quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - DÉCIMO SEXTO CAPÍTULO

Capítulo 16



A noite reservava uma reunião da fraternidade Gama-Tau, era necessário planejar mais uma super festa. A animação já tomava de conta das meninas quentes de Prescott, novatas e veteranas, todas tinham uma sugestão sobre o tema, mas sabiam que a decisão seria da presidente. Esta, por sua vez, parecia distante, observava com alguma tristeza a alegria das demais irmãs com a atenção de Amy, que se tornara a figura mais popular, sempre carinhosa e sorridente com as colegas.

Apesar de sentir que a loirinha queria provocar algo, Laurel gostava de ver a novata assim, mas pretendia na primeira oportunidade conhecer as intenções de Amy com essa mudança de atitude.

Rachel como sempre, iniciou a reunião, foi difícil conseguir o silêncio das Gama-Tau, mas enfim, as atenções estavam voltadas à secretária da fraternidade, que foi explicando como deveria ser a festa, qual instituição seria beneficiada. No caso, seria um orfanato. Esther mesma indicara, e sua recomendação foi aceita pelo comitê. Rachel então pediu ordem e começou a ouvir as sugestões das irmãs sobre a temática da festa:

-- Que tal anos 60?

-- Ah, melhor os Embalos do Sábado à Noite...

-- Festa do cabide!

-- Baile de máscaras...

A última voz, até um pouco tímida, chamou a atenção de Esther, que saiu de seu silêncio e se pronunciou:

-- Será isso, um baile de máscaras, o mistério será uma boa jogada de marketing, e é um tema inédito em nossas festas. Sem contar que o requinte poderá atrair grandes doadores para o orfanato.

A ideia era mesmo a melhor, não só por que saiu da cabeça de Amy, mas porque era a mais interessante dentre todas. Acolhida a sugestão, a discussão agora girava em torno de detalhes práticos como o local, equipes de trabalho, início dos serviços...

Os olhos de Amy não saíram de Esther, que a essa altura se afastava da confusão de vozes das meninas e subia para seu quarto, depois de cochichar algo com Rachel. Provavelmente a encarregando de coordenar o resto da reunião.

A loirinha não se conteve e seguiu a presidente da Gama-Tau, sem que fosse notada, pelo menos, era isso o que pensava. Entretanto, Amy foi surpreendida quando adentrava o estúdio no terceiro andar, na ponta dos pés, por uma voz baixa e suave atrás dela:

-- Perdida, novata?

-- Esther! Que susto!

-- O que você está fazendo aqui?

-- Eu... É... Na verdade... Vim...

Amy gaguejou, ruborizou, mas nada conseguiu responder, o tom frio na voz da morena, além de surpreendê-la, também a desconcertou.

Por mais que tenha decidido tomar uma atitude diferente com Esther, era impossível fingir indiferença à sua presença assim, tão próxima.

Esther sim conseguiu disfarçar o efeito que a postura que Amy apresentou nos últimos dias causou nela, mas teve que se esforçar para não tomá-la de novo em seus braços, talvez ainda um pouco ressabiada com a chegada de Michelle na rotina da universidade.

-- Se você não sabe o que veio fazer aqui, é bom que desça para ajudar nos preparativos da festa, que você mesma sugeriu.

-- É, vou descer, mas tenho uma dúvida. Já que você ainda é minha irmã guia, pensei que pudesse me responder, não achei isso no estatuto da fraternidade.

-- Dúvida? Sobre o quê?

-- Sobre... Namoro.

-- Namoro?!?

A face da morena mudou, e isso não teve como disfarçar. Amy percebeu, e por dentro, já se sentia vitoriosa por tal reação.

-- É, namoro. Há alguma coisa que impeça a escolhida de namorar?

-- Bem, você sabe que é intocável pelas meninas da Gama-Tau...

-- Sim, mas por outras meninas de outras fraternidades? Por meninos?

-- Mas do que você está falando?

-- Esther, a pergunta é simples, posso ou não?

Esther encarou Amy como se quisesse descobrir pelo olhar o motivo da loirinha perguntar aquilo, e pior, quem seria essa pessoa com quem estaria interessada em namorar. Teoricamente, nada no estatuto da fraternidade a impedia disso, e tinha que responder a verdade à sua escolhida. Mas pensou em criar uma nova regra naquele momento, então improvisou:

-- No estatuto não há mesmo nada definido quanto a isso. Mas acho difícil você conseguir manter um namoro, porque sua obrigação primeira deve ser com a fraternidade por enquanto, novata. E não pode deixar de atender um pedido meu, por exemplo. Seu namorado, ou namorada, entenderia isso?

-- Aí, depende de eu resolver essa questão, né? Saberei como manejar as situações...

Amy nem sabia direito de onde havia tirado essa idéia de namoro, mas percebeu que foi uma inspiração, tendo em vista o embaraço que causou em Esther. Logo, mil planos surgiram em sua cabeça. Ainda não sabia como executar, mas que a possibilidade dela aparecer com um namorado, ou namorada, provocaria ciúmes em Esther, isso, ela queria ver.

Desceu as escadas com um sorriso no rosto enquanto ouvia do estúdio um som de rock pesado num solo de guitarra.

* * * *

Naquela noite, Esther não dormiu. Revirava-se na cama imaginando quem seria o pretendente de Amy.

Por que estava tão irritada com isso?

Não suportou mais guardar aquilo tudo dentro de si, tinha que falar com Amy. Desceu as escadas em direção ao quarto da loirinha com pressa, ignorando a hora avançada, a conversa era urgente.

Não bateu na porta, arriscou e como imaginava, estava aberta. Fechou e trancou a porta com delicadeza. Olhando para Amy dormindo tranquilamente, viu-se desarmada. O rosto manso repousando tinha ares angelicais, mas o corpo exposto em uma camisola minúscula era um convite à tentação.

Aproximou-se da cama e sentou ao lado de Amy. Num momento de contemplação, fez menção de acariciar as mechas douradas que caíam sobre seu rosto, mas nesse instante, Amy movimentou-se, sentindo a presença de mais alguém na cama. Acordou assustada, Esther conteve seu grito, tapando sua boca, repetindo:

-- Calma, sou eu, Esther.

-- Que mania você tem de me assustar, Esther!

Amy foi se refazendo, sentando-se na cama, puxou o lençol ao perceber os olhos de Esther em suas pernas. Cruzou os braços tapando seu decote, e dessa vez foi ela a perguntar:

-- Perdeu alguma coisa aqui?

Esther sorriu, sabia que não havia explicação plausível para a presença dela ali, sorrateiramente na madrugada, invadindo o quarto da loirinha.

Mudou seu tom de voz e falou baixo:

-- Preciso falar com você.

Amy estremeceu um pouco, o olhar de Esther parecia queimá-la por dentro, mas tentou disfarçar tal ansiedade e respondeu:

-- Deve ser algo urgente pra você entrar no meu quarto essa hora da madrugada...

-- Na verdade, não é urgente, só estava sem sono...

-- Você perde o sono e vem acordar os outros?

Esther sorriu do tom irritado de Amy, mas não se intimidou. Prosseguiu encarando a loirinha tendo a certeza pelo rubor no rosto e o nervosismo dos gestos, que sua presença mexia com a novata.

Continuou:

-- Como sua guia, tinha que informar a você sobre alguns detalhes sobre seu comportamento como escolhida...

-- Novas regras?

-- Não são novas, são apenas lembretes...

-- Pois bem, estou escutando, presidente.

-- Esse seu futuro namoro aí... Bem, você tem que saber que não pode trazê-lo aqui para a fraternidade, e também não pode saber sobre nossos contratos, sobre nossas regras.

-- Como assim?

-- Não pode saber sobre você ser minha escolhida e suas obrigações comigo.

Amy ficou pensativa, enquanto Esther continuava:

-- As regras da fraternidade só os membros da Gama-Tau podem saber... Nossa sociedade é secreta, sagrada.

-- Tudo bem, só isso?

-- Por enquanto só...

-- Então, com licença, Esther, estou com sono.

Esther ainda encarou Amy por alguns segundos, olhou-a com desejo. Fez menção de se aproximar, mas Amy levantou-se da cama, dirigindo-se até a porta:

-- Boa noite, Esther. E da próxima vez, tome um chazinho, e não venha acordar os outros!

A morena parecia surpresa com a atitude da novata. Saiu do quarto meio desnorteada, esperava fazer Amy se render ao desejo evidente, tê-la em seus braços outra vez. Mas isso não aconteceu, deixando Esther ainda mais preocupada com o novo namoro de sua escolhida. Sentiu um misto de ciúme com um sentimento de impotência...