domingo, 4 de dezembro de 2011

LEIS DO DESTINO: 19º e 20º CAPÍTULOS

CAPÍTULO 19 VEXATA QUAESTIO -

*Questão em debate
Por Têmis


Aula de IED finalmente. Os alunos do primeiro período de Direito, pareciam ansiosos para testemunhar um debate político em véspera de eleição. Tanta expectativa acentuava o nervosismo de Natalia, que ainda se perguntava como conseguira se envolver no embate pessoal entre a professora e a aluna repetente e petulante.

O nervosismo de Natalia só não era maior do que a ansiedade por rever Diana, remexia-se na cadeira olhando para o relógio, relia suas anotações, tentando ignorar os comentários dos colegas que formulavam hipóteses sobre o comportamento das protagonistas no debate. Seu coração por pouco não lhe saltou à boca, quando viu a loirinha adentrar com seu estilo único. Naquele dia, Diana usava um suspensório para compor seu visual despojado, nunca fora referência de moda, mas entre as alunas, a opinião era uma só: o que ela veste sempre cai bem.

Trocaram olhares cúmplices, tentando esconder o brilho de felicidade que eles tinham ao se encontrarem.

-- E aí? Preparada? – Natalia perguntou quando Diana se sentou na fila paralela.

-- Aprenda uma coisa caipira: você nunca está preparada para enfrentar Madimbú.

Natalia franziu a testa diante do jeito frio que Diana respondeu, especialmente por que fora chamada pelo apelido irritante mais uma vez.

-- E você, trate de pelo menos não me atrapalhar, enquanto apresento o trabalho.

Diana concluiu sem encarar Natália que estava estarrecida com o tratamento dirigido a ela, sem cor na face ainda teve que ouvir o comentário de Ruth que cochichou:

-- Não se preocupe, é só uma grossa, recalcada por que a colocamos no devido lugar, não nos intimidamos com o assédio dela.

Natalia engoliu os desaforos que Ruth merecia ouvir, ruminando o tom ríspido de Diana, quando ouviu a campainha de mensagem do texto do seu celular:

-- “Controlando minha vontade de te beijar, difícil fingir que não estou caída por você. Saudades, obrigada por ficar do meu lado”.

Ao ler, Natalia olhou para o lado discretamente, deixando escapar um sorriso extremamente discreto quando Diana lhe deu uma piscadela, acenando que sua antipatia era puro teatro.

Contra as expectativas, naquele dia, a doutora Dorothea demorou a chegar, aumentando a tensão de Natalia e Diana. Com mais de meia hora de atraso, a professora chegou tranquila, seu comportamento sereno parecia ensaiado para despertar o pavor das alunas que não se prepararam para uma simples apresentação de um trabalho, e sim um duelo desigual.

-- Diana fez a tarefa que lhe incumbi?

-- Claro Meritíssima.

-- Pois bem, estou esperando a explanação.

Doutora Dorothea não deixou que nenhuma emoção transcendesse sua expressão. Sentou-se na cadeira atrás da mesa da sala, com a mesma postura de magistrada no Tribunal do Júri, deixando subentendido para a aluna que ali ela era a ré a receber sua sentença.

Diana pôs-se de pé altiva, fazendo sinal para que Natália fizesse o mesmo.

-- Elegemos um caso que já fora arquivado, julgado na 18ª Vara Cível da Comarca de São Paulo – SP, já transitado em julgado, encontrando-se atualmente arquivado.


Natalia leu o relatório do processo eleito: “Tratam-se os autos de uma Ação de Obrigação de Fazer c/c Indenização por Danos Morais manejada por ANTÔNIO SOUTO em face do CONDOMÍNIO COLISEU, alegando em suma que o tratamento direcionado a sua pessoa, pelos demais condôminos e funcionários, a saber, “Você”, vem lhe causando danos de ordem moral, uma vez que não condiz com o tratamento digno com o cargo que ocupa razão pela qual requer que os moradores do supracitado condomínio sejam obrigados a tratá-lo formalmente de “Senhor” ou “Doutor”, bem como os seus convidados, sob pena de multa diária na importância a ser fixada judicialmente. Por fim, requereu a condenação dos réus ao pagamento a título de Indenização por Dano Morais no valor de 100 salários mínimos.”.

Como esperado, os demais alunos se manifestaram abismados com tamanho despautério cometido por um magistrado, os cochichos e risos tomaram de conta da classe, irritando Dorothea, que percebera o intuito de Diana ao escolher tal processo. A professora, traída pelo costume de ditar palavras de ordem em um tribunal deixou escapar:

-- Ordem! Ordem no recinto!

Espalmou a mesa com violência, como se sua mão fosse seu martelo.

O silêncio enfim se fez na sala, enquanto as bochechas de Dorothea se coravam ainda mais evidenciando que sua aparente passividade caíra por terra, Diana deixava escapar um sorriso no canto dos lábios, comemorando interiormente o sucesso do seu primeiro ataque: desfizera a simulada indiferença de Dorothea.

-- Conforme se vislumbra no relatório, o meio a que somos pretensos ingressos é permeado por um jogo de vaidades. Alguns dos que exercem a Ciência do Direito são movidos por soberba, o ideal de Justiça, insculpido em nossa Constituição Federal, onde todos são iguais perante a lei sem qualquer distinção, é suplantado por um ego buscando ser ovacionado. O Princípio da Isonomia foi deturpado, o Senhor Antônio Souto, contrariando a Carta Magna, se julga diferente, se considera melhor, tal qual os semi deuses da mitologia grega, investido no poder que o cargo lhe proporciona, merecendo, portanto, tratamento diferenciado em seu, frise-se, ambiente social.

Notando a perplexidade da professora com sua explanação, Diana prosseguiu:

-- Como todos podem atestar, a soberba de alguns que exercem o Direito, em nada faz valer a justiça e o bem comum, normas éticas dão lugar a um jogo de vaidades por vezes esdrúxulo como esse relato. O princípio equânime de que a justiça trata os iguais de maneira igual e os diferentes de modo diferentes, aqui foi deturpado, uma vez que o Meritíssimo Antônio Souto se julgou não só diferente pelo cargo que exercia, mas, principalmente, se acha superior, pelo poder que o Direito lhe outorgou, assim merecia tratamento diferenciado. Afinal quem esses cidadãos comuns? Reles mortais ignorantes que pensam que podem se reportar a mim como um igual? Acaso não reconhecem meu merecimento? Que país injusto! Qual será o próximo disparate? Um grupo de crianças ousando interromper meu sono com jogos na área de lazer do condomínio? Tenho a impressão que o Meritíssimo Antônio Souto se viu obrigado a dar uma lição a todos com sua iniciativa.

Diana usou da eloquência e desenvoltura que Dorothea não esperava de alguém que ela classificava como incapaz de até mesmo cursar sua disciplina. Entretanto, o que claramente desconcertou a professora, foi o tom de ironia, e em muitos trechos, o caráter sarcástico do discurso da aluna que arrancou não só risos dos colegas, mas, sobretudo a concordância destes acerca do absurdo embutido naquele processo.

Natalia lutava para conter o orgulho que sentia de Diana, deteve-se no seu papel de coadjuvante naquele duelo.

-- Então foi esse grande exemplo que você me trouxe? Isso é o máximo que você consegue expor sobre o quanto o Direito manipula o sistema para o benefício de uma minoria? O devaneio de um deslumbrado?

Diana precisou de frieza para rebater o golpe de Dorothea que desmereceu o fruto da pesquisa da estudante.

-- O que a Meritíssima considera como devaneio de um deslumbrado, eu vejo como um desrespeito aos Princípios Gerais do Direito, que são as ideias de justiça, liberdade, dignidade, democracia, etc. Enunciados normativos, muitas vezes de valor universal, que orientam a compreensão do ordenamento jurídico, que servem de alicerce para a construção do Direito. Se a Senhora não observa a gravidade do desrespeito a tais princípios, considerados a alma das leis, qualquer outro conduta que vá de encontro a tais ideias são justificáveis.

Se Dorothea fosse de fato Madimbú, ela avançaria em Natália naquele momento para golpeá-la com sua barriga avantajada enviando-a para um planeta anos luz distante da Terra. A intercessão da novata como elemento surpresa naquele entrave foi o golpe de misericórdia que definiu aquele round. Até Diana se surpreendeu com a segurança e a propriedade que Natalia demonstrou, anulando qualquer reação da professora.

-- Vejo que se aprofundou no conteúdo da disciplina. Como é mesmo seu nome?

-- Natalia, professora.

-- Obrigada pela contribuição com a aula às duas. Podem se sentar. Aproveitando o gancho que Natalia nos apresentou, vamos discutir hoje os fins sociais das normas e a Teoria Tridimensional de Miguel Reale: fato, norma e valor.

Se restava alguma dúvida, agora era oficial: Natalia estava na lista negra da doutora Dorothea. Isso não parecia intimidar a moça do interior, que no momento estava mais empolgada em comemorar com Diana, aquela pequena vitória sobre a soberba e a intransigência da professora.

Trocaram mensagens de texto combinando de se encontrarem na rua atrás da universidade. Saíram apressadas, ansiosas para se renderem à saudade, e celebrar o sucesso da parceria das duas contra o que Diana acreditava ser uma má representação do Direito no país.

Ao encontrar Diana à sua espera, montada em sua moto, Natalia teve o impulso de envolvê-la em seus braços e mergulhar na sua boca, mas, teve que conter o impulso, se escondeu atrás da banca de jornal a qual Diana estava estacionada, quando viu Lucas se aproximar da amiga.

-- Di! O que faz aqui?

Atordoada e tensa, temendo que o rapaz encontrasse Natalia, Diana desconversou.

-- Vim comprar uma revista que meu professor de fotografia indicou, mas aqui não tem.

-- Que pena... Estava mesmo precisando falar com você.

-- Aconteceu alguma coisa?

-- Não sei, gostaria que você me ajudasse a descobrir o que aconteceu.

Com uma expressão enigmática, o rapaz encarou Diana. E como quem deve, teme, a loirinha chegou a suar frio diante da abordagem do amigo.

-- Como assim Luc?

-- Como a gente sabe quando está apaixonado?

A expressão do rapaz mudou, desfazendo o olhar antes misterioso, dando lugar a timidez nada coerente com sua personalidade.

-- Estou enlouquecendo Diana. Natalia não me sai da cabeça, depois do aniversário do Ricardo então... Nossa! Procurei-a feito louco, ela simplesmente sumiu, mal dormi ansioso para no outro dia procurá-la com a desculpa mais esfarrapada, ajudá-la na faxina do apartamento dela, você tem noção do “caô" que usei só pra chegar à menina?

Diana fingia surpresa, encarando o amigo com os olhos esbugalhados.

-- Não me olhe assim, por que você ainda não sabe o pior!

-- Ah não me diga que isso ainda vai piorar...

-- Estou sofrendo desde que fui até o apartamento dela em plena manhã de domingo, pra fazer faxina, e ela me disse que estava acompanhada do ex-namorado jeca, e que os dois voltaram a namorar.

A loirinha ria por dentro calculando a piada da situação, ela sendo intitulada de jeca pelo amigo.

-- Sei que você quer rir, mas nem me importo, pode rir! Eu estou caidasso pela caipira como você a chama... O que faço?

Diana respirou fundo, e disse:

-- Esqueça! Desista! Essa menina só vai trazer problema, não serve pra você, além do mais, o Pedro também está afim dela, isso seria um desastre completo!

-- Não entendo o que você tem contra ela sabia? Isso tudo é ciúme de nós?

-- Não viaja Lucas! Que ciúme o que! Desde o começo vi que essa menina não era pra você, nem pro Pedro!

-- Você antipatizou com a menina desde o trote! Encarnou na menina sem pena, até aprontou com ela que eu sei!

-- Surtou Lucas?

Diana agora saltou da tensão para o desespero.

-- Ah Diana! Eu te conheço muito bem. Pensa que não vi você de combinação com a Morgana? Logo depois ela subiu com Natalia e você coincidentemente autorizou o blecaute, e disparou “está pegando fogo!” e aí a coitada apareceu naqueles trajes.

-- Lucas para de falar besteira não tive nada com isso! Toda festa que toco uma hora a gente faz o blecaute pra galera se pegar na pista, e por isso grito que está pegando fogo, a pegação!


A loirinha descompensada, explicava-se mais para Natalia que certamente estava ouvindo a conversa escondida atrás da banca, do que para o amigo.

-- Diana... Quem não te conhece, que te compre! Fazer esse tipo de coisa com bicho é sua cara, mas você pegou pesado com o lance das fotos...

-- Fotos?! Não fui eu que fiz as fotos, nem muito menos divulguei você sabe o quanto levo a sério o lance de fotografia!

-- A mim você não engana... Encrencou com a menina, por isso, não quer nem que eu, nem que o Pedro fique com ela! Mui amiga você...

-- Lucas você é um idiota!

Diana estava possessa. Apesar de não ser completamente inocente na história, não era assim que pretendia revelar sua participação na brincadeira de mau gosto que Natalia fora vítima no trote.

-- Você é que está se comportando como uma! Egoísta, ainda por cima, ciumenta e infantil!

-- Ah quer saber Lucas? Vá pro inferno!

Diana acelerou a moto, deixando o rapaz falando sozinho na calçada. Precisava encontrar Natalia, que não estava mais atrás da banca de jornal. Deu voltas no quarteirão, passou pelos pontos de ônibus mais próximos, voltou à universidade, ligou repetidas vezes para o celular dela, mas foi inútil, a menina não lhe atendia, e parecia ter evaporado das vistas de Diana.

CAPÍTULO 20: Corrigenda
*Erros que devem ser corrigidos.

Natália sentiu-se como teletransportada para uma realidade paralela, na qual, as pessoas envolvidas naquela conversa entre Diana e Lucas, eram apenas personagens fictícios, e nem tão pouco ela era o assunto chave da discussão.

Antes que pudesse ser descoberta ali, deu meia volta no seu trajeto, seguindo por ruas desconhecidas, andando sem rumo. Ao reconhecer o barulho da motocicleta de Diana, esquivou-se em uma livraria, definitivamente, ela era a última pessoa que Natalia queria ver.

Cansou de percorrer as ruas de São Paulo, se viu sozinha, nem ao menos podia contar com alguém para lhe consolar, ou desabafar, os amigos que fizera naquele pouco tempo, eram Lucas e Pedro, nenhum deles eram os mais adequados a lhe escutar, muito menos Ruth ou alguma das meninas do time de vôlei. Sentindo-se desamparada, parou em um telefone público e ligou para casa de seus pais:

-- Mãe?

-- Minha filha! Acredita que estava pensando em você? Como você está?

-- Oi mãe... Estou bem, só bateu saudades...

A voz embargada de Natalia preocupou sua mãe.

-- Natinha? Minha querida aconteceu alguma coisa?

-- Não mãe... Só estou sentindo falta de vocês... Queria colo... As pessoas aqui são tão cruéis...

-- Ow minha menina... Você está construindo seu sonho, pense em tudo que você lutou para estar aí. Além do mais, tem o feriado do carnaval, vou falar com seu pai, para te mandar as passagens, você vem, mata as saudades, faço tudo que você gosta, e comemoramos seu aniversário, tudo bem?

-- Ahan.

-- Natinha, não deixe que nada te abale, essas pessoas que podem estar te maltratando, não sabem do que você é feita, não conhecem seu valor, você é exatamente do tamanho do seu futuro: grandioso. Não deixe que nada, nem ninguém te convença do contrário, nem muito menos que te desvie do seu caminho.

Dona Fátima não podia imaginar o que se passava com a filha, mas a conhecia muito bem, como toda mãe, era capaz de compadecer-se do sofrimento da filha, mesmo sem saber ao certo a dimensão deste. Entretanto, também sabia que Natalia era uma menina forte, que não se curvaria à primeira dificuldade, o telefonema ainda não era um pedido de socorro, a filha só precisava ser lembrada do que a mantinha longe da segurança de sua família naquela cidade gigantesca e estranha.

Com as palavras de incentivo materno, Natalia acalmou seu coração e seguiu para casa quando caiu a noite. A dor que sentia lhe absorveu até as forças físicas, as escadas do seu prédio pareciam intermináveis, chegando ao seu andar, se surpreendeu com a recepção: Diana sentada à porta do seu apartamento.

-- O que você está fazendo aqui?

-- Eu estava te esperando, pra conversar com você, me explicar.

-- Esperou em vão, não tenho nada a conversar com você Diana.

Natalia abriu a porta, afastando Diana da sua frente.

-- Nat escute, por favor, se depois disso você continuar sem ter nada a conversar comigo, eu vou embora, e te deixo em paz, do contrário ficarei aqui na sua porta o tempo que for, até você me escutar.

Natalia deu de ombros, duvidando da ameaça da outra. Entrou no seu apartamento batendo a porta, deixando Diana do lado de fora. A loirinha, persistente como Natalia não podia supor, voltou à sua posição anterior, sentou-se junto à porta decidida a cumprir a ameaça.

O simples fato de saber que Diana poderia estar ali bem perto desequilibrava Natalia. Naquela noite, a menina odiou como nunca a pequenez de seu apartamento, não podia fugir de ouvir pequenos movimentos de Diana, até sentir seu perfume se espalhar pelo cubículo que lhe abrigava. Andou de um lado para outro, e várias vezes se aproximou da porta, mas desistiu. Ligou a TV em volume alto, na tentativa que isso sufocasse o que seu pensamento insistia em repetir: “ela está aí, a quatro passos de você”.

Cochilou sentada no sofá, acordou abruptamente, sem saber ao certo quanto tempo dormira, mas o silêncio quando desligou a TV a fez acreditar que Diana se rendeu enfim, e não estava mais ali. Abriu a porta para confirmar suas suspeitas, e para seu susto, a loirinha que se apoiava na porta, caíra para dentro do apartamento.

-- Ai meu Deus, Diana não acredito!

Natalia colocou a mão no peito assustada. Do chão Diana olhava a moça, com a mesma expressão de susto por ter sido acordada assim.

-- Levante-se! – Natalia ordenou.

Diana como obedeceu prontamente como se aquilo fosse da sua índole, mesmo não sendo.

-- Você está louca? Que horas são? Daqui a pouco os vizinhos vão reclamar por ter alguém dormindo no corredor do prédio!

-- Eu disse que não sairia.

-- Você já conseguiu o que queria, estamos conversando, fale.

-- O que você ouviu da minha conversa com o Lucas, não é totalmente verdade, ele está enganado.

-- Quem estava enganada era eu...

-- Natália, eu armei sim aquela brincadeira de péssimo gosto com você no trote. A gente sempre apronta com um bicho, de fato uso isso nas festas que animo o lance do blecaute, estava irritada com você, não acreditava que você fosse inocente na história de ter beijado Lucas e Pedro, e armei com a Morgana, dela jogar bebida em você e tudo mais que você sabe. Mas, eu não fotografei, nem muito menos divulguei as fotos.

-- Por que eu acreditaria em você? Você teve todo esse tempo para me contar isso, e não contou!

-- Eu ia contar, só estava esperando o momento certo, a gente se desentendeu tanto, estava curtindo esse momento que estávamos nos conhecendo, dando a oportunidade de você me conhecer e poder confiar em mim. Eu me arrependo sinceramente do que fiz, só posso te pedir perdão pela brincadeira desastrosa.

-- Não te conheço... Não confio em você... Você em menos de um mês me magoou mais que já fui magoada a vida toda.

-- Nat...

-- Diana você já disse o que queria, agora vá embora, me deixe em paz.

-- O que a gente viveu esses dias não significou nada pra você? Você que diz saber me ler, não consegue enxergar o que meus olhos dizem?

-- Não quero te ler, não quero sequer olhar pra você Diana. Não duvido que você use o que aconteceu entre nós para fazer piada depois, me expor ao ridículo.

-- Você não pode estar falando sério!

-- Por que não? Pode ser só mais uma brincadeirinha sua com a caipira aqui!

-- Um dia você vai se arrepender por não acreditar em mim, peço desculpas sinceras por ter exposto você no trote, mas não vou pedir perdão por algo que não fiz, não tirei foto alguma, vou descobrir quem fez isso, e te provar que não estou mentindo, mas aí, não sei se conseguirei te perdoar por não acreditar em mim.

-- Como você ainda ousa se fazer de vítima injustiçada nisso? É muito cinismo!

-- Não tenho mais nada a dizer... Vou embora agora.

-- Espero que para sempre. – Natalia resmungou. – Mas, antes, leve isso.

Natalia entregou o celular presenteado.

-- Não quero isso, comprei para você, se não o quer, arranje um destino para ele.

Diana deixou o apartamento de Natalia amargando a consequência de uma brincadeira estúpida e de uma culpa que não lhe pertencia. Quando chegou à sua casa, se surpreendeu com o seu telefone tocando.

-- Alô?

-- Diana? Sou eu. Pegue o primeiro voo para cá!

-- Está louco Douglas! Você me liga no meio da noite, com uma ordem dessas? Não vou a lugar nenhum.

-- Não complica as coisas Diana, você tem que vir pra cá com urgência!

-- Pra quê? Mais uma reunião inadiável do papai para elaborar a próxima campanha?

-- Diana é sobre a mamãe.

-- O que houve com ela? – Diana perguntou exasperada.

-- Ela sofreu um infarto Diana, está na UTI.

-- Como ela está Douglas? Fala!

-- Diana, nós não sabemos ainda! Venha imediatamente!

-- Vou agora mesmo para o aeroporto.

Diana não pensou duas vezes, jogou duas mudas de roupa em uma mochila, chamou um táxi e seguiu para o aeroporto, todas as suas preocupações com os problemas que lhe angustiavam deram lugar a apreensão que lhe comprimia o peito. Sua mãe era antes de qualquer coisa, sua grande defensora e melhor amiga, tinha verdadeira devoção por ela, grande parte dos motivos que faziam a relação com seu pai conflituosa, era o fato deste, maltratá-la com constantes traições e humilhações.

**********

Natalia chegou à faculdade com os sinais no rosto de uma noite mal dormida depois e muitas lágrimas. Não quis assunto com ninguém, apesar das insistentes tentativas de Ruth. Interiormente vivia o dilema de não querer encontrar Diana pelos corredores, e torcer para o acaso promover tal encontro, como se olhar para ela fosse condição vital para seu dia ser completo.


Entretanto, não foi Diana que o acaso lhe trouxe, ao invés dela, mais uma vez, avistara Pedro, saindo do escritório de prática jurídica. Tentou acelerar os passos, para não ter que ser sociável com o rapaz, mas foi inútil, Pedro lhe viu e a alcançou.

-- Finalmente te encontro! Como vai Natalia?

-- Um pouco apressada, eu estou com muita coisa pra estudar Pedro.

-- Entendo. Então, não vou te atrasar, caminho com você até o ponto de ônibus.

Sem alternativa, Natalia apenas acenou em acordo.

-- O Lucas comentou comigo que você voltou com seu ex-namorado da sua cidade, é verdade?

-- Sim é.

-- É uma pena para mim, mas o que importa é você estar feliz, o que não me parece estar acontecendo, você está bem?

-- Pedro, não gostaria de falar nisso se você não se importa.

-- Tudo bem então.

Andaram alguns metros em silêncio, até o celular do rapaz tocar.

-- Oi Di, tudo bem? Como assim? Você está em Brasília?

Ao ouvir o nome de Diana, Natalia arregalou os olhos e prestou atenção à conversa.

-- Mas o que aconteceu? Infarto? Ai meu Deus! Como ela está agora? Entendo... E você? Não se preocupe, eu justifico sim, com eles vai ser limpeza. Boa sorte, qualquer novidade me ligue, se precisar de qualquer coisa não hesite! Beijos.

Natalia olhou para Pedro como se esperasse uma explicação.

-- Era a Diana. Ela foi hoje de manhã para Brasília, a mãe dela sofreu um infarto ontem. Ligou para pedir que justificasse as faltas com dois professores que são meus preceptores.

-- Como ela está?

-- Está se recuperando, mas a Diana está muito abalada coitada, a mãe dela é o porto seguro dela, nossa...

Natalia sentiu seu peito apertar, não se lembrou de sua mágoa, sentiu uma imensa vontade de oferecer seu colo e apoio. Mas, tentou suprimir tal impulso, impondo racionalmente os motivos que as separavam.

-- Nem sabia que a família dela era de Brasília... – Natalia tentou disfarçar o interesse.

-- Não são de Brasília, são de Mato Grosso do Sul, mas mantém residência lá por causa do pai dela.

-- Por causa do pai?

-- É. Você não sabe quem é o pai da Diana?

-- Não! Por que deveria saber?

Natalia não entendia por que ela deveria saber algo sobre Diana, respondeu ao amigo irritada, como se fugisse de ter que explicar qualquer elo com a loirinha.

-- Meu ônibus chegou, tenho que ir Pedro.

A moça entrou no veículo apressada, na sua mente, a imagem de Diana era constante, não entendia, mas o seu desejo era de estar ao lado dela, emprestar seu ombro, apertar sua mão, dividir sua angústia. O orgulho, entretanto, foi maior, desistiu de ligar para Diana, julgou e a sentenciou: não merece minha compaixão.

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