terça-feira, 28 de dezembro de 2010

1ª TEMPORADA: PORQUE SEI QUE É AMOR - capítulo 11

CAPÍTULO 11: UM PASSO IMPORTANTE


Desembarcamos no Rio no início da noite e seguimos para o meu apartamento. Não voltamos a falar no episódio desagradável na fazenda exceto quando titia nos ligava tocando no assunto.

Passávamos todo tempo juntas, mesmo no hospital, apesar dela nunca permitir que trocássemos carinho em público, as pessoas sabiam que estávamos juntas, imaginava que aquela reação dela seria para evitar fofocas. Nossa intimidade era evidente, raramente dormíamos separadas, até nos beijávamos na frente de Dona Lúcia sem constrangimento.

Suzana ainda me intrigava, existiam momentos que ela era tão transparente, me contando tudo sobre seu dia com naturalidade, e outras vezes ela tinha um ar misterioso, por muitas vezes saía da minha presença para atender o celular. Tentava disfarçar meu desconforto com isso, mas ela sempre respondia que eram assuntos de trabalho, eu fingia acreditar, mas ficava com uma pulga atrás da orelha, uma vez que desviava o olhar do meu quando estava me escondendo algo.

Já nos conhecíamos pelo jeito de olhar, às vezes não precisávamos falar nada pra entender o que a outra queria, o sexo entre nós continuava incrível, até na maca do consultório dela transávamos nos plantões, quase fomos flagradas por duas vezes.

Uma coisa me incomodava no nosso relacionamento: não saber da família, do passado de Suzana, ao passo que ela já conhecia toda minha família, e sabia de praticamente tudo da minha história.

As únicas coisas que ela me revelara era o trauma por ser traída várias vezes por suas ex-namoradas, mas não me dava detalhes, não falava de nenhuma ex específica. Revelara-me também que foi expulsa de casa no último ano da faculdade pelo seu pai, quando este descobriu sua orientação sexual, manteve contato com sua mãe e seu irmão (o qual era muito apegada, na época que saiu de casa ainda era uma criança), até a morte de sua dela a cerca de cinco anos, depois disso, ficou mais difícil ver o irmão, a essa altura já estava ingressando na faculdade de psicologia. Suzana era muito reservada quanto a falar de suas dores, mas seu olhar de tristeza quando falava de seu pai era honesto, sentia vontade de colocá-la no colo e arrancar aquela tristeza dela, não suportava vê-la sofrer.

Algumas semanas depois que chegamos de Minas, Suzana me surpreendeu com o convite de irmos até Niterói, sabia que era a cidade da família dela, tratava-se no aniversário do seu irmão Vitinho, na verdade Vitor, mas ela sempre o chamava pelo diminutivo. Almoçaríamos juntos, ela queria nos apresentar oficialmente.

Era sábado, não trabalhamos, de manhã fomos ao shopping comprar o presente do aniversariante, e seguimos para Nikiti, Vitor nos esperava em um restaurante italiano no centro da cidade.

Vitor de diminutivo não tinha nada, era um homem alto, devia ter mais de 1, 80, era forte, corpo com músculos bem definidos, cabelos claros lisos, olhos amendoados como os da irmã, nariz afilado, seu sorriso lembrava muito Suzana, lindo.

- Susu... Que saudades minha irmã!

-Vitinho! Saudades também, parabéns!

Abraçaram-se longamente, até lembrarem da minha presença, emocionada ao ver aquela cena:

- Não vai me apresentar essa loira fabulosa que veio com você? Ela é meu presente? –falou enquanto me olhava dos pés a cabeça.

-Ei... Respeita a mulher dos outros moleque! – Suzana respondeu esmurrando o bíceps do irmão. – Essa é a famosa Isabela, Vitinho, MINHA namorada.

- Olá, Vitor, é um prazer e feliz aniversário. –Estendi a mão tímida.

Vitor ignorou minha mão avançando para me abraçar, sentamos à mesa que ele reservou e depois de pedirmos o almoço, entregamos os presentes. Suzana deu-lhe um notebook, sabendo que seria muito útil na faculdade que ele estava iniciando, eu, depois de sondar a irmã, descobri que ele era flamenguista doente, presenteei-lhe com a nova camisa oficial do time, o que o deixou eufórico.

Eu quase não falei durante o almoço, dada era a excitação dos dois em atualizar o papo, riam, se acariciavam, nunca vi Suzana tão alegre na presença de alguém que não fosse eu. O almoço se estendeu até o meio da tarde, foi quando nos despedimos, convidei-o para assistirmos juntos o jogo do Flamengo contra o Atlético Mineiro, que era meu time, o Maracanã estava em reforma, então muitos jogos estavam sendo realizados na Ilha do Governador, bairro onde eu morava, inclusive esse.

Senti pela primeira vez naquela tarde, que eu participava da vida de Suzana, mas ela ainda me parecia misteriosa com os tais telefonemas no celular.

Os meses passaram tranqüilos, no final do ano, não fui para Valença no recesso da residência, não queria encontrar vovó, como toda a família comemorava as festas de fim de ano na fazenda, eu não quebraria minha jura de não por mais os pés lá. Foi o primeiro natal que passei longe de tia Sílvia e Lívia. Estava triste, mas Suzana nos preparou uma linda ceia, convidou alguns amigos mais próximos do hospital, como a enfermeira Lurdes, Letícia que era fisioterapeuta e sua companheira Flávia, Bosco recepcionista da emergência além de Dona Lúcia e Seu Wagner nosso porteiro, tornando a noite menos saudosa pra mim.

Naquele Natal, presenteei Suzana com um colar de ouro, com pingente em forma de anjo, ela com freqüência me chamava de anjo, do anjo que a fez acreditar no amor. Estranhei porque ela não retribuiu o presente, depois que os nossos convidados deixaram meu apartamento, Suzana levou-me para o quarto, com um ar de mistério:

- Pra onde você está me levando doutora?

Não respondeu, deixou somente o abajur ligado no meu quarto, fez com que eu me sentasse na cama, e pediu que abrisse a caixinha que estava sobre o travesseiro. Sabia que era uma jóia pelo formato da caixa, apressei-me em pegá-la quando a abri minha respiração quase faltou ao ver um par de alianças fininhas em ouro, com detalhes em prata, ao olhar para Suzana ainda boquiaberta, com os olhos cheios de lágrimas, vi Suzana, ajoelhada na minha frente, tomou minha mão, e com a voz embargada, e olhos marejados ela falou:

- Isabela Bitencourt, sei que estamos juntas só há nove meses, mas não preciso de mais tempo pra ter certeza que você é o amor da minha vida, e não quero passar mais um único momento dela sem ter você do meu lado, esse ano você me devolveu a alegria, o amor a vida que eu julgava ter perdido, você me ensinou a amar de uma maneira plena, eu quero passar todos os anos que nos esperam descobrindo novas formas de te fazer feliz como você me faz, então... – parou para enxugar as lágrimas, respirou fundo e perguntou – Você me daria a honra de compartilhar comigo o resto de nossas vidas, que eu espero que durem uns 100 anos... Enfim... Quer casar comigo?

Eu estava extasiada com aquelas palavras lindas, com o gesto de Suzana, segurando aquelas alianças, nunca sonhei com casamentos, mas ali eu tive a certeza que nasci para esperar aquele momento...entretanto não consegui soltar uma palavra, eu soluçava:

- Isa pelo amor de Deus, responde, porque eu to quase pondo um ovo aqui de tanta ansiedade! Se você disser não, vou entender, apesar de já ter calculado quantos ossos eu posso quebrar me jogando do oitavo andar e...

Interrompi aquelas bobagens de Suzana a beijando com toda intensidade, repetindo entre um beijo e outro:

- Sim, sim, sim meu amor, caso com você próximo ano, amanhã, agora mesmo se você quiser!

Trocamos ali as alianças, e nos amamos até o amanhecer.

- Ei moça... Quero fazer as coisas direito tá? Primeiro noivamos, depois casamos, quero tudo que tenho direito, vestido, festa... – disse em tom de ordem.

- Claro, claro... Será como você quiser!

Convidamos Lívia e Tia Silvia para passar o Réveillon conosco, sabia que Lívia sempre quis ver a queima de fogos em Copacabana, e assim, seria a oportunidade de falar pra elas sobre nosso noivado. Também convidei Olivia e Bernardo que nem pensaram duas vezes, no dia 30 desembarcaram no Rio junto com tia Silvia e Lívia. Suzana chamou Vitor também.

Alugamos um apartamento mobiliado, desses que se aluga por temporada, em frente a praia de Copacabana com 3 quartos, já que não caberiam todos no meu apartamento. Jantamos antes da queima de fogos, por volta das 22:30, desconversamos quando nos perguntaram sobre nossas alianças durante os dois dias inteiros, queríamos anunciar no jantar e assim fizemos:

- Gente, eu e Suzana temos algo para contar, e reunimos vocês aqui porque são as pessoas mais importantes para nós.

-Vamos acabar esse suspense, né amor... Eu e Isabela resolvemos nos casar... Estamos noivas!

Exibimos nossas alianças juntas. Silêncio na sala. Até o grito afetado de Bernardo invadir a sala:

-Uhuuuuulllllllllllllllllllllll, enfim um de nós desencalha!

Todos riram quebrando o silêncio de vez, levantando-se da mesa nos cumprimentando emocionados, Tia Sílvia principalmente, nos abraçou juntas, e nos desejou muitas, muitas felicidades, nos fez mil recomendações e nos perguntou para quando pensávamos em realizar o casamento simbólico.

- Ainda não sabemos, titia – Suzana já chamava assim tia Sílvia. – Mas será em breve, temos detalhes práticos pra acertar, alugar um apartamento maior, gostaríamos de viajar, então preciso de férias do hospital enfim...

- Apartamento maior? Estão pensando em filhos? - Lívia perguntou preocupada.

- Por que não? – Tia Silvia respondeu por nós. – Eu quero ser avó, e se depender de você e Afonso que terminam e voltam o namoro uma vez por semana, nunca serei, minha esperança são vocês agora meninas!

- Calma aí... Não falamos em filhos, aliás nunca conversamos sobre isso né amor? – falei segurando a mão de Suzana. – Queremos um apartamento maior, porque precisamos de um escritório decente, quarto de hóspedes pras visitas esperadas ou não – disse olhando pra Bernardo e Lili – e também queremos que tenha nossa cara...

- Mas fica tranqüila titia, que vamos pensar com carinho sobre seus netos...- Suzana deu uma piscadela pra Tia Sílvia.

A noite não podia ser mais perfeita, por volta das 11:30, descemos para praia, com garrafas de champagne, e taças, a fim de brindarmos pelo noivado e pelo ano de 2001 que chegava. Durante a queima de fogos, ficamos de mãos dadas Suzana e eu, beijamos a aliança uma da outra:

- Feliz 2001, noiva...

- Feliz 2001, minha noiva...

Ignorando a platéia, trocamos um beijo suave, mas demorado. Não faltava mais nada para nossa alegria ser completa, Copacabana testemunhou nosso amor, 2001 prometia...

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