terça-feira, 4 de janeiro de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - DÉCIMO SEGUNDO CAPÍTULO

Capítulo 12

Ao cair da noite, um luau se organizava, alguns se aproximavam com um violão e instrumentos de percussão, sentando na areia formando um círculo. Mais gente se juntava atraídas pela música, inclusive as meninas da Gama-Tau. 

Em pé, perto de Laurel e Rachel, Amy viu uma moto encostar próxima do estacionamento dos carros, e Esther descer, linda, com uma calça de tecido fino e transparente, com um top justo por baixo da jaqueta de couro, que ela tirou imediatamente ao descer, guardando debaixo do banco da moto junto com o capacete. 

Caminhou até ela como em câmera lenta, ou isso era pura imaginação de Amy, hipnotizada por cada movimento da morena em sua direção? 

Era a visão mais que perfeita para Amy, os cabelos negros de Esther a favor do vento espalhavam suas madeixas. No rosto de Esther um sorriso discreto se desenhava ao cruzar com o de Amy, fixo nela.

Esther não conseguiu esconder o sorriso de satisfação ao ver Amy ali protegida entre suas amigas, exibindo a pele levemente vermelha do sol. Já estava de short curto, mostrava apenas a parte de cima do biquíni com pequenas estampas, uma barriga impecavelmente descoberta, cabelos presos pelos óculos de sol, deixando os seus lindos olhos verdes brilharem olhando para a morena, que se aproximava das três.

-- Eu sabia que você apareceria por aqui, amiga -- Rachel disse sorrindo para Esther.

-- Esse luau está precisando da classe de sua música, minha presidente -- Laurel completou.

A morena sorriu com alguma timidez e rapidamente desviou seu olhar para Amy, que mais parecia hipnotizada, do que com a raiva que demonstrava mais cedo.

-- E essa loirinha? Comportou-se bem? -- Esther perguntou em tom de provocação, falando bem perto da boca de Amy.

-- Você mandou sua segurança me cercar, então, pergunte a ela. 

-- Rachel não é minha segurança, sou segura o suficiente por mim mesma. Ela é minha amiga, e estava apenas sendo simpática com você, mas se você não quer responder, eu pergunto a ela. Rachel, a novata se comportou bem?

Rachel balançou a cabeça negativamente, sorrindo, como se desaprovasse o comportamento das duas, e respondeu:

-- Exemplarmente, e olha, é uma maravilhosa atacante de vôlei.

-- Ah... Então minha escolhida é uma atleta... Bom saber.

Esther pegou a mão de Amy puxando-a consigo, Laurel e Rachel as seguiram até a roda, onde Jimmy que estava tocando violão parou a música, e estendeu o braço com o violão para a morena:

-- Todo seu, minha musa, assuma daqui.

Esther pegou o instrumento, sentou-se no espaço que abriram para ela, enquanto Amy ficou perto o suficiente para estar diante dos olhos dela. Dedilhou algo no violão como se buscasse sentir a afinação, e começou o acorde de uma balada bem propícia ao clima praiano: BUBLY – COLBIE CAILLAT

I've been awake for a while now
You’ve got me feeling like a child now
Cause every time i see your bubbly face
I get the tingles in a silly place

Eu estou acordada há algum tempo agora
Você fez com que eu me sentisse como uma criança agora
Porque toda vez que eu vejo seu rosto animado
Eu sinto um arrepio num lugar bobo

It starts in my toes
Makes me crinkle my nose
Where ever it goes I always know
That you make me smile
Please stay for a while now
Just take your time
Wherever you go

Começa na ponta dos meus pés
Me faz enrugar o nariz
Para onde for, eu sempre sei
Que você me faz sorrir
Por favor, fique por um instante agora
Não tenha pressa
Em qualquer lugar que você vá

The rain is falling on my window pane
But we are hiding in a safer place
Under the covers stayin dry and warm
You give me feelings that I adore
A chuva está caindo no vidro da minha janela
Mas nós estamos nos escondendo em um lugar seguro
Debaixo das cobertas, ficando secos e quentes
Você me dá sentimentos que eu adoro

What am I gonna say
When you make me feel this way
I just........ Mmmmmmmmmmm
   
O que eu vou dizer
Quando você faz com que eu me sinta desse jeito?
Eu apenas.........


Amy sentiu-se invadida pela voz de Esther, mas não uma invasão mal-educada ou impositiva, mas uma como quem toma posse do que é seu. A voz da morena era suave, macia, e seus olhos fixos em Amy denunciavam uma sinceridade desconcertante na letra da música. 

Por alguns instantes, nem parecia que existia mais alguém ali naquela roda, que não fosse elas duas. A loirinha abriu um sorriso arrebatador para Esther quando ela finalizou o refrão, e todos aplaudiram a performance dela.

Esther tocou mais algumas músicas conhecidas, nas quais foi acompanhada por todos que a cercavam, menos por Amy, que parecia não ter forças para outra coisa, que não fosse olhar e sorrir para Esther, que já olhava para Amy como uma musa de inspiração para seus acordes mais firulados. 

Já era noite, quando Laurel foi agrupando as meninas da Gama-Tau para voltar para a casa da fraternidade, lembrando de suas obrigações de estudantes no dia seguinte. Amy foi seguindo para o carro de Rachel, que lhe avisou:

-- Esther disse que você voltaria com ela.

-- Com ela? Mas de moto?

Esther estava logo atrás de loirinha, e a surpreendeu, falando por trás, ao seu ouvido:

-- Algum problema em andar de moto comigo, novata?

O corpo de Amy arrepiou inteiro sentindo o calor da voz de Esther ao seu ouvido, e sua respiração ali, tão perto dela. Conteve sua excitação como se não fosse coisa desejável e disse secamente:

-- Não acho moto um transporte seguro.

-- Comigo você está segura, não se preocupe.

-- Esther é uma excelente piloto, Amy, não há com que você se preocupar -- Rachel interveio.

Esther caminhou até a moto estacionada, levantou o banco pegando os capacetes e sua jaqueta de couro, acenando com a cabeça para Amy se aproximar, o que ela fez fingindo contrariedade. 

-- Isso não é roupa para andar de moto, vista essa jaqueta, novata.

-- Trouxe um moletom, não se preocupe.

Amy parecia irritada com o tom petulante de Esther, mas na verdade estava derretida pelo cuidado que a morena lhe dedicara. Pegou seu moletom no carro de Rachel, enquanto Esther já a aguardava de motor ligado, montada em sua motocicleta. 

Com um charme inédito, colocou o capacete e montou na garupa da morena com o cuidado para não tocar seu corpo, esforço inútil, porque tão logo a loirinha se acomodou no banco, Esther puxou seus braços fazendo com que envolvesse sua cintura. Amy a princípio relutou, mas o tom de Esther acabou a convencendo:

-- É melhor você se segurar em mim, só assim garanto sua segurança no nosso trajeto.

No percurso Amy não só envolveu a cintura de Esther com força, como também jogou seu corpo por cima do da morena buscando sentir o calor dele, que ardia mesmo com o vento frio do litoral tomando conta da estrada. Quando passavam pelo cais, Esther diminuiu a velocidade, até parar, para a surpresa de Amy:

-- Algum problema? Por que você parou?

-- Por que você sempre acha que tem algum problema?

-- Por que você tem atitudes estranhas como essa de parar nesse cais deserto sem nenhum motivo.

-- Quem disse que não tenho motivo?

-- Posso saber qual? Ou é mais um mistério da fraternidade que tenho que descobrir?

Esther sorriu, ajeitou os cabelos que o vento assanhava, pediu que Amy descesse da moto, e então fez o mesmo.

-- Está vendo aquele farol? -- apontou para uma duna de areia um pouco distante.

-- Sim, o que tem ele?

-- Que horas são no seu relógio?

Amy tirou do seu bolso o celular, conferiu as horas e respondeu:

-- São 20:59, por quê?

-- Em um minuto você vai ver as luzes do farol piscarem alternadas, espera...

Amy esperou o relógio marcar 21h e observou o que Esther anunciara, as luzes do farol ficaram intermitentes. Deduziu que fosse alguma falha na iluminação, mas não conteve sua curiosidade em saber como Esther sabia disso:

-- Como você sabia disso?

-- Vou esclarecer sua curiosidade... Estou cheia de generosidade hoje, não quero ver brotoejas nesse corpo queimadinho agora do sol... -- Esther sorriu divertida.

--Ah, engraçadinha, fala logo, ó soberana generosa.

-- Um velho marinheiro cuida desse farol há mais de 20 anos. Há cerca de 10 anos atrás, um navio atracou nesse porto, que já fora muito movimentado, hoje está praticamente desativado, apenas pequenas embarcações atracam aqui. O fato é que, nesse navio, havia uma mulher especial, linda, era austríaca, viajava nesse cruzeiro como pianista, tocava todas as noites nos jantares luxuosos que o restaurante fino do navio servia. 

-- O navio ficou aqui na cidade por 5 dias, ao desembarcar, a mulher conheceu aqui mesmo na praia o marinheiro, apaixonaram-se imediatamente, e todas as noites, quando a pianista tocava sua última música no jantar as 21h, o marinheiro ouvia e respondia piscando as luzes do farol, era a hora de se encontrarem. Foi assim nos cinco dias, a paixão entre eles era intensa, trocaram juras de amor, até o dia que o navio voltara ao seu curso, e aí, nem a pianista queria largar sua vida no mar com sua música, e nem o marinheiro queria se desprender do seu passado, de sua história que estava ali na rotina do farol.

-- Nenhum dos dois abriu mão de seu presente ou passado para viver esse amor, assim, se separaram. O marinheiro se arrependeu ao ver o navio partindo, mas não conseguiu embarcar, gritou para a pianista que estava no convés, que a esperaria todas as noites e ela logo veria quando as 21h piscasse as luzes do farol.

-- E ela voltou?

-Há quem fale que se você escutar com atenção, o mar traz a música dela, e por isso, o velho marinheiro não desistiu de piscar as luzes na mesma hora todos os dias. Mas não, ela nunca voltou.

-- É uma história triste...

-- Não seja chata... É uma história romântica... Nem sempre a história tem finais felizes.

-- Mas os finais a gente pode escrever, não é? Quem sabe ela ainda volte para o velho marinheiro...

-- Verdade... Psiu... Está ouvindo?

-- O quê?

Esther segurou a mão de Amy e a puxou até a praia, a abraçou por trás, encostou o queixo no ombro da loirinha, que se entregou ao momento, se deixando envolver, sentindo o calor do corpo da morena e seu cheiro inebriante, enquanto Esther sussurrava ao seu ouvido sons de piano, repetindo sílabas ritmadas “Pan, pan, pam...”. 

Amy fechava os olhos permitindo que aquela voz suave adentrasse até sua alma, respirou fundo querendo eternizar aquele momento.

Voltou seu corpo ficando de frente para Esther, e dessa vez, a iniciativa foi dela. Envolveu seus braços na cintura da morena e tomou sua boca em um beijo apaixonado.