domingo, 10 de abril de 2011

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 23

CAPÍTULO 23: SUZANA DE VOLTA A MINHA VIDA


Com a proximidade do término da minha residência e a conclusão da quarta etapa da pesquisa, nosso trabalho se intensificou. Cada grupo acompanhava em média dez pacientes, atingimos assim uma amostra relevante para consolidar os resultados de nosso estudo.

Eu praticamente morava no apartamento de Camila, discutíamos às vezes por assuntos cotidianos, quase sempre porque Camila tinha um cuidado excessivo comigo, e isso às vezes me fazia sentir infantil. Afirmava que ela não tinha que me tratar como paciente, mas acabava me arrependendo quando percebia que todo aquele cuidado era amor.

Passei a experimentar um ciúme irracional, quando encontrávamos ex-namoradas dela, fazia comparações sobre meu corpo, e lhe indagava como elas eram na cama, isso irritava profundamente Camila, nessas horas ela exclamava:

- Você me acusa de te tratar como criança, Isabela, mas não faz outra coisa que não seja se comportar como uma!

O pior é que ela tinha razão. Mas nunca ficamos mais de uma noite sem fazermos as pazes, Camila era doce e compreensiva, mas bem mais madura que eu. Sabia quando calar e quando me puxar a orelha, aprendi muito no nosso convívio, sobre mim e sobre ela, as discussões só serviram na verdade para fortificar nosso relacionamento, pois enfrentávamos tudo juntas, ela repetia pra mim sempre:

- Cada dia que passa te amo mais, será que hoje já é amanhã?

Em abril, fui informada por Letícia sobre a morte de Bárbara, Suzana herdou parte dos bens dela. Pensei em ligar, prestar solidariedade, mas conclui, conversando com Camila, que ainda não era o momento.

O mês de maio chegou e com ele o final de minha residência. Era, enfim, uma neurologista, mas permaneci no Hospital das Clínicas, com um contrato temporário, bem como trabalhando na pesquisa com Camila, apesar de ter uma nova turma de residentes no projeto.

Maio foi um mês triste para nós, ninguém espera perder um ente querido, ainda mais pra violência. Estávamos de plantão no hospital, quando Bernardo me ligou na sala de repouso médico.

- Oi Bê, o que houve?

- Isa, eu preciso que você fique calma, não demonstre nervosismo para Camila.

Isso só serviu para ativar minha tensão, Camila estava sentada mexendo no notebook não percebeu minha apreensão.

- Sim Bernardo, fala, onde você está?

- Estou de plantão na urgência, acabei de atender uma vítima de assalto que foi baleada...

- Nossa Bê, sério? Mas porque eu tenho que ficar calma?

Camila parou o que estava fazendo e dirigiu a atenção para o telefonema.

- Isa, a vítima era o Sr.Ernesto, o pai de Camila, acabou de ter uma parada, não conseguimos reverter dessa vez Isa, o tiro atingiu duas artérias importantes...

Não ouvi mais nada da descrição do ferimento do pai de Camila, o chão parecia se abrir debaixo de meus pés, minhas lágrimas vieram aos olhos e soltei o telefone no chão, sentando com todo peso da notícia na cama que eu estava deitada anteriormente.
-Isa? Meu amor o que houve?
Eu tentava me recompor para dar a notícia trágica a Camila, sentei-a ao meu lado na cama, segurei suas mãos, enxuguei minhas lágrimas e respirei fundo:

- Meu amor, não sei como dizer isso, mas, você tem que ser forte.

- Isa pelo amor de Deus, você está me deixando nervosa, fala!

- O Bernardo me ligou, está na urgência, e... Acabou de atender seu pai, que foi baleado em um assalto e...

Camila não esperou eu concluir a sentença, saindo em disparada pelos corredores do hospital, sem sequer esperar o elevador, saltava os degraus da escada em direção a urgência, seguida de mim. Ao chegar no ambulatório, Bernardo estava a nossa espera com duas enfermeiras que recolhiam medicações do carrinho de parada.

- Bernardo o que você está fazendo parado? Vamos, carrega em 300volts, uma rodada de atropina... – Camila aos soluços ignorava o estado do pai, distribuindo ordens completamente transtornada.

- Camila, ele teve três paradas seguidas... Está parado a mais de 35 minutos desde a última parada... Minha querida... Já declarei o óbito.

- Bernardo, é meu pai! – vociferou como se pedisse socorro, como se acreditasse que ela poderia trazer seu pai de volta à vida.

Entendi o desespero dela, mesmo sabendo que de nada adiantaria mais procedimentos, fiz o que ela pedia, entregando as pás do desfibrilador, e pedindo em silêncio a enfermeira que estava ao meu lado acenando com a cabeça que ela preparasse a medicação que Camila solicitara. Depois de três choques, sem qualquer resposta, tomei as pás delicadamente das mãos de Camila, abraçando-a dizendo baixinho:

- Meu amor, acabou, ele não está mais conosco.

Camila se jogou sobre o corpo do pai, abraçando-o em meio a soluços e gritos de revolta. Pedi que Bernardo ligasse para a mãe e as irmãs de Camila, pedindo que elas viessem ao hospital, e as levassem direto ao consultório de Camila. Com muito esforço, consegui tirar Camila daquele abraço, e a levei até seu consultório, com o jaleco coberto de sangue, em estado de choque.

Na sua sala, retirei o jaleco, lavei suas mãos e seu rosto, ela estava imóvel, balbuciava sem parar: “Porque meu pai?”, deitei-a no meu colo no sofá, acariciando seus cabelos, chorando com ela, eu sentia a dor dela, já havia passado por isso, e como me doía vê-la sofrer daquela forma, queria dividir com ela essa dor.

Em cerca de meia hora, Bernardo entrou na sala onde estávamos, com a mãe e as duas irmãs de Camila, acompanhadas de seus respectivos marido e namorado.

- Camila, minha filha o que houve? – a mãe de Camila perguntou visivelmente perturbada.

- Carmem, sente-se por favor –Bernardo segurava o braço da mãe de Camila.

Camila, sentou-se, enxugou seu pranto, aproximou-se da poltrona perto do sofá onde sua mãe estava sentada, segurou suas duas mãos e com a voz embargada revelou:


- Mãe, o papai foi assaltado, ferido no assalto, trouxeram-no para cá, mas, infelizmente não pudemos fazer nada para salvá-lo... – não conseguiu concluir caindo novamente em pranto.

- Pára de falar como médica Camila! Diga que meu amor não está morto, diga Camila!

Camila não conseguia mais dizer uma palavra, Bernardo se aproximou de Carmem, abraçando-a:

- Minha querida, o Ernesto não resistiu, morreu a quase uma hora, sinto muito.

O ambiente foi tomado por gritos, choro, e dor, Camila me abraçava como uma criança indefesa, como queria evitar aquele sofrimento para ela... O cunhado dela tratou de providenciar as medidas necessárias.

Eu e Camila seguimos para a chácara para dar a notícia ao Vô Elias, depois de medicar Carmem, que sofreu um pico hipertensivo depois de ver o corpo do marido que ainda estava na urgência, ficando sob os cuidados de Bernardo no ambulatório do hospital.

Os rituais de velório, sepultamento, missas, foram obviamente dolorosos, ainda mais pela revolta de todos com a violência que acometia diariamente dezenas de pessoas na cidade.

Camila parecia em transe, mal respondia aos cumprimentos de todos, detinha-se em ficar ao lado do caixão do pai acariciando seu rosto como se buscasse uma última conversa com aquele homem que sempre foi para ela exemplo em tudo. Mantive-me ao seu lado todo tempo, zelando para que ela comesse, descansasse. Pedimos uma semana de licença do hospital, como eu tinha férias a tirar, fui atendida no meu pedido.

Fiquei no apartamento de Camila nesses dias, cuidando dela, durante todas as noites, ela acordava com pesadelos, gritando pelo pai, dormia nos meus braços apertando-os depois de derramar lágrimas de saudade e revolta.

Aos poucos voltamos a nossa rotina, cada vez mais ligadas, eu pensava em me mudar de vez para o apartamento dela, já que praticamente não usava mais o meu e estava no final do contrato, pedi um prazo a imobiliária para definir essa situação com Camila, não era justo dar um passo desses sem ela estar inteira para tal decisão.

Em julho completamos um ano de namoro, para minha surpresa, Camila presenteou-me com um anel de compromisso:


- Isa, eu queria que representasse algo esse anel, mas estou tão apática, não quero que você se sinta obrigada a aceitar, por medo de me magoar nesse momento, não precisa me dizer nada, quero que isso marque esse tempo que estamos juntas, e quero que evidencie o quanto quero um futuro com você.

- Cami, eu aceito, e desejo exatamente o mesmo, vamos deixar acontecer naturalmente as coisas, como foram até hoje.

Senti medo de dar um passo adiante convidando-a para morarmos juntas, tratei de curtir aquele momento com ela, adiando essa decisão que parecia iminente.

Era final de julho quando fomos informadas sobre uma nova candidata a implante do neurochip, não estávamos aceitando novos pacientes no momento, uma vez que estudávamos agora passos do monitoramento dos cinqüenta pacientes já inclusos na pesquisa, entretanto, a paciente fora recomendada por um antigo professor de Camila.

Tratava-se de um caso extremamente delicado, a paciente tinha múltiplos aneurismas, era uma bomba-relógio ambulante, certamente nem a cirurgia resistiria, mas era um caso que desafiava Camila, a sua técnica, assim, marcamos uma consulta com ela, na qual eu atenderia primeiramente para dar um parecer neurológico para depois encaminhar para Camila.

Já tinha meu próprio consultório no hospital, fui informada que a paciente já me aguardava na sala, estava adiantada vinte minutos, assim nem tive tempo de ler antes seu prontuário, apressei-me em conhecê-la, qual não foi minha surpresa ao me deparar com uma mulher abatida, os olhos amendoados que me encantaram um dia, estava sem brilho... Era Suzana sentada na cadeira de paciente em minha sala.

- Su... Suzana? O que você está fazendo aqui?

- Fui encaminhada pelo Dr.Paulo, sua secretária pediu que eu aguardasse aqui sua chegada.

- Mas... Você é a paciente?

- Sim, sou eu.

Não podia acreditar no que estava acontecendo, Suzana voltava a minha vida, dessa vez como minha paciente.

Senti minhas pernas perderem a força e caminhei rapidamente até minha cadeira, antes que caísse ali mesmo. Tomei o prontuário em minhas mãos apressadamente, sem conseguir esconder o tremor delas. Precisei reler por umas três vezes o nome Suzana Andrade Lins para me convencer que não estava no meio de um grande equívoco.

- Isabela, se acalme... Quem está com uma bomba-relógio no cérebro sou eu, não você. – Suzana sorriu tentando me acalmar.

- Desculpe-me Suzana – respirei fundo. – Eu jamais poderia imaginar que você era a paciente que o antigo professor de Camila insistiu que atendêssemos.

- Entendo Isabela, suponho que ele não tenha mencionado meu nome.

- Na verdade não, só combinou de enviar o prontuário, mas não tivemos tempo de lê-lo, chegou as nossas mãos hoje de manhã.

- Então, o que você me diz?

- Suzana, você não é leiga no assunto, não posso poupar palavras com você, porque seria inútil.

- Por isso escolhi você, sei de sua competência e integridade como profissional.

- Suzana, temos que avaliar mais detalhadamente esses exames, seu estado clínico, Camila com certeza pedirá uma nova tomografia, ressonância... Então pra não perdermos tempo, vou te examinar, concluir essa anamnese em seguida vamos ao setor de imagem para realizar os exames.

- Como quiser.

Tentava manter minha postura profissional, mas estava abalada, a mulher que tanto amei (amo?), estava ali diante de mim em risco de morte iminente. Por mais competente que Camila fosse, e mais eficaz fosse sua técnica e nossa pesquisa, o caso de Suzana era bem mais complicado do que os outros que acompanhamos.

Não podia dar falsas esperanças para Suzana. A mulher que me mostrou o que é amar, estava diante de mim vulnerável, apreensiva, mas ainda assim, linda, me fitando com todo encanto que ela sempre me demonstrou, isso mexeu comigo profundamente.

- Quando você teve a primeira convulsão Suzana?

- Semana passada, estava com uma dor de cabeça terrível durante o dia todo, você sabe que não gosto de tomar analgésicos por qualquer coisa, mas não agüentei, e a dor sequer aliviou depois de muitos comprimidos, até uma medicação intravenosa. Procurei o Jorge, que foi seu preceptor, pedi que fizesse uma tomografia, enquanto estava no tomógrafo, convulsionei.

- Notou algum déficit de fala, marcha, memória?

- Não, por exemplo, você foi a primeira pessoa que me lembrei ao voltar à consciência – seus olhos brilharam ao me revelar isso.

Engasguei, acelerei os cliques na minha caneta a ponto dela escapar de minhas mãos, ao me abaixar para pegá-la, derrubei o porta-retrato que exibia uma foto com Lívia e Tia Sílvia, e mais uma gama de papéis que estavam na minha mesa, olha ela de novo aparecendo: Isabela trapalhona. Suzana não segurou o riso.

- Muito bem, Suzana preciso fazer alguns testes, você pode vestir a camisola que está no armário logo a frente, e depois suba na maca.

Levantou-se caminhou até a maca, despindo-se na minha frente.

- Suzana... Você... Pode usar a camisola...

- Por que isso Isabela? Você já viu esse corpo nu tantas vezes... Conhece-o como ninguém.

Ruborizei não sei foi de timidez, ou se pelo calor que tomava meu corpo ao ver Suzana nua bem perto de mim. Andei até o armário e peguei a camisola, estendendo para ela.

- Vista Suzana, você sabe que existem normas pra isso.

Vestiu-a lentamente, com os olhos fixos em mim, sentou-se na maca e me aproximei, comecei a realizar o exame pela cabeça, com uma lanterna nas suas pupilas, não pude fugir daqueles olhos amendoados, toquei sua face, apalpando todos os ossos, foi quando Suzana notou meu anel:

- Noiva de novo Isabela? – falou cabisbaixa.

Levantei seu queixo a fim de deixá-la na posição correta para examiná-la e não respondi sua pergunta.

- Quanta seriedade... – franziu a testa zombando de minha postura sisuda.

Segui com os testes de reflexo, e examinando o resto do seu corpo, deslizava minhas mãos por seus braços, pescoço, tórax, abdome... A pele de Suzana estava quente e macia, sentia ela se arrepiar, apesar do meu objetivo profissional estar regendo aquele momento, o contato de nossos corpos despertava sensações adormecidas.

- Pronto, doutora? Pode responder minha pergunta agora? –arqueou a sobrancelha sarcasticamente.

- Pode se vestir Suzana.

Meu esforço hercúleo para manter minha postura era evidente, me dividia entre a apreensão pela vida de Suzana e as provocações dela que inesperadamente me despertava desejo e saudade do seu corpo e dos seus beijos. Suzana vestiu-se e voltou a sentar-se diante de mim, enquanto eu escrevia no seu prontuário.

- Isabela... Olha pra mim...

Suspirei, buscando serenidade pra enfrentar o olhar de Suzana, e voltei meus olhos para ela:

- Estou olhando Suzana.

- Você está noiva?

- Suzana... Não é momento pra isso, vamos nos deter em salvar sua vida.

- Responde Isa, não sou uma paciente qualquer, fomos noivas...

- Eu sei disso Suzana, você nunca seria uma qualquer pra mim, muito menos uma paciente qualquer. Não estou noiva ainda, é um anel de compromisso.

- Qual a diferença?

- A diferença é que não temos planos urgentes de casamento, mas temos planos de nos casar um dia.

- Se eu tivesse mais tempo de vida, isso me encheria de esperanças...

- Fiquei sabendo da morte de Bárbara, eu sinto muito, de verdade - mudei de assunto.

- Obrigada, foi um alívio, ela estava sofrendo muito.

- Imagino.

- Eu sinto tanto a sua falta Isa, tive esperanças que a morte de Bárbara facilitasse meu caminho de volta a você, mas olha a ironia do destino, minha volta pra você foi por um monte de aneurismas... E pra apimentar essa piada do destino, minha vida está nas mãos de sua noiva...

- Suzana, você procurou as pessoas certas, Camila é a melhor neurocirurgiã da América Latina, vamos fazer todo o possível para desarmar essa bomba-relógio.

- Para Isabela! Estou falando da gente... Por que se for pra sobreviver a isso e não ter você, não sei do que vai adiantar porque vou morrer de tristeza, de amor perdido! – elevou o tom de voz com os olhos marejados.

- Nem brinca com isso Suzana! Sua vida vale muito pra você limitá-la assim! Você vai lutar pra viver, você tá me ouvindo?

Não contive minhas lágrimas, Suzana avançou em minha direção abraçando-me tão apertado que meus ossos doíam, mas aquele abraço era mais pra ela do que pra mim...

- Isa eu vou lutar pra viver e pra ter você de volta, eu vou... – falava baixinho enquanto se mantinha colada em meu corpo.

A porta se abriu, era Camila, que chegava para me ajudar na consulta. Ao ver a cena ficou atônita segurando a maçaneta, engolindo as palavras que diria por entrar sem bater. Afastei-me de Suzana apressando-me em explicar a situação, enxugando meu rosto:

- Camila, Suzana é a paciente encaminhada por Dr. Paulo, acabei de realizar a avaliação inicial, estávamos descendo para o setor de imagens para repetir a tomografia e a ressonância.

- Olá Dra. Suzana, sente-se, por favor.

Camila voltava á sua altivez profissional, sentando ao lado de Suzana, de frente pra mim, deixei-me cair sobre minha cadeira recuperando meu fôlego.

- Tenho certeza que a consulta da Dra. Isabela foi completa, mas precisamos conversar um pouco mais sob os aspectos do tratamento, no seu caso, a cirurgia. Antes de vir, dei uma olhada nos exames que você fez semana passada, e não vou te enganar, até mesmo porque seria um insulto sendo você a médica que é. A localização dos aneurismas e a quantidade deles torna-os praticamente inoperáveis.

- Você disse praticamente?

- E’, disse, veja doutora, a proximidade entre os aneurismas acentua os riscos de durante a cirurgia algum se romper, e daí não poderemos evitar que seja fatal.

- Então, você não vai me operar?

- Doutora, é um desafio com certeza, isso me inspira como profissional, mas a decisão não será minha, será sua.

- Eu não tenho muitas opções não é doutora? Se não operar a qualquer momento eles podem se romper também...

- Infelizmente sim. Vamos repetir os exames, um dos residentes vai acompanhar você, mas antes passe no posto de enfermagem a enfermeira Joana fará sua admissão.

Nesse momento, um dos novos residentes, entrou na minha sala e acompanhou Suzana conforme as instruções de Camila, que ficou lendo minhas anotações no prontuário em um ar compenetrado, eu a observava tensa, não sabia ao certo se pela situação de Suzana ou pela cena que Camila flagrara minutos atrás.

- Cami... O que você viu...

Ela me interrompeu fazendo perguntas sobre minha avaliação, aumentando ainda mais minha tensão, respondi com alguma superficialidade mais interessada em mudar de assunto.

- Camila, por favor – segurei sua mão. – Estou vendo que você está chateada, deixa eu te explicar.

- Explicar o que Isabela? Você atracada com uma paciente que por acaso é sua ex-noiva? Ou suas lágrimas por reencontrá-la? Ou por medo dela morrer? Isso é patético, estou com ciúmes de sua compaixão por que não sei se é compaixão ou amor!

- Cami, meu amor, foi um abraço solidário só isso... – menti para Camila por puro medo de perdê-la pra um momento de recaída.

- Isa... Não vou suportar se você mentir pra mim... Seja o que for só te peço que seja honesta comigo, por favor.

Minha consciência quase me esmagou tamanho o peso que senti nela. Apesar de não ter feito efetivamente nada, aquilo que senti afinal podia ser só compaixão, não me agradava em nada não compartilhar isso com Camila, desde o início do nosso namoro, nunca escondemos nada uma da outra.

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