubra o dele. E ah! O que descobriram sobre a tal promotora?

- Descobrimos algo valioso. Não tínhamos associado esse nome a pessoa pai. Mas Natalia Ferronato é aquela talzinha que namorou a Diana anos atrás, aquela que o senhor mandou levantar a ficha dos pais dela, que são do interior de São Paulo.

- Não me diga!

- Pois é, assumiu há pouco tempo o cargo, dificilmente vai aceitar nossas ofertas, deve estar querendo visibilidade em um caso grande como esse.

- Se não conseguirmos trazê-la pelo nosso lado oferecendo vantagens, conseguimos de outra forma.

- Vai usar o que tem contra o pai dela?

- Sim claro, e também aquele material que apreendemos com aquele rapaz, aquelas montagens e fotos, com a internet conseguimos fácil desmoralizar essa sapatão. E se não funcionar, providencie algo mais definitivo para calar a boca dela de uma vez por todas.

            Diana sentiu o chão se abrir, o ar faltar e por pouco não soltou o que trazia nas mãos, tamanha a surpresa que tivera ao ouvir o nome de Natalia envolvido nas denuncias contra o pai e o que era pior: em perigo mais uma vez por estar na mira de Acrisio.
********

            Miriam não se habituava a homossexualidade da roomate, com a continuidade do seu namoro com Eduarda isso começou a incomodar Natalia, uma vez que Miriam sempre reagia mal quando sua namorada lhe visitava. Tal fato limitou a presença de Eduarda ali, mas, naquele dia, a empresária decidiu aceitar o convite de Natalia e dormiu em seu quarto com ela.

- Ai Nat não fico à vontade aqui.

- É eu notei, você segurou até seu grito quando te fiz gozar né?

            Eduarda ruborizou, lançando o travesseiro contra a namorada.

- Isso você sabe que não seguro mesmo!

- E eu adoro isso...

            Natalia jogou seu corpo sobre o da namorada roçando seus lábios no pescoço de Eduarda.

- Amor não faz isso... Não resisto...

- Quem disse que é pra resistir?

- Sua colega vai virar lésbica por osmose...

- Ou por que está nos ouvindo e deve imaginar: mulher deve ser muito bom porque o que essas duas tem de orgasmos...

            As duas sorriram maliciosamente colando ainda mais os corpos naquele roçar e quando a entrega era iminente, o celular de Eduarda tocou.

- Não atende Duda...

- Preciso atender Nat.

            Natalia se sentou emburrada enquanto Eduarda concluía a ligação rapidamente.

- Amor, preciso do seu notebook, tenho que fazer uma transferência agora para conta de meu pai.

- Mas agora?

- Amor...

- Está na escrivaninha, pegue. Vou tomar banho!

            Eduarda sorriu com a birra da namorada, e pegou o laptop dela a fim de cumprir sua tarefa imediatamente intencionando encerrar a chateação de Natalia surpreendendo-a no banheiro. No entanto, acidentalmente ao salvar a imagem do comprovante de transferência, Eduarda abriu a última imagem salva nos arquivos, encontrando a foto de Diana.


            O banho de Natalia foi tempo suficiente para Eduarda estimulada pelo que encontrara, invadisse a privacidade da namorada e vasculhasse o histórico de sites visitados. Para sua decepção, encontrou uma vasta lista de notícias e imagens que envolviam o nome de Diana Toledo.

- Terminou sua tarefa urgente?

            Natalia surgiu envolvida em uma pequena toalha. Eduarda não respondeu encarando a namorada seriamente. Natalia se aproximou dela provocando-a, mas Eduarda não mudou sua fisionomia, atiçando a curiosidade da outra.

- O que foi? Ainda tem coisa melhor a fazer do que puxar essa toalha e fazer amor comigo?

            Eduarda virou o notebook exibindo a foto de Diana ampliada.

- Você pode me explicar isso?

            Natalia não escondeu sua perplexidade, e não conseguiu responder.

- É esse o motivo de tanto empenho para prender Acrisio Toledo? Sua vingança pessoal por ele ter te separado da filha dele?

- Não Duda, claro que não!

- Não? Por que você não me disse então que a Diana que você tanto chama em sonhos é a mesma Diana, a fotógrafa famosa, filha do ex-senador Acrisio?

- Pra evitar essa sua desconfiança descabida que você está tendo agora!

- Desconfiança descabida? Encontrei essa foto no seu notebook, e um histórico de pesquisa sobre a vida de Diana Toledo, o que foi Natalia, deu saudade do seu amor de faculdade?

- Você o que?

- Isso mesmo que você ouviu: vi seu histórico de páginas visitadas, e encontrei a vasta pesquisa que você fez sobre a vida de sua ex-namorada.

- Você não tinha esse direito de invadir assim minha privacidade.

            Natalia furiosa deu as costas à Eduarda.

- Acha que vai fugir pela tangente assim? Eu quero uma explicação Natalia, você me deve isso.

- Por que você não vasculha mais aí no meu notebook? Quer as minhas senhas? Aproveite e procure no meu celular também, tome!

            Natalia jogou o celular na cama e bateu a porta do quarto. Eduarda recolheu suas coisas, vestiu-se e deixou o apartamento da promotora, sem se despedir, a personalidade e a formação da empresária não tolerava discussões do tipo e principalmente aquela atitude que tomara de invadir a privacidade de suas parceiras, sentiu que estava perdendo o controle e a razão naquela circunstância e isso lhe apavorou.

            A promotora por sua vez experimentou a culpa e o remorso por ter mentido e escondido fatos importantes da empresária que sempre abusou da honestidade com ela. Martirizou-se por estar convicta que magoara Eduarda, mas como cabeça dura que era hesitou em procura-la, especialmente porque não sabia como justificar sua atitude, nem muito menos como mentir sobre a foto de Diana em seu computador.
********

            Diana ficou aturdida com o que escutara. Fugiu da mansão dos pais como se acabasse de descobrir um segredo de segurança nacional. Estava tomada não só pela surpresa da notícia sobre Natalia que recebera, mas, sobretudo, estava tomada por um temor descomunal pela vida de sua ex-namorada.

            As memórias que tinha de Natalia invadiram seus pensamentos com a intensidade que Diana não estava preparada. O rosto, a voz da ex-namorada surgiu para a loirinha de uma maneira tão vívida que Diana desejou abraça-la. Imaginar Natalia como alvo das atrocidades do seu pai angustiou Diana o suficiente para fazê-la tomar uma importante decisão, que ela comunicou a Rosana quando retornou à casa da tia.

- Di, comprei nossas passagens para depois de amanhã.

- Eu não vou Rosana, ficarei mais alguns dias.

- Por quê? O que houve? Algum problema com a procuração?

- Não... Surgiu outro problema...

            Diana desviou o olhar, e isso Rosana sabia o que significava: Diana escondia algo.

- Di? Que problema?

- Nada demais, umas coisas do meu pai...

- Diana Toledo!

            Rosana segurou o braço de Diana obrigando-a a encará-la.

- A promotora que está à frente das denúncias contra meu pai é Natalia, e agora ela está em perigo, preciso fazer algo para impedir que ele a machuque, a prejudique.

- Você vai ficar no Brasil para enfrentar seu pai para proteger a Natalia?

            Ouvir o resumo dos fatos da pela boca de Rosana denotou o ciúme da namorada e a dimensão do que aquilo representava para o relacionamento delas para Diana.

            Rosana contentou-se com o silêncio de Diana como resposta à sua pergunta. A cantora deixou o quarto, como se precisasse se esquivar do desconforto daquela armadilha do destino em aproximar Diana e Natalia mais uma vez.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

LEIS DO DESTINO: 1ª FASE - capítulos 34 e 35

CAPÍTULO 34 – Ratio summa
*Razão superior: Espírito de equidade que deve determinar a escolha da solução mais benigna, dentre as duas resultantes da interpretação estrita de determinada regra jurídica. 

                A volta de Natalia à faculdade precedeu a notícia do benefício concedido a Sandro de responder o processo em liberdade. Diana tranquilizou a namorada quanto às ameaças do rapaz em publicar as fotos do trote na internet, assegurando que o poder de seu pai ficasse evidente para a família do rapaz. Por sugestão dos advogados envolvidos no caso, Sandro pediu transferência para o turno da noite da faculdade, o que diminuiu muito a apreensão de Natália.

                A aula de IED foi atípica, pelo menos para Diana, que desconhecia um lado dócil da doutora Dorothea, que se manifestou solícita e compreensiva com o trauma recente vivido por Natália.

- Natália, não se preocupe com o trabalho, a simulação do júri, eu adiarei para outro momento, para a conclusão da disciplina, será mais proveitoso para todos.

                A expressão atônita da classe foi praticamente unânime, exceto Diana que parecia em choque. Pela primeira vez em semestres, a loirinha só teve a preocupação de assistir aula da professora Dorothea naquele dia.

-- Lembre-me de pararmos em uma igreja no caminho para casa Nat...

-- Igreja? Por quê?

-- Medo do fim do mundo! Acho que essa manhã foi uma mostra que o apocalipse está próximo... Bem que aquela mulher distribuindo panfleto no aeroporto disse... Tenho que me converter!

                Diana ficou pensativa.

-- Di você está passando bem? Não está dizendo coisa com coisa...

-- Nat! Madimbu deu uma aula inteira sem implicar comigo, foi gentil com você e eu assisti à aula inteira, até fiz anotações, isso é sinal do fim do mundo, acorda!

                Natalia gargalhou.

                O casal parecia à vontade enquanto andava pela universidade, esquecendo-se por alguns momentos do teor secreto de sua relação. Só perceberam o quanto estavam transparentes quando Lucas e Pedro as abordaram em um dos jardins do campus.

-- A gente deve se preocupar com esse festival de risadas entre vocês duas? – Lucas perguntou intrigado.

-- Preocupar-se? – Natalia perguntou alheia.

-- Sim, nos preocupar com uso de drogas no campus, bruxaria, macumba... – Lucas respondeu perturbado.

-- Ah! O dia está meio estranho mesmo. Acredite: é o fim dos tempos! Você deveria mesmo se preocupar em entrar pra qualquer dessas religiões que oferecem salvação eterna, quem sabe você ainda tenha tempo de se salvar! – Diana respondeu tentando remendar a situação.

-- Fato: agora eu estou assustado oficialmente também. – Pedro comentou.

-- A Diana está brincando, porque hoje Doutora Dorothea deu a manhã de aula sem implicar com ela que por sua vez retribuiu o gesto copiando a matéria. – Natalia esclareceu.

-- Nesse caso Di, concordo com você: é o apocalipse! – Lucas brincou.

-- Profecias à parte, estávamos te procurando Natalia, para darmos uma boa notícia. – Pedro disse.

-- O Sandro foi preso de novo? – Diana brincou.

-- Ainda não... A boa notícia é em relação a sua nova moradia.

-- Nova moradia? – Natalia interrogou.

-- Isso! As meninas se organizaram, e conseguiram colocar mais uma cama em um dos quartos, ou seja: você pode ficar lá com elas! – Lucas falou empolgado.

                A expressão de Diana mudou instantaneamente. Natalia por alguns segundos perdeu a capacidade de expressar qualquer reação, o que obviamente causou estranheza nos rapazes.

-- Não gostou da notícia? – Pedro indagou.

-- Er... Cla... Claro! –Natalia sorriu sem graça gaguejando.

-- Qual o problema Natalia? – Lucas perguntou.

--Nenhum, só me pegou de surpresa...

-- Surpresa? Conversamos sobre isso semana passada e você concordou... – Lucas comentou.

-- É, mas não esperava que fosse assim, tão rápido...


-- Está com receio de dividir casa com as meninas? Elas são legais, a maioria joga no time de vôlei com você, e como nós, estão preocupadas com você. – Pedro completou.

-- Eu sei que são legais, são fofas por se preocuparem, aliás, vocês todos estão sendo incríveis comigo, especialmente vocês dois...

-- Então ótimo! Esqueçamos as fofuras e vamos ser práticos. Você tem que resolver a parte burocrática de entregar o seu “apertamento” e providenciar sua mudança para a república das meninas, que é praticamente vizinha a nossa! – Lucas disse, não escondendo a euforia.

                Diana permaneceu muda, com cara de poucos amigos, inventou uma desculpa qualquer para se afastar, o que deixou Natalia apreensiva.

-- Vou ver isso na imobiliária, meninos, desde já obrigada por tudo, agora preciso ir.

                Natalia saiu apressada para alcançar Diana, fugindo de dar explicações aos amigos.

-- Diana espera!

                A loirinha ignorou o chamado da namorada, se aproximando do seu carro no estacionamento visivelmente irritada.

-- Não vai parar pra me ouvir? Tudo bem, a gente vai ter essa DR aos berros bem aqui, pra todo mundo ouvir, quem sabe assim você me escuta!

                Natalia provocou, e conseguiu o que queria. Diana se aproximou e trincando os dentes disse:

-- Entre nesse carro agora!


                Diana não esperou chegar a casa para iniciar a discussão com a namorada, que parecia se preparar para um combate de tão tensa que se sentia.

-- Quando você ia me contar dos seus planos de morar com um monte de mulher, vizinho a republica dos seus defensores apaixonados?

-- Não eram planos Diana, não dramatiza as coisas...

-- Ah ótimo! Agora eu é que sou a dramática? Eu passei quase duas semanas me preparando para atender as exigências que você me fez de assumirmos nosso namoro, mesmo com o risco de perder meus melhores amigos, pra te manter perto de mim, cuidando de você como pensava que precisasse, mas, pelo jeito você já tem gente demais fazendo isso, até já encontrou companhia para as noites de pesadelo não é?

-- Diana para de falar bobagem! Os meninos sugeriram isso no dia do meu depoimento, não te contei por que optei por te dar a chance de resolver do seu jeito nossa situação, só me esqueci de combinar isso com os meninos...

-- Agora como vai ser? Você morando com aquelas peruas, vizinho a republica dos meninos, como vamos nos encontrar?

-- Por quanto tempo mais você pretende me enrolar escondendo nosso namoro?

-- Então é isso? Você fez isso pra me pressionar?

-- O quê?

                Diana apertou os olhos, balançou a cabeça negativamente manifestando sua indignação. Estacionou o carro na garagem do prédio e caminhou até o elevador pisando forte, ignorando Natalia que a seguiu insistindo:

-- O que você quis dizer com isso Diana? Como assim te pressionar?

                Não ficaram a sós no elevador, adiando a continuação da conversa até entrarem no apartamento.

-- Vai continuar me ignorando?

-- Não adianta Natalia, as coisas comigo não funcionam assim! Se você acha que pode me manipular assim, desista, não vou ceder.

-- Mas quem está te pressionando aqui?

-- Você com essa decisão de ir morar com as meninas do vôlei, não teremos como manter em segredo nosso relacionamento...

-- Você está pensando que aceitei a sugestão dos meninos pra te forçar a nos assumir? Está louca! O mundo não gira em torno de você sabia? Ou você acha que me sinto segura com o Sandro em liberdade só porque está sendo processado? Você melhor do que ninguém sabe que nem meu sono é mais tranquilo depois do que aconteceu, o fato de ter sempre amigos ao meu lado é motivo suficiente para aceitar a proposta deles, já que minha namorada não pode estar comigo fora desse mundinho aqui!

-- Se o que estou te dando é pouco, não passa de um diminutivo, um “mundinho”, é melhor mesmo você se apressar em arrumar suas coisas, deve estar ansiosa pra se libertar dessas paredes...

                Diana bateu a porta do quarto com força, se trancou ali amargando um sentimento que nunca experimentara: insegurança. Mais que isso, medo. Medo da perda. Aliado a uma mágoa inexplicável, por se sentir excluída da vida de alguém que ela só desejava estar perto todo tempo.

                Natalia se jogou no sofá como se o peso do olhar marejado de Diana caísse sobre seus ombros de maneira arrasadora. Se por um lado se sentia no direito de estar chateada pela resistência da namorada em assumir o namoro delas, por outro, sentia a culpa nublar o bom senso necessário para tomar decisões naquele momento. Sentia-se culpada por ter escondido quase que inconscientemente o arranjo feito por Lucas e Pedro para sua nova casa.

                O silêncio entre as duas se estendeu pela tarde, se configurando em um desafio de forças, nem uma nem outra queria dar o braço a torcer, nem ao menos sabiam como administrar o conflito instalado.

                Natália deu o primeiro passo, mas não em busca da reconciliação. Lembrou-se que a imobiliária que administrava seu apartamento era perto dali, optou pela racionalidade, e saiu em busca de informações, imaginando que não seria fácil quebrar o contrato assinado pelo pai. E como supôs, a multa rescisória era absurda, não teria como consegui-la com seus pais sem dizer a verdade, o que provavelmente comprometeria a permanência dela na capital.

                Voltou ao apartamento de Diana no final da noite, interiormente decidira não retomar às cobranças para tornar publica a relação delas, assim, julgou mais sensato deixar a casa da namorada, voltando para o seu pequeno apartamento.

                Diana andava de um lado para o outro na sala, relutando em ligar para Natalia. A angústia foi maior que seu orgulho, quando finalmente discou o número da namorada ouviu o barulho da maçaneta.

-- Natalia! Onde você foi? Sozinha?!

-- Calma, fui aqui perto.

-- Posso saber onde? – Diana falou mansamente.

-- Fui até a imobiliária, ver como fica a rescisão do contrato de aluguel...

-- Então você está mesmo decidida...

                Diana falou com tom triste.

-- Precisa de informações práticas, para decidir, e decidi.

-- Decidiu?

-- Vou voltar para meu apartamento. A multa rescisória é muito alta, meus pais não vão querer pagar e aumentar as despesas dividindo a casa com as meninas.

-- Mas... Por que voltar para seu apartamento? Não te expulsei daqui! Eu só estava magoada, com a cabeça quente...

--Ei...

                Natalia interrompeu Diana, tocando os lábios dela com sua mão delicadamente.

-- Eu sei que você não me expulsou. E entendo por que você se sentiu pressionada... Mas, não tive essa intenção, estou sendo honesta.

-- Não gosto de ser pressionada a nada, mas, pior do que isso, é imaginar te perder...

-- Você não vai me perder, só vou voltar pra casa...

-- Não quero ficar longe de você, não quero que se sinta sozinha, ou que muito menos, seja outra pessoa que não eu, a te abraçar quando você acordar no meio da noite com pesadelos...

-- Eu vou ficar bem Di... Decidi te dar um tempo para você contar aos meninos, então vou respeitar seu tempo...


-- Já é tempo! Não precisamos esconder nada, você fica aqui comigo, até quando for necessário, vou conversar com os meninos, vamos abrir o jogo, quero acabar com esse segredo e poder assumir pra todos que estamos juntas!

                Natalia fixou os olhos no rosto de Diana, que exprimia toda ansiedade após pronunciar uma decisão impulsiva, surpreendente para ela mesma, apesar de pesar, e pensar durante toda a tarde o impacto dela na sua vida.

                A ansiedade, a expressão exasperada da loirinha, deu lugar à apreensão. Apreensão despertada pelo silêncio incógnito de Natalia que ainda absorvia a decisão aparentemente atropelada da namorada.

-- Nat fala alguma coisa pelo amor de Deus!

-- Você é louca!

-- Hã? Não era isso que você queria? – Diana perguntou surpresa.

-- Você é adoravelmente louca...

                Natalia avançou na boca de Diana selando com um beijo sua satisfação com a notícia.

-- Por um momento tive medo de você ter desistido de nós... – Diana confessou acariciando o rosto de Natalia.

-- Não posso desistir de nós Di... Se fizesse isso, estaria abrindo mão de conhecer o que é o amor, não dá pra desistir tão fácil do amor... Pelo menos é o que dizem por aí.

-- Amor?


-- Se o amor não é isso que estou vivendo com você, o deixa pra lá, e me deixa estar com você assim pra sempre, colada no seu corpo esperando seu beijo me tomar.

                O sorriso de Diana falou muito. O verde dos seus olhos cintilavam uma emoção honesta, que precedeu o momento de paixão mais doce entre o casal até então. Delicadamente Diana conduziu a namorada até seu quarto, sentou-se diante dela na cama, e sem pressa beijou a barriga desnuda que estava à altura de sua boca quando a despiu, desabotoou a calça e em segundos, Natalia estava diante dela exibindo seu corpo quente e lindo decorado com a lingerie quase inocente, deixando evidente sua excitação na respiração acelerada e colo ruborizado, ansiosa como se fosse a primeira vez que se entregava a alguém. Diana puxou o corpo de Natalia sobre o seu e suavemente com o dorso da mão, acariciou a face da namorada que fechou os olhos se deliciando com aquela carícia responsável por sua pele eriçar-se totalmente. Aos poucos o toque delicado deu espaço a um passeio pelas pernas de Natalia no qual as unhas de Diana intercalaram, hora deslizando com suavidade, hora se encravando nas coxas e glúteos, elevando a excitação ao auge.

                Não demorou em Diana ler o que o corpo da outra ditava, com os corpos encaixados, se deram. A loirinha imprimiu seu toque no sexo pulsante de Natalia, arrancando gemidos de prazer da namorada que não resistiu ao desejo de estar também dentro de Diana, assim alcançaram simultaneamente o ápice.

                Durante a semana não mudaram a rotina, dessa vez sem a preocupação de esconder o relacionamento, mas sem alardes, o bom senso e experiência de Diana no universo gay e no meio preconceituoso que viviam, ponderou manifestações de carinho em público. Ironicamente, não reencontraram Pedro e Lucas na faculdade, o que acabou adiando a revelação tão temida por Diana acerca do namoro com Natalia.

                Na manhã de sábado, Diana acompanhou Natalia até o treino do time de vôlei, seria a oportunidade de esclarecer para as colegas sua decisão de não se mudar para a república delas e confessar aos amigos seu relacionamento secreto com a paixão deles.

                O acaso parecia estar brincando o casal, o treino fora cancelado pela reitoria da universidade que agendara para o sábado, a manutenção da rede elétrica do campus.

-- Vamos à república dos meninos então... Resolver logo essa pendência.

                Diana disse decidida. Natalia acenou em acordo. Enquanto caminhavam para o estacionamento, o celular da loirinha tocou, era sua mãe, afastou-se da namorada para atender buscando escutar melhor o que sua mãe falava, mas, em uma questão de segundos a tranquilidade do sábado no campus foi rompida pelo barulho abrupto do motor de uma motocicleta que avançou em direção a Natália.

                Antes que a moça se desse conta do perigo, Diana gritou correndo em direção a namorada. O veículo foi mais rápido, entretanto, mais rápido ainda, foi Pedro, que surgiu entre os carros estacionados, se jogando à frente de Natalia, empurrando a jovem do atropelamento, atraindo para si o impacto da batida.

CAPÍTULO 35 - Primum non nocere
*Primeiramente não prejudicar. Critério médico, para empregar novas drogas em seres humanos; que elas não prejudiquem o paciente. 
No caso do capítulo não se restringe ao critério médico.

                Natalia e Diana caminharam atordoadas pelo hospital. As suspeitas acerca da motocicleta sem placa ter sido pilotada por Sandro eram praticamente certezas, o que as deixava ainda mais apreensivas, uma vez que nada poderiam provar contra o rapaz. No entanto, a maior apreensão sem dúvida era o estado de Pedro.

                Diana com o coração apertado temia pelas consequências do ato heroico na vida do rapaz, ao mesmo tempo em que via sua culpa tomar maiores proporções com a manifestação apaixonada a favor da vida de Natalia.

                Quanto a Natalia, um turbilhão de emoções se misturava. O pânico por ter sido alvo de um atentado mais uma vez, a apreensão pela vida de Pedro e um peso enorme na consciência, apesar de injustificável, tomou de conta da jovem. O remorso insano por não amar o rapaz que foi capaz de arriscar sua vida para salvar a dela deixou Natália pensativa, tensa e estranhamente distante de Diana, sentia como se estar perto da namorada ofendesse o ato de bravura de Pedro.

                O mais incômodo para ambas era o eco da declaração de Pedro antes de ficar inconsciente:

-- Eu amo você Natália.

                Lucas chegou apavorado, despejando a série de perguntas relacionada ao acidente e ao estado do irmão. Incapazes de dar respostas satisfatórias, o rapaz saiu em disparada pelo corredor do hospital em busca de informações. Retornou minutos depois com uma expressão angustiada.

-- O que aconteceu Lucas? – Diana perguntou tensa.

-- Ele ainda está inconsciente, provavelmente sofreu traumatismo craniano, estão fazendo exames. Eu preciso ligar para minha mãe...


                Lucas sentou-se como se não pudesse suportar de pé o medo que lhe tomava. Natalia e Diana permaneceram caladas, e ainda mais distantes uma da outra. A loirinha ofereceu sua mão para Lucas segurar num gesto de conforto e de amizade incondicional.

                No fim da tarde o médico que atendeu Pedro confirmou o diagnóstico de traumatismo craniano, esclarecendo que seria necessária uma pequena cirurgia para diminuir a pressão causada pelo edema no cérebro. Atordoado o irmão do rapaz se recusou a assinar a autorização para o procedimento, acabou sendo convencido por Diana a fazê-lo, ressaltando a importância para a vida do irmão.

-- E se alguma coisa pior acontecer com essa operação aí Diana? Minha mãe me mata quando souber que autorizei isso! Melhor esperá-la chegar e ela decide.

-- Lucas cada minuto é importante no estado do Pedro... Sua mãe só vai chegar aqui tarde da noite, esse hospital tem os médicos mais estudiosos do estado, se optaram por isso é porque é o melhor a fazer.

                O rapaz consentiu e horas depois, quando dona Laura chegava ao hospital acompanhada de seu irmão Alberto, receberam a notícia do sucesso da intervenção.

-- Como assim, abriram a cabeça do seu irmão? – Dona Laura perguntou assustada.

-- Calma mãe, foi um procedimento simples e o que importa é que deu certo.

-- Podemos vê-lo? – a mãe indagou ansiosa.

-- Por enquanto não dona Laura.

                Diana respondeu, chamando atenção da senhora.

-- Diana! Minha querida, quanto tempo!

                Dona Laura abraçou a loirinha com ternura.

-- Tantas ocasiões para nos encontrarmos e precisamos nos encontrar justo numa tragédia?

-- Menos Laurinha, menos... – Alberto ponderou despertando risos discretos de Diana e Lucas.

-- Tragédia sim! Ainda nem sabemos como nosso menino vai acordar!

-- Não podemos pensar assim mãe. O médico está bastante otimista, vamos pensar assim também.

                Lucas pôs as mãos nos ombros da mãe pedindo.

                O tio dos rapazes, por ser médico, conseguiu autorização para que sua irmã pudesse ver Pedro, o que obviamente fez Laura vibrar. Bem perto do leito da UTI, Laura segurou a mão do filho emocionada, e notou Pedro murmurar alguma coisa.

-- O que Pedrinho? O que foi meu filho? É a mamãe que está aqui ao seu lado...

-- Natalia... Natalia... Meu amor...

                Laura conseguiu entender o que o filho tentava falar, mas o nome repetido não lhe era familiar até sair da UTI e ouvir uma conversa entre Lucas e Natalia.

-- Você não tem que se sentir culpada Natalia! O Pedro faria qualquer coisa por você, e se fosse você a estar mais uma vez machucada aqui nesse hospital, ele sofreria ainda mais! Ele e eu também...

-- Então é você a Natalia? O amor do meu filho?

                Laura abraçou Natalia como se fosse íntima.

-- Meu filho tem muito bom gosto, você é linda minha querida!

                Sem palavras, Natalia limitou sua resposta a um sorriso tímido.

-- Vocês sempre me escondendo as coisas... Por que eu não sabia que Pedro estava namorando?

-- Não eu... – Natalia tentou desfazer o mal entendido em vão, Laura lhe interrompeu.

-- Mesmo inconsciente, é o seu nome que ele chama minha filha... Você deve ser mesmo muito especial para meu Pedrinho amá-la tanto...

                Laura afagou o rosto de Natalia ternamente. A emoção da senhora calou a todos, a ponto de impedir Lucas, Diana e a própria Natalia de contar a verdade.

                E assim, sem querer, como uma grande piada do destino, Natalia se tornou a namorada de Pedro, que evoluía bem no seu quadro clínico nas horas que se sucederam. Laura era só paparico com a nova nora, e Alberto estufava o peito para falar com orgulho do ato heroico do seu filho para defender sua amada.

                Se dentro de horas uma distância se instalou entre Diana e Natalia, o novo posto na vida de Pedro da mocinha em questão pareceu criar um abismo entre as duas. Mal conseguiam se encarar até uma desviar o olhar. O segredo delas tomara uma proporção de adultério que as envergonhavam e lhes somava uma culpa gigantesca.

-- Lucas... A gente precisa dizer a verdade a sua mãe e ao seu tio, eles estão entendendo tudo errado! – Natalia cochichou.

-- Nat, acredite, eu sou um dos principais interessados nisso, mas não é o momento.

                Lucas respondeu fazendo sinal para que Natalia se acalmasse.

                Enquanto isso, Laura e Alberto compartilhavam com Diana o orgulho da bravura de Pedro, e já faziam planos para o futuro dele com Natalia.

-- Pedro é um rapaz tão romântico, sensível, merece uma boa moça pra construir uma família... Diana, essa menina é uma moça boa não é? – Laura indagou curiosa.

                Pálida, Diana se sentiu encurralada, como se aquela pergunta implicasse em entregar seus sentimentos por Natália.

-- Diana? Natália não é uma boa moça para Pedro? – Alberto insistiu.

-- Han? Ah, cla...Claro que sim, é uma garota muito legal.

                A vontade de Diana era fugir daquela situação, sua hesitação se dava a dúvida de arrastar ou não a namorada nessa fuga.    

                Era quase madrugada quando Alberto chamou a atenção de todos:

-- Pessoal, melhor irmos todos descansar, não adianta ficarmos aqui. Pedro não pode receber visitas e ficará sedado, só acordará amanhã.

-- O senhor tem razão tio... Nós te deixamos em casa Natalia, vamos?

-- Não é preciso Lucas, eu posso ir de táxi... – Natalia respondeu nervosa.

-- Imagina! Um táxi pra o fim de mundo que você mora? – Lucas relutou.

-- Deixa Lucas, vocês estão cansados, ainda procurarão hotel... Eu levo a Natalia em casa.

                Diana interrompeu a discussão para o alívio de Natalia. No trajeto para casa, o silêncio incômodo entre o casal pareceu instalar o clima entre duas desconhecidas. Somente no apartamento de Diana, Natalia quebrou a mudez mútua.

-- Não acredito nesse dia que tivemos hoje... Saímos de casa pra acabar com o segredo do nosso namoro, e eu volto no fim da noite namorando o Pedro e amiga da minha suposta sogra!

                Natalia se jogou no sofá exausta e contrariada.

-- Você deveria ter resolvido esse mal entendido imediatamente, Laura está até imaginando os netos que você dará a ela...

-- O quê?! – Natalia saltou do sofá.

-- É isso mesmo... Não duvido que ela já tenha naquela cabecinha dela toda cerimônia de casamento arquitetada.

-- Você só pode estar brincando...

-- Não, eu não estou. Pedro é agora um herói que arriscou sua vida para salvar sua amada... Nada mais justo do que ele se recuperar, e ser feliz para sempre com a mocinha.

-- Você está com raiva do Pedro ter me salvado? Porque essa ironia? Isso é cruel Diana!

-- Ah esquece Natalia! Estou cansada, atordoada, chateada e principalmente cheia de medos, medos que desconhecia antes de te conhecer.

                Diana virou as costas e caminhou em direção ao quarto, sendo seguida por Natalia.

-- Diana você pode me explicar o porquê disso? Dessa ironia, dessa mágoa...

-- Natalia você consegue entender o que estou passando? Hoje mais uma vez atentaram contra sua vida, e mais uma vez não fui a te defender, quando finalmente eu decido abrir meu coração com meus amigos, um deles está com a cabeça quebrada num leito de hospital por fazer o que seria minha obrigação. E sabe o que é pior? Eu não sei do que tenho mais medo: se é do Pedro ter sequelas desse acidente ou de te perder pra ele!
- Di...
- O que Natalia? Vai-me dizer que estou sendo ridícula? Pode até ser que eu esteja mesmo agindo como uma, mas durante todo o dia Natalia eu vivi essa sensação dúbia, me senti uma traidora, e pra coroar essa epopeia, você simplesmente calou quando Laura te chamou de namorada do filho dela!

-- Diana eu tentei me explicar, mas ela não deixou, e depois o Lucas pediu que eu fizesse isso em outro momento, mais calmo, quando o Pedro estivesse estável.

-- Eu só consigo antever as coisas piorarem... Pode ser puro medo, ou insegurança, coisas que nunca experimentei, mas tenho a sensação que desfazer essa história não será tão simples.

-- Di, amanhã mesmo a gente esclarece tudo pra mãe e o tio do Pedro, vamos fazer isso juntas, você tem razão, não podemos protelar isso.

                Diana sentou-se na beira da cama desanimada, demonstrando sua pouca confiança no plano de Natalia.

-- Di... Vamos resolver isso juntas, vai ficar tudo bem, o Pedro vai se recuperar, e nós vamos revelar a verdade. Confia em mim.

-- Tudo bem? Nat, alguém tentou te atropelar, e não temos como descobrir quem foi, melhor dizendo, não temos como provar que Sandro está por trás disso.

-- A gente vai encontrar um jeito... Mas, precisamos ficar juntas... Foi torturante ficar longe de você o dia todo...

                Natalia sentou-se no colo de Diana, beijando sua face, arrancando um sorriso desarmado da namorada.

-- Foi mesmo terrível passar o dia inteiro com você sem poder te abraçar, te beijar...

-- Já que agora você pode, o que você está esperando pra me beijar então?

                Entregaram-se a um beijo plácido, tenro, que guardava a esperança de que o novo dia que surgia trouxesse boas notícias e afastasse qualquer confusão que as separasse.

******


                O domingo começou tarde para Natalia e Diana, ainda que despropositalmente, nenhuma queria sair da outra para uma realidade incógnita, entretanto, o celular de Diana as despertou para a dura obrigação de encarar os fatos.

-- Oi Lucas, e aí como o Pedro está?

-- Está evoluindo bem clinicamente, a qualquer hora pode acordar, te liguei porque daqui a pouco é o horário de visitas, imaginei que você quisesse vê-lo.

-- Ah sim claro, estou indo.

-- Sem querer explorar sua boa vontade... Será que você pode ir pegar a Natalia e trazê-la? Minha mãe está me enchendo desde cedo para fazer isso...

-- Pode deixar, eu levo a caipira.

                Diana mal humorada desligou o telefone,  com um mal humor além do seu normal ao acordar. O seu jeito abrupto de se desvencilhar de Natalia acordou a moça.

-- Ow! Bom dia né? O que houve? Por que essa cara?

-- Seu cunhado ligou... Sua sogra quer lhe ver.

                Diana caminhou até o banheiro deixando Natalia com o humor semelhante ao dela.

-- O pior de tudo é aguentar essa ironia de sua parte sabia? – Natalia disparou.

                Diana deu o silêncio como resposta. Antes de saírem de casa com destino ao hospital a loirinha segurou a mão da namorada e disse:


-- Desculpa, estou pilhada, cheia de neuras por um medo absurdo de te perder, medo das consequências desse atentado na vida do meu amigo e na vida da gente.

-- Eu também estou com medo Di, você imagina a zona que está minha cabeça com tudo isso? Tem um louco querendo me matar depois de tentar me violentar, é a segunda vida em risco por causa dessa perseguição, parece que fui transportada pra uma novela e só posso assistir tudo sem poder mudar os próximos capítulos!

-- É, posso imaginar... Estou sendo insensível com você não é?

-- Um pouquinho.

                Natalia fez um gesto com os dedos, arrancando um riso discreto da namorada.

-- Desculpe-me, vou tentar controlar minha insegurança.

-- Não precisa ficar insegura Di, estamos juntas, e não há nada que possa nos separar se temos certeza do que sentimos.

                Diana contemplou o rosto de Natalia e o afagou.

-- Nat, essa sua inocência te deixa ainda mais encantadora. Que bom seria se isso fosse verdade...

                Trocaram um beijo carinhoso e seguiram para o hospital trocando afagos, disfarçando a tensão. Ao chegar, a apreensão estampada nas faces de Lucas, Laura e Alberto anunciou o que as esperava naquela visita.

-- E então? Vocês já entraram? – Diana perguntou.

-- Sim. – Lucas respondeu.

-- Ele já está consciente? – Natalia indagou.

-- Sim, mas...

-- Mas o que Lucas? – Diana perguntou angustiada.

-- Ele não se lembra de nada. – Alberto completou.

-- Não se lembra de lá como? Do acidente? Isso não seria ruim. – Diana comentou.

-- Não minha querida! Ele não se lembra de nós, não se lembra quem ele é, ou o que faz! – Laura exclamou nervosa.

-- Mas é temporário não é? – Natalia inquiriu.

-- Estamos esperando o médico para conversar melhor, mas pela minha experiência, acredito que sim. – Alberto respondeu.

-- Nós podemos entrar ainda? – Diana quis saber.

-- Ele ficou muito agitado com nossa visita, foi sedado. Mas, deve ser transferido para o quarto ainda hoje, é melhor visitá-lo lá.

                Lucas disse com a aparência nitidamente tensa.

-- Tenho esperanças que ele se lembre da namorada.


                Laura disse abraçando Natalia. Diana franziu a testa, sinalizando para a namorada encerrar naquele momento o mal entendido sobre sua relação com Pedro.

-- Dona Laura, sobre isso, gostaria de esclarecer que...

                Lucas puxou Natalia apressado.

-- Natalia, eu posso falar com você um instante?

                O rapaz cochichou ao se afastar da mãe:

-- Natalia pelo amor de Deus! O meu irmão quase morreu pra te salvar! Você não pode esperar ele se recuperar para desiludir minha mãe? Não basta a angústia que ela está passando?

-- Lucas isso é uma mentira! Estamos enganando sua mãe e isso só tende a piorar quanto mais tempo escondermos a verdade, e definitivamente eu quero e preciso contar a verdade.

-- Não imaginava que você fosse tão insensível.

-- Insensível? Lucas o que minimizaria na angústia de sua mãe, o fato do Pedro namorar comigo?

-- Sei lá Natalia! A esperança no futuro, a certeza que o filho está feliz, apaixonado...

-- Lucas ela pode ter toda esperança pelo futuro do Pedro, mas não comigo... Mentira nunca ajudou ninguém.

                Lucas segurou forte o braço de Natalia impedindo que ela se afastasse e insistiu:

-- Por favor, Natalia, ao menos pra que minha mãe acredite que o Pedro fez isso por achar que valia a pena... Quando ele estiver no quarto, desfazemos essa história e digo que fui eu quem não deixou você contar a verdade imediatamente.

                Inconformada, Natalia acenou em acordo. Observando de longe, Diana deduziu que a namorada voltara atrás na promessa de revelar a verdade para Laura, e seu coração se encheu de dúvidas, a insegurança tomou de conta da loirinha que sem maiores explicações saiu do hospital apressada, deixando Natalia mergulhada em uma agonia silenciosa, dividida entre o certo e o necessário.

*****

                Diana dirigiu sem rumo, amargando a aflição de interrogações que sozinha ela não podia solucionar. Sua reflexão não podia ser solitária, ela sabia quem podia lhe ajudar, e não hesitou em bater à porta de Julia, sua ex-namorada.

-- Mal pude acreditar ao ouvir sua voz no interfone. Há quanto tempo loira!

                Julia abriu a porta esbanjando sua beleza estilosa.

-- Tem um tempinho pra mim?

                Diana fez cara de criança abandonada.

-- Xiii, conheço essa conversa... E essa cara também! Não precisa se fazer de “Maria do Bairro”, se deixei você subir é por que estou disponível pra te escutar!

                Julia puxou Diana pela mão e perguntou:

-- Já almoçou loira?

-- Ainda não.

-- Então vamos para cozinha, estou fazendo aquele talharim que você adora!

                Enquanto almoçaram, Diana colocou Julia a par do que estava acontecendo. A artista plástica escutou atentamente sem nada comentar.

-- É isso... Não vai me dizer nada? – Diana inquiriu indignada.

-- O que há para falar se não a máxima: EU TE AVISEI!

-- Ah Julia não ferra vai!

-- Diana! Desde o começo te disse que essa história de esconder seus sentimentos dos seus amigos por essa menina não ia dar certo, mentira vira uma bola de neve... Se vocês tivessem revelado desde o começo, esse problema não existiria. E agora, com o agravante de ter essa culpa, essa insegurança que nem condizem com sua personalidade.

-- Julia não é hora de me analisar! Preciso de um conselho, de uma sugestão, qualquer luz que me indique o que devo fazer.

-- Diana você não é estúpida! Sabe perfeitamente o que deve fazer, a resposta continua sendo a mesma: conte a verdade! Nunca ouviu falar das palavras do Evangelho? “A verdade vos libertará”.

-- Ai meu Deus, não me diga que te aquele povo de saia longa que vende revistinha te converteu! Como chamam... Assembleia de Jeová!

-- Não, eu não me converti em uma testemunha de Jeová sua boba!

                Julia lançou o guardanapo contra Diana.

-- O Pedro está desmemoriado na UTI, enquanto a mãe dele está se apegando à ilusão que o filho arriscou a vida pra salvar a namorada, que por acaso é a minha namorada! E você me diz com toda serenidade pra eu seguir a bíblia?

-- Diana não ridicularize meu conselho, quando você sabe que essa é a única forma de resolver essa situação e você sabe disso! O problema é que está se acovardando! Sempre manteve essa pose de forte, decidida, mas assumir-se diante da sua faculdade que ama uma mulher te apavorou! Enquanto você era só uma rebelde ricaça que pegava mulheres tudo bem, mas namorar publicamente uma menina do interior é um passo que você não planejava não é?

-- Julia não viaja!

-- Então volte praquele hospital, segure na mão de sua namorada, e diga pra quem interessar que vocês estão juntas.

                Diana suspirou, como se enfim concordasse que era a solução mais sensata.

-- Mas que diabos essa caipira fez comigo? Julia meu peito aperta só de pensar na possibilidade de perdê-la!

-- É loira... Você está apaixonada: FATO! E acho bom você agir, antes que esse aperto no peito se transforme em dor-de-cotovelo!

-- E se agora for ela a não querer assumir? Afinal, o Pedro está meio “tamtam” por salvá-la...

-- Diana! Levanta! Ação! Conheci você menos molenga!

                A loirinha sacudiu as pontas dos cabelos com a mão, sinal de tensão que Julia sabia muito bem identificar.

-- Que se foda tudo! Vou acabar com essa farsa de uma vez!
************************

                Natalia sentia-se profundamente incomodada com a extrema atenção dada a ela por Laura e Alberto. A sua mente não se desprendia por um só momento de Diana. Aquela situação lhe sufocava, mas a gratidão por Pedro a impedia de extravasar a verdade.

                No fim da tarde, a boa notícia chegou para família de Pedro: o rapaz fora transferido para uma unidade semi-intensiva, o que permitiria a permanência de um acompanhante e as visitas estavam liberadas.

                Mesmo sabendo que Pedro não recordava seu parentesco, Laura, Alberto e Lucas se apressaram para vê-lo. A mãe ansiava principalmente pela reação do filho ao ver a suposta namorada.

                Visivelmente tensa Natalia entrou no quarto, a sua presença foi notada por Pedro que olhava com interesse e admiração.

-- Está se lembrando dela filho? – Laura indagou curiosa.

                Pedro apertou os olhos depois de fixá-los em Natalia por segundos.

-- Com certeza eu quero muito me lembrar dela...

-- Pedro, ela é sua namorada: Natalia.

                Alberto falou despertando o sorriso do sobrinho. Natalia permaneceu muda, quase presa à porta, a ponto de correr daquele quarto.

-- Está com medo de mim gatinha? Perdi a memória, não estou com um vírus contagioso...

                Pedro brincou fazendo sinal para que Natalia se aproximasse.

-- Vai minha querida... – Laura sussurrou.

                Natalia o fez lentamente, demonstrando contrariedade. Pedro tocou a mão gelada e suada da moça e sorriu:

-- Nervosa? – O rapaz perguntou.

-- Um pouco. Como você se sente?

-- Como se tivesse sido atropelado.

                Todos sorriram.

-- Então, eu acho que vou precisar de minha namorada para fazer me lembrar de todos os detalhes da minha vida, veja que duro será meu tratamento! – Pedro brincou.

-- Pelo menos o bom humor do meu irmãozinho está intacto! – Lucas comentou.

-- E você? Como vou acreditar que é mesmo meu irmão?

                Todos gargalharam e Pedro aparentemente não entendeu tantos risos. Lucas pediu um espelho para mãe, Laura rapidamente abriu sua bolsa e entregou ao filho.

-- Pepê, vê se você se enxerga!

                Lucas se aproximou do irmão entregando-lhe o espelho. Pedro arregalou os olhos e disse:

-- Pow irmãos gêmeos? Sério?

                Os risos mais uma vez tomaram de conta do quarto.

-- Obviamente eu sou mais bonito, especialmente agora. – Lucas brincou.

-- Você já nos confundiu gatinha? – Pedro perguntou a Natalia.

-- Sim, quando nos conhecemos.

                Natalia sorriu. O clima não podia ser mais amigável e familiar, o médico que tratava Pedro fez questão de ressaltar a importância daquilo para a recuperação completa de Pedro, inclusive para sua memória. Essa foi a deixa para Laura apelar para o amor heróico do filho como aliado para seu restabelecimento.

-- Todo mundo está aqui para te ajudar meu querido, inclusive sua namorada. Não é Natalia?

                Natalia concordou com a cabeça, tentando se afastar do leito de Pedro.

-- Fica aqui perto de mim gatinha.

                O desconforto de Natalia era tão óbvio que chamou a atenção de Lucas, especialmente quando Diana entrou no quarto e fuzilou com os olhos a moça que permanecia ao lado de Pedro segurando sua mão.

-- Diana!

-- Pedro exclamou.

-- Finalmente um rosto conhecido!

                Todos se surpreenderam com a lembrança de Pedro.

-- Ei! Como assim você se lembra da Diana e não se lembra de mim? Seu irmão gêmeo!

-- Lucas você acha mesmo que deveria me lembrar de um marmanjo que tem a cara igual a minha ao invés de uma gata como a Diana?

-- A pancada na cabeça pode ter mexido com sua memória, mas com certeza não alterou seu bom gosto! Sabia que não me esqueceria, impossível alguém se esquecer de mim! Como você está meu amigo? – Diana disse.

-- Com você aqui, te garanto que está bem melhor. Quem diria heim... Eu numa cama com duas mulheres espetaculares do meu lado!

-- Acho que você não está bem irmão... Essa pessoa tão engraçadinha que está falando não é você!

                Lucas brincou.

-- Minha namorada é linda não é Di? Não lembro como consegui uma gata dessas... Acho que você vai ter que me lembrar disso pra eu guardar a fórmula.

                Pedro olhou encantado para Natalia segurando sua mão. Diana visivelmente perturbada desviou o olhar e se afastou do amigo, disfarçou pegando o celular, pediu licença e saiu do quarto, e enviou mensagem para a namorada.

-- “Precisamos conversar agora aqui fora”.

                Com uma desculpa qualquer, Natalia foi ao encontro de Diana que andava impaciente pelo corredor.

-- Oi Di. Onde esteve o dia todo?

-- Por aí, pensando. Nat, a gente tem que abrir logo geral! Não dá mais pra esperar.

-- Diana calma! O Pedro está daquele jeito por minha causa, não posso despejar agora o fato de não corresponder ao sentimento dele...

-- Ei! Espera um pouco... Você está admitindo a hipótese de continuar essa farsa?

-- Di, não se trata de uma mentira sórdida! O médico acabou de nos falar que o Pedro precisa de um ambiente seguro, para recuperar suas memórias, desfazer esse mal entendido, acrescentando o fato de não ser a namorada dele e sim sua, pode prejudicá-lo ainda mais...

-- Não acredito no que estou ouvindo!

                Diana revirou os olhos e levou as mãos à cabeça.

-- Di, a gente já esperou tanto tempo, é só pra ajudar no tratamento do Pedro...

-- Natalia, o dano dessa mentira será muito maior do que os benefícios para a recuperação do Pedro.

-- Não te entendo sabia? Você mesma era contra assumirmos nosso namoro, e quando temos razões reais pra isso você me pressiona numa situação que já é tensa o suficiente para fazer o contrário do que me pedia?

-- Olha Nat eu sei que a culpa de estarmos nesse sufoco constrangedor agora é minha, por não ter aberto o jogo antes com todos, mas entenda que tive meus motivos.

-- Claro, nunca duvidei disso. O medo de perder seus amigos, e é esse mesmo motivo que tenho agora.

-- Não foi só por isso. Nat, eu sou sua primeira experiência lésbica, eu sei como isso é intenso, e tanta intensidade às vezes pode confundir e pior ser fugaz. Não conto as meninas daquela faculdade que ficaram comigo por curiosidade... No colégio me apaixonei por uma amiga namoramos umas semanas até perder a graça pra ela aquela novidade e as outras meninas a rotularem como a namoradinha da filha do senador.

- Não acredito que você está me comparando a essa menina. Você duvida do que sinto por você?

-- Não se trata disso Nat, é que enquanto estivermos em segredo, estamos protegidas. E se daqui a uns meses você descobrir que não é isso que você quer, que foi só uma experiência... Assumindo você fica taxada até o fim da faculdade como minha ex-namorada... Eu tive receio sim de assumirmos e nos expormos gratuitamente, e que essa exposição fragilizasse nossa relação, inclusive pela repercussão na amizade dos meninos.

-- Diana, eu não quero continuar mentindo, e não tenho o menor medo de enfrentar seja o que for na faculdade pelo fato de assumirmos nosso namoro.

-- Sua ingenuidade me encanta, e já sofro imaginando como será doloroso para você encarar a maldade das pessoas. E por você, eu quero fazer isso, por nós eu pago a preço.

                Diana ponderou o tom nervoso sorrindo para Natalia com seus olhos cintilando o sentimento puro que as unia.

-- É maravilhoso ouvir isso Di. Só te peço um pouco de calma agora...

-- Nat, escute-me: isso está virando uma bola de neve, não podemos protelar essa revelação! O Pedro pode demorar dias, semanas, meses para recuperar a memória, o que você vai fazer até lá? Namorá-lo?

                Antes que Natalia respondesse, Lucas as surpreendeu:

-- Por que não Diana?

-- Lucas? Não sabia dessa sua nova mania de escutar conversa alheia. – Diana alfinetou ao perceber a expressão de censura do amigo.

-- Adquiri desde que minha melhor amiga resolveu atrapalhar a recuperação do meu irmão.

-- Como você pode falar uma besteira dessas Lucas? Eu atrapalhar o Pedro?!

-- Então me diz por que você está pressionando assim a Natalia pra que ela desfaça a história do namoro com Pedro? Ele é um cara incrível, arriscou a vida dele por ela, não existe um homem que a mereça mais do que meu irmão! Você devia respeitar isso e parar com essa picuinha com a Natalia! Esse ciúme bobo de nós pow!

-- Lucas não se trata de ciúme. A gente está falando de uma mentira que está aumentando, tomando uma proporção que a gente não sabe onde vai chegar!

-- Desde quando você virou a guardiã da verdade?

-- Lucas chega! A Diana tem razão, não podemos enganar assim o Pedro. Não sinto nada por ele que não seja carinho, amizade e gratidão, por isso, não posso faltar com a lealdade com ele. – Natalia interferiu.

-- Sabe Natalia, não sei qual é a sua... Está se guardando pra quem? Pra seu namoradinho jeca invisível?

-- Você está sendo grosseiro Lucas... – Diana falou com expressão séria.

-- Diana eu acho que você está se metendo demais nesse assunto. Por mais que te considere como uma irmã, e de todos nós, a única pessoa que o Pedro lembrou foi você, acho que tem que ficar fora disso.

-- Não posso Lucas.

-- Por que não? Por que você tem sempre que mandar em nós? Por que você não aceita que finalmente o Pedro tenha te esquecido? – Lucas falou aumentando gradativamente o tom de voz irritado.

-- Por que a Natália é minha namorada! – Diana falou no tom à altura do amigo.

                Lucas emudeceu. Natalia arregalou os olhos, enquanto Diana se aproximou da namorada, segurando sua mão trêmula.

-- Estamos namorando a quase dois meses Lucas, e esse é um dos motivos pelos quais tenho que me intrometer nisso, não quero enganar meu amigo, nem muito menos arriscar meu namoro, espero que entenda isso.

                Lucas permaneceu mudo, atônito, ateve-se a apenas observar as duas se afastarem de mãos dadas pelo corredor do hospital.