sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Aconteceu você

CAPÍTULO 3: PÉ NA ESTRADA



Nem me dei conta da decisão que acabara de tomar, mas nem todas as decisões que tomei na vida com toda cautela resultaram em sucesso para mim, não tinha nada a perder mesmo, então era hora de colocar o pé na estrada, rumo à Nova Esperança, o nome da cidade afinal podia representar um sinal para mim, era disso que eu precisava.

Apesar dos protestos infindos de minhas super amigas, arrumei minhas coisas o mais rápido que pude e em uma semana estava com minhas malas no carro, partindo para o interior e para uma vida nova também em Nova Esperança.

Depois de dirigir por cerca de cinco horas, cheguei enfim a meu novo endereço. Como eu esperava, pouca coisa havia mudado desde minha última visita. Nova Esperança era uma cidade pacata, pela forte presença de imigrantes europeus, as casas tinham uma arquitetura clássica, que lembrava o estilo holandês, com casas estreitas e com dois andares no mínimo, dando um charme especial naquela atmosfera de clima ameno e povo tranqüilo caminhando pelas ruas, caracterizando o cenário bucólico de minha infância.

Como orientada pelo Daniel, segui para o prédio da secretaria de cultura, onde ele trabalhava. Na verdade não era um prédio, era uma casa antiga, com um grande jardim à sua frente, varanda espaçosa, localizada no fim da rua central da cidade. Logicamente a chegada de alguém “estrangeiro” à cidade chamou a atenção dos funcionários da secretaria de cultura, ao me dirigir à senhora alva de olhos verdes, sentada atrás de uma mesa, já senti o que me esperava ali:

-- Bom dia, eu gostaria de falar com o Senhor Secretário, Daniel Rosembaur.

-- Bom dia, quem é você?

Meio surpresa com a “sutil” curiosidade da mulher que eu julgava ser a secretária do Daniel, fiquei sem graça, mas, respondi:

-- Alexandra Castro, uma amiga.

-- Então é você!

A senhora levantou-se imediatamente da cadeira, abraçando-me como se recebesse uma velha conhecida, em seguida berrou:

-- Dandan meu filho, a Alex chegou! Desculpe Alexandra, mas você está com fome, deve estar cansada da viagem, perdoe-me devia ter adivinhado que era você, mas só esperávamos sua chegada para a segunda-feira.

Constrangida com a repentina intimidade demonstrada pela mulher, eu apenas sorri enquanto reconhecia o Daniel saindo de uma sala com um sorriso largo e os braços abertos em minha direção:

-- Sardenta!

Daniel estava bem diferente do que eu me lembrava, desde nosso reencontro há cinco anos. O jovem franzino e alto, deu lugar a um homem de músculos mais definidos, e o óculos elegante deu-lhe um ar intelectual, a pele clara, os olhos azuis e os cabelos com poucos fios brancos, transformou-o num homem bonito e atraente, bem parecido com um galã de cinema europeu. Abraçou-me com a saudade sincera de um amigo verdadeiro, aquele acolhimento para mim gerou em mim o sentimento que tinha tomado a decisão certa em aceitar o convite.

-- Fez boa viagem Alex?

-- Sim amigo, fiz, obrigada.

-- Berta vou levar Alex para se acomodar, está tudo pronto lá?

-- Está sim Dandan, tudo como você pediu. Espero que você goste Alex.

-- Obrigada. -- respondi ainda tímida.

Daniel me conduziu até a casa que preparara para me instalar. Um agradável sobrado a algumas ruas dali. Os tijolos vermelhos, e as janelas brancas já conquistaram minha simpatia, esbocei um sorriso quando meu amigo apresentou-me a minha nova residência:

-- Espero que você goste Alex da sua nova casa.

-- Tenho certeza que vou gostar Dandan.

Daniel foi me ajudando com as malas e entramos no sobrado. Decoração caprichada, e uma sala de visitas após um rol de entrada equipado com sofás quadriculados, e uma poltrona aconchegante perto de uma lareira. Ao lado um pequeno corredor que dava acesso a uma sala de jantar conjugada com a cozinha, na lateral uma porta que dava acesso a um lavabo. Depois da cozinha outra porta separando do que seria uma área de serviço que era praticamente o tamanho do meu apartamento inteiro na cidade. O quintal ainda abrigava uma mesa e bancos de madeira debaixo de uma mangueira frondosa. No primeiro andar, meu quarto, espaçoso, com um banheiro enorme, provido com uma banheira com formato clássico, antigo, as cortininhas do box davam o charme. No sótão, Daniel montou um pequeno escritório, o que achei um gesto a mais de carinho, a vista do sótão era linda, minha mesa ele posicionou diante da janela que me mostrava à paisagem de um dos lagos da cidade, cercado por árvores altas e vistosas.

-- Dandan está tudo mais que perfeito!

-- Ah sardenta! Que bom que você gostou! Berta fez algumas compras para você, mas como não conhecíamos seu gosto não compramos muita coisa, mas ao menos café eu lembrava que você gosta, que tal tomarmos um agora para colocarmos o papo em dia? Eu mesmo faço enquanto você toma um banho, deve estar cansada depois de dirigir por tanto tempo.

-- ”tima sugestão Dandan.

Meu banho foi demorado, ao descer encontrei uma mesa posta, além do café, Daniel preparou panquecas, e as recheou com geléia:

-- Que homem prendado meu Deus! Quer casar comigo?

Daniel sorriu e puxou a cadeira para eu me sentar como um perfeito cavalheiro. Depois de escutar o que acontecera comigo, ele tratou de me animar, explanando quais seus planos para o jornal:

-- Alex, minha pretensão é realizar algo diferenciado. Não é só uma publicação interiorana falando das notícias da cidade e da região, quero fazer desse jornal um espaço de cultura e arte, por isso quero que integre a participação das escolas, e da nossa universidade.

-- Acho uma proposta inovadora e desafiadora amigo, e estou animada para começar. Quero me reunir com a equipe o quanto antes, e começarmos com todo gás para publicar o primeiro número rapidamente.

-- ”timo! Preciso de uma edição piloto para o final da próxima semana, para articular patrocinador.

-- O quê! Próxima semana? Está louco?

-- Seu primeiro desafio amiga... Vou reunir a sua equipe e hoje no final da tarde você já os conhecerá.

O café delicioso e as panquecas preparadas desceram amargos, tamanha foi minha preocupação com o prazo que meu novo chefe acabara de me dar. Como combinado no final da tarde, cheguei à secretaria de cultura para conhecer minha equipe. Berta já foi me avisando:

-- Estão na sala do Dandan querida, pode entrar, esperam só por você.

Ao entrar na sala, deparei-me com quatro pessoas e o Daniel, cordialmente cumprimentei a todos depois que meu amigo me apresentou, sentei-me em volta da mesa ali disposta e perguntei:

-- Então, os outros demoram a chegar para iniciarmos a reunião?

-- Outros? Que outros Alex? – Indagou Daniel.

-- O resto da equipe Daniel.

Daniel sorriu, fez uma careta e respondeu:

-- Querida, esta é toda sua equipe.

Arregalei os olhos e pelo susto acabei derramando o copo d’água em cima dos papéis sobre a mesa.

-- Essa é Fernanda, vai trabalhar como repórter. Artur nosso fotógrafo. Luiza, diagramadora e revisora e o Marcos que vai te ajudar na edição, pesquisa, e em tudo mais que for preciso, é nosso estagiário.

-- Mas Daniel, só um repórter?

-- Não se preocupe Alexandra, nessa cidade não acontece muita coisa, eu dou conta. -- Disse Fernanda sorrindo para mim.

Todos da minha grande equipe pareciam animados, e nem um pouco assustados, isso de certa forma me motivou. Definimos uma pauta para nossa edição piloto, já que a cidade se preparava para comemorar a semana do município, nossa edição especial ia retratar toda história, além de enfatizar seu desenvolvimento e prospecções. De acordo com a pretensão do meu chefe e amigo, sugeri que fosse feito na semana um concurso de redações no ensino fundamental e médio nas escolas públicas sobre a cidade, poesias talvez, para publicarmos.

Já à noite concluímos nossa primeira reunião. Daniel me esperava na porta da secretaria com um convite:

-- Alex, hoje é sexta-feira, ninguém merece passar uma noite de sexta em casa...

-- Qual a programação?

-- Aqui não tem muitas opções, então, vou te apresentar a melhor de hoje, vamos?

-- Sim vamos!

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