domingo, 7 de agosto de 2011

Sociedade Secreta Lesbos: Vigésimo sétimo capítulo

Capítulo 27



A frase parecia ter sido encravada no peito de Sandra, tamanho foi seu choque. Ela simplesmente atirou sua bolsa de grife no sofá próximo e partiu em direção a filha segurando com forças seus braços, chocalhando Amy enquanto falava com os dentes trincados evidenciando sua revolta com a revelação:

-- Cale essa boca! Você não sabe o que está dizendo! Você foi seduzida, está sendo manipulada, quem foi que fez sua cabeça, hein? Foi aquela latina, não foi?

-- Para, mãe, a senhora está me machucando!

Amy se desvencilhou da mãe, levou as mãos à cabeça, ajeitou algumas mechas de cabelo caídas no rosto, e com um tom seguro, dirigiu-se à Sandra:

-- Mãe, Esther não me seduziu, mas sim, é por ela que estou apaixonada... E de certa forma foi por causa dela que entrei na Gama-Tau, e não me arrependo disso... A senhora pode não gostar de ter uma filha lésbica, mas não posso mudar isso. Ainda não tenho certeza de nada, está tudo confuso em relação à minha sexualidade, mas em relação aos meus sentimentos não há confusão nenhuma, estou apaixonada pela Esther e estou feliz com isso.

-- Amy, você não vê o tamanho da bobagem que está falando? Você sempre gostou de meninos, e agora, depois de três meses de faculdade, se assume como lésbica? Está na cara que você está confusa e essa latina se aproveitou disso... Você vulnerável, longe de nossa proteção...

-- Mãe...

-- Calma, filha, que tudo vai ficar bem. Você vai se tratar, vou marcar as sessões com Dr. Fridman, ele é um excelente psicanalista, vai te ajudar muito. Vai sair dessa casa, alugo um apartamento e venho passar uns dias com você, cuidando de você...

Amy só balançou a cabeça negativamente, sorriu e disse num tom mais suave de voz, convidando a mãe a sentar-se:

-- Escuta, mãe... -- segurou suas mãos e olhou fixamente para seus olhos -- estou bem, não preciso de tratamento, pelo menos, não agora... Estou bem, feliz, e não vou sair dessa casa, nem me afastar de Esther. A senhora vai ter que aceitar isso, mesmo não concordando, porque é minha escolha, e é o que eu sou...

-- Amy... Você está tão enganada, filha...

-- Me deixa descobrir isso sozinha então, tá? Vamos conhecer as meninas, depois tomo um banho e posso sair pra jantar como a senhora quer...

No térreo da mansão Gama-Tau, Rachel e Esther conversavam quase que cochichando, sobre o inesperado encontro da morena com Sandra Anderson. A ação era observada de longe por Ellen, que logo percebeu a tensão quando a presidente da fraternidade falou sobre a mãe de Amy.

O quintal da mansão estava pronto para a festa surpresa da aniversariante do dia. Tudo muito caprichado, desde a decoração cheia de detalhes prateados até a música. Esta parte, a própria Esther se encarregou de montar sua cabine de DJ com as músicas da preferência da sua loirinha. Laurel se encarregou da maioria dos detalhes com as outras irmãs, enquanto Ellen fez questão de se responsabilizar pelos drinks da festa.

Finalmente, Amy “chega” à mansão Gama-Tau acompanhada de sua mãe, aproveita a presença da maior parte das irmãs reunidas no salão de jogos e apresenta:

-- Meninas, essa é minha mãe, Sandra Anderson. Veio me fazer uma surpresa de aniversário. Mãe, essas são minhas irmãs de fraternidade.

Cada uma das meninas foi se aproximando de Sandra, apresentando-se pelo nome, e cumprimentando a Sra. Anderson, a exceção de Esther, que continuou sentada em um puf no canto da sala, apenas observando a cena.

Sandra Anderson foi cordial, ao contrário de como se comportou com Esther. Apertou a mão de todas e sorriu sem graça para as que se apresentaram. Laurel logo se apressou em oferecer algo para beber e convidou-a a sentar-se, enquanto Ellen tirava suas próprias impressões diante da reação de Esther em não se apresentar como as demais. Amy, então pediu que Laurel fizesse companhia à mãe enquanto ela tomava um banho e se arrumava para sair.

-- Mãe, a senhora fica aqui, já volto. Me arrumo rápido.

-- Mas, você vai me deixar aqui sozinha com elas? Não posso conhecer seu quarto?

-- Calma, mãe, elas não vão colocar a senhora na mesa de bilhar e traçar, não... -- sorriu.

-- Amy!

-- Desculpa, mãe, mas é porque não tem motivos pra senhora ficar assim apavorada. Além do mais, viu que todas agiram como pessoas normais -- sorriu ironicamente -- e a senhora já deve saber que não é permitido não-membros conhecer os outros andares da casa...

Amy deu um beijo carinhoso na face da mãe e se retirou em direção ao seu quarto, seguida de Esther, para a ira de Sandra Anderson, que fuzilou a morena com o olhar. Entretanto, esta somente sorriu com o canto da boca deixando claro que não se intimidava com a fúria de sua “sogra”.

No primeiro andar da casa, Esther alcançou sua escolhida, empurrando-a contra a parede, roubando um beijo ardente, surpreendendo Amy, que diante do beijo sentiu seu corpo inteiro estremecer:

-- Nossa... Que beijo é esse?

Esther sorriu maliciosa, e desceu com sua mão pelas coxas de Amy, puxando-a para mais perto de seu corpo, roçando seus lábios quentes e carnudos pela pele alva, inspirando seu perfume doce, deixando a língua entre os lábios para beijar o pescoço da loirinha, que dava espaço para o acesso da morena, que respirava forte na mesma proporção que apertava a cintura de Amy, abrindo espaço entre suas pernas com a sua, encaixando-a, despertando um gemido na loirinha, que deixou um sorriso de prazer surgir no seu rosto.

-- Esther... Eu... Preciso... Ah... Me arru... Mar...

A morena ignorava o apelo da loirinha, continuando a usar suas mãos para incendiar Amy, impondo o movimento de seu corpo entre suas pernas, até sentir o corpo da loirinha dar sinais de total entrega. Ousou invadir o sexo de Amy com sua mão por dentro do short deslizando seus dedos pelo clitóris, sentindo a umidade se transformar numa abundância de um líquido quente, deixando-a completamente enlouquecida de tesão.

Suspendeu as pernas de Amy, que as envolveu na cintura da morena. Esther então as conduziu para o quarto da loirinha, que era o mais próximo dali. Ainda contra a parede, no quarto de Amy, a morena desceu beijando pelos seios e barriga, depois de arrancar seu top numa habilidade indiscutível. A respiração ofegante de ambas contribuía para o gozo iminente. Quando enfim, Esther alcançou com sua boca o sexo encharcado de Amy, o inevitável aconteceu: Amy explodiu num orgasmo pleno, a ponto de perder a forças das pernas, completamente trêmulas, enquanto segurava a cabeça de Esther entre suas pernas.

Sentindo as respostas do corpo de Amy, Esther olhou para a loirinha e sorriu, à medida que limpava sua boca. Ficou de pé e a abraçou forte enquanto Amy respirava acelerado, refazendo-se daquele orgasmo que só Esther era capaz de lhe dar.

-- Está tudo bem, Amy?

-- Bem? Está tudo ótimo minha, linda... Você é incrível!

Esther sorriu arqueando as sobrancelhas, fazendo charme, e perguntou:

-- Como foi a conversa com sua mãe?

-- Ela não se conforma, mas é compreensível. Saber que fui contra as orientações dela sobre a fraternidade, e saber que a filha é lésbica e está apaixonada, tudo de uma vez só em plena surpresa de aniversário é demais pra qualquer um, imagina para Sandra Anderson... -- sorriu.

-- É verdade... Mas como ela está agora?

-- Apavorada, acho... Mas ainda com esperanças de me resgatar desse “mau caminho” -- apertou os olhos fazendo uma careta.

-- Hum... Uma hora ela acaba aceitando... Mas espera, você falou que está apaixonada?

-- Sim... -- Amy sorriu tímida.

-- Posso saber por quem, Srta. Anderson?

-- Ah, Esther... Que pergunta! Por você, lógico!

Esther sorriu satisfeita e beijou delicadamente os lábios de Amy. A satisfação era dupla, primeiro por ouvir aquela declaração, e segundo por imaginar a raiva de Sandra Anderson ao saber disso. Disfarçou e avisou:

-- Vou subir pra tomar um banho, depois vamos terminar a comemoração de seu aniversário.

-- Esther, minha mãe quer sair pra jantar, então...

-- Amy, tem uma festa “surpresa” preparada para você... As meninas se empenharam a semana toda nos preparativos, então... Acho que você vai ter que marcar pra amanhã com sua mãe...

-- Festa? Jura? Nossa...

-- E antes que você pergunte se sua mãe pode ficar, adianto que não. As festas de aniversário das Gama-Tau são exclusivas para os membros, e sua mãe é uma Beta-Lo...

-- Mas Esther, minha mãe veio de New York pra passar meu aniversário comigo...

-- Amy, por favor, já abri uma exceção de nossas regras por você hoje... Não abusa, tá?

-- Mas o que vou dizer a ela?

-- A verdade, oras. Marque com ela de se encontrar amanhã... Se você acordar -- revirou os olhos, sorrindo -- você almoça com ela, sei lá, pense em algo, mas hoje, você tem compromisso com suas irmãs...

Beijou-a mais uma vez e saiu do quarto, deixando Amy preocupada sobre qual justificativa daria à mãe para frustrar seus planos, de novo.

1ª temporada: Porque sei que é amor: CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 29:O CASAMENTO


No início de dezembro intensificamos os preparativos para nosso casamento. Camila fazia mistério sobre algumas coisas e ainda mantinha o jejum... Muitas vezes pedia que eu dormisse em outro quarto, tamanho era o nosso desejo, mas foi firme:

- Não, amor, só depois do casamento!

Convidamos alguns mais chegados do hospital, algumas amigas de Camila, Bernardo, Olívia, da minha família, somente Tia Sílvia, Lívia, meu vô e tio César, temia que os demais não aceitassem bem essa cerimônia simbólica, então, nossos convidados foram mesmo escolhidos a dedo.

Nossa viagem para Boston também estava toda acertada, a princípio ficaríamos em um hotel até escolhermos um apartamento, o orientador de Camila já havia contatado uma imobiliária e reservado alguns para avaliarmos.

Um dia antes da cerimônia, Camila aumentou o suspense, deixou-me sozinha no nosso apartamento para dormir na chácara.

- Por que isso amor? Não sei dormir sem você perto, você sabe disso...

- Isa... Você não é nem um pouco romântica sabia?

Camila tinha um olhar misterioso, mas suas palavras demonstravam alguma irritação com minha impaciência com os rituais do casamento, isso acabou me despertando a vontade de surpreendê-la no dia seguinte, com algo romântico como ela merecia, pra isso tinha que ter ajuda, e ninguém melhor nisso do que Bernardo.

Esperei Camila sair para arquitetar um plano com Bernardo, ele ficou mesmo parecido com o “Bambi”, saltitando descontroladamente. Lembrei-me de quando Camila cantou pra mim no meu aniversário, e a partir disso, bolei com Bernardo a surpresa romântica da cerimônia.

Bernardo telefonou então para o seu atual namorado, vocalista da banda que tocou no aniversário de Camila, ele seria o autor do milagre de me fazer cantar o menos desafinado possível para Camila, a música, como ela adorava hits dos anos 80 eu já tinha em mente qual seria.

Não foi tarefa fácil, entramos na madrugada ensaiando, mas ao final recebi minha autorização para arriscar as notas musicais, por amor todo erro de afinação é perdoado, eu me segurava nessa máxima... Antes de dormir, liguei para minha linda noiva, como sentia falta do corpo dela aninhando no meu esperando o sono chegar...

- Amor, te acordei?


- Não... Acho que também não sei mais dormir sem teu corpo perto do meu, estou com insônia.

- Ah... Então vamos fazer o seguinte, imagine que estou do seu lado, coloca um travesseiro entre suas pernas... Estou fazendo o mesmo...

- Isa... O que você está tentando fazer heim?

- Ué... Tentando te colocar pra dormir!

- Sei... Mas... Assim é que não durmo mesmo...

- Aperta o travesseiro entre suas pernas...

Falava com voz sensual, deixando escapar uma respiração mais forte, sabia que do outro lado da linha Camila estava excitada, e isso me atiçava ainda mais. Continuei nesse jogo de provocações:

- Você está com aquela camisola de seda?

- Sim...

- Toca seus seios por mim... Do jeito que faço, por cima do decote...

- Ai Isaaaaaa, você está me torturando!

- Você se prepara porque nossa noite de núpcias, vai te deixar arrasada viu... Aliás, o que você preparou pra ela?

- Surpresa...

O sábado não poderia nascer mais bonito, clima agradável, sol ameno, precisava me arrumar, disfarçar as olheiras de ansiedade e insônia. Olivia me levou para o salão, foi um dos presentes dela, um “banho de noiva”, massagens, banho com óleos, maquiagem leve, o vestido vesti lá mesmo.

Não cabia em mim tanto nervosismo, parece que só naquela manhã me dei conta que eu era a noiva, e assim todo aquele ritual me equiparava com qualquer mulher romântica que sonhava casar-se com o amor de sua vida, meu pensamento era só um: passar o resto da vida com Camila, fazê-la feliz assim como ela me fazia.

Durante o dia todo, Livinha e Olívia alternaram-se me fazendo companhia, e evitando que eu ligasse para Camila, a única vez que consegui driblar a vigilância ela me atendeu falando baixinho:

- Amor, você não pode me ligar, ficarei mais nervosa ainda!

- Você acha que não estou? Só seu beijo me acalma, estou sem ele há quase 20 horas...

- Vou te cobrir de beijos mais tarde...

Tia Sílvia veio me pegar no salão, eu já estava pronta, ansiosa, olhava pro relógio a cada 5 minutos, marcamos a cerimônia para as 17h, pontualmente às 16|30 eu já estava a caminho da chácara, onde Camila já me aguardava, arrumou-se lá mesmo, por determinação de Carmem, que encarregou-se pessoalmente da preparação da filha do meio em seu dia de noiva.

Escolhi um vestido discreto, de cor champagne, “tomara-que-caia”, na altura dos joelhos, com pérolas bordadas no busto. Nos cabelos, um arranjo de flores naturais singelo, prendendo apenas uma parte das madeixas.

Tia Sílvia estava emocionada, não cansava de repetir como eu estava radiante, enxugou as lágrimas várias vezes durante nosso trajeto, segurava minha mão, que suava gelado, dizendo-me o quanto me amava e o quanto estava feliz em me entregar à mulher que me fazia tão feliz.

A chácara estava linda, fiquei no chalé do Vô Elias até que a cerimônia começasse, mas de lá avistava o que Camila me preparou, toda decoração foi feita com as rosas da mesma espécie que se abriram no dia de nosso primeiro beijo, entendi o porquê dela passar tanto tempo na estufa nas últimas semanas.

Uma grande tenda foi armada no jardim, abrigando o bolo, mesa de docinhos, e ao fundo, uma grande foto nossa, na verdade, nem lembrava de quando e quem tirou tal foto, mas era Camila dormindo com um sorriso discreto nos lábios e eu olhando-a tranquilamente com o rosto bem próximo, isso era rotina nossa, nada mais natural e íntimo entre nós do que essa cena.

Ao lado da tenda, uma espécie de altar foi montado, arranjos de rosas, e flores de diferentes tipos, no mesmo tom de cor enfeitavam o centro, algumas cadeiras brancas dispostas em frente, e no meio um tapete vermelho, por onde entraríamos.

Vô Elias estava pronto, e radiante, distribuindo sorrisos, antes de seguir para o altar e iniciar a cerimônia, foi até o chalé me ver, e com a voz embargada segurando as lágrimas a beira de cair pelo seu rosto enrugado e sereno me fitou enquanto segurava minhas mãos:

- Minha querida, nem consigo descrever o tamanho da minha felicidade nesse dia, meus tesouros preciosos estão se unindo pra iniciar uma vida juntas, tenho certeza que vivi até hoje para testemunhar isso, sem dúvida vocês serão muito felizes, porque sinto o amor encher esse lugar...

Da janela vi Camila entrando conduzida por Carmem, linda, tanto que minha respiração chegou a falhar quando a vi, um sorriso nervoso nos lábios, usando um vestido de alça branco, também na altura dos joelhos, seus cabelos enfeitados com pequenas flores entrelaçadas na trança daqueles fios avelã, ao fundo, apenas dois violões e a voz do vocalista da banda cantando:

Você é assim Um sonho pra mim E quando eu não te vejo
Eu penso em você Desde o amanhecer Até quando eu me deito...
Eu gosto de você E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo O meu melhor amigo
E’ o meu amor...

E a gente canta E a gente dança
E a gente não se cansa De ser criança
A gente brinca Na nossa velha infância...

Seus olhos meu clarão Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho Eu sigo e nunca me sinto só...
Você é assim Um sonho pra mim
Quero te encher de beijos Eu penso em você
Desde o amanhecer Até quando eu me deito...

Tive que fazer um esforço hercúleo para não correr em sua direção a abraçá-la, mas as lágrimas vieram fácil, pra o desespero de Tia Sílvia e Bernardo, que fixava em mim um microfone de lapela segundo as orientações de seu namorado.

- Minha filha você não pode chorar agora, olha a maquiagem...

- Tia, meu amor é lindo não é? Olha que mulher mais linda está me esperando no altar!

- Bichaaaa você já não canta essas coisas e cantar de maquiagem borrada e chorando, vai ficar parecendo show de travesti pobre, por favor, não estrague nossa super produção!

O estilo jocoso de Bernardo dissipou minhas lágrimas, e assim segurei o braço de Tia Sílvia e segui para o jardim, qual não foi minha surpresa, quando da saída do chalé, os dois sobrinhos de Camila surgiram à minha frente, jogando pétalas de rosa pelo caminho que percorri até o tapete vermelho, foi um choque de emoções, mas me detive em fixar meus olhos em Camila, parada no altar, com um sorriso largo e emocionado. Ouvi os acordes do violão, e comecei a cantar enquanto caminhava lentamente:

Eu nem sonhava Te amar desse jeito
Hoje nasceu novo sol No meu peito...
Quero acordar Te sentindo ao meu lado
Viver o êxtase de ser amado

Espero que a música Que eu canto agora
Possa expressar O meu súbito amor...
Com sua ajuda Tranqüila e serena
Vou aprendendo Que amar vale a pena...

Que essa amizade E’ tão gratificante
Que esse diálogo E’ muito importante...
Espero que a música Que eu canto agora
Possa expressar O meu súbito amor...

Vi cair no rosto perfeito do meu amor lágrimas, a sua surpresa foi notória, percebia que Carmem a segurava, cochichando alguma coisa, mas ela sequer desviava o olhar, parecia que ali só existíamos eu e ela, nem sei o quanto desafinei, nem me importava, só de ver a face de Camila se derramando em emoção eu já me sentia recompensada.

Tia Sílvia entregou-me nas mãos de Camila, após trocarem um longo abraço, notava a emoção de todos, inclusive no Vô Elias, que tirava do bolso um lenço enxugando seus olhos nos observando. Camila beijou minha testa, sem nada dizer, mas seu olhar me dizia tudo, sorri, e nos voltamos para o altar para dar início a cerimônia.

- Meus queridos amigos e familiares de meus tesouros Camila e Isabela, é com o coração tomado de emoção, amor, esperança que nos reunimos aqui hoje, para celebrar a união de dois seres, que se encontraram e perceberam, que o amor nasce da voz, do gesto e do olhar e assim resolveram consolidar esse pacto de amor, respeito e confiança diante das pessoas mais importantes de suas vidas. Quando o amor é verdadeiro, nenhum preconceito, convenção, juízo de valor é mais importante do que a necessidade de concretizar o sentimento mais sublime entre os humanos. E é assim, movidos por esse sentimento que testemunhamos hoje uma união que parecer ter sido conspirada pelo universo, pra quem acredita em destino, essa é uma prova que o acaso sempre nos surpreende com lindas histórias de amor.

As palavras do Vô Elias eram carregadas de uma verdade absoluta, eu e Camila nos entreolhávamos quase que todo o tempo, o tempo parecia se esquivar quebrando qualquer lógica universal, ele parou... Nosso momento foi atemporal, voltávamos às palavras do presidente da celebração quando ele nos perguntou:

- Camila, Isabela, é com a alma e o coração entregues ao amor incondicional que vocês vem hoje diante de nós afirmá-lo?

- Sim – respondemos juntas.

- E’ com a certeza que o amor é a base para enfrentar os problemas, emprecilhos, crises que vocês abraçam essa vida em comum?

- Sim.

- E’ com convicção que vocês se comprometem a abrir mão de planos individuais em favor de planos em comum para construírem juntas uma relação sólida e solidária de cumplicidade e altruísmo em prol do amor de vocês?

- Sim.

- Camila o que você gostaria de dizer agora para Isabela?

- Isa quando te vi pela primeira vez eu soube que minha vida mudaria, não tive pressa ao me deparar com suas negativas, eu sentia que uma hora, Deus te traria pra mim. Quando você entrou na minha vida enfim, eu entendi, porque as demoras de Deus acontecem, é para nos fazer valorizar ainda mais os presentes que Ele nos dá, e você é o maior deles. Não posso prometer nada além do que posso dar, mas te juro, que cada dia de minha vida terá um objetivo: fazer você feliz, quero repetir todos os dias nos meus gestos, palavras, olhares, o quanto te amo, e será sempre enquanto durar, e que o sempre seja eterno.

Minhas lágrimas não pararam de cair ouvindo Camila professar seus votos de amor à mim, nada que eu dissesse chegaria perto do que eu gostaria de dizê-la.

- Isabela, você tem algo para falar á Camila agora?

- Cami, você surgiu na minha vida como um sopro de esperança, me devolveu o sorriso, me trouxe de volta o desejo de felicidade, me fez acreditar no amor mais uma vez. Aos poucos você invadiu meus dias, meus sonhos, meus pensamentos, meu corpo, e minha alma. Conheci sua compreensão, sua generosidade, sua maturidade, sua segurança, sua paixão e sobretudo seu amor, e a partir daí percebi que era isso que procurei minha vida toda. Nasci para amar você, e todas as vezes que coloquei isso em risco conheci seu perdão, e mesmo eu fazendo tudo errado, nos seus braços descbobri que eu não posso ser nem metade do que sou sem você por perto. E é por isso, que te prometo, passar cada dia de nossas vidas tentando acertar, fazendo você a mulher mais feliz do mundo.

Concluí meus votos com dificuldade, sabia que ainda me restava outro desafio, cantar outra música que embalou algumas de nossas noites de amor, Bernardo deu sinal para o violonista e, segurando nas mãos de Camila, fixando-me no seu olhar marejado ousei cantar de novo:

Meu coração Sem direção
Voando só por voar Sem saber onde chegar
Sonhando em te encontrar E as estrelas
Que hoje eu descobri No seu olhar
As estrelas vão me guiar

Se eu não te amasse tanto assim Talvez perdesse os sonhos
Dentro de mim E vivesse na escuridão
Se eu não te amasse tanto assim
Talvez não visse flores Por onde eu vim
Dentro do meu coração

Terminei o refrão com a voz falhando, vendo as lágrimas de Camila, a abracei e disse-lhe junto ao ouvido:

- Você é minha vida Cami, obrigada por ser minha mulher.

Camila não conseguiu externar uma palavra sequer. Foi quando vô Elias tratou de finalizar a cerimônia:

- Pelo poder a mim investido, de avô coruja dessas duas jovens, eu declaro-as casadas, agora as noivas podem se beijar.

Pela mágica do momento, aquele beijo teve um sabor inédito, um misto de excitação, com uma felicidade plena. Já era noite, e em meio a aplausos, Cami me surpreendeu com uma salva de fogos coloridos no céu, qualquer um poderia julgar isso piegas, mas pra mim foi lindo, qualquer coisa que Camila fizesse por mim eu ia considerar outra manifestação de amor, e pra isso não cabia esses conceitos de classe e sofisticação.

A festa foi linda, os poucos convidados fizeram a diferença, dançamos ao som da banda que Bernardo contratara, a mesma do aniversário de Camila, já que seu namorado era o vocalista.

Camila encomendou doces mineiros, mais uma singela declaração de amor, ela sabia como eu gostava, o nosso bolo tinha recheio de chocolate com avelã, essa foi minha exigência ao encomendá-lo. Meu avô estava feliz, enciumado também com a proximidade do Vô Elias, mas logo se aproximou de Camila, exigindo que ela o chamasse de avô também, isso obviamente despertou risos de Lívia e tia Sílvia, mas Camila atendeu seu pedido prontamente.

Era quase meia-noite, quando nos retiramos da festa, Carmem estava embriagada abraçada com Bernardo, cena cômica os dois dançando feito as paquitas...Lívia se divertia também com Olívia enquanto tio César e tia Sílvia se olhavam com cumplicidade...cheguei a comentar com Camila que eu sentia alguma coisa no ar entre eles.

No quarto de Camila na chácara, trocamos de roupa, o cunhado dela nos levaria até nosso destino, que para mim ainda era desconhecido, nossos olhares apaixonados eram quase ridículos de tão bobos, parecia que estávamos nos apaixonando novamente.

- Pra onde nós vamos, amor?

- Vamos encontrar um produtor musical, vou te explorar agora, você vai gravar um cd pra mim!

Abraçou-me beijando meu pescoço suavemente.

- Ah você agora vai ficar zombando de mim, né?

- Zombando? Meu amor, nem Ivete cantaria tão bem a música dela mesma como você cantou, sabe por quê? Eu ouvi seu coração cantando pro meu... Foi a coisa mais linda que já ouvi em toda minha vida!

Beijei-a lentamente, ousando cantar bem baixo ao seu ouvido “você é assim, um sonho pra mim, você é assim...”.

- Ai... Amor, não vou conseguir chegar no hotel...

- Hotel? Então vamos para um hotel?

- Ai... Droga!

- Já estamos casadas... Que tal começarmos aqui mesmo nossas núpcias... Estou louca... Pra consumar nosso casamento...

Falava isso roçando minha boca por sua pele, apertando sua cintura contra a minha, sentindo a resposta do corpo de Camila que se arrepiava, e tremia quando descia minhas mãos por seu bumbum.

Empurrei-a contra a parede devagar, e continuei a explorar seu corpo com minhas mãos e minha boca, em pé mesmo, por baixo de sua saia, massageava o clitóris por cima de calcinha, despertando gemidos de Camila, que respirava ofegante no meu pescoço, segurando-me pelos cabelos. Tomei sua boca com urgência, enquanto sentia a umidade de seu sexo molhar sua calcinha, levantei assim, uma de suas pernas deixando uma abertura maior, penetrando meus dedos por baixo da calcinha massageando mais forte o clitóris, sentindo nossos sexos pulsarem juntos.

Ouvimos batidas na porta, era a voz de Júlio, cunhado de Camila.

- Camilinha, a gente tem hora marcada lembra?

Não entendi, porque teríamos que ter hora marcada pra chegar ao hotel, mas enfim, o chamado do cunhado fez Camila se afastar bruscamente de mim, recompôs a roupa e me apressou:

- Ai que você me tira do sério, vamos amor...

- Você é que está me deixando maluca!

Seguimos para o tal destino desconhecido, depois de nos despedirmos de todos. A irmã de Camila, Carina nos acompanhou:

- Então cunhada, Camilinha não revelou onde vocês iriam hoje?

- Não menina, estou em cólicas de tanta curiosidade, sei que vamos para um hotel, pelo menos isso...

As duas se olhavam com cumplicidade, seria mais uma surpresa dela...

Chegamos a um heliporto, isso já foi uma surpresa:

- Amooor??? Helicóptero? O que você está aprontando?

- Você já vai saber.

Embarcamos no helicóptero, e desembarcamos em alguma cidade que não reconheci, um carro nos esperava, Camila não me dizia nada, tudo fazia parte da surpresa. Pelo que podia perceber pelo clima mais frio, estávamos em um clima serrano.

Chegamos a um hotel, com vários chalés, lindo lugar, a arquitetura tinha ares europeus, realmente tudo muito sofisticado e acolhedor. Depois que nos acomodamos, ela me pediu que providenciasse um vinho, no próprio chalé tinha uma pequena adega no bar, enquanto ela trocava de roupas.

Segui suas ordens, escolhi um vinho doce, o preferido dela, quando Camila saiu do banheiro, nossa, que visão eu tive, ela estava simplesmente deslumbrante! Uma lingerie toda de renda branca, com um hobby de seda na mesma cor aberto, fiquei sem ar, e as palavras faltaram:

- Que foi amor? A asma? – Camila sorriu safada...

Aproximei-me entregando o cálice de vinho, o qual ela bebeu como se sorvesse um algo mais saboroso, me provocando lógico, tomei o cálice num gole só, e cheguei mais perto de seu corpo, tomando da mão sua taça, envolvendo sua cintura nos meus braços, devorando sua boca ardentemente.

Camila foi me despindo sem pressa, obviamente eu também separei uma lingerie sensual, mas já estava vestida nela para a surpresa de minha mulher que me comeu com o olhar, fomos nos beijando até a cama, onde ela me jogou e começou a explorar meu corpo com todo o tesão reprimido de mais de um mês sem nos amarmos. Nossas mãos e bocas se perdiam em nossos corpos com a voracidade de almas que se procuram desde sempre, sugou meus seios, desceu com sua língua pelo caminho entre meus seios e barriga provocando a liberação de meus gemidos, ficou sobre mim mexendo seus quadris e em pouco tempo nosso ritmo era compassado, sincronizado, Camila roçava seu sexo molhado na minha coxa, apertando com a perna o meu sexo igualmente tomado de umidade, sentindo o tremor de nossos músculos junto com nossa respiração descompassada.

Ficamos por minutos assim, até aumentar a velocidade e a força de nossos movimentos, até explodirmos em um prazer absoluto, sorrimos com satisfação pelo gozo fluindo entre nossos corpos suados. Ainda desejava Camila, e dessa vez fui eu a buscar o seu brinquedo que ela tantas vezes usou comigo.

- Hoje é minha vez... – disse com autoridade, vestindo o artefato.

Camila mordeu os lábios como se ansiasse por isso, não tardei em lhe satisfazer, rocei o tal brinquedo entre suas pernas, provocando-lhe até penetrá-lo lentamente nas suas entranhas encharcadas, iniciei estocadas leves, Camila segurava meu bumbum e me pedia:

- Sou sua mulher, toma posse meu amor.

O pedido de minha mulher era mais que uma ordem, aumentei então a força das estocadas, enquanto as unhas de Camila afundavam na minha carne, deliciei-me vendo seu rosto se conformando na personificação do prazer, podia-se ouvir o barulho do líquido no sexo de Camila ficando mais abundante na medida que eu me movimentava penetrando-a. Não foi só ela que gozou com isso, eu também estava entregue, apesar de já conhecer as sensações do corpo dela, tudo para mim parecia novo, a preparação que Camila fez, tornou mesmo aquela noite ainda mais especial.

A noite ia avançando e nem notamos que era quase manhã, o cansaço não era páreo para a saudade que nossos corpos desfrutavam, quase com o dia claro, depois de trocarmos palavras sinceras de amor, adormecemos nos braços uma da outra.

Passamos dois dias maravilhosos nesse chalé, pouco usufruímos da paisagem, que era incrível, para nós o principal acontecia dentro do chalé, essa era a paisagem que tomava nosso desejo. Até esquecíamos de comer, uma noite, Camila acabou convencendo um cozinheiro a nos servir um jantar requentado depois de meia-noite, quando o hotel não dispunha mais de serviço de quarto.

Voltamos para Campinas na terça-feira, enquanto eu dirigia, Camila me olhava encantada, beijava nossa aliança, e eu não conseguia tirar dos meus lábios um sorriso de um canto a outro da boca, não havia necessidade de palavras, nossos olhares já revelavam nossas almas uma pra outra, sim, éramos uma só.

O nosso apartamento estava todo arrumado, decidimos não mexer em nada, manteríamos fechado, já que era de Camila. Tia Sílvia ainda estava em Campinas com Lívia, mas estava na casa de Bernardo, eles encheram o nosso canto de flores, rosas, em nosso quarto a foto que estava em nosso casamento emoldurada.

- Amor, esqueci de perguntar, quem tirou essa foto? Onde foi?

- Sabia que você ia perguntar...achei por acaso na câmera de Lívia quando fomos pra formatura dela, estava vendo as fotos da festa e achei essa, pedi que ela mandasse pro meu e-mail, achei linda...estávamos na rede no alpendre...

- Nossa nem a vi tirando essa foto...mas é bem nossa cara amor...

- E’ sim, eu me derreti toda vendo seu olhar, seu rosto apaixonado me vendo dormir, sei que é seu costume isso, mas logicamente nunca tinha visto...

- Por mim, acordaria todo dia antes de você só pra contemplar seu sono, é como alento, e a certeza que meu dia será perfeito...

- Prometo que farei de tudo para que eles sejam perfeitos meu amor...

Selamos essa promessa com um beijo delicado, mesmo que fosse impossível dias perfeitos sempre, eu sabia que estando juntas, tudo seria mais fácil...Camila me abraçou, e cantou ao meu ouvido, muito baixo, quase declamando:


Ainda bem Que você vive comigo
Porque senão Como seria esta vida?
Sei lá, sei lá Nos dias frios em que nós estamos juntas
Nos abraçamos sob o nosso conforto De amar, de amar
Se há dores tudo fica mais fácil
Seu rosto silencia e faz parar
As flores que me manda são fato
Do nosso cuidado e entrega
Meus beijos sem os seus não dariam
Os dias chegariam sem paixão
Meu corpo sem o seu uma parte
Seria o acaso e não sorte