quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

LEIS DO DESTINO: 8º CAPÍTULO

CAPÍTULO 8

Permissa Venia


* Com o devido consentimento

Por Têmis





Diana retribuiu a gentileza da noite anterior, oferecendo toalhas e roupas secas enquanto Natalia tomava um banho quente. Não teve pressa. Saiu à procura da dona do apartamento quando foi surpreendida pela própria:

-- Portuguesa ou Siciliana?

-- Ai que susto!

Natália levou as mãos ao peito assustada.

-- O sabor da pizza caipira! Vou logo avisando que não tem de quiabo com carne seca!

-- Ah! Nem de milho?

Diana apertou os olhos e apressou:

-- Fala!

-- Se não tem meus sabores prediletos, tanto faz.

Diana fez careta pra outra, e voltou a falar ao telefone concluindo o pedido da pizza.

-- Minha vez de tomar banho! Você já conhece o espaço, então sinta-se em casa, mas não quebre nada!



Diana brincou deixando Natalia sem graça. Tomou a liberdade de ligar o som, escolheu o CD mais improvável para o gosto da descolada estudante, mas, era um dos seus preferidos: Sandy e Junior. Escolheu a música predileta.

Esse turu,turu,turu aqui dentro
Que faz turu, turu, quando você passa
Meu olhar decora cada movimento
Até seu sorriso me deixa sem graça
Se eu pudesse te prender
Dominar seus sentimentos
Controlar seus passos
Ler sua agenda e pensamento
Mas meu frágil coração
Acelera o batimento
E faz turu, turu, turu, turu, turu, turu tu
Se esse turu tatuado no meu peito
Gruda e o turu, turu, turu, não tem jeito
Deixa sua marca no meu dia-a-dia
Nesse misto de prazer e agonia
Nem estou dormindo mais
Já não saio com os amigos
Sinto falta dessa paz,
Que encontrei no seu sorriso
Qualquer coisa entre nós,
Vem crescendo pouco a pouco
E já não nos deixa sós
Isso vai nos deixar loucos...
Esse turu,turu,turu aqui dentro
Que faz turu, turu, quando você passa
Meu olhar decora cada movimento
Até seu sorriso me deixa sem graça
Nem estou dormindo mais
Já não saio com os amigos
Sinto falta dessa paz,
Que encontrei no seu sorriso
Qualquer coisa entre nós,
Vem crescendo pouco a pouco
E já não nos deixa sós
Isso vai nos deixar loucos...
Se é amor, sei lá...
Só sei que sem você, parei de respirar
E é você chegar
Pra esse turu, turu, turu, turu, vir me atormentar
Se esse turu tatuado no meu peito
Gruda e o turu, turu, turu, não tem jeito
Deixa sua marca no meu dia-a-dia
Nesse misto de prazer e agonia
Eu desisto de entender
… um sinal que estamos vivos
Pra esse amor que vai crescer
Não há lógica nos livros
E quem poderá prever
Um romance imprevisível
Com um turu, turu, turu, turu, turu, turu, tu
Se esse turu tatuado no meu peito
Gruda e o turu, turu, turu, não tem jeito
Nem estou dormindo mais
Já não saio com os amigos
Sinto falta desse turu, turu, turu, turu, turu, tu.
(Quando você passa – Sandy e Junior)


Diana a flagrou acompanhando a música empolgada, até franzindo a testa nos tons mais altos da estrofe.

-- Bem que eu devia ter adivinhado, caipira só pode gostar de caipiras...

Natalia retrucou:

-- Você também gosta dos caipiras... Afinal, o CD é seu.

-- Ah... Ganhei do Pedro, ele é meio sem noção... Não quis jogar fora porque ele perceberia.

-- Sei...

Natalia fez cara de quem não acreditou na desculpa. Diana se jogou no sofá, praticamente colocando sua cabeça na perna de Natalia.

-- Até que você não é tão chata caipira... Exceto quando você puxa o R das palavras.

-- O que tem meu R?

-- As vezes acho que você vai se engasgar de tanto R que fica na sua boca!

-- Boba!

Natália ficou sem graça.

-- Por que você gosta tanto de me irritar Diana?

-- … mais forte que eu!

Diana fez cara de inocente, arrancando um sorriso discreto de Natalia.

-- Você também não é tão chata, acho que você no fundo é muito carente isso sim!

-- Ih... Nem vem com essa de me analisar não, guarde sua psicologia para explorar as testemunhas nos depoimentos, não vai funcionar comigo.

Natalia sorriu.

-- Olha aí seu instinto de defesa! Fica aí se escondendo em ironias, sarcasmo, piadas, pra esconder a vulnerabilidade, a carência que sente. Toda sua pose de segurança, de menina forte é só fachada.

-- Ah caipira, você só passou algumas horas comigo, não me conhece.


-- Minha mãe sempre me disse, que eu sei ler os olhos das pessoas, e seus olhos são muito fáceis de ler Diana.

A loirinha em mais uma de suas tentativas de se esquivar da seriedade do assunto, sentou-se e ficou de frente para Natália encarando-a e em tom jocoso, piscou os olhos e perguntou:

-- Então me diga agora o que meus olhos estão dizendo, pode me dizer o que quero através deles?

As duas se encararam fixamente. Natalia não fugiu daquele par de olhos azuis que cintilavam para ela, e não temeu o que eles lhe revelavam sobre o desejo, assim como, Diana não escondeu daquelas esmeraldas reluzentes que eram os olhos de Natalia para ela o que estava guardado.

Aproximaram seus rostos sem culpa, naturalmente, como se um ímã as atraísse para perto uma da outra.

Inevitável deixar vir à tona a atração. Natalia gostava do que estava lendo nos olhos de Diana, e esta se rendia aos encantos da menina inocente do interior que se quer parecia saber sobre o seu poder de sedução.

Com as bocas quase coladas, desenhando o beijo que se anunciara, foram interrompidas abruptamente pelo barulho da campainha.

Separaram-se ofegantes. Diana se levantou rapidamente, caminhou até a cozinha e atendeu o interfone, deixando Natalia com taquicardia, completamente atordoada.

-- … a pizza...

Diana disse visivelmente desconcertada.

-- Vou lá pegar...

Natália concordou tacitamente.

O silêncio perdurou durante o jantar. Devoraram a pizza como se quisessem manter as bocas ocupadas a fim de não se sentir obrigadas a falar no quase beijo trocado minutos atrás.

-- A chuva já diminuiu, eu vou indo Diana.

-- Eu vou te deixar...

-- Não, não é necessário, obrigada.

-- Eu nem sei te dizer qual ônibus você tem que pegar pra chegar até o fim de mundo que você mora, é perigoso, fico mais tranqüila eu mesma te deixando em casa.

-- Não precisa se preocupar, eu vou pra estação de metrô, de lá me viro.

-- Como é cabeça dura! … perigoso, está tarde!

-- Ora quem está se comportando como uma caipira na cidade grande agora?

Diana não conteve o riso e Natalia a seguiu com um sorriso mais descontraído. O riso foi interrompido pelo estrondo de trovões. Diana olhou pela varanda e confirmou a suspeita.

-- Caipira, acho que você terá que ficar aqui mais tempo, a chuva está aumentando novamente.

Natalia suspirou conformada.

-- Sabe jogar vídeo game? – Diana perguntou. – Aliás, você sabe o que é vídeo game?

-- Ah já ouvi falar, são homenzinhos presos numa caixa mágica controlados por uma máquina do mal.

Diana franziu a testa estranhando a resposta.

-- … só um jogo caipira!

Natália gargalhou.

-- Você é muito boba! Liga aí esse troço, vamos ver se sei jogar.

Natalia não deu chance a Diana, ganhando todos os jogos de esporte e de luta, irritando a loirinha profundamente.

-- Não é possível! Ninguém ganha de mim nesse jogo! Como você sabe desse poder escondido?

-- Coisas da internet...

Natalia sorria vitoriosa, enquanto Diana jogava o controle do jogo no meio das almofadas, fazendo bico de criança contrariada.

-- Vai ficar emburrada a noite toda? – Natalia perguntou.

-- Ai não enche garota!

-- Que evolução! Primeira vez que não me chamou de caipira.

Diana não descruzou os braços, e nem desfez o bico. Natalia usou da mais antiga das armas pra arrancar o riso de alguém, avançou na cintura da moça fazendo cócegas, e imediatamente Diana estava se remexendo gargalhando, implorando:

-- Não! Para! Por favor!

Não demorou até Diana cair por cima de Natalia retribuindo o gesto para se defender, até que sem forças, ambas se propuseram uma trégua. A loira permaneceu sobre o corpo de Natalia, presa ao seu olhar.

Fusão de olhares.

Troca de desejos.

Os movimentos, o ritmo da respiração, das batidas do coração, não estavam mais sob controle das duas. Controle era o que menos elas desejavam ter naquele instante.

O tempo parou para o encontro dos lábios. Diana aproximou sua boca da face de Natalia que nunca sentira um ímpeto tão forte de avançar na boca de alguém. Entretanto, o beijo não foi impetuoso, foi delicado, foi lento, dando a oportunidade de ambas saborearem o gosto dos lábios, o calor da respiração, o som suave dos suspiros de prazer. Não conseguiam separar as bocas, suplicantes por se unirem indefinidamente. Emendaram outro beijo, agora mais faminto, lânguido, acompanhado do percurso envolvente das mãos das duas explorando os corpos quentes que vibravam a cada toque.

Não houve espaço para questionamentos, só a entrega do desejo puro, esse desejo justificava qualquer contrassenso, derrubava qualquer argumento que se levantasse contra a formação tradicional da menina do interior. Os corpos se davam libertos, quando o batido seco de palmas interrompeu o momento de Diana e Natalia:

-- Muito bem Diana, estava demorando até você mostrar sua verdadeira personalidade!


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