quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

LEIS DO DESTINO: 10º CAPÍTULO

CAPITULO 10: Faciem aliis
*O rosto do outro
 Por Têmis


                Pedro esperava Natália na porta da biblioteca no final da tarde de segunda-feira. Natalia lhe deu um sorriso insosso e o cumprimentou friamente.

-- Ainda chateada comigo?

-- Não, só estou cansada Pedro, não dormi bem esta noite, e foi um dia puxado.

-- Aceita lanchar comigo, um sorvete talvez?

-- Vai ficar pra outro dia Pedro, desculpe-me.

                Natalia falou apressando os passos saindo do prédio.

-- Posso te acompanhar até em casa?

-- Você mora a quinze minutos daqui e está se oferecendo pra atravessar a cidade em horário de pico pra me acompanhar?

-- Gosto de sua companhia oras!

-- Pedro, hoje eu não sou boa companhia nem pra mim mesma, combinamos qualquer coisa outro dia.

                Natália se despediu de Pedro apressadamente, deixando o rapaz decepcionado, e seguiu para o ponto de ônibus. Como esperado, estava lotado, os ônibus então, impossível enfrentar o desafio de entrar em algum deles.

                Em meio ao tumulto das pessoas tentando se espremer para entrar no ônibus, Natalia foi empurrada, caiu no asfalto, e um trombadinha se aproveitou para afanar sua mochila para o desespero da moça.

                Testemunhas alertaram sobre o assalto, e heroicamente, Lucas derrubou o trombadinha no chão, o rendeu, enquanto uma viatura policial se aproximava. O jovem recolheu a mochila de Natalia e correu em direção à moça para ajudá-la:

-- Você está machucada gatinha? – Lucas perguntou.

-- Está tudo bem, só uma escoriação mesmo.

-- Suas jóias, donzela.

                Lucas brincou entregando a mochila a Natalia.

-- Lucas, nem tenho como agradecer pelo que fez.

-- Fica de boa gatinha, não fiz mais que minha obrigação de defensor da lei.

                O jeito brincalhão de Lucas arrancou um sorriso de Natalia.

-- Vamos dar um jeito nesse machucado? Ali tem uma farmácia. – Lucas indicou.

-- Não é preciso, tenho um band-aid  e água aqui na mochila.

-- Que menina prevenida! Mas não acha melhor lavar com água e sabão? Ou você também tem sabão na mochila?

-- Na verdade tenho... – Natalia exibiu a saboneteira guardada dentro da mochila.

                Lucas tapou o rosto com as mãos, balançando a cabeça.

-- Ai gatinha, você é uma figura. Vou ser seu enfermeiro, e vou cuidar disso aí, me dá o material.

                O rapaz foi atencioso, e durante todo o tempo que prestava o cuidado, fazia Natalia sorrir com alguma careta engraçada ou piada, inclusive soprando no machucado.

-- Prontinho!

-- Quanto devo ao senhor enfermeiro?

-- Deixe-me calcular os custos... – Colocou a mão no queixo, olhando para cima – Exposição a agentes de risco contaminantes, a pagação de mico por fazer isso em público, mais meus honorários... Isso vai dar... Um café na padaria!

-- Ah jura? Vejo que seus serviços são baratos, será que você vai ser um daqueles advogados que recebem galinha, bode, ticket refeição como pagamento?

-- Olha se for de uma cliente linda como você... Aceitarei sim.

-- Sei... Um mulherengo liso basicamente!

                Lucas gargalhou e retrucou:

-- Mas feliz por cumprir meu dever com a justiça.

                Sorriram juntos. Caminharam em direção à padaria, a poucas quadras dali. O mau humor de Natalia se dissipou com o astral contagiante de Lucas.

-- Gatinha, você precisa provar o sonho que tem aqui, um absurdo de recheio de doce de leite!

-- Vou ter que passar fome o resto do dia se comer isso!

-- Por quê? Vai me dizer que você é como essas meninas chatas que vivem de dieta!

-- Não, mas vou ter que começar a ser.

-- Ah para com isso! Com um corpo monumental como o seu, pra quê se preocupar com isso?!

-- Deixa de exagero! Não sou gorda até hoje porque sempre pratiquei esportes, mas, como exageradamente, adoro comer! Mas, aqui, estou completamente sedentária.

-- Que esportes você praticava?

-- No colégio eu nadava e jogava handball. Depois que saí, eu e um grupo de amigas nos encontrávamos pra jogar vôlei uma vez por semana.

-- Ah, porque você não entra no time do curso de Direto da faculdade?

-- Nem sabia que tinha!

-- Ah, mas tem sim, posso te apresentar às meninas do time, uma delas vive lá na república vizinha a nossa.

-- Ai Lucas, eu quero sim!

-- Então fica combinado, falo com a Carlinha, e peço pra ela te procurar na sua sala.

                Lucas tinha a mesma docilidade que Pedro. Mas, era mais simpático, mais descontraído, talvez por isso, fosse mais popular entre os colegas. A conversa bem humorada do rapaz fez Natalia perder a hora, quando se levantava apressada a fim de seguir para o ponto de ônibus, foi surpreendida por Pedro, que num tom irritado indagou:

-- Estava cansada demais pra mim ou já tinha encontro marcado com meu irmão Natalia?

-- Pedro?!

                Natália exclamou desconcertada.

-- Esperava isso do palhaço do meu irmão, que cismou de querer tudo que é meu agora, mas de você? De menina boba do interior você não tem nada!

-- Opa! Que é mano?! Para de ser grosso! Você tá vacilando! – Lucas tentou acalmar o irmão.

-- Cala a boca Lucas! Pensei que nosso papo de ontem tinha esclarecido as coisas, mas vejo que não!

                Lucas acenou em desacordo. Natália que odiava exposição preferiu o silêncio, recolheu sua mochila e saiu do local, sendo seguida pelos gêmeos. Foi alcançada a poucos metros, Pedro insistia em cobrar explicações.

-- Você está ficando boa nisso, em dar mole pro meu irmão e sair sem me dar explicações. – Pedro disse ironizando.

                Natalia ignorou apressando os passos.

-- Bem que a Diana me preveniu sobre meninas como você!

                O fato de Pedro citar Diana chamou a atenção de Natalia, que parou imediatamente e indagou exasperada:

-- O que a Diana disse sobre meninas como eu?

-- Disse naquela noite do trote que essas meninas do interior se fazem de inocentes e santas, mas são muito piores que as da cidade grande! Você beijou o Lucas naquela noite, sabendo que não era eu!

-- É isso que você acha?

-- É!

                Natália agora mais furiosa encarou Pedro nem um pouco intimidada com as ofensas do rapaz. Deu-lhe as costas e caminhou altiva até Lucas que até então assistia a discussão calado, envolveu seus braços no pescoço do rapaz, avançando na sua boca, roubou-lhe um beijo avassalador.

                Pedro apertou os olhos e cerrou os punhos na tentativa de conter sua raiva, quando Natalia se afastou de Lucas, e disse:

-- Agora eu beijei sabendo que não era você, e quer saber? Ele beija bem melhor! E só pra sua informação, nunca dei uma de santa nem de inocente, vocês me rotularam assim, posso ser muito pior do que inclusive, a sua queridinha Diana! E que fique claro de uma vez por todas: NÃO SOU SUA! NÃO LHE DEVO EXPLICAÇÕES!

                Saiu pisando firme, Lucas contendo o riso a seguiu, deixando o irmão mergulhado na própria ira, chutando o que encontrava pela frente.

-- Natalia espera! Vou te acompanhar até o ponto!

-- Não é preciso Lucas!

-- Se estava perigoso aquela hora, imagine agora! Prometo que vou ficar calado, serei apenas seu guarda-costas.

                Natalia consentiu. Enquanto esperava sua condução foi sincera com Lucas:

-- Eu quero te agradecer pelo que fez hoje Lucas, você foi maravilhoso. Desculpe-me pelo beijo, queria ferir seu irmão, que não sei por que tomou posse de mim.

-- Opa gatinha! Sempre que precisar me usar, fique à vontade!

                O rapaz brincou.

-- E outra coisa: não brigue com o Pedro por minha causa, não quero problemas com a tutora de vocês.

-- Você está falando da Diana?

-- Sim.

-- Ah relaxa gata. A Diana é só uma amiga, se sente responsável por nós, mas é bobeira, eu e Pedro sempre encrencamos assim um com o outro, mas sempre nos entendemos, ele é meu companheirão sabe, desde que nosso pai morreu ele assumiu essa postura mais séria, mais madura, está sempre cuidando de mim.

-- Por isso mesmo, não vale a pena se desentender com ele.

-- Sossega ta? O Pedro tem que aprender a te tratar melhor, mereceu essa lição. Agora entendo por que ele está tão encantado por você, não é só linda, é forte, divertida, não é difícil se apaixonar por você.

                Natalia ruborizou e antes que um clima de flerte se configurasse claramente, desviou o olhar para o veículo que se aproximava, enfim, era seu ônibus. Despediu-se do rapaz depois de ganhar um beijo na testa e seguiu para casa ainda mais confusa que no dia anterior.

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