domingo, 3 de abril de 2011

SOCIEDADE SECRETA LESBOS - VIGÉSIMO PRIMEIRO CAPÍTULO

Capítulo 21



Não viram o dia amanhecer naquele subterrâneo quase sem luz, exceto pela fresta de sol adentrando pela janela na lateral do depósito, encoberta por algumas pilhas de caixas. O ruído de vozes se aproximando pelos corredores despertou Amy, que mal podia acreditar na visão que tinha sob si: o corpo moreno impecável de Esther.

Aquela aparência tranquila de seu sono nem de longe lembrava a misteriosa e poderosa presidente da Gama-Tau. Beijou aquela face serena, inspirando o perfume cítrico suave que exalava, sussurrando perto de seu ouvido:

-- Esther? Acorde... Esther?

Ao ver o rosto de Amy ali tão próximo do seu, sorriu, e beijou seus lábios com doçura:

-- Bom dia, loirinha...

-- Loirinha? -- Amy fez cara emburrada, quase que decepcionada.

-- Oh! Me desculpe... Bom dia, AMY!

Amy sorriu satisfeita, e roubou um beijo dos lábios carnudos de Esther, que correspondeu sem reservas.

-- Precisamos arrumar um jeito de sair daqui, Esther... Ouvi vozes, certamente alguém virá aqui...

-- Isso é fácil, minha querida... Basta eu ligar para Rachel e...

-- Ligar para Rachel? De onde?

-- Ops...

Esther sorriu escondendo o rosto no pescoço de Amy e respondeu quase cochichando, qual criança que entrega uma travessura:

-- Do meu celular que está ali em baixo da poltrona... Desliguei ontem...

-- Não acredito! Esther!

-- Ah, Amy, não podia perder a oportunidade de ficar a sós com você... Assim...

-- Mas tinha que ser assim?

-- Ah... Não vai brigar comigo, por favor! O importante é que nos entendemos, não é?

Amy sorriu em sinal de concordância, mas seguiu apressando-se para sair dali, a contragosto de Esther, que parecia não querer que aquele momento acabasse tão cedo.

Depois de devidamente vestidas, Esther ligou para Rachel, que nem parecia se surpreender com o sumiço da amiga. Em pouco tempo, apareceu no depósito do Windson acompanhada de um funcionário.

Rachel não disfarçava a aprovação ao ver as duas juntas, visivelmente felizes, mas compartilhava com Esther uma preocupação. Ainda temia o plano de vingança da amiga, tinha dúvidas a cerca da real intenção de Esther em se aproximar novamente de Amy naquela circunstância.

Saíram juntas em direção a casa da fraternidade, sem dizerem uma palavra, mas a troca de olhares entre Amy e Esther era carregada de encantamento, isso despertava sorrisos silenciosos em Rachel, apesar de toda apreensão.

De volta à fraternidade, Rachel falou à amiga, num tom preocupado:

-- Detesto ser estraga prazer, mas preciso conversar com você, e é urgente.

Esther reconhecia perfeitamente o tom apreensivo da amiga e dos seus motivos para isso. Apenas balançou a cabeça positivamente, e comunicou a Amy:

-- Preciso conversar algumas coisas com Rachel, vá se trocar. Depois vou ao seu quarto. Almoça comigo?

-- Tudo bem, te espero. Almoço sim.

Trocaram um selinho carinhoso e um afago delicado no rosto. Amy seguiu para seu quarto, enquanto Rachel e Esther foram à biblioteca, trancaram a porta. Sem muito rodeio, Rachel indagou:

-- O que está acontecendo de verdade, Esther?

-- Não sei, Rachel...

-- Não sabe? É bom que você saiba, porque ontem Amy estava com um namorado no baile, sumiu e aparece hoje de manhã com você, e ambas com esse olhar apaixonado... Não preciso te dizer que Michelle procurou você a noite toda, não é?

-- Imagino...

-- O que você está fazendo com ela? Ainda com seu plano de vingança?

-- Não sei, Rachel... Já disse que não sei! Estou confusa!

-- Esther, você sabe que está apaixonada pela Amy! Esqueça essa vingança, amiga...

-- Não posso, Rachel... Não posso! Minha vida toda esperei por esse momento de vingar o que Sandra Anderson fez à minha mãe, e não posso desistir! Qualquer sentimento que eu tenha por Amy, terei que esquecer...

-- Não é possível que você seja tão cabeça dura assim, Esther! Você vai magoar de uma maneira definitiva a primeira pessoa que você gosta de verdade, por causa de um sentimento mesquinho, um objetivo de vida sem sentido!

-- Rachel, você nunca vai entender... Todas as dificuldades que minha mãe passou, e eu, consequentemente. Todo sofrimento dela, foi culpa da mãe de Amy! Não posso esquecer isso assim!

-- Pode! Pode, porque o amor vence qualquer outro tipo de sentimento...

-- Que exagero... Amor? Só o que tenho por essa novata é uma atração forte...

-- Atração? Ora, não me vem com essa, Esther! Conheço você muito bem...

-- Ah, Rachel! Além de tudo, você sabe que Michelle tem poder sobre mim...

-- Pois é... Ainda tem essa mulher na sua vida, com essa relação doente... Esther, nunca vi nos seus olhos um brilho como esse que vi hoje de manhã... Você chega dos encontros com Michelle sem energia, sem vida... Ela te suga o que você tem de bom, amiga... Não sei que tipo de relacionamento vocês tem, mas não pode ser normal. Será que você não vê que isso te faz mal?

-- Tenho uma dívida com Michelle. É mais um fardo consequente do que Sandra Anderson fez a minha mãe e a mim...

-- Ai, amiga... Você está centralizando sua vida em um sentimento tão cruel, amargo... Esther, desiste disso... Se livre dessa mulher, viva esse amor com a Amy...

-- Rachel, por favor...

Esther não tinha mais o que argumentar. A conversa com a amiga parecia tê-la retirado bruscamente de um êxtase de bem-estar que desfrutava depois de se entregar à Amy. No fundo sentia um grande desejo de seguir o conselho de Rachel, mas algo maior a prendia soava como um carma a ser pago. Mas naquele momento desejou fugir disso, lembrando do olhar de Amy para ela no seu despertar.

Amy ,ao contrário de Esther, estava leve, sentia dentro de si uma felicidade inédita. Acordou ao lado da mesma Esther que lhe pedira para ser só dela. Não viu aqueles olhos castanhos nublarem ao amanhecer, em vez disso, viu doçura, encantamento.

Tomou banho ainda se deliciando do restinho do perfume de Esther no seu corpo, lembrando de cada momento com a morena, o sorriso vinha fácil. Logo ao sair do banheiro, recebeu um telefonema de Philip. Havia se esquecido completamente do amigo, ao se dar conta, já atendeu ao celular com um pedido sincero de desculpas:

-- Perdão, amigo! Sei que mereço todo seu xingamento, pode descarregar!

-- Amy? Está louca, menina? Eu é que te devo desculpas... Tranquei vocês no porão e me esqueci do tempo na companhia de John. Só hoje pela manhã me lembrei de destrancar vocês... Mas quando fui lá, vi uma cena muito bonitinha... Vocês duas dormindo abraçadas... Achei melhor não me interromper...

-- Ai, Philip! Parece que nosso plano deu certo, afinal...

-- Muito certo, linda! Estou voltando para Los Angeles, arrasado fisicamente, se é que você pode me entender... -- gargalhou alto. -- Mas valeu muito a pena...

-- Nunca poderia imaginar... Logo o John?

-- Não duvide do meu gaydar nunca mais! -- gargalhou mais uma vez. -- Mas me diga. Como você está?

-- Muito bem, amigo... Esperando Esther para almoçarmos juntas. Acho que estamos NAMORANDO, Philip!

-- Amy, fico muito feliz por você, mas preciso te alertar sobre uma coisa que ouvi por acaso ontem no estacionamento...

-- O que? Quem falou? -- Amy perguntou num tom angustiado.

-- Uma discussão entre o casal Richards... O ricaço gritava com a perua algo sobre uma amantezinha...

-- Mas o que isso tem haver comigo e Esther?

-- Porque, pelo que entendi, ele se referia à Esther como amante. Estava brigando com a mulher porque ela passou boa parte da festa procurando por Esther, que ele ia tomar providências definitivas se ela não cumprisse um tal acordo...

Amy emudeceu por alguns segundos, sentiu um calafrio percorrendo sua espinha. Lembrou na conversa que ouvira outro dia entre as duas no auditório, e concluiu que Michelle Roberts era uma ameaça poderosa contra sua felicidade com Esther.

--Amy? Você está aí ainda?

-- Desculpe, sim, estou Philip... Obrigada por me dizer isso, vou conversar com Esther sobre isso...

-- Não, amiga... Não agora... Deixa que ela te fale algo, que confie em você, ou pode pensar que você anda bisbilhotando a vida dela... Enfim...

-- Você tem razão, amigo... Muito obrigada por tudo, viu?

-- Precisando de mim, basta ligar. Você sabe que venho no mesmo instante!

Amy sentia que era sincero o compromisso de Philip em ajudá-la a qualquer momento. Finalizou a conversa tão logo ouviu as batidas na porta de seu quarto. Sentiu o coração acelerar, um tremor subindo por suas pernas, e sabia, era Esther.

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 22

CAPÍTULO 22: FESTAS


Em dezembro, tivemos um recesso para as festividades de final de ano. Tia Sílvia convidou Camila para passar conosco em Valença, eu pedi que comemorássemos em sua casa, evitando meu encontro com Vovó. Combinamos que passaria o Natal com a família de Camila, depois seguiríamos para Valença para passarmos a virada de ano juntas.

Giovanna passou a perseguir Camila com telefonemas, a encontrávamos em restaurantes, e sempre num tom provocativo nos cumprimentava. Em certa ocasião, quando estava no apartamento de Camila, a campainha tocou, era ela, fiquei curiosa e permiti sua entrada, Camila não estava em casa, aproveitei para acertar as contas com a chinesa. Ela se surpreendeu ao me ver abrindo a porta, percebi seu sorriso se desfazendo ao me ver.

-Você?

- Eu mesma, essa é a casa de minha namorada esqueceu?

- Você não tem casa? – adentrou como se tivesse autoridade pra isso.

- O que você quer aqui Giovanna?

- Esperava encontrar a dona da casa é com ela que tenho assunto, não com você.

- Se você não tem nada a me dizer, eu tenho a dizer a você. Você está perdendo seu tempo nessa perseguição a Camila, não há mais espaço pra você na vida dela, e fique sabendo que não vou permitir que você interfira no nosso relacionamento, acredite você não vai querer me enfrentar.

- Menininha você é ridícula. Acha mesmo que me intimida? Você não tem noção da ligação que existe entre mim e Camila, você a conhece há quanto tempo dois meses?

- Não te interessa, não vou dar satisfações a nosso respeito, só estou advertindo, não me irrite, também sei ser grossa.

- Vai fazer o que? Você não percebe que não é páreo pra mim? Na primeira oportunidade Camila me beijou, imagina o que fizemos depois disso... Você é bonitinha, mas não causa nela o efeito que uma mulher como eu causa, melhor você sair do nosso caminho antes de se machucar feio.

Nesse instante o telefone tocou, até para me recompor, o atendi:

- Oi Vô Elias, ela não chegou ainda, foi pegar o carro no lava jato, mas assim que voltar vamos praí... Beijos.

Notei a cara de interrogação na face irritante de Giovanna:

- Você conhece a família de Camila?

- Claro, mas isso não te interessa, já disse o que queria, então, por favor, preciso terminar de me arrumar, passe bem Giovanna.

- Mas... Ela nunca me apresentou ninguém, conheci por acaso uma de suas irmãs, que estranho... Dizia que a família era sagrada demais para envolver em seus namoros... – parecia mais estar pensando alto do que falando comigo.

Giovanna ficou desconcertada, saiu as pressas, bufando insatisfação ao constatar que eu era mais do que um casinho para Camila.

O Natal com a família de Camila foi maravilhoso, nosso reveilon em Valença também, passamos no restaurante de tio César, não fui a fazenda de meus avós, mas Vovô passou o dia inteiro conosco no dia primeiro, manifestou todo tempo o descontentamento com a situação, me pediu que relevasse por causa da idade de Vovó, mas eu temia que ela destratasse Camila também, não podia permitir isso.

Voltamos para Campinas dois dias depois do feriado, saboreávamos de uma intimidade incrível, e o apoio de nossas famílias tornava tudo mais leve e consistente. No final de janeiro, voltamos a Valença para a formatura de Lívia, dessa vez não escapei de encontrar minha avó que tentou me ignorar, mas Vovô a arrastou pra perto de mim, ela notou que eu e Camila estávamos de mãos dadas, isso era muito natural para nós, nunca nos importamos para os olhares desaprovadores dos outros.

- Olá vovó.

- Vejo que o amor de sua vida passou por transformações Isabela. –exibiu todo seu sarcasmo cruel, notei que a conversa não terminaria bem.

- Essa é Camila vovó, trabalhamos juntas, e é também minha namorada.

- Muito prazer dona Helena.

Vovó olhou Camila dos pés a cabeça, e ignorou a educação de minha namorada, desviando seu olhar para mim lançando fagulhas de desaprovação:

- Ainda com essa mania ridícula de...

- Vovó não é mania, nem muito menos ridícula. Mas a senhora continua preconceituosa e mal educada, com licença.

- Educação não é uma de suas qualidades há um tempo Isabela, foi um péssimo passo você ter ido embora de Valença, devíamos ter imaginado como você ficaria vulnerável sem nossa proteção.

- Vovó, estou muito bem, quando a senhora vai aceitar isso?

- Nunca vou aceitar isso Isabela, é imoral, nojento...

- Chega vó... a senhora estragou o almoço nas suas bodas de ouro, não vai estragar a festa de Lívia, não mesmo.

Puxei Camila e saí a deixando falando só, eu tremia, minhas mãos estavam geladas, Camila me abraçava confortando-me, ao menos Vovó não a ofendera, isso foi um alivio.

No Carnaval recusamos o convite das amigas de Camila, para viajamos a Salvador, decidimos passar sozinhas em um hotel fazenda. Lugar lindo sem dúvida, com haras, um lago romântico, decoração rústica, senti que aquele carnaval seria marcante. Nosso quarto era uma graça, uma cama muito macia e espaçosa, poltronas de couro, uma mesinha com dois lugares, lareira, no banheiro, uma banheira com design antigo, tudo perfeito.

Chegamos era quase noite no sábado, depois de inaugurarmos a banheira juntas, descemos para jantar, naquela atmosfera romântica, nem ligamos para os casais hetéros que nos olhavam com estranheza, certamente tinha algum pervertido fantasiando ao nos ver juntas...

Percebi que Camila estava exagerando na bebida e me fazendo exagerar também, nos deixando facilmente excitadas, saboreamos durante o jantar quase duas garrafas de vinho, tirei minhas sandálias e passeei com a ponta dos meus dedos dos pés pelas pernas de Camila, podia sentir sua pele se eriçando...

Nem esperamos chegar ao quarto para começar a dar vazão ao nosso desejo, Camila me jogava contra a parede sugando minha língua, empurrando seu corpo contra o meu, num movimento de quadris que me enlouquecia, na porta do quarto minha mão já estava levantando o vestido de Camila, deixando escapar gemidos ao seu ouvido... Camila adorava ouvir meus gemidos misturados a provocações com palavras nem um pouco delicadas, pedia:

- Fala sacanagem fala minha gostosa...

Eu perdia a compostura e tratava de atender ao pedido de minha namorada deliciosa. Depois de praticamente despidas, já entregues a paixão, Camila parou, deslizou suas mãos pelo meu corpo suado e arrepiado, e com um olhar cheio de malícia fitou-me e entre mordiscadas e lambidas pelos meus seios ela falou-me:

- Minha linda, você lembra que ainda me deve uma aposta?

- Você não me deixa esquecer isso... Mas porque falar nisso agora? – puxei-a para perto de minha boca.

- Porque hoje é dia de você me pagar a aposta... – mordeu os lábios.

- Ai... por que acho que essa aposta vai me sair muito cara?

- Você vai gostar minha loira gostosa.

Saltou da cama, e foi em direção às suas malas. Fez mistério, mas logo exibiu o brinquedinho rosa entre as mãos. Logicamente já tinha ouvido falar nisso, mas nunca me ocorreu a idéia de usá-lo.

- Cami... o que você vai fazer com isso?

- Adivinha? – fez cara de menina sapeca, enquanto vestia uma espécie de suporte de couro, posicionando o brinquedo sobre seu sexo.

- Meu bem isso é muito estranho...

- Aposta é aposta, não adianta você não vai escapar. – balançou a cintura o brinquedinho acompanhou o movimento.

Entendi porque ela tratou de nos embebedar naquela noite... Aproximou-se de mim, e nos seus olhos, vi um brilho como quem tivesse um plano elaborado a executar. Puxou minhas pernas para mais perto da ponta da cama, retirou a última peça que me sobrara, e acomodou-se no meio de minhas pernas.

Com domínio total da situação, Camila movimentava os quadris em cima de mim, enquanto beijava meu pescoço, mordiscava minha orelha e com as mãos contornava meus seios com força suscitando em mim uma seqüência de gemidos inimagináveis.

Quando estava prestes a atingir o auge, Camila segurou meu bumbum, para apoiar-se e lentamente penetrou aquele brinquedo, e num movimento de vai e vem lento deslizava o artefato no meu sexo ensopado, gradativamente aumentou a velocidade alternando entre estocadas leves e fortes, intensificava o movimento e eu lhe atiçava murmurando obscenidades ao ouvido, até atingirmos juntas um orgasmo longo, deixando nossos músculos trêmulos. Ficamos abraçadas, Camila ainda provida do tal instrumento, brincava o acariciando, como que já familiarizada, num código sensual indicando que queria mais.

Camila me entendia na cama, parecia adentrar nos meus pensamentos, dessa vez, sentou, e me puxou, me deixando encaixada entre suas pernas, posicionou nosso novo aparelho de diversão na minha cavidade e ordenou: “mexe pra mim”... Movimentei meus quadris sobre o brinquedo, contorcendo-me avidamente, enquanto Camila apertava meu bumbum e beijava meus seios que estavam à altura de sua boca.

Afinal tive benefícios com o pagamento da aposta... Quando acordamos, a hora do café já havia passado, também pudera, quando dormimos era quase manhã. Almoçamos e resolvemos aproveitar o clima ameno, e fomos até o lago, uma grande palhoça concentrava várias redes armadas, nos deitamos para uma sesta, deixei Camila cochilar no meu peito, enquanto acariciava seus cachos longos e ruivos.

Passeamos em uma pequena barca, no final da tarde, ignorando os olhares reprovadores dos curiosos que fixaram-se em nós, quando saímos de mãos dadas pelo jardim. A noite, fomos até o vilarejo da cidade, ver o desfile de blocos de marchinhas, eram na maioria da terceira idade, acabamos rindo fazendo suposições sobre como seríamos nessa idade e nossos amigos:

- Cami... acho que você vai ser como aquela velhinha ali, olha, aquela de shortinho curto de cabelo vermelho...

- Ah... pode crer, vou ser assim mesmo, até o fim na gandaia...

- Até imagino você balançando aquele trequinho junto com seus peitos perto do umbigo... – soltei uma gargalhada.

- Sou mais velha que você só sete anos minha cara... os seus não estarão tão empinadinhos como são hoje viu...a lei da gravidade é justa com todos! – respondeu indignada.

- Ah... os meus são menores...mas mesmo assim, vou adorar segurar os seus mesmo estando perto dos joelhos. – gargalhei de novo.

- E você vai parece com aquela vózinha ali olha, segurando uma lata de cerveja, olha lá, pequenininha, de olhinho azul, com vestido decotado. – falou apontando pra minha lata de cerveja.

- Ah estou com tudo em cima então! Olha as pernas dela... Ei meu bem, já imaginou o Bernardo, velhinho?


- Caraca purpurina envelhece? – gargalhamos juntas. - Você acha que estaremos juntas daqui a uns 20 anos?

- Não me vejo com outra pessoa nos meus próximos vinte anos. - sorri e beijei seu rosto.

Camila me olhava visivelmente emocionada, naquela noite, voltamos ao hotel em um clima apaixonado, assim como foram o resto dos dias, nosso brinquedo ainda foi utilizado, já tinha me acostumado com ele afinal. Em uma manhã, sugeri passearmos de cavalo, a contragosto de Camila que não sabia montar, insisti que encontraríamos um animal manso para ela.

No haras, o funcionário me deu uma égua linda para montar, bem parecida com o cavalo que Vovô me presenteou, como esperava, para Camila deu um animal mais dócil, mas foi inútil, vi aquela mulher dominadora, senhora de si, sendo vencida por um quadrúpede... Camila não conseguia sequer subir no cavalo, eu que podia ajudar tive uma crise de risos, abraçada a minha égua, vendo Camila ficar literalmente de bunda pra cima, sem sucesso para se adequar a sela. Irritada com os fracassos, pediu um cavalo menor, o funcionário sorriu sem jeito:

- Bem, dona, só temos um menor que esse, mas não sei se vai agradar a senhorita não...

- Já me agradou, vamos meu querido, traga.

Minha crise de risos só aumentou, quando o funcionário trazia pelas rédeas, um pônei branquinho, muito fofo... Camila me fuzilava com os olhos, porque eu já estava às lágrimas de tanto rir. Montou aquela miniatura de animal, como se fosse uma amazona experiente:

- Pára de rir Isabela, vamos cavalgar - vociferou.

- Gente, uma mulher desse tamanho vai fazer o coitado sofrer... – continuava gargalhando vendo aquela cena, Camila parecia a Barbie ruiva com seu pônei encantado.

- Isabela, isso vai ter troco... – seguiu em cima do pônei com galopes mínimos...

Não podia perder a oportunidade, fotografei enquanto ela não via, e saí galopando pelo pasto, voltei várias vezes para encontrá-la. Em poucos metros ela resolveu dar descanso ao animal, foi quando a chamei pra minha garupa:

- Vem minha bonequinha Poly... deixa o seu pôneizinho amarrado, e sobe aqui...

Camila me olhava emburrada, mas acabou cedendo, puxei-a mandando q ela colocasse o pé sobre o meu. Depois me exibi toda pra ela, mostrando minha habilidade na montaria, ela apertava minha cintura, roçando o nariz na minha nuca desnuda, uma vez que prendi meus cabelos:

- Vai mais devagar amor...

Nossa, me derreti toda ao ouvi-la me chamando assim pela primeira vez. Encontrei suas mãos entre meus dedos, tentando passar segurança e demonstrando minha satisfação pelo carinho do apelido. Foi um carnaval maravilhoso, tranqüilo, eu tinha certeza que podia ser feliz com Camila, comecei a fazer planos pro futuro para nós, mas os guardei pra mim, esperando o momento certo de compartilhar com ela.

Ainda não tinha descoberto seu chocolate predileto, já tinha tentado chocolate branco, amargo, com castanhas, flocos, passas, amendoim... Camila se divertia com minha obstinação, mas dizia depois de se deliciar com o doce:

- Delicioso, mas ainda não acertou...

Voltamos para Campinas, nossa pesquisa já entrava na terceira etapa, minha residência seria concluída em três meses, e eu já tinha proposta de emprego no próprio Hospital das Clínicas, outros supervisores da residência aconselharam que eu prestasse concurso para lecionar na universidade, e seguisse tentando o mestrado acadêmico.

Eu passava mais tempo no apartamento de Camila do que no meu, sob protestos de Bernardo, saíamos as vezes com ele nos finais de semana ou durante a semana para almoçar, já que ele estava “solteiro na pista” de novo, também freqüentava conosco bares GLS. Lívia estava trabalhando com Tia Sílvia, fazendo especialização em direito criminal, mas, concentrava-se em estudos para concursos da procuradoria e promotoria.

Olívia seguia namorando com Cláudia, que também fora convocada para seleção feminina de vôlei, mas já estava de volta ao Brasil jogando no Osasco, Laila fez um excelente Grand Prix, chamando atenção de clubes europeus, desde janeiro, estava jogando em um time italiano. Quanto a Suzana, seguia cuidando de Bárbara, que já não andava mais, uma verdadeira UTI fora montada no apartamento dela, eram questão de dias para sua morte.

Em março, mês de aniversário de Camila, tratei de retribuir a festa surpresa, mas dessa vez, reservei uma especial só para nós duas.

Camila era vidrada em músicas dos anos 80, no carro sempre tocava uma coletânea com clássicos dessa década, confessou até que sonhava em ser paquita, aproveitei então para preparar-lhe uma festa ploc. Bernardo obviamente fez questão de planejar e me ajudar na execução das tarefas. Alugamos um buffet, convidamos os amigos mais próximos assim como a família de Camila, alertando sobre a necessidade de roupa a caráter. Demoramos quase dez dias para acertar os detalhes, Camila desconfiava que eu preparasse algo, mas eu mudava de assunto deixando-a ainda mais curiosa.

Com a desculpa de levá-la para jantar, fiz mistério sobre o local, e como era de se esperar, ao entrarmos no buffet, o sonoro SURPRESA foi ouvido, e a banda de amigos de Bernardo começou a cantar:

“Hoje vai ter uma festa, bolo e guaraná, muito doce pra você, é o seu aniversário, vamos festejar os amigos receber...”

Camila ria e pulava boquiaberta com o cenário, modéstia parte, eu e Bernardo caprichamos, piscina de bola, fliperama, pista de dança com globo de luzes, mesa farta de salgadinhos, docinhos, a banda só tocou músicas dessa época: Cindy Lauper, Jacksons Five, além das nacionais: Balão Mágico, Blitz, Kid Abelha, Ultraje a Rigor...

Bernardo estava fantasiado de Michael Jackson, estava hilário imitando seus passos, vesti-me de Madona pro delírio de Camila, para ela, separei o uniforme de paquita, ela se esbaldou... Quando a banda tocou “é tão bom, bom, bom, bom estar contigo na televisão”, a respeitada neurocirurgiã virou dançarina da Xuxa, despertando o riso de todos. Era sábado, então entramos pela madrugada na farra, o sorriso sincero escancarado de Camila me fez a mulher mais feliz do mundo naquela noite, ela não cansava de beijar em agradecimento, lá pelas tantas, depois de muita vodka, ela sentou-se no meu colo dizendo com a voz embargada:

- Isa, eu te amo.

Afaguei seu rosto o qual uma lágrima atravessava, e como reflexo disse:

- Eu também te amo Cami.

Não estava preparada para ouvir nem tampouco dizer isso, mas naquele momento falei de coração aberto, sem sentir que essa declaração tivesse qualquer peso. Por volta das duas da manhã estávamos só nós, Bernardo, o vocalista da banda (novo affair dele), e alguns funcionários do buffet recolhendo as coisas.

Trocamos de roupa e levei Camila que já estava mais sóbria depois de muita água que a obriguei tomar, para meu apartamento, onde preparei outra surpresa para ela, desde a porta até o quarto fiz um caminho de velas aromáticas e pétalas de rosas, na cama, coloquei todos os tipos de chocolate com recheios diferentes que consegui reunir, a fim de descobrir enfim qual o seu favorito.

Pela primeira vez, vi Camila sem palavras, os olhos marejados, ela tentava pronunciar algo, mas não saía som, eu que até então segurava sua mão, fiquei de frente para ela, e beijei-lhe com todo amor que eu senti naquele momento, deixando claro pra ela que palavras naquele momento eram desnecessárias. Sentei na poltrona ao lado de minha cama, e puxei para cima de mim, Camila envolveu minha cintura em suas pernas e foi retirando sua blusa, enquanto eu beijava seu colo nu, passeando pelo seu corpo com minhas mãos, deixando que meus sentidos se encontrassem com os dela: cheiro, gosto, voz, olhos, tato, não era só nossos corpos dando-se, algo mágico se desenhava entre nós, sim, eu amava Camila.