terça-feira, 19 de abril de 2011

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 24

CAPÍTULO 24: CUIDANDO DE SUZANA


No final da tarde fui ao quarto de Suzana como parte da rotina, fazer as prescrições antes de sair do plantão, Camila estava em cirurgia, assim tive que ir sozinha.

- Boa tarde Suzana, como se sente? Está sendo bem tratada?

- Agora sim – Suzana não perdeu o tom sedutor.

Sorri amarelo, pra disfarçar minha timidez com o comentário dela, mudei de assunto:

- Seus exames praticamente não se alteraram comparados aos da semana passada, os exames pré- operatórios, estão bons, assim sua cirurgia deve ser marcada para dois dias no máximo.

- Obrigada Isabela.

- Alguém veio pra te acompanhar?

- Não... Quem faria isso Isabela?

Senti uma tristeza por ela, de fato Suzana era muito sozinha.

- Suzana, posso te perguntar uma coisa?

- Claro qualquer coisa.

- Você herdou uma pequena fortuna de Bárbara, tem dinheiro para se tratar nos maiores centros do mundo, por que você veio justamente pra cá?

- Isabela, não podia perder a chance de estar perto de você nem que fosse a última vez, pensei que se morresse, pelo menos tinha a oportunidade de ter você do meu lado, nem que fosse como médica.

Fiquei sem ação diante dessa declaração, Suzana sentou- se na cama, colocou de lado um livro que lia e levantou- se caminhando em minha direção. Acariciou meus cabelos, e fitou- me com paixão.


- Isa, eu não deixei de pensar em você um dia sequer, as coisas que te falei sobre você estar mudada, foi puro ciúme, desespero por te perder... Sofri mais com sua ausência do que testemunhando Bárbara morrer a cada dia.

- Suzana, eu quis te ligar quando soube da morte de Bárbara, mas desisti...

- Você ainda sente algo por mim?

- Suzana, por favor...

Antes que eu completasse meu pedido em mudarmos de assunto, Suzana num rompante tomou meus lábios, não sei exatamente porque retribuir o beijo rejeitá- la naquela situação parecia cruel, ao mesmo tempo senti saudade daquela boca, estava outra vez nos braços de Suzana, interrompi sem demora aquele momento quando me lembrei de Camila, não, ela não merecia aquilo.

- Pára Suzana! Nossa relação deve ser puramente profissional, você não entende que existe outra pessoa envolvida a qual não merece ser magoada, eu a amo Suzana!

- Ama?

- Amo. – falei num tom mais baixo.

- E o que você sente por mim?

- Não sei, mas seja o que for, fica em segundo plano, primeiro porque você está aqui para salvarmos sua vida, e segundo, não vou magoar Camila com essa confusão, nunca faria isso, eu a amo.

Suzana tomou um ar entristecido, voltou para cama, e eu continuei:

- Você precisa de alguém pra te acompanhar, se você quiser ligo pro Vitor, ele pode ficar no meu apartamento.

- Não quero incomodar meu irmão... Ele teria que brigar com meu pai pra vir...

- Suzana, é injusto ele não saber o que está acontecendo com você, além do mais ele deve estar de férias da faculdade. – Entreguei-lhe o seu celular que estava em uma mesinha do lado da cama.

Ela ligou para o irmão, que garantiu chegar a Campinas no dia seguinte, comprometi-me em esperá-lo no aeroporto. Permaneci no quarto com Suzana fazendo-lhe companhia, conversando amenidades, nem vi o tempo passar, foi quando meu celular tocou, era Camila:

- Meu amor onde você está?

- Oi, estou aqui no hospital ainda, resolvi te esperar.

Eu andava para fora do quarto enquanto conversava ao telefone com Camila, ao chegar ao corredor, deparei-me com ela em frente ao quarto, estava indo ver Suzana antes de deixar o plantão.

- Isabela, seu plantão acabou a duas horas, e você passou todo esse tempo aqui? No quarto dela?

- Meu amor, estava esperando você sair da cirurgia para irmos juntas para casa.

- Você tem um consultório, tem a chave do meu, não tinha outro lugar no hospital para você me esperar?

Fiquei sem graça e sem palavras, enquanto ela entrava no quarto de Suzana, seguida de mim. Camila era uma médica fantástica, admirava o fato dela saber separar perfeitamente questões pessoais de seu profissionalismo, assim, foi atenciosa com Suzana, despedimo-nos marcando a cirurgia para dois dias. Pedi a uma técnica de enfermagem que estava de folga para passar a noite com Suzana, para evitar mais discussões com Camila.

No trajeto de volta pra casa, Camila não pronunciou uma palavra, eu fazia carícias no ombro dela, no seu rosto, qual criança buscando perdão depois de ter cometido travessura, ela não se movia, sequer me olhava, sabia me por de castigo direitinho. Quando chegamos ao apartamento, Camila seguiu para o banheiro, ignorando minhas tentativas de puxar assunto. Não tive dúvidas, despi-me e entrei no banheiro onde ela já estava tomando banho, coloquei minhas mãos na cintura parada diante dela numa postura desafiadora:

- Vai continuar me ignorando?

Ela sorriu me puxando para perto dela, colando nossos corpos, deixando a água cair sobre nós, jogou-me contra a parede, penetrando seus dedos no meu sexo, enquanto eu arranhava suas costas acompanhando os movimentos dela, tomada de tesão. Como de costume jantei sentada no seu colo, comendo do mesmo prato, cobrindo-a de beijos, mordidinhas, e carícias, até que ela retomou o assunto de sua chateação:

- Isa, eu tenho motivos para ficar insegura por todo esse cuidado seu com Suzana?

- Não Camila, é compaixão, você mesma diz que ela não foi um caso qualquer, não posso ficar insensível a isso, você sabe da gravidade do caso dela...

- Sei sim, mas também sei que ela não desistiu de você, está estampado nos olhos dela isso.

- Mas eu sou sua... Eu te amo Camila, acredita em mim.

Não tive coragem de revelar sobre o beijo, não teve importância e não queria contribuir para sua insegurança. De madrugada recebemos uma chamada urgente do hospital, algo acontecera com Suzana, desmaiou após convulsionar. Em menos de meia hora estávamos de volta ao hospital, Suzana estava sedada, Camila constatou que um dos aneurismas se rompera, a cirurgia, portanto, teria que ser realizada imediatamente. Apressei-me em convocar a equipe, e preparar tudo com Camila, senti um medo absurdo de testemunhar Suzana morrer na minha frente, não consegui assistir a cirurgia, fiquei na capela até a hora de buscar Vitor no aeroporto.

Tratei de colocar Vitor a par da situação real de sua irmã, vi aquele homem enorme chorar feito criança, me emocionei, mas logo me recompus afim de lhe transmitir algum otimismo, esperança, afirmando que Suzana gozava de excelente estado físico o que favoreceria sua recuperação. Oito horas depois de cirurgia, Camila entrou no meu consultório onde eu aguardava com Vitor alguma notícia.

- Camila, esse é Vitor, irmão de Suzana.

- Muito prazer doutora, como minha irmã está?

- Olá Vitor. Sua irmã está estável, na UTI agora, deve permanecer lá pelas próximas 48 horas.

- Como foi a cirurgia Camila? –perguntei apreensiva.
- Foi boa... Pelo menos nenhum dos aneurismas se rompeu durante a cirurgia, consegui remover os que sobraram, mas, não consegui implantar o neurochip, as membranas estava muito vulneráreis, seria um risco a mais, e ainda não sabemos as seqüelas provenientes do aneurisma que se rompeu antes da cirurgia.

Foi um alívio, ao mesmo tempo ficamos temerosos sobre as tais seqüelas.

- Eu posso vê-la doutora? – Vitor perguntou ansioso.

- Agora não Vitor, mas abro uma exceção a tarde tudo bem?

Levei Vitor para meu apartamento, acomodando-o no meu quarto, já que eu praticamente estava morando com Camila, entreguei-lhe as chaves reservas do apartamento, pedi que descansasse e a tarde nos encontraríamos no hospital.

Antes de minhas obrigações, passei na UTI para ver Suzana, estava com a cabeça enfaixada, entubada, era de praxe induzir o coma em pós-operatórios de cirurgias neurológicas. Por mais que fosse comum ver pacientes ligados a aparelhos, ver Suzana daquela forma me angustiou profundamente, uma lágrima percorreu minha face, enquanto eu a observava, fingindo uma atitude profissional ajustando parâmetros do ventilador mecânico. Senti um medo avassalador de perder Suzana para a morte, relembrei nossos momentos juntas, desde que a vi pela primeira vez, nosso primeiro beijo, o pedido de casamento, nossa rotina...

Saí do quarto antes que os funcionários estranhassem minha demora na visita, Camila dormia no repouso médico, já que não dormira na noite anterior, operando por oito horas seguidas Suzana, resolvi passar por lá, até por desencargo de consciência por meus pensamentos diante do leito de Suzana. Entrei no quarto, e logo vi aquela mulher linda, em um sono sereno, eu adorava vê-la dormir, Bernardo comentava que minha baba chegava a cair quando me flagrava vendo Camila dormindo. Aproximei-me sem intenção de acordá-la, beijando sua face tranqüila.

- Isa?

- Oi meu amor... Não queria te acordar...

Camila passou a mão pelos meus cabelos, puxando meu rosto pra junto do seu beijando-me longamente minha boca.

- Ainda vai operar hoje?

- Não, tenho apenas uma consulta a tarde, já almoçou?

- Ainda não...

- Isa se eu não te ponho pra comer heim... Meu bebezinho...

Fiz cara de criança travessa, conquistando mais um beijo daquela boca tão apetitosa.

- Vamos comer então meu bebê, deixa só eu lavar meu rosto. – Camila levantou-se depois de beijar minha bochecha.

Suzana não acordou naquele dia, mas isso era esperado, seus sinais vitais permaneciam estáveis, no dia seguinte, Camila autorizou a diminuição dos sedativos, a fim de prepará-la para deixar o coma. No final da tarde, Suzana despertava, respirando sozinha, providenciamos a extubação, na expectativa de avaliar finalmente as seqüelas do aneurisma rompido. Camila se apressou em estimular a fala:

- Suzana, você pode me ouvir? Consegue falar?

Suzana se esforçou e falou com dificuldade, percebemos aí uma discreta paralisia facial:

- Onde estou? – Suzana falou baixo dificultosamente.

- Você está na UTI neurológica, foi operada ontem, você lembra quem sou eu?

- Dra. Camila.

- Muito bem, você consegue apertar minha mão?

Camila apertava a mão esquerda de Suzana, obtendo resposta satisfatória, fez o mesmo na mão direita, mas Suzana apresentava uma força significativamente diminuída.

- Suzana você sente o que estou fazendo?

Camila passava uma caneta na planta do pé esquerdo de Suzana, comprovando a diminuição do reflexo plantar, o que não aconteceu no pé direito. Estava diagnosticado assim que o aneurisma afetou o lado esquerdo do corpo de Suzana, seus movimentos naquele momento estavam comprometidos. Explicamos a situação a Vitor antes da entrada dele, estávamos otimistas tendo em vista que Suzana era jovem, e bom estado físico, tinha toda condição de reabilitação com fisioterapia.

Dois dias após a cirurgia, Suzana foi transferida para o quarto, já estava ciente de sua condição clínica, e pra nossa alegria, estava otimista em sua recuperação. Vitor permaneceu todo o mês com ela no hospital, praticamente não saía do quarto para nada, era todo carinho com a irmã.

Eu passava no quarto em todo intervalo de consultas, quem estava na minha frente não era a Suzana que me magoou, me traiu, era a Suzana que me encantava, que eu amei.

Um fisioterapeuta já iniciava o trabalho de reabilitação, ela estava confiante, e sempre que tinha a oportunidade me dizia que estava fazendo aquilo por mim, para me reconquistar, eu me dividia entre a felicidade de vê-la progredindo e o medo de decepcioná-la uma vez que não pensava em deixar Camila.

No início de agosto Suzana recebeu alta, orientada por Camila, permaneceu em Campinas para continuar a reabilitação, e avaliar seu progresso para inserirmos o neurochip.

Deixei meu apartamento com ela, contratei um técnico de enfermagem para cuidar dela já que Vitor teria que voltar ao Rio com o reinício de suas aulas. Dona Marta que era minha diarista e de Bernardo, passou a ficar o dia inteiro no meu apartamento para cozinhar e ajudar a técnica de enfermagem nos cuidados com Suzana. Revezava com Bernardo a tarefa de levá-la às sessões de fisioterapia, não havia nenhum dia que não a visse, e vibrasse com cada progresso seu.

Camila sentia-se incomodada com isso, mas o fato de morarmos juntas agora oficialmente, lhe dava mais tranqüilidade. Eu por outro lado, vivia um dilema, meus sentimentos estavam confusos, amava Camila, estava feliz com ela, tínhamos uma relação incrível, não me imaginava longe dela, em contrapartida eu tinha Suzana, esforçando-se para recuperar-se, inspirada por uma possibilidade de voltarmos a ficar juntas, estava vulnerável mas mostrava sua força justificada pelo amor a mim, não sabia se ainda a amava como antes, mas a amava, sentia uma forte ligação com ela, não queria só cuidar dela, chegava a imaginar minha vida com ela. Tratei de não alimentar esperanças nela, evitava ficar a sós com ela, tinha medo da minha confusão de sentimentos causar danos na vida de nós três.

SOCIEDADE SECRETA LESBOS -VIGÉSIMO TERCEIRO CAPÍTULO

Capítulo 23



Esther pilotou sua moto, com o pensamento perdido. No seu corpo ainda a lembrança do cheiro doce de Amy, mas a angústia de seguir ao encontro do que considerava obrigação incontestável, na verdade, um fardo na sua vida.

Poucos minutos depois, estava diante de uma luxuosa casa de praia, com espaçosas janelas de vidros no segundo andar, uma varanda ampla que acolhia confortáveis cadeiras para tomar sol. Em pé na varanda, estava uma bela mulher, vestida num hobby transparente, tecido tão leve, que esvoaçava expondo o lingerie branco inegavelmente sensual.

A tal mulher observou Esther adentrar pelo portão e estacionar a moto na frente da garagem, enquanto degustava sua taça de champanhe.

Sem muita pressa, Esther entrou na mansão, colocando o capacete em qualquer lugar, até notar a presença da sedutora mulher descer as escadas de degraus acarpetados.

Com tom ríspido, abordou à morena:

-- Qual parte do “quero ver você agora”, você não entendeu?

-- Michelle, por favor... Estou cansada, vim o mais rápido que pude...

Michelle Roberts aproximou-se de Esther, que sequer tinha disposição de encarar aquela beldade. Mas ela não se importou com a frieza da morena, com todo domínio e empáfia que lhe era tão peculiar, foi despindo Esther, praticamente rasgava suas roupas, arranhando suas costas e braços.

Esther não esboçava reação alguma, depois de totalmente despida diante de Michelle, simplesmente abriu os braços e disse com tom de revolta:

-- Pronto... Use logo o que você quer.

A frase da morena despertou a fúria da Senhora Roberts, que não tardou demonstrar, deferindo na face de Esther um sonoro tapa, deixando as marcas de seus dedos no rosto profundamente magoado da presidente da Gama-Tau. A revolta, entretanto, não adormeceu. Ajeitou seus cabelos que caíam sobre os olhos e desafiou Michelle mais uma vez:

-- Então, hoje vai ser no estilo sádico? Onde estão seus brinquedinhos?

Ao ouvir isso Michelle fez menção de repetir a agressão, mas o olhar fixo de Esther sem manifestar qualquer medo a tal gesto parecia intimidar aquela dura mulher, que parou a mão no ar. Em vez de um tapa, entrelaçou seus dedos nos cabelos de Esther, puxando-a com força para perto de seu corpo. Conduziu a mão de Esther para dentro de sua calcinha e cheia de desejo ordenou:

-- Sua vadiazinha... Me coma, agora!

Esther sabia que não tinha escolha, mas encheu seus movimentos de agressividade. Empurrou Michelle contra a parede, levantou uma das pernas da Senhora Roberts, e penetrou com força dois dedos no sexo de Michelle, fazendo questão de aranhar a cavidade daquela mulher com suas unhas. Desejava machucá-la, estava tomada de sadismo, e esse sentimento regeu aquele ato, o que não evitou que Michelle gozasse nas mãos da morena.

Contrariada por ter dado prazer àquela ardilosa mulher, Esther se afastou bruscamente, catando suas roupas pelo chão, pensando talvez em encontrar pelo chão um resto qualquer de dignidade para voltar pra mansão Gama-Tau, quando fora mais uma vez abordada por Michelle, que lhe agarrara por trás, apertando seus seios com violência. Com uma mão desceu até o sexo de Esther e disse de maneira autoritária, como sempre:

-- Agora você vai dar pra mim, sua cadela!

Esther tentou se defender, mas era inútil diante de Michelle Roberts, a qual jogou a morena nos degraus das escadas e movimentou-se sobre ela, penetrando-a, hora com dois, hora três dedos, com as unhas afiadas, despertando gemidos de dor em Esther. Tal som parecia excitá-la ainda mais, a morena por sua vez, derramava lágrimas, desejando mais do que nunca livrar-se de seu passado, de seu carma, ou sua missão de vingança.

Michelle levantou-se daqueles degraus, encarando Esther com ares de interrogação, mais que isso, demonstrava raiva.

-- O que está acontecendo, hein? Até parece que estava sendo torturada...

-- Já está satisfeita, Michelle? -- Esther perguntou enquanto mais uma vez recolhia suas roupas.

-- Te fiz uma pergunta!

-- Estou cansada, Michelle...

-- Você chega aqui fedendo a praia... Não usou os cremes e perfumes que lhe dei? Dei para você usar comigo, já lhe avisei que não quero esse cheiro de latina...

-- Chega, Michelle!

-- Quem você pensa que é pra gritar comigo, sua vadia?

Nesse momento Michelle segurou firme os braços de Esther, cravando suas unhas a tal ponto, que ao tentar desvencilhar seus braços das unhas de Michelle, a morena viu o sangue escorrer em um arranhão pelo braço esquerdo. Observou o arranhão, recolheu rapidamente as roupas e saiu em direção ao banheiro do térreo da mansão.

Não queria chorar, demonstrar fraqueza na frente de Michelle. Diante do espelho do banheiro se olhava perguntando-se sobre o caminho que escolhera para sua vida. Chorou copiosamente enquanto se lavava... Vestiu-se enfim e voltou para a sala, encontrando Michelle, vestida no mesmo lingerie sensual, segurando outra taça de champanhe.

-- Você não vai a lugar nenhum... Não te dispensei ainda, essa noite você dorme aqui.

-- Não, estou indo embora.

-- Não é um pedido, Esther, não me irrite!

-- Não é uma resposta, é um comunicado, estou indo embora.

-- Seu ataquezinho vai lhe custar caro... Pode esperar...

A morena estremeceu com a ameaça daquela mulher que soltava faíscas de raiva pelo olhar, mas mesmo assim não perdia o ar dominador. Mesmo temendo a retaliação, pegou seu capacete e bateu a porta da mansão, experimentando junto com esse temor, a mesma sensação que sempre lhe tomava depois de encontrar-se com Michelle: humilhação, revolta, angústia.

domingo, 10 de abril de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - VIGÉSIMO SEGUNDO CAPÍTULO

Capítulo 22



Amy se apressou em abrir a porta e ver a morena estonteante parada diante dela, com um sorriso absolutamente fascinante, em suas mãos, dois capacetes:

-- Vamos?

Amy apenas balançou a cabeça positivamente retribuindo o sorriso com o mesmo brilho no olhar. Não resistiu à expressão de felicidade da morena, beijou-lhe suavemente os lábios, fazendo Esther ficar corada com o gesto de delicadeza extremamente carinhoso.

Desceram as escadas trocando olhares de encantamento, no térreo da mansão, as demais irmãs da fraternidade pareciam calar qualquer assunto ao avistarem a presidente da Gama-Tau com sua escolhida descerem juntas os degraus numa atmosfera de casal apaixonado.

Ver Esther com aquele aspecto era inédito. Para as veteranas, Esther sempre se apresentou como uma mulher enigmática, autoritária. Todas conheciam seu hábito de seduzir meninas vulneráveis no campus, assim como deixar muitas apaixonadas, até mesmo dentro da fraternidade, mas nunca souberam de algum tipo de relacionamento mais sério da morena.

Rachel foi mais uma das que se surpreenderam com a disposição da amiga em se mostrar tão transparente diante das irmãs acerca dos sentimentos dela por Amy. Não escondeu sua satisfação com isso, torcendo interiormente para que Esther esquecesse enfim o tal plano ardiloso de vingança e se entregasse nesse relacionamento.

Laurel, por outro lado, demonstrava preocupação, temia que a presidente da fraternidade magoasse mais uma vez a loirinha pela qual a ruiva nutria tanto carinho e amizade.

Mas, quem mais ficou visivelmente perturbada com a aparição do casal, sem dúvida, foi Ellen. Parecia soltar faíscas de raiva pelo olhar, apertou com força o taco de sinuca que segurava, olhava fixamente para Amy e Esther como se desejasse só pela força da mente derrubá-las dos degraus.

Ao contrário da platéia da mansão Gama-Tau, o casal ignorou todos os olhares, saíram pela entrada principal, montaram na motocicleta da morena. Amy, com a postura de namorada de Esther, abraçou-a pela cintura forte, mas carinhosamente. A morena deslizou as mãos pelos braços de Amy envoltos nela como se aprovasse o gesto da loirinha.

Chegaram à marina da cidade, Amy logo avistou o barco de Esther, cenário da noite de amor que resultou na manhã de decepção, quando a abandonou lá. Sentiu um frio na espinha ao lembrar-se do episódio, Esther parecia entender a expressão de receio de Amy, segurou sua mão e disse mansamente:

-- Não se preocupe, vamos pra um lugar especial hoje e lá não tem táxi... Logo, não posso te deixar...

A morena disse isso num tom jocoso, despertando um sorriso tímido da novata.

Embarcaram e alguns minutos depois, Esther recebeu a entrega de um restaurante, guardou tudo na cabine e em pouco tempo estavam em alto mar.

Esther mantinha o tom de mistério acerca do destino final delas, mas Amy não estava preocupada, via nos olhos da morena uma paixão sincera. Abraçou-a por trás enquanto Esther conduzia a embarcação. Deliciando-se no cheiro da nuca morena desnuda por um rabo de cavalo, a loirinha roçava o nariz e a boca ali provocando arrepios na pele macia de Esther.

Navegaram por cerca de meia hora, chegando numa ilha completamente deserta. Um cenário deslumbrante que deixou Amy sem voz. Esther sorriu e dessa vez foi ela a abraçar a loirinha, recostando seu queixo nos ombros de Amy cochichando no seu ouvido:

-- Hoje, essa ilha é nossa...

Amy suspirou, girou seu pescoço a fim de alcançar os lábios de Esther, trocando um beijo apaixonado, cheio de desejo. No convés do barco, Esther serviu o almoço encomendado, dedicando uma atenção absoluta a Amy, que a essa altura estava inevitavelmente rendida ao clima romântico que Esther preparou.

Depois do almoço, Esther conduziu Amy até a praia, caminharam de mãos dadas. Naquele momento, só existiam as duas no mundo, Esther não cansava de se desdobrar em cuidados com a loirinha, que olhava para ela como se estivesse diante de uma nova mulher, mas com o mesmo encanto misterioso.

Conversaram amenidades, Esther tinha mil histórias engraçadas a contar das meninas da fraternidade. Amy se divertia com a descontração da morena, os risos só paravam para dar espaço à troca de carinhos, testemunhada apenas pelo cenário paradisíaco.

Sentadas na praia, viram o sol se escondendo, se amaram ali mesmo sem pressa, sem medos. Andaram juntas até o mar, e se deixaram ser banhadas naquela água que parecia acompanhar os movimentos de ambas se tocando com volúpia.

Finalmente voltaram ao barco quando a noite se aproximava, antes de zarpar, Esther pediu que Amy sentasse ali mesmo no convés, e em segundos surgiu com um violão. Sentou-se em frente à loirinha, que nesse momento já escancarava um sorriso iluminado pela lua na pele ruborizada pelo sol de dia.

Esther apenas sorriu, e anunciou:

-- Escutei essa música e achei que expressa o que quero dizer... Como sou desajeitada com diálogos... Acho que isso você percebeu... Então... Presta atenção, tá?

I don't know but
I think I may be
Fallin' for you
Dropping so quickly
Maybe I should
Keep this to myself
Waiting 'til I
Know you better

Eu não sei, mas
Talvez eu esteja
Me apaixonando por você
Tão rapidamente
Que talvez eu deva
Guardar isso para mim
Esperar até conhecê-la melhor

I am trying not to tell you
But I want to
I'm scared of what you'll say
So I'm hiding what I'm feeling
But I'm tired of
Holding this inside my head

Estou tentando
Não contar pra você
Mas eu quero
Estou com medo do que irá dizer
Então escondo
O que estou sentindo
Mas estou cansada de
Segurar isso dentro da minha cabeça

I've been spending all my time
Just thinking 'bout you
I don't know what to do
I think I'm fallin' for you
I've been waiting all my life
And now I found you
I don't know what to do
I think I'm fallin' for you
I'm fallin' for you

Tenho passado todo o meu tempo
Somente pensando em você
Eu não sei o que fazer
Acho que estou me apaixonando por você
A minha vida inteira eu esperei
E agora que te encontrei
Não sei o que fazer
Acho que estou me apaixonando por você
Estou me apaixonando por você

As I'm standing here
And you hold my hand
Pull me towards you
And we start to dance
All around us
I see nobody
Here in silence
It's just you and me

Enquanto estou aqui
E você segura a minha mão
Me puxa para perto de você
E começamos a dançar
Tudo à nossa volta
Eu não vejo ninguém
Aqui neste silêncio
Somos só você e eu

*Fallin’ for You ( Me apaixonando por você) – Colbie Caillat

Amy, completamente emocionada com o gesto de Esther, permitiu que de seus olhos marejados escorressem uma lágrima de puro encantamento. Não teve outra forma de agradecer senão com um beijo apaixonado e inteiro.

Zarparam da ilha com a noite enfim exposta, Amy protegia sua amada do frio com um casaco e a abraçando forte. Quando finalmente atracaram no cais, a atmosfera de magia deu sinais de estar chegando ao fim, tão logo o sinal do celular foi captado e o aparelho da morena começou a tocar insistentemente. Esther se afastou de Amy para atender, com uma expressão tensa:

-- Oi, o celular estava descarregado... Não, nem vi que estava sem bateria... Agora? Não... Não precisa vir me buscar! Eu vou, chego aí em meia hora. É, preciso tomar banho, me vestir... Ora, por favor! Chego o mais rápido que puder.

Desligou o telefone, irritada, e aqueles olhos antes tão radiantes de felicidade, agora evidenciavam uma tristeza dilacerante. Amy conteve sua vontade de perguntar quem esteve ao telefone para deixá-la naquele estado, mas lembrou-se do conselho de Philip sobre respeitar o tempo de Esther em se abrir com ela, assim confiaria mais nela.

Entretanto, o olhar de Amy era de interrogação, o que motivou Esther a se pronunciar:

-- Precisamos ir, Amy. Tenho que resolver algumas coisas urgentes, desculpe-me... Vamos? Vou te deixar na fraternidade.

-- Aconteceu alguma coisa, Esther? Você parece nervosa...

-- Nada não... Vamos? Estou com um pouco de pressa.

Esther já possuía no tom de voz aquela aspereza que tanto machucava Amy, isso apressou a loirinha, que foi recolhendo seus pertences pelo barco enquanto Esther caminhava pelo píer até a motocicleta estacionada.

Fizeram todo o percurso num silêncio absoluto até de gestos, o contrário do trajeto de ida. Amy desceu da moto na frente da mansão Gama-Tau, olhou para Esther que fugia do olhar da loirinha. Nem retirou o capacete, levantou um pouco apenas para falar:

-- Guarde esse outro capacete, depois pego com você...

-- Esther... Vou te esperar voltar para...

-- Não, não me espere, por favor. Não sei que horas volto, ok? Até mais.

Ajeitou o capacete, deu partida na moto deixando Amy atônita, mais que isso, temerosa de que mais uma vez fora usada pela presidente da Gama-Tau. Ao mesmo tempo, os momentos que passara com Esther naquela tarde revelaram um lado sensível incapaz de repetir o que fizera outras vezes.

Subiu as escadas da mansão numa confusão de pensamentos, ignorou a presença e os olhares das irmãs da fraternidade, que especulavam o motivo de Amy voltar sozinha para casa.

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 23

CAPÍTULO 23: SUZANA DE VOLTA A MINHA VIDA


Com a proximidade do término da minha residência e a conclusão da quarta etapa da pesquisa, nosso trabalho se intensificou. Cada grupo acompanhava em média dez pacientes, atingimos assim uma amostra relevante para consolidar os resultados de nosso estudo.

Eu praticamente morava no apartamento de Camila, discutíamos às vezes por assuntos cotidianos, quase sempre porque Camila tinha um cuidado excessivo comigo, e isso às vezes me fazia sentir infantil. Afirmava que ela não tinha que me tratar como paciente, mas acabava me arrependendo quando percebia que todo aquele cuidado era amor.

Passei a experimentar um ciúme irracional, quando encontrávamos ex-namoradas dela, fazia comparações sobre meu corpo, e lhe indagava como elas eram na cama, isso irritava profundamente Camila, nessas horas ela exclamava:

- Você me acusa de te tratar como criança, Isabela, mas não faz outra coisa que não seja se comportar como uma!

O pior é que ela tinha razão. Mas nunca ficamos mais de uma noite sem fazermos as pazes, Camila era doce e compreensiva, mas bem mais madura que eu. Sabia quando calar e quando me puxar a orelha, aprendi muito no nosso convívio, sobre mim e sobre ela, as discussões só serviram na verdade para fortificar nosso relacionamento, pois enfrentávamos tudo juntas, ela repetia pra mim sempre:

- Cada dia que passa te amo mais, será que hoje já é amanhã?

Em abril, fui informada por Letícia sobre a morte de Bárbara, Suzana herdou parte dos bens dela. Pensei em ligar, prestar solidariedade, mas conclui, conversando com Camila, que ainda não era o momento.

O mês de maio chegou e com ele o final de minha residência. Era, enfim, uma neurologista, mas permaneci no Hospital das Clínicas, com um contrato temporário, bem como trabalhando na pesquisa com Camila, apesar de ter uma nova turma de residentes no projeto.

Maio foi um mês triste para nós, ninguém espera perder um ente querido, ainda mais pra violência. Estávamos de plantão no hospital, quando Bernardo me ligou na sala de repouso médico.

- Oi Bê, o que houve?

- Isa, eu preciso que você fique calma, não demonstre nervosismo para Camila.

Isso só serviu para ativar minha tensão, Camila estava sentada mexendo no notebook não percebeu minha apreensão.

- Sim Bernardo, fala, onde você está?

- Estou de plantão na urgência, acabei de atender uma vítima de assalto que foi baleada...

- Nossa Bê, sério? Mas porque eu tenho que ficar calma?

Camila parou o que estava fazendo e dirigiu a atenção para o telefonema.

- Isa, a vítima era o Sr.Ernesto, o pai de Camila, acabou de ter uma parada, não conseguimos reverter dessa vez Isa, o tiro atingiu duas artérias importantes...

Não ouvi mais nada da descrição do ferimento do pai de Camila, o chão parecia se abrir debaixo de meus pés, minhas lágrimas vieram aos olhos e soltei o telefone no chão, sentando com todo peso da notícia na cama que eu estava deitada anteriormente.
-Isa? Meu amor o que houve?
Eu tentava me recompor para dar a notícia trágica a Camila, sentei-a ao meu lado na cama, segurei suas mãos, enxuguei minhas lágrimas e respirei fundo:

- Meu amor, não sei como dizer isso, mas, você tem que ser forte.

- Isa pelo amor de Deus, você está me deixando nervosa, fala!

- O Bernardo me ligou, está na urgência, e... Acabou de atender seu pai, que foi baleado em um assalto e...

Camila não esperou eu concluir a sentença, saindo em disparada pelos corredores do hospital, sem sequer esperar o elevador, saltava os degraus da escada em direção a urgência, seguida de mim. Ao chegar no ambulatório, Bernardo estava a nossa espera com duas enfermeiras que recolhiam medicações do carrinho de parada.

- Bernardo o que você está fazendo parado? Vamos, carrega em 300volts, uma rodada de atropina... – Camila aos soluços ignorava o estado do pai, distribuindo ordens completamente transtornada.

- Camila, ele teve três paradas seguidas... Está parado a mais de 35 minutos desde a última parada... Minha querida... Já declarei o óbito.

- Bernardo, é meu pai! – vociferou como se pedisse socorro, como se acreditasse que ela poderia trazer seu pai de volta à vida.

Entendi o desespero dela, mesmo sabendo que de nada adiantaria mais procedimentos, fiz o que ela pedia, entregando as pás do desfibrilador, e pedindo em silêncio a enfermeira que estava ao meu lado acenando com a cabeça que ela preparasse a medicação que Camila solicitara. Depois de três choques, sem qualquer resposta, tomei as pás delicadamente das mãos de Camila, abraçando-a dizendo baixinho:

- Meu amor, acabou, ele não está mais conosco.

Camila se jogou sobre o corpo do pai, abraçando-o em meio a soluços e gritos de revolta. Pedi que Bernardo ligasse para a mãe e as irmãs de Camila, pedindo que elas viessem ao hospital, e as levassem direto ao consultório de Camila. Com muito esforço, consegui tirar Camila daquele abraço, e a levei até seu consultório, com o jaleco coberto de sangue, em estado de choque.

Na sua sala, retirei o jaleco, lavei suas mãos e seu rosto, ela estava imóvel, balbuciava sem parar: “Porque meu pai?”, deitei-a no meu colo no sofá, acariciando seus cabelos, chorando com ela, eu sentia a dor dela, já havia passado por isso, e como me doía vê-la sofrer daquela forma, queria dividir com ela essa dor.

Em cerca de meia hora, Bernardo entrou na sala onde estávamos, com a mãe e as duas irmãs de Camila, acompanhadas de seus respectivos marido e namorado.

- Camila, minha filha o que houve? – a mãe de Camila perguntou visivelmente perturbada.

- Carmem, sente-se por favor –Bernardo segurava o braço da mãe de Camila.

Camila, sentou-se, enxugou seu pranto, aproximou-se da poltrona perto do sofá onde sua mãe estava sentada, segurou suas duas mãos e com a voz embargada revelou:


- Mãe, o papai foi assaltado, ferido no assalto, trouxeram-no para cá, mas, infelizmente não pudemos fazer nada para salvá-lo... – não conseguiu concluir caindo novamente em pranto.

- Pára de falar como médica Camila! Diga que meu amor não está morto, diga Camila!

Camila não conseguia mais dizer uma palavra, Bernardo se aproximou de Carmem, abraçando-a:

- Minha querida, o Ernesto não resistiu, morreu a quase uma hora, sinto muito.

O ambiente foi tomado por gritos, choro, e dor, Camila me abraçava como uma criança indefesa, como queria evitar aquele sofrimento para ela... O cunhado dela tratou de providenciar as medidas necessárias.

Eu e Camila seguimos para a chácara para dar a notícia ao Vô Elias, depois de medicar Carmem, que sofreu um pico hipertensivo depois de ver o corpo do marido que ainda estava na urgência, ficando sob os cuidados de Bernardo no ambulatório do hospital.

Os rituais de velório, sepultamento, missas, foram obviamente dolorosos, ainda mais pela revolta de todos com a violência que acometia diariamente dezenas de pessoas na cidade.

Camila parecia em transe, mal respondia aos cumprimentos de todos, detinha-se em ficar ao lado do caixão do pai acariciando seu rosto como se buscasse uma última conversa com aquele homem que sempre foi para ela exemplo em tudo. Mantive-me ao seu lado todo tempo, zelando para que ela comesse, descansasse. Pedimos uma semana de licença do hospital, como eu tinha férias a tirar, fui atendida no meu pedido.

Fiquei no apartamento de Camila nesses dias, cuidando dela, durante todas as noites, ela acordava com pesadelos, gritando pelo pai, dormia nos meus braços apertando-os depois de derramar lágrimas de saudade e revolta.

Aos poucos voltamos a nossa rotina, cada vez mais ligadas, eu pensava em me mudar de vez para o apartamento dela, já que praticamente não usava mais o meu e estava no final do contrato, pedi um prazo a imobiliária para definir essa situação com Camila, não era justo dar um passo desses sem ela estar inteira para tal decisão.

Em julho completamos um ano de namoro, para minha surpresa, Camila presenteou-me com um anel de compromisso:


- Isa, eu queria que representasse algo esse anel, mas estou tão apática, não quero que você se sinta obrigada a aceitar, por medo de me magoar nesse momento, não precisa me dizer nada, quero que isso marque esse tempo que estamos juntas, e quero que evidencie o quanto quero um futuro com você.

- Cami, eu aceito, e desejo exatamente o mesmo, vamos deixar acontecer naturalmente as coisas, como foram até hoje.

Senti medo de dar um passo adiante convidando-a para morarmos juntas, tratei de curtir aquele momento com ela, adiando essa decisão que parecia iminente.

Era final de julho quando fomos informadas sobre uma nova candidata a implante do neurochip, não estávamos aceitando novos pacientes no momento, uma vez que estudávamos agora passos do monitoramento dos cinqüenta pacientes já inclusos na pesquisa, entretanto, a paciente fora recomendada por um antigo professor de Camila.

Tratava-se de um caso extremamente delicado, a paciente tinha múltiplos aneurismas, era uma bomba-relógio ambulante, certamente nem a cirurgia resistiria, mas era um caso que desafiava Camila, a sua técnica, assim, marcamos uma consulta com ela, na qual eu atenderia primeiramente para dar um parecer neurológico para depois encaminhar para Camila.

Já tinha meu próprio consultório no hospital, fui informada que a paciente já me aguardava na sala, estava adiantada vinte minutos, assim nem tive tempo de ler antes seu prontuário, apressei-me em conhecê-la, qual não foi minha surpresa ao me deparar com uma mulher abatida, os olhos amendoados que me encantaram um dia, estava sem brilho... Era Suzana sentada na cadeira de paciente em minha sala.

- Su... Suzana? O que você está fazendo aqui?

- Fui encaminhada pelo Dr.Paulo, sua secretária pediu que eu aguardasse aqui sua chegada.

- Mas... Você é a paciente?

- Sim, sou eu.

Não podia acreditar no que estava acontecendo, Suzana voltava a minha vida, dessa vez como minha paciente.

Senti minhas pernas perderem a força e caminhei rapidamente até minha cadeira, antes que caísse ali mesmo. Tomei o prontuário em minhas mãos apressadamente, sem conseguir esconder o tremor delas. Precisei reler por umas três vezes o nome Suzana Andrade Lins para me convencer que não estava no meio de um grande equívoco.

- Isabela, se acalme... Quem está com uma bomba-relógio no cérebro sou eu, não você. – Suzana sorriu tentando me acalmar.

- Desculpe-me Suzana – respirei fundo. – Eu jamais poderia imaginar que você era a paciente que o antigo professor de Camila insistiu que atendêssemos.

- Entendo Isabela, suponho que ele não tenha mencionado meu nome.

- Na verdade não, só combinou de enviar o prontuário, mas não tivemos tempo de lê-lo, chegou as nossas mãos hoje de manhã.

- Então, o que você me diz?

- Suzana, você não é leiga no assunto, não posso poupar palavras com você, porque seria inútil.

- Por isso escolhi você, sei de sua competência e integridade como profissional.

- Suzana, temos que avaliar mais detalhadamente esses exames, seu estado clínico, Camila com certeza pedirá uma nova tomografia, ressonância... Então pra não perdermos tempo, vou te examinar, concluir essa anamnese em seguida vamos ao setor de imagem para realizar os exames.

- Como quiser.

Tentava manter minha postura profissional, mas estava abalada, a mulher que tanto amei (amo?), estava ali diante de mim em risco de morte iminente. Por mais competente que Camila fosse, e mais eficaz fosse sua técnica e nossa pesquisa, o caso de Suzana era bem mais complicado do que os outros que acompanhamos.

Não podia dar falsas esperanças para Suzana. A mulher que me mostrou o que é amar, estava diante de mim vulnerável, apreensiva, mas ainda assim, linda, me fitando com todo encanto que ela sempre me demonstrou, isso mexeu comigo profundamente.

- Quando você teve a primeira convulsão Suzana?

- Semana passada, estava com uma dor de cabeça terrível durante o dia todo, você sabe que não gosto de tomar analgésicos por qualquer coisa, mas não agüentei, e a dor sequer aliviou depois de muitos comprimidos, até uma medicação intravenosa. Procurei o Jorge, que foi seu preceptor, pedi que fizesse uma tomografia, enquanto estava no tomógrafo, convulsionei.

- Notou algum déficit de fala, marcha, memória?

- Não, por exemplo, você foi a primeira pessoa que me lembrei ao voltar à consciência – seus olhos brilharam ao me revelar isso.

Engasguei, acelerei os cliques na minha caneta a ponto dela escapar de minhas mãos, ao me abaixar para pegá-la, derrubei o porta-retrato que exibia uma foto com Lívia e Tia Sílvia, e mais uma gama de papéis que estavam na minha mesa, olha ela de novo aparecendo: Isabela trapalhona. Suzana não segurou o riso.

- Muito bem, Suzana preciso fazer alguns testes, você pode vestir a camisola que está no armário logo a frente, e depois suba na maca.

Levantou-se caminhou até a maca, despindo-se na minha frente.

- Suzana... Você... Pode usar a camisola...

- Por que isso Isabela? Você já viu esse corpo nu tantas vezes... Conhece-o como ninguém.

Ruborizei não sei foi de timidez, ou se pelo calor que tomava meu corpo ao ver Suzana nua bem perto de mim. Andei até o armário e peguei a camisola, estendendo para ela.

- Vista Suzana, você sabe que existem normas pra isso.

Vestiu-a lentamente, com os olhos fixos em mim, sentou-se na maca e me aproximei, comecei a realizar o exame pela cabeça, com uma lanterna nas suas pupilas, não pude fugir daqueles olhos amendoados, toquei sua face, apalpando todos os ossos, foi quando Suzana notou meu anel:

- Noiva de novo Isabela? – falou cabisbaixa.

Levantei seu queixo a fim de deixá-la na posição correta para examiná-la e não respondi sua pergunta.

- Quanta seriedade... – franziu a testa zombando de minha postura sisuda.

Segui com os testes de reflexo, e examinando o resto do seu corpo, deslizava minhas mãos por seus braços, pescoço, tórax, abdome... A pele de Suzana estava quente e macia, sentia ela se arrepiar, apesar do meu objetivo profissional estar regendo aquele momento, o contato de nossos corpos despertava sensações adormecidas.

- Pronto, doutora? Pode responder minha pergunta agora? –arqueou a sobrancelha sarcasticamente.

- Pode se vestir Suzana.

Meu esforço hercúleo para manter minha postura era evidente, me dividia entre a apreensão pela vida de Suzana e as provocações dela que inesperadamente me despertava desejo e saudade do seu corpo e dos seus beijos. Suzana vestiu-se e voltou a sentar-se diante de mim, enquanto eu escrevia no seu prontuário.

- Isabela... Olha pra mim...

Suspirei, buscando serenidade pra enfrentar o olhar de Suzana, e voltei meus olhos para ela:

- Estou olhando Suzana.

- Você está noiva?

- Suzana... Não é momento pra isso, vamos nos deter em salvar sua vida.

- Responde Isa, não sou uma paciente qualquer, fomos noivas...

- Eu sei disso Suzana, você nunca seria uma qualquer pra mim, muito menos uma paciente qualquer. Não estou noiva ainda, é um anel de compromisso.

- Qual a diferença?

- A diferença é que não temos planos urgentes de casamento, mas temos planos de nos casar um dia.

- Se eu tivesse mais tempo de vida, isso me encheria de esperanças...

- Fiquei sabendo da morte de Bárbara, eu sinto muito, de verdade - mudei de assunto.

- Obrigada, foi um alívio, ela estava sofrendo muito.

- Imagino.

- Eu sinto tanto a sua falta Isa, tive esperanças que a morte de Bárbara facilitasse meu caminho de volta a você, mas olha a ironia do destino, minha volta pra você foi por um monte de aneurismas... E pra apimentar essa piada do destino, minha vida está nas mãos de sua noiva...

- Suzana, você procurou as pessoas certas, Camila é a melhor neurocirurgiã da América Latina, vamos fazer todo o possível para desarmar essa bomba-relógio.

- Para Isabela! Estou falando da gente... Por que se for pra sobreviver a isso e não ter você, não sei do que vai adiantar porque vou morrer de tristeza, de amor perdido! – elevou o tom de voz com os olhos marejados.

- Nem brinca com isso Suzana! Sua vida vale muito pra você limitá-la assim! Você vai lutar pra viver, você tá me ouvindo?

Não contive minhas lágrimas, Suzana avançou em minha direção abraçando-me tão apertado que meus ossos doíam, mas aquele abraço era mais pra ela do que pra mim...

- Isa eu vou lutar pra viver e pra ter você de volta, eu vou... – falava baixinho enquanto se mantinha colada em meu corpo.

A porta se abriu, era Camila, que chegava para me ajudar na consulta. Ao ver a cena ficou atônita segurando a maçaneta, engolindo as palavras que diria por entrar sem bater. Afastei-me de Suzana apressando-me em explicar a situação, enxugando meu rosto:

- Camila, Suzana é a paciente encaminhada por Dr. Paulo, acabei de realizar a avaliação inicial, estávamos descendo para o setor de imagens para repetir a tomografia e a ressonância.

- Olá Dra. Suzana, sente-se, por favor.

Camila voltava á sua altivez profissional, sentando ao lado de Suzana, de frente pra mim, deixei-me cair sobre minha cadeira recuperando meu fôlego.

- Tenho certeza que a consulta da Dra. Isabela foi completa, mas precisamos conversar um pouco mais sob os aspectos do tratamento, no seu caso, a cirurgia. Antes de vir, dei uma olhada nos exames que você fez semana passada, e não vou te enganar, até mesmo porque seria um insulto sendo você a médica que é. A localização dos aneurismas e a quantidade deles torna-os praticamente inoperáveis.

- Você disse praticamente?

- E’, disse, veja doutora, a proximidade entre os aneurismas acentua os riscos de durante a cirurgia algum se romper, e daí não poderemos evitar que seja fatal.

- Então, você não vai me operar?

- Doutora, é um desafio com certeza, isso me inspira como profissional, mas a decisão não será minha, será sua.

- Eu não tenho muitas opções não é doutora? Se não operar a qualquer momento eles podem se romper também...

- Infelizmente sim. Vamos repetir os exames, um dos residentes vai acompanhar você, mas antes passe no posto de enfermagem a enfermeira Joana fará sua admissão.

Nesse momento, um dos novos residentes, entrou na minha sala e acompanhou Suzana conforme as instruções de Camila, que ficou lendo minhas anotações no prontuário em um ar compenetrado, eu a observava tensa, não sabia ao certo se pela situação de Suzana ou pela cena que Camila flagrara minutos atrás.

- Cami... O que você viu...

Ela me interrompeu fazendo perguntas sobre minha avaliação, aumentando ainda mais minha tensão, respondi com alguma superficialidade mais interessada em mudar de assunto.

- Camila, por favor – segurei sua mão. – Estou vendo que você está chateada, deixa eu te explicar.

- Explicar o que Isabela? Você atracada com uma paciente que por acaso é sua ex-noiva? Ou suas lágrimas por reencontrá-la? Ou por medo dela morrer? Isso é patético, estou com ciúmes de sua compaixão por que não sei se é compaixão ou amor!

- Cami, meu amor, foi um abraço solidário só isso... – menti para Camila por puro medo de perdê-la pra um momento de recaída.

- Isa... Não vou suportar se você mentir pra mim... Seja o que for só te peço que seja honesta comigo, por favor.

Minha consciência quase me esmagou tamanho o peso que senti nela. Apesar de não ter feito efetivamente nada, aquilo que senti afinal podia ser só compaixão, não me agradava em nada não compartilhar isso com Camila, desde o início do nosso namoro, nunca escondemos nada uma da outra.

domingo, 3 de abril de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - VIGÉSIMO PRIMEIRO CAPÍTULO

Capítulo 21



Não viram o dia amanhecer naquele subterrâneo quase sem luz, exceto pela fresta de sol adentrando pela janela na lateral do depósito, encoberta por algumas pilhas de caixas. O ruído de vozes se aproximando pelos corredores despertou Amy, que mal podia acreditar na visão que tinha sob si: o corpo moreno impecável de Esther.

Aquela aparência tranquila de seu sono nem de longe lembrava a misteriosa e poderosa presidente da Gama-Tau. Beijou aquela face serena, inspirando o perfume cítrico suave que exalava, sussurrando perto de seu ouvido:

-- Esther? Acorde... Esther?

Ao ver o rosto de Amy ali tão próximo do seu, sorriu, e beijou seus lábios com doçura:

-- Bom dia, loirinha...

-- Loirinha? -- Amy fez cara emburrada, quase que decepcionada.

-- Oh! Me desculpe... Bom dia, AMY!

Amy sorriu satisfeita, e roubou um beijo dos lábios carnudos de Esther, que correspondeu sem reservas.

-- Precisamos arrumar um jeito de sair daqui, Esther... Ouvi vozes, certamente alguém virá aqui...

-- Isso é fácil, minha querida... Basta eu ligar para Rachel e...

-- Ligar para Rachel? De onde?

-- Ops...

Esther sorriu escondendo o rosto no pescoço de Amy e respondeu quase cochichando, qual criança que entrega uma travessura:

-- Do meu celular que está ali em baixo da poltrona... Desliguei ontem...

-- Não acredito! Esther!

-- Ah, Amy, não podia perder a oportunidade de ficar a sós com você... Assim...

-- Mas tinha que ser assim?

-- Ah... Não vai brigar comigo, por favor! O importante é que nos entendemos, não é?

Amy sorriu em sinal de concordância, mas seguiu apressando-se para sair dali, a contragosto de Esther, que parecia não querer que aquele momento acabasse tão cedo.

Depois de devidamente vestidas, Esther ligou para Rachel, que nem parecia se surpreender com o sumiço da amiga. Em pouco tempo, apareceu no depósito do Windson acompanhada de um funcionário.

Rachel não disfarçava a aprovação ao ver as duas juntas, visivelmente felizes, mas compartilhava com Esther uma preocupação. Ainda temia o plano de vingança da amiga, tinha dúvidas a cerca da real intenção de Esther em se aproximar novamente de Amy naquela circunstância.

Saíram juntas em direção a casa da fraternidade, sem dizerem uma palavra, mas a troca de olhares entre Amy e Esther era carregada de encantamento, isso despertava sorrisos silenciosos em Rachel, apesar de toda apreensão.

De volta à fraternidade, Rachel falou à amiga, num tom preocupado:

-- Detesto ser estraga prazer, mas preciso conversar com você, e é urgente.

Esther reconhecia perfeitamente o tom apreensivo da amiga e dos seus motivos para isso. Apenas balançou a cabeça positivamente, e comunicou a Amy:

-- Preciso conversar algumas coisas com Rachel, vá se trocar. Depois vou ao seu quarto. Almoça comigo?

-- Tudo bem, te espero. Almoço sim.

Trocaram um selinho carinhoso e um afago delicado no rosto. Amy seguiu para seu quarto, enquanto Rachel e Esther foram à biblioteca, trancaram a porta. Sem muito rodeio, Rachel indagou:

-- O que está acontecendo de verdade, Esther?

-- Não sei, Rachel...

-- Não sabe? É bom que você saiba, porque ontem Amy estava com um namorado no baile, sumiu e aparece hoje de manhã com você, e ambas com esse olhar apaixonado... Não preciso te dizer que Michelle procurou você a noite toda, não é?

-- Imagino...

-- O que você está fazendo com ela? Ainda com seu plano de vingança?

-- Não sei, Rachel... Já disse que não sei! Estou confusa!

-- Esther, você sabe que está apaixonada pela Amy! Esqueça essa vingança, amiga...

-- Não posso, Rachel... Não posso! Minha vida toda esperei por esse momento de vingar o que Sandra Anderson fez à minha mãe, e não posso desistir! Qualquer sentimento que eu tenha por Amy, terei que esquecer...

-- Não é possível que você seja tão cabeça dura assim, Esther! Você vai magoar de uma maneira definitiva a primeira pessoa que você gosta de verdade, por causa de um sentimento mesquinho, um objetivo de vida sem sentido!

-- Rachel, você nunca vai entender... Todas as dificuldades que minha mãe passou, e eu, consequentemente. Todo sofrimento dela, foi culpa da mãe de Amy! Não posso esquecer isso assim!

-- Pode! Pode, porque o amor vence qualquer outro tipo de sentimento...

-- Que exagero... Amor? Só o que tenho por essa novata é uma atração forte...

-- Atração? Ora, não me vem com essa, Esther! Conheço você muito bem...

-- Ah, Rachel! Além de tudo, você sabe que Michelle tem poder sobre mim...

-- Pois é... Ainda tem essa mulher na sua vida, com essa relação doente... Esther, nunca vi nos seus olhos um brilho como esse que vi hoje de manhã... Você chega dos encontros com Michelle sem energia, sem vida... Ela te suga o que você tem de bom, amiga... Não sei que tipo de relacionamento vocês tem, mas não pode ser normal. Será que você não vê que isso te faz mal?

-- Tenho uma dívida com Michelle. É mais um fardo consequente do que Sandra Anderson fez a minha mãe e a mim...

-- Ai, amiga... Você está centralizando sua vida em um sentimento tão cruel, amargo... Esther, desiste disso... Se livre dessa mulher, viva esse amor com a Amy...

-- Rachel, por favor...

Esther não tinha mais o que argumentar. A conversa com a amiga parecia tê-la retirado bruscamente de um êxtase de bem-estar que desfrutava depois de se entregar à Amy. No fundo sentia um grande desejo de seguir o conselho de Rachel, mas algo maior a prendia soava como um carma a ser pago. Mas naquele momento desejou fugir disso, lembrando do olhar de Amy para ela no seu despertar.

Amy ,ao contrário de Esther, estava leve, sentia dentro de si uma felicidade inédita. Acordou ao lado da mesma Esther que lhe pedira para ser só dela. Não viu aqueles olhos castanhos nublarem ao amanhecer, em vez disso, viu doçura, encantamento.

Tomou banho ainda se deliciando do restinho do perfume de Esther no seu corpo, lembrando de cada momento com a morena, o sorriso vinha fácil. Logo ao sair do banheiro, recebeu um telefonema de Philip. Havia se esquecido completamente do amigo, ao se dar conta, já atendeu ao celular com um pedido sincero de desculpas:

-- Perdão, amigo! Sei que mereço todo seu xingamento, pode descarregar!

-- Amy? Está louca, menina? Eu é que te devo desculpas... Tranquei vocês no porão e me esqueci do tempo na companhia de John. Só hoje pela manhã me lembrei de destrancar vocês... Mas quando fui lá, vi uma cena muito bonitinha... Vocês duas dormindo abraçadas... Achei melhor não me interromper...

-- Ai, Philip! Parece que nosso plano deu certo, afinal...

-- Muito certo, linda! Estou voltando para Los Angeles, arrasado fisicamente, se é que você pode me entender... -- gargalhou alto. -- Mas valeu muito a pena...

-- Nunca poderia imaginar... Logo o John?

-- Não duvide do meu gaydar nunca mais! -- gargalhou mais uma vez. -- Mas me diga. Como você está?

-- Muito bem, amigo... Esperando Esther para almoçarmos juntas. Acho que estamos NAMORANDO, Philip!

-- Amy, fico muito feliz por você, mas preciso te alertar sobre uma coisa que ouvi por acaso ontem no estacionamento...

-- O que? Quem falou? -- Amy perguntou num tom angustiado.

-- Uma discussão entre o casal Richards... O ricaço gritava com a perua algo sobre uma amantezinha...

-- Mas o que isso tem haver comigo e Esther?

-- Porque, pelo que entendi, ele se referia à Esther como amante. Estava brigando com a mulher porque ela passou boa parte da festa procurando por Esther, que ele ia tomar providências definitivas se ela não cumprisse um tal acordo...

Amy emudeceu por alguns segundos, sentiu um calafrio percorrendo sua espinha. Lembrou na conversa que ouvira outro dia entre as duas no auditório, e concluiu que Michelle Roberts era uma ameaça poderosa contra sua felicidade com Esther.

--Amy? Você está aí ainda?

-- Desculpe, sim, estou Philip... Obrigada por me dizer isso, vou conversar com Esther sobre isso...

-- Não, amiga... Não agora... Deixa que ela te fale algo, que confie em você, ou pode pensar que você anda bisbilhotando a vida dela... Enfim...

-- Você tem razão, amigo... Muito obrigada por tudo, viu?

-- Precisando de mim, basta ligar. Você sabe que venho no mesmo instante!

Amy sentia que era sincero o compromisso de Philip em ajudá-la a qualquer momento. Finalizou a conversa tão logo ouviu as batidas na porta de seu quarto. Sentiu o coração acelerar, um tremor subindo por suas pernas, e sabia, era Esther.

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 22

CAPÍTULO 22: FESTAS


Em dezembro, tivemos um recesso para as festividades de final de ano. Tia Sílvia convidou Camila para passar conosco em Valença, eu pedi que comemorássemos em sua casa, evitando meu encontro com Vovó. Combinamos que passaria o Natal com a família de Camila, depois seguiríamos para Valença para passarmos a virada de ano juntas.

Giovanna passou a perseguir Camila com telefonemas, a encontrávamos em restaurantes, e sempre num tom provocativo nos cumprimentava. Em certa ocasião, quando estava no apartamento de Camila, a campainha tocou, era ela, fiquei curiosa e permiti sua entrada, Camila não estava em casa, aproveitei para acertar as contas com a chinesa. Ela se surpreendeu ao me ver abrindo a porta, percebi seu sorriso se desfazendo ao me ver.

-Você?

- Eu mesma, essa é a casa de minha namorada esqueceu?

- Você não tem casa? – adentrou como se tivesse autoridade pra isso.

- O que você quer aqui Giovanna?

- Esperava encontrar a dona da casa é com ela que tenho assunto, não com você.

- Se você não tem nada a me dizer, eu tenho a dizer a você. Você está perdendo seu tempo nessa perseguição a Camila, não há mais espaço pra você na vida dela, e fique sabendo que não vou permitir que você interfira no nosso relacionamento, acredite você não vai querer me enfrentar.

- Menininha você é ridícula. Acha mesmo que me intimida? Você não tem noção da ligação que existe entre mim e Camila, você a conhece há quanto tempo dois meses?

- Não te interessa, não vou dar satisfações a nosso respeito, só estou advertindo, não me irrite, também sei ser grossa.

- Vai fazer o que? Você não percebe que não é páreo pra mim? Na primeira oportunidade Camila me beijou, imagina o que fizemos depois disso... Você é bonitinha, mas não causa nela o efeito que uma mulher como eu causa, melhor você sair do nosso caminho antes de se machucar feio.

Nesse instante o telefone tocou, até para me recompor, o atendi:

- Oi Vô Elias, ela não chegou ainda, foi pegar o carro no lava jato, mas assim que voltar vamos praí... Beijos.

Notei a cara de interrogação na face irritante de Giovanna:

- Você conhece a família de Camila?

- Claro, mas isso não te interessa, já disse o que queria, então, por favor, preciso terminar de me arrumar, passe bem Giovanna.

- Mas... Ela nunca me apresentou ninguém, conheci por acaso uma de suas irmãs, que estranho... Dizia que a família era sagrada demais para envolver em seus namoros... – parecia mais estar pensando alto do que falando comigo.

Giovanna ficou desconcertada, saiu as pressas, bufando insatisfação ao constatar que eu era mais do que um casinho para Camila.

O Natal com a família de Camila foi maravilhoso, nosso reveilon em Valença também, passamos no restaurante de tio César, não fui a fazenda de meus avós, mas Vovô passou o dia inteiro conosco no dia primeiro, manifestou todo tempo o descontentamento com a situação, me pediu que relevasse por causa da idade de Vovó, mas eu temia que ela destratasse Camila também, não podia permitir isso.

Voltamos para Campinas dois dias depois do feriado, saboreávamos de uma intimidade incrível, e o apoio de nossas famílias tornava tudo mais leve e consistente. No final de janeiro, voltamos a Valença para a formatura de Lívia, dessa vez não escapei de encontrar minha avó que tentou me ignorar, mas Vovô a arrastou pra perto de mim, ela notou que eu e Camila estávamos de mãos dadas, isso era muito natural para nós, nunca nos importamos para os olhares desaprovadores dos outros.

- Olá vovó.

- Vejo que o amor de sua vida passou por transformações Isabela. –exibiu todo seu sarcasmo cruel, notei que a conversa não terminaria bem.

- Essa é Camila vovó, trabalhamos juntas, e é também minha namorada.

- Muito prazer dona Helena.

Vovó olhou Camila dos pés a cabeça, e ignorou a educação de minha namorada, desviando seu olhar para mim lançando fagulhas de desaprovação:

- Ainda com essa mania ridícula de...

- Vovó não é mania, nem muito menos ridícula. Mas a senhora continua preconceituosa e mal educada, com licença.

- Educação não é uma de suas qualidades há um tempo Isabela, foi um péssimo passo você ter ido embora de Valença, devíamos ter imaginado como você ficaria vulnerável sem nossa proteção.

- Vovó, estou muito bem, quando a senhora vai aceitar isso?

- Nunca vou aceitar isso Isabela, é imoral, nojento...

- Chega vó... a senhora estragou o almoço nas suas bodas de ouro, não vai estragar a festa de Lívia, não mesmo.

Puxei Camila e saí a deixando falando só, eu tremia, minhas mãos estavam geladas, Camila me abraçava confortando-me, ao menos Vovó não a ofendera, isso foi um alivio.

No Carnaval recusamos o convite das amigas de Camila, para viajamos a Salvador, decidimos passar sozinhas em um hotel fazenda. Lugar lindo sem dúvida, com haras, um lago romântico, decoração rústica, senti que aquele carnaval seria marcante. Nosso quarto era uma graça, uma cama muito macia e espaçosa, poltronas de couro, uma mesinha com dois lugares, lareira, no banheiro, uma banheira com design antigo, tudo perfeito.

Chegamos era quase noite no sábado, depois de inaugurarmos a banheira juntas, descemos para jantar, naquela atmosfera romântica, nem ligamos para os casais hetéros que nos olhavam com estranheza, certamente tinha algum pervertido fantasiando ao nos ver juntas...

Percebi que Camila estava exagerando na bebida e me fazendo exagerar também, nos deixando facilmente excitadas, saboreamos durante o jantar quase duas garrafas de vinho, tirei minhas sandálias e passeei com a ponta dos meus dedos dos pés pelas pernas de Camila, podia sentir sua pele se eriçando...

Nem esperamos chegar ao quarto para começar a dar vazão ao nosso desejo, Camila me jogava contra a parede sugando minha língua, empurrando seu corpo contra o meu, num movimento de quadris que me enlouquecia, na porta do quarto minha mão já estava levantando o vestido de Camila, deixando escapar gemidos ao seu ouvido... Camila adorava ouvir meus gemidos misturados a provocações com palavras nem um pouco delicadas, pedia:

- Fala sacanagem fala minha gostosa...

Eu perdia a compostura e tratava de atender ao pedido de minha namorada deliciosa. Depois de praticamente despidas, já entregues a paixão, Camila parou, deslizou suas mãos pelo meu corpo suado e arrepiado, e com um olhar cheio de malícia fitou-me e entre mordiscadas e lambidas pelos meus seios ela falou-me:

- Minha linda, você lembra que ainda me deve uma aposta?

- Você não me deixa esquecer isso... Mas porque falar nisso agora? – puxei-a para perto de minha boca.

- Porque hoje é dia de você me pagar a aposta... – mordeu os lábios.

- Ai... por que acho que essa aposta vai me sair muito cara?

- Você vai gostar minha loira gostosa.

Saltou da cama, e foi em direção às suas malas. Fez mistério, mas logo exibiu o brinquedinho rosa entre as mãos. Logicamente já tinha ouvido falar nisso, mas nunca me ocorreu a idéia de usá-lo.

- Cami... o que você vai fazer com isso?

- Adivinha? – fez cara de menina sapeca, enquanto vestia uma espécie de suporte de couro, posicionando o brinquedo sobre seu sexo.

- Meu bem isso é muito estranho...

- Aposta é aposta, não adianta você não vai escapar. – balançou a cintura o brinquedinho acompanhou o movimento.

Entendi porque ela tratou de nos embebedar naquela noite... Aproximou-se de mim, e nos seus olhos, vi um brilho como quem tivesse um plano elaborado a executar. Puxou minhas pernas para mais perto da ponta da cama, retirou a última peça que me sobrara, e acomodou-se no meio de minhas pernas.

Com domínio total da situação, Camila movimentava os quadris em cima de mim, enquanto beijava meu pescoço, mordiscava minha orelha e com as mãos contornava meus seios com força suscitando em mim uma seqüência de gemidos inimagináveis.

Quando estava prestes a atingir o auge, Camila segurou meu bumbum, para apoiar-se e lentamente penetrou aquele brinquedo, e num movimento de vai e vem lento deslizava o artefato no meu sexo ensopado, gradativamente aumentou a velocidade alternando entre estocadas leves e fortes, intensificava o movimento e eu lhe atiçava murmurando obscenidades ao ouvido, até atingirmos juntas um orgasmo longo, deixando nossos músculos trêmulos. Ficamos abraçadas, Camila ainda provida do tal instrumento, brincava o acariciando, como que já familiarizada, num código sensual indicando que queria mais.

Camila me entendia na cama, parecia adentrar nos meus pensamentos, dessa vez, sentou, e me puxou, me deixando encaixada entre suas pernas, posicionou nosso novo aparelho de diversão na minha cavidade e ordenou: “mexe pra mim”... Movimentei meus quadris sobre o brinquedo, contorcendo-me avidamente, enquanto Camila apertava meu bumbum e beijava meus seios que estavam à altura de sua boca.

Afinal tive benefícios com o pagamento da aposta... Quando acordamos, a hora do café já havia passado, também pudera, quando dormimos era quase manhã. Almoçamos e resolvemos aproveitar o clima ameno, e fomos até o lago, uma grande palhoça concentrava várias redes armadas, nos deitamos para uma sesta, deixei Camila cochilar no meu peito, enquanto acariciava seus cachos longos e ruivos.

Passeamos em uma pequena barca, no final da tarde, ignorando os olhares reprovadores dos curiosos que fixaram-se em nós, quando saímos de mãos dadas pelo jardim. A noite, fomos até o vilarejo da cidade, ver o desfile de blocos de marchinhas, eram na maioria da terceira idade, acabamos rindo fazendo suposições sobre como seríamos nessa idade e nossos amigos:

- Cami... acho que você vai ser como aquela velhinha ali, olha, aquela de shortinho curto de cabelo vermelho...

- Ah... pode crer, vou ser assim mesmo, até o fim na gandaia...

- Até imagino você balançando aquele trequinho junto com seus peitos perto do umbigo... – soltei uma gargalhada.

- Sou mais velha que você só sete anos minha cara... os seus não estarão tão empinadinhos como são hoje viu...a lei da gravidade é justa com todos! – respondeu indignada.

- Ah... os meus são menores...mas mesmo assim, vou adorar segurar os seus mesmo estando perto dos joelhos. – gargalhei de novo.

- E você vai parece com aquela vózinha ali olha, segurando uma lata de cerveja, olha lá, pequenininha, de olhinho azul, com vestido decotado. – falou apontando pra minha lata de cerveja.

- Ah estou com tudo em cima então! Olha as pernas dela... Ei meu bem, já imaginou o Bernardo, velhinho?


- Caraca purpurina envelhece? – gargalhamos juntas. - Você acha que estaremos juntas daqui a uns 20 anos?

- Não me vejo com outra pessoa nos meus próximos vinte anos. - sorri e beijei seu rosto.

Camila me olhava visivelmente emocionada, naquela noite, voltamos ao hotel em um clima apaixonado, assim como foram o resto dos dias, nosso brinquedo ainda foi utilizado, já tinha me acostumado com ele afinal. Em uma manhã, sugeri passearmos de cavalo, a contragosto de Camila que não sabia montar, insisti que encontraríamos um animal manso para ela.

No haras, o funcionário me deu uma égua linda para montar, bem parecida com o cavalo que Vovô me presenteou, como esperava, para Camila deu um animal mais dócil, mas foi inútil, vi aquela mulher dominadora, senhora de si, sendo vencida por um quadrúpede... Camila não conseguia sequer subir no cavalo, eu que podia ajudar tive uma crise de risos, abraçada a minha égua, vendo Camila ficar literalmente de bunda pra cima, sem sucesso para se adequar a sela. Irritada com os fracassos, pediu um cavalo menor, o funcionário sorriu sem jeito:

- Bem, dona, só temos um menor que esse, mas não sei se vai agradar a senhorita não...

- Já me agradou, vamos meu querido, traga.

Minha crise de risos só aumentou, quando o funcionário trazia pelas rédeas, um pônei branquinho, muito fofo... Camila me fuzilava com os olhos, porque eu já estava às lágrimas de tanto rir. Montou aquela miniatura de animal, como se fosse uma amazona experiente:

- Pára de rir Isabela, vamos cavalgar - vociferou.

- Gente, uma mulher desse tamanho vai fazer o coitado sofrer... – continuava gargalhando vendo aquela cena, Camila parecia a Barbie ruiva com seu pônei encantado.

- Isabela, isso vai ter troco... – seguiu em cima do pônei com galopes mínimos...

Não podia perder a oportunidade, fotografei enquanto ela não via, e saí galopando pelo pasto, voltei várias vezes para encontrá-la. Em poucos metros ela resolveu dar descanso ao animal, foi quando a chamei pra minha garupa:

- Vem minha bonequinha Poly... deixa o seu pôneizinho amarrado, e sobe aqui...

Camila me olhava emburrada, mas acabou cedendo, puxei-a mandando q ela colocasse o pé sobre o meu. Depois me exibi toda pra ela, mostrando minha habilidade na montaria, ela apertava minha cintura, roçando o nariz na minha nuca desnuda, uma vez que prendi meus cabelos:

- Vai mais devagar amor...

Nossa, me derreti toda ao ouvi-la me chamando assim pela primeira vez. Encontrei suas mãos entre meus dedos, tentando passar segurança e demonstrando minha satisfação pelo carinho do apelido. Foi um carnaval maravilhoso, tranqüilo, eu tinha certeza que podia ser feliz com Camila, comecei a fazer planos pro futuro para nós, mas os guardei pra mim, esperando o momento certo de compartilhar com ela.

Ainda não tinha descoberto seu chocolate predileto, já tinha tentado chocolate branco, amargo, com castanhas, flocos, passas, amendoim... Camila se divertia com minha obstinação, mas dizia depois de se deliciar com o doce:

- Delicioso, mas ainda não acertou...

Voltamos para Campinas, nossa pesquisa já entrava na terceira etapa, minha residência seria concluída em três meses, e eu já tinha proposta de emprego no próprio Hospital das Clínicas, outros supervisores da residência aconselharam que eu prestasse concurso para lecionar na universidade, e seguisse tentando o mestrado acadêmico.

Eu passava mais tempo no apartamento de Camila do que no meu, sob protestos de Bernardo, saíamos as vezes com ele nos finais de semana ou durante a semana para almoçar, já que ele estava “solteiro na pista” de novo, também freqüentava conosco bares GLS. Lívia estava trabalhando com Tia Sílvia, fazendo especialização em direito criminal, mas, concentrava-se em estudos para concursos da procuradoria e promotoria.

Olívia seguia namorando com Cláudia, que também fora convocada para seleção feminina de vôlei, mas já estava de volta ao Brasil jogando no Osasco, Laila fez um excelente Grand Prix, chamando atenção de clubes europeus, desde janeiro, estava jogando em um time italiano. Quanto a Suzana, seguia cuidando de Bárbara, que já não andava mais, uma verdadeira UTI fora montada no apartamento dela, eram questão de dias para sua morte.

Em março, mês de aniversário de Camila, tratei de retribuir a festa surpresa, mas dessa vez, reservei uma especial só para nós duas.

Camila era vidrada em músicas dos anos 80, no carro sempre tocava uma coletânea com clássicos dessa década, confessou até que sonhava em ser paquita, aproveitei então para preparar-lhe uma festa ploc. Bernardo obviamente fez questão de planejar e me ajudar na execução das tarefas. Alugamos um buffet, convidamos os amigos mais próximos assim como a família de Camila, alertando sobre a necessidade de roupa a caráter. Demoramos quase dez dias para acertar os detalhes, Camila desconfiava que eu preparasse algo, mas eu mudava de assunto deixando-a ainda mais curiosa.

Com a desculpa de levá-la para jantar, fiz mistério sobre o local, e como era de se esperar, ao entrarmos no buffet, o sonoro SURPRESA foi ouvido, e a banda de amigos de Bernardo começou a cantar:

“Hoje vai ter uma festa, bolo e guaraná, muito doce pra você, é o seu aniversário, vamos festejar os amigos receber...”

Camila ria e pulava boquiaberta com o cenário, modéstia parte, eu e Bernardo caprichamos, piscina de bola, fliperama, pista de dança com globo de luzes, mesa farta de salgadinhos, docinhos, a banda só tocou músicas dessa época: Cindy Lauper, Jacksons Five, além das nacionais: Balão Mágico, Blitz, Kid Abelha, Ultraje a Rigor...

Bernardo estava fantasiado de Michael Jackson, estava hilário imitando seus passos, vesti-me de Madona pro delírio de Camila, para ela, separei o uniforme de paquita, ela se esbaldou... Quando a banda tocou “é tão bom, bom, bom, bom estar contigo na televisão”, a respeitada neurocirurgiã virou dançarina da Xuxa, despertando o riso de todos. Era sábado, então entramos pela madrugada na farra, o sorriso sincero escancarado de Camila me fez a mulher mais feliz do mundo naquela noite, ela não cansava de beijar em agradecimento, lá pelas tantas, depois de muita vodka, ela sentou-se no meu colo dizendo com a voz embargada:

- Isa, eu te amo.

Afaguei seu rosto o qual uma lágrima atravessava, e como reflexo disse:

- Eu também te amo Cami.

Não estava preparada para ouvir nem tampouco dizer isso, mas naquele momento falei de coração aberto, sem sentir que essa declaração tivesse qualquer peso. Por volta das duas da manhã estávamos só nós, Bernardo, o vocalista da banda (novo affair dele), e alguns funcionários do buffet recolhendo as coisas.

Trocamos de roupa e levei Camila que já estava mais sóbria depois de muita água que a obriguei tomar, para meu apartamento, onde preparei outra surpresa para ela, desde a porta até o quarto fiz um caminho de velas aromáticas e pétalas de rosas, na cama, coloquei todos os tipos de chocolate com recheios diferentes que consegui reunir, a fim de descobrir enfim qual o seu favorito.

Pela primeira vez, vi Camila sem palavras, os olhos marejados, ela tentava pronunciar algo, mas não saía som, eu que até então segurava sua mão, fiquei de frente para ela, e beijei-lhe com todo amor que eu senti naquele momento, deixando claro pra ela que palavras naquele momento eram desnecessárias. Sentei na poltrona ao lado de minha cama, e puxei para cima de mim, Camila envolveu minha cintura em suas pernas e foi retirando sua blusa, enquanto eu beijava seu colo nu, passeando pelo seu corpo com minhas mãos, deixando que meus sentidos se encontrassem com os dela: cheiro, gosto, voz, olhos, tato, não era só nossos corpos dando-se, algo mágico se desenhava entre nós, sim, eu amava Camila.