domingo, 4 de dezembro de 2011

LEIS DO DESTINO: 17º e 18º CAPÍTULOS

CAPÍTULO 17 : Cura
* Sob cuidados
Por Têmis


Os corpos colados e a intensificação daquele beijo acenderam ainda mais a libido das duas, as mãos percorreram a pele de ambas aumentando o calor e a excitação. Lentamente Natalia empurrou Diana contra um dos carros estacionados e desceu com sua boca pelo pescoço da loirinha, que fechava os olhos se deliciando com aquela carícia, sentindo o prazer se desenhar em seu corpo, acelerando sua respiração e a vontade de ser inteira de Natalia.

-- Natalia... Vamos sair daqui... – Diana convidou ofegante.

Tão excitada quanto Diana, Natalia respondeu apenas balançando a cabeça rapidamente aceitando a proposta.

Enquanto Lucas procurava Natalia pela festa, esta escapava com Diana em sua motocicleta. No trajeto, o efeito da bebida em excesso que Natalia ingeriu nublou seus sentidos, sentia-se tonta, nauseada, pediu que Diana parasse a moto.

-- O que você está sentindo Nat?

-- Minha cabeça está fora do meu corpo, girando que nem peão...

Diana não segurou o riso.

-- Quanto você bebeu?

-- Quer que eu responda em ml ou em caretas?

-- Pela careta que você está fazendo agora, imagino que foi o suficiente pra você desejar matar o russo maldito que inventou a vodca não é?

-- Ahan...

Natalia mal terminou de falar e já estava vomitando na calçada, foi amparada por Diana.

-- Desculpa Di...

-- Ei! Você acha que eu nunca fiz isso? Relaxa... Vou cuidar de você. Estamos mais perto de sua casa, acha que consegue subir na moto?

Natalia acenou em acordo, segurou firme na cintura de Diana, repousando a cabeça nas costas na loirinha que pilotava devagar. Com cuidado, conduziu Natalia até seu apartamento, lavou seu rosto, lhe serviu água, montou a cama no espaço apertado da sala, e acomodou a caloura sob efeito do primeiro pileque.

-- Estou me sentindo uma idiota... – Natalia disse com dificuldade.

-- Por que afundou o pé na jaca? – Diana brincou deslizando sua mão pelos cabelos de Natalia.

-- Não... Por que estou louca pra te beijar, mas acho que não acerto sua boca se me levantar daqui...

Diana gargalhou.

-- Você não precisa se levantar pra me beijar sua boba...

Diana se aproximou de Natalia beijando seus lábios delicadamente. Trocaram um sorriso, em seguida Natalia falou, contornando os lábios de Diana com seus dedos:

-- Seus lábios são doces, não pararia de te beijar nunca mais...

-- Então por que parou?

Diana avançou na boca de Natalia, que se entregou ao beijo sem reservas. Sem cessar o beijo, Diana deixou seu corpo cair sobre o corpo de Natalia, com suas mãos acariciava as pernas da moça, excitando-se vendo a pele dela eriçar. Os movimentos de Diana despertava em Natalia o que ela sequer sabia que existia. Quando a loirinha posicionou um de suas mãos por baixo da sua saia, Natalia sentiu seu corpo tremer, seu sexo ficar úmido, deixou escapar gemidos, ao mesmo tempo em que ansiava mais dos beijos e das carícias de Diana, Natalia se sentia insegura e despreparada para tais sensações, desconhecia sexo, a ideia de que sua primeira experiência seria com uma mulher, naquelas circunstâncias, lhe apavorou e por um momento, hesitou em se entregar totalmente ao desejo.

-- Diana...

-- O que foi? Eu te machuquei? – Diana perguntou preocupada.

-- Rápido demais... – Natalia respondeu ofegante.

-- Desculpe-me. – Diana pediu com sinceridade.

-- Isso é muito novo pra mim Diana...

Com carinho, Diana fez um afago no rosto de Natalia, e conseguiu ler nos olhos da moça seus receios, enxergou pureza, e tomada de um sentimento tenro confortou Natalia envolvendo-a em um abraço afetuoso.

-- Diana, você deve me julgar agora a caipira virgem bobinha...

-- Nat... Parei de te julgar quando comecei a te admirar... Só não tinha entendido isso ainda...

-- Você é uma caixinha de surpresas... Não quero que você pense que eu não quero... Por que quero e muito!

Diana sorriu, beijou Natalia delicadamente e respondeu:

-- Claro que me quer até eu me quero!

Brincou para encerrar o tema que constrangia Natália. Não era sua intenção banalizar a primeira experiência sexual de Natália, mesmo correndo o risco de expor o traço romântico de sua personalidade, ansiava para que Natalia confiasse na sinceridade do seu sentimento e a visse como a pessoa mais digna de fazer daquele momento o mais especial de sua vida.

Diana nem notou quando Natalia adormeceu nos seus braços, a loirinha demorou a dormir velando o sono dela. Inexplicavelmente, a simples presença de Natalia lhe dava a paz e ao mesmo tempo lhe tirava também. Naquela noite, indo contra todo seu histórico, Diana sentiu um prazer inenarrável de estar na mesma cama com uma mulher que tanto desejava sem conotação sexual, experimentou a satisfação de estar ao lado de quem queria sem implicações subentendidas, de tocar alguém sem necessariamente ser um ato libidinoso, abraçando o corpo de Natalia também se entregou ao sono com um sorriso nos lábios.

************

Natalia acordou com o barulho do liquidificador na cozinha, sem saber ao certo ao menos onde estava, e sentindo sua cabeça ser esmagada, esforçou-se para abrir os olhos como se enfrentasse a resistência da gravidade sobre suas pálpebras.

-- Bom dia, dorminhoca! – Diana disse despejando o conteúdo do liquidificador em um copo.

-- De onde surgiu esse seu bom humor matinal?

-- Nunca dormi às oito da noite em toda minha vida... Acho que deve ser por isso que caipiras despertam cedo sempre com disposição, dorme-se ao escurecer na roça não é?

-- Eu devia mesmo estar muito bêbada...

Natalia disse esfregando os olhos se sentando na cama.

-- Por que você está dizendo isso caipira?

-- Alucinei acreditando que você me chamava pelo nome.

Diana sorriu, sentou-se ao lado de Natalia e para surpresa desta, beijou seus lábios demoradamente.

-- Bom dia Natalia.

Sem saber se foi o beijo, ou o sorriso de Diana, ou ainda, a certeza que não foi devaneio do seu porre a loirinha chamá-la pelo seu nome, mas a dor de cabeça que sentira pela ressaca deu lugar a um sorriso largo com direito a um brilho no olhar que iluminou Diana.

-- Preparei isso aqui pra você.

Diana entregou o copo com conteúdo estranho.

-- Não sabia que você tinha habilidades na cozinha... Que entendia alguma coisa.

-- Habilidades? Se você chama de habilidade jogar tudo no liquidificador e ligar o aparelho... Não entendo nada de cozinha, mal consigo acertar o caminho da minha! Mas, de ressaca eu entendo!

-- Que diabos tem nessa gosma?

-- Segredo... Mas, te garanto que vai te fazer sentir melhor, junto com esse comprimidinho aqui.

-- Ah, você anda com o kit ressaca debaixo do banco de sua moto, acertei?

-- Mal agradecida você heim... Encontrei tudo na geladeira, o remédio, desci pra comprar.

Natália tentava esconder sua perplexidade com os gestos de Diana, mas não conseguiu.

-- Não adianta tentar me seduzir com esse olhar faceiro... Vai ter que tomar isso todinho.

Mesmo que não quisesse tomar, Natalia não ousaria desagradar Diana, encheu-se de coragem, e deu um grande gole daquele liquido de conteúdo desconhecido.

-- Até que não é tão ruim. – Natalia comentou fazendo careta.

Diana sorriu.

-- Pois trate de tomar o resto.

-- Vou ganhar recompensa?

Diana apertou os olhos e ficou pensativa.

-- Posso providenciar uma...

Nem terminou de concluir a sentença e Natália já tinha esvaziado o copo.

-- E agora, o que ganho?

Como criança ansiosa pelo presente Natalia encarou Diana.

-- Que tal um banho?

-- Você vai me dar o banho?

-- Que assanhada! – Diana brincou.

Natalia ruborizou.

-- Você vai tomar banho sozinha, tirar essa cara de ressaca. Depois você ganha a recompensa.

Agindo ainda como criança que cumpre as condições para ganhar um doce, Natalia correu para o banheiro, arrancando a gargalhada de Diana. Voltou meia hora depois, os cabelos ainda molhados, shortinho curto de malha, camiseta de alça, exalando o cheiro de lírios.

Por segundos Diana ficou sem ar, disfarçou com um sorriso cheio de malícia, foi inevitável evidenciar o desejo.

-- E agora? Minha recompensa?

Diana segurou Natalia pela cintura que envolveu seus braços no pescoço da loirinha, e se entregaram a um beijo sôfrego. Sem se desvencilharem uma da outra, Diana empurrou Natalia contra o balcão da cozinha, suspendeu a moça que intensificou o beijo, entrelaçando seus dedos nos cabelos de Diana, puxando-a para mais perto ainda, movida pelo tesão, retirou a blusa da loirinha que retribuiu o gesto. Diana contemplou os seios de Natalia, deslizou o dorso de sua mão por eles e pelo colo da moça que sentia seu sexo ficar úmido, seus mamilos eriçarem e uma onda de calor tomar conta de toda sua pele.

As mãos de Diana percorreram as pernas de Natalia, enquanto sugava seus seios. Sentindo que seu corpo reagia sozinho, Natalia não conseguia frear nenhum movimento. Prosseguiu com as carícias, Diana ousou aproximar suas mãos para desabotoar o short de Natalia quando se impôs um limite, não era assim que ela agiria na primeira vez da garota.

Antes que Natalia interrogasse a outra sobre sua hesitação, a campainha as interrompeu. Completamente atordoada, ruborizada e ofegante, Natalia espiou pelo olho mágico, não soube afirmar de quem se tratava com certeza, se Pedro ou Lucas.


CAPÍTULO 18 Pacta sunt servanda
*Os pactos devem ser respeitados. Refere-se aos contratos privados, enfatizando que as cláusulas e pactos ali contidos são um direito entre as partes.
Por Têmis


Natalia fez careta, demonstrando que não era uma visita benvinda. Curiosa Diana conferiu no olho mágico de quem se tratava, balbuciou:

-- Lucas.

Ficaram no impasse sobre abrir ou não a porta, cochichando, quando Lucas falou do outro lado da porta:

-- Natalia? Sou eu, Lucas, você está aí?

Natalia hesitou em responder, não queria interromper o momento com Diana, mas a loirinha lhe beliscou, franzindo a testa obrigou a responder:

-- Só um momento Lucas.

Abriu metade da porta apenas, se colocando no pequeno espaço, Diana permaneceu atrás da porta escondida.

-- Oi Lucas.

-- Oi gatinha! Como prometido, vim ajudar na faxina!

-- Ah, a faxina...

Diana arqueou uma das sobrancelhas mostrando a sua desaprovação com o plano do rapaz.

-- Então, você foi comigo à festa do Ricardo, estou cumprindo minha palavra de te ajudar na faxina hoje!

-- Eu... Esqueci completamente.

-- Você sumiu da festa ontem, fiquei te procurando por quase uma hora dando voltas nas redondezas, onde você se meteu?

-- Ah, eu peguei um táxi, não estava me sentindo bem.

-- Não vai me convidar para entrar?

Natalia completamente nervosa gaguejava enquanto criava alguma desculpa para se livrar de Lucas educadamente.

-- Lucas... Eu não estou me sentindo bem, desculpe-me... Acho que bebi demais ontem...

-- Você quer ir ao hospital? Levo você lá.

-- Não é necessário, obrigada de qualquer forma.

-- Você não quer que eu te faça companhia?

-- Você é um fofo sabia? Mas, a casa está uma bagunça, morreria de vergonha se você entrasse aqui.

-- Ah fala sério gatinha! Moro numa zona com mais seis marmanjos, você acha que me assusto com uma baguncinha?

Lucas fez menção de afastar Natalia da porta para entrar, mas a moça tratou de impedir:

-- Lucas! Não... Eu não estou sozinha!

-- Como? Não entendi...

Diana arregalou os olhos, desesperada gesticulava negativamente com o dedo para que não denunciasse sua presença ali.

-- Lucas, meu namorado, na verdade ex-namorado, chegou de surpresa ontem, e enfim, nos entendemos e acho que ele não entenderia sua presença aqui, ele é muito ciumento.

-- Ah, não podia imaginar, desculpe-me. – O rapaz disse decepcionado.

-- Eu é que te devo desculpas, estou tão envergonhada por ter te preocupado ontem e hoje te fazer vir aqui...

-- Ah Natalia relaxa! O importante é que você está bem. Ele está aí, então vou indo pra não causar problema, mal entendidos...

-- Ele está no banho agora...

-- Então, boa sorte na reconciliação de vocês, até mais Natalia.

Natalia fechou a porta com uma expressão de culpa, olhou para Diana que de braços cruzados lhe encarava:

-- Estou impressionada e assustada com você! – Exclamou a loirinha.

-- Han? Por quê?

-- Você será uma excelente advogada, nunca vi alguém mentir assim com tanta facilidade!

-- Está me chamando de mentirosa?

-- O que vi agora foi o que?

-- Apenas manipulei a verdade, isso se chama presença de espírito.

Diana meneou a cabeça em seguida aplaudiu.

-- Bravo doutora! Vejo que terá um futuro brilhante no direito, por que você mente e ainda acredita na mentira a ponto de igualá-la com a verdade, felizes serão seus clientes!

Natalia estreitou os olhos, tentando decifrar se recebera de Diana uma crítica ou um elogio.

-- Agora vamos a outro ponto importante senhorita Natalia: como assim o Lucas acordou depois de uma festa antes do meio dia, atravessou a cidade pra vir te ajudar numa faxina?

-- Você vem perguntar isso a mim? É a ele que você tem que perguntar!

Natalia parecia atordoada com as observações de Diana.

-- Que fique bem clara uma coisinha ow caipira...

Diana falou com as mãos na cintura, sentindo a irritação de Natalia ao ouvir o apelido mais uma vez.

-- Sou uma pessoa muito generosa com meus amigos, especialmente Lucas e Pedro que são como irmãos para mim, eu faço tudo por eles, mas...

Diana se aproximou de Natalia com expressão enigmática.

-- Não vou dividir você com eles! Trate de acabar com as ilusões deles a seu respeito, ta me entendendo?

Natalia se desarmou, abriu um sorriso largo, e envolveu seus braços no pescoço de Diana e respondeu:

-- E quanto a você? Posso continuar te iludindo?

-- Você acha mesmo que pode me iludir? Acha que não percebo seus olhares, não capto seu desejo?

-- Está aprendendo a me ler é? Essa é minha habilidade! -Natalia brincou.

-- Você é transparente demais Nat, é muito fácil te ler, talvez por isso, seja tão fácil se encantar por você.

Encararam-se por segundos sorrindo, antes de colarem seus lábios, encaixar suas línguas na boca uma da outra, absorvendo o sabor daquele beijo na intensidade que a excitação percorria suas peles, Natalia empurrou Diana para o sofá lançando seu olhar de pura malícia.

Por mais que Diana desejasse seguir os impulsos do seu desejo, imaginava Natalia como uma menina do interior romântica, apesar de sua determinação que lhe dava a aparência de praticidade, tinha certeza de que a primeira vez da moça, não fora sonhada daquela forma, reuniu suas forças e como um balde de água fria, disparou:

-- Nat, precisamos conversar.

-- Teremos tempo para isso Di... – Natalia falou, sentando no colo de Diana. - Agora, não é hora de conversar. – Roçou seus lábios no pescoço de Diana, arrepiando lhe.

-- Mas... Natalia é importante... – Diana falou ofegante.

-- Mais importante do que me beijar? – Natalia sussurrou.

-- Nada é mais importante do que te beijar, mas teremos muito tempo pra isso também.

Diana segurou o rosto de Natalia com delicadeza, intimando-a para uma conversa séria.

-- Tudo bem, fala logo então.

Natalia falou emburrada.

-- Nat, pelo menos por enquanto, temos que manter nossa relação em segredo, pela atitude do Lucas hoje vi que não é só o Pedro que está louco por você, ele também está.

-- Mas, eu não tenho culpa!

-- Nat, eu não estou te acusando de nada, só estou querendo te dizer, que eu não posso de repente aparecer e dizer que estamos juntas, até ontem, eu estava fazendo campanha contra você, dizendo que você era uma sonsa.

-- Você disse isso?

-- Olha isso foi o insulto mais ameno que dirigi a você. – Diana apertou os olhos, envergonhada.

-- Acho que não quero saber os outros então... Mas, eu mereci pelo que disse à Ruth.

-- Eu sei que você só falou aquilo por que ficou acuada, assustada, apesar de ter doído muito ouvir, no fundo eu sabia que era da boca pra fora.

Natalia acenou em acordo, baixando os olhos.

-- Mas, isso passou. Minha preocupação agora é esconder nossa ligação dos meninos, essa paixonite deles por você pode cegá-los, e não quero, não posso perder amizade deles.

-- Você acha que é pra tanto?

-- Nat, o Pedro me pediu pra ajudá-lo a te conquistar, pediu que me aproximasse de você para limpar a barra dele contigo, ele nunca me pediu isso com garota nenhuma, chegou a me dizer que você é a primeira garota que ele está gostando depois de mim.

-- Eu não imaginava isso...

-- Ele vai entender como uma traição, e o Lucas vai achar que fiz isso só para competir com ele, vai acabar com nossa amizade.

Natalia suspirou desanimada. Ainda não tinha calculado o peso que seria na sua vida assumir uma relação amorosa com Diana, sequer sabia que tipo de relação tinham em nenhum momento a loirinha citou a palavra namoro, ignorava como essas relações aconteciam entre mulheres. Esconder o quer que fosse que existia entre elas, no fundo era o que a moça do interior desejava o rótulo de lésbica, ainda era algo surreal para ela.

-- Então a gente continua se odiando pro mundo? – Natalia perguntou.

-- Acho que por enquanto, é o que podemos fazer... – Diana fez uma expressão de insatisfação.

-- Pode ser divertido... Namorar escondido... Fazer teatrinho...

Natalia tentou animar Diana.

-- Mas, não é por causa disso, que a senhorita está liberada pra ficar dando mole pra ninguém não, especialmente pro Lucas e pro Pedro!

Natalia sorriu satisfeita com o ciúme da outra.

-- Acho que minha presença de espírito agora pouco, já me deu uma desculpa perfeita pra escapar das investidas deles.

-- Tem razão...

-- Agora que tivemos a conversa séria que você queria, que tal continuarmos o que paramos?

Natalia voltou a beijar o pescoço de Diana, mordiscando sua orelha, quando o celular da loirinha tocou.

-- Não atende, por favor.

-- Preciso atender, desculpa.

Enfrentando o bico de raiva de Natalia, Diana atendeu o celular.

-- Sim, sou eu. Claro que não esqueci, chego em dez minutos aí!

Diana estapeou a testa assinalando que mentira, havia se esquecido do seu compromisso de domingo.

-- Nat desculpe-me, mas, preciso ir. Fui contratada pra fotografar um Bar Mitzvá, e estou atrasada!

-- Ainda nos vemos hoje?

-- Não sei minha linda...

Deu um beijo rápido nos lábios de Natalia e partiu para seu trabalho.



O dia pareceu não ter fim para Natalia que guardava as esperanças de rever Diana à noite, esta mesmo a contragosto, não pode se livrar cedo de suas obrigações, se tornando inviável retornar à casa de Natalia.

*****

Sem conseguir esconder sua tristeza por passar o dia inteiro sem notícias de Diana, Natalia saía da universidade, atravessando o corredor central na saída da biblioteca, foi puxada ao passar de frente á porta da sala do diretório acadêmico.

Tomada pelo susto, mal teve tempo de se refazer, quando sentiu uma mão tapar sua boca evitando seu grito, fora pressionada contra a porta, quando encarou quem lhe sequestrara seu coração foi tomado de uma satisfação inesperada.

-- Oi minha linda, saudades.

Diana disse lhe sorrindo, liberou a boca de Natalia presa por sua mão, para em seguida beijá-la vorazmente.

-- Você é louca? Se alguém entrar aqui?

-- Não vamos demorar o Ché Guevara genérico, presidente do DCE que estava aqui volta logo, só queria te entregar isso aqui.

Diana entregou um embrulho a Natalia.

-- O que é isso?

-- Não dá tempo você abrir aqui... Guarda depois você me diz se gostou. Preciso ir, tenho um trabalho de equipe chato para fazer.

-- Mas...

-- Confie em mim, nos falamos amanhã.

Diana roubou outro beijo de Natalia.

-- Vai você primeiro... – Diana disse.

Foi a vez de Natalia roubar um beijo da loirinha.

-- Eu também estava morrendo de saudades.

Trocaram um sorriso de encantamento antes de se despedirem. Natalia saiu ansiosa para abrir o pacote entregue por Diana, sentou-se em um dos bancos na recepção da universidade e se surpreendeu com o conteúdo que estava embrulhado: um celular com um cartão escrito “leia as instruções”. Natalia não conseguiu esconder o sorriso, pouco se importando com o aparelho, tratou de ler as tais instruções escritas:

-- “Você acaba de receber um exemplar de uma moderna invenção chamada telefone celular. Não se assuste se ao colocá-lo perto de seu ouvido, você escutar vozes, elas não são do além, se trata apenas de um meio de comunicação na cidade grande. Antes de me xingar mentalmente, por eu te chamar mais uma vez de caipira, preciso que você leia atentamente as instruções: Primeiro, ligue o aparelho, na memória dele, existe apenas o número do meu celular. Segundo, ligue para o único número da memória do seu aparelho, para escutar uma mensagem especial para você. Terceiro, quando ligar, não cite meu nome. Quarto tire esse sorriso bobo da cara, se não vão pensar que você está apaixonada”.

Sorriu sozinha, segurando o aparelho, realizando a cena de Diana lhe dizendo isso pessoalmente, ansiosa, ligou o aparelho, fazendo o primeiro telefonema como fora instruída.

-- Gostou do presente? – Diana atendeu do outro lado da linha.

-- Você é louca! Esse aparelho deve ter custado caro! Nem é meu aniversário ainda, não mereço esse presente!

-- Regra de boa educação, apenas agradeça o presente, sem fazer menção do valor material dele.

-- Claro que eu adorei o presente, nem tenho palavras para agradecer! Muito obrigada, eu precisava mesmo de um, mas estava esperando pedi-lo aos meus pais no meu aniversário...

-- Não precisa tanto... O presente foi meio egoísta, no fundo foi para meu benefício.

-- Como assim?

-- Não quero mais passar o que passei ontem... E hoje o dia todo.

-- O que aconteceu?

-- Perder o sono, perder a paz, por estar longe de você e não poder ao menos escutar sua voz.

Segundos de silêncio no telefone, até Natalia se refazer da declaração que escutara. Parecia flutuar ouvindo isso de Diana, demorou até concatenar uma sentença lógica.

-- Você ainda está aí? – Diana perguntou.

-- Sim estou.

-- Se você precisar dar esse número para seus pais está anotado na caixa.

-- Ahan...

-- Preciso desligar agora, o pessoal está me esperando pra fazer o trabalho...

-- Di... Desculpa, espera.

-- Oi, pode falar.

-- Eu também não consegui dormir ontem, esperando você, estava sufocada de saudades, te procurando hoje aqui...

-- Pelo menos nosso sono está garantido hoje não é? – Diana brincou.

-- E o que faço com a saudade? – Natalia mordeu os lábios disfarçando a timidez.

-- Vamos ter que dar um jeito nela... E na minha também, é questão prioritária. – Diana respondeu com um sorriso nos lábios.

-- Ligo mais tarde então... Bom trabalho e...

-- O quê?

-- Tire esse sorriso bobo dos lábios, podem pensar que você está apaixonada.

Ambas não conseguiam esconder aquele sentimento que crescia: doce, tenro, leve e ao mesmo tempo, a atração intensa, avassaladora, descomunal que invadia os sentidos, tornando o encontro das duas uma necessidade vital.

O presente dado por Diana, naquela noite teve sua utilidade comprovada. Passaram horas ao telefone compartilhando os acontecimentos do dia, evidenciando uma intimidade que por ser precoce parecia irreal, mas não era. O que antes parecia aversão demonstrada por elas, era afinidade que se confirmava nos risos, na unidade de pensamento, no reconhecimento de qualidades uma da outra.

-- Está tarde Nat, precisamos dormir.

-- É verdade... Pelo menos hoje vou dormir com a lembrança de sua voz no meu pensamento.

-- Eu também, e a vontade de que amanheça logo, pra eu te encontrar.

-- Isso me faz lembrar que amanhã teremos novo round: Diana versus Madimbú.

Diana gargalhou.

-- Ao menos dessa vez, não estarei sozinha.

-- Se depender de mim, você não estará nunca mais sozinha Di.

Foi a vez de Diana ser surpreendida com a declaração da outra, ficando sem palavras.

-- É muito bom saber disso Natalia.

-- Então, boa noite, até amanhã Di.

Pensamentos e sentimentos unidos em corpos separados naquela noite anunciavam o nascimento de uma paixão improvável, se foi destino o responsável por isso, elas não sabiam, mas algo se configurava como previsível: aquele encontro, aquela paixão, mudaria a vida de Diana e Natalia para sempre.

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