quinta-feira, 10 de maio de 2012

Perdão!

Mudança de planos minhas queridas...
Para não ser acusada de matar de ansiedade minhas leitoras, resolvi postar como capítulo o que seria a primeira parte só, já que Têmis ainda não concluiu a parta mais técnica digamos assim do capítulo.
Assim peço desculpas e agradeço a paciência e compreensão de todas, e claro o carinho.
Agora a confusão entre nosso casal fofo está armada não é? Ou não? Será que não tem mais jeito pra elas?
Não vou marcar data da próxima postagem, assim que receber a parte da Têmis, finalizo a minha do próximo capítulo, assim, até lá!
Bjos

SEGUNDA FASE - LEIS DO DESTINO: CAPÍTULO 37

2.37 Ex vi

Por força. Por determinação de; em virtude de. 
     

           Diana voltou à Nova Iorque para continuar a acompanhar o tratamento de Douglas como prometera ao pai. Apesar do esforço, a fotógrafa se sentia pouco à vontade na presença do irmão, as explicações dadas pelos médicos que o acompanhavam não convenciam Diana da inocência do irmão em tantas atrocidades cometidas e diferente do pai, a loirinha não acreditava que aquele tratamento surtiria o efeito milagroso que aparentemente Acrisio cria.

            A decepção pelo fim do namoro com Natalia consumiu muito da energia da fotógrafa na sua rotina profissional. Novas propostas de trabalho choveram para o talento mais promissor da fotografia na América, seu espaço no meio estava cada vez mais se consolidando, mas, tal vitória não era suficiente para apagar a dor e o vazio deixado pelo término de sua relação com seu grande amor.

       Os amigos de sempre estavam com Diana, insistentemente tentaram animar a amiga com convites diversos para programas, saídas, baladas dos quais a fotógrafa aceitou um ou dois, mas nas oportunidades estava sempre distraída, distante, com uma grande tristeza no olhar.

            Algumas vezes cedeu, enviou mensagens de texto para Natalia que respondeu com o mesmo sentimento dolorido de saudade, mas no fim acabavam por discutir via SMS com alguma acusação sutil ou cobrança desmedida, confirmando que a mágoa só cresceria se mantivessem contato. Mesmo consciente que era insensato, vez por outra bisbilhotava os perfis sociais da promotora, sofria ao ler suas postagens, ao rever fotos, e não foram poucas as vezes que apelou por noticias da ex à Carla que se mostrou uma amiga leal, protegendo uma a outra de possíveis desentendimentos se dialogassem.

            No seu aniversário, Diana recebeu a grata surpresa de pela primeira vez em quinze anos receber os primeiros “parabéns” do seu pai. Tal evento a reportou para seus bons momentos da infância quando seus pais a acordavam sempre com um mimo, um presente, um carinho. Aquele gesto simples foi um bálsamo para alma machucada da loirinha. A ausência que sentia da ex-namorada foi minimizada por uma sensação incomum de estar fazendo a coisa certa, mesmo sofrendo.

            Talvez por isso, naquele dia, seu astral melhorou, sentiu-se disposta a espantar a carga de tristeza que carregava nas últimas semanas e assim, não recusou o convite de Daniela para comemorar seu aniversário naquela noite.


-- Ainda bem que você aceitou o meu convite, eu já estava pensando em te arrastar daquele apartamento, não estava disposta a fazer festinha surpresa para você lá.



-- Você organizando festinha surpresa? Tenho até medo de imaginar como seria essa festa.



-- O bolo seria delicioso, te garanto! O recheio seria uma striper fenomenal que conheci na despedida de solteira da Kelsey.



-- Pegou?


-- Claro né!


-- E ia dividi-la comigo? Sem eu precisar roubá-la de você?


-- Vai se ...


            Diana gargalhou com a expressão indignada da amiga.



-- Você se acha não é? Quem te garante que eu a perderia para você?



-- Meu histórico...



-- Não se esqueça que você ficou amarrada anos luz! Enquanto eu aperfeiçoei minhas técnicas de solteirice e paquera.



-- É verdade, mas, talento não precisa de tanto exercício minha cara...



-- Ai como me irrita!


-- Porque você sabe que é verdade!


-- Topa um desafio então?


-- Desafio?


-- Vou levar na “No paints”, uma boate nova, vamos ver quem ganha de quem nessa noite.



-- Você está me propondo um duelo de quem conquista mais mulher em um território seu completamente desconhecido para mim?



-- Não é qualquer mulher, a gente escolhe e vamos ver qual das duas elas escolhem, eu ou você.



-- Sei... Você vai escolher aquelas que você já pegou ou aquelas que são caidinhas por você.



-- Você pode escolher também! Não confia que elas te escolham mesmo já me conhecendo? Você tem a vantagem de ser a carne nova no pedaço...



            Diana relutou com um sorriso pouco receptivo à proposta.



-- Vamos lá Di! Só pela diversão... Não precisa você pegar nenhuma... Só a conquista... Esses lugares são pra isso mesmo... Sem compromissos... Somos só nós duas mesmo hoje a noite, vamos nos divertir, você está precisando.



-- Tudo bem, vamos às ladies!



            Naquela noite aconteceu o que nenhuma das duas esperava: um placar de zero a zero.


-- Não acredito nisso! Você está com o filme queimado e queimando o meu! Daniela você está sendo odiada pelas mulheres de Nova Iorque! E por que estou aqui com você elas acham que eu sou igual a você!


-- Quem não acredita nisso sou eu! É um motim contra minha pessoa! Eu as trato tão bem! O problema é que eu as amo!


-- É ama! Todas ao mesmo tempo!


            As duas gargalharam.


-- Dani, já deu o que tinha que dar essa noite. Vou pegar um táxi, obrigada pela noite minha amiga, apesar do nosso fracasso, me diverti muito.

-- Ah Di, não faz isso... Não me deixe sozinha aqui no meio dessas sapas rancorosas...



-- Dani você sabe o que é estar em um ambiente desses bebendo só coquetel sem álcool e energético?



-- Vai mesmo me deixar sozinha?


            Daniela fez bico, e Diana cedeu.


-- Então me dê as chaves do carro. Eu decido a hora de irmos para casa.


            Diana determinou e Daniela concordou. Ignoraram a sequência de rejeições que sofreram na noite e se divertiram na pista de dança com a intimidade que só duas grandes amigas podiam desfrutar.


-- Dani estou acabada, estamos ficando velhas!


-- Fale por você sua idosa! Tenho energia para dançar a noite toda!


            Diana sorriu balançando a cabeça negativamente e se afastou da pista se acomodando no bar e pediu uma água enquanto observava Daniela dançando sozinha na pista. Abruptamente o ritmo da música mudou a pedido dos casais, e de repente, a jornalista estava no mesmo lugar da pista, dançando sozinha em meio aos casais que dançavam romanticamente abraçados.


            A fotógrafa não suportou ver a amiga pagar aquele mico. Chegou até a pista puxando Daniela para a dança, e logo já eram mais um par naquele dancing.


            E como o destino não explica seus encontros e desencontros, aquela dança tomou outra conotação sem que as amigas percebessem o estranho clima que se desenhava nas reações dos seus corpos naquele ritmo. Poderiam culpar o álcool, mas Diana estava completamente sóbria e Daniela apesar de ter ingerido o suficiente para justificar um desmando qualquer sabia que aquelas reações nada tinham a ver com o teor alcoólico do seu sangue.

           
            Se era uma lei do destino elas não sabiam. Mas, as leis da física e da química só contribuíram naquele momento para colar os corpos das duas numa crescente de atração das peles, aceleração da respiração e o descompassar dos batimentos cardíacos. Estando tão próximas era impossível que uma não captasse o que se passava com a outra e quando pareceu inevitável conter toda aquela atração à beira de uma explosão a música mudou quebrando o clima, interrompendo o que os lábios estavam prestes a concretizar.


            Aturdidas e tomadas de uma culpa estranha, as duas se afastaram bruscamente como se lutassem contra a força de um ímã. Evitaram se olhar. Tacitamente saíram do dancing, Diana seguiu para o banheiro enquanto Daniela pediu uma dose de tequila no bar a qual bebeu rapidamente num gole só emendando em outra a fim de digerir o que acabara de passar. Diana por sua vez no banheiro lavava o rosto corado, se condenando por não controlar o desejo que sentia naquele momento pela amiga.

           
            Retornou ao bar onde Daniela flertava com uma bela oriental, e experimentou uma sensação estranha de desconforto com a cena. Preferiu não interromper a amiga e deixar a boate e avisou por SMS:


-- “Estou indo, boa sorte com a Xing Ling. Estou levando seu carro melhor você voltar de taxi já que bebeu muito. Beijos e obrigada pela noite”.


            Daniela não conseguiu sequer dar continuidade à conversa com a linda mulher que já caíra em seu charme. Deu uma desculpa qualquer e saiu da boate às pressas seguindo para o estacionamento onde jogou-se na frente do próprio carro dirigido por Diana.


-- Sua louca! Poderia ter te atropelado sua maluca! Tudo isso é ciúme do seu carro ou por que não quer pegar a japinha em um taxi? – Diana berrou saindo do carro.



-- Tudo isso é por vontade de você Diana!
           
           

            Daniela não deu tempo para Diana assimilar o significado daquela declaração. Quando deu por si, sua boca já estava invadida pela língua faminta da morena estonteante. O beijo avassalador se transformou em uma excitante coreografia das mãos e lábios, apossando-se de cada centímetro de pele que podia ser exposto ali, dentro do carro acomodadas no banco de trás.

            Racionalmente Diana sabia da grande bobagem que estava se permitindo naquele momento. Era insano ceder ao desejo recém despertado pela amiga, mas não teve forças para fazer a razão valer, era forte demais, intenso demais, quase tóxica a vontade de se dar e possuir aquele corpo.


            Daniela que nas suas fantasias já se imaginou com a amiga leal, nunca poderia supor a dimensão daquela inspiração secreta quando sentiu atração visceral tomando de conta de cada beijo, cada toque, carregados de volúpia, que lançaram por terra qualquer rastro de sensatez deixando em seu lugar a satisfação ao sentir o corpo alvo da loirinha se contorcer quando foi preenchido pelos seus dedos habilidosos que logo estavam inundados pelo gozo precoce de Diana, que com o corpo arqueado, rasgou a blusa de Daniela expondo os seios apetitosos da morena que os ofereceu. Concomitantemente Diana sugou aqueles mamilos eriçados, lambeu-os, se deliciou neles enquanto seus dedos se deleitavam no sexo encharcado de Daniela, levando-a ao auge sem demoras.

           
            **************


            A rotina de estudos de Natalia se tornara ainda mais intensa desde sua chegada da Holanda. Ao contrário de Diana, a promotora se fechou acerca do assunto, não falando sobre nem mesmo com a melhor amiga Carla. Foi assim pelo menos até receber a primeira mensagem de texto de Diana.


            Por alguns momentos chegou a crer que nem tudo estava perdido, que Diana estava arrependida do término e que podiam recomeçar. No entanto, a ferida estava lá, os motivos que as separavam também. Natalia cobrava explicações dos passos de Diana sempre que suspeitava de algum encontro que ela podia ter tido com Rosana em eventos nos quais a cantora estava presente. Isso só as separou mais, Natalia reconhecia a exaustão da ex em ser tão cobrada e ser alvo de tantas desconfianças. Natalia compreendia racionalmente, mas suas emoções não correspondiam, estas explodiam a qualquer silêncio de Diana, a qualquer resposta vazia da loirinha.


            Carla insistia várias vezes em trazer a amiga a realidade, explicitando os motivos que as separavam e que muitos dependiam da mudança de postura da promotora. Hora Natalia assentia a opinião da amiga, hora explodia sua insegurança e ciúme ao ver uma foto ou uma marcação em rede social na qual Diana Toledo e Miss Flower estavam juntas.


-- Ser estranho, saia desse corpo que não te pertence! Natalia minha amiga se você ainda está aí dentro tome de conta de novo da sua vida!


-- Para de palhaçada Carlinha! Você não está vendo? Estão juntas de novo, como suspeitei.


-- Natalia eu não ia te dizer isso por que você me pediu que eu não falasse mais nada sobre a viagem para Amsterdã, que não queria mais noticias da Diana e blá blá blá... Mas, eu vou dizer na esperança de que você reconheça o que precisa mudar.



-- Dizer o que?


-- A Diana não voltou com a Rosana, nem mesmo ficaram como você deduziu ao encontra-la no quarto dela em Amsterdã.


-- Ah ela te convenceu disso?



-- Não precisou ela me convencer. Eu vi.



-- Viu o quê?



-- Vi com quem a Rosana estava em Amsterdã.



-- Han?



-- A Rosana está namorando a Julia, a ex da Diana. Tomamos café juntas no dia que embarquei para o Brasil. Conheci a Julia na faculdade quando ela namorava a Diana, e bem, nos encontramos no hotel, e bem, ela até me fez companhia nos passeios que fiz em um dos dias que fiquei lá. A Rosana comentou inclusive de quão engraçado era isso no mundo lésbico, que as duas eram ex da mesma mulher que as traiu com uma mesma mulher e hoje a Diana era madrinha do casal, contou inclusive que conversou pessoalmente com a Diana para comunicar a novidade.



-- Por que você não me disse isso?! Carla isso mudaria tudo!



-- Mudaria o que? Você não acreditou na Diana, a mulher que você ama há dez anos, uma mulher que fez tudo por você. Então por que eu tenho a confirmação que Diana não lhe traiu você acredita nisso? O que isso mudaria na relação de vocês Natalia? A Diana teria sempre que te trazer uma lista de provas incontestáveis da inocência e fidelidade dela?


            Natalia tentou responder, mas, não conseguiu. A amiga estava certa. Tal constatação cobriu a promotora de uma culpa que se mesclava a um sentimento estranho de vergonha.


-- Eu também terminaria comigo...


            Natalia balbuciou jogando seu corpo no sofá.


-- Você precisa encontrar seu equilíbrio de novo Nat. Eu acredito no amor de vocês, mas não dessa forma que as coisas tem caminhado.


-- Eu sou uma vaca psicótica!


            Carla riu e tentou consolar a amiga:



-- Não, você não é. Vocês enfrentaram um tumulto na relação de vocês, e a pressão foi maior para você, você ficou mais vulnerável.



-- Eu mais vulnerável? Carla a Diana teve uma overdose, está em tratamento para dependência química, o pai está sendo julgado por dezenas de assassinatos e ela está testemunhando contra ele em um julgamento que eu estou na acusação. O irmão psicopata está internado depois de tentar matar outro irmão e ela o acompanha a pedido de um pai que está fingindo ser a nova versão do pai herói. Acho que a Diana está mais vulnerável e ainda sim não se transformou numa neurótica ciumenta.



-- Nat, você sabe o que passou também. A diferença é que a Diana se acostumou a vida toda a enfrentar melhor as coisas sozinha e de certa forma se sai melhor quando está sob pressão.



-- Não sei se concordo com isso. A Diana só tem pose de forte, as vezes eu queria tanto que ela só me deixasse cuidar dela, e ela se escondia naquela postura de mulher descolada e inabalável. Poucas vezes ela se mostrou frágil. E quando se mostrou eu fui uma filha da mãe insensível chamando-a de filha inocente e carente...


-- Nat não vai adiantar de nada você se condenar assim. Você quer a Diana de volta? Então lute contra o que afastou vocês, e não estou falando de Acrisio Toledo, você sabe disso.





            Natalia sabia e pela primeira vez isso estava claro como água. As próprias questões mal resolvidas entre ela e Diana, as palavras que ficaram no vácuo, os pensamentos que divagaram em hipóteses absurdas, as conclusões que foram feitas à revelia da grandeza dos sentimentos que as unia, as feridas que não foram curadas, as declarações que foram omitidas pela mágoa, estavam todas lá. Estavam a minar aquele território que devia ser de confiança, parceria, entrega e esperança. Estavam lá para afundar todas as tentativas de concretizar o amor que desafiava todas as leis do acaso e do desencontro.


            O que antes estava tão confuso para a promotora, agora parecia incontestável como uma evidência de crime. O acúmulo daquelas marcas na sua história com Diana não a machucou somente, mas tirou do seu centro de equilíbrio, a deixou perdida, nublou a pureza do seu amor por Diana.


            Com o resultado de sua reflexão, Natalia experimentou o sentimento dúbio de alívio por enxergar o que a separava de Diana e sentir que agora ela podia tomar as rédeas para reconquistar seu amor, no entanto, experimentou também o medo de sua descoberta ter acontecido tarde demais.


            Aquela angústia cresceu a tal ponto de roubar o sono da promotora. Revirando-se na cama, com o pensamento em Diana, desejou arrancá-la da sua mente e sentá-la ali diante dela para que ela ouvisse todos os pedidos de perdão e as promessas do seu amor incondicional. Não suportando aquela aflição, pegou seu celular e ao ver o relógio marcar as zero horas, se deu conta que esquecera o aniversário de Diana, foi a desculpa perfeita para ligar-lhe na madrugada para desculpar-se pelo descuido.


            O destino em mais uma de suas armadilhas não poupou o coração da morena. Com o coração aos saltos dentro do peito, não precisou esperar o telefone chamar muito, mas ao invés do esperado “alô” na voz de sua amada, Natalia escutou gemidos, frases desconexas no tom que ela reconhecia muito bem, mas em outra língua:


-- “Você é deliciosa Dani... Dá pra mim...”.


-- “Isso Diana, entra em mim, entra gostoso, me faz gozar...”.



            Natalia soltou o telefone lentamente. No seu coração o medo agora tinha outro nome: Daniela, e pior, teve a confirmação do seu maior medo: era tarde demais para ela e Diana.


**************

            Daniela chegou ao apartamento apressada, berrando:


-- Você ainda não está pronta? Di seu irmão vai te matar! A mulher dele está dando a luz e ele nem mesmo sabe onde!


-- Calma baby... O vôo dele só chega daqui a duas horas, dá tempo. E não exagera, será uma cesárea, a Lídia só vai ser operada amanhã.



-- Vem cá então, me dá beijo.


            Daniela puxou Diana pela gola da jaqueta e beijou seus lábios demoradamente.


-- Saudade? – Dani sussurrou.


-- Claro que não. Imagina... A dramática da relação não sou eu...


-- Nem a romântica também! Eu fui enganada sabia? Via você toda fofa com a Rosana, heroína com a Natalia, e olha o que sobrou pra mim!


            Diana gargalhou.


-- O que você esperava? Você me atacou cinco meses atrás e não me largou mais! Se eu fosse fofa e romântica, você já teria me feito de sua escrava sexual, não que eu achasse ruim...



-- Diana vá se ferrar!


-- Agora? Será que dá tempo amor? Que tal você me ajudar?



           
-- Não faz isso, se não me apaixono... Não sorria assim com essa cara safada pra mim!



            Daniela beijou Diana mais uma vez e ouviu da loirinha:


-- Bendito seja seu ataque... E sim baby, senti saudades de você sim. Agora precisamos mesmo ir, se não meu instinto de escrava sexual vai prevalecer e te devoro agora mesmo...

************


            Diana não ficou imune a emoção do irmão com o nascimento do primeiro filho dele. Como não tinha proximidade com os sobrinhos, filhos de Douglas, aquele momento foi mais que especial para ela.

            Durante os primeiros dias de vida do primogênito de Danilo, Diana experimentou um sentimento acalentador de estar em família. Tanto ela como o irmão desfrutou do clima que tanto sentiam falta desde a infância, por isso, foi inevitável pensar nos pais, especialmente em Dona Alice, se estivesse viva ali com eles.

            Mesmo com a trégua nas conturbações, Diana guardava mais que isso, escondia o vazio que tomava sua alma, junto a ele, a saudade, a dor da ausência de Natalia em sua vida.

-- Obrigada mais uma vez por ter aberto sua agenda para mim Diana, sei como está seu tempo com a exposição, mas para fotografar minhas obras, não pode ser uma fotógrafa qualquer, mas uma artista.


-- Imagina Julia, não tem que me agradecer, é uma honra para mim, e também um excelente trabalho para meu portifólio.


-- Deixe-me ver como ficaram?


-- Julia você sabe que não gosto de mostrar antes de tratar as fotos... Tudo bem vai, olha aqui.


            Diana exibiu algumas fotos na sua câmera para a satisfação de Julia que logo emendou um assunto imediatamente após o telefonema de Dani que Diana recebeu:


-- Taí um casal que nunca imaginei que durasse: você e Daniela.


-- Eu e Daniela não somos um casal, estamos apenas nos divertindo juntas, amizade com benefícios.


-- Aham, sei... Mas nesse tempo que estão juntas vocês ficaram com outras pessoas?


-- Ah Julia, não tenho mais paciência para esses joguinhos de conquista, os dramas as DRs, uma mulher está de bom tamanho para mim, não fiquei mesmo com outra mulher, mas a Dani com certeza sim, não somos exclusivas.


-- Acha mesmo que a Daniela tem ficado com outras? Diana eu soube até que as lésbicas de Nova Iorque criaram um feriado no dia de aniversário de namoro de vocês!


-- Feriado?


-- Ação de graças pela fartura de mulheres disponíveis, depois que vocês duas deixaram a concorrência livre...


           
-- Palhaça! Além de tudo uma mentirosa, eu e Daniela já não representávamos grande perigo mesmo...



-- Falando sério Di, você tem certeza de que vocês duas estão na mesma sintonia nesse relacionamento?


-- Sintonia? Ai Julia seu namoro com a Rosana está te deixando estranha...


-- Diana não se faça de desentendida, sabe a que me refiro. Você acha mesmo que a Dani está só se divertindo? Que está saindo com outras mulheres como antes? Diana você não é tão estúpida assim. A Dani está todo tempo com você, até tem te acompanhado nas viagens da sua exposição.


-- Coisa que qualquer boa amiga faria ou não?


-- Sim claro, mas você tem certeza de que a Dani se sente assim? Uma amiga apenas?


-- Julia não sou eu quem deve responder essa pergunta, você devia perguntar isso a Daniela!


-- Diana eu te conheço, você sabe que minha indagação é pertinente. A Dani está completamente envolvida, vocês estão juntas há quanto tempo? Seis meses?



-- Quase isso, e tem sido meses maravilhosos se você quer saber, e daí se ela acha que somos um casal, eu acho que podemos dar certo sim. Somos amigas, compatíveis, gostamos das mesmas coisas, o sexo é maravilhoso, a Dani é divertida, companheira...



-- Espere um pouco Diana...  Eu já ouvi isso, você disse a mesma coisa da Rosana e olha o que aconteceu.


-- Você acha que não tenho medo disso? Esse é o motivo pelo qual não quero compromisso com a Dani.


-- Você ainda pensa na Natalia?


-- Não há um dia em que eu não pense nela pelo menos três vezes.


-- Diana pelo amor de Deus, o que você está fazendo minha amiga?  Está envolvendo mais uma pessoa nessa sua novela com a Natalia!


-- Toda novela um dia tem fim, eu posso estar colocando um fim começando uma nova história com alguém que me faz bem não posso?



-- É? E como será sua nova história com a Dani quando você reencontrar a Natalia? Isso não está muito longe já que em algum tempo o julgamento do seu pai acontecerá e fatalmente vocês vão se reencontrar.



-- Nosso encontro não vai ser nada romântico Julia. Ela estará me interrogando para ajudar a prender meu pai pelo resto da vida dele.



-- Ainda sim, será ela, a Natalia, e como vai ser? Está preparada para revê-la sem que outra pessoa inocente saia machucada nesse reencontro?



-- Julia nossa história acabou, há mais de cinco meses a Natalia sequer me deu um telefonema, uma mensagem, um e-mail,... Nosso término foi definitivo dessa vez, uma decisão consciente sem interferência de terceiros ou conspirações.


-- Acho bom você ter certeza disso, se não, a Dani será mais uma ferida nesse rolo de vocês duas, assim como eu, Rosana, Pedro, Eduarda, Lucas...


-- O que você está querendo dizer?



-- Não estou querendo dizer, estou dizendo que você precisa zelar por sua amizade com a Daniela, e não coloca-la em risco como colocou com as outras pessoas envolvidas nesse drama.



            Diana ficou pensativa, as colocações de Julia calaram fundo, trouxeram á tona seus medos confrontando seus sentimentos por Daniela e tudo que estava envolvido naquele polígono amoroso. Havia muitos fatores a serem pesados e pensados por ela, interiormente, a fotógrafa sentia-se pressionada a enterrar o amor de sua vida convencida de que as ciladas do destino ao contrário do que pensara até então não surgiram para unir ela e Natalia, eram sim sinais de que elas não deveriam ficar juntas.

            E ele, mais uma vez ele, o destino estava pronto a novamente encurralar Diana para o desfecho de suas questões. Danilo comunicou sua volta para o Brasil, dessa vez, levaria sua mulher e seu filho recém-nascido para o Brasil.


-- Por que você não fica mais tempo meu irmão, espera o Nicolas completar pelo menos dois meses, é uma viagem tão longa para um bebê...


-- Não posso maninha, além do meu impedimento legal quero estar perto do papai, quero que ele conheça o neto especialmente agora que o julgamento dele foi finalmente marcado.


-- Foi marcado? Quando será?


-- Em maio, então em três meses nos veremos de novo maninha. O Nicolas já vai estar grandão!


-- Já? Pensei que demoraria mais...


-- Pois é, a justiça brasileira é lenta, mas nem tanto...

***********************


            A maratona de estudos de Natalia e Carla se encerrara com louvor. Ambas foram aprovadas no concurso do Tribunal de Justiça de São Paulo eram as mais novas juízas do estado.


-- Precisamos comemorar com categoria! E você nem se esquive meritíssima! Você vai tomar aquele porre comigo que está me devendo!


-- Você está louca Cacá? Ainda temos muito trabalho, o julgamento do Acrisio está próximo. Ainda não fomos convocadas, e nem sabemos quando isso vai acontecer.



-- Não importa! A nossa comemoração começa hoje! Vou dispensar o Lucas, e nós duas vamos sair e tomar todas, até topo ir a uma dessas boates do seu time.



-- Boates do meu time? Você vai a uma boate GLS comigo? Sério?


-- Seríssimo! Você precisa ver gente, paquerar, você está verde de tão pálida, amiga você está parecendo um zumbi, assisti The Walking Dead ontem e juro que me lembrei de você!



-- Ah que delicada você é! É assim que você quer levantar minha autoestima?


-- É assim mesmo! Vamos agora dar um jeito nesse cabelo, nessa sobrancelha, porque a noite paulistana nos espera!



-- Não vou conseguir escapar não é?


            Carla fez um sinal negativo com o dedo indicador.


-- Ok se é pra cairmos na noite GLS, vamos acompanhadas. Vou ligar para os meninos, para a Silvana, eles sabem os melhores lugares para ir hoje. Tem certeza que o Lucas não vai se chatear?



-- O Lucas está de plantão hoje, amanhã meu pai fará um churrasco na piscina em comemoração e a noite, a festa será minha e do meu delegado, não se preocupe já está tudo arquitetado.



-- Medo de você...


-- Você ainda não viu nada!


            Como prometera Carla não arredou o pé do lado da amiga, e juntas encontraram Silvia, Fernando e Emerson na porta de uma boate no centro de São Paulo.


-- Nossa, a Silvia está bonita não é? – Carla comentou.


-- É, como diria Fernando: “não existe mulher feia, existe mulher lisa”.  – Natalia comentou admirada com a ex. – Apesar de que, a Silvia nunca foi feia, mas agora...


-- Não fomos só nós que percebemos isso, a mulherada está secando ela, olha lá!


-- Natalia, Carla! – Silvia acenou indo ao encontro das amigas.

            Cumprimentaram-se cordialmente e entraram na boate pela área VIP, graças a influência de Emerson no meio. Apesar do assédio que sofria Silvia não cansava de se insinuar para Natalia que por alguns momentos acreditava estar com uma mulher diferente da sua amiga e ex-namorada de outrora.


            Carla se divertia na pista de dança com Emerson e Fernando que parecia conhecer a advogada desde a infância dada a empatia imediata que tiveram. Mesmo entretida com os novos amigos Carla não se esqueceu de cobrar a dívida de Natalia, e assim, tratou de promover muitas sessões de vira-copos no bar desafiando a amiga e chefe a sorver drinks diferentes todo tempo.

            Desacostumada com o álcool, Natalia embriagou-se rapidamente, Silvia obviamente, notou isso e se aproveitou da situação para imprimir sua presença, abraçando, roçando, seduzindo a promotora.


            Em meio ao jogo de luzes intermitentes e coloridas da boate, da batida das músicas quentes, Natalia se entregou ao clima de festa, e na pista se rendeu ao assédio de Silvia, envolvendo seus braços no pescoço da advogada beijando-lhe com sofreguidão.


            No entanto o efeito do álcool não permitiu que a promotora se equilibrasse nas próprias pernas. Completamente tonta Natalia buscou um sofá na área VIP da boate para recuperar um pouco da sobriedade necessária para continuar de pé.


-- Nat, eu vou buscar uma água para você, não saia daqui. – Silvia avisou.


-- Como se eu conseguisse... – Natalia resmungou.


            Incerta do que sua visão lhe apresentava, Natalia apertou os olhos quando observou uma bela loira de cabelos na altura dos ombros se aproximar dela. Era um rosto familiar, muito familiar, apesar da visão turva, a morena sabia disso. Seu inconsciente instantaneamente trouxe Diana e por isso, a promotora abriu um sorriso emocionado.

            A loira sentou-se ao lado de Natalia no sofá, e cumprimentou a promotora:


-- Oi Natalia, quanto tempo. Como vai?


            Natalia sequer respondeu, sorriu e puxou a loira pelo pescoço roubando um beijo urgente.


-- Mas que merda é essa?! Natalia!


            Silvia berrou jogando a garrafa de água no chão. Imediatamente Natalia se desvencilhou dos braços da bela mulher que visivelmente atordoada se levantou.


-- Eduarda?! Que porra você está fazendo aqui?! Natalia como você tem coragem de beijar essa esquizofrênica?!


            Claramente descontrolada, Silvia deu início a um pequeno escândalo, chamando atenção dos amigos que estavam no bar. Natalia ainda mais tonta e aturdida com a situação encarava Eduarda que tentava se explicar.



-- Ei! Cuidado com o que fala Silvia! Acha que está falando com quem?



-- Com uma louca que prendeu a minha namorada! Acha que não sei disso? Você não tem o direito de chegar perto dela, quanto mais de se aproveitar do estado dela!



-- Ei! Eu apenas a cumprimentei e...


-- Cínica! Você é uma maluca muito cínica!


            Silvia bradou partindo para cima de Eduarda quando Fernando e Emerson contiveram-na. Carla tomada pelo susto da cena sentiu a queda no efeito do álcool e correu para sentar-se ao lado de Natalia a fim de apoiar a amiga.


-- Nat você está bem?


-- Não sei... – Natalia deixou escapar.


-- Eu não vou fazer parte do seu showzinho Silvia. Com licença.

Eduarda saiu da boate constrangida, antes olhou para Natalia que notadamente estava perdida naquele cenário confuso e disse:

-- Foi bom te ver Natalia.

-- Corre sua louca! Corre porque se não eu vou te amarrar numa camisa de força e te mandar pra um hospício, lá é seu lugar!


            Silvia gritava mesmo com o insistente pedido de Emerson e Fernando para que ela se controlasse.


-- Soltem-me! Natalia o que ela te fez? Você a beijou meu amor? Como assim?


            Silvia sentou-se de frente para Natalia que não sabia o que responder.


-- Eu não sei...


-- Quer saber, vamos para casa, melhor você descansar Nat. – Carla determinou.


-- Isso, vamos para minha casa meu amor. – Silvia concordou segurando a mão de Natalia.


-- Silvia me desculpe, mas a Natalia vai para minha casa. Chega de confusão por essa noite.


-- Mas... Eu e ela...


-- Minha querida não seja você a se aproveitar dela hoje a noite, a Natalia está completamente bêbada! – Fernando cochichou.


-- Vamos pegar um táxi, eu cuido dela. Vocês me ajudam a leva-la? – Carla pediu.


            A noite de comemoração das novas juízas de São Paulo não acabou em ritmo de festa nem para Carla, nem para Natalia. As consequências seriam no mínimo desagradáveis para Natalia especialmente, que amargaria uma confusa ressaca moral.